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Guerra do Contestado foi um conflito que aconteceu no Brasil entre 1912 e 1916, causando


cerca de 10 mil mortes. Aconteceu em uma região que era disputada pelos estados de Paraná e
Santa Catarina e foi motivada pela insatisfação política e social da população e por um elemento
religioso, o messianismo.

O conflito leva esse nome porque aconteceu em uma região que era contestada por
Paraná e Santa Catarina, isto é, os dois estados disputavam o controle dela. Essa
região presenciou o agravamento da situação da população, sobretudo devido aos
interesses do governo e do capital estrangeiro.

No século XX, foi desenvolvido um projeto de construção de uma ferrovia que ligaria


São Paulo ao Rio Grande (do Sul). Esse projeto foi entregue à Brazil Railway
Company, empresa que pertencia a Percival Farquhar. Durante a passagem da ferrovia
pela região do Contestado, uma faixa de 15 quilômetros de terra foi dada à empresa.

Para que a ferrovia fosse construída, todos os moradores que residiam no interior dessa
faixa de 15 quilômetros foram desapropriados de suas terras. A desapropriação dos
moradores da região foi ampliada quando a Southern Brazil Lumber & Colonization
ganhou as terras que ficavam à margem da ferrovia. Essa empresa exploraria a madeira
e a erva-mate da região.

A insatisfação da população local foi controlada pelos empregos que a Brazil Railway
trouxe para a região, mas o término das obras, em 1910, fez com que um grande número
de trabalhadores fosse demitido. Com isso, uma soma considerável de pessoas havia
perdido suas terras para as duas empresas, e agora também não havia empregos.

Messianismo na Guerra do Contestado


A insatisfação popular abriu espaço para que José Maria, um autodeclarado monge,
pudesse atuar na região. José Maria se instalou na região do Contestado e se tornou uma
espécie de liderança religiosa. Ele afirmava que o mundo estava próximo de seu fim,
dava conselhos, atuava como curandeiro e prometia a salvação das pessoas.

José Maria liderou a formação de uma comunidade, que começou a se organizar. Essa
comunidade contou com a adesão de muitos dos trabalhadores prejudicados pela
construção da ferrovia, e, além do elemento religioso, ela também ficou marcada por
sua organização militar e pela adesão aos ideais monarquistas.

José Maria fazia profundas críticas à república, defendia o monarquismo e chegou a


escolher um imperador na comunidade que ele criou e ficou conhecida como Quadro
Santo (ficava em Taquaruçu, próximo de Curitibanos). A formação de uma comunidade
armada que defendia a monarquia e elegeu um imperador foi vista pelas autoridades do
Paraná e de Santa Catarina, além dos coronéis da região, como uma grande ameaça.

Principais acontecimentos da Guerra do


Contestado
A guerra começou quando as autoridades paranaenses promoveram um ataque contra os
seguidores de José Maria. A aglomeração de José Maria, que ficava próximo a
Curitibanos, e a quantidade de seguidores chamaram a atenção das autoridades locais, a
ponto de que uma expedição policial seria realizada para dispersar o grupo de
seguidores do monge.

José Maria tomou conhecimento da ação militar dos catarinenses e, então, decidiu fugir
para Irani, próximo de Palmas. Essa cidade fazia parte da região que estava em litígio
entre Santa Catarina e Paraná, e a chegada de José Maria e seus seguidores foi vista
pelas autoridades paranaenses como uma ação de Santa Catarina para ocupar a região.

Isso fez com que uma força policial do Paraná fosse enviada para expulsar os invasores.
Nesse confronto, 11 sertanejos morreram, um dos quais era o monge José Maria. O
ataque fez com que o grupo se dispersasse temporariamente, mas, em 1913, sertanejos
inspirados pela memória de José Maria começaram a se reunir novamente.

O renascimento do messianismo na região se deu por influência de uma garota de 11


anos, que falava ter sonhos com José Maria. As mensagens difundidas por essa garota,
chamada Teodora, fizeram com que o movimento retomasse sua força, e isso fez com
que diversas “cidades santas” fossem construídas.

A maior cidade dos sertanejos que se consideravam seguidores de José Maria


foi Santa Maria, que chegou a ter cerca de 25 mil habitantes. Todos eles acreditavam
que José Maria ressuscitaria em algum momento.

As exigências dos sertanejos demonstravam a sua insatisfação com a atuação dos


coronéis locais assim como com a influência do capital estrangeiro na região. O
crescimento do movimento fez com que os governadores de Santa Catarina e do Paraná
iniciassem uma verdadeira guerra contra os sertanejos adeptos dos ideais messiânicos e
residentes das ditas “cidades santas”.

Tropas militares com centenas de homens foram enviadas para a região do


Contestado. Esses soldados estavam munidos de armamento pesado, como peças de
artilharia e metralhadoras. Até mesmo aviões foram usados na campanha contra os
sertanejos. Houve forte resistência, mas no final a força das tropas do governo
prevaleceu.

Fim da Guerra do Contestado


O conflito se estendeu até 1916, com grandes campanhas militares sendo feitas na
região. O movimento messiânico foi destruído por meio da repressão do governo, e seus
líderes foram presos. O fim do conflito também marcou o fim da disputa territorial
travada por catarinenses e paranaenses, e, assim, os limites dos dois estados foram
determinados. Estima-se que cerca de 10 mil pessoas tenham morrido na Guerra do
Contestado.

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