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CAL - CONTROLE DE

QUALIDADE PARA USO


EFICIENTE
ARNALDO ANTONIO RODELLA
Departamento de Ciências Exatas
ESALQ-USP
USO DA CAL NA INDÚSTRIA SUCRO-
ALCOOLEIRA

O caldo de cana-de-açúcar é um sistema com-


plexo, formado por substâncias dissolvidas e
em suspensão

A sacarose deve ser cristalizada a partir de


uma solução livre de impurezas
Das inúmeras substâncias com possibilidade de
uso na purificação, a que se generalizou foi a cal
Qualquer que seja o processo de clarificação, a
cal é sempre o principal agente clarificante. As
razões para isso são:
- Fácil obtenção em muitos locais
- Relativamente barata
- Suas características e reações com os compo-
nentes do caldo foram bastante estudadas
- Seria difícil encontrar outra substância que a
substituiria, mantendo todas suas vantagens
Importante

A utilização da cal não introduz quantidades


apreciáveis de componentes estranhos, mas
cálcio, um macronutriente. Esse fato facilitou o
uso agrícola de resíduos da indústria sucro-
alcooleira, como torta de filtro e vinhaça
EFEITOS DA CALEAGEM NO CALDO

Aumento de pH. O pH do caldo normalmente


é elevado até 7,2 - 7,4

Coagulação de colóides devido à elevação


de pH e aquecimento

Formação de compostos insolúveis de cálcio

Formação de compostos solúveis de cálcio


Dosagem da cal no caldo é uma solução de
compromisso. Ao mesmo tempo a elevação
de pH :

- favorece a remoção de não açúcares

- promove destruição de açúcares redutores


e, consequentemente, a formação de cor
PRODUÇÃO DE CAL

Produz-se cal a partir da calcinação de rocha


calcária

Tipos de calcário (ASTM)


Calcítico: < 5 % MgCO3
Magnesiano: 5 - 35% MgCO3
Dolomítico: > 35% MgCO3
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CAL
CaO CaO MgO SiO2 Carbo-
total disp. natação
%
95,2 91,0 tr 0,28 4.4
86,8 84,0 1,5 0,87 3,2
85,4 84,1 5,0 0,11 2,2
75,6 69,9 16,0 0,26 7,5
95,6 90,4 tr 0,02 5,4*
74,2 66,4 tr 0,48 10,6**
1
61,6 20,0 tr 0,16 67,6
2
Amostras coletadas em São Paulo em 1973. Fonte: Gloria et al. 1975
Resultados da mesma cal: análise da pedra (*) e análise do pó (**)
IMPUREZAS DO CALCÁRIO
Impurezas principais: sílica; alumina e ferro

Impurezas secundárias: fósforo; enxofre; matéria


orgânica; Zn, Mn, Cu, Ti, Na, K, etc

Exemplo extremo: análise de uma amostra de


calcário proveniente de Minas Gerais
CaO MgO Fe Mn Cu Zn Cr Ba Sr
% - g kg-1 - mg kg-1
51,7 7,2 45 3 21 10 108 103 108
1
2
REAÇÕES DE PRODUÇÃO DE CAL

Calcário calcítico

CaCO3 + calor  CaO + CO2

Calcário Dolomítico

CaCO3.MgCO3 + calor  CaO.MgO + CO2


TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO É IMPORTANTE

Calcinação a temperatura de no máximo 1000oC


proporciona facilidade na queima e suspensões com
baixa velocidade de sedimentação e alta reatividade.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA CAL

ANÁLISE QUÍMICAS E FÍSICAS

ASTM - American Society for Testing and Materials


www.astm.org

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


www.abnt.org.br
PARÂMETROS SELECIONADOS DE
QUALIDADE DA CAL

3.
4.
1.
5. Velocidade
2. CaO
Resíduo
edisponível
MgO sedimentação
de “queima”
de
total
“queima”
6. Resíduo Insolúvel (SiO2)
7. Óxidos de Ferro e Alumínio
8. Perda a 900oC (H2O, CO2 )
-Medida
pasta de dacal
solubilizaçãoelevação
com
do cálciode temperatura
amostra e do 2,5 kg empelo
demagnésio função do
ácido
-tempo
100
forte mL
repousodede
dissolução
HCl, porleite
reação
sob de cal
de1 Ca(OH)
hora em proveta
hidratação
aquecimento da cal sob agitação
2 com sacarose
-em medida
frascodo
lavagem
filtração emvolume
termicamente
determinação
para peneira sedimentado
no.isolado
por titulação
separação 20
de(CaCO
com após
0,85 EDTA
mm)
3
2ou
horas
por
-- secagem
espectrometria
( 100 -110
de
determinação de cálcio absorção
o
C) e no
pesagem
atômica
filtradodo resíduo
HIDRATAÇÃO DA CAL

Reações

CaO + H2O  Ca(OH)2 + calor (15,2 kcal)

CaO.MgO + H2O  Ca(OH)2.MgO + calor

CaO.MgO + H2O  Ca(OH)2.Mg(OH)2 + calor


VELOCIDADE DE QUEIMA

variação de temperatura ( C)
o 40

30

20

10 dolomítica
calcítica
0
0 10 20 30 40 50 60
tempo (min)

Cinética da hidratação da cal: 300g de amostra tal qual


comercializada em 1500 mL de água
VELOCIDADE DE QUEIMA

Exemplo de critérios para avaliação

Cal deverá ser rejeitada se:

- aumento de temperatura for inferior a 10 oC


em 3 minutos

- queima completa demorar mais de 20 minutos


A hidratação de cal calcítica é sempre muito
mais rápida que uma cal dolomítica

Devido ao MgO requeimado, a cal dolomitica


requer pressão, temperatura e tempo para
completa hidratação

Incrustações constituídas por sais de magnésio


tem consistência menos dura e são mais fáceis
de serem removidas
SOLUBILIDADE DA CAL EM ÁGUA

Leite de cal 15oBé corresponde a 148 g/L CaO

- 1,16g CaO se dissolvem em 1 litro de água a 30oC

- Solubilidade diminui com elevação da temperatura

Ca(OH)2  Ca+2 + 2OH-


pH e concentração de CaO
g CaO/L 0,06 0,12 0,27 0,46 0,71 1,03 1,16
pH 11,3 11,5 11,9 12,1 12,3 12,5 12,5
Importante:
usar água pura na hidratação para não
introduzir impurezas.

Procedimento básico:

- quantidade de água igual a 3 vezes a de cal

- tempo de contato de 3 horas


FATORES QUE AFETAM A HIDRATAÇÃO

1. Pureza
Mais
2. pura
Teor a cal mais fácil a hidratação. Ferro e
de Magnésio
alumínio se fundem na queima e recobrem as
3. Tamanho
Óxido de partícula
de magnésio requeimado dificulta
pedras, dificultando a absorção de água.
hidratação
Partículas pequenas de 2 a 3 cm de diâmetro
4. Temperatura
são hidratadas mais rapidamente
5. Quantidade
Maior de água
a temperatura dos reagentes, água
ou
6. cal,
Maior maior
Agitação a velocidade de hidratação
proporção de água em relação à cal
dificulta afacilita
Agitação hidratação
o processo
REATIVIDADE DO LEITE DE CAL

1. Ação instantânea da fração dissolvida Ca(OH)2

2. Ação resultante da dissolução das partículas


sólidas
- partículas finas, com alta dispersão se dissolvem
melhor
- isso depende de como é conduzida a hidratação
- com o tempo as partículas se agregam e se tornam
mais difíceis de se dissolver. Melhor usar leite de
cal recém preparado
Dispersão pode ser avaliada por medida
de velocidade de sedimentação

medida do volume decantado após 2 horas:

90-95 mL boa qualidade

60-90 mL média

< 60 mL baixa
CARBONATAÇÃO DA CAL
CaO + CO2  CaCO3
- na ausência de umidade, à temperatura
ambiente, a cal viva não reage com CO2.
-Asob umidade,
reação a recarbonatação
se inicia ocorre
a temperaturas eleva-
prontamente
das, acima de à400
temperatura
o
C ambiente
- pedras de cal se desintegram à medida
em que se hidratam
- simultaneamente à hidratação ocorre
- carbonatação
processo resulta em uma mistura de
óxidos, hidróxidos e carbonatos
- umidade catalisa a carbonatação
- hidratação sempre precede a carbonatação
100

CaO disponível (%)


cal

90 pasta

80

70

60
06/ago 05/set 05/out 04/nov

data

Carbonatação da cal armazenada em pedras e na


forma de pasta (Adaptado de Silva e Glória, 1975).
6.7

pH do caldo 6.3

5.9

5.5
40 60 80 100

% CaO disponivel

pH de caldo em função do %CaO disponível da cal

(quantidades iguais de CaO total adicionadas por quatro


cales com diferentes graus de carbonatação. Adaptado de
Glória & Delgado, 1970)
FORMAÇÃO DE INCRUSTAÇÕES

CaO + caldo de cana  caldo de cana a pH 7,2

CaO
+ caldo de cana  caldo de cana a pH 7,2
CaCO3 (excesso de íons Ca2+)

Íon Ca+2 tende a formar sais pouco solúveis

Kps = [Ca+2] [SO4-2] = 7,0 10-5


Constante do
produto de
solubilidade
Importante !

A quantidade de cálcio no caldo caldo clarificado


também depende da concentração de leite de cal
empregada:

15o Bé permite obter menor teor de cálcio


residual que 10o Bé
INCRUSTAÇÕES DE USINAS DE AÇÚCAR

Evapo- Perda CaO SO3 SiO2 P2O5 Fe2O3 MgO


o
rador 900 C
%
1 38,8 11,8 0,9 23,5 1,2 19,2 2,2
1 23,3 26,1 18,9 18,4 4,7 8,9 tr
4 34,6 37,4 tr 14,2 tr 1,4 tr
3 32,2 31,2 28,0 3,1 0,8 1,8 tr
4 69,6 22,4 0,1 1,8 tr 0,5 5,2
1
(Glória et al., 1975)
2
INCRUSTAÇÕES DE DESTILARIAS

Têm composição praticamente invariável

Incrustações Perda CaO SO3 SiO2


de destilarias 900oC
%
coluna de epuração 24.2 30.9 44.0 0.3
coluna de destilação 23.3 31.9 46.7 0.4
trocador de calor 23.6 31.6 45.7 0.2
CaSO4.2H2O 20.9 32.6 46.5 xx
2
(Glória & Rodella, 1973)
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Êxito no uso da cal depende diferentes fatores,
tais como:
- calcinação adequada de calcário
- controle de qualidade da cal adquirida: análises
físicas e químicas
- armazenamento adequado para evitar
carbonatação
- obtenção de pasta de cal de com baixa velocidade
de sedimentação: alta dispersão e reatividade
- adição controlada ao caldo do leite de cal na
concentração ótima
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Anais do III Seminário Copersucar da Agroindústria


Açucareira. Aguas de Lindoia, 14 a 18 de abril de 1975
669p. Trabalhos de Gloria e colaboradores sobre qualidade
de cal neutralização de caldo e composição de inscrustações

Principios de tecnologia azucareira Pieter Honig (Ed.)


volume I Compania Editorial Continental, 1969, 645p.

Chemistry and technology of lime and limestone


R. S. Boyton, Interscience, 1966, 520p.

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