Você está na página 1de 42

BIOLOGIA APLICADA AO SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE

1
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 3
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. BREVE HISTÓRICO SOBRE SANEAMENTO .................................................... 7
3. O SANEAMENTO BÁSICO ................................................................................. 10
3.1. ABASTECIMENTO DE ÁGUA ........................................................................ 11
3.2. SISTEMA DE ESGOTOS ................................................................................... 14
3.3. DISPOSIÇÃO DO LIXO .................................................................................... 15
3.4. DRENAGEM URBANA..................................................................................... 17
4. O SANEAMENTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A SAÚDE DA
HUMANIDADE ............................................................................................................. 18
5. CONSUMO, GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E O DANO AMBIENTAL
21
6. ÁGUA E SAÚDE: DOENÇAS DE ORIGEM HÍDRICA, RELACIONADAS E
VEICULADAS PELA ÁGUA ....................................................................................... 22
6.1. DOENÇAS DE ORIGEM HÍDRICA E DE VEICULAÇÃO HÍDRICA ........... 25
6.2. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA E RELACIONADAS COM A
ÁGUA............................................................................................................................. 27
7. INDICADORES MICROBIOLÓGICOS DE POLUIÇÃO ................................... 29
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 40

2
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de em-


presários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Gradua-
ção e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma-
ção contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, ci-
entíficos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de for-


ma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma
base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das ins-
tituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação
tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

3
1. INTRODUÇÃO

Figura 1: Biologia aplicada ao saneamento.

Fonte: https://pontobiologia.com.br/meio-ambiente-biodiversidade/

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o con-


trole de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem
exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social. De outra for-
ma, pode-se dizer que saneamento caracteriza o conjunto de ações sócio-
econômicas que tem por objetivo alcançar salubridade ambiental.

Entende-se ainda, como salubridade ambiental o estado de higidez (es-


tado de saúde normal) em que vive a população urbana e rural, tanto no que se
refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemi-
as ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu po-
tencial de promover o aperfeiçoamento de condições mesológicas (que diz
respeito ao clima e/ou ambiente) favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-
estar (GUIMARÃES, CARVALHO e SILVA, 2007).

Ainda segundo estes autores, a oferta do saneamento associa sistemas


constituídos por uma infraestrutura física e uma estrutura educacional, legal e
institucional, que abrange os seguintes serviços:

• Abastecimento de água às populações, com a qualidade compa-


tível com a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente pa-
ra a garantia de condições básicas de conforto;

4
• Coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sa-
nitariamente segura de águas residuárias (esgotos sanitários, re-
síduos líquidos industriais e agrícolas);
• Acondicionamento, coleta, transporte e destino final dos resíduos
sólidos (incluindo os rejeitos provenientes das atividades domés-
tica, comercial e de serviços, industrial e pública);
• Coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inunda-
ções;
• Controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores,
moluscos, etc.);
• Saneamento dos alimentos;
• Saneamento dos meios de transportes;
• Saneamento e planejamento territorial;
• Saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação,
de recreação e dos hospitais;
• Controle da poluição ambiental – água, ar, solo, acústica e visual.

O conceito de Promoção de Saúde proposto pela Organização Mundial


de Saúde (OMS) desde a Conferência de Ottawa, em 1986, é visto como o
princípio orientador das ações de saúde em todo o mundo. Assim sendo, parte-
se do pressuposto de que um dos mais importantes fatores determinantes da
saúde são as condições ambientais (BRASIL, 2006).

No Brasil, o conceito de saúde, entendido como um estado de completo


bem-estar físico, mental e social, não restringe-se ao problema sanitário ou a
prevalência de doenças. Hoje, além das ações de prevenção e assistência,
considera-se cada vez mais importante atuar sobre os fatores determinantes da
saúde. É este o propósito da promoção da saúde, que constitui o elemento
principal das propostas da OMS e da Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS).

A utilização do saneamento como instrumento de promoção da saúde


pressupõe a superação dos entraves tecnológicos, políticos e gerenciais que
têm dificultado a extensão dos benefícios aos residentes em áreas rurais, mu-
nicípios e localidades de pequeno porte.

5
A maioria dos problemas sanitários que afetam a população mundial es-
tão intrinsecamente relacionados com o meio ambiente. Um exemplo disso é a
diarreia que, com mais de quatro bilhões de casos por ano, é uma das doenças
que mais aflige a humanidade, já que causa 30% das mortes de crianças com
menos de um ano de idade. Entre as causas dessa doença destacam-se as
condições inadequadas de saneamento (GUIMARÃES, CARVALHO e SILVA,
2007).

Mais de um bilhão de habitantes na Terra não têm acesso à habitação


segura e a serviços básicos, embora todo ser humano tenha direito a uma vida
saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. No Brasil, as doenças re-
sultantes da falta ou de um inadequado sistema de saneamento, especialmen-
te em áreas pobres, têm agravado o quadro epidemiológico (BRASIL, 2006).

Estudos do Banco Mundial (1993), estimam que o ambiente doméstico


inadequado é responsável por quase 30% da ocorrência de doenças nos paí-
ses em desenvolvimento.

Guimarães, Carvalho e Silva (2007) explicam que investir em sanea-


mento é uma das formas de se reverter o quadro existente. Dados divulgados
pelo Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 investido no setor de
saneamento, economiza-se R$4,00 na área de medicina curativa.

Entretanto, é preciso ressaltar que o homem não pode ver a natureza


como uma fonte inesgotável de recursos, que pode ser depredada em ritmo
crescente para bancar necessidades de consumo que poderiam ser atendidas
de maneira racional, evitando a devastação da fauna, da flora, da água e de
fontes preciosas de matérias-primas.

Pode-se construir um mundo em que o homem aprenda a conviver com


seu hábitat numa relação harmônica e equilibrada, que permita garantir alimen-
tos a todos sem transformar as áreas agricultáveis em futuros desertos.

Para isso, é necessário que se construa um novo modelo de desenvol-


vimento em que se harmonizem a melhoria da qualidade de vida das popula-
ções, a preservação do meio ambiente e a busca de soluções criativas para

6
atender aos anseios de cidadãos de ter acesso a certos confortos da socieda-
de moderna.

2. BREVE HISTÓRICO SOBRE SANEAMENTO

Figura 2: Saneamento.

Fonte: https://www.institutodeengenharia.org.br/site/2018/09/11/material-tecnico-
os-desafios-do-saneamento-basico-e-as-perspectivas-futuras/

De acordo com Cavinatto (1992), alguns povos antigos desenvolveram


técnicas sofisticadas para a época, de captação, condução, armazenamento e
utilização da água. Os egípcios dominavam técnicas de irrigação do solo na
agricultura e métodos de armazenamento de água, pois dependia das cheias
do Rio Nilo. No Egito, costumava-se armazenar água por um ano para que a
sujeira se depositasse no fundo do recipiente. Embora ainda não se imaginas-
se que muitas doenças eram transmitidas por microrganismos patogênicos, os
processos de filtragem e armazenamento removiam a maior parte desses pa-
tógenos. Assim a pessoa que tomasse a água ―suja‖ ou não processada fica-
ria mais vulnerável a doenças. O autor afirma ainda que tais processos de puri-
ficação da água foram descobertos por expedições arqueológicas através de
inscrições e gravuras nos túmulos. Com base no processo da capilaridade, uti-

7
lizado por egípcios, japoneses e também chineses, a água passava de uma
vasilha para a outra por meio de tiras de tecido, que removiam as impurezas.

Eigenheer (2003) explica que até o final do século XIV inúmeros decre-
tos relativos à limpeza pública disseminaram-se pela Europa. Em tais decretos,
segundo Holsen (apud EIGENHEER, 2003), percebe-se o seguinte:

Mudança na então catastrófica situação que imperava em termos de


limpeza nas cidades da Idade Média (...) não existia em geral nas cidades da
Europa na Idade Média, ruas, calçadas, canalização, distribuição central de
água, iluminação pública e coleta regular de lixo.

Durante a Idade Média, a falta de hábitos higiênicos se agravou com o


crescimento industrial em fins do séc. XVIII. Os camponeses foram levados em
massa para as cidades sem infraestrutura o que desencadeou vários proble-
mas de saúde pública e meio ambiente.

Cavinatto (1992) afirma também que na Inglaterra, França, Bélgica e


Alemanha as condições de vida nas cidades eram assustadoras. As moradias
ficavam superlotadas e sem as mínimas condições de higiene. Os detritos, co-
mo lixo e fezes, eram acumulados em recipientes, de onde eram transferidos
para reservatórios públicos mensalmente e, às vezes, atirados nas ruas. Como
as áreas industriais cresciam rapidamente, os serviços de saneamento básico,
como suprimento de água e limpeza de ruas, não acompanhavam esta expan-
são, e como consequência o período foi marcado por graves epidemias, como
a Cólera e a Febre Tifóide transmitidos por água contaminada e que fizeram
milhares de vítimas assim como a Peste Negra, transmitida pela pulga do rato,
animal atraído pela sujeira.

Ainda de acordo com Cavinatto (1992), no Brasil do séc. XVI, os jesuí-


tas admiravam-se com o ótimo estado de saúde dos indígenas. Contudo, com
a chegada do colonizador e dos negros, rapidamente houve a disseminação de
várias moléstias contra as quais os nativos não possuíam defesas naturais no
organismo. Doenças como varíola, tuberculose e sarampo resultaram em epi-
demias que frequentemente matavam os índios. Com os colonizadores, suas
doenças e forma de cultura, vieram as preocupações sanitárias com a limpeza

8
de ruas e quintais, e com a construção de chafarizes em praças públicas para a
distribuição de água à população, transportada em recipientes pelos escravos.

Com a vinda da família Real em 1808, houve um importante avanço nos


serviços de saneamento como explica Cavinatto (1992):

Foram criadas leis que fiscalizavam os Portos e evitavam a entrada de


navios com pessoas doentes. O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a
implantar redes de coleta para o escoamento da água da chuva. Porém, o sis-
tema foi instalado somente no Rio de Janeiro e atendia a área da cidade onde
se instalava a aristocracia. Os Arcos da Lapa foram o primeiro aqueduto cons-
truído no Brasil em 1723.

De acordo com os costumes europeus existentes no Brasil do séc. XIX,


mesmo as casas mais sofisticadas eram construídas sem sanitários. Escravos,
chamados tigres, carregavam potes e barricas cheios de fezes até os rios, on-
de eram lavados para serem novamente utilizados. As condições de saúde nos
centros urbanos eram piores do que no campo e continuaram a piorar. Segun-
do Cavinatto (1992), entre 1830 e 1840 ressurgiram epidemias de Cólera e Ti-
fo. Porém, após o término da escravidão em 1888, não havia mais pessoas
para o transporte dos dejetos e foi necessário encontrar outras soluções para o
saneamento no Brasil.

A partir das descobertas de Pasteur foi possível entender alguns pro-


cessos de transmissão de doenças e, diante da necessidade, os governos
passaram a investir em ações e pesquisas médicas e científicas.

Segundo Cavinatto (1992), inicialmente a Inglaterra e depois outros paí-


ses europeus realizaram uma grande reforma sanitária. Para remover as fezes
e os detritos acumulados nos edifícios foram utilizadas descargas líquidas, se-
melhantes às de hoje, transportando os detritos para as canalizações de águas
pluviais. Porém, os esgotos eram lançados em tamanha quantidade, juntamen-
te com os resíduos e efluentes das fábricas que cresciam em quantidade, que
os rios ficavam cada vez mais poluídos e espalhavam mau cheiro e doenças
por toda a cidade. Segundo Cavinatto (1992), no início do séc. XX, o higienista
Oswaldo Cruz, diretor geral de saúde pública do governo federal, iniciou no Rio

9
de Janeiro uma luta tentando erradicar epidemias. Para acabar com os criadou-
ros de insetos e também focos de roedores, sua equipe utilizou todos os meios
disponíveis para limpar casarões, ruas e terrenos. A campanha teve ótimos
resultados, porém, enfrentou polêmicas, pois a maioria da população não acre-
ditava que os animais pudessem veicular doenças.

Destaca-se ainda o Engenheiro Saturnino de Brito, considerado o Patro-


no da Engenharia Sanitária e Ambiental no país. Em 1930, as capitais já pos-
suíam várias obras de saneamento de Saturnino de Brito, como sistemas de
distribuição de águas e coleta de esgotos. É possível destacar os canais de
drenagem de Santos (1907), criados para evitar a proliferação de insetos nas
áreas alagadas e que funcionam ainda hoje.

Os problemas de saúde pública e de poluição do meio ambiente obriga-


ram a humanidade a encontrar soluções de saneamento para a coleta e o tra-
tamento dos esgotos, para o abastecimento de água segura para o consumo
humano, para a coleta e o tratamento dos resíduos sólidos e para a drenagem
das águas de chuva.

Com o desenvolvimento científico e tecnológico, atualmente existem vá-


rias técnicas para resolver os problemas sanitários. Porém o crescimento da
população, de suas necessidades e de seu consumo, também aumentam a
poluição do meio ambiente. Por exemplo, a água de qualidade para o consumo
humano torna-se um recurso cada vez mais escasso, e os problemas de sane-
amento tornam-se cada vez mais difíceis de serem resolvidos e com um maior
custo de implantação e manutenção da infraestrutura de serviços.

3. O SANEAMENTO BÁSICO

Figura 3: Saneamento básico.

10
Fonte: http://www.tratabrasil.org.br/blog/2018/08/29/saneamento-e-desenvolvimento-
humano-no-mundo-o-acesso-a-agua-e-esgoto/

3.1. ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Figura 4: Abastecimento de água.

Fonte: https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2019/08/17/abastecimento-
de-agua-sera-interrompido-em-todos-os-bairros-de-volta-redonda-no-domingo.ghtml

A água potável é a água própria para o consumo humano. Para ser as-
sim considerada, ela deve atender aos padrões de potabilidade. Se ela contém
substâncias que desrespeitam estes padrões, ela é considerada imprópria para
o consumo humano. As substâncias que indicam esta poluição por matéria or-
gânica são compostos nitrogenados, oxigênio consumido e cloretos.

De acordo com Barros et al. (1995), o Sistema de Abastecimento de


Água representa o "conjunto de obras, equipamentos e serviços destinados ao
abastecimento de água potável de uma comunidade para fins de consumo do-
méstico, serviços públicos, consumo industrial e outros usos".

11
A água constitui elemento essencial à vida. O homem necessita de água
de qualidade adequada e em quantidade suficiente para atender a suas neces-
sidades, para proteção de sua saúde e para propiciar o desenvolvimento eco-
nômico.

Para o abastecimento de água, a melhor saída é a solução coletiva, ex-


ceto no caso das comunidades rurais que se encontram muito afastadas. As
partes do Sistema Público de Água são: captação; adução (transporte); trata-
mento; reservação (armazenamento) e distribuição (LEAL, 2008).

Portanto, um sistema de abastecimento de água é composto pelas se-


guintes unidades:

• Manancial: fonte de onde se retira a água.


• Captação: conjunto de equipamentos e instalações utilizado para
a tomada de água do manancial.
• Adução: transporte da água do manancial para a estação de tra-
tamento de água ou da água tratada para a reservação.
• Tratamento: melhoria das características qualitativas da água,
dos pontos de vista físico, químico, bacteriológico e organoléptico,
a fim de que se torne própria para o consumo. É feito nas Esta-
ções de Tratamento de Água (ETA).
• Reservação: armazenamento da água para atender a diversos
propósitos, como a variação de consumo e a manutenção da
pressão mínima na rede de distribuição.
• Rede de distribuição: condução da água para os edifícios e pon-
tos de consumo, por meio de tubulações instaladas nas vias pú-
blicas.

A importância da implantação do sistema de abastecimento de água,


dentro do contexto do saneamento básico, deve ser considerada tanto no as-
pectos sanitário e social quanto nos aspectos econômicos, visando atingir aos
seguintes objetivos:

Nos aspectos sanitário e social:

12
• Melhoria da saúde e das condições de vida de uma comunidade;
• Diminuição da mortalidade em geral, principalmente da infantil;
• Aumento da esperança de vida da população;
• Diminuição da incidência de doenças relacionadas à água;
• Implantação de hábitos de higiene na população;
• Facilidade na implantação e melhoria da limpeza pública;
• Facilidade na implantação e melhoria dos sistemas de esgotos
sanitários;
• Possibilidade de proporcionar conforto e bem-estar;
• Incentivo ao desenvolvimento econômico.

Nos aspectos econômicos:

• Aumento da vida produtiva dos indivíduos economicamente ati-


vos;
• Diminuição dos gastos particulares e públicos com consultas e in-
ternações hospitalares;
• Facilidade para instalações de indústrias, onde a água é utilizada
como matéria-prima ou meio de operação;
• Incentivo à indústria turística em localidades com potencialidades
para seu desenvolvimento.

13
3.2. SISTEMA DE ESGOTOS

Figura 5: Sistema de esgoto.

Fonte: http://www.ecoeficientes.com.br/como-se-conectar-a-rede-publica-ou-instalar-
sistema-individual-de-tratamento-de-esgoto/

O sistema de esgotos sanitários é o conjunto de obras e instalações


que propicia coleta, transporte e afastamento, tratamento, e disposição final
das águas residuárias, de uma forma adequada do ponto de vista sanitário e
ambiental. O sistema de esgotos existe para afastar a possibilidade de contato
de dejetos humanos com a população, com as águas de abastecimento, com
vetores de doenças e alimentos.

Com a construção de um sistema de esgotos sanitários em uma comu-


nidade procura-se atingir os seguintes objetivos: afastamento rápido e seguro
dos esgotos; coleta dos esgotos individual ou coletiva (fossas ou rede coleto-
ra); tratamento e disposição adequada dos esgotos tratados, visando atingir
benefícios como conservação dos recursos naturais; melhoria das condições
sanitárias locais; eliminação de focos de contaminação e poluição; eliminação
de problemas estéticos desagradáveis; redução dos recursos aplicados no tra-
tamento de doenças; diminuição dos custos no tratamento de água para abas-
tecimento (LEAL, 2008). A Tabela 1 relaciona as principais consequências, no
meio ambiente e na saúde, de poluentes encontrados nos esgotos.

14
Tabela 1: Consequências de poluentes encontrados nos esgotos.

Fonte: Barros et al. (1995)

3.3. DISPOSIÇÃO DO LIXO

Figura 6: Lixo.

15
Fonte: https://portalresiduossolidos.com/disposicao-final-ambientalmente-
adequada-de-rejeitos/

O lixo é o conjunto de resíduos sólidos resultantes da atividade humana.


Ele é constituído de substâncias putrescíveis, combustíveis e incombustíveis. O
lixo tem que ser bem acondicionado para facilitar sua remoção.

Quando o lixo é disposto de forma inadequada, em lixões a céu aberto,


por exemplo, os problemas sanitários e ambientais são inevitáveis. Isso porque
estes locais tornam-se propícios para a atração de animais que acabam por se
constituírem em vetores de diversas doenças, especialmente para as popula-
ções que vivem da catação, uma prática comum nestes locais. Além do mais,
são responsáveis pela poluição do ar, quando ocorre a queima dos resíduos,
do solo e das águas superficiais e subterrâneas.

À medida que soluções técnicas são adotadas, e quanto mais adequada


for a operação dos sistemas de disposição final do lixo, que incorporem moder-
nas tecnologias de tratamento, menores são os impactos para a saúde pública
e para o meio ambiente.

No que diz respeito aos aterros controlados, embora os problemas sani-


tários sejam bastante minimizados em relação aos lixões, pois adotam a técni-
ca do recobrimento dos resíduos com terra diariamente, os problemas ambien-
tais ainda persistem, uma vez que são responsáveis pelo comprometimento
das águas subterrâneas e superficiais, pois não adotam medidas como a im-
permeabilização da base do aterro, além de não haver tratamento dos líquidos

16
percolados pela decomposição do lixo. A coleta e o tratamento do biogás tam-
bém não são feitos, havendo, portanto, a poluição atmosférica.

Já os aterros sanitários incorporam avanços tecnológicos da Engenha-


ria Sanitária e Ambiental, e por isso mesmo minimizam os impactos em relação
aos sistemas anteriores, lixões a céu aberto e aterros controlados.. Além de
promoverem a adequada disposição final dos resíduos, são áreas impermeabi-
lizadas com mantas sintéticas de alta resistência que minimizam o comprome-
timento dos lençóis freáticos. A captação e o tratamento dos líquidos percola-
dos são outras medidas trazidas pela Engenharia Sanitária e Ambiental que
colocam estes sistemas entre aqueles que podem ser utilizados para a disposi-
ção adequada do lixo urbano.

A boa operação e a incorporação dessas modernas tecnologias, no en-


tanto não eliminam a necessidade de políticas públicas voltadas para mudan-
ças nos padrões de consumo, incentivo à minimização da geração de resíduos,
à coleta seletiva e à reciclagem, também importantes ferramentas do processo
de gerenciamento integrado de resíduos sólidos que está cada vez mais dei-
xando de ser resíduo para se transformar em novos produtos, num círculo vir-
tuoso para a saúde pública e o meio ambiente (APETRES, 2009).

3.4. DRENAGEM URBANA

Figura 7: Drenagem urbana...

17
Fonte: https://www.sjc.sp.gov.br/noticias/2019/abril/24/encontro-aborda-
inovacoes-de-drenagem-para-as-cidades/

Os sistemas de drenagem urbana são essencialmente sistemas preven-


tivos de inundações; empoçamentos; erosões, ravinamento e assoreamentos,
principalmente nas áreas mais baixas das comunidades sujeitas a alagamentos
ou marginais de cursos naturais de água. No campo da drenagem urbana, os
problemas agravam-se em função da urbanização desordenada e falta de polí-
ticas de desenvolvimento urbano.

Um adequado sistema de drenagem urbana, quer de águas superficiais


ou subterrâneas, onde esta drenagem for viável, proporcionará uma série de
benefícios, tais como: desenvolvimento do sistema viário; redução de gastos
com manutenção das vias públicas; valorização das propriedades existentes na
área beneficiada; escoamento rápido das águas superficiais, reduzindo os pro-
blemas do trânsito e da mobilidade urbana por ocasião das precipitações; eli-
minação da presença de águas estagnadas e lamaçais; rebaixamento do lençol
freático; recuperação de áreas alagadas ou alagáveis; segurança e conforto
para a população.

4. O SANEAMENTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A


SAÚDE DA HUMANIDADE

Figura 8: O saneamento e sua importância para a saúde da humanidade.

18
Fonte: https://www.eosconsultores.com.br/saneamento-basico/

Segundo Cavinatto (1992), desde a antiguidade o homem aprendeu in-


tuitivamente que a água poluída por dejetos e resíduos podia transmitir doen-
ças. Há exemplo de civilizações, como a grega e a romana, que desenvolve-
ram técnicas avançadas para a época, de tratamento e distribuição da água.

A descoberta de que seres microscópios eram responsáveis pelas mo-


léstias só ocorreu séculos mais tarde por volta de 1850, com as pesquisas rea-
lizadas por Pasteur3 e outros cientistas. A partir de então descobriu-se que
mesmo solos e águas aparentemente limpos podiam conter organismos pato-
gênicos introduzidos por material contaminado ou fezes de pessoas doentes.

Como explica Cavinatto (1992):

Evitar a disseminação de doenças veiculadas por detritos na forma de


esgotos e lixo é uma das principais funções do saneamento básico. Os profis-
sionais que atuam nesta área são também responsáveis pelo fornecimento e
qualidade das águas que abastecem as populações.

Cavinatto (1992) explica ainda que, quando alguém anda descalço no


solo pode estar exposto a milhares de microrganismos que ali foram lançados.
Alguns exemplos são as verminoses cujos agentes ambientais podem infectar
o organismo através do contato com a pele. Ainda hoje, populações no mundo
inteiro sofrem com as moléstias causadas pela falta de saneamento básico.

19
Em 1991, dois marinheiros chegaram ao porto de Chimbote, no Peru, ao
norte de Lima, portando o vírus do Cólera (doença causada por um microrga-
nismo presente na água e alimentos contaminados) que daí se espalhou rapi-
damente. Extinto há mais de 100 anos na América Latina, o Cólera volta a ser
uma ameaça aos países deste continente, dentre eles, o Brasil (CAVINATTO,
1992).

Contudo, a maioria dos microrganismos existentes na natureza são de


vida livre e apenas uma pequena porcentagem é capaz de causar doenças ao
ser humano, pois dependem de outro ser vivo para sobreviver, parasitando um
hospedeiro e assim originando as doenças. Segundo Cavinatto (1992), os pa-
rasitas se proliferam em determinados órgãos do corpo, perturbando o funcio-
namento normal do organismo. A forma mais adequada de evitar grande parte
de tais doenças é cuidando da higiene, da limpeza do ambiente e da alimenta-
ção e uma das formas de fazê-lo é através do saneamento.

O saneamento básico, portanto, é fundamental na prevenção de doen-


ças. Além disso, a conservação da limpeza dos ambientes, evitando resíduos
sólidos em locais inadequados, por exemplo, também evita a proliferação de
vetores de doenças como ratos e insetos que são responsáveis pela dissemi-
nação de algumas moléstias.

Na mitologia grega, o Deus da Medicina Esculápio tinha duas filhas: Hi-


gea e Panacéa. A primeira delas cuidava da prevenção das doenças, ensinan-
do medidas de limpeza à população. Os hábitos difundidos por Higea deram
origem ao termo higiene, que significa um ambiente limpo e sadio. A segunda
filha, Panacéa, curava as pessoas enfermas. Isso deu origem à expressão pa-
nacéia, usada hoje quando alguma descoberta serve para resolver muitos pro-
blemas ou curar muitas doenças (CAVINATTO, 1992).

Saneamento significa higiene e limpeza (CAVINATTO, 1992). Dentre as


principais atividades de saneamento estão a coleta e o tratamento de resíduos
das atividades humanas tanto sólidos quanto líquidos (lixo e esgoto), prevenir a
poluição das águas de rios, mares e outros mananciais, garantir a qualidade da
água utilizada pelas populações para consumo, bem como seu fornecimento

20
de qualidade, além do controle de vetores. Incluem-se ainda no campo de atu-
ação do saneamento a drenagem das águas das chuvas, prevenção de en-
chentes e cuidados com as águas subterrâneas.

5. CONSUMO, GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E O


DANO AMBIENTAL

Figura 9: Dano ambiental.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PiAARUAPpEY

Segundo Zacarias (2000), a sociedade contemporânea é uma sociedade


de massas onde reinam a produção em série e a distribuição massiva de pro-
dutos e serviços. O consumo desnecessário, a produção crescente e o lixo
contribuem para um dos mais graves problemas ambientais no mundo atual: o
esgotamento e a contaminação dos recursos naturais. O lixo doméstico, fruto
da sociedade de consumo, constitui hoje uma das grandes preocupações am-
bientais e tornou-se um problema de cidades em todo o mundo.

Ainda segundo Zacarias (2000), no Brasil convivemos com a maioria do


lixo que produzimos. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas –
IPT (2007), são produzidas diariamente no país 140.911 toneladas de lixo.
Deste total, estima-se que cerca de 40% não sejam sequer coletados. Da par-
cela coletada a maior parte tem um destino inadequado, como o seu lançamen-

21
to em córregos, rios, praias, encostas e canais, além dos lixões a céu aberto. O
problema se torna complexo com o aumento de produtos descartáveis - plásti-
co, alumínio, vidro - e com a crescente presença de substâncias tóxicas como
removedores, tintas, pilhas, baterias, etc.

6. ÁGUA E SAÚDE: DOENÇAS DE ORIGEM HÍDRICA,


RELACIONADAS E VEICULADAS PELA ÁGUA

Figura 10: Água e saúde.

Fonte: https://www.saudebusiness.com/mercado/sade-e-acesso-gua-no-brasil

O planeta Terra possui mais de 75% de sua superfície ocupada por


água, sendo 97,5% águas salgadas dos oceanos e dos mares. Apenas 2,5%
das águas são doces e destas 0,77% são diretamente aproveitáveis pelo ho-
mem, distribuídas em rios, lagos e águas subterrâneas, o restante 1,77% se
encontra nas geleiras e calotas polares, de difícil acesso e transporte (RE-
BOUÇAS; BRAGA; TUNDISI, 2006).

A água é o elemento inorgânico mais abundante dos organismos vivos


e essencial para sua sobrevivência. Representa entre 60 a 90% do peso dos
seres vivos: nos humanos adultos, essa porcentagem é em média de 65% e

22
em torno de 85% no recém-nascido. Em alguns organismos marinhos, ultra-
passa 90% e 95% (nas medusas), assim como é elevado em vegetais (tubércu-
los da batata, 78%) e algumas frutas (tomate, 95%) (BRANCO, 1993; GRASSI,
2001).

A água é o veículo e o solvente universal dos componentes orgânicos e


inorgânicos do ambiente e dos constituintes das células, mantém o tamanho e
a forma celular, faz parte de todos os líquidos orgânicos vitais ao funcionamen-
to dos seres vivos como o sangue, a urina, a linfa e o suor, regula a temperatu-
ra corporal e celular e intervém em todas as transformações que ocorrem con-
tinuamente nos processos metabólicos dos organismos vivos, que se expres-
sam no crescimento e na multiplicação das células e, portanto, na homeostase
dos indivíduos.

Mas, se poluída com substâncias tóxicas ou com excesso de alguns


elementos químicos como cálcio, ferro, selênio, bário, entre outros, e contami-
nada com microrganismos patogênicos, é um dos mais importantes veículos de
enfermidades, com destaque para as doenças diarreicas de origem infecciosa.
Nesse contexto, a avaliação da qualidade microbiológica da água se torna pri-
mordial à saúde pública.

A qualidade das águas naturais está fortemente influenciada pela sua


capacidade de diluição e seu poder solvente sobre os materiais que escoam da
bacia hidrográfica e, por essa interação, a qualidade da água expressa as ati-
vidades desenvolvidas na bacia hidrográfica (VOLLENWEIDER, 1965).

Os impactos humanos sobre os solos e os ambientes hídricos se inicia-


ram com as origens do homem, e se incrementaram com sua passagem da
vida nômade à sedentária, cerca de 12.000 a 10.000 anos atrás, no período
neolítico. O homem caçador-coletor dominou a agricultura ao domesticar os
grãos dos cereais, aprendeu a semear e a coletar. Estimulados pela capacida-
de em produzir alimentos e não apenas coletá-los, os primeiros assentamentos
humanos ocorreram nas proximidades das fontes de água, possivelmente perto
do Mar Morto. Água em quantidade era primordial para satisfazer as necessi-
dades de consumo, irrigação agrícola e dessedentação animal entre outros

23
usos, não sendo relevante, naquela época, a qualidade, embora fossem esco-
lhidas, intuitivamente, as águas mais limpas e claras, de bom sabor e sem
odor, as quais eram abundantes (CEBALLOS; DANIEL; BASTOS, 2009).

Nesses primórdios da civilização, quando os agrupamentos humanos


eram pequenos, o efeito do lançamento de dejetos nos corpos de água era mí-
nimo e não percebido pelo homem. O aumento populacional desses assenta-
mentos, mais tarde, acentuou a contaminação das águas ao longo do tempo e
sua deterioração foi percebida, primeiro, pela alteração das características or-
ganolépticas.

Possivelmente o primeiro registro de uma metodologia sistematizada pa-


ra tratar a água para consumo humano foi um documento indiano de mais
4.000 anos que recomenda sua fervura, a introdução por repetidas vezes de
barras de cobre aquecidas na água e sua exposição ao sol, seguidas de filtra-
ção e resfriamento em potes de cerâmica. O uso de alumínio para remover só-
lidos por coagulação e sedimentação teria surgido no Egito, 1.500 anos atrás
(BAKER; TARAS, 1981).

Séculos passaram até o homem perceber que não era suficiente para
usar uma água com segurança, verificar apenas sua transparência, cor, odor e
sabor. Somente no século XIX, em 1840, John Snow, ao estudar as epidemias
de cólera em Londres, confirmou a transmissão da doença pela água contami-
nada com fezes dos doentes (SNOW, 1990). Poucos anos depois, em 1864,
Louis Pasteur propôs a teoria microbiana das doenças (um germe – uma doen-
ça) e forneceu evidências científicas para o reconhecimento da associação en-
tre qualidade da água e saúde pública.

Esses conhecimentos estimularam o desenvolvimento de técnicas diver-


sas de tratamento de água. A fervura foi e é o método mais antigo e bastante
eficiente de tratamento da água para eliminar os contaminantes microbianos,
mas está limitada à escala familiar. Em 1870, estendeu-se o uso de filtros de
areia e de outras técnicas simples que ainda buscavam melhorar o aspecto
estético da água e seu sabor e eliminar o odor. Os avanços do conhecimento e

24
das tecnologias permitiram orientar o tratamento da água à eliminação de mi-
crorganismos para proteção à saúde.

Até os inícios do século XX, não havia padrões para avaliar a qualidade
microbiológica da água de consumo humano. Foi em 1990 que Theodor Esche-
rich descobriu os coliformes no intestino grosso de humanos com e sem diar-
reia e que logo foram aplicados como indicadores de contaminação de fecal de
animais homeotermos nas águas. Em 1890, a United States Public Health Ser-
vice (USPHS) dos Estados Unidos propôs a padronização das técnicas para a
avaliação da qualidade da água e entre elas as análises bacteriológicas. Esse
trabalho foi a base para a primeira edição, em 1905, do Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater. A importância desses padrões téc-
nicos continua até hoje, estando em circulação a mais nova Edição, número
22, de 2012.

6.1. DOENÇAS DE ORIGEM HÍDRICA E DE VEICULA-


ÇÃO HÍDRICA

Figura 11: Doenças de origem hídrica e de veiculação hídrica.

Fonte: https://pt.slideshare.net/val120/doenas-de-veiculao-hidrica

Em geral, as doenças relacionadas com a água são classificadas em


dois grandes grupos: doenças de origem hídrica e doenças de veiculação hí-
drica (BRANCO, 1986; BRANCO, 1993).

25
Doenças de Origem Hídrica: enfermidades causadas por substâncias
químicas (orgânicas ou inorgânicas) presentes na água em concentrações ele-
vadas (superiores aos Valores Máximos Permitidos - VMP) pela legislação es-
pecífica - para água potável: a Portaria 2914/2011 – MS, que causam danos
graves à saúde (BRASIL, 2011). São exemplos:

• Compostos Orgânicos como pesticidas tóxicos: VMP - DDT1 µg.L-1;


Endrin 0,6 µg.L-1, Malation 0,1 µg.L-1,Trihalometanos 0,1 mg.L-1 (propriedades
mutagênicas e carcinogênicas - clorofórmio), Hidrocarbonos Polinucleares
Aromáticos (PAHs), entre outros;

• Elementos Inorgânicos: Antimônio (Sb), Arsênico (Ar), Bário (Ba), Beri-


lo (Be), Cádmio (Cd), Cobalto (Co), Chumbo (Pb), Mercúrio (Hg), Molibdênio
(Mo), Selênio (Se) , Urânio, elementos tóxicos cujos VMP em água para con-
sumo humano variam de: 0,001mg.L-1 para o Hg; 0,005mg.L-1 para Cd;
0,001mg.L-1 para Se; 0,001 mg.L-1 para Pb; e 0,7mg.L-1 para Ba.

As formas de ação destes elementos no metabolismo celular são seme-


lhantes, por competirem com macronutrientes como o fósforo como ocorre com
Ar e Sb e ambos inibem a glicólise, diminuem a produção de ATP e afetam a
respiração e o funcionamento cardiovascular; o Hg possui grande afinidade
pelo enxofre dos grupos HS- das proteínas e inativas enzimas do sistema ner-
voso que afetam também o sistema respiratório; Pb e Ba substituem o Ca e
podem ser acumulados nos ossos, sendo a causa de fragilidade do esqueleto;
o Ba pode provocar gastrenterites, fraqueza, paralisia de membros, diminuição
da frequência cardíaca, parada do coração e morte. Pb age de forma parecida,
além de substituir também Zn, Fe e Mg, afetando o sistema nervoso, podendo
levar à demência e morte. O Cd é absorvido por ser confundido com Zn por
algumas células e afetar o fígado, além de causar sintomas parecidos com a
intoxicação por Hg.

Nitratos em concentrações superiores a 10 mg.L-1 são tóxicos ao favore-


cer a transformação da molécula de hemoglobina em meta-hemoglobina. Os
nitratos em excesso são reduzidos no interior corporal a nitritos, os quais se
reoxidam usando oxigênio transportado pela hemoglobina que ao perder oxi-

26
gênio se transforma em meta-hemoglobina. Essa transformação diminui a con-
centração de oxigênio transportado pelo sangue que ainda pode ser incapaz de
liberar efetivamente o oxigênio para os tecidos corporais e em lactentes causa
a doença conhecida como metemoglobinemia infantil que pode levar a morte
por asfixia (síndrome do bebê azul). Também se apresenta de forma drástica
em indivíduos deficientes em vitamina C.

Níveis excessivos de nitrato foram associados com o câncer gástrico: os


nitritos produzem agentes nitrosantes, que reagem com as aminas secundárias
oriundas da dieta, formando as nitrosaminas, que são potentes carcinógenos e
com ação teratogênica e mutagênica (MARTINS; MÍDIO, 2000).

Podem também ser consideradas doenças de origem hídrica aquelas


causadas pela carência de alguns elementos na água: a ausência de iodo é
responsável pelo bócio e consequentemente, pelo cretinismo. Da mesma for-
ma, a falta de flúor produz crescimento debilitado de dentes e ossos. Mas, em
concentrações de 2 a 4 mg.L-1, o flúor causa manchas no esmalte dos dentes,
rigidez e dores nas articulações e deformações do esqueleto. A concentração
sugerida para águas potáveis é de 1 mg.L-1 e até um máximo de 1,5 mg.L-1.

6.2. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA E RELACI-


ONADAS COM A ÁGUA

Figura 12: Doenças.

27
Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/44263/

A passagem dos grupos humanos da forma nômade de vida para a se-


dentária levou à domesticação de animais e ao domínio da agricultura. Cria-
ram-se então condições favoráveis para a circulação contínua de agentes in-
fecciosos e se contribuiu para fechar o ciclo ambiente-animal-homem. Trans-
formações sociais e econômicas e o rápido desenvolvimento científico e tecno-
lógico dos últimos séculos provocaram mudanças profundas nos hábitos de
vida e nas relações humanas e destas com o ambiente influenciando no perfil
das doenças infecciosas (WALDMAM, 2001).

A constante e intensa intervenção do homem no ambiente alterou a qua-


lidade do ar, das águas e do solo com descargas poluidoras que causaram
mudanças profundas na distribuição dos diversos componentes da biota
(TUNDISI; MATSUMURATUNDISI, 2011). Entre eles, destacam-se vetores de
doenças infecciosas que deixaram seus habitats naturais agredidos em busca
de ambientes apropriados para sua adaptação e consequente desenvolvimento
e reprodução.

Fezes humanas e resíduos sólidos contaminados são os principais veí-


culos transmissores de doenças infecciosas que se propagam pela água e as
principais causas de morte em crianças menores de dois anos. A pobreza e a
desnutrição, ainda endêmicas no século XXI, favorecem a transmissão dos mi-
crorganismos patogênicos. O panorama do saneamento básico evidencia o alto

28
risco à saúde pública, causado pelas falhas dos sistemas de vigilância epide-
miológica, o controle insuficiente da população de mosquitos transmissores de
microrganismos patogênicos e a aproximação da fauna silvestre aos grupos
humanos urbanos ou rurais, pelo desflorestamento e outros impactos (LAR-
REINAGA; CORCHO, 2001; BRASIL, 2013).

As fezes humanas e dos animais de sangue quente contêm componen-


tes inorgânicos e microrganismos comensais que formam parte da biota nor-
mal; se o indivíduo está infectado, conterá também microrganismos patogêni-
cos.

7. INDICADORES MICROBIOLÓGICOS DE POLUIÇÃO

Figura 13: Indicadores microbiológicos de poluição.

Fonte: https://amazonasatual.com.br/programa-indica-parametros-de-poluicao-
em-igarapes-de-manaus/

As características biológicas de uma água ou de um ambiente em geral


englobam os diversos seres vivos que ali habitam. Estão incluídos macrorga-
nismos (plantas, animais, grandes algas, por exemplo) e os microrganismos
reunidos em pelo menos sete grandes grupos: bactérias, vírus, protozoários,
helmintos, microalgas e cianobactérias e fungos.

São relevantes para o equilíbrio ou homeostase ambiental por serem os


principais agentes das transformações de reciclagem dos elementos químicos

29
essenciais para a vida através dos ciclos biogeoquímicos. Nesses ciclos, os
microrganismos transformam a matéria orgânica em inorgânica (estabilizam-
na), recuperam a energia contida nessas moléculas e disponibilizam para o
ambiente nitrogênio, fósforo e enxofre, entre muitos outros elementos existen-
tes e na forma de sais (nitratos, fosfatos, sulfatos, etc.). Simultaneamente, sin-
tetizam nova biomassa.

Alguns microrganismos são virulentos, com capacidade de causar do-


enças e devem ser detectados e medidas de saneamento básico deverão ser
implementadas para funcionarem como barreiras sanitárias que dificultem e até
consigam evitar sua disseminação.

As comunidades biológicas expressam a integridade ecológica do ecos-


sistema ao integrar os diferentes impactos naturais e antropogênicos ao ambi-
ente e fornecer informações agregadas de seus efeitos.

Um indicador microbiológico de poluição orgânica ou indicador da quali-


dade sanitária de uma água ou de outra matriz ambiental é qualquer microrga-
nismo ou grupo de microrganismos que pela sua presença (ou pela sua ausên-
cia), sua frequência de isolamento e pela diversidade dos gêneros e/ou espé-
cies que compõem o grupo, demonstra(m) a existência de poluição e ou da
contaminação fecal.

Desta forma, vírus, bactérias, protozoários, algas, cianobactérias e fun-


gos, entre outros microrganismos, podem ser utilizados como indicadores das
condições físicas, químicas e microbiológicas desse ambiente. As condições
sanitárias de uma água ou de um ambiente em geral se referem, especifica-
mente, à avaliação da presença dos microrganismos patogênicos e/ou de seus
indicadores veiculados ou relacionados com a água e que constituem riscos à
saúde do homem e dos animais.

De forma geral, são denominados bioindicadores aqueles organismos e


comunidades que respondem à poluição ambiental com alterações metabóli-
cas, morfológicas, comportamentais, aumento ou decréscimo populacional e,
em consequência, com alterações na diversidade e na quantidade de organis-

30
mos na comunidade. Dessa forma, fornecem informações das condições ambi-
entais e das situações de mudanças.

Sistemas de monitoramento qualitativos e quantitativos da água incluem


a avaliação de variáveis microbiológicas e sanitárias (bactérias coliformes totais
e termotolerantes, Escherichia coli e enterococos, entre outros) e se constituem
em ferramentas fundamentais para as políticas públicas e as ações de gestão.
São exemplos a classificação dos corpos de água em classes de acordo com a
qualidade de suas águas e a definição de seus usos e dos tipos de tratamentos
a serem aplicados nessas águas para sua potabilização. Citam-se a Resolução
CONAMA No 357/2005 (BRASIL, 2005), que “Dispõe sobre a classificação dos
corpos de água e fornece diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e
dá outras providências”, a Resolução CONAMA Nº 274/2000 (BRASIL, 2000)
que “Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras” e a Portaria Nº
2914/2011 (BRASIL, 2011) do Ministério da Saúde que “Dispõe sobre os pro-
cedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade”.

A poluição por matéria orgânica proveniente das descargas das bacias


hidrográficas mal saneadas, de excretas de animais homeotermos e de esgo-
tos domésticos não tratados ou mal tratados são as principais causas da polui-
ção orgânica que causa mudanças profundas no corpo aquático receptor e que
se manifesta na eutrofização das águas e nas consequentes transformações
(BRANCO, 1986).

Essas águas passam a apresentar alta taxa de crescimento de organis-


mos autótrofos fotossintetizadores, em geral, com predomínio de cianobacté-
rias com capacidade de produzir potentes cianotoxinas que podem causar
desde leve dermatite até tumores, cânceres e morte, entre outras consequên-
cias que impedem seu uso para os fins a que foram destinadas (ESTEVES,
2011).

Essas mudanças e os microrganismos que predominam em cada etapa


são bem descritos nos estudos de autodepuração. As primeiras alterações da

31
qualidade da água e as primeiras consequências ocorrem na zona de descarga
dos esgotos ou de entrada das cargas poluidoras e são o aumento da matéria
orgânica e sua biodegradação que provocam forte depleção de oxigênio, morte
de peixes e de outros organismos aquáticos. A concentração da matéria orgâ-
nica biodegradável (a ser degrada por bactérias e fungos, prinipalemnte) é me-
dida como Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5,20). Junto com o decrés-
cimo do oxigênio dissolvido, ocorre aumento da turbidez da água. O crescimen-
to excessivo de bactérias aeróbias, que são os principais agentes da degrada-
ção das proteínas, carboidratos e lipídeos presentes nas descargas, libera íons
nitrogenados (nitrato) e fosfatados (ortofosfato) entre outros. O consumo de
oxigênio gera condições anaeróbias e microrganismos fermentativos e anóxi-
cos crescem rapidamente e substituem os aeróbios, produzindo gases de odo-
res desagradáveis pela redução dos sulfatos até H2 S, e dos nitratos em nitrito
e até amônia, produção de metano e mercaptanas.

Bactérias filamentosas dos gêneros Thiothrix, Beggiatoa e Sphaerotillus


são abundantes nas regiões de rios e represas onde são descarregados os
esgotos domésticos, assim como em pântanos, onde há abundante matéria
orgânica em decomposição. Essas bactérias junto com leveduras e fungos do
gênero Geotrichum spp, por exemplo, e com cianobactérias filamentosas dos
gêneros Oscllatoria e Phormidium, entre outros, formam os denominados fun-
gos dos esgotos (MARA, 1974). Estes se visualizam como tufos de fios es-
branquiçados sobre um fundo aquático marrom-preto com filamentos verde-
escuros. Portanto, a presença dessas bactérias e desses fungos em quantida-
des excessivas, no ambiente, são indicadores da entrada dos esgotos e de
qualquer outro tipo de resíduo rico em matéria orgânica (MARA, 1974; BITTON,
2005).

O fluxo hidráulico transporta a água da zona de descarga para dentro do


lago ou do açude ou ao longo do rio, ocorrendo sedimentação e diluição das
partículas e moléculas orgânicas.

Com o decréscimo da concentração da matéria orgânica (diminuição da


DBO5,20), diminuem as bactérias filamentosas, as leveduras e os geofungos e
começam a ser visualizados fungos aquáticos verdadeiros. Pelo efeito da se-

32
dimentação, a água recupera lentamente a transparência. A luz que penetra na
coluna de água estimula a proliferação dos organismos fotossintéticos oxigêni-
cos, aparecem assim maiores números de cianobactérias e algas, com predo-
minância de flageladas verdes, como Chlamydomonas spp e Euglena spp, de
metabolismo mixotrófico (seu metabolismo inclui simultaneamente a fotossínte-
se e a oxidação de compostos orgânicos externos). O ambiente já não é hipe-
reutrófico, não é dominado pelos fungos dos esgotos, mas é eutrófico.

Algas e cianobactérias estão presentes em números elevados e distribu-


ídas em poucos gêneros nos ambientes eutróficos. Estes possuem altas densi-
dades de cianobactérias e gêneros ou assembleias de gêneros e de espécies
específicos que indicam o nível de poluição e as condições ambientais predo-
minantes, expressam também as condições de turbulência da água. Em águas
oligotróficas e mesotróficas são abundantes as bactérias de vida livre com for-
mas de bastonetes, cocos e espirilos em concentrações mais baixas que nos
ambientes com alta poluição. São ricas em diversidade, mas com densidades
populacionais menores em ambientes mesotróficos e mais diversos e menos
abundantes nos ambientes oligotróficos. A maior diversidade de algas se mani-
festa no grupo das diatomáceas e das clorofíceas sendo frequentes os gêneros
Staurastrum, Cosmarium e Spirogira, entre outros. A Figura mostra os efeitos
das descargas de matéria orgânica em um corpo aquático, representados pe-
las curvas das concentrações de oxigênio dissolvido (OD), DBO, nitrogênio
amoniacal e nitratos.

Figura 14: Curvas de autodepuração de um rio após descarga de esgotos domés-


ticos.

33
Fonte: Mota (1995)

A Figura apresenta microrganismos indicadores de diferentes zonas do


processo e mostra as variações bióticas ao longo da curva de autodepuração
em um corpo aquático.

Figura 15: Processo de autodepuração e modificações da biota

Fonte: Braga et al. (2005).

34
Os desenhos da Figura são apenas ilustrativos. Os peixes da zona de
águas limpas (vida aquática superior) representam a biota de um ambiente oxi-
genado com baixa concentração de matéria orgânica. Nessa zona, o ecossis-
tema biótico está formado por peixes, bactérias, cianobactérias, algas, protozo-
ários e fungos sem predominância de grupos ou gêneros. Na zona de degra-
dação, reduz-se a diversidade junto com o oxigênio e, na seguinte, tornam-se
predominantes os organismos anaeróbios com destaque para as bactérias e
alguns fungos. Algas e cianobactérias retornam na zona seguinte, de águas
limpas 2, estimuladas pela luz e as altas concentrações de nutrientes liberados
nos processos de biodegradação em todas as etapas anteriores. O ambiente
está recuperado em relação às concentrações de oxigênio dissolvido e de
DBO, mas a biota autotrófica (algas, cianobactérias e macrófitas) é mais abun-
dante que na zona de águas limpas, evidenciando o enriquecimento com nutri-
entes, ou seja, a água ficou com níveis mais altos de eutrofização.

Em geral, o zooplâncton é um importante indicador da poluição das


águas e, dentre seus componentes, os protozoários são bons indicadores de
poluição orgânica (ESTEVES, 2011).

Estudos do impacto da piscicultura intensiva em tanques -rede sobre a


qualidade da água de um açude no semiárido nordestino, utilizando a comuni-
dade zooplanctônica como bioindicadora dos efeitos causados pelo incremento
de nutrientes decorridos dessa atividade, mostraram que eventos de chuvas
além da piscicultura contribuíram para o aumento do nível de trofia, confirmada
pelo IET de Carlson modificado, classificando-o como eutrófico. Os metazoá-
rios do filo rotífero mostram-se mais representativos em riqueza, abundância e
densidade seguidos dos microcrustáceos copepoda e cladocera. A densidade
apresenta-se significativamente maior na época seca para todas as espécies
zooplanctônicas, com maior abundância de Brachionus sp, Filinia sp, Keratella
americana, Ceriodaphnia cornuta, naúplios de copépodes, copepoditos cala-
noides e cyclopóides, associadas a ecossistemas eutrofizados. Portanto, co-
munidades zooplantônicas são bioindicadores adequados da qualidade de
águas, particularmente em processo de eutrofização (CAVALCANTI et al.,
2012). Rotíferos também se mostraram indicadores apropriados das etapas de
depuração de água residuária ao longo dos canais de um sistema de terras

35
úmidas (wetlands). O efluente mostrou boa eficiência de remoção de poluentes
(a água passou de polisapróbica na entrada para alfa mesosapróbica na saí-
da). E pode também ter importante papel na redução de bactérias patogênicas
(PARESCHI, 2004).

Os protozoários são essenciais nos processos de depuração biológica


aeróbia das águas residuais e bastante utilizados como indicadores nos siste-
mas de lodos ativados. Sua alimentação é heterogênea o que os torna exce-
lentes degradadores: são bacteriófagos, detritívoros, herbívoros, carnívoros e
até canibais. O sistema de lodos ativados é bastante utilizado no tratamento
biológico aeróbio de esgoto sanitário e industrial.

Baseia-se na oxidação bioquímica dos compostos orgânicos e inorgâni-


cos presentes nos esgotos, que é realizada por populações de microrganismos
bem diversificados que são mantidas em suspensão no meio líquido por agita-
ção com injeção de ar o qual gera um ambiente aeróbio rico em oxigênio dis-
solvido (SEVIOUR; BLACKALL, 1999). A comunidade que se estabelece nesse
sistema é dinâmica e a base do tratamento, com cada espécie cumprindo um
papel metabólico diferenciado, mas integrado ao todo o processo e de alta im-
portância para o bom funcionamento do sistema. A estrutura e o funcionamento
dessa comunidade estão diretamente relacionados com as condições operaci-
onais e com a qualidade e quantidade do esgoto afluente que alimenta o reator
(VAZOLLÉR et al., 1989). Devido a essa íntima associação, a avaliação micro-
biológica do lodo fornece informações suficientes e precisas sobre o desempe-
nho do sistema e, em consequência, da qualidade do efluente.

A eficiência do tratamento depende da formação de flocos biológicos


adequados no tanque de aeração. Na formação desses flocos, intervêm bacté-
rias filamentosas e mucilaginosas formadoras de flocos. Os flocos biológicos
deverão ter dimensões apropriadas para sedimentarem rapidamente no tanque
de sedimentação secundário. Flocos ideais para atingir a boa eficiência na bio-
degradação da matéria orgânica e posterior sedimentação devem ser predomi-
nantemente de tamanho entre médio e grande: em torno de 500 µm a 1000 µm
e devem ser compactos e redondos. Flocos pequenos (75 µm), redondos e
compactos, denominados como flocos “Pinpoint” por serem leves não terão boa

36
sedimentação. Os flocos com excesso de bactérias filamentosas também não
sedimentarão, ficarão flutuando no tanque de decantação causando o intumes-
cimento do lodo ou bulking.

Em relação à biota nos reatores de lodos ativados, no início de funcio-


namento quando a carga orgânica é elevada, observa-se a predominância de
protozoários ameboides (sarcodina) e flagelados no tanque de aeração. À me-
dida que aumenta a idade do lodo, passam a predominar protozoários ciliados
de vida livre (exemplo: Paramecium spp) que se alimentam ativamente de bac-
térias e posteriormente protozoários ciliados fixos (exemplo: Vorticellaspp) que
têm ampla capacidade de ingerir diversos outros microrganismos.

A simples observação microscópica dos flocos formados no lodo do tan-


que de aeração permite ter uma ideia do funcionamento do sistema: flocos de
tamanho médio, semicompactos, com abundantes protozoários ciliados fixos e
bactérias filamentosas formando parte de seu esqueleto, evidenciam bom fun-
cionamento, particularmente se o líquor é claro com poucas bactérias e abun-
dantes ciliados de vida livre nadando entre os flocos. Na figura apresenta-se
flocos biológicos de lodos ativados.

Figura 16: Flocos biológicos pequenos bem formados (a), floco biológico ideal
com um ciliado livre aderido (b), flocos filamentosos (c).

Fonte: Piedade (2015).

37
São esses protozoários e os outros componentes do zooplâncton que
determinam o sucesso do tratamento.

A Figura mostra a sucessão de protozoários, microcrustáceos, metazoá-


rios e cladóceros no tanque de aeração do sistema de lodos ativados com o
aumento da idade do lodo.

Figura 17: Representação esquemática das curvas de populações de microrga-


nismos em relação ao tempo de aeração e à estabilização da matéria orgânica em lodos
ativados.

Fonte: Branco (1969)

Observações de Branco (1969) mostraram a sucessão representada na


Figura :

Primeira etapa: presença de flagelados que atingem seu maior número


(cerca de 500 organismos por mL) em torno do 7º dia de aeração, elevando-se
até o 15º dia. Logo surge uma rica população de flagelados pequenos do gêne-
ro Bodo, que pode atingir 50.000 organismos.mL-1 ao redor do 22º dia;

Segunda etapa: presença de abundantes Ciliados, o ambiente é rico em


bactérias, e o pH se eleva. Ocorre intensa proliferação dos ciliados de locomo-
ção muito rápida, (gênero Colpoda), com máxima população no 11º dia de ae-
ração. Ocorre a partir do 4º ou 5º dia a transformação de alguns ciliados em
cistos que se aderem aos flocos e o número de bactérias em suspensão que
são seu principal alimento diminui. Logo após o 10º dia, o número de ciliados
ativos ultrapassa 40.000/mL e o número de cistos é superior às formas ativas,

38
a curva de crescimento declina rapidamente. Aparecem ciliados sésseis perítri-
cos com pedúnculos que se prendem à superfície dos flocos, e atingem até
1.500 indivíduos.dia -1/mL, no 15º, passam a declinar. Predominam os perítri-
cos Opercularia, Epistylis, Pyxidium. Finalmente declinam estes e se deformam
os flocos com presença de alguns de ciliados livre-nadantes, dos gêneros Lio-
tus, Amphileptus e Loxodes;

Na terceira e última etapa: aparecem os microinvertebrados, nematoides


de vida livre entre o 13º-14º dia.

Conclui-se que os melhores indicadores do tratamento, ou seja, do pro-


cesso de biodegradação da matéria orgânica, nesses sistemas, são os micror-
ganismos envolvidos, semelhantes ao processo de autodepuração. Protozoá-
rios podem ser também importantes indicadores de elementos tóxicos na água
tais como cobre, zinco, Triton X-100 (NICOLAU et al., 1999).

39
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKER, M. N.; TARAS, M. J. The quest for pure water: the history of the
twentieth century. 2. ed. Denver: AWWA, 1981. Volume I.

BRANCO, S. M. Hidrobiologia aplicada à Engenharia Sanitária. 3. ed. São


Paulo: CETESB/ASCETESB, 1986. 616 p.

BRANCO, S. M. Água: origem, uso e preservação. 2. ed. São Paulo: Moder-


na, 1993.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011.


Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade
da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual Práti-


co de Análise de Água. 4. ed. Brasília: FUNASA, 2013. 150p.

CDC. Centers for Disease Control and Prevention. Addressing Emerging


Infectious Disease Threats. A Prevention Strategies for the United States.
1994.

CEBALLOS, B. S. O. ; DANIEL, L. A.; BASTOS, R. X. K. Tratamento de água


para consumo humano. Panorama mundial e ações do PROSAB-Edital 5 -
Tema 1. In: Valter Lucio de Pádua. (Org.). Remoção de microrganismos emer-
gentes e microcontaminantes orgânicos no tratamento da água. 1. ed. Rio de
Janeiro: Zeppelini, 2009, v. 01, p.19-43.

40
FEACHEM, R. G. Interventions for the control of diarrhoeal diseases
among young children: promotion of personal and domestic hygiene. Bull
World Health Organ, n. 62, p.467-76, 1984.

FEACHEM, R.G.; BRADLEY, D.J.; GARELIK, H.; MARA, D. D. Santination an


Disease: health aspects of excreta and waste water management. John
Wiley and Sons, Chichester, 1983, 501p.

BITTON, G. Wastewater Microbiology. Ed. Wiley and Sons, 2005. 789 p. Blog
Biossegurança. 2011.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pe-


arson Prentice Hall, 2005, 313p.

BRANCO, S. M. Hidrobiologia aplicada a la ingenieria sanitária. São Paulo:


Universidade de São Paulo, 1969, 361p.

BRANCO, S. M. Hidrobiologia aplicada à Engenharia Sanitária. 3. ed. São


Paulo: CETESB/ASCETESB, 1986, 616 p.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução nº 274, de 29 de novembro


de 2000. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2000.

______. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de


março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretri-
zes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as con-
dições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, n.53, p.58-63, 18 mar. 2005.

______. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011.


Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade
da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. 2011.

41
CAVALCANTI, A. J. M.; DINIZ, C. R.; SILVA, M. C. B. C.; CEBALLOS, B. S. O.
Comunidade zooplanctônica de um açude do semiárido paraibano e viabi-
lidade de seu uso como bioindicadora do estado trófico. In: SIMPÓSIO DE
RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE, 11. 2012, João Pessoa. Anais... Rio
de Janeiro: ABES, 2012.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Interci-


ência, 2011, 656p.

MARA, D. D. Bacteriology for Sanitary Engineers. Churchill Livingstone,


1974, 209p.

MOTA, S. Preservação e conservação de recursos hídricos. 2. ed. Rio de


Janeiro: ABES, 1995, 222 p.

NICOLAU, A. et al. Os protozoários como ferramenta de monitorização bio-


tecnológica da poluição: ensaios in vitro. In: CONFERÊNCIA NACIONAL
SOBRE A QUALIDADE DO AMBIENTE, 6, Lisboa, 1999. Actas... Lisboa: Uni-
versidade Nova. Vol. 2, p.789-798, 1999.

PARESCHI, D. C. Caracterização da fauna de rotífera em área alagada


construída para tratamento de esgoto doméstico: Piracicaba (SP). 187f.
Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia da Universidade de São Carlos
(SP), 2004.

PIEDADE, A. L. F. Microbiologia de Lodos Ativados: uma ferramenta fun-


damental no Gerenciamento das ETEs. AQUACOM.

SEVIOUR, R. J.; BLACKALL, L. L. Microbiology of Activated Sludge. Ed.


Kluwer, 1999, 422p. TRATA BRASIL. Situação Saneamento no Brasil. 2013.
Disponível em: < http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento>.

VAZOLLÉR, R. F. et al. Microbiologia de lodos ativados. São Paulo:


CETESB, 1989, 23p.

42

Você também pode gostar