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Descarte irregular de lixo em Parintins-AM ameaça saúde pública e

ecossistemas

Problema crescente de descarte inadequado de resíduos gera riscos à saúde da população e ao


equilíbrio ambiental, exigindo ação imediata das autoridades municipais e conscientização da
população.

Escrito por: Renner Gomes Viana

Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos


Especiais (Abrelpe), em 2022, revelou que o Brasil está enfrentando uma séria crise de
descarte irregular de lixo. Os dados atualizados demonstram que mais de 39% dos resíduos
sólidos gerados no país estão recebendo um destino inadequado, causando danos à estética
das cidades, colocando em risco a saúde da população e ameaçando o meio ambiente de
maneira significativa.
De acordo com o relatório, um total de 29,7 milhões de toneladas de resíduos são descartadas
de forma inadequada. Essa prática irresponsável inclui o depósito de lixo em locais
impróprios e o despejo de resíduos em corpos d'água, resultando em consequências
desastrosas que comprometem diretamente a qualidade de vida das comunidades e causam
danos ambientais generalizados.
Em Parintins, cidade localizada no interior do estado do Amazonas, a 369 quilômetros de
Manaus, a questão do gerenciamento adequado de resíduos tem sido motivo de grande
preocupação. Conhecida por suas belezas naturais e cultura vibrante, a cidade agora enfrenta
desafios crescentes nesse aspecto. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Obras e
Serviços Públicos (Semosp), a população residente na sede do município de Parintins produz,
em média, 233 metros cúbicos de resíduos sólidos diariamente, incluindo materiais orgânicos
e inorgânicos.
Há pelo menos quatro anos, vem ocorrendo uma orientação controversa da prefeitura para que
a população das áreas periféricas da cidade deposite seus resíduos orgânicos e domésticos nas
ruas, indo na contramão no que diz a lei nº 407/2007 - PGMP, Código de Posturas do
município, que proíbe o deposito de entulhos de qualquer natureza em vias e logradouros
públicos. Regularmente, são veiculados informes via rádio para que moradores amontoem o
lixo gerado em frente às suas casas para que tratores do tipo pá-mecânica e caminhões
caçamba façam o recolhimento, daí o que se vê são montes de entulhos. Essa prática tem
intensificado ainda mais o problema do gerenciamento de resíduos em Parintins.
O descarte inadequado de resíduos cria ambientes propícios para a proliferação de vetores
transmissores de doenças, como ratos, baratas e moscas. Além disso, a decomposição dos
resíduos orgânicos gera chorume, um líquido altamente poluente que pode contaminar o solo
e os recursos hídricos, comprometendo a qualidade da água consumida pela população.
"A forma adequada de destinar os resíduos é um fator crucial para prevenir a proliferação de
doenças e preservar a saúde do meio ambiente", destaca Geisse Brígido, 28 anos, agente de
pesquisa e mapeamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
Parintins. Ela é graduada em Gestão Ambiental e mestre em gestão e regulação de Recursos
Hídricos.
Com profundo conhecimento sobre os impactos nocivos resultantes de práticas negligentes,
Geisse alerta para a relação direta entre a destinação inadequada de resíduos e o aumento dos
riscos à saúde pública. Doenças respiratórias, dermatológicas e gastrointestinais podem ser
causadas pela exposição a resíduos contaminados e ao ar poluído proveniente da queima
inadequada de lixo. Além disso, a contaminação dos recursos naturais afeta diretamente a
biodiversidade local, colocando em risco a fauna e a flora da região.
Em meio a esse panorama preocupante, o Engenheiro Florestal e mestre em Ciências
Florestais e Ambientais, professor efetivo do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)/
Parintins, Arqleydsson Pinheiro, 40 anos, alerta para a diminuição dos processos e interações
fundamentais entre fatores bióticos e abióticos, que comprometem a produtividade da flora.
O especialista ressalta os danos causados pela toxicidade dos resíduos depositados de forma
incorreta. "A disposição irregular de resíduos pode levar à diminuição nos processos e
interações de fatores bióticos e abióticos, reduzindo a produtividade da flora” - diz
Arqleydsson. Essa toxicidade interfere diretamente na capacidade das plantas de absorver
água e nutrientes essenciais, comprometendo, assim, a realização da fotossíntese, um processo
vital para a vida vegetal.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível a adoção de medidas efetivas para combater o
descarte irregular de lixo em Parintins. É necessário investir em programas de conscientização
da população, incentivando a adoção de práticas sustentáveis de descarte e reciclagem. Além
disso, é fundamental o fortalecimento da fiscalização e a aplicação de punições adequadas aos
infratores.

Riscos à saúde e ao meio ambiente


O descarte irregular de lixo representa um grave risco à saúde da população e ao equilíbrio
ambiental. Dados do Ministério da Saúde revelaram que, no ano de 2019, a cidade de
Parintins se viu confrontada com problemas relacionados a doenças de veiculação hídrica.
Entre as enfermidades identificadas no banco de dados do DATASUS, destacaram-se a
amebíase, shiguelose, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa, outras doenças
infecciosas intestinais presumíveis, hepatite infecciosa A e leptospirose.
Esses dados alarmantes ressaltam a importância de investimentos em saneamento básico e
medidas preventivas, como a melhoria da qualidade da água e a promoção da higiene
adequada, para combater e prevenir a propagação dessas doenças.
O fiscal ambiental aposentado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) em 2019, residente em Parintins, Salvador Leal, 66 anos,
destaca a falta de seriedade no serviço público em relação ao saneamento básico e ressalta a
importância da prefeitura em incentivar a população ao descarte adequado por meio da
Educação Ambiental. "A falta de seriedade do serviço público em relação à instalação de uma
lixeira pública adequada é preocupante". Salvador também ressalta o risco de problemas
comuns em grandes cidades, como o entupimento dos bueiros, caso a população não seja
incentivada a descartar corretamente. É crucial que investimentos sejam feitos e ações sejam
tomadas para combater esses problemas e garantir um ambiente mais saudável e sustentável
para todos.

A conscientização ambiental e a participação ativa da população são fundamentais para enfrentar o desafio

relata a
baixa adesão à coleta seletiva na região, ressaltando a importância da conscientização
ambiental. "Pouquíssimas pessoas fazem coleta seletiva. Não existe planeta B, portanto, não
existe plano B. Ou a gente cuida do nosso planeta ou a gente vai ser engolido, né?"
Alzenilson Aquino, 48 anos, secretário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente (Sedema) em Parintins reforça que cada indivíduo é
responsável pelo destino dos resíduos produzidos e enfatiza os esforços do município para
solucionar o problema por meio do Programa de Saneamento Integrado de Parintins (PROSAI
Parintins).
Alzenilson é graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Faculdade Integrada do
Tapajós e tem mestrado em Gestão de Áreas Protegidas pelo Instituto Nacional de Pesquisa
da Amazônia (INPA).
Alzenilson salienta que o problema do lixão não é exclusivamente responsabilidade do poder
público municipal. "O lixão não é um problema da prefeitura de Parintins, é um problema de
cada um de nós como cidadão porque somos nós que mandamos os resíduos para lá." Ele
destaca ainda a importância de minimizar os resíduos e separá-los adequadamente,
ressaltando os esforços do município em parceria com o governo do estado para a
implantação do PROSAI Parintins, um programa que busca a destinação correta do lixo por
meio de usinas de triagem e pirólise, além de um aterro sanitário simplificado, com
investimento de mais de 460 milhões de reais.
A estudante Michele Sá, 25 anos, moradora do bairro Castanheira, ressalta a responsabilidade
coletiva, destacando que a população é responsável pela produção dos resíduos sólidos. "É
muito importante que a comunidade tenha total participação nesse enfrentamento, porque a
população, né, que produz esses resíduos sólidos".
Suzianne Sá, 35 anos, autônoma, também moradora do bairro Castanheira, enfatiza a
importância da educação ambiental, afirmando que educar as pessoas sobre o descarte correto
do lixo pode reduzir contaminações e contribuir para a preservação do meio ambiente e a
melhoria da saúde pública. "Podemos assim, né? Reduzir vários tipos de contaminação ao
meio ambiente e colaborar com a saúde pública."

Ações governamentais insuficientes

Apesar dos esforços da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente


(Sedema) em lidar com a problemática do descarte irregular de lixo, a coordenação entre os
órgãos competentes ainda é falha. A atuação da Secretaria Municipal de Obras e Serviços
Públicos (SEMOSP), responsável pela aplicação de multas e recolhimento de resíduos, é
essencial para a efetividade das medidas de combate ao problema. A demora na tomada de
decisões e a falta de fiscalização adequada são pontos críticos que precisam ser superados
para se obter resultados efetivos.
Keyla dos Santos, 25 anos, técnica em meio ambiente e moradora do bairro Palmares, destaca
a falta de participação da população nas campanhas de educação ambiental. Ela afirma: "Vejo
que há carência da comunidade em se envolver em cada campanha que acontece na cidade.
São mínimos os que mais participam das campanhas de EA, nesse grupo incluem instituições,
escolas e associações ligadas ao tema meio ambiente."
A participação da população nas campanhas de educação ambiental é considerada baixa por
Keyla. Ela observa que poucas pessoas se envolvem ativamente nessas iniciativas, incluindo
instituições, escolas e associações relacionadas ao meio ambiente. Essa falta de participação
da comunidade é um desafio que precisa ser superado para promover uma conscientização
mais ampla sobre a importância da preservação ambiental.

Educação ambiental como ferramenta de conscientização

A Sedema de Parintins tem buscado conscientizar a população sobre a importância do descarte


adequado de resíduos por meio de oficinas, palestras, campanhas e blitze. Ela também tem
instalado placas de "Proibido Jogar Lixo" para combater o problema das lixeiras viciadas.
O papel ativo da Sedema na conscientização ambiental é enfatizado por Wescley Dray,
Subsecretário de Meio Ambiente da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente de Parintins - AM, graduado em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Amazonas (UFAM) e em Turismo pela Universidade do Estado do Amazonas
(UEA), mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela UFAM, que
implementa atividades em escolas e abordagens porta a porta. "A Sedema tem desempenhado
um papel ativo na conscientização ambiental, implementando diversas atividades nas escolas
locais e através de abordagens porta a porta."
Docente efetivo do IFAM e graduado em Engenharia Florestal pela UFAM, o professor
Kildery Alex, 46 anos, destaca a importância de cumprir a lei dos resíduos sólidos e investir
mais em educação ambiental. Ele acentua a necessidade de incentivar a coleta seletiva por
meio da implementação de pontos de entrega voluntária. No entanto, a insatisfação por parte
da população em relação à falta de ações efetivas da prefeitura é evidente, com manifestações,
do tipo “Moradores reclamam de coleta de Lixo feita em caçambas em Parintins”, ocorrida
em 23 de março nas redes sociais.
Geisse enfatiza a importância de investimentos maiores em campanhas de conscientização e
educação ambiental, com o propósito de alcançar um número ainda maior de cidadãos
envolvidos na coleta seletiva. "A gestão da prefeitura ainda tem muito a avançar no incentivo
da coleta seletiva" e chama atenção a relevância de que "já existem muitas pessoas sensíveis à
separação e destinação adequada dos resíduos, porém, é evidente que há espaço para
melhorias por parte da prefeitura".
O barbeiro Bruno Ruan, 28, morador do Beco Submarino, bairro Francesa, expressa sua
frustração com a falta de ações da prefeitura: "Lembro que antes tinha aquelas ações sociais
da prefeitura, o povo da prefeitura vinha aqui e faziam uma limpeza em geral... e agora nem
isso tem mais, sabe!".
"A gestão da prefeitura ainda tem muito a avançar no incentivo da coleta seletiva", destaca
Geisse, agente de pesquisa e mapeamento do IBGE/ Parintins. Ela ressalta que "já existem
muitas pessoas sensíveis à separação e destinação adequada dos resíduos, porém, é evidente
que há espaço para melhorias por parte da prefeitura". Geisse também enfatiza a importância
de investir em "campanhas de conscientização e educação ambiental" para envolver um
número maior de cidadãos na coleta seletiva e assegurar um futuro mais sustentável para
Parintins.

Preparação para o Festival Folclórico de Parintins

Com a proximidade do Festival Folclórico de Parintins de 2023, a cidade está passando por
uma limpeza intensiva, com ações de varrição de ruas, revitalização de praças e preparação
dos espaços públicos para receber os visitantes. Essa preparação ressalta a importância de
manter a cidade limpa e bem cuidada, não apenas durante o evento, mas de forma contínua,
valorizando a cultura local e proporcionando uma experiência agradável aos turistas.
Para alcançar esse objetivo, é crucial que as ações de limpeza não sejam apenas temporárias,
mas que haja um compromisso contínuo para resolver o problema do descarte irregular de
lixo em Parintins. Isso inclui fortalecer a fiscalização e aplicar punições rigorosas aos
infratores, além de implementar políticas efetivas de coleta seletiva e reciclagem. Uma
estratégia promissora é estabelecer parcerias com associações de catadores locais, como a
Associação de Catadores de Parintins (ASCALPIN), visando impulsionar a reciclagem e
promover a inclusão social desses trabalhadores.
Segundo Jatemar Barbosa, coordenador de Limpeza Pública da Semosp/ Parintins, "Reforçar
a fiscalização e aplicar multas rigorosas para aqueles que descartam lixo de forma irregular,
estabelecer parcerias com empresas e organizações não governamentais para desenvolver
projetos de educação ambiental e manejo adequado de resíduos, e incentivar a compostagem
doméstica e comunitária" são objetivos da prefeitura.
Em relação à problemática do descarte incorreto do lixo, Geisse aponta que é fundamental
observar alternativas para amenizar o problema. Tanto por parte do poder público quanto pela
população em geral. A questão do lixo exige uma abordagem abrangente e a participação de
todos os envolvidos, visando a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida da
comunidade."

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