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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL

A CONFEDERAÇÃO SINDICAL DOS ENGENHEIROS, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº XXX.XXX.XXX-XX, com endereço eletrônico
e com sede na rua, número, bairro, cidade, estado, vem por meio de seu advogado infra-
assinado conforme procuração anexa, com escritório, endereço que indica para os fins do
art. 77, V, do CPC, propor a presente

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

fundamentando-se no art. 102, I, a, da CRFB/88 e da Lei nº 9.868/99, em face do Decreto


nº5555 expedido pelo presidente da República, conforme especificará ao longo desta
petição, nos termos e motivos que passa a expor.

I - DO OBJETO DA AÇÃO

De acordo com o art. 102, I, a da CRFB/88 caberá ADI em face de lei ou ato
normativo federal ou estadual que viole a Constituição Federal.

Nesse sentido, impugna-se tal ação contra o Decreto nº5555, editado pelo
Presidente da República, que exige, para a obtenção do diploma de graduação em
engenharia, um elevado aproveitamento nas disciplinas do curso, e, para inscrição nos
Conselhos Regionais, a conclusão de uma pós-graduação com carga horária mínima de
480 horas aulas.

Ocorre que tal Decreto é autônomo, inovando automaticamente na ordem jurídica,


visto que não há lei da qual decorra o ato normativo. Nesse viés, nenhum decreto pode
ultrapassar os limites nem invadir a competência da lei.
II - DA LEGITIMIDADE ATIVA E DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA

A Confederação Sindical dos Engenheiros possui legitimidade ativa com fulcro


no art. 103 da Constituição Federal, IX, onde dispõe que a confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional podem propor a Ação Direta de
Inconstitucionalidade.

Desta forma, insta salientar que a presente confederação sindical está composta
nos termos do art. 535 da Consolidação das Leis Trabalhistas, uma vez que ilustra, em
seu termo, que para constituir confederação, serão necessárias, no mínimo, 3 (três)
federações, possuindo sede na Capital.

Respeitando o dispositivo supracitado, a Confederação Sindical dos Engenheiros


reúne 18 (dezoito) federações de sindicatos em diferentes Estados, tendo, em cada
federação, 10 (dez) sindicatos. Os sindicatos são compostos por profissionais que
exercem atividades e profissões idênticas, similares ou conexas, como se encontra
delimitado no art. 534 da CLT.

Neste sentido, a legitimidade ativa restou comprovada nos termos da Constituição


Federal e da Consolidação das Leis Trabalhistas, sendo o tema de interesse dos seus
membros.

Noutro giro, a confederação enquanto legitimada especial, deverá apresentar


pertinência temática a fim de que seja comprovada que a norma arguida enquanto
inconstitucional possui interesse direto para os legitimados especiais.

Diante disso, a pertinência temática está esculpida no próprio objeto da ação. A


classe dos engenheiros será diretamente afetada com o Decreto inconstitucional, ademais,
cabe ressaltar a urgência da demanda, uma vez que muitos profissionais da área estarão
se formando e irão se deparar com tamanha dificuldade de inserção no mercado de
trabalho.

Sendo assim, haja vista a confederação estar atuando diretamente na defesa dos
direitos da classe afetada, constitui pertinência temática para suscitar a
inconstitucionalidade do referido Decreto, e pugna pelo seu acolhimento.

III- DOS FUNDAMENTOS


III.I Da Inconstitucionalidade Formal do Decreto pela Inobservância do Art. 5º, XIII,
da Constituição Federal

É inconstitucional a edição de Decreto Autônomo pelo Presidente da República


que verse sobre restrições ao livre exercício profissional, isso porque se trata de matéria
sujeita ao domínio normativo da lei em sentido estrito, como manda o art. 5º, XIII, da
CRFB/88, e tampouco versa sobre as matérias previstas no texto constitucional
supramencionado.

A par do vício formal acima exposto, cumpre esclarecer, ainda, que a publicação
do decreto em exame, no âmbito do Poder Executivo, acarretou, também, no vício formal
a ser reconhecido por essa Suprema Corte, em face do descumprimento das regras
constantes do artigo 84, VI da Constituição da República, que diz:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre:

a) organização e funcionamento da administração federal, quando não


implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;

b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

Assim sendo, o decreto discutido padece de vício formal por inobservância dos
critérios constitucionais contemplados pela Carta da República no que tange a edição de
conteúdos normativos que versem sobre o assunto em questão, devendo ser reconhecida,
de pronto, a sua inconstitucionalidade.

III.II Da inconstitucionalidade Material

Não obstante a demonstração de vício formal a macular o Decreto examinado ser


suficiente ao reconhecimento da inconstitucionalidade do referido diploma normativo,
resta necessário analisar, ainda, as alegações de vício material que serão apresentadas.

Trata-se, portanto, de clara inconstitucionalidade material, calcada na tese da


afronta ao Princípio da Separação de Poderes, consagrado pelo artigo 2º da Constituição
Federal de 1988, quando declara que são Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Com efeito, o decreto padece de vício de iniciativa, uma vez que teve origem no
âmbito do Poder Executivo, uma vez que penetra em atividade de competência legislativa,
quando viola o princípio da separação dos poderes acima referido, bem como o princípio
constitucional explícito da legalidade, disposto no art. 5º, inciso II da Carta Magna, ao
restringir direitos sujeitos à disciplina da lei por meio de decreto.

Nesse plano, rompe, também, com o princípio da liberdade de exercício de


atividades e profissões, o qual a Constituição dedica seu artigo artigo 5º, inciso XIII, que
oferece a autonomia ao cidadão para desempenhar qualquer atividade laborativa
profissionalmente, desde que atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer.

Ainda, qualquer restrição a esse direito deve respeitar o princípio implícito da


proporcionalidade, a fim de proteger “o direito fundamental de limitações arbitrárias ou
desarrazoadas e de lesão ao seu núcleo essencial” (SOUZA, 2017, p. 50-63)1. Isso
significa que a atuação na inovação legislativa deve ser adequada e necessária para o
objetivo que se quer alcançar.

Não se vislumbra, no caso em tela, razoabilidade dos métodos empregados para


essa limitação profissional, de modo que há um excesso na tentativa de evitar que um
profissional da engenharia desqualificado provoque danos à coletividade por meio do
exercício equivocado de seu trabalho e falha na aplicação de seus conhecimentos.

Por fim, de modo a amparar a competência do exímio Tribunal Supremo para a


apreciação da presente inconstitucionalidade, cumpre ressaltar que o art. 102, I, a,
CRFB/88, dispõe que a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual será julgada pelo STF.

IV - DA TUTELA DE URGÊNCIA

1 SOUZA, André Luis Nacer de. Limites constitucionais do direito fundamental ao livre exercício
de qualquer trabalho, ofício ou profissão. Revista eletrônica: acórdãos, sentenças, ementas,
artigos e informações, Porto Alegre, RS, v. 13, n. 203, p. 50-63, maio 2017.
A possibilidade de concessão de medida cautelar em sede de ADI se encontra nos
arts. 10 a 12 da Lei nº 9868/99 e possui natureza cautelar, apoiando-se nos pressupostos
do fumus boni iuris e do periculum in mora.

Nesse sentido, no caso em questão, o fumus boni iuris se justifica pela evidente
violação das normas e princípios constitucionais. Verifica-se presente, claramente, a
desobediência em relação ao princípio da separação de poderes, quando da interferência
do Poder Executivo em matéria legislativa; ao princípio da legalidade, ante a
inobservância do artigo 5º, inciso XIII; e a liberdade de exercício da profissão, expressa
na mesma disposição normativa citada.

Já o periculum in mora é comprovado tendo em vista o dano irreparável que os


milhares de formandos em engenharia sofrerão com a proximidade do fim do curso e a
impossibilidade de concluírem tal etapa e/ou se inscreverem nos Conselhos Regionais,
devido ao Decreto n°5555, manifestamente inconstitucional. Dessa forma, tal fato confere
grave risco de perecimento do resultado útil do processo, caso não acolhido o pedido em
sede de medida cautelar.

Diante de tais circunstâncias, é inegável a evidência do direito e a existência de


fundado receio de dano irreparável, sendo imprescindível a SUSPENSÃO IMEDIATA
dos efeitos da referida norma. Neste sentido, requer-se, nos termos do art.300 do CPC,
a concessão de Tutela Cautelar.

V- DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer-se:

a) O recebimento da ação nos termos do art. 102, I, a da Constituição Federal;

b) A concessão da medida cautelar, a fim de suspender a aplicação do Decreto impugnado


diante do fumus boni iuris e do periculum in mora;

c) A oitiva do Ministério Público, pelo seu Procurador Geral da República;

d) A oitiva do Advogado Geral da União;

e) Que seja declarada a inconstitucionalidade do Decreto.


Dá-se à causa o valor de R$ 1.100,00 (hum mil e cem reais) de acordo com o art. 291 do
CPC/15.

Termos em que,

Pede deferimento.

Brasília, 15 de março de 2021

(Assinatura)

Nome do advogado

OAB n.º (número)

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