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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Faculdade de Direito
Direito Constitucional II

Nomes: Matrículas:
Matheus Maestri Saldanha e Felipe 00301861 e 00311411
Carlotto
___________________________ _________________________

P2 DIREITO CONSTITUCIONAL II

Orientações Gerais:
(1) A prova deverá ser realizada preferencialmente em duplas, mas
serão admitidas provas individuais;
(2) A postagem da prova deverá ser realizada na plataforma TEAMS. Na
aba arquivos foi criada uma pasta, chamada PROVA II
CONSTITUCIONAL II, local em que as provas deverão ser
inseridas;
(3) Para facilitar a identificação, o arquivo deverá ser nomeado com os
nomes dos alunos;
(4) O arquivo deverá ser enviado em formato Word ou PDF;
(5) Não serão consideradas respostas com mera colagem de artigos,
sendo necessária a formulação de argumentação;
(6) OBS: até o presente momento a decisão de mérito da ADI 558/RJ
não foi publicada, tendo em vista o recente julgamento, razão pela
qual poderão se basear em notícias publicadas no site do STF para
sua análise.
(7) A prova deverá ser enviada até o dia 13/05/2021, às 24h.
(8) Boa prova.

Questão única:
Escolha e analise um dos casos retratados nos precedentes abaixo
especificados e indique:
(1) quais os argumentos ou teses jurídicas que foram (e/ou poderiam ser)
suscitadas?
(2) se você fosse o Ministro Relator, como solucionaria a controvérsia?
Quais os fundamentos constitucionais que embasariam sua decisão?

1º caso:
Medida Cautelar em Mandado de Segurança n.º 37.721 – Distrito Federal
(Relator Luis Roberto Barroso)

2º caso:
Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 558 - Rio de Janeiro (Ministra
Carmén Lúcia) (ver observação 6 constante nas orientações gerais)

3º caso:
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 272 – Distrito
Federal (Ministra Cármen Lúcia).

4º caso:
Tutela Antecipada na Ação Cível Originária nº 3.508 - Distrito Federal
(Ministro Marco Aurélio)

5º caso:
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4150 - São Paulo (Ministro Marco
Aurélio)

6º caso:
Habeas Corpus nº 171438 - Distrito Federal (Ministro Gilmar Mendes)
4º caso:
Tutela Antecipada na Ação Cível Originária nº 3.508 - Distrito Federal
(Ministro Marco Aurélio)
1) quais os argumentos ou teses jurídicas que foram (e/ou poderiam
ser) suscitadas?
Trata-se de Ação Cível Originária, com pedido de tutela de urgência, proposta
pelo Estado do Maranhão em desfavor da União e Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, com o fito de sanar incostitucionalidades decorrentes da
não implementação dos atos administrativos e da alocação de recursos destinados à
realização do censo demográfico no ano de 2021.

Em síntese, aduz o requerente que o cancelamento do Censo Demográfico traria


consigo um imensurável prejuízo para as estatísticas do país, pois com o desconhecimento
da realidade social, demográfica e habitacional, tornariam-se frágeis as condições que
definem a formulação e avaliação de políticas públicas voltadas para a correção e
enfrentamento de problemas intríscos da desigualdade social.

Ainda, argumenta que, devido à pandemia causada pelo vírus da COVID-19, o


risco biológico que tem causado elevado número de mortes no país, tem agravado a
situação de vulerabilidade social da população e, diante desse cenário, a realização do
Censo disponibilizaria uma riqueza de informações sobre o momento atual no âmbito da
saúde, por meio de um detalhamento da população em risco que auxiliaria
significativamente o planejamento das ações de biossegurança da população.

Prossegue destacando que a ausência do censo demográfico afeta de maneira


significativa a repartição das receitas tributárias, pois os dados populacionais são
utilizados para os repasses do Fundo de Participação dos Estados e Fundo de Participação
dos Municípios (FPM) e ainda para uma série de outras transferências da União para os
entes subnacionais, e que devido à isto o Estado teria legitimidade para propor a ação em
epígrafe.

Quanto ao mérito, alega o autor que não realizar o censo demográfico violaria
frontalmente os princíos da Administração Público, em especial, os princípios da
legalidade, pois, a realização decanal do Censo, caracterizaria obrigação de fazer expressa
em comando legal de natureza impertativa, conforme o disposto no art. 1º da Lei nº 8184,
de 10.05.1991:

Art. 1° A periodicidade dos Censos Demográficos e dos Censos Econômicos,


realizados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), será
fixada por ato do Poder Executivo, não podendo exceder a dez anos a dos
Censos
Demográficos e a cinco anos a dos Censos Econômicos

Outrossim, argumenta que caracterizaria também uma afronta ao princípio da


eficácia, pois a ação da União decorreria de severas restrições orçamentárias impostas ao
IBGE, desde 2019 e que, estas medidas erosivas, coincidentes com a disseminação de
concepções pessoais do Presidente da Reupública, seriam responsáveis por nulificar a
capacidade de organização e implementação do Censo.

Sendo assim, alega que em razão ao perigo de dano às diversas políticas públicas
setoriais que direta ou indiretamente dependem dos dados obtidos nos instrumentos de
avaliação da população e da economia nacional, bem como a omissão dos réus ao
descumprir a Lei nº 8.184/91, ao mesmo tempo, viola o direito à informação e gera
opacidade quanto à realidade social e econômica do país, prejudica políticas públicas que
dependem dessas informações, lesiona o princípio federativo e o princípio democrático.

Diante disso, solicitou, em sede de tutela de urgência, a imediata adoção de todas


as medidas (orçamentárias, administrativas e materiais) necessárias à realização do
Censo, de acordo com os parâmetros adotados no âmbito da discricionariedade técnica
pelo IBGE, inclusive com a abertura de créditos em valores suficientes.

Após apreciação do Ministro Relator, restou deferida a liminar para determinar a


adoção de medidas voltadas à realização do censo, observados os parâmetros
preconizados pelo IBGE, no âmbito da própria discricionariedade técnica, visto que,
segundo esta, “A União e o IBGE, ao deixarem de realizar o estudo no corrente ano, em
razão de corte de verbas, descumpriram o dever específico de organizar e manter os
serviços oficiais de estatística e geografia de alcance nacional – artigo 21, inciso XV, da
Constituição de 1988”. Dessa forma, seria “imprescindível atuação conjunta dos três
Poderes, tirando os compromissos constitucionais do papel” (in verbis).
Em razão disso, a União interpôs Agravo em face da decisão supracitada, com o
objetivo de que esta fosse reconsiderada, restando indeferido o pedido de tutela de
urgência.

Alegou, preliminarmente, a ilegitimidade ativa ad causam do Estado do


Maranhão, pois a demanda busca compelir a União e o IBGE a adotar providências que
não afetam diretamente o ente federado. Prosseguiu argumentando que embora não se
ignore o impacto do Censo demográfico decenal para o planejamento e para a execução
das políticas públicas a cargo de todos os entes federativos, esse fato, por si só, não
legitimaria o Estado autor a perseguir em juízo, singularmente, a pretensão posta nestes
autos, haja vista inexistir correlação direta e particularizada entre a realização do Censo
e as atividades desempenhadas pelo Poder Público estadual.

Quanto ao mérito, aduz o requerido, que a insuficiência orçamentaria, questionada


pela parte autora, decorre das naturais escolhas políticas de alocação de recursos feitas no
âmbito do processo legislativo sobretudo a partir da atuação dos membros do Congresso
Nacional, em conjunto com o Poder Executivo. Neste contexto, as pretensões da ação em
epígrafe, deveriam ser apreciadas com cautela pelo Poder Judicário. Só podendo haver
interferência deste no orçamento aprovado pelo Legislativo quando a questão impugnada
resulta do emendamento parlamentar, em situações graves e excepcionais, de desrespeito
manifesto às regras previstas no art. 166, §§ 2º e 3º, da Constituição, conforme assegurado
pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI n. 5.468: “o orçamento corresponde a
uma das típicas atribuições do Poder Legislativo na seara do Estado Democrático de
Direito”

Por outro lado, argumenta que o caráter fundamental do direito a informação não
é capaz de impor aos Poderes políticos constítuidos, especialmente em meio a uma grave
crise econômica e sanitária, a realização do Censo demográfico, em prejuízo às escolhas
alocativas realizadas no curso do processo legistlativo orçamentario.

Prossegue afirmando - com base no art. 167, I e II, da Constituição; arts. 15 a 17


da LC nº 101/2000; e arts. 125 e 126 da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021, Lei nº
14.116/2020 - que eventual realocação de recursos para a realização do censo
demográfico poderia dificultar ainda mais o funcionamento da máquina pública, uma vez
que repercutirá na redução de outras despesas, a título de compensação, tão relevantes
quanto.
Ante o exposto, solicitou a reconsideração da decisão agravada, com o sucessivo
infederimento do pedido liminar e, na hipótese desta ser mantida, que seja permitida a
realização do Censo no ano de 2022, devendo o Poder Executivo tomar as medidas
administrativas e orçamentárias pertinentes para a destinação de recursos necessários ao
IBGE, inclusive mediante a previsão dos valores respectivos no projeto de lei
orçamentária do ano vindouro.

2) se você fosse o Ministro Relator, como solucionaria a


controvérsia? Quais os fundamentos constitucionais que
embasariam sua decisão?
Com a função de Ministro Relator atribuída a nós, a controvérsia seria solucionada
de modo favorável ao Estado do Maranhão. O Censo Demográfico, realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de fundamental importância para
a sociedade. Importante ressaltar com as próprias palavras frisadas no site do IBGE: “O
Censo Demográfico tem por objetivo contar os habitantes do território nacional,
identificar suas características e revelar como vivem os brasileiros, produzindo
informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de
decisões de investimentos da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. E
também constituem a única fonte de referência sobre a situação de vida da população
nos municípios e em seus recortes internos, como distritos, bairros e localidades, rurais
ou urbanas, cujas realidades dependem de seus resultados para serem conhecidas e
terem seus dados atualizados.”

Nesse sentido dispõe a lei 8.184 de 1991:

Art. 1° A periodicidade dos Censos Demográficos e dos Censos Econômicos,


realizados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), será fixada por ato do Poder Executivo, não podendo exceder a dez
anos a dos Censos Demográficos e a cinco anos a dos Censos Econômicos.

Obrigatoriamente, os Censos Demográficos devem ser realizados não podendo


exceder a dez anos. É compreensível o adiamento de 2020 para 2021, em função da
preparação para uma possível pandemia nas atuais proporções, entretanto, um atraso
superior a este comprometeria o futuro do país, visto que, não haveriam informações para
identificar como vivem os brasileiros em seus distritos, bairros e localidades, rurais ou
urbanas, cujas realidades dependem dos resultados dos Censos Demográficos.
Além disso, comprometeria a execução de políticas públicas, visto que não teriam
dados atualizados, tornando-as incapazes de garantir os direitos fundamentais previstos
legalmente. Não realizar o Censo afetaria imediatamente os princípios da legalidade e da
eficiência. É de extrema necessidade que o Censo seja realizado mediante situação de
pandemia que vivemos nos dias atuais, para principalmente, assegurar o direito à saúde
para toda população.

Ainda, ao não realizar o censo, é verificada a capacidade de infringir o pacto


federativo, visto que, estaria prejudicada a distribuição de valores aos entes públicos, pois
são calculados com os dados das necessidades populacionais.

Além disso, segundo o artigo 21 da Constituição Federal, compete a união


organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de
âmbito nacional

Concluindo, o Censo Demográfico tem extrema importância nacional, pois é


responsável por criar um retrato da população e sua condição de vida pelo país. A coleta
de dados abrange vários pontos como renda, emprego, escolaridade, saúde, infraestrutura
e saneamento básico, por exemplo. O Censo serve para compreender como as pessoas
vivem nas diferentes regiões brasileiras. Dessa forma, é possível traçar planos de
implementação de políticas públicas, desenvolvimento social e investimentos, tanto
públicos como privados. Conforme a Lei 8.184/1991, o artigo 21 da Constituição Federal,
os princípios do direito a informação, da legalidade e da eficiência, da importância de
realizar a pesquisa, o Censo deve ser realizado.

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