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Secretaria de Trabalho
Coordenação-Geral de Legislação e Normas
DESPACHO
Processo nº 00746.001224/2022-39
Documento assinado eletronicamente por Willian Fernandes dos Santos, Assistente, em 21/09/2022,
às 19:15, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543,
de 13 de novembro de 2020.
Assunto: a presente nota técnica versará sobre os supostos impactos da implementação do aumento do piso salarial da enfermagem na empregabilidade da
categoria, e demais matérias correlatas aos impactos econômicos nas atuais políticas públicas de emprego para o setor de enfermagem vigentes no Brasil.
Senhor Secretário,
SUMÁRIO EXECUTIVO
· Trata-se a presente nota técnica de prestar esclarecimentos acerca da questão do aumento do piso salarial das carreiras ligadas a
enfermagem. A matéria foi regulada pela lei nº 14.434/22 e pela EC nº 124/22. Atualmente é objeto de questionamento judicial através
da ação direta de inconstitucionalidade nº 7.222.
· Destaca-se a importância da Pandemia de Covid-19 nos dois anos anteriores, enquanto fator preponderante para a situação de emprego e
rendimentos da categoria profissional em análise: uma realidade sanitária adversa, com a chegada de um vírus patógeno de total
desconhecimento da ciência, da tecnologia, e dos profissionais técnicos relacionados; o aumento repentino da demanda por profissionais
de saúde; os efeitos psicológicos causados nos profissionais que atuaram na “linha de frente” das instituições de saúde para tratamento
de urgência e internação.
· O mercado de trabalho da enfermagem, mesmo antes da pandemia, já apresentava aspectos desafiadores para os trabalhadores da
categoria: desemprego, alta rotatividade, déficit de trabalhadores, diferenças regionais, são alguns desses aspectos.
· Tendo em vista o período muito curto de duração dos efeitos das medidas, não é possível tecer afirmações conclusivas a respeito de um
possível impacto do aumento do piso salarial da categoria dos enfermeiros na empregabilidade, tampouco na remuneração, ou mesmo
no mercado de trabalho da categoria.
Escopo
A presente nota técnica traz conteúdo sobre a situação laboral e de empregabilidade da categoria profissional dos enfermeiros do Brasil, e dos
possíveis impactos do aumento do piso salarial aprovado e revogado em agosto de 2022.
ASPECTOS JURÍDICOS
Breve histórico
O projeto de lei que instituiu o piso salarial das carreiras de enfermagem foi apresentado no Senado em 12/05/2020, pelo Senador
Fabiano Contarato, e teve tramitação regular até sua aprovação e foi convertido na lei nº 14.434, de 4 de agosto de 2022. Ainda sobre esse
tema, foi apresentada a proposta de emenda constitucional nº 11, em 04/05/2022, que também tramitou regularmente e foi convertida na
emenda constitucional nº 124/2022, em 15/07/22.
Em 08/08/2022, foi proposta pela CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, HOSPITAIS E ESTABELECIMENTOS E SERVIÇOS –
CNSAÚDE a ação direta de inconstitucionalidade nº 7.222 perante o Supremo Tribunal Federal, com pedido de tutela antecipada para
“suspender os efeitos da Lei nº 14.434/2022, até que sejam esclarecidos os seus impactos sobre:
(i) a situação financeira de Estados e Municípios, em razão dos riscos para a sua solvabilidade;
(ii) a empregabilidade, tendo em vista as alegações plausíveis de demissões em massa; e
(iii) a qualidade dos serviços de saúde, pelo alegado risco de fechamento de leitos e de redução nos quadros de enfermeiros e
técnicos.” A tutela antecipada foi concedida pelo Min. Luis Roberto Barroso e ratificada pelo plenário do STF.
a) vício de iniciativa no processo legislativo (art. 61, §1º, II, “a” e “c”, da CF), pois o projeto de lei teria começado a tramitar antes da
promulgação da EC 124/22, e mesmo a promulgação desta durante o trâmite não sanaria “retroativamente” o suposto vício;
b) ofensa à autonomia orçamentária dos entes subnacionais;
c) falta de apontamento das fontes de custeio para a implementação da medida;
d) haveria uma suposta “desproporcionalidade da medida em relação a muitos de seus destinatários, como Santas Casas, hospitais
conveniados ao SUS e entidades estatais mais pobres”;
e) existência de possíveis usurpações das atribuições de sindicatos posto que o piso se sobreporia a convenções coletivas prévias,
podendo seu conteúdo esvaziar a liberdade de contratação e negociação;
f) desconsideração das desigualdades regionais que tornam o piso inexequível em algumas unidades da Federação; e
g ) criação de distorções remuneratórias, já que o piso salarial dos médicos seria inferior ao previsto para profissionais da
· Presidência da República;
· Câmara dos Deputados;
· Senado Federal;
· Advocacia-Geral da União; e
· Procuradoria-Geral da República.
Todos os entes elencados se manifestaram contrariamente à concessão da medida cautelar, alegando basicamente que:
1) a instituição do piso salarial nacional se baseia nos arts. 7º, V, e 22, I, da Constituição e, portanto, possui amparo constitucional;
2 ) que não há vício de iniciativa, posto que “as hipóteses constitucionais de iniciativa legislativa exclusiva estão taxativamente
estabelecidas no Texto Constitucional, e a norma impugnada não versa sobre aumento de remuneração no âmbito da
Administração Pública, mas sim sobre piso salarial do setor público e privado”, desta forma, o respectivo PL poderia ter sido
proposto por senador da república;
3 ) que a promulgação da EC nº 124/2022, anterior à promulgação da lei 14.434/22, estabeleceu a competência da União para
instituir pisos salariais nacionais para os profissionais de enfermagem, tanto do setor público como do setor privado, afastando
assim a hipótese de vício de iniciativa;
4 ) a lei questionada não trata de aumento da remuneração, no âmbito da Administração Direta da União, mas sim do
estabelecimento de patamar mínimo remuneratório, em caráter nacional;
5 ) a norma questionada não viola os arts. 169, § 1º, I, da Constituição Federal, e 113, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, uma vez que não versa sobre aumento de remuneração, concessão de vantagem, criação ou alteração de despesa
obrigatória, nem sobre renúncia de receita;
6) A observância do disposto no art. 113 do ADCT nesse caso cabe aos entes federativos obrigados pela norma federal, e não à
União, não havendo que se cogitar, em razão de seu caráter geral e por não tratar das matérias próprias do art. 61, § 1º, II, “a” e
“c”, da CF/1988, de criação de despesa obrigatória sem demonstração de impacto financeiro e orçamentário ou de aumento de
remuneração de pessoal sem prévia dotação orçamentária, e esta ausência poderia ensejar, no máximo, o impedimento de sua
implementação no exercício financeiro previsto;
7) A avaliação dos impactos sociais e econômicos da instituição do piso salarial da enfermagem competem ao Poder Legislativo e
ao Executivo, não cabendo ao Judiciário adentrar nessa matéria, sob pena de se configurar ativismo judicial e violação do
princípio da separação de poderes.
8) “O suposto abuso de poder político na edição da lei impugnada em momento próximo do pleito eleitoral não é próprio da via da
jurisdição constitucional abstrata, sendo questão a ser dirimida, se for o caso, em instância diversa, a partir do regramento
eleitoral aplicável.”
Diante dos argumentos expostos acima nos autos da ADI nº 7.222, entendeu a Suprema Corte ser cabível a concessão da medida
cautelar sustando os efeitos da nº 14.434. Seguiram-se nos autos manifestações de entidades na qualidade de amicos curae, bem como de
estados da federação.
A medida cautelar ora concedida extravasou as questões meramente legais e constitucionais, tanto processuais quanto de mérito
jurídico, adentrando a esfera de discricionariedade dos atos e decisões dos poderes Legislativo e Executivo, ao sustentar que:
“As questões constitucionais postas nesta ação são sensíveis. De um lado, encontra-se o legítimo objetivo do legislador de valorizar os
profissionais, que, durante o longo período da pandemia da Covid-19, foram incansáveis na defesa da vida e da saúde dos brasileiros. De outro lado,
estão os riscos à autonomia dos entes federativos, os reflexos sobre a empregabilidade no setor, a subsistência de inúmeras instituições hospitalares
e, por conseguinte, a própria prestação dos serviços de saúde. sensíveis. De um lado, encontra-se o legítimo objetivo do legislador de valorizar os
profissionais, que, durante o longo período da pandemia da Covid-19, foram incansáveis na defesa da vida e da saúde dos brasileiros. De outro lado,
estão os riscos à autonomia dos entes federativos, os reflexos sobre a empregabilidade no setor, a subsistência de inúmeras instituições hospitalares
e, por conseguinte, a própria prestação dos serviços de saúde.
É preciso atenção, portanto, para que a boa intenção do legislador não produza impacto sistêmico lesivo a valores constitucionais, à sociedade
e às próprias categorias interessadas.”
Ademais, a decisão também adentra a discricionariedade e a decisão do legislador sobre a oportunidade de se aprovar matéria
legislativa, bem como do Poder executivo no momento de sanção da lei, ao suspender seus efeitos até que sejam demonstrados “os seus
impactos sobre (i) a situação financeira de Estados e Municípios, (ii) a empregabilidade e (iii) a qualidade dos serviços de saúde”, posto que
esta avaliação caberia em tese ao legislador e ao executor das políticas públicas de saúde.
Introdução
A COVID-19 é a doença causada pelo SARS-CoV-2. Análises genômicas indicam que o SARS-CoV-2 teria sido resultado de uma
O mercado de trabalho da enfermagem no Brasil vive um paradoxo que persiste ao longo dos últimos anos.Há, ao mesmo tempo, uma
forte demanda por trabalhadores de enfermagem, e paralelamente uma grande oferta de trabalhadores de enfermagem
desempregados.Grandes crises financeiras, como as que vivenciamos mesmo antes da pandemia da COVID-19, afetam o mercado de
trabalho em todos os ramos da economia.No entanto, quando ocorrem grandes eventos que aumentam sobremaneira a demanda por
trabalhadores da saúde, as deficiências do mercado de trabalho da enfermagem são expostas à luz do dia (da Silva; Ferreira, 2022).
Fiscalização do Sistema COFEN/Diretorias Regionais apontou que até 13 de abril de 2020, havia déficit de 7.603 trabalhadores de
enfermagem, 2.689 enfermeiros e 4.914 técnicos e auxiliares de enfermagem.
Em 2013 havia 80.631 trabalhadores de enfermagem desempregados e 6.521 que abandonaram a profissão.O aumento de 77,4% na
taxa de desemprego da população brasileira entre o último trimestre de 2013 e o último trimestre de 2019 pode ter agravado ainda mais o
desemprego da enfermagem.Além disso, 500.161 trabalhadores de enfermagem relataram ter mais de um vínculo empregatício;65,9% dos
trabalhadores de enfermagem brasileiros realizam atividades estressantes;no setor público, 62,5% têm salários de até 3.000reais(cerca de
US$ 588);14,4% têm subsalários (até milreais,cerca de US$ 192);no setor privado, 68,2% têm salários de até 3.000reais(cerca de US$
588); 22,1% têm subsalários; no setor filantrópico, 70,1% têm salários de até 3.000 reais (cerca de US$ 588); e 22,1% têm subsalários (da Silva;
Ferreira, 2022).
Metodologia
O estudo a seguir apresenta mensurações e informações agregadas de contingente profissional, ocupação e salários das ocupações
que compõem as categorias profissionais sujeitas à normatização e fiscalização do Conselho Federal de Enfermagem. Resumidamente,
citamos três categorias profissionais: enfermeiros, técnicos em enfermagem e auxiliar de enfermagem. Em termos de classificação,
considerou-se as 3 ocupações tendo como base a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) – descritas a seguir conforme respectivas
famílias e código de classificação (CBO 2002):
Foram utilizados dados dos registros administrativos do Ministério do Trabalho e Previdência. A Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS), fornecendo informações de trabalho formal - com carteira assinada ou servidores públicos estatutários - do ano de 2020 a 2021. Da
RAIS, foram retiradas informações acumuladas (por ano) de vínculos empregatícios, remuneração média e massa salarial, considerando-se
natureza jurídica e setor de atividade econômica; e do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED), que registra o fluxo de
contratações e demissões de trabalhadores formais dentro do regime CLT – no período de janeiro de 2015 a setembro de 2022.
[1]
Apesar de não pertencer à Família 3222, a ocupação de Parteira Leiga (CBO 515115) também é beneficiada pela legislação da categoria dos auxiliares de
enfermagem. Sendo, portanto, incluída nesta categoria nos resultados obtidos neste trabalho.
RESULTADOS
[2]
Iniciamos apresentando consolidação do número de vínculos ativos, e a remuneração média para todo o Brasil, em dezembro de
2021, na Tabela 1. Ao analisar as informações tabuladas, nota-se que do total de 1.437.476 de vínculos de emprego, dentre os quais 831.901
(ou 57,8% do total) são de técnicos de enfermagem, 384.370 (ou 26,7%) são enfermeiros de nível superior, e 222.205 (15,4%) são auxiliares
de enfermagem. Enfermeiros, no período de observação, recebiam em média 5.301,50 reais mensais, enquanto técnicos em enfermagem
recebiam em média R$ 2.516,69 por mês, e auxiliares recebiam valor médio de R$ 2.791,82 mensais.
[2]
salário mensal nominal em dezembro de 2021
Tabela 1. Distribuição do emprego e da remuneração média nominal dos Profissionais de Enfermagem – Brasil, 2021.
Fonte: RAIS
Elaboração: SEET/MTP
* Inclui a categoria Parteira Leiga
As informações de total de vínculos e remuneração média foram, posteriormente, desgregadas por natureza jurídica do estabelecimento do
empregador, conforme descrito na Tabela 2 a seguir.
Tabela 2. Distribuição do emprego e da remuneração média nominal dos Profissionais de Enfermagem por natureza jurídica do
estabelecimento do empregador – Brasil, 2021.
As entidades sem fins lucrativos concentram o maior número de ocupações dentre os profissionais de enfermagem (494.215
profissionais) com vínculo empregatício formal, seguidos do Setor Público Municipal (363.009), e das empresas privadas e do Setor Público
Estadual (132.185), respectivamente. Em média, o Setor Público Federal e as entidades/empresas estatais são as que melhor remuneram os
profissionais de enfermagem (R$ 7.341,61 e R$ 6.972,40, respectivamente).
A sequência mantém valores consistentes com aqueles da tabela anterior quando desagregamos por categoria, conforme apresentado
na Tabela 3. Uma análise mais detalhada nos permite visualizar que a função de auxiliar de enfermagem se concentra nos setores públicos,
enquanto as funções de maior qualificação de enfermeiro e técnico em enfermagem, se encontram em maior número nos setores privados
(incluindo entidades sem fins lucrativos). As maiores remunerações médias nacionais para as três famílias de ocupações encontram-se no
Setor Público Federal (à exceção dos auxiliares de enfermagem, em que a remuneração média oferecida pelas entidades de empresa estatal
oferece valor pouco maior que o Setor Público Federal.
Ressaltamos a maior concentração de técnicos de enfermagem e enfermeiros de nível superior em empresas privadas e aquelas sem
fins lucrativos, que além de oferecerem piores remunerações, também oferecem vínculos empregatícios menos estáveis com maior
rotatividade nos postos de trabalho, quando comparado com o setor público (da Silva, Ferreira; 2022).
Tabela 3. Distribuição do emprego e da remuneração média nominal dos Profissionais de Enfermagem por natureza jurídica do
estabelecimento do empregador e por família ocupacional – Brasil, 2021
Fonte: RAIS
Elaboração: SEET/MTP
* Inclui a categoria Parteira Leiga
Em mais uma etapa de desagregação, apresentamos a distribuição do emprego e da remuneração média nominal dos
profissionais de enfermagem por natureza jurídica do estabelecimento do empregador e por família ocupacional por Unidade da Federação, na
Tabela 4. É notável a presença de maiores remunerações da categoria no Distrito Federal, onde se concentram instituições de saúde do setor
público federal, o mesmo que apresentava maiores remunerações nas tabelas anteriores.
Tabela 4. Distribuição do emprego e da remuneração média nominal dos Profissionais de Enfermagem por família ocupacional e por
UF – Brasil, 2021
O Estado do Ceará se destaca pela maior quantidade de profissionais de enfermagem nas três categorias, quando comparados com
outros estados da mesma região e com semelhantes dimensões demográficas.
Tabela 5.1. Admissões, Desligamentos e Saldo dos profissionais de enfermagem por categoria – Brasil, jan 2015 a dez 2019.
Tabela 5.2. Admissões, Desligamentos e Saldo dos profissionais de enfermagem por categoria – Brasil, jan 2020 a set 2022.
A pandemia iniciou oficialmente no Brasil em março de 2020. Ao longo de dois anos, foram observadas fases (ou ondas) que se iniciam
com alta do número de infecções e óbitos, com posterior redução das mesmas estatísticas ao fim de cada ciclo, conforme descrito a seguir
(Fonte: FIOCRUZ, 2022)
· Fevereiro a maio de 2020: Expansão da transmissão das capitais para as cidades menores.
· Junho a agosto de 2020: Primeira onda e sincronização da transmissão no país.
· Setembro a novembro de 2020: Segunda onda.
· Julho a novembro de 2021: impactos positivos da campanha de vacinação.
· Dezembro de 2021 a janeiro de 2022: Terceira onda.
O aumento em magnitude do saldo positivo acompanha o período do início da pandemia, e da primeira onda de transmissão. A redução
do saldo em agosto, chegando a valores negativos em setembro e outubro de 2020 coincidem com o intervalo entre a primeira e a segunda
onda. De julho a novembro de 2021, o saldo negativo coincide com os impactos positivos da vacinação, seguidos de aumento significativo do
saldo de dezembro de 2021 a janeiro de 2022, quando se considera ocorrida a terceira onda.
Como o mercado de trabalho para as categorias estudadas nos anos de 2020 e 2021 foi severamente impactado pelos ciclos da
pandemia, é muito difícil estudar efeitos de sazonalidade para essas categorias de trabalhadores, evidenciando-se sinais distintos. Não é
possível atribuir diretamente a acentuação de saldo negativo em agosto, setembro e outubro de 2022 ao fim da pandemia de Covid-19, pois a
redução da demanda por mão-de-obra de profissionais de enfermagem ocorre em meses anteriores. No entanto, é importante ressaltar que
nos meses de agosto, setembro e outubro, há tendência de redução do saldo observado nos três anos.
Seguimos observando os possíveis efeitos do aumento dos custos com contratação de pessoal por parte das instituições de saúde
contratadoras. Ao observar a massa salarial atual das três sub-categorias, a dos técnicos em enfermagem excede as das outras duas
categorias, por razões dedutíveis: apesar de ter salário médio menor que a dos enfermeiros de nível superior, é uma sub-categoria mais
numerosa em número de vínculos, o que eleva a soma dos salários em valor absoluto.
Tabela 6. Massa salarial atual (2021), hipotética (sob aumento do piso salarial), e possível incremento decorrente do aumento do piso,
por categoria e por natureza jurídica.
Ainda em termos absolutos, o aumento do piso salarial agregaria incremento nas três subcategorias, com destaque para os técnicos de
enfermagem, com incremento de mais de 18 bilhões de reais anuais. Além dos técnicos de enfermagem serem uma categoria mais numerosa
que as outras em termos de vínculos, justifica-se tal magnitude por se tratar de uma categoria com remunerações médias – os enfermeiros
recebem, em média, valores muito acima do piso, sendo pouco impactados pelo aumento – e os auxiliares de enfermagem já recebiam valores
mais próximos do que seria o novo piso.
Agregando por natureza jurídica das instituições de saúde dos trabalhadores, apresentamos os valores na Tabela 7, a seguir:
Tabela 7. Massa salarial antes e após o (hipotético) aumento do piso, possível incremento e variação do crescimento da massa salarial, por
natureza jurídica das empresas e
instituições de saúde contratantes – Brasil, 2021.
Fonte: RAIS
Elaboração: SEET/MTP
Proporcional à massa salarial anterior a um hipotético aumento do piso, as empresas privadas serão as que mais apresentam variação
na massa de salários paga aos trabalhadores (aumento de aproximadamente 70% da massa sem aumento), seguidos de entidades diversas
do setor público (aumento de 64%), das entidades sem fins lucrativos (52%), e daquelas do setor público municipal (46,14%).
Desagregamos os dados de massa salarial por tamanho das empresas e entidades de saúde contratantes de trabalhadores da
enfermagem, de modo a observar o papel dos diferentes portes de empresas/instituições de acordo com o tamanho (número de funcionários
contratados).
Fonte: RAIS
Elaboração: SEET/MTP
Na Tabela 8.1, observamos que a maior parte da massa salarial dos trabalhadores da enfermagem é paga por empresas ou instituições
com mais de 500 trabalhadores, portanto de maior porte. O mesmo ocorre com o incremento à massa salarial, em um hipotético aumento do
piso: um aumento de quase 16 bilhões de reais, o que equivale a aproximadamente 58% do total do possível incremento à massa salarial da
categoria (Tabelas 8.2 e 8.3, respectivamente).
No entanto, a massa salarial que mais sofre variações é aquela paga pelas empresas e entidades de menor porte (com até 99
funcionários), com aumento de 48% da massa salarial, seguido daquelas de médio porte (entre 100 e 499 funcionários), com 70,46% dos
funcionários, que viveria aumento de 70,46% da massa salarial (Tabela 8.4).
Nas Tabelas 9.1 a 9.4, apresentamos a massa salarial, o impacto adicional, a distribuição do impacto adicional e a variação do
crescimento da massa, por tamanho das empresas e instituições de saúde contratantes de trabalhadores da enfermagem.
Trabalhadores de enfermagem contratados por empresas de maior porte (com mais de 499 funcionários) representam 90% do
incremento na massa salarial do setor público federal, 98% do aumento da massa do setor público estadual, e 77% do incremento na massa
do setor público municipal. Em contrapartida, as empresas de menor porte (menos de 99 funcionários) contribuem com 94% do aumento da
massa salarial das pessoas físicas ou outras organizações legais, no caso de aumento do piso salarial (Tabela 9.3).
Referente à variação da massa salarial por tamanho da empresa e por natureza jurídica, destaca-se o aumento de 88% da massa
salarial dos trabalhadores da enfermagem do setor municipal, e de 102% das contratantes pessoas físicas e outras organizações, no caso das
empresas de menor porte. Entidades privadas e as sem fins lucrativos também sofrem impacto em seus custos agregados, com aumento de
73% da massa salarial daquelas com médio porte, e aumento de 96% e 86% da massa salarial daquelas de pequeno porte, respectivamente.
Ressaltamos que o aumento da massa salarial em determinado setor, natureza jurídica ou perfil das empresas representa duplo efeito:
por um lado, aumento de rendimentos, ainda que agregado, para a categoria profissional; por outro lado, representa aumento nos custos das
empresas contratantes de profissionais dessa mesma categoria. Portanto, conforme descrito na seção anterior, o aumento da massa salarial,
em termos econômicos, pode representar um ganho para os trabalhadores, e/ou um ônus para as empresas e instituições contratantes – e
portanto, um incentivo a demissões ou redução nas contratações. A depender das leis de mercado e das instituições econômicas, tais
dinâmicas podem, ou não, representar benefícios aos trabalhadores da categoria em questão. Considerando a realidade apresentada, não é
possível a esta área técnica tecer considerações conclusivas sobre os impactos da referida alteração legislativa, o que demandaria um estudo
de maior fôlego que o possível realizar no prazo apresentado, além de acesso a estrutura de custos das empresas do setor.
O mercado de trabalho da enfermagem no Brasil vive atualmente um paradoxo que apresenta numerosos desafios: por um lado, uma
grande demanda por enfermeiras nos serviços hospitalares devido a um evento de crise mundial resultante da pandemia da Covid-19, que
pressionava os sistemas de saúde por internações hospitalares e, por outro lado, um quadro de desemprego crônico da categoria, com origens
anteriores à pandemia.
Em meio à emergência de saúde pública de importância nacional decorrente da COVID-19, e posterior aos ciclos de alta de infecção da
doença, ainda que em circunstâncias distintas, as estratégias adotadas no pós pandemia tentam retirar da situação de vulnerabilidade toda a
categoria, sejam os empregados, os desempregados e os que se encontram em processo de formação.
Atuar em conjunto com as entidades políticas e organizacionais da enfermagem, com o intuito de proteger e valorizar os trabalhadores
da categoria, estão dentre os principais objetivos do poder público ao adotar estratégias para mitigar os efeitos da pandemia no país. Atuar no
mercado de trabalho da enfermagem, de forma a suprir a demanda com a oferta existente de trabalhadores capacitados e disponíveis, pode
ser a decisão acertada – mais investimentos na qualificação de enfermeiros podem ser políticas públicas de impacto positivo neste mercado.
Dito isto, os dados referentes a empregabilidade de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem demonstram que há crescente
demanda por esses profissionais, o que reflete o crescimento das demandas sociais por serviços de saúde e a pujança econômica do setor.
Associado a tais fatos, apresenta-se um mercado de trabalho instável, com notável variação de remunerações e marcantes diferenças
regionais, tornando o cenário ainda mais desafiador para a promoção de políticas públicas que beneficiem à categoria profissional da
enfermagem.
Por fim, os resultados obtidos a partir de dados de admissões, desligamentos e remuneração dos enfermeiros, não são suficientes para
que possamos afirmar a ocorrência de impactos na empregabilidade dos trabalhadores, tampouco no nível de remuneração, decorrente
especificamente da assinatura da lei que aumenta o piso salarial da categoria. No entanto, é importante ressaltar a possibilidade da ocorrência
de efeitos sobre a empregabilidade que não fomos capazes de observar, tampouco de previr para períodos posteriores – por vezes, os
mecanismos de oferta e demanda do mercado iniciam suas ações na esfera microeconômica de maneira imperceptível, e só apresentam
efeitos macroeconômicos em períodos de médio e longo prazo.
É possível observar potencial de benefícios (incremento) na massa salarial de tais trabalhadores enquanto categoria, no caso de
manutenção do aumento do valor do piso. Ainda assim, não deve ser descartada a possibilidade do aumento do piso acarretar posterior
aumento do custo das empresas e instituições de – no entanto, no presente momento, não há elementos para concluir definitivamente a
respeito de uma hipótese ou outra.
REFERÊNCIAS
Documento assinado eletronicamente por Eloá Nascimento dos Santos, Assessor(a), em 30/11/2022, às 19:57, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020 .
Documento assinado eletronicamente por Felipe Vella Pateo, Subsecretário(a), em 30/11/2022, às 19:57, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020 .
DESPACHO Nº 2208/2022/STRAB-MTP
Processo nº 00746.001224/2022-39