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Educação e Saúde pública (Lei 12.

858/2013)
Conforme mencionado anteriormente, em setembro de 2013, foi sancionada a Lei
12.858/2013, que dispõe sobre a destinação para as áreas de educação e saúde de
parcela da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de
petróleo e gás natural.
O referido diploma legal traz, em seu art. 2º, III, uma disposição com grande impacto
para o Fundo Social no que diz respeito ao direcionamento de seus recursos. O texto em
questão é reproduzido a seguir:
Art. 2º (...) serão destinados exclusivamente para a educação pública, com
prioridade para a educação básica, e para a saúde, na forma do regulamento, os
seguintes recursos:
(...)
III - 50% (cinquenta por cento) dos recursos recebidos pelo Fundo Social de que
trata o art. 47 da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010, até que sejam
cumpridas as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação.
Como se vê, a regra positivada pela Lei 12.858/2013 afeta metade dos recursos
recebidos pelo Fundo Social, vinculando a sua destinação exclusivamente para a
educação e saúde públicas. À primeira vista, poder-se-ia entender que tal disposição não
consubstancia uma inovação significativa uma vez que educação e saúde já faziam parte
do rol original de áreas a serem financiadas com recursos do FS, consoante o que
preceitua o art. 47 da Lei 12.351/2010. Todavia, o que se observou nos estudos
empreendidos ao longo deste trabalho de levantamento é que há algumas questões
controvertidas em relação a tal regramento, sobretudo em relação a sua
operacionalização. Adiante serão explorados três tópicos de discussão identificados e/ou
suscitados pela equipe de fiscalização.
Potencial antinomia com o art. 51, caput, da Lei 12.351/2010

Art. 51. Os recursos do FS para aplicação nos programas e projetos a que se refere
o art. 47 deverão ser os resultantes do retorno sobre o capital.

Sobre o tema, BENVIDO (2012) aponta que a legislação foi muito cuidadosa em
garantir que o FS tenha o escopo de “constituir poupança pública de longo prazo com
base nas receitas auferidas pela União” (art. 48, I), refletindo a compreensão de que o
Fundo deriva de uma fonte não renovável. Segundo ele, a melhor maneira de fazer uma
poupança crescer, na plena ciência de que sua fonte irá um dia se esgotar, é não atingir a
aplicação principal, mas apenas os seus rendimentos, conforme preconizado pelo art.
51. (BENVIDO/Juliano Zaiden, Fundo Social do pré-sal: entre a promessa e o desafio
da inclusão do outro, Pensar, Fortaleza, v. 17, n. 1, 2012, p. 213-216).
Essa lógica traz consigo a ideia de que, por se tratar de um recurso finito com
disponibilidade temporária e volátil, este deveria ser utilizado de tal forma a produzir
em si mesmo uma fonte de renda estável para atividades presentes e futuras, utilizando
para isso a aplicação em instrumentos financeiros.
Com isso, a renda extraída momentaneamente por conta da exploração do petróleo seria
transformada em um capital financeiro que, exposto a investimentos nacionais e
estrangeiros, como preconiza a própria lei, produziria novos recursos que
independeriam da exploração mineral, mas sim da capacidade de gestão dos recursos
financeiros e de seu retorno obtido.
Como já falado anteriormente, foi a mesma lógica utilizada na Noruega quando da
criação de seu Fundo Soberano. Percebe-se ainda que o parágrafo único criou a
possibilidade de que, dadas algumas condições de sustentabilidade e prevista uma
temporariedade, poderia se utilizar parte do principal nas finalidades previstas no art.
47.

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