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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE

MINAS GERAIS

Pedro Lamounier Sampaio

As novas concepções dos abonos e dos prêmios sob a égide da


Lei nº 13.467/2017 e seus consectários tributários

Belo Horizonte
2019
Pedro Lamounier Sampaio
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0668835500614017

As novas concepções dos abonos e dos prêmios sob a égide da


Lei nº 13.467/2017 e seus consectários tributários

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais
(FDUFMG) como requisito parcial
para obtenção do grau de bacharel em
Direito.

Área de concentração: Direito nas


relações econômicas e sociais

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto


Coimbra Silva

Belo Horizonte
2019

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SAMPAIO, Pedro Lamounier. As novas concepções dos abonos e dos prêmios sob a
égide da Lei nº 13.467/2017 e seus consectários tributários. 2019. 60 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.

Avaliado em:

Banca examinadora

Prof. Dr. _________________________________________________________

Instituição ________________________________________________________

Julgamento _______________________________________________________

Prof. ________________________________________________________

Instituição ________________________________________________________

Julgamento _______________________________________________________

Prof. _________________________________________________________

Instituição ________________________________________________________

Julgamento _______________________________________________________

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5

2 A REGRA MATRIZ E A HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES


PREVIDENCIÁRIAS .......................................................................................... 7

3 A CONCEITUAÇÃO DOS PRÊMIOS – PERSPECTIVAS DOUTRINÁRIAS E


O IMPACTO DA REFORMA TRABALHISTA ......Error! Bookmark not defined.6
3.1 A noção de “liberalidade do empregador” ......................................... 22
3.2 A noção de desempenho superior ao ordinariamente esperado...... 33

4 AS ALTERAÇÕES ADVINDAS DA LEI N° 13.467/2017 E A CONCEPÇÃO


DOUTRINÁRIA DOS PAGAMENTOS REALIZADOS A TÍTULO DE “ABONO”
......................................................................................................................... 39
4.1 Os abonos do art. 457, § 2º, da nova CLT: antecipação ou mera
espontaneidade? Uma leitura finalística ................................................... 43
4.2 O conceito de liberalidade no pagamento dos abonos ..................... 48
4.3 Da ausência de motivação específica ................................................. 50

5 OS ABONOS E PRÊMIOS SOB UMA PERSPECTIVA ISENTIVA...............52

6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 57

7 REFERÊNCIAS............................................................................................. 59

4
1 INTRODUÇÃO

Recorrentemente, a tributação da folha de pagamentos tem gerado, no


Brasil, pertinentes discussões para os mais variados setores empresariais,
havendo tal debate alcançado reiteradamente as cortes do nível mais elevado
no País, tal como se observou, por exemplo, em 2014, nos julgamentos, pelo
Superior Tribunal de Justiça, dos recursos especiais de nº 1.230.957 / RS e
1.358.281 / SP, e, mais recentemente, no julgamento, pelo Supremo Tribunal
Federal, do tema 20 da repercussão geral (Recurso Extraordinário nº 565.160 /
SC).

A relevância do debate é inquestionável. A excessiva oneração da folha


de pagamentos no Brasil é um grande desafio aos empreendedores que almejam
fazer caixa e mobilizar a economia nacional. Decerto, para cada empregado
contratado para compor a força de trabalho empresarial, faz-se necessário
calcular e planejar seus custos com uma projeção, ao menos, entre 30 e 40%
maior em relação aos seus dispêndios salariais1, a fim de provisionar o gasto
com a tributação previdenciária que tal contratação implicará. Em verdade,
portanto, seria possível vislumbrar uma situação empresarial mediante a qual,
no pagamento de cada 3 (três) empregados, o empregador acabaria por destinar
ao fisco federal montante que o possibilitaria custear outro trabalhador, o que
demonstra a onerosidade dessas contribuições.

Decorrência lógica dessa sobreonerosidade previdenciária não é outra


senão o desincentivo à abertura e manutenção das mais diversas empresas, o
óbice à geração de postos de emprego, a contenção dos investimentos e da
produção empresarial e, por conseguinte, a obstaculização da geração de
riquezas no Brasil.

1 Isso porque, conforme será melhor explanado a frente, sobre o total das remunerações
trabalhistas, deve o empregador recolher as contribuições previdenciárias sobre tais rubricas
incidentes, correspondentes a 20% do valor desses pagamentos, nos termos do art. 22, I, da Lei
nº 8.212/91, além do percentual (entre 1 e 3%) correspondente à contribuição destinada a
custear o auxílio-doença, de acordo com o fator de risco acidentário do trabalho (RAT), a teor do
inciso II do mesmo artigo, majorável, inclusive, pelo Fator Acidentário de Prevenção – FAP, índice
multiplicador esse variável entre 0,5 e 2, nos termos do art. 202-A do Decreto nº 3.048/99. Não
bastasse, verificam-se repercussões nas contribuições destinadas a outras entidades e,
naturalmente, o próprio FGTS (8%, na forma do art. 15 da Lei nº 8.036 de 1990), entre outros
diversos encargos e reflexos, variados segundo o setor econômico.

5
Justamente fundada nessa problemática econômica, e a fim de promover
e estimular o desenvolvimento das atividades produtivas no território nacional
por meio de modificações em variadas disposições laborais, a União Federal
promulgou, em 13 de julho de 2017, a Lei de nº 13.467, que introduziu, no
ordenamento jurídico pátrio, a denominada “Reforma Trabalhista”, alterando
vigorosamente o Capítulo II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
trazendo ambiente normativo completamente novo para as remunerações
trabalhistas, destinado a promover uma efetiva desoneração dos vencimentos
laborais.

Dentre essas alterações, é pertinente destacar aquelas implementadas no


art. 457 da CLT, por meio das quais foi modificado o tratamento jurídico de
diversas verbas trabalhistas, havendo o legislador federal reduzido o rol de
verbas expressamente constadas no parágrafo 1º, consideradas como de
natureza remuneratória e, portanto, submetidas aos seus respectivos encargos
previdenciários e trabalhistas, bem assim inseridas variadas parcelas entre
aquelas listadas no parágrafo 2º de mesmo artigo, que delas explicitamente
afasta o caráter remuneratório, ainda que pagas com habitualidade, e, ainda,
desonera-as da tributação previdenciária.

Para adequadamente compreender a nova redação do parágrafo 2º do


art. 457, é de se conferir o teor da referida disposição, sob a égide da Lei nº
13.467/17:

Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para


todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo
empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que
receber. (Redação dada pela Lei nº 1.999, de 1.10.1953)
[...]
§ 2o As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de
custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias
para viagem, prêmios e abonos não integram a remuneração do
empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não
constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e
previdenciário. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017)

Duas parcelas que foram incluídas no texto do referido parágrafo 2º


consistem nos chamados abonos e prêmios, pagamentos esses que não eram
tipificadas na lei trabalhista, e que, nesse sentido, impunham reiteradas

6
discussões quanto aos seus conceitos, sua natureza jurídica e seus respectivos
consectários, tanto sob a ótica trabalhista quanto sob a tributária2.

Após tratamento expresso trazido com o advento da Reforma Trabalhista,


o legislador federal acabou por dar uma caracterização própria às verbas,
categorizando-as como não-remuneratórias. Aludidas alterações, todavia, por
trazerem tratamento jurídico expresso completamente novo das parcelas,
impõem a fixação de noções sólidas a respeito das características do pagamento
enquadrado como abono ou prêmio, nos termos referidos no artigo trabalhista
alhures citado.

2 A regra matriz e a hipótese de incidência das contribuições


previdenciárias

Antes de adentrar ao debate objeto do presente estudo, em especial à


caracterização dos abonos e dos prêmios no atual contexto legislativo, cabe,
prefacialmente, definir as características afetas à tributação das parcelas, que
fomentou o novo tratamento jurídico introduzido com o advento da Lei nº
13.467/17.

Como é cediço, a Constituição da República descreve rígida e exaustiva


distribuição de competências aos entes federados, aos quais, segundo Roque
Carrazza (1980), habilita a criação de um dado tributo, nos termos prescritos na
CRFB..

Segundo Paulo Roberto Coimbra Silva (2018), em verdade, ao repartir as


respectivas competências no âmbito tributário, a Constituição prescreve efetivas
regras matrizes dos tributos nela discorridos, delimitando os fatos a que é
atrelada a tributação, “forjando os contornos e limites do ius tributandi outorgado
a cada ente federado.” (SILVA, 2018, p. 29)..

É nesse contexto que as contribuições especiais são tratadas no texto


constitucional, cuja regra matriz de competência é disposta no art. 149 da
CRFB3. Segundo esse artigo, é de competência federal a instituição de

2 A título ilustrativo, cabe destacar a que ensejou o julgamento do Agravo Interno no Agravo em
Recurso Especial nº 941.736/DF pelo STJ, discutindo-se a natureza jurídica de prêmios, abonos
e outras verbas. (BRASIL, 2016)
3 Confira-se: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de

intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas,

7
contribuições sociais (gerais) e de intervenção no domínio econômico, bem
como aquelas destinadas a entidades de representação de categorias
profissionais ou econômicas.

No próprio texto do art. 149, é especificada uma característica fulcral para


a estrutura da contribuição especial, que é a vinculação de suas receitas, a saber
a sua destinação específica às áreas ou finalidades a que se refere, ou que
motivaram a instituição do referido tributo, quando preconiza a CRFB/1988 que
as aludidas exações, cujas competências são atribuídas à União, são
“instrumento de sua atuação nas respectivas áreas”. (BRASIL, 1988)

Conforme leciona Leandro Paulsen, as contribuições têm por intuito


custear ações gerais do Estado, “voltadas a finalidades específicas que se
referem a determinados grupos de contribuintes, de modo que se busca,
destes, o seu custeio através de tributo que se denomina de contribuições.”
(PAULSEN, 2017, p. 60).

É sob tal diapasão que o Constituinte originário, ao dispor acerca da


Seguridade Social, previu a subespécie das contribuições destinada a subsidiá-
la. É dizer: sendo a Seguridade Social, nos termos do caput do art. 194 da
CRFB4, um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos
destinadas a assegurar direitos relacionados à saúde, à previdência e à
assistência social, o seu custeio, na forma do caput do art. 195 da CRFB5, é
atribuído a toda sociedade, que compreende o apontado grupo de contribuintes
que se beneficia com a manutenção de uma estrutura securitária saudável por
parte do Estado.

Finalmente, é no apontado artigo 195 da Constituição Republicana que se


estipula a regra matriz das subespécies de contribuições sociais voltadas ao
custeio da Seguridade Social. Para tanto, o art. 195 traz uma série de bases

como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que
alude o dispositivo.”
4 Confira-se: “Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de

iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos


à saúde, à previdência e à assistência social.” (Grifei)
5 “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,

nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:”

8
econômicas às quais circunscreve a respectiva competência, entre as quais,
para os fins deste trabalho, destaca-se a “a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício”, a cargo do
empregador na forma do inciso I, alínea “a”, do mencionado dispositivo 6.

Melhor delineando a composição da base salarial, para fins de adequação


da norma de competência tributária tratada no referido art. 195, I, “a”, a Emenda
Constitucional nº 20/1998 (BRASIL, 1998) introduziu, no ordenamento
constitucional, o § 11 do art. 201, por meio do qual expressamente dispôs que
“os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao
salário para efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em
benefícios, nos casos e na forma da lei.” (BRASIL, 1988)

Portanto, ao dispor acerca da competência para instituição das


contribuições previdenciárias incidentes sobre a folha salarial, a CRFB
adstringiu-a à respectiva base econômica, tendo, inclusive, detidamente a
delineado por meio do supracitado § 11 do art. 201, rigidamente expondo, assim,
a regra matriz afeta a tal tributo.

Cabe lembrar aqui, que, instado a interpretar a apontada norma matriz


tributária, o Supremo Tribunal Federal julgou, sob a sistemática da Repercussão
Geral a que se referem os artigos 102, § 3º, da CRFB7, e 1.036, da Lei nº
13.105/2015 (Código de Processo Civil - CPC)8, o Recurso Extraordinário de nº
565.160/SC (Tema 20 da Repercussão Geral), fixando a tese de que “a

6 “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da
empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)”
(BRASIL, 1988)
7 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,

cabendo-lhe: (...) § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão


geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços
de seus membros.” (BRASIL, 1988)
8 “Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com

fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.” (BRASIL, 2015)

9
contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do
empregado, a qualquer título, quer anteriores, quer posteriores à Emenda
Constitucional nº 20/1998”9.

Segundo o STF, a expressão “folha de salários”, referida no apontado art.


195, I, “a”, da CRFB, abrange, em verdade, todo pagamento habitual de caráter
remuneratório, a dizer, que tenha por finalidade retribuir o trabalho prestado pelo
obreiro10. Assim, qualquer outra rubrica que não preencha tais características
não seria remuneração, fugindo, portanto, do alcance da aludida regra de
competência constitucional tributária.

O que se depreende desse julgado é que, a título ilustrativo, ao formalizar


a cobrança de contribuições previdenciárias incidentes sobre verbas que não
tenham o referido caráter remuneratória, a União Federal extrapola os limites de
sua competência tributária, violando o texto constitucional.

No âmbito infraconstitucional, foi por meio da Lei de nº 8.212/1991 (Lei


Orgânica da Seguridade Social – LOSS), que dispõe acerca do custeio da
Seguridade Social, que a União, legitimada na supracitada regra de competência
constitucional referida no art. 195, I, “a”, da Constituição, instituiu as
contribuições previdenciárias, em especial, para os fins desse artigo, as
patronais incidentes sobre a folha salarial, previstas nos incisos do art. 22 do
apontado diploma legal11.

9 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 565.160/SC – Santa Catarina.


Relator: Ministro Marco Aurélio Mello. Pesquisa de Jurisprudência. Acórdãos, 29 de março de
2017. Disponível em
<http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+
E+565160%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+565160%2EACMS%2E%2
9&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/btpxbm5> Acesso em 07 de novembro de 2019.
10 Cabe conferir, nesse sentido, trecho do voto do Ministro Luiz Fux, proferido quando do

julgamento do tema 20 da repercussão geral: “(...) Nesse ponto, deve-se reconhecer que, com
o advento da EC nº 20/98, que alterou a redação do art. 195, os trabalhadores avulsos, os
autônomos, os sócios-gerentes e os sócios-cotistas ou administradores passaram a se sujeitar
à incidência da contribuição previdenciária, com base na remuneração percebida. Contudo, a
base de cálculo da exação continuou sendo a mesma, qual seja: a folha de salários, assim
tida como a soma dos valores pagos em retribuição à atividade laboral, desde que se
revistam do requisito da habitualidade, previsto pelo §11, do art. 201. (...)” (Grifei)
11 “Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto

no art. 23, é de: I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas
a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe
prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as
gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do

10
A fim de aprofundar-se na compreensão da hipótese de incidência dessas
contribuições, referida na Lei nº 8.212/91, cabe realizar breve digressão acerca
da estrutura da norma tributária.

É que a norma jurídica tributária, assim como qualquer outra, é


estruturada por meio da descrição abstrata de um fato concreto, jurígeno, que
caracteriza o antecedente normativo, cuja prática, no mundo fenomênico, enseja
as consequências previstas no comando, ou no consequente normativo, que é
justamente a previsão de uma obrigação jurídica, que exsurgirá ante a apontada
ocorrência do fato concreto definido na lei12.

No Direito Tributário, as normas jurídicas têm por antecedente,


justamente, a hipótese de incidência, a saber, a descrição hipotética do fato
concreto, ou do fato gerador, e, por consequente, a previsão da obrigação
tributária, decorrente da prática desse fato, bem como todas as características e
critérios a ela afetos.

Vale lembrar a lição de Geraldo Ataliba, quando diz:

18.10 Há, portanto, dois momentos lógicos (e cronológicos):


primeiramente, a lei descreve um fato e di-lo capaz (potencialmente)
de gerar (dar nascimento a) uma obrigação. Depois, ocorre o fato; vale
dizer: acontece, realiza-se.

empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção
ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada pela Lei nº
9.876, de 1999). (Vide Lei nº 13.189, de 2015) Vigência
II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho
de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa
decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou
creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:
(Redação dada pela Lei nº 9.732, de 1998).
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes
do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja
considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja
considerado grave.
III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no
decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços;
(Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).” (BRASIL, 1991)
12 Nesse sentido, rememora-se a lição de Hans Kelsen na obra “Teoria Geral do Estado” (2000,

p. 62): “Em particular, as normas gerais devem ser normas nas quais certa sanção é tornada
dependente de certas condições, sendo essa dependência expressada pelo conceito de ‘dever
ser’”.
Ainda, segundo o doutrinador alemão (2000, p. 64): “A regra do direito, o termo usado num
sentido descritivo, é um julgamento hipotético vinculando certas consequências a certas
condições.”

11
Se ele revestir as características antes hipoteticamente descritas
(previstas) na lei, então determina o nascimento de uma obrigação
tributária colocando a pessoa (que a lei indicou) como sujeito passivo,
ligado ao estado até obter a sua liberação, pela prestação do objeto da
obrigação (tendo o comportamento de levar aos cofres públicos a
quantia de dinheiro fixada pela lei). (ATALIBA, 2005, p. 55)

Assim sendo, conforme também leciona o Professor Paulo Roberto


Coimbra Silva,

uma vez ocorrido o fato gerador, com sua perfeita subsunção ao


modelo abstratamente previsto na hipótese de incidência, são atraídos
os efeitos prescritos em seu correlato comando normativo e, recorde-
se, surge a obrigação tributária.(SILVA, 2018, p. 41)

No caso das contribuições previdenciárias do art. 22 da Lei nº 8.212/91, o


pressuposto fático da tributação, nos termos do referido artigo, dá-se quando
paga, creditada ou devida a remuneração, o que ocorrer primeiro. Em verdade,
sendo o pagamento remuneratório devido já quando verificada a prestação dos
serviços obreiros, decerto essa última deve ser considerada como fato jurígeno
das exações.

Assim, uma vez prestado o serviço pelo trabalhador, sendo-lhe devida a


remuneração contraprestativa, exsurge para o empregador a obrigação de
recolher as contribuições previdenciárias incidentes sobre tais valores

E, uma vez devida a contribuição em exame, tratando-se de tributo sujeito


a lançamento por homologação, cabe ao empregador apurar e pagar o valor
devido ao fisco segundo a base de cálculo, isto é, o critério quantitativo da
obrigação, definido no art. 22 da LOSS, o qual, conforme já exposto, é o total
das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos.

A LOSS convalida a referida base de incidência ao definir, em seu art. 28,


inciso I, o salário de contribuição dos empregados, dispondo incorporar aos
proventos de suas aposentadorias

a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida


a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer
título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que
seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer
pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição
do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou

12
sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de
10.12.97)

Conforme exposto, contudo, faz-se imprescindível, para a aferição da


base de incidência das contribuições previdenciárias, compreender o conceito
de remuneração, bem como os pagamentos nela compreendidos.

Nesse sentido, Sergio Pinto Martins define remuneração como

uma prestação obrigacional de dar. Não se trata de obrigação de fazer,


mas de dar, em retribuição pelos serviços prestados pelo empregado
ao empregador, revelando a existência do sinalagma que é encontrado
no contrato de trabalho.(MARTINS, 2012, p 230).

Tratando-se de pagamento destinado a retribuir o obreiro pelos serviços


por ele prestados, apenas verbas que possuam essa finalidade compõem a base
remuneratória e, consequentemente, são afetadas pela tributação
previdenciária.

Essa compreensão é convalidada, de modo pacífico, pelo próprio Superior


Tribunal de Justiça, conforme se extrai do teor dos julgamentos dos recursos
especiais de nº 1.230.957/RS (Temas Repetitivos nº 478, 479, 737, 738, 739, e
740) e nº 1.358.281/SP (Temas Repetitivos nº 687, 688, e 689), nos quais a
Corte, ao tratar, para fins de análise da cobrança dos encargos previdenciários,
da natureza jurídica de verbas trabalhistas, assentou que “não devem sofrer a
incidência de contribuição previdenciária ‘as importâncias pagas a título de
indenização, que não correspondam a serviços prestados nem a tempo à
disposição do empregador’”.

Cabe destacar, ainda, que a base de incidência das exações securitárias


em comento, conforme tratado, possui contornos mais bem delineados no art.
28, da Lei 8.212/91, cujo parágrafo nono explicita verbas que, a despeito de seu
caráter remuneratório, estão expressamente decotadas da base de cálculo ora
discorrida, ou seja, lista rol de pagamentos isentos da contribuição
previdenciária13.

Em suma, pois, de modo global, depreendem-se 04 (quatro) grandes


pressupostos para fins de verificação da incidência previdenciária sobre
determinada parcela trabalhista: (i) habitualidade, (ii) natureza remuneratória, (iii)

13 “Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: (...) § 9º Não integram o salário-de-


contribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (...)” (BRASIL, 1991)

13
evidentemente, inexistência de norma isentiva (como, por exemplo, menção no
supracitado no § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/91), e (iv) a consequente
repercussão nos proventos da aposentadoria.

E, justamente com base na referida hipótese de incidência previdenciária,


bem assim tendo em vista os apontados entendimentos jurisprudenciais, foi que
o legislador, ao promulgar a Lei nº 13.467/17, expressamente afastou da base
remuneratória, por meio da alteração no art. 457, § 2º, da CLT, os abonos e
prêmios habituais, ajustando seu tratamento jurídico, em caráter nitidamente
conceitual e interpretativo.

Isso porque, até o advento da Reforma Trabalhista, o STJ compreendia


que apenas o abono pago em parcela única, sem habitualidade e previsto em
convenção coletiva do trabalho, não integraria a remuneração:

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ADICIONAL


NOTURNO, DE INSALUBRIDADE E DE PERICULOSIDADE.
GORJETAS, PRÊMIOS, ABONOS, AJUDAS DE CUSTO, DIÁRIAS DE
VIAGEM E COMISSÕES E QUAISQUER OUTRAS PARCELAS
PAGAS HABITUALMENTE. INCIDÊNCIA.
1. A orientação do STJ é de que integram o conceito de remuneração,
sujeitando-se, portanto, à contribuição previdenciária, os adicionais de
horas-extras, noturno, de insalubridade e de periculosidade pagos pelo
empregador.
2. O STJ tem jurisprudência consolidada no sentido de que, "a gorjeta,
compulsória ou inserida na nota de serviço, tem natureza salarial. Em
conseqüência, há de ser incluída no cálculo de vantagens trabalhistas
e deve sofrer a incidência de, apenas, tributos e contribuições que
incidem sobre o salário" (REsp 399.596/DF, Segunda Turma, Rel. Min.
Castro Meira, DJ 5.5.2004).
3. No tocante aos prêmios, abonos e comissões e quaisquer
outras parcelas pagas habitualmente, na linha da jurisprudência
do STJ, configurado o caráter permanente ou a habitualidade da
verba recebida, bem como a natureza remuneratória da rubrica,
incide contribuição previdenciária sobre as referidas verbas.
4. Finalmente, a jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido de
que a ajuda de custo quando paga habitualmente e em pecúnia sofre
a incidência da contribuição previdenciária, e também sofre o o valor
de diárias para viagens que excedam a cinquenta por cento da
remuneração mensal.
5. Agravo Interno não provido.
(AgInt no AREsp 941.736/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 08/11/2016, DJe 17/11/2016)
(BRASIL, 2016). (Grifei).
Assim, para assegurar a ampla desoneração previdenciária das parcelas,
superando os entendimentos judiciais supracitados, o legislador afetou a tais
14
parcelas caráter não remuneratório, retirando-as do escopo de competência
federal para instituição e cobrança das contribuições ora discutidas.

Ratificando tal desoneração, o próprio art. 28, § 9º, da Lei nº 8.212/91,


que elenca, a título isentivo, verbas expressamente decotadas da base de
cálculo das contribuições previdenciárias, foi alterado, inserindo-se a alínea “z”,
nos seguintes termos:

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:


(...)
§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,
exclusivamente: (Redação dada pela Lei nº 9.528, de
10.12.97)
(...)
z) os prêmios e os abonos. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
(Grifei)

Assim sendo, ainda que fosse possível recepcionar uma interpretação do


referido art. 457, § 2º, da CLT, no sentido de que tal norma não alteraria a
competência federal afeta à instituição e cobrança dos referidos tributos, certo é
que havendo, ao menos, expressa menção a tais parcelas no art. 28, § 9º, da
Lei nº 8.212/91, evidenciar-se-ia a hipótese de exclusão do crédito tributário
alusivo à incidência das exações securitárias sobre apontados pagamentos, nos
termos do art. 175, I, do Código Tributário Nacional14.

A relevância na diferenciação dessas duas perspectivas quanto à


natureza do referido artigo é depreensível da diferença afeta a importante efeito
da hipótese negativa de incidência e do relacionado à regra isentiva: os períodos
de abrangência das duas normas.

Ocorre que, conforme preceitua o art. 105 do CTN (BRASIL, 1966), em


geral, a lei tributária é aplicável em relação aos fatos geradores pendentes ou
futuros em relação a ela. Assim, dispondo o legislador de norma isentiva, a partir
da data em que tal regra entrar em vigor é que se verificarão, de fato,
desonerados os contribuintes, apenas relativamente a fatos geradores ainda não
ocorridos definitivamente quando da sua promulgação.

14 Art. 175. Excluem o crédito tributário: I - a isenção; (...) (BRASIL, 1966)

15
Exceção a tal regra é extraída do inciso I do artigo 106 do CTN (BRASIL,
1966), segundo a qual a norma interpretativa retroagirá para abranger a fatos
geradores a ela pretéritos. Nessa hipótese se adequaria o art. 457, § 2 º, acaso
se entendesse tratar da conceituação ou da interpretação da natureza
jurídica das parcelas nele citadas.

Ante a veemente alteração no tratamento jurídico das parcelas, havendo


o legislador expressamente afastado dos abonos e prêmios a incidência das
exações em comento, seja sob uma ótica de não-incidência, seja sob uma
perspectiva isentiva, faz-se imprescindível conhecer os limites e as
características dessas rubricas sob a égide da Lei nº 13.467/17, que justificam a
sua não adequação à base de incidência dos tributos acima discorridos.

3 A CONCEITUAÇÃO DOS PRÊMIOS – PERSPECTIVAS DOUTRINÁRIAS E


O IMPACTO DA REFORMA TRABALHISTA

Conforme exposto, a natureza jurídica da parcela trabalhista é


característica fundamental a fim de se averiguar o seu enquadramento no
conceito de remuneração. O que autoriza a definição da natureza jurídica de um
pagamento remuneratório é o seu aspecto retributivo ao trabalho prestado pelo
obreiro.

Na hipótese dos pagamentos empregatícios a título de prêmios, o § 2º do


art. 457 da CLT, com o advento da Reforma Trabalhista, expressamente
preconiza a ausência desse caráter remuneratório, pressupondo, portanto,
inexistir qualquer aspecto retributivo ao serviço do trabalhador, ainda que tais
valores sejam destinados ao empregado de forma habitual.

Anteriormente à edição da Lei nº 13.467/17, a doutrina trabalhista possuía


entendimentos esparsos e, em variados aspectos, dissonantes, acerca do
conceito e da natureza jurídica dos prêmios trabalhistas15.

15Nesse sentido, confira-se a lição de Carlos Henrique Bezerra Leite (2017, p. 450): “O prêmio
é uma parcela remuneratória facultativa prometida e paga diretamente pelo empregador com
o objetivo de retribuir e estimular a produção individual do empregado ou produção
coletiva da seção ou setor de trabalho.”

16
A título ilustrativo, cumpre conferir o conceito de prêmio delineado por
Maurício Godinho Delgado a priori do advento da Reforma Trabalhista16,

os prêmios (ou bônus) consistem em parcelas contraprestativas


pagas pelo empregador ao empregado em decorrência de um evento
ou circunstância tida como relevante pelo empregador e vinculada à
conduta individual do obreiro ou coletiva dos trabalhadores da
empresa. (Grifei). (DELGADO, 2017, p. 870).

Nesse sentido, segundo o autor justrabalhista17,

o prêmio, na qualidade de contraprestação paga pelo empregador


ao empregado, tem nítida feição salarial. Nesta linha, sendo
habitual, integra o salário obreiro, repercutindo em FGTS, aviso-
prévio, 13º salário, férias com 1/3, etc. (Súmula 209, STF),
compondo também o correspondente salário de contribuição.
(Grifei) (DELGADO, 2017, p. 870).

Perspectiva interessante é a adotada por Homero Batista Mateus da Silva,


que, em sua obra Curso de Direito do Trabalho Aplicado, entende que,
justamente por suas próprias características, os pagamentos a título de prêmios,
que apenas são realizados, quando verificado o implemento da condição que
justifica a concessão da verba, teriam típica frequência esporádica, eventual e
aleatória, consistindo, assim, em verba originariamente não expectada pelo
empregado18.

Segundo esse último autor, pois, o caráter não-salarial da verba estaria


atrelado à falta de previsibilidade de seu pagamento, que, por sua vez, restaria
configurado ante a esporadicidade com a qual é realizado. Para o jurista, esses
seriam os prêmios por ele classificados como autênticos. Eventuais prêmios
pagos com habitualidade ou revestidos de previsibilidade seriam falsos ou não
autênticos, integrando, assim, a base salarial.

Intermediária é a acepção de Alice Monteiro de Barros, que, em seu Curso


de Direito do Trabalho, distingue os prêmios de caráter salarial, dos prêmios-
liberalidade, concedidos esporadicamente19 (BARROS, 2016, p. 510 a 511).

16 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.
870.
17 DELGADO, Maurício Godinho. Op Cit. P. 871.
18 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado [livro eletrônico]: livro

da remuneração. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. Cap. 10.
19 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10. Ed. São Paulo: LTr, 2016, p.

510 a 511.

17
De toda forma, uma visão sintética das perspectivas doutrinárias
justrabalhistas a respeito do tratamento jurídico dos prêmios, anteriores à
Reforma Trabalhista, é recuperada nas longevas lições de Luiz de Pinho
Pedreira da Silva, que, em artigo de 198020, sinalizava que a doutrina e a
jurisprudência predominantes posicionavam-se intermediariamente,
compreendendo que

originariamente, o prêmio é uma liberalidade, não tendo caráter


retributivo e sim de doação remuneratória quando o empregador se
reserva a mais ampla discricionariedade na apreciação do
merecimento do empregado. (SILVA, 1980, p. 63)

Em suma, o jurista conclui que, embora decorrentes de liberalidade, os


prêmios converter-se-iam em salário, acaso fossem previstos em ajuste
expresso ou tácito, esse último definido pela habitualidade de seu pagamento.

Não parece divergente a jurisprudência pátria. Ainda em 1963, o Supremo


Tribunal Federal editou a Súmula de nº 209, assentando que o prêmio integraria
o salário obreiro quando pago com habitualidade.

Nesse mesmo sentido era o entendimento do Tribunal Superior do


Trabalho, que, adotando o referido enunciado do STF, reputava parcela
integrante do salário o pagamento premial realizado de forma habitual.

Em síntese, pois, o que se depreende é uma perspectiva geral de que, o


prêmio destituído de caráter remuneratório seria aquele derivado de liberalidade
do empregador que não fosse previsto em ajuste expresso ou pago
habitualmente.

Com o advento da Lei de nº 13.467/17, e a consequente alteração na


redação do § 2º do art. 457 da CLT, aludida perspectiva é frontalmente afetada,
já que, atualmente, mesmo que habituais, os prêmios jamais integram a
remuneração.

Concomitantemente, diante de variadas perspectivas quanto à aludida


rubrica, a fim de elucidar os pagamentos enquadrados como prêmios, bem assim
a fim de tipificar e dar rigidez à concepção das verbas, adequadas ao tratamento
jurídico do art. 457, § 2º, a Lei nº 13.467/17 introduziu ao capítulo da

20SILVA, Luiz Pinho Pedreira da. O Prêmio no Direito do Trabalho. In. Revista de Direito do
Trabalho. Vol. 23. São Paulo: Revista dos Tribunais. P. 57-63.

18
remuneração da CLT também o § 4º, que dispõe de um conceito específico a
respeito da parcela. Confira-se:

Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para


todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo
empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que
receber.
(...)
§ 4o Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo
empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a
empregado ou a grupo de empregados, em razão de desempenho
superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades.

Ora, da leitura conjunta dos parágrafos 2º e 4º do art. 457 da CLT, o que


se verifica é efetiva superação dos entendimentos, anteriores à reforma,
jurisprudenciais e doutrinários, de que a habitualidade acarretaria a reflexão
salarial dos prêmios.

Ademais, como se percebe, o referido dispositivo também delineou a


justificação do pagamento da verba, qual seja, o desempenho laboral superior
ao ordinariamente esperado, destinado, especificamente, a um empregado ou a
grupo de empregados.

De fato, em que pese não tenha trazido concepção completamente nova


quanto às verbas ora tratadas, o legislador houve por bem expor uma definição
mais precisa dos prêmios, dando limites estreitos aos pagamentos passíveis de
enquadramento no conceito legal em questão e, consequentemente,
desonerados dos reflexos tributários e trabalhistas, nos termos apontados no §
2º do art. 457 da CLT.

E, justamente ante o significativo impacto tributário decorrente dessa nova


conceituação legal, a fim de melhor regulamentar e delinear, ainda mais
estritamente, os pagamentos premiais, não sujeitos à repercussão
previdenciária, a Secretaria da Receita Federal do Brasil editou a Solução de
Consulta COSIT de nº 151/2019, que restou assim ementada (BRASIL, 2019):

Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias


CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PREVIDENCIÁRIA. NÃO INCIDÊNCIA.
PRÊMIO POR DESEMPENHO SUPERIOR. REFORMA
TRABALHISTA.
A partir de 11 de novembro de 2017, não integra a base de cálculo,
para fins de incidência das contribuições previdenciárias, o prêmio
decorrente de liberalidade concedida pelo empregador em forma de
bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de

19
empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente
esperado no exercício de suas atividades.
No período compreendido entre 14 de novembro de 2017 e 22 de abril
de 2018, o prêmio por desempenho superior, para ser excluído da base
de cálculo das contribuições previdenciárias, não pode exceder ao
limite máximo de dois pagamentos ao ano.
Os prêmios excluídos da incidência das contribuições
previdenciárias: (1) são aqueles pagos, exclusivamente, a
segurados empregados, de forma individual ou coletiva, não
alcançando os valores pagos aos segurados contribuintes
individuais; (2) não se restringem a valores em dinheiro, podendo
ser pagos em forma de bens ou de serviços; (3) não poderão
decorrer de obrigação legal ou de ajuste expresso, hipótese em
que restaria descaracterizada a liberalidade do empregador; e (4)
devem decorrer de desempenho superior ao ordinariamente
esperado, de forma que o empregador deverá comprovar,
objetivamente, qual o desempenho esperado e também o quanto
esse desempenho foi superado.
Dispositivos Legais: Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, art. 62, § 11; Lei nº 13.467, de 2017, arts. 1º e 4º; Medida
Provisória nº 808, de 2017, art. 1º; Lei nº 8.212, de 1991, arts. 22 e 28;
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943, art. 457, §§ 2º e 4º; e Instrução
Normativa RFB nº 971, de 2009, arts. 52 e 58. (Grifei)

Importa observar que a Receita Federal definiu, para fins de adequação


ao conceito premial disposto no § 4º do art. 457 da CLT, 04 (quatro) pertinentes
características específicas das quais devem se revestir os pagamentos
trabalhistas, a saber:

(i) devem ser destinados, estritamente, a segurados


empregados, isto é, a alteração trazida pela Reforma
Trabalhista não abrangeria rubricas alheias à relação de
trabalho, não desonerando os contribuintes individuais
sujeitos à exação prevista no art. 21 da Lei nº 8.212/91;
(ii) eles incluem, inclusive, rubricas in natura, não se
limitando à pecúnia em si;
(iii) não podem derivar de previsão em negócio jurídico
anterior e;
(iv) devem decorrer de resultado laboral acima do
comumente expectado, que, inclusive, deve ser
devidamente comprovado pelo empregador.

Interessante notar que os pagamentos premiais, portanto, segundo a


orientação fiscal alhures citada, possuiriam duas restrições específicas: a
inexistência de previsão expressa anterior em ajuste ou termo, ou, em outras
palavras, a efetiva liberalidade por parte do empregador, e, como também

20
especificado no § 4º do art. 457 da CLT, a retribuição a desempenho superior ao
ordinariamente esperado pelo empregador.

Observa-se, contudo, que, para dar contornos mais rígidos aos


pagamentos premiais trabalhistas, bem como reduzir margens a divergências
conceituais quanto à sua caracterização, o Poder Executivo Federal editou, em
11 de novembro de 2019, a Medida Provisória de nº 905, mediante a qual inseriu,
na Lei nº 10.101/00, o art. 5º-A, que elenca requisitos para a validade dos
prêmios. Confira-se:

“Art. 5º-A. São válidos os prêmios de que tratam os § 2º e § 4º do art.


457 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei
nº 5.452, de 1943, e a alínea “z” do § 9º do art. 28 desta Lei,
independentemente da forma de seu de pagamento e do meio utilizado
para a sua fixação, inclusive por ato unilateral do empregador, ajuste
deste com o empregado ou grupo de empregados, bem como por
norma coletiva, inclusive quando pagos por fundações e associações,
desde que sejam observados os seguintes requisitos:

I - sejam pagos, exclusivamente, a empregados, de forma individual ou


coletiva;

II - decorram de desempenho superior ao ordinariamente esperado,


avaliado discricionariamente pelo empregador, desde que o
desempenho ordinário tenha sido previamente definido;

III - o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores


seja limitado a quatro vezes no mesmo ano civil e, no máximo, de um
no mesmo trimestre civil;

IV - as regras para a percepção do prêmio devem ser estabelecidas


previamente ao pagamento; e

V - as regras que disciplinam o pagamento do prêmio devem


permanecer arquivadas por qualquer meio, pelo prazo de seis anos,
contado da data de pagamento.”

Com o advento da MPV nº 905/2019, variadas alterações foram


introduzidas no tratamento jurídico da parcela, especialmente em relação
ao entendimento fiscal até então vigente.

Primeiramente, a MPV afasta a necessidade de os prêmios não


decorrerem de ajuste ou termo junto ao empregado ou a grupo de
empregados, podendo, inclusive, estar regulados em convenção ou

21
acordo coletivo, a ampliar, em princípio, a abrangência do art. 457, § 4º,
da CLT.

O referido artigo traz também obrigações e restrições impostas ao


empregador, a fim de que seja viabilizado o enquadramento do pagamento
por ele efetuado no conceito de prêmio previsto no § 4º do art. 457, quais
sejam:

I- necessidade de definição prévia do que se considera


desempenho ordinário;

II- limitação do pagamento premial em até quatro vezes ao


anos, sendo concedidos uma única vez a cada trimestre;

III- estipulação prévia do regramento para concessão dos


prêmios; e

IV- dever do empregador de arquivar as regras afetas ao


pagamento dos prêmios por 06 (seis) anos, contados do
momento em que eles forem concedidos.

À luz da supracitada Solução de Consulta, bem assim dos novos


requisitos conceituais definidos na MPV nº 905/19, para melhor compreender a
natureza dos pagamentos premiais, é indesviável a necessidade de se
perpassar das suas duas características precípuas, previstas no § 4º do art. 457
da CLT.

3.1 A noção de “liberalidade do empregador”

Conforme tratado, o primeiro dos pressupostos do prêmio a que se refere


o art. 457, § 4º, da CLT, é de que seu pagamento deve decorrer de liberalidade.
Proposta a discussão acerca dos critérios para caracterização dos prêmios
perante a Receita Federal do Brasil, o órgão fazendário, editando a Solução de
Consulta COSIT n° 151/2019, consolidou o entendimento de que será
considerado uma liberalidade o prêmio que não decorrer de obrigação legal ou
de ajuste expresso.

22
Com efeito, conforme já exposto, até o advento da Lei de nº 13.467/17, a
doutrina trabalhista tendia a compreender que os prêmios excluídos da base
salarial e sem repercussão previdenciária seriam, apenas, aqueles decorrentes
de ato de liberalidade por parte do empregador.

É o que aponta Alice Monteiro de Barros, quando afirma que,


diferentemente de outras “espécies” de prêmios trabalhistas, o “prêmio
liberalidade” não integraria a remuneração (BARROS, 2016, p. 511).

Não é outra a compreensão de Carlos Henrique Bezerra Leite, que, em


seu Curso de Direito do Trabalho de 201721, explana que

o prêmio, portanto, desde que atendidas as características que


configuram sua verdadeira natureza jurídica, constitui mera
liberalidade patronal, razão pela qual não deve ser conceituado como
salário, já que pode ser suprimido ad futurum.(LEITE, 2017, p. 450)

Mesmo antes do advento do novo § 4º do art. 457 da CLT, far-se-ia fulcral


entender o conceito de “liberalidade”, em especial para fins de definição da
natureza jurídica do prêmio e dos seus respectivos consectários.

Ao se consultarem as definições enciclopédicas básicas acerca do termo,


o dicionário Michaelis dispõe que se considera liberalidade “qualquer ato
espontâneo que beneficie economicamente outrem” 22.

Em princípio, pois, o conceito de liberalidade remete à ideia de


espontaneidade, ou, em outros termos, um ato desvinculado de qualquer dever
ou obrigação prévio, motivado pela vontade unilateral do agente.

Não obstante, no âmbito do Direito do Trabalho, a legislação trabalhista


jamais forneceu contornos certos para uma escorreita definição de liberalidade.

Ao tratar dos contornos afetos aos pagamentos oriundos de liberalidade


do empregador, comumente, no meio jurídico laboral, se vinculava tal conceito à
ideia de eventualidade. Em verdade, justamente porque se entendia que os
prêmios, oriundos de liberalidades detinham, por sua própria natureza, caráter

21LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 8. Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2017. P. 450.
22MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 10 abr. 2009.

23
não habitual, apurava-se que o prêmio em questão jamais repercutiria nos
salários ou na base remuneratória.

Nesse sentido, vale lembrar a lição de Homero Batista Mateus da Silva,


que, em seu Curso de Direito do Trabalho de 2017, que afirma que

quanto mais ocasional for o pagamento da parcela, tanto menores as


chances de se tratar de natureza salarial; quanto mais habitual for sua
ocorrência, tanto mais se aproximará de salário. Vista a questão por
outro ângulo, é salarial a parcela razoavelmente esperada, com a qual
o trabalhador já podia contar antecipadamente, não sendo salarial a
parcela inesperada, auferida de surpresa, que o empregado não podia
exigir e com a qual não podia contar.(SILVA, 2017).

Ainda, segundo ele (2017), “a concepção original de prêmio carrega o


sentido da eventualidade, não sendo função do prêmio substituir o salário do
empregado”.(SILVA, 2017).

Luiz de Pinho Pedreira da Silva, ao sintetizar o entendimento trabalhista


acerca das noções dos prêmios derivados de liberalidade e excluídos da base
remuneratória, conclui que tal verba

se converte em salário, sendo o seu pagamento obrigatório, quando,


além de satisfeita a condição a que fica subordinada a sua concessão,
constitui ele objeto de ajuste expresso ou tácito, revelado esse
último pela habitualidade do pagamento da vantagem.(SILVA,
1980, p. 61)

Sob a ótica do referido jurista, pois, o prêmio integraria a base salarial


quando previamente ajustado. Segundo ele, inclusive, o pagamento habitual da
parcela configuraria, de fato, efetivo ajuste tácito entre empregado e empregador
e, justamente por isso, daria ao pagamento a apontada natureza salarial. Isso
porque, conforme explana Homero Batista Mateus da Silva (2017), “é salarial a
parcela razoavelmente esperada, com a qual o trabalhador já podia contar
antecipadamente.”(SILVA, 2017).

De acordo com tais autores, o pagamento habitual das aludidas


recompensas acabaria por gerar uma expectativa de recebimento por parte do
empregado, de similar modo a um ajuste ou acordo expresso, o que impediria a
supressão da verba. Assim, gerando expectativa habitual pelo empregado do
recebimento da parcela em função de algum atributo pessoal, ensejaria efetivo
direito subjetivo ao empregado.

24
Foi tal entendimento que motivou a edição da Súmula nº 209 do STF,
segundo a qual

o salário-produção como outras modalidades de salário-prêmio, é


devido, desde que verificada a condição a que estiver subordinado, e
não pode ser suprimido, unilateralmente, pelo empregador, quando
pago com habitualidade. (BRASIL, 1963).

Sendo, portanto, razoavelmente esperado o pagamento premial pelo


empregado, em efetivo ajustamento laboral tácito, a ensejar uma obrigação
jurídica por parte do empregador, entendia-se que o prêmio não remuneratório
seria, apenas, aquele pago eventualmente, que seria, conforme explanado,
apenas aquele decorrente de liberalidade.

Pela mesma lógica, um pagamento habitual, que produz um direito


subjetivo ao empregado, descaracterizaria a liberalidade do empregador, já que
a ele geraria uma obrigação jurídica.

Com o advento da Lei nº 13.467/17, todavia, essa percepção foi superada


substancialmente, já que, mesmo habituais, isso é, mesmo que se considerem
tacitamente ajustados, os prêmios não mais compõem a remuneração do
trabalhador, nos termos do § 2º do art. 457 da CLT, desde que oriundos de
liberalidade do empregador, na forma do § 4º do mesmo dispositivo.

Assim, o artigo revogou a compreensão doutrinária trabalhista anterior,


impondo uma compatibilização do conceito de pagamento por liberalidade e
habitualidade, para fins de conceituação dos prêmios excluídos da base
remuneratória, sem repercussão previdenciária, afastando-se da noção de
liberalidade a característica da eventualidade.

Interessante, para tanto, retomar-se a lição de Russomano, que, ao tecer


considerações a respeito dos abonos derivados de liberalidade, afirmou que,
detendo tal característica, o referido pagamento deveria ser “espontâneo,
voluntário, unilateral, que alguém (empregador) faz a outrem (empregado).”
(RUSSOMANO, 1997, p. 525-526)

Essa definição proveria, especialmente sob a égide da Reforma


Trabalhista, relevantíssima explanação acerca do que se deve entender por um

25
pagamento decorrente de “liberalidade”. Esse nada mais é que uma destinação
de valores caracterizada por (i) espontaneidade e (ii) voluntariedade.

Nessa mesma linha, é o entendimento de Luciano Martinez (2019)23, que


entende, por “liberalidade”, “a qualidade ou condição de quem, em seus atos ou
em suas intenções, dá o que não teria obrigação de dar e o faz sem a
expectativa de receber algo em troca.” (Grifei). (MARTINEZ, 2019, p. 159).

De fato, a noção de liberalidade remete, justamente, à espontaneidade, à


voluntariedade, e, no âmbito do pagamento laboral, à desvinculação de qualquer
obrigação prévia.

Fundada nessas premissas foi que, ao editar a Solução de Consulta de


nº 151/09, a Receita Federal do Brasil assentou a compreensão de que “o prêmio
por desempenho superior excluído da incidência das contribuições
previdenciárias não poderá decorrer de obrigação legal ou de ajuste
expresso.” (Grifei)

Segundo o Fisco Federal, isso significaria

dizer que há incidência de contribuições previdenciárias sobre o prêmio


pago em decorrência de lei, contrato de trabalho, convenção coletiva,
regulamento da empresa etc., tendo em vista que, nesses casos, não
se caracteriza a liberalidade do empregador.(BRASIL, 2019).

Sob a ótica fiscal, em que pese não mais importando se o pagamento


premial, qual seja, o decorrente de liberalidade, relaciona-se a ajuste tácito entre
empregado e empregador, consubstanciado na frequência habitual de sua
implementação, para fins de caracterização do requisito “liberalidade”, far-se-ia
necessário que o referido benefício não estivesse estipulado em qualquer
previsão formal anterior (a dizer, ajuste, termo, regulamento, contrato ou
disposição coletiva), não sendo apto a gerar um direito subjetivo ao trabalhador
e um dever/ônus por parte do empregador.

Assim, permaneceram remuneratórios apenas os prêmios expressamente


previstos em negócio jurídico expressamente firmado, tais como um ajuste ou

23MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas


do trabalho. 10 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 159.

26
termo, consoante entendia o Fisco Federal por meio da Solução de Consulta
COSIT nº 151/19, segundo a qual, para se admitir uma liberalidade habitual, que
não produziria qualquer expectativa jurídica para o empregado, essa não poderia
decorrer de qualquer obrigação legal ou ajuste expresso.

Dessa forma, acaso estipulado em cláusula contratual laboral, ou previsto


em qualquer outro ato jurídico apto a gerar os efeitos jurídicos pertinentes
(inclusive direito subjetivo ao empregado), o prêmio seria, necessariamente,
salarial, por não preencher o requisito da liberalidade, previsto no art. 457, § 4º,
da CLT.

Em síntese, pois, o prêmio, desvinculado da remuneração laboral, seria


aquele que não gera direito subjetivo ao empregado, sendo pago como mera
benesse pelo empregador. Insta lembrar que essa benesse, que não decorre de
efetiva obrigação jurídica do empregador, pode ser paga de forma habitual ou
não, como cediço, apenas não podendo ser razoavelmente esperado pelo
empregado, conforme explana Homero Silva (SILVA, 2017).

Vólia Bonfim Cassar24 coaduna com o entendimento fiscal, aduzindo que,


para caracterizarem-se como liberalidades, os prêmios não podem ser previstos
em contrato ou mesmo em norma empresarial interna, o que convalidá-los-ia em
efetivas obrigações do empregador, e não em liberalidades propriamente
ditas.(CASSAR, 2017, p. 50).

Essa concepção é defendida também por Rodrigo Dias da Fonseca


(2018)25, que salienta que “obviamente não será classificado como prêmio o
valor ajustado entre os sujeitos da relação de emprego como contraprestação
pelo serviço desempenhado.”(FONSECA, 2018, p. 102)

Segundo a doutrina acima excertada, bem como o entendimento fiscal


consolidado na SC COSIT 151/2019, a liberalidade pressuporia um aspecto

24CASSAR, Vólia Bonfim. Comentários à reforma trabalhista. Rio de Janeiro, Forense; São
Paulo: Método, 2017. P. 49 a 52.
25 FONSECA, Rodrigo Dias da. SALES, Cleber Martins. BRITO, Marcelo Palma de. NETO. Platon

Teixeira de Azevedo. Reforma Trabalhista comentada MP 808/2017: análise de todos os artigos;


coordenador Rodrigo Dias da Fonseca. 1. Ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2018. P. 101 a
103.

27
precípuo: (i) a inexistência de estipulação formal prévia, seguida de um
consequente necessário: (ii) a não geração de direito subjetivo por parte do
empregado e nem de uma obrigação jurídica por parte do empregador.

Aludidas concepções, no entanto, devem ser tratadas com ressalvas.

Ora, é indesviável que a Reforma Trabalhista foi promulgada com o intuito


de flexibilizar e impulsionar o ambiente negocial no país. Nesse sentido, a nova
redação conferida ao art. 457 da CLT, que ampliou o rol de verbas consideradas
de caráter não remuneratório e, desse modo, objetivou desonerar a folha de
pagamentos dos empregadores e baratear a mão-de-obra nacional.

Nesse contexto é que o legislador expressamente previu a natureza não


remuneratória dos prêmios, a fim de estimular o empregado a conceder tal
parcela sem uma maior majoração de suas obrigações fiscais e trabalhistas,
conferindo maior liberdade ao empregador, na forma como dispõe de seus
pagamentos e administra seus gastos com seus empregados e, inclusive,
ampliando as possibilidades do empregado receber importâncias que
consubstanciem maior reconhecimento a um serviço extraordinário.

Insta trazer à baila trecho do Relatório da Comissão Parecerista do


Projeto de Lei nº 6.787/2016, que originou a Lei nº 13.467/17:

A nossa intenção com a mudança proposta ao art. 457 é a de permitir


que o empregador possa premiar o seu funcionário sem que isso
seja considerado salário. É o caso, por exemplo, de reclamações
comumente ajuizadas em que se requer a incorporação ao salário de
um prêmio por vendas – uma viagem ou determinado objeto.

O efeito concreto disso é a retração do empregador, que evita


conceder esses prêmios sob o risco de vê-los incorporados ao
salário, caracterizando um claro prejuízo aos empregados.

A perspectiva do legislador, portanto, é clara no sentido de desonerar o


pagamento dos prêmios, estimulando e facilitando sua concessão em meio à
relação de trabalho, havendo-se tomado por premissa, justamente, que a
incorporação da verba ao salário, com todos os seus efeitos e consectários,
impedia ou reduzia o implemento do benefício, correspondendo a efetivo ônus
ao empregador, cujos custos para implemento de diversos benefícios torna-se

28
muito maior, bem como a prejuízo ao empregado, que acaba por não receber
tais benesses em função de seus onerosos reflexos trabalhistas e fiscais.

Ora, uma interpretação teleológica26 da nova norma laboral, diante dos


excertos do relatório parecerista acima destacado, imporia considerar que o
pagamento premial deveria revestir-se de restrições mínimas, adstritas ao que
texto legal preconiza.

E, conforme se depreende dos excertos extraídos do relatório parecerista


do PL nº 6.787/16, tendo o próprio legislador externado sua pretensão de
assegurar a não oneração previdenciária de prêmios, estimulado seu pagamento
pelos empregadores, não parece correto o entendimento fiscal que restringe o
alcance da norma, reduzindo, em muito, sua abrangência, em sentido
diametralmente oposto à finalidade legislativa de superar a compreensão
jurisprudencial e doutrinária anterior o sentido de incluir tais parcelas na base
remuneratória.

Além do que, havendo o legislador dado contornos às verbas de modo a


consolidar sua natureza jurídica não remuneratória, especialmente par fins
tributários, a leitura normativa não deve fugir aos limites da lei, sendo certo que,
ao afastar tais verbas da base remuneratória, o que o legislador fez foi,
efetivamente, também as afastar do alcance da regra matriz de incidência das
contribuições previdenciárias, prevista no art. 195, I, “a”, da CRFB.

Assim, tendo por efeito restringir, no âmbito da tributação das parcelas, a


própria competência federal de instituição e cobrança das contribuições sociais
incidentes sobre esses pagamentos, especificamente, é da própria natureza da
hermenêutica jurídico-tributária conferir a tal disposição uma interpretação
restritiva, conforme pertinentemente ressalva José Adércio Leite Sampaio, ao

26 Cabe lembrar a lição sintética de Sérgio Pinto Martins, que, ao dispor acerca dos métodos de
interpretação da legislação trabalhista, conceitua a teleológica ou finalística que “será dada ao
dispositivo legal de acordo com o fim colimado pelo legislador;” (MARTINS, Sérgio Pinto. Op cit.
P. 49).

29
tratar da interpretação constitucional em sua obra “Teoria da Constituição e dos
Direitos Fundamentais”27:

(...) Não se pode aplicar a interpretação extensiva, recomendando-se


a restritiva, para: a) normas sancionadoras, submetidas à reserva de
lei (por exemplo, o art. 5º, XXXIX, CRFB); b) normas de natureza
fiscal, inclusive se concede imunidade, suspensão ou exclusão
do crédito tributário; e c) normas de caráter excepcional, por sua
própria natureza de exceção. Em síntese, as normas que estabelecem
deveres, ônus ou exceções deve, ser interpretadas de maneira
restritiva, enquanto as normas que criam direitos ou faculdades
recebem a interpretação ampliadora, segundo o brocardo: odiosa
restringenda e favorabilia amplianda. (SAMPAIO, 2013, p. 420)

Havendo a Lei nº 13.467/17 desonerado os prêmios de consectários


tributários, é evidente que ela deve ser interpretada de forma restritiva, razão
pela qual, em princípio, não caberia dar tratamento jurídico a determinados
prêmios, que não expressamente previsto em lei, a fim de ampliar a repercussão
fiscal-tributária desses pagamentos, como entende a Receita Federal ao reputar
a legitimidade da incidência das contribuições previdenciárias sobre as verbas
premiais previstas em ajuste ou termo pretérito.

Em verdade, a intepretação do conceito de liberalidade deve ser, ante a


natureza da norma tributária, consentânea à restrita redação legal e à pretensão
manifesta do legislador.

Assim, é inarredável que o referido entendimento doutrinário, bem como


aquele sedimentado na SC COSIT RFB nº 151/19, ao reduzirem os pagamentos
premiais enquadrados na lei, com restrições nela não explicitamente elencadas,
a dizer, aduzindo que o prêmio previamente ajustado remanesceria
remuneratório, (i) vão de encontro à finalidade do legislador; e (ii) dão à norma
tributária interpretação de caráter ampliativo, majorando a oneração
previdenciária, o que, pela própria natureza da legislação tributária, como
retroexposto, não poderia prevalecer.

Nessa mesma linha crítica é a compreensão de Alessandro Mendes


Cardoso e Simone Bento Martins Cirilo28, que ao discorrerem a respeito das

27 SAMPAIO, José Adércio Leite. Teoria da Constituição e dos direitos fundamentais. Belo
Horizonte: Del Rey, 2013, p. 420.
28 CARDOSO, Alessandro Mendes. CIRILO, Simone Bento Martins. Reforma trabalhista e a

exclusão do prêmio do salário de contribuição. Migalhas, 2019. Disponível em: <

30
alterações advindas da Reforma Trabalhista em relação aos prêmios, assim
preconizam:

A exposição de motivos do PL 6.787/16, que originou a lei 13.467/17,


é expressa ao consignar que questão do entendimento
jurisprudencial acerca do pagamento por liberalidade foi considerada
e a alteração da legislação foi trazida justamente com a finalidade de
ultrapassá-la, para que o empregador possa premiar o funcionário
sem que tal parcela seja considerada salário.
Com a sua novel conceituação jurídica, o prêmio consiste na
remuneração, habitual ou não, previamente pactuada ou não,
que é paga de forma discricionária pelo empregador, por não
corresponder ao salário fixado no contrato de trabalho do
empregado, para remunerar o desempenho extraordinário, que
extrapola àquele previsível e inerente à função do empregado.

Não é possível restringir o conceito legal de prêmio, sob o argumento


de que somente o pagamento não pactuado ou previsível cumpriria
o requisito da "liberalidade". Ora, o pagamento habitual torna a
possibilidade de recebimento previsível, tendo o legislador
expressamente consignado que essa característica não des natura o
prêmio. (CARDOSO; CIRILO, 2019)

Assim, consoante a própria crítica de Cardoso e Cirilo, bem assim tendo


em vista própria finalidade legislativa e a interpretação restritiva da própria norma
de incidência tributária, conforme alhures tratado.

Sem embargo, não sendo possível se olvidar da habitualidade em que tais


verbas possuem previsão ou regramento em política ou regulamento
empresarial, impedir a concessão de prêmios não remuneratórios estipulados
em qualquer ato jurídico prévio acabaria por restringir demasiadamente as
recompensas laborais abrangidas pela nova dicção do art. 457, § 2º, da CLT,
mais uma vez sendo contrário à vontade precípua do legislador com a edição da
Lei nº 13.467/17.

Inclusive, a nosso ver, por liberalidade, a leitura mais prudente da nova


regra trabalhista, em especial do conceito de liberalidade, que deve levar em
consideração a intenção do legislador de superar o entendimento majoritário
anterior à reforma, a fim de convalidar a natureza jurídica não remuneratória do

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI275447,71043-
Reforma+trabalhista+e+a+exclusao+do+premio+do+salario+de+contribuicao>

31
pagamento premial e, principalmente, estimular a implementação dessas
rubricas.

Assim, entendendo-se que o empregador deva implementar os prêmios


desvinculado de qualquer obrigação pretérita, decerto que tal obrigação não
poderá decorrer de sua vontade ou de espontaneidade, conforme conceituou
Russomano (1997, p. 525-526), razão pela qual entendemos que o prêmio,
destinado a recompensar um desempenho extraordinário, salvo quando derivar
de determinação legal-normativa expressa, jamais integrará a remuneração do
empregado e, portanto, não comporá a base de cálculo das exações incidentes
sobre a folha salarial.

Até porque, se a lei expressamente dispôs que o pagamento habitual da


verba, o que, em tese, consubstanciaria efetivo ajustamento tácito da rubrica,
não compõe a remuneração, analogamente, o ajuste expresso, que, via de regra
ressalte-se, possui mesmos efeitos, devendo ter idêntico tratamento a verba
oriunda de ajuste tácito e a prevista em termo expresso.

E parece que foi sob tal ótica crítica que, em 13 de novembro de 2019, o
Poder Executivo Federal editou a Medida Provisória nº 905, que novamente veio
a modificar profundamente as noções conceituais da parcela, ao, alterando a Lei
nº 10.101/00, nesta lei introduzir o art. 5º-A, dispondo enquadrarem-se no
conceito de prêmios do referido dispositivo os pagamentos fixados por meio de
“ato unilateral do empregador, ajuste deste com o empregado ou grupo de
empregados, bem como por norma coletiva” (Grifei).

Desse modo, mais uma vez, tornou o legislador a ampliar, ainda mais, a
abrangência dos prêmios descritos no § 4º do art. 457 da CLT, envolvendo,
inclusive, as rubricas previstas em atos particulares, os quais, a princípio,
ensejariam o direito subjetivo do empregado ao seu recebimento.

Outrossim, no inciso IV do referido art. 5º-A, ainda se estipula a


necessidade de que as regras do prêmio sejam devidamente registradas
antecipadamente ao seu pagamento, o que, inclusive, impõe que tal parcela
tenha estipulação prévia, o que não revogou o atributo “liberalidade” de que se
reveste o pagamento.

32
Assim, é evidente que não mais pode se entender por decorrente de
liberalidade apenas os pagamentos premiais não previstos em ajustes ou termos
anteriores, havendo a própria União Federal recepcionado as críticas feitas em
relação ao entendimento esposado na SC COSIT RFB nº 151/19, a fim de
expressamente incluir, dentre os prêmios tratados no art. 457, § 4º, da CLT,
aqueles previamente ajustados.

Dessa forma, ainda tenha a Lei nº 13.467/17 reportado-se a prêmios


derivados de liberalidade para fins de desoneração previdenciária, a
interpretação mais escorreita do novel § 4º do art. 457 da CLT impõe que o
alcance desse conceito afete, inclusive, aos prêmios previstos em ato jurídico
anterior, abrangência essa consolidada com a edição da MPV nº 905/19.

3.2 A noção de desempenho superior ao ordinariamente esperado

A segunda das características afetas aos prêmios descritos no § 4º do art.


457 da CLT é que o seu pagamento deve destinar-se a recompensar um
desempenho superior ao ordinariamente esperado.

Com referida dicção legal, o legislador explicitou uma motivação


específica para o pagamento premial, que é legitimado por uma performance
notável por parte do empregado.

Em princípio, inclusive, seria possível questionar o que seria um


desempenho ordinariamente esperado, para fins verificação de uma
performance laboral que, efetivamente, supere tais resultados “ordinários”.

De início, vê-se que o legislador não especificou se o desempenho


ordinário que deve ser superado é aquele comumente esperado e avaliado
segundo os padrões gerais do mercado ou segundo a performance média interna
da empresa à qual o trabalhador está vinculado.

Para solucionar tal ponderação, basta retomar-se aos conceitos de


remuneração e às noções básicas da verba em exame.

É que, conforme explanado alhures, a remuneração tem por intuito


retribuir os serviços prestados pelo trabalhador. Assim, o trabalho ordinário do

33
empregado, o serviço por ele comum ou necessariamente prestado, é
recompensado por meio do salário.

Era nesse sentido que o Ministro Maurício Godinho Delgado descrevia o


chamado “falso prêmio”, que seria

“vinculado a uma condição necessariamente realizável, utilizando


a figura como mero instrumento de pressão constante sobre os
obreiros. Isso porque se a incidência da condição não for incerta,
mas praticamente certa, fica demonstrado que a estrutura e
dinâmica da figura estão distorcidas, comprometendo os objetivos
justrabalhistas a que ela licitamente serve.”(DELGADO, 2017, p.
657)

Segundo o doutrinador, anteriormente ao advento da Reforma


Trabalhista, pagos prêmios em decorrência de condições necessariamente
realizáveis, desvirtuada estaria a verba. Semelhantemente, sob a égide da
Reforma, se o prêmio for estruturado para retribuir um desempenho que não foge
ao habitualmente verificado no contexto da atividade laboral, ele não se
adequaria ao conceito legal previsto no art. 457, § 4º, da CLT.

Decerto, a lei reportou-se, ao tratar de desempenho extraordinário, às


performances avaliadas na mesma empresa e entre trabalhadores com tarefas
e funções similares.

Ora, se, para fins de implementação de prêmios, a empresa


recompensasse desempenhos superiores ao desempenho médio avaliado no
mercado em geral, e, paralelamente, essa mesma empresa obtivesse resultados
e performances comumente superiores em comparação a outras entidades de
mesmo setor econômico, é evidente que tal premiação acabaria por se confundir
com a retribuição do próprio serviço ordinário do empregado dessa empresa,
com nítida feição salarial, não recompensando uma performance de destaque
dentre os trabalhadores.

Nesse sentido elucida Rodrigo Dias da Fonseca, em sua obra


Comentários à Reforma Trabalhista:

Afinal, se todos os
empregados apresentaram os mesmos resultados, ainda que
extremamente satisfatórios, então esse é o padrão ordinário de
desempenho, e os prêmios, na

34
forma da lei, somente são devidos aos empregados “em razão de
desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de
suas atividades.”

Desse modo, o prêmio não pode ser genérico, destinado a todo um


contingente indefinido de trabalhadores, antes deve ser conferido ao(s)
empregado(s) ou equipe(s) que, na comparação com os (as) demais,
tenham apresentado desempenho superior. O prêmio é uma
recompensa pelo destaque,
é um reconhecimento do mérito pelos resultados alcançados na
comparação com a média entre os que detêm atribuições
similares. Nessa perspectiva, pensamos que no caso presente o
vocábulo prêmio deve ser tomado em uma de
suas precisas significações, catalogada nos melhores dicionários:
“recompensa conferida a quem se distingue em competição, jogo ou
concurso.” (FONSECA, 2018, p. 100)

Assim, conforme leciona Fonseca, certo é que o prêmio objetiva


recompensar um desempenho destacado de empregado ou grupo de
empregados em comparação com outros com atribuições similares.

Outro ponto que demanda efetivo esclarecimento acerca do apontado


atributo premial refere-se à necessidade de comprovação de que o desempenho
premiado, de fato, supera o ordinariamente aferido pelo empregador, bem assim
a mensuração da performance que justificou a recompensa, consoante
preconiza a Receita Federal do Brasil em sua Solução de Consulta nº 151/19:

30. Por fim, em relação à quarta condição, qual seja o desempenho


superior ao ordinariamente esperado, o empregador deverá
comprovar, objetivamente, qual o desempenho esperado e
também o quanto esse desempenho foi superado . (BRASIL,
2019)(Grifei)

Portanto, a fim de decotar os prêmios da base remuneratória, ainda que


decorrentes de liberalidade, o empregador deveria comprovar ao Fisco que, de
fato, a performance recompensada superaria aquela comumente observada nos
serviços prestados pelos empregados.

A orientação fiscal, assim, traz efetiva obrigação ao empregador de


manter, em seus registros internos, demonstrativos de performances médias dos
empregados objetos da política premial, bem como daquelas consideradas
destacadas e que justificariam o implemento da premiação.

Aludido tratamento tem por justificação primordial, justamente, evitar


subjetividades na consideração do “desempenho ordinário” do trabalhador.

35
Assim, não poderia o empregador, ao implementar a verba, considerar comum
uma performance abaixo do que a que efetivamente se verificaria, em geral, no
contexto laboral.

Parece, aliás, que o Poder Executivo Federal atentou-se a tais


ponderações ao editar a Medida Provisória de nº 905/19, impondo ao
empregador a definição prévia do que se estipularia como “desempenho
ordinário” nas atividades laborais, nos termos do inédito inciso II do art. 5º-A da
Lei nº 10.101/0029.

Evidentemente, aludida disposição foi introduzida no ordenamento


jurídico pátrio com claro intuito de esvaziar brechas no regramento dos
pagamentos premiais, dando contornos objetivos ao que se pode considerar
como um desempenho comumente expectado.

Para fins da caracterização dos prêmios, outro critério significante trazido


pela MPV nº 905/19 é extraído do mesmo inciso II do novo art. 5º-A da Lei nº
10.101/00, segundo o qual a aferição de um desempenho considerado acima do
ordinariamente expectado seria definido discricionariamente pelo empregador.

Mais uma vez, observa-se que, nesse ponto, a Medida Provisória veio a
superar o entendimento fiscal consubstanciado na SC COSIT nº 151/09 da
Receita Federal. Isso porque, se, segundo o Fisco, o empregador deveria
demonstrar objetivamente que o desempenho recompensado superaria uma
performance laboral ordinária, havendo a MPV nº 905/19 disposto que a
avaliação de tal desempenho cabe exclusivamente ao empregador, de forma
discricionária, não mais estaria ele compelido a trazer demonstrativos criteriosos
a respeito disso.

29 “Art. 5º-A. São válidos os prêmios de que tratam os § 2º e § 4º do art. 457 da Consolidação
das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1943, e a alínea “z” do § 9º do art.
28 desta Lei, independentemente da forma de seu de pagamento e do meio utilizado para a sua
fixação, inclusive por ato unilateral do empregador, ajuste deste com o empregado ou grupo de
empregados, bem como por norma coletiva, inclusive quando pagos por fundações e
associações, desde que sejam observados os seguintes requisitos: (...) II - decorram de
desempenho superior ao ordinariamente esperado, avaliado discricionariamente pelo
empregador, desde que o desempenho ordinário tenha sido previamente definido;

36
Decerto, mediante tal flexibilização, a MP pretende reduzir os encargos
burocráticos e afastar o ônus do empregador afeto à apuração e à demonstração
do desempenho extraordinário, a fim de legitimação do pagamento premial.

Contudo e não se olvidando da louvável intenção executiva de reduzir os


ônus documentais e probatórios do empregador e, dessa forma, facilitar e
estimular a maior concessão da parcela, entende-se pertinente tecer breve
crítica à disposição oriunda dessa pretensão.

Ao deixar ao azo da discricionariedade do empregador a avaliação do


desempenho ordinário e extraordinário no ambiente de trabalho, o legislador
federal acaba por viabilizar graves brechas a eventuais fraudes e simulações
empregatícias.

Segundo uma leitura literal do apontado inciso II do art. 5º-A, o


empregador poderia livre e unilateralmente dispor sobre qual seria o nível de
desempenho, cuja retribuição seria considerada não remuneratória, arbitrando,
sem qualquer oposição, o resultado/performance considerado comum e aquele
considerado extraordinário.

Cita-se, por exemplo, uma concessionária de automóveis que, a fim de


estipular uma política premial a grupo de vendedores, em que pese normalmente
verifique que tal conjunto de colaboradores aliene cerca de 300 veículos em um
mês, previamente define, unilateralmente, que seria considerada quantidade
regular de vendas uma não superior a 150 bens. A partir disso, para reduzir seus
encargos previdenciários, formula seu programa de prêmios, recompensando
quaisquer níveis de vendas superiores a 150 automóveis, ainda que essa
quantidade seja recorrentemente atingida pelos trabalhadores.

Se o nível de vendas não supera o periodicamente quantificado, mas


apenas o previamente arbitrado pela empresa, é certo que essa produção retribui
o serviço ordinário do empregador, e não um desempenho acima do esperado,
como dispõe o art. 457, § 4º, da CLT. Assim o “prêmio” instituído pela
empregadora, muito embora recompensando o efetivo trabalho ordinário dos
obreiros, manteria seu caráter não remuneratório, segundo o parâmetro
estipulado na MPV nº 905/19, em sentido frontalmente contrário ao próprio

37
conceito de salário e, consequentemente, paradoxal à própria regra matriz e à
hipótese de incidência das contribuições previdenciárias, que, repise-se, incidem
sobre os ganhos retributivos do trabalhador.

Dessa forma, bastaria a uma empresa definir previamente o desempenho


comum dos empregados em parâmetros inferiores ao efetivamente e
objetivamente apurado nas atividades trabalhistas, a fim de classificar como
prêmios pagamentos que, noutra senda, teriam nítida feição salarial, por retribuir
o serviço ordinário do empregado, apenas para fins de minoração dos
consectários tributários e trabalhistas oriundos dessa configuração.

Efetivamente, o que está a fazer o art. 5º-A, II, da Lei nº 10.101/00, é


convalidar o que doutrinadores como Godinho e Homero Silva descreviam,
anteriormente ao advento da Reforma Trabalhista, como falsos prêmios,
pagamentos esses, cuja desvirtuação conceitual, à vigência pretérita do texto
reformista, implicaria na sua caracterização salarial, com todas as repercussões
trabalhistas, tributárias e previdenciárias dessa configuração decorrentes.

Na atual conjuntura normativa, todavia, parece que, ainda que possa


recompensar uma performance comumente verificada no ambiente de trabalho,
desde que supere os parâmetros previamente estipulados pelo empregador, o
prêmio não perde sua feição não remuneratória e não deterá reflexos trabalhistas
ou previdenciários.

Assim, muito embora pertinente, na perspectiva de flexibilização e


incentivo ao pagamento das verbas em exame, defende-se que o apontado
dispositivo carece de maior dilapidação e regulamentação, e que, acaso não
devidamente delimitado, poderá dar espaço a práticas fraudulentas e
dissimuladas, permitindo a determinados empregadores que, para desonerar-se
de obrigações fiscais e trabalhistas, ao definir os parâmetros para caracterização
do prêmio, retirem caráter salarial de pagamentos que retribuem um serviço
ordinário.

Fundado em tais ressalvas, afirma-se que, acaso não regulamentado o


disposto no art. 5º-A, II, da Lei nº 10.101/00 e na eventualidade da não
convolação da MPV de nº 905/19, razoável seria fazer prevalecer o

38
entendimento de que os critérios para aferição do desempenho laboral ordinário
devem ser estritamente objetivos, pautados na realidade fenomênica das
atividades trabalhistas e empresariais, jamais devendo prevalecer parâmetros
demasiadamente discricionários, como pretende a referida medida provisória.

Em síntese, de qualquer modo, a despeito das ponderações adrede


tecidas, certo é que (i) o desempenho extraordinário premiado é aquele aferido
no contexto interno do trabalho e da atividade laboral, comparado ao serviço
comumente prestado pelos próprios empregadores da empresa, e (ii) ele é
definido segundo critérios previamente arbitrados unilateralmente pelo
empregador, prescindindo de uma avaliação objetiva perfunctória das
performances laborais.

4 As alterações advindas da Lei nº 13.467/17 e a concepção doutrinária dos


pagamentos realizados a título de “abono”

Tradicionalmente, a doutrina justrabalhista não tem sido uníssona acerca


de uma efetiva definição do que seriam os abonos. Tais pagamentos apenas
eram tratados como verbas salariais em atenção à própria redação do parágrafo
primeiro do art. 457, então vigente a priori da aprovação da Lei 13.467/17.

Com a descaracterização remuneratória dos abonos, as noções a


respeito da parcela tornaram-se ainda mais conflituosas, tendo a doutrina, hoje,
o desafio de trazer delineações à parcela suficientes à melhor adequação de seu
pagamento ao texto insculpido no novo § 2º do art. 457 da CLT, razão pela qual
a discussão em torno da rubrica torna-se ainda mais pertinente no presente
contexto pós-reforma.

Alice Monteiro de Barros, ao tratar acerca dos abonos, muito bem


contextualiza que essas verbas, inicialmente, isso é, antes mesmo da vigência
da própria CLT, eram destituídas de caráter salarial, conforme expressamente
previa o artigo único do Decreto-Lei n° 3.813/41 (BARROS, 2016, p. 491).

Com a edição do Decreto-Lei 5.452/43, com as alterações trazidas pela


Lei n° 1.999/53, dispunha o art. 457, § 1º, da CLT, que, entre outras parcelas,
integrariam o salário, para todos os fins, os abonos pagos pelo empregador.

39
Desde então, fundada nessa estipulação, vigente até a superveniência da
Reforma Trabalhista, a doutrina trabalhista tecia diversas considerações acerca
dos abonos abordados pelo supracitado dispositivo. Em grande parte, os juristas
laborais compreendiam que os abonos ali referidos não seriam outro pagamento,
senão um efetivo adiantamento salarial, compensável em futuro reajuste salarial.
Esse é o entendimento de autores como Maurício Godinho Delgado (DELGADO,
2017, p. 856), Alice Monteiro de Barros (BARROS, 2016, p. 491), e Francisco
Ferreira Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante 30.(JORGE
NETO; CAVALCANTE, 2019).

Em função da ausência de qualquer conceituação legal específica acerca


do pagamento, outras interessantes percepções da parcela eram igualmente
levantadas.

Nesse sentido, José Cairo Júnior31, pontuaria que o

“abono é uma verba paga ao empregador que decorre de um ato de


liberalidade do empregador. Geralmente é pago em parcela
única, sem que exista um motivo determinante específico para tal
acréscimo.
Em muitos casos, o abono serve para compensar um reajuste
salarial não concedido ou para complementá-lo, quando
insuficiente.” (Grifamos)(CAIRO JR, 2017, p. 535)

Por outro lado, interessantes são as perspectivas de Mozart Victor


Russomano e de Homero Batista Mateus da Silva, que já admitiam, antes
mesmo da introdução da Reforma Trabalhista, a possibilidade de os abonos
assumirem feições não-salariais, desde que seu pagamento seja derivado de
liberalidade do empregador, quando “espontâneo, voluntário, unilateral”32,
segundo aquele, ou, conforme o segundo jurista, sendo a parcela paga de forma
“ocasional ou momentânea”33.

30 JORGE NETO, Francisco Ferreira. CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do


Trabalho. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2019. Item 16.5.2.
31 CAIRO JR, José. Curso de direito do trabalho. 13. Ed. Ver. E atual. Salvador: Ed. JusPodivm,

2017. P. 535.
32 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 17. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 1997. v. I, p. 525-526.


33 33 SILVA, Homero Batista da. Curso de direito do trabalho aplicado [livro eletrônico]: livro da

remuneração. 1 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. Cap. 9.

40
Também nesse sentido é a perspectiva de SAAD (2018, p. 716) 34, a
saber, entendendo que o abono “corresponde à quantia que o patrão dá a todos
os empregados, sem condicioná-lo ao cumprimento de qualquer exigência.” Ou
seja: a verba seria efetiva benesse concedida pelo empregador a seus
trabalhadores, sem qualquer justificação determinada.

Para MARTINS (2012, p. 254), além de poder ser considerado como


antecipação salarial, o abono ainda poderia corresponder a simples valor pago
“a mais que é concedido pelo empregador.”

Como se não bastasse, em verdade, no vasto arcabouço normativo


laboral, o que se verificam são diversas e esparsas espécies de pagamentos
nomeados como “abonos”, como, por exemplo, é o caso do abono anual do
PIS/PASEP, previsto no art. 9º da Lei 7.998/1990 (BRASIL, 1990), o abono
pecuniário de férias (conversão em pecúnia de 1/3 das férias, disposta no art.
143 da CLT) (BRASIL, 1943), e o abono constitucional de férias (terço
constitucional de férias a que alude o art. 7º, inciso XVII, da CRFB).

Segundo Godinho, todavia, essas outras denominações de abono seriam


equivocadas, dissonantes da verdadeira definição da parcela mencionada no art.
457 da CLT (2017, p. 656). De fato, em que pese possam ter recebido a
denominação de “abonos” os pagamentos acima tratados devem ter tratamento
jurídico próprio, não se confundindo com as parcelas citadas no aludido
dispositivo da CLT.

De toda forma, superados os esparsos “abonos” previstos nos mais


diversos diplomas legais, remanesce a necessidade de ser devidamente tratado
o conceito do abono do art. 457.

Conforme esposado, extraem-se duas principais concepções acerca dos


abonos, advindas das correntes doutrinárias adrede referidas: (i) o abono-
liberalidade, entendido, efetivamente, como um pagamento espontâneo feito
pelo empregador sem motivação determinada; e (ii) o abono-antecipação,

34SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 50. Ed. São Paulo:
LTr, 2017.

41
compreendido como um adiantamento compensável posteriormente no
pagamento salarial.

Ocorre que, mesmo que diante dessas duas majoritárias concepções a


respeito dos abonos, é indesviável que cada uma delas, na forma propriamente
tratada, detêm naturezas jurídicas próprias com consectários, tributários e
trabalhistas, revestidos de peculiaridades distintas.

Isso porque, em se tratando de liberalidade, ainda se propõe o debate


acerca da natureza (remuneratória ou não) da parcela. Contudo, considerando
o abono estritamente como antecipação ao salário, é evidente que não seria
possível apartá-lo do caráter salarial.

Assim sendo, a depender do caráter atribuído aos abonos, é certo que,


diante da hipótese de incidência das contribuições previdenciárias, incidentes
sobre a folha remuneratória, na forma da regra matriz tributária prevista no art.
195, I, “a”, da CRFB e da Lei 8.212/91, por meio da qual foram instituídas as
exações, a tributação securitária da parcela é alterada diametralmente, sendo
seu pagamento considerado para fins de composição da base de cálculo desses
encargos acaso caracterizado como remuneratório, ou desta base decotado, se
entendido como não remuneratório35.

Dessa forma, é imprescindível que, diante da leitura do novel § 2º do art.


457 da CLT, pontue-se uma mais adequada concepção dos abonos, diante
dessa dicotomia conceitual presentemente exposta.

4.1 Os abonos do art. 457, § 2º, da nova CLT: antecipação ou mera


espontaneidade? Uma leitura finalística sob a ótica não-remuneratória

Ao se propor interpretar uma regra jurídica, especialmente para fins de


delineamento de seu alcance e dos conceitos a ela afetos, queda-se
imprescindível tratar-se da hermenêutica ínsita a tal trabalho interpretativo.

35 Este é o entendimento sedimentado, inclusive, no âmbito do STF e do STJ, no âmbito dos


julgamentos, respectivamente, dos temas 20, da repercussão geral (RE 565.160/SC), e
478,479, 687, 688, 689, 737, 738, 739, e 740, dos recursos repetitivos (REsp 1.230.957/RS e
REsp 1.358.281/SP).

42
Com efeito, segundo REALE36, “o primeiro cuidado do hermeneuta
contemporâneo consiste em saber qual a finalidade social da lei, no seu todo,
pois é o fim que possibilita penetrar na estrutura de suas significações
particulares.”(REALE, 2001, p. 272)

Na toada das lições do saudoso jurista tupiniquim, ao se interpretar uma


norma, é imprescindível que o hermeneuta leve em consideração o fim
específico da norma. Esse fim seria, efetivamente, “um valor, cuja preservação
ou atualização o legislador teve em vista garantir, armando-o de sanções, assim
como também pode ser fim da lei impedir que ocorra um desvalor.” 37(REALE,
2001, p. 272)

No âmbito da interpretação normativa, embora não se olvidando da


necessária observância de outros métodos interpretativos, faz-se fulcral uma
leitura teleológica das alterações trazidas com o advento da Lei n° 13.467/17,
em especial, para fins da compreensão conceitual dos abonos e de seus
consectários respectivos.

Ora, conforme já exposto, dentre os principais fundamentos da aprovação


da Reforma Trabalhista foi a necessidade de adequar um sistema jurídico laboral
ao contexto moderno das relações trabalhistas.

Em verdade, ao se analisar o próprio relatório do Parecer da Comissão


Especial que analisou o Projeto de Lei n° 6.787/16, que originou a reforma, vê-
se que os legisladores exprimiam intensa preocupação na atualização do
ordenamento trabalhista aos tempos atuais:

(...) Estou convicto de que precisamos modernizar a legislação


trabalhista brasileira. Precisamos abandonar as amarras do passado e
trazer o Brasil para o tempo em que estamos e que vivemos, sem
esquecer do país que queremos construir e deixar para nossos filhos e
netos. (...) (BRASIL, 2016)

O relator da comissão ainda destacou a necessidade da edição de um


diploma trabalhista que facilite a liberdade dos sujeitos envolvidos nas relações
trabalhistas, enaltecendo, notavelmente, que “não podemos mais negar

36 REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. P. 272.
37 REALE, Miguel. Op. cit. P. 273.

43
liberdade às pessoas, não podemos mais insistir nas teses de que o Estado deve
dizer o que é melhor para os brasileiros negando-os o seu direito de escolher.
Precisamos de um Brasil com mais liberdade”.(BRASIL, 2016)

É evidente que, ao inserir os abonos no parágrafo 2º do art. 457 da CLT,


a finalidade legiferante não foi outra senão incentivar a livre concessão de
benesses por parte do empregador, sem que este estivesse vinculado a
inúmeras obrigações tributárias e trabalhistas decorrentes desse pagamento, as
quais, na forma da vetusta redação do art. 457, que dispunha da natureza salarial
da parcela, ao sujeita-lo a tais encargos, acabava por desestimular esse tipo de
destinação.

Insta lembrar que, na mesma exposição de motivos elaborada pelo


Relator da Comissão Parecerista do PL 6.787/16, quando da justificação das
alterações no art. 457 da CLT, explica-se a intenção de se facilitar a “premiação”
dos empregados, retirando, em tese, o caráter remuneratório desse tipo de
pagamento.

Ainda que se referindo aos prêmios, foi, certamente, semelhante a


pretensão do legislador quanto aos abonos, a dizer, ao estipular o caráter não
remuneratório dessas verbas, retirando seus respectivos encargos tributários e
trabalhistas, inclusive afastando possíveis reflexos salariais, propunha-se uma
estimulação dessa forma de pagamento.

Ocorre que, sob a perspectiva de tratar-se o novo § 2º do art. 457 de


norma conceitual, afetando diretamente a natureza jurídica das verbas nele
mencionadas, ao se pensarem abonos que se ajustem a tal novel texto, isto é,
aqueles destituídos de caráter remuneratório, inclusive para fins de não
repercussão previdenciária e salarial, queda-se fundamental firmar um conceito
de abono adequado a tanto.

Nesse sentido, ante a dicotomia conceitual alhures apresentada, que


confronta a percepção de abonos como um adiantamento do salário contra a
noção de abonos como decorrente de uma liberalidade espontânea por parte do
empregador, desprovida de motivação específica, em nosso entender, deve se

44
verificar qual a concepção que melhor se ajusta à prescrição do novo art. 457, §
2º.

Antes de adentrar nessas considerações, contudo, cabe rememorar as


noções básicas acerca das parcelas remuneratórias, que consubstanciam,
conforme conceituam Jorge Neto e Cavalcante (2019, p. 670) efetiva “retribuição
legal e habitualmente auferida pelo empregado em virtude do contrato de
trabalho”, concepção essa semelhantemente proposta por BARROS (2016, p.
491).

Certo é que, em se tratando dos adiantamentos, por estarem sujeitos a


efetiva dedução salarial futura, entende-se ser difícil concebê-los na forma do
referido parágrafo 2º. Por óbvio, quando um empregador destina a seu
empregado determinado montante, o qual será decotado de futura remuneração
do trabalhador, o que se depreende, necessariamente, é um pagamento salarial
antecipado, o qual, invariavelmente e nesses termos, não pode ser excluído da
base de cálculo dos encargos tributários (remuneração) a ele correlatos,
produzindo, inclusive, todos os reflexos salariais a ele pertinentes (a exemplo:
13º salário, férias, adicionais, etc).

Esse é o posicionamento adotado inclusive por Cassar (2017)38, ao aduzir


que a concepção de abonos como antecipações não mais prospera, não sendo
recepcionada pela nova redação do art. 457 da CLT e impondo, dessa forma, a
sedimentação de novas noções aceca da parcela.

Dessa feita, resta ainda mais pertinente a perspectiva dos abonos como
simples liberalidades, conforme exposto, já admitida por alguns doutrinadores,
conforme adrede apresentado.

Considerando o abono como um pagamento desmotivado efetuado pelo


empregador, é flagrante o deslocamento da verba da base salarial, porquanto
não objetiva retribuir o trabalho em si e, sendo efetivamente espontâneo,
desvinculado de qualquer previsão prévia (seja em regulamento, ajuste ou

38CASSAR, Vólia Bonfim. Comentários à reforma trabalhista. Rio de Janeiro, Forense; São
Paulo: Método, 2017. P. 49 a 52.

45
termo), tampouco guarda relação direta com o contrato empregatício, sendo
desprovido de qualquer finalidade contraprestativa.

É perfeitamente possível essa espécie de abono como apartado da


remuneração empregatícia, afastando a incidência de encargos previdenciários
e sua repercussão salarial, cumprindo, desse modo, a finalidade da referida
alteração advinda da reforma, no sentido de incentivar maior liberdade na
concessão da benesse e flexibilizando o ambiente negocial globalmente.

De fato, ante a evidente lacuna em nosso ordenamento jurídico quanto ao


conceito da verba, importa-nos remeter a uma análise analógica da questão.

É essa a solução que sugere a Consolidação das Leis do Trabalho


(BRASIL, 1943), em seu art. 8º, ante situação lacônica na lei laboral, senão,
vejamos:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta


de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e
normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda,
de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre
de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça
sobre o interesse público. (Grifei)

Nessa mesma linha, para fins tributários, é o que recomenda o Código


Tributário Nacional para integração da norma tributária (BRASIL, 1966):

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade


competente para aplicar a legislação tributária utilizará
sucessivamente, na ordem indicada:

I - a analogia;

II - os princípios gerais de direito tributário;

III - os princípios gerais de direito público;

IV - a eqüidade.

Nesse sentido, já havendo a doutrina trabalhista admitido o abono como


uma liberalidade, ainda que desprovida de justificação específica, é cabível
recorrer, por similitude, mais uma vez ao novo conceito dos prêmios trazido pela
Reforma Trabalhista, fazendo-se interessante formalizar um efetivo paralelo
entre os abonos assim definidos (como liberalidades) e os prêmios conceituados

46
após a Lei nº 13.467/17, para aproveitar as mesmas noções acerca do termo
“liberalidade” adotado pelo legislador.

É que a Lei n° 13.467/17, ao também introduzir os prêmios no rol das


verbas decotadas da remuneração, firmou também um conceito específico para
a verba, tratando-a, no § 4º do art. 457 da CLT, repise-se, como

liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços


ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em
razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no
exercício de suas atividades. (BRASIL, 1943)

Ora, sendo também os abonos efetivas “liberalidades”, observa-se que a


única divergência entre essa parcela e a verba premial seria o segundo grande
pressuposto previsto no art. 457, § 4º, a saber, não deteriam os abonos a função
de recompensar qualquer desempenho extraordinário. Decerto, conforme já
discorrido, na forma das correntes doutrinária já expostas, o pagamento em
exame não teria qualquer motivação determinante.

Postas tais considerações, igualmente importante é detalhar as noções


de (i) “liberalidade” e da (ii) “ausência de motivação específica” para o
pagamento do abono.

4.2 O conceito de liberalidade no pagamento dos abonos

Conforme tratado, o primeiro dos pressupostos do abono a que ora se


entende referir o art. 457, § 2º, da CLT, é de que seu pagamento deve decorrer
de liberalidade.

Como cediço, outra parcela que teve similar tratamento, disposta no


próprio art. 457, § 4º, da CLT, foram os prêmios. Notadamente, em relação às
verbas premiais em si, igualmente pertinente têm sido os debates acerca do que
deve se entender pelo termo “liberalidade” mencionado no supracitado
dispositivo trabalhista.

Como já exposto, foi nesse contexto que a Receita Federal editou a


Solução de Consulta de nº 151/19, entendendo que a liberalidade pressuporia
um aspecto objetivo precípuo: (i) a inexistência de estipulação formal prévia,
seguida de um consequente necessário: (ii) a não geração de direito subjetivo

47
por parte do empregado e nem de uma obrigação jurídica por parte do
empregador. Essa compreensão, conforme já tratado, é seguida por parte da
doutrina trabalhista, como Rodrigo Dias da Fonseca39 e Vólia Cassar40.

As supracitadas percepções aplicar-se-iam em relação aos abonos, já


que, repise-se, assim como os prêmios, devem ser pagos em decorrência de
similar liberalidade do empregador.

Anteriormente à Reforma, consoante já exposto, Russomano (1997, p.


525-526)41 já lecionava a possibilidade do abono deixar de integrar o salário
quando derivado de ato de liberalidade, sustentando que a verba consistiria em
“pagamento espontâneo, voluntário, unilateral, que alguém (empregador) faz a
outrem (empregado).”

Consoante já explanado, a concepção do jurista provê três pertinentes


aspectos afetos aos pagamentos derivados de liberalidade, quais sejam: (i)
espontaneidade, (ii) voluntariedade, e (iii) unilateralidade.

No caso, o pagamento da verba deveria, segundo o Fisco Federal, estar


desvinculado de qualquer obrigação expressa (não estar previsto em termo ou
ajuste) a fim de que seja delineado como “espontâneo”.

Ainda, derivando de ato de vontade do empregador, mais uma vez,


desvinculado de qualquer ônus ou dever jurídico prévio, o pagamento em
questão é claramente “voluntário”.

Reitere-se a crítica formulada anteriormente, no sentido de que a


concepção fiscal acerca da liberalidade acaba por contrariar o próprio intuito
legislativo intrínseco à nova redação do art. 457, § 2º, da CLT.

Ora, se, conforme explicitado no Relatório Parecerista do Projeto de Lei


nº 6.787/16, a pretensão do legislador, com a aprovação da Reforma Trabalhista,
era superar o entendimento justrabalhista pretérito ao advento da Reforma,

39 FONSECA, Rodrigo Dias da. SALES, Cleber Martins. BRITO, Marcelo Palma de. NETO.
Platon Teixeira de Azevedo. Op cit. P. 101 a 103.
40 CASSAR, Vólia Bonfim. Op cit. P. 49 a 52.
41 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 17. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 1997. v. I.

48
estimulando a concessão de prêmios, e, analogamente, de abonos a
empregados, consentânea a tal intenção legal deve ser a interpretação
conceitual da parcela.

E, consoante já discorrido, restringir a desoneração disposta no § 2º do


art. 457 da CLT a abonos e prêmios não previamente ajustados acarretaria
resultado completamente diverso ao que pretendido por meio da Reforma
Trabalhista, sendo desarrazoado afastar desse tratamento verbas previamente
regradas e estipuladas e, assim, certamente, desincentivando seu implemento.

Para os abonos, contudo, a Medida Provisória nº 905/19 não trouxe


qualquer inovação quanto aos requisitos de validade de seu pagamento,
diferentemente do que proposto em relação aos prêmios.

Assim, a princípio, não se afetaria diretamente a concepção de


liberalidade aplicável aos abonos, em abordagem análoga do entendimento da
Receita Federal consubstanciada na SC COSIT nº 151/19.

Aqui, contudo, impõe delinearmos uma leitura análoga do novel art. 5º-A
da Lei nº 10.101/00, também para a definição do conceito de liberalidade dos
abonos, até porque, se esse pressuposto não difere dos prêmios, não se mostra
razoável para cada uma das verbas dar ao mesmo atributo em comum
tratamento diverso.

Seria, no mínimo, contraditório dizer que, enquanto para os prêmios, em


função de tratamento legal específico, não se perderia o caráter de liberalidade
o ajustamento ou previsão prévia de seu pagamento, para os abonos, aludida
alteração implicaria o afastamento dessa característica.

Reitera-se, aqui, que, para fins de conhecimento de sua natureza jurídica,


apenas acaso tais pagamentos decorram de expressa determinação legal
afastar-se-ia o atributo da liberalidade, caracterizando a parcela em questão
como salarial.

Nessa mesma linha, eventuais abonos concedidos em decorrência de


decisão judicial, por expressa determinação jurisdicional, também não se
adequariam às verbas mencionadas no § 2º do art. 457 da CLT.
49
De igual modo em relação aos prêmios, os abonos-liberalidades, a que
alude, em nosso entender, o art. 457, § 2º, da CLT, para fins de sua
caracterização como parcelas não remuneratórias, pouco importa se a verba
decorre de ajuste ou ato jurídico, firmado pelo empregador, prévio ou não,
devendo, de toda forma, decorrer de ato volitivo do empregador, não sendo
oriundo de determinação legal ou judicial, por exemplo.

4.3 Da ausência de motivação específica

O segundo pressuposto basilar para compreensão dos abonos, conforme


já tratado, é o da ausência de motivação específica para seu pagamento.

CAIRO JR já admitia essa concepção mesmo antes da égide da reforma


Trabalhista, ao aventar, em seu Curso de Direito Individual e Coletivo do
Trabalho de 2017 (p. 535), que tal verba seria paga “sem que exista um motivo
determinante específico para tal acréscimo”.

Similarmente, SAAD, por meio da obra “Consolidação das Leis do


Trabalho: comentada”42, de 2017, pontuaria que o abono “corresponde à quantia
que o patrão dá a todos os empregados, sem condicioná-lo ao cumprimento de
qualquer exigência.”

Como cediço, diversamente dos prêmios, os abonos não possuem uma


razão de ser específica. Trata-se de efetiva liberalidade aleatória, não se
destinando, necessariamente, a recompensar uma conduta específica do
empregado e não detendo qualquer condição determinada, subjetiva ou objetiva
relativa à conduta do empregado

Em síntese, os abonos são condicionados, única e tão somente, à opção


privativa do empregador, que poderá pagar a verba de forma habitual ou não,
independendo de um elemento fático a motivar seu pagamento. Desse modo,
basta a vontade do empregador em implementá-lo.

42SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 50. Ed. São Paulo:
LTr, 2017. P. 716.

50
Cabe aqui breve ressalva: em que pese independam da conduta subjetiva
do empregado, os abonos não se prestam a substituir qualquer verba salarial
com caráter contraprestacional.

Com efeito, e aqui retomando a necessária interpretação finalística da


norma, é certo que, embora pretendendo dar mais espaço e liberdade ao
pagamento dos abonos ao incluí-los no rol de parcelas destituídas de caráter
remuneratório, é patente não constituir intenção do legislador substituir a folha
salarial por pretensos pagamentos não remuneratórios.

É dizer: a nova caracterização dos abonos não autoriza ao empregador


deixar de pagar as efetivas prestações salariais devidas a seus empregados,
convolando-as nessas espécies de liberalidades, a fim de deixar de pagar
tributos ou reduzir seus encargos de modo geral. Não se está autorizando ao
empregador efetuar pagamentos destinados a retribuir o trabalho como se abono
fossem, o que constituiria efetiva simulação ou mesmo fraude.

Dessa feita, depreende-se que, por “ausência de motivação”, o que se


entende é que o pagamento da verba independe do preenchimento de qualquer
requisito ou condição por parte do empregado, ou mesmo relacionada ao seu
trabalho em si.

O cumprimento de metas, alcance de resultados, deslocamentos, ou


quaisquer outras peculiaridades afetas ao trabalho ou ao próprio empregado não
devem ser retribuídos por meio do pagamento da parcela.

Assim, o pagamento dos abonos independeria de motivação específica


ligada ao trabalho, podendo, é claro, o empregador implementar a verba por
quaisquer outras razões que entender pertinentes, observado, é claro, que tal
pagamento (i) não retribua o labor e (ii) não se enquadre nas características de
outras parcelas salariais ou não salarias.

Nessa hipótese, a título ilustrativo, poder-se-ia falar em abono a fim de


conferir socorro ao empregado ou conjunto de empregados no caso da
ocorrência de alguma tragédia ou calamidade. Ainda, o empregador poderia
entender por pagar o abono a empregados residentes em localidades de maiores

51
índices de violência. Em suma, o que importa é que essas fundamentações não
guardem relação com a relação de trabalho ou o desempenho empregatício
propriamente ditos.

5 Os abonos e os prêmios sob uma perspectiva isentiva

Conforme exposto acima, além de expressamente não mais integrarem a


remuneração do empregado, os abonos e os prêmios, de modo geral, foram
incluídos no rol de parcelas isentas da incidência de contribuições
previdenciárias, extraído da alínea “z” do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/91
(BRASIL, 1991):

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:


(...)
§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,
exclusivamente: (Redação dada pela Lei nº 9.528, de
10.12.97)
(...)

z) os prêmios e os abonos. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)


(Grifei)

Conforme adrede tratado, sob uma visão adstrita ao texto do art. 457, §
2º, da CLT, comungada com a menção às verbas no art. 28, § 9º, da CLT,
perspectiva alternativa ao tratamento da nova norma como uma causa de não
incidência tributária viabilizaria caracterizar a nova norma, que afasta a
incidência das contribuições previdenciárias, como uma regra isentiva, ou seja,
uma hipótese de exclusão do crédito tributário, nos termos do art. 175, I, do CTN
(BRASIL, 1966).

Antes de adentrar nos consectários dessa corrente de pensamento, cabe


tecer breves considerações acerca da natureza jurídica da norma isentiva.

É que, segundo a concepção clássica a respeito da estrutura da norma


isentiva, os fatos jurígenos abrangidos por ela constituiriam, de fato, fatos
geradores da tributação. Assim, uma vez praticados, tais fatos ensejariam o
surgimento da obrigação tributária, havendo, posteriormente, efetiva dispensa
de seu pagamento, em decorrência da referida hipótese de exclusão creditícia.

52
Nesse sentido pensava Rubens Gomes de Souza (1975, p. 96):

Isenção é o favor fiscal concedido por lei, que consiste em dispensar o


pagamento de um tributo devido (...). (...) na isenção o tributo é devido
porque existe a obrigação, mas a lei dispensa seu pagamento (...)
porque é claro que só se pode dispensar um pagamento que seja
efetivamente devido.(SOUZA, 1975, p. 96)

Atualmente, divergências têm surgido quanto a tal perspectiva,


sintetizadas, por exemplo, no pensamento de Paulo Roberto Coimbra Silva
(2018, p. 66):

Nesse ponto, cabe destacar que que fatos imunes, assim como fatos
isentos, não são fatos geradores da obrigação tributária principal. Muito
embora fatos imunes e fatos isentos se enquadrem no arquétipo
constitucional da regra matriz de competência de um determinado
tributo, por força de norma exonerativa, seja constitucional (imunidade)
o legal (isenção), não atraem a incidência dos efeitos cominados no
comando da norma tributária (obrigação tributária principal) e, por isso,
não se sujeitam à tributação. (SILVA, 2018, p. 66)

Sob qualquer das correntes adrede descritas, todavia, certo é que, ainda
que se pensando no novel tratamento jurídico dos abonos e dos prêmios como
de caráter isentivo, mesmo que as verbas por ela abrangidas, em princípio,
adequem-se à ao modelo constitucional de competência do art. 195, I, da CRFB,
isto é, admitindo-se seu caráter remuneratório, o contribuinte não deveria, sob a
égide do art. 457, § 2º, da CLT, recolher qualquer contribuição previdenciária a
princípio incidente sobre os aludidos pagamentos.

Em suma, pois, ainda que remuneratório o abono ou o prêmio, por


expressa disposição legal, a saber, por expressa previsão desonerativa
dos supracitados artigos 457, § 2º, da CLT e do art. 28, § 9º, da LOSS, em
relação a ele não deveria recolher qualquer montante o contribuinte, a
título de contribuição previdenciária, não integrando a remuneração laboral
para tais fins.

Admitindo-se a desoneração, a título de isenção, das parcelas,


quedar-se-ia necessário concebê-las mesmo sob uma perspectiva
remuneratória.

53
Primeiramente, quanto aos prêmios, tal esforço interpretativo não se
mostra tão difícil, considerando que, o próprio conceito de prêmio já se
encontra previsto na lei trabalhista, devendo tal pagamento decorrer,
consoante exprime o art. 457, § 4º, da CLT, de (i) liberalidade do
empregador, isto é, ainda que prevista em ajuste ou termo anterior
expresso, não seja derivada de obrigação legal expressa, a
descaracterizar a volitividade do pagamento, (ii) destinada a um
empregado ou a grupo de empregados, (iii) voltada para recompensar um
desempenho extraordinário do(s) obreiro(s), assim entendida como aquela
que supere o comumente expectado pelo empregador, conforme definição
por ele discricionária e previamente estipulada. Atualmente, ainda, os
prêmios devem obedecer aos estritos requisitos do novo art. 5º-A da Lei
nº 10.101/00.

Os abonos, contudo, deteriam divergências mais evidentes sob a


ótica isentiva, ante a inexistência de qualquer conceituação legal quanto a
tais verbas.

Isso porque, repise-se, seria imperioso recorrer-se às concepções


doutrinárias respectivas, sendo certo que, não havendo que se falar em
incidência das exações previdenciárias mesmo sobre abonos
remuneratórios, pouco importaria a distinção dentre as duas correntes
conceituais alhures mencionadas, que concebem o abono ou como (i) uma
liberalidade genérica, desprovida de motivação específica, ou como (ii)
uma antecipação salarial.

No caso, pois, mesmo o entendimento de pensadores como


Maurício Godinho Delgado (2017), segundo o qual o abono
consubstanciaria efetivo adiantamento salarial (futuramente compensável
em reajuste trabalhista), estaria abarcado pela hipótese isentiva do
referido art. 28, § 9º, “z”, da Lei de Custeio da Seguridade Social.

54
Pertinente crítica, mais uma vez, poderia ser tecida quanto a essa
percepção abrangente, contudo.

Ora, se, admitindo-se toda e qualquer antecipação salarial como


isenta de encargos previdenciários, perigosa brecha abrir-se-ia para
simulações por parte de empregadores. Se o salário, em si, enseja o
recolhimento das exações previdenciárias, bastaria ao empregador, a
título de abonos isentos, sucessivamente adiantá-lo e, desse modo, deixar
de pagar o tributo. A tendência, nessa hipótese, seria antecipar a
remuneração, esvaziando a base de cálculo previdenciária.

Mais uma vez, portanto, seria imprescindível retornar à interpretação


finalística da norma exonerativa. Evidentemente, a despeito de pretender
facilitar a concessão de abonos, o legislador não almejava, por meio de
suas alterações na lei trabalhista, viabilizar o esvaziamento da base de
cálculo previdenciária. Objetivou-se, com as alterações no art. 457, única
e tão somente estimular o pagamento das verbas mencionadas no seu §
2º, minorando sua oneração tributária, sem, jamais, no entanto, desobrigar
quase que por completo o empregador.

Bastaria, em verdade, interpretar-se a norma de forma sociológica43


e, inclusive, econômica. Ora, inserida sob um contexto de
imprescindibilidade de reformas na Seguridade Social44, jamais a norma

43 Para MARTINS (2012, p. 50), “a leitura sociológica da norma seria aquela segundo a qual se
verifica a realidade e a necessidade social na elaboração da lei e em sua aplicação. O juiz, ao
aplicar a lei, deve ater-se aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art.
5S da LICC e § l s, art. 852-1 da CLT)”.
44 A ilustrar a situação precária em que se encontra a Seguridade Social tupiniquim, merece

destaque o seguinte excerto extraído de Nota de Política Pública exarada pelos economistas
Gabriel Nemer e Carlos Goés junto ao Instituto Mercado Popular, levantando dados
demonstrativos do atual contexto previdenciário deficitário, extraídos dos próprios Relatórios
Resumidos da Execução Orçamentária da Secretaria da Previdência Social (2018): “O problema
fiscal do governo brasileiro é, essencialmente, um déficit previdenciário. Em 2015 o déficit
primário do governo central foi de R$116,6 bilhões, contra um déficit previdenciário de R$158
bilhões. Já em 2016, o déficit primário total somou R$159,4 bilhões, em comparação a um déficit
da Previdência de R$226 bilhões. Em 2017, o governo teve um déficit primário de R$118,4
bilhões, contra um déficit previdenciário de R$268,8 bilhões. Essa situação demonstra que, em
termos líquidos, todo o restante do orçamento federal é superavitário, e a Previdência é
responsável por mais de 100% dos déficits primários que o governo central vem experimentando

55
isentiva deveria viabilizar tão vigorosa obstaculização à arrecadação
previdenciária. De fato, não há espaço ou contexto para o Estado
Brasileiro conceder desoneração tão ampliativa, ante a atual situação
fiscal e econômica em que se encontra a sociedade tupiniquim.

Além do que, autorizar a conversão de pagamentos salariais em


antecipações desprovidas de repercussão previdenciária simplesmente
daria espaço a maiores simulações, por meio das quais o salário, para fins
de redução de ônus tributários, seria convolado em abonos.

Uma solução pertinente para essa controvérsia seria a previsão de


limitações ao pagamento dos abonos, tal como feito em relação aos
prêmios mediante a MPV nº 905/19, que os limitou a quatro vezes ao ano,
para fins de exoneração previdenciária, nos termos do novel art. 5º-A, III,
da Lei nº 10.101/00.

Decerto, estando diante de periculosa lacuna legal, seria pertinente,


outra vez, recorrer-se à analogia, a fim de buscarmos limites aos
pagamentos dos abonos, a fim de assegurar uma desoneração que não
inviabilize a arrecadação previdenciária, estimulando o esvaziamento da
base de cálculo dos encargos securitários. Desse modo, também em
relação aos abonos quedar-se-ia plausível aplicar o inciso III do art. 5º-A
da novel MPV nº 905/19.

De todo modo, em detrimento das ressalvas alhures discorridas, por


ora, certo é que, compreendendo-se a nova redação do art. 457, § 2º, da
CLT, como consubstanciadora de norma isentiva, e não negativa de
competência, por ora, autorizar-se-ia a antecipação salarial ilimitada
destituída de repercussão previdenciária.

6 CONCLUSÕES

e, em 2017, respondeu por mais de 200% do déficit primário federal. Em 2017, a Previdência
transformou um superávit de R$150,4 bilhões num déficit de R$118,4 bilhões.”

56
Conforme exposto, as contribuições previdenciárias têm por base de
incidência, na forma dos artigos 195, I, “a”, e 201, § 11, da Constituição,
combinado com os artigos 22 e 28 da Lei n° 8.212/91, a remuneração dos
empregados.

Consoante exposto, verificam-se 04 (quatro) requisitos gerais para a


incidência das contribuições previdenciárias: (i) habitualidade, (ii) natureza
remuneratória, (iii) evidentemente, inexistência de norma isentiva, e (iv) a
consequente repercussão nos proventos da aposentadoria.

Assim parcelas que não preencham qualquer dos pressupostos acima


não são sujeitas a tal tributação.

Nesse contexto, a alteração, advinda da Lei 13.467 de 2017 (Reforma


Trabalhista), por meio da qual os abonos e os prêmios foram definidos como
verbas não remuneratórias, não compondo a base de incidência de encargos
tributários e trabalhistas, impôs significante reflexão acerca do conceito das
referidas parcelas, anteriormente entendidas como salariais.

As parcelas, contudo, carecem de conceituação menos obscura. O que


se entendia, jurisprudencialmente, era apenas que tais pagamentos, quando
habituais, estariam submetidos à incidência de contribuições previdenciárias, por
integrarem a remuneração obreira.

Para interpretar, portanto, a novel redação do art. 457, § 2º, da CLT, tendo
em conta a precípua finalidade legislativa, que trata as verbas como
absolutamente não salariais, todavia, uma leitura conceitual da forma como
devem ser estruturados tais pagamentos.

Uma leitura finalística das referidas alterações impõe concluir que os


abonos e prêmios devem ser entendidos, de fato, como liberalidades,
independentemente de estarem tais parcelas previamente estipuladas em
qualquer ato jurídico firmado pelo empregador, a fim de atender à intenção
legislativa de estimular a concessão das parcelas, por meio da superação da
jurisprudência pretérita no sentido de convolar a repercussão previdenciária e
trabalhista afeta aos seus pagamentos habituais.

57
Assim, os prêmios seriam liberalidades que, ajustadas previamente ou
não, devem recompensar uma performance laboral acima do comumente
expectado de outros empregados com atribuições e funções similares ao
trabalhador premiado, conforme parâmetros previamente definidos
discricionariamente pelo empregador e cujo regramento deve ser por ele
devidamente registrado.

Noutra senda, acaso se entenda o art. 457, § 2º, da CLT, como norma
declaratória da natureza jurídica de pagamentos trabalhistas, sendo efetiva regra
negativa de competência, inclusive, os abonos seriam pagamentos gerais,
também derivados de liberalidades que, ajustadas ou não, não retribuem o
trabalho e não guardam relação direta com aspectos do trabalho em si, devendo
ser pagamento cuja motivação particular não se confunda com a de qualquer
outra parcela trabalhista.

Entendendo-se o art. 457, § 2º, da CLT, como norma isentiva, os abonos


decotados da base de incidência previdenciária abrangeriam, inclusive, os
consistentes em adiantamentos salariais, não somente os chamados abonos-
liberalidades.

É sob tal ótica que deve ser interpretada e aplicada a nova redação do
art. 457, § 2º, para fins de configuração e caracterização dos pagamentos a título
de prêmio e de abono, e a fim de atender à finalidade do legislador, isto é a
motivação precípua para alteração do capítulo da remuneração da CLT, e
assegurar o efetivo incentivo ao aumento à concessão das verbas adrede
tratadas, bem como a desoneração mais ampla da folha de pagamentos
empregatícia.

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