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MINAS GERAIS
Belo Horizonte
2019
Pedro Lamounier Sampaio
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0668835500614017
Belo Horizonte
2019
2
SAMPAIO, Pedro Lamounier. As novas concepções dos abonos e dos prêmios sob a
égide da Lei nº 13.467/2017 e seus consectários tributários. 2019. 60 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
Avaliado em:
Banca examinadora
Instituição ________________________________________________________
Julgamento _______________________________________________________
Prof. ________________________________________________________
Instituição ________________________________________________________
Julgamento _______________________________________________________
Prof. _________________________________________________________
Instituição ________________________________________________________
Julgamento _______________________________________________________
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5
6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 57
7 REFERÊNCIAS............................................................................................. 59
4
1 INTRODUÇÃO
1 Isso porque, conforme será melhor explanado a frente, sobre o total das remunerações
trabalhistas, deve o empregador recolher as contribuições previdenciárias sobre tais rubricas
incidentes, correspondentes a 20% do valor desses pagamentos, nos termos do art. 22, I, da Lei
nº 8.212/91, além do percentual (entre 1 e 3%) correspondente à contribuição destinada a
custear o auxílio-doença, de acordo com o fator de risco acidentário do trabalho (RAT), a teor do
inciso II do mesmo artigo, majorável, inclusive, pelo Fator Acidentário de Prevenção – FAP, índice
multiplicador esse variável entre 0,5 e 2, nos termos do art. 202-A do Decreto nº 3.048/99. Não
bastasse, verificam-se repercussões nas contribuições destinadas a outras entidades e,
naturalmente, o próprio FGTS (8%, na forma do art. 15 da Lei nº 8.036 de 1990), entre outros
diversos encargos e reflexos, variados segundo o setor econômico.
5
Justamente fundada nessa problemática econômica, e a fim de promover
e estimular o desenvolvimento das atividades produtivas no território nacional
por meio de modificações em variadas disposições laborais, a União Federal
promulgou, em 13 de julho de 2017, a Lei de nº 13.467, que introduziu, no
ordenamento jurídico pátrio, a denominada “Reforma Trabalhista”, alterando
vigorosamente o Capítulo II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
trazendo ambiente normativo completamente novo para as remunerações
trabalhistas, destinado a promover uma efetiva desoneração dos vencimentos
laborais.
6
discussões quanto aos seus conceitos, sua natureza jurídica e seus respectivos
consectários, tanto sob a ótica trabalhista quanto sob a tributária2.
2 A título ilustrativo, cabe destacar a que ensejou o julgamento do Agravo Interno no Agravo em
Recurso Especial nº 941.736/DF pelo STJ, discutindo-se a natureza jurídica de prêmios, abonos
e outras verbas. (BRASIL, 2016)
3 Confira-se: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
7
contribuições sociais (gerais) e de intervenção no domínio econômico, bem
como aquelas destinadas a entidades de representação de categorias
profissionais ou econômicas.
como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que
alude o dispositivo.”
4 Confira-se: “Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:”
8
econômicas às quais circunscreve a respectiva competência, entre as quais,
para os fins deste trabalho, destaca-se a “a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício”, a cargo do
empregador na forma do inciso I, alínea “a”, do mencionado dispositivo 6.
6 “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da
empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)”
(BRASIL, 1988)
7 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.” (BRASIL, 2015)
9
contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do
empregado, a qualquer título, quer anteriores, quer posteriores à Emenda
Constitucional nº 20/1998”9.
julgamento do tema 20 da repercussão geral: “(...) Nesse ponto, deve-se reconhecer que, com
o advento da EC nº 20/98, que alterou a redação do art. 195, os trabalhadores avulsos, os
autônomos, os sócios-gerentes e os sócios-cotistas ou administradores passaram a se sujeitar
à incidência da contribuição previdenciária, com base na remuneração percebida. Contudo, a
base de cálculo da exação continuou sendo a mesma, qual seja: a folha de salários, assim
tida como a soma dos valores pagos em retribuição à atividade laboral, desde que se
revistam do requisito da habitualidade, previsto pelo §11, do art. 201. (...)” (Grifei)
11 “Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto
no art. 23, é de: I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas
a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe
prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as
gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
10
A fim de aprofundar-se na compreensão da hipótese de incidência dessas
contribuições, referida na Lei nº 8.212/91, cabe realizar breve digressão acerca
da estrutura da norma tributária.
empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção
ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada pela Lei nº
9.876, de 1999). (Vide Lei nº 13.189, de 2015) Vigência
II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho
de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa
decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou
creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:
(Redação dada pela Lei nº 9.732, de 1998).
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes
do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja
considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja
considerado grave.
III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no
decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços;
(Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).” (BRASIL, 1991)
12 Nesse sentido, rememora-se a lição de Hans Kelsen na obra “Teoria Geral do Estado” (2000,
p. 62): “Em particular, as normas gerais devem ser normas nas quais certa sanção é tornada
dependente de certas condições, sendo essa dependência expressada pelo conceito de ‘dever
ser’”.
Ainda, segundo o doutrinador alemão (2000, p. 64): “A regra do direito, o termo usado num
sentido descritivo, é um julgamento hipotético vinculando certas consequências a certas
condições.”
11
Se ele revestir as características antes hipoteticamente descritas
(previstas) na lei, então determina o nascimento de uma obrigação
tributária colocando a pessoa (que a lei indicou) como sujeito passivo,
ligado ao estado até obter a sua liberação, pela prestação do objeto da
obrigação (tendo o comportamento de levar aos cofres públicos a
quantia de dinheiro fixada pela lei). (ATALIBA, 2005, p. 55)
12
sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de
10.12.97)
13
evidentemente, inexistência de norma isentiva (como, por exemplo, menção no
supracitado no § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/91), e (iv) a consequente
repercussão nos proventos da aposentadoria.
15
Exceção a tal regra é extraída do inciso I do artigo 106 do CTN (BRASIL,
1966), segundo a qual a norma interpretativa retroagirá para abranger a fatos
geradores a ela pretéritos. Nessa hipótese se adequaria o art. 457, § 2 º, acaso
se entendesse tratar da conceituação ou da interpretação da natureza
jurídica das parcelas nele citadas.
15Nesse sentido, confira-se a lição de Carlos Henrique Bezerra Leite (2017, p. 450): “O prêmio
é uma parcela remuneratória facultativa prometida e paga diretamente pelo empregador com
o objetivo de retribuir e estimular a produção individual do empregado ou produção
coletiva da seção ou setor de trabalho.”
16
A título ilustrativo, cumpre conferir o conceito de prêmio delineado por
Maurício Godinho Delgado a priori do advento da Reforma Trabalhista16,
16 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.
870.
17 DELGADO, Maurício Godinho. Op Cit. P. 871.
18 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado [livro eletrônico]: livro
da remuneração. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. Cap. 10.
19 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10. Ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
510 a 511.
17
De toda forma, uma visão sintética das perspectivas doutrinárias
justrabalhistas a respeito do tratamento jurídico dos prêmios, anteriores à
Reforma Trabalhista, é recuperada nas longevas lições de Luiz de Pinho
Pedreira da Silva, que, em artigo de 198020, sinalizava que a doutrina e a
jurisprudência predominantes posicionavam-se intermediariamente,
compreendendo que
20SILVA, Luiz Pinho Pedreira da. O Prêmio no Direito do Trabalho. In. Revista de Direito do
Trabalho. Vol. 23. São Paulo: Revista dos Tribunais. P. 57-63.
18
remuneração da CLT também o § 4º, que dispõe de um conceito específico a
respeito da parcela. Confira-se:
19
empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente
esperado no exercício de suas atividades.
No período compreendido entre 14 de novembro de 2017 e 22 de abril
de 2018, o prêmio por desempenho superior, para ser excluído da base
de cálculo das contribuições previdenciárias, não pode exceder ao
limite máximo de dois pagamentos ao ano.
Os prêmios excluídos da incidência das contribuições
previdenciárias: (1) são aqueles pagos, exclusivamente, a
segurados empregados, de forma individual ou coletiva, não
alcançando os valores pagos aos segurados contribuintes
individuais; (2) não se restringem a valores em dinheiro, podendo
ser pagos em forma de bens ou de serviços; (3) não poderão
decorrer de obrigação legal ou de ajuste expresso, hipótese em
que restaria descaracterizada a liberalidade do empregador; e (4)
devem decorrer de desempenho superior ao ordinariamente
esperado, de forma que o empregador deverá comprovar,
objetivamente, qual o desempenho esperado e também o quanto
esse desempenho foi superado.
Dispositivos Legais: Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, art. 62, § 11; Lei nº 13.467, de 2017, arts. 1º e 4º; Medida
Provisória nº 808, de 2017, art. 1º; Lei nº 8.212, de 1991, arts. 22 e 28;
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943, art. 457, §§ 2º e 4º; e Instrução
Normativa RFB nº 971, de 2009, arts. 52 e 58. (Grifei)
20
especificado no § 4º do art. 457 da CLT, a retribuição a desempenho superior ao
ordinariamente esperado pelo empregador.
21
acordo coletivo, a ampliar, em princípio, a abrangência do art. 457, § 4º,
da CLT.
22
Com efeito, conforme já exposto, até o advento da Lei de nº 13.467/17, a
doutrina trabalhista tendia a compreender que os prêmios excluídos da base
salarial e sem repercussão previdenciária seriam, apenas, aqueles decorrentes
de ato de liberalidade por parte do empregador.
21LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 8. Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2017. P. 450.
22MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 10 abr. 2009.
23
não habitual, apurava-se que o prêmio em questão jamais repercutiria nos
salários ou na base remuneratória.
24
Foi tal entendimento que motivou a edição da Súmula nº 209 do STF,
segundo a qual
25
pagamento decorrente de “liberalidade”. Esse nada mais é que uma destinação
de valores caracterizada por (i) espontaneidade e (ii) voluntariedade.
26
termo, consoante entendia o Fisco Federal por meio da Solução de Consulta
COSIT nº 151/19, segundo a qual, para se admitir uma liberalidade habitual, que
não produziria qualquer expectativa jurídica para o empregado, essa não poderia
decorrer de qualquer obrigação legal ou ajuste expresso.
24CASSAR, Vólia Bonfim. Comentários à reforma trabalhista. Rio de Janeiro, Forense; São
Paulo: Método, 2017. P. 49 a 52.
25 FONSECA, Rodrigo Dias da. SALES, Cleber Martins. BRITO, Marcelo Palma de. NETO. Platon
27
precípuo: (i) a inexistência de estipulação formal prévia, seguida de um
consequente necessário: (ii) a não geração de direito subjetivo por parte do
empregado e nem de uma obrigação jurídica por parte do empregador.
28
muito maior, bem como a prejuízo ao empregado, que acaba por não receber
tais benesses em função de seus onerosos reflexos trabalhistas e fiscais.
26 Cabe lembrar a lição sintética de Sérgio Pinto Martins, que, ao dispor acerca dos métodos de
interpretação da legislação trabalhista, conceitua a teleológica ou finalística que “será dada ao
dispositivo legal de acordo com o fim colimado pelo legislador;” (MARTINS, Sérgio Pinto. Op cit.
P. 49).
29
tratar da interpretação constitucional em sua obra “Teoria da Constituição e dos
Direitos Fundamentais”27:
27 SAMPAIO, José Adércio Leite. Teoria da Constituição e dos direitos fundamentais. Belo
Horizonte: Del Rey, 2013, p. 420.
28 CARDOSO, Alessandro Mendes. CIRILO, Simone Bento Martins. Reforma trabalhista e a
30
alterações advindas da Reforma Trabalhista em relação aos prêmios, assim
preconizam:
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI275447,71043-
Reforma+trabalhista+e+a+exclusao+do+premio+do+salario+de+contribuicao>
31
pagamento premial e, principalmente, estimular a implementação dessas
rubricas.
E parece que foi sob tal ótica crítica que, em 13 de novembro de 2019, o
Poder Executivo Federal editou a Medida Provisória nº 905, que novamente veio
a modificar profundamente as noções conceituais da parcela, ao, alterando a Lei
nº 10.101/00, nesta lei introduzir o art. 5º-A, dispondo enquadrarem-se no
conceito de prêmios do referido dispositivo os pagamentos fixados por meio de
“ato unilateral do empregador, ajuste deste com o empregado ou grupo de
empregados, bem como por norma coletiva” (Grifei).
Desse modo, mais uma vez, tornou o legislador a ampliar, ainda mais, a
abrangência dos prêmios descritos no § 4º do art. 457 da CLT, envolvendo,
inclusive, as rubricas previstas em atos particulares, os quais, a princípio,
ensejariam o direito subjetivo do empregado ao seu recebimento.
32
Assim, é evidente que não mais pode se entender por decorrente de
liberalidade apenas os pagamentos premiais não previstos em ajustes ou termos
anteriores, havendo a própria União Federal recepcionado as críticas feitas em
relação ao entendimento esposado na SC COSIT RFB nº 151/19, a fim de
expressamente incluir, dentre os prêmios tratados no art. 457, § 4º, da CLT,
aqueles previamente ajustados.
33
empregado, o serviço por ele comum ou necessariamente prestado, é
recompensado por meio do salário.
Afinal, se todos os
empregados apresentaram os mesmos resultados, ainda que
extremamente satisfatórios, então esse é o padrão ordinário de
desempenho, e os prêmios, na
34
forma da lei, somente são devidos aos empregados “em razão de
desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de
suas atividades.”
35
Assim, não poderia o empregador, ao implementar a verba, considerar comum
uma performance abaixo do que a que efetivamente se verificaria, em geral, no
contexto laboral.
Mais uma vez, observa-se que, nesse ponto, a Medida Provisória veio a
superar o entendimento fiscal consubstanciado na SC COSIT nº 151/09 da
Receita Federal. Isso porque, se, segundo o Fisco, o empregador deveria
demonstrar objetivamente que o desempenho recompensado superaria uma
performance laboral ordinária, havendo a MPV nº 905/19 disposto que a
avaliação de tal desempenho cabe exclusivamente ao empregador, de forma
discricionária, não mais estaria ele compelido a trazer demonstrativos criteriosos
a respeito disso.
29 “Art. 5º-A. São válidos os prêmios de que tratam os § 2º e § 4º do art. 457 da Consolidação
das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1943, e a alínea “z” do § 9º do art.
28 desta Lei, independentemente da forma de seu de pagamento e do meio utilizado para a sua
fixação, inclusive por ato unilateral do empregador, ajuste deste com o empregado ou grupo de
empregados, bem como por norma coletiva, inclusive quando pagos por fundações e
associações, desde que sejam observados os seguintes requisitos: (...) II - decorram de
desempenho superior ao ordinariamente esperado, avaliado discricionariamente pelo
empregador, desde que o desempenho ordinário tenha sido previamente definido;
36
Decerto, mediante tal flexibilização, a MP pretende reduzir os encargos
burocráticos e afastar o ônus do empregador afeto à apuração e à demonstração
do desempenho extraordinário, a fim de legitimação do pagamento premial.
37
conceito de salário e, consequentemente, paradoxal à própria regra matriz e à
hipótese de incidência das contribuições previdenciárias, que, repise-se, incidem
sobre os ganhos retributivos do trabalhador.
38
entendimento de que os critérios para aferição do desempenho laboral ordinário
devem ser estritamente objetivos, pautados na realidade fenomênica das
atividades trabalhistas e empresariais, jamais devendo prevalecer parâmetros
demasiadamente discricionários, como pretende a referida medida provisória.
39
Desde então, fundada nessa estipulação, vigente até a superveniência da
Reforma Trabalhista, a doutrina trabalhista tecia diversas considerações acerca
dos abonos abordados pelo supracitado dispositivo. Em grande parte, os juristas
laborais compreendiam que os abonos ali referidos não seriam outro pagamento,
senão um efetivo adiantamento salarial, compensável em futuro reajuste salarial.
Esse é o entendimento de autores como Maurício Godinho Delgado (DELGADO,
2017, p. 856), Alice Monteiro de Barros (BARROS, 2016, p. 491), e Francisco
Ferreira Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante 30.(JORGE
NETO; CAVALCANTE, 2019).
2017. P. 535.
32 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 17. ed. Rio
remuneração. 1 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. Cap. 9.
40
Também nesse sentido é a perspectiva de SAAD (2018, p. 716) 34, a
saber, entendendo que o abono “corresponde à quantia que o patrão dá a todos
os empregados, sem condicioná-lo ao cumprimento de qualquer exigência.” Ou
seja: a verba seria efetiva benesse concedida pelo empregador a seus
trabalhadores, sem qualquer justificação determinada.
34SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 50. Ed. São Paulo:
LTr, 2017.
41
compreendido como um adiantamento compensável posteriormente no
pagamento salarial.
42
Com efeito, segundo REALE36, “o primeiro cuidado do hermeneuta
contemporâneo consiste em saber qual a finalidade social da lei, no seu todo,
pois é o fim que possibilita penetrar na estrutura de suas significações
particulares.”(REALE, 2001, p. 272)
36 REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. P. 272.
37 REALE, Miguel. Op. cit. P. 273.
43
liberdade às pessoas, não podemos mais insistir nas teses de que o Estado deve
dizer o que é melhor para os brasileiros negando-os o seu direito de escolher.
Precisamos de um Brasil com mais liberdade”.(BRASIL, 2016)
44
verificar qual a concepção que melhor se ajusta à prescrição do novo art. 457, §
2º.
Dessa feita, resta ainda mais pertinente a perspectiva dos abonos como
simples liberalidades, conforme exposto, já admitida por alguns doutrinadores,
conforme adrede apresentado.
38CASSAR, Vólia Bonfim. Comentários à reforma trabalhista. Rio de Janeiro, Forense; São
Paulo: Método, 2017. P. 49 a 52.
45
termo), tampouco guarda relação direta com o contrato empregatício, sendo
desprovido de qualquer finalidade contraprestativa.
I - a analogia;
IV - a eqüidade.
46
após a Lei nº 13.467/17, para aproveitar as mesmas noções acerca do termo
“liberalidade” adotado pelo legislador.
47
por parte do empregado e nem de uma obrigação jurídica por parte do
empregador. Essa compreensão, conforme já tratado, é seguida por parte da
doutrina trabalhista, como Rodrigo Dias da Fonseca39 e Vólia Cassar40.
39 FONSECA, Rodrigo Dias da. SALES, Cleber Martins. BRITO, Marcelo Palma de. NETO.
Platon Teixeira de Azevedo. Op cit. P. 101 a 103.
40 CASSAR, Vólia Bonfim. Op cit. P. 49 a 52.
41 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 17. ed. Rio
48
estimulando a concessão de prêmios, e, analogamente, de abonos a
empregados, consentânea a tal intenção legal deve ser a interpretação
conceitual da parcela.
Aqui, contudo, impõe delinearmos uma leitura análoga do novel art. 5º-A
da Lei nº 10.101/00, também para a definição do conceito de liberalidade dos
abonos, até porque, se esse pressuposto não difere dos prêmios, não se mostra
razoável para cada uma das verbas dar ao mesmo atributo em comum
tratamento diverso.
42SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 50. Ed. São Paulo:
LTr, 2017. P. 716.
50
Cabe aqui breve ressalva: em que pese independam da conduta subjetiva
do empregado, os abonos não se prestam a substituir qualquer verba salarial
com caráter contraprestacional.
51
índices de violência. Em suma, o que importa é que essas fundamentações não
guardem relação com a relação de trabalho ou o desempenho empregatício
propriamente ditos.
Conforme adrede tratado, sob uma visão adstrita ao texto do art. 457, §
2º, da CLT, comungada com a menção às verbas no art. 28, § 9º, da CLT,
perspectiva alternativa ao tratamento da nova norma como uma causa de não
incidência tributária viabilizaria caracterizar a nova norma, que afasta a
incidência das contribuições previdenciárias, como uma regra isentiva, ou seja,
uma hipótese de exclusão do crédito tributário, nos termos do art. 175, I, do CTN
(BRASIL, 1966).
52
Nesse sentido pensava Rubens Gomes de Souza (1975, p. 96):
Nesse ponto, cabe destacar que que fatos imunes, assim como fatos
isentos, não são fatos geradores da obrigação tributária principal. Muito
embora fatos imunes e fatos isentos se enquadrem no arquétipo
constitucional da regra matriz de competência de um determinado
tributo, por força de norma exonerativa, seja constitucional (imunidade)
o legal (isenção), não atraem a incidência dos efeitos cominados no
comando da norma tributária (obrigação tributária principal) e, por isso,
não se sujeitam à tributação. (SILVA, 2018, p. 66)
Sob qualquer das correntes adrede descritas, todavia, certo é que, ainda
que se pensando no novel tratamento jurídico dos abonos e dos prêmios como
de caráter isentivo, mesmo que as verbas por ela abrangidas, em princípio,
adequem-se à ao modelo constitucional de competência do art. 195, I, da CRFB,
isto é, admitindo-se seu caráter remuneratório, o contribuinte não deveria, sob a
égide do art. 457, § 2º, da CLT, recolher qualquer contribuição previdenciária a
princípio incidente sobre os aludidos pagamentos.
53
Primeiramente, quanto aos prêmios, tal esforço interpretativo não se
mostra tão difícil, considerando que, o próprio conceito de prêmio já se
encontra previsto na lei trabalhista, devendo tal pagamento decorrer,
consoante exprime o art. 457, § 4º, da CLT, de (i) liberalidade do
empregador, isto é, ainda que prevista em ajuste ou termo anterior
expresso, não seja derivada de obrigação legal expressa, a
descaracterizar a volitividade do pagamento, (ii) destinada a um
empregado ou a grupo de empregados, (iii) voltada para recompensar um
desempenho extraordinário do(s) obreiro(s), assim entendida como aquela
que supere o comumente expectado pelo empregador, conforme definição
por ele discricionária e previamente estipulada. Atualmente, ainda, os
prêmios devem obedecer aos estritos requisitos do novo art. 5º-A da Lei
nº 10.101/00.
54
Pertinente crítica, mais uma vez, poderia ser tecida quanto a essa
percepção abrangente, contudo.
43 Para MARTINS (2012, p. 50), “a leitura sociológica da norma seria aquela segundo a qual se
verifica a realidade e a necessidade social na elaboração da lei e em sua aplicação. O juiz, ao
aplicar a lei, deve ater-se aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art.
5S da LICC e § l s, art. 852-1 da CLT)”.
44 A ilustrar a situação precária em que se encontra a Seguridade Social tupiniquim, merece
destaque o seguinte excerto extraído de Nota de Política Pública exarada pelos economistas
Gabriel Nemer e Carlos Goés junto ao Instituto Mercado Popular, levantando dados
demonstrativos do atual contexto previdenciário deficitário, extraídos dos próprios Relatórios
Resumidos da Execução Orçamentária da Secretaria da Previdência Social (2018): “O problema
fiscal do governo brasileiro é, essencialmente, um déficit previdenciário. Em 2015 o déficit
primário do governo central foi de R$116,6 bilhões, contra um déficit previdenciário de R$158
bilhões. Já em 2016, o déficit primário total somou R$159,4 bilhões, em comparação a um déficit
da Previdência de R$226 bilhões. Em 2017, o governo teve um déficit primário de R$118,4
bilhões, contra um déficit previdenciário de R$268,8 bilhões. Essa situação demonstra que, em
termos líquidos, todo o restante do orçamento federal é superavitário, e a Previdência é
responsável por mais de 100% dos déficits primários que o governo central vem experimentando
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isentiva deveria viabilizar tão vigorosa obstaculização à arrecadação
previdenciária. De fato, não há espaço ou contexto para o Estado
Brasileiro conceder desoneração tão ampliativa, ante a atual situação
fiscal e econômica em que se encontra a sociedade tupiniquim.
6 CONCLUSÕES
e, em 2017, respondeu por mais de 200% do déficit primário federal. Em 2017, a Previdência
transformou um superávit de R$150,4 bilhões num déficit de R$118,4 bilhões.”
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Conforme exposto, as contribuições previdenciárias têm por base de
incidência, na forma dos artigos 195, I, “a”, e 201, § 11, da Constituição,
combinado com os artigos 22 e 28 da Lei n° 8.212/91, a remuneração dos
empregados.
Para interpretar, portanto, a novel redação do art. 457, § 2º, da CLT, tendo
em conta a precípua finalidade legislativa, que trata as verbas como
absolutamente não salariais, todavia, uma leitura conceitual da forma como
devem ser estruturados tais pagamentos.
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Assim, os prêmios seriam liberalidades que, ajustadas previamente ou
não, devem recompensar uma performance laboral acima do comumente
expectado de outros empregados com atribuições e funções similares ao
trabalhador premiado, conforme parâmetros previamente definidos
discricionariamente pelo empregador e cujo regramento deve ser por ele
devidamente registrado.
Noutra senda, acaso se entenda o art. 457, § 2º, da CLT, como norma
declaratória da natureza jurídica de pagamentos trabalhistas, sendo efetiva regra
negativa de competência, inclusive, os abonos seriam pagamentos gerais,
também derivados de liberalidades que, ajustadas ou não, não retribuem o
trabalho e não guardam relação direta com aspectos do trabalho em si, devendo
ser pagamento cuja motivação particular não se confunda com a de qualquer
outra parcela trabalhista.
É sob tal ótica que deve ser interpretada e aplicada a nova redação do
art. 457, § 2º, para fins de configuração e caracterização dos pagamentos a título
de prêmio e de abono, e a fim de atender à finalidade do legislador, isto é a
motivação precípua para alteração do capítulo da remuneração da CLT, e
assegurar o efetivo incentivo ao aumento à concessão das verbas adrede
tratadas, bem como a desoneração mais ampla da folha de pagamentos
empregatícia.
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