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PARECER JURÍDICO SOBRE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

JULGADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

09/10/2019
PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 643.978/SERGIPE

RELATOR:MIN. ALEXANDRE DE MORAES


RECTE. (S):CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF
ADV.(A/S):PEDRO JORGE SANTANA PEREIRA
RECDO. (A/S):MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S) (ES):PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL.


REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PRETENSÃO DESTINADA À TUTELA DE
DIREITOS INDIVIDUAIS DE ELEVADA CONOTAÇÃO
SOCIAL. ADOÇÃO DE REGIME UNIFICADO OU
UNIFICAÇÃO DE CONTAS DO FUNDO DE GARANTIA
DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS). MINISTÉRIO
PÚBLICO. PARTE LEGITIMA. DEFESA DE INTERESSES
SOCIAIS QUALIFICADOS. ARTS. 127 E 129, III, DA CF.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.

Trata-se de recurso Extraordinário interposto pela requerente CAIXA ECONOMICA


FEDERAL, no qual buscava provimento em repercussão geral pelo reconhecimento da
ilegitimidade do MPF para propositura de Ação Civil Pública em defesa de direitos sociais
relacionados a unificação de contas vinculadas ao fundo de garantia por tempo de serviço, da
postulação de declaração de inconstitucionalidade do art. 1º, parágrafo único, da lei 7.347/85, nos
termos da redação dada pela medida provisória 2.180-35/2001 e, por fim, de sua condenação para
que havendo movimentações previstas no art. 20, I, II, IX, e X, da lei 8.036/1990, proceda à
liberação de todas as contas de titularidade do empregado e não somente da conta atrelada ao último
vínculo de trabalho ou, alternativamente, requerendo para que os atuais e futuros trabalhadores
vinculados ao FGTS, a instituição do sistema de conta única no decurso da vida profissional do
empregado.
A adoção de regime unificado ou unificação de contas do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) refere-se à possibilidade de um trabalhador reunir em uma única conta do FGTS os
valores depositados em diversas contas vinculadas a contratos de trabalho diferentes.

Essa possibilidade foi instituída pela Lei nº 13.932/2019, que alterou a Lei nº 8.036/1990,
que dispõe sobre o FGTS. De acordo com a nova lei, a unificação de contas do FGTS é facultativa e
pode ser realizada pelo próprio trabalhador por meio de aplicativo ou site disponibilizado pela
Caixa Econômica Federal, instituição responsável pela administração do FGTS.

A unificação de contas pode ser vantajosa para o trabalhador, pois permite que ele tenha uma
visão mais clara de seus recursos acumulados no FGTS e possa fazer um planejamento financeiro
mais eficiente. Além disso, a unificação pode facilitar a obtenção de crédito com base nos valores
disponíveis na conta do FGTS.

No entanto, é importante lembrar que a unificação de contas pode ter impactos em questões
como a correção monetária e os prazos de saque dos recursos. Por isso, é recomendável que o
trabalhador consulte um especialista em direito trabalhista ou um profissional de contabilidade antes
de realizar a unificação de suas contas do FGTS.

A CAIXA ECONOMICA FEDERAL defendia que existia repercussão geral do objeto


recursal, conforme previsão do art. 543-A, §2º do antigo código de processo civil (CPC/73), “pelo
fato de que o acolhimento da pretensão veiculada na ação civil pública em comento traria reflexos
danosos ao FGTS, sobretudo com vultosa despesa desnecessária. Além disso defendia no mérito
que o Tribunal de Origem ao negar a vigência do art. 1º da lei 7.347/85 declarou inconstitucional,
conforme precedentes da SUPREMA CORTE.

Vieram os autos para análise.

É o relatório.

Passa-se à análise.

Em observância ao entendimento da SUPREMA CORTE e da ANÁLISE JURÍDICA


ACERCA DO TEMA, verifica-se ser caso de conhecimento do recurso, pois atendidos todos os
pressupostos necessários à admissibilidade. No mérito, com fundamento no ordenamento jurídico e
de acordo com os elementos analisados, entende-se ser plenamente competente, o Ministério
Público para propor ação de interesses individuais de interesse social, de acordo com o artigo 127
caput e 129, III, da Constituição Federal, logo, devendo ser mantida a decisão da SUPREMA
CORTE, pois, o Ministério Público é uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado, e
tem como atribuições defender a ordem jurídica, o regime democrático, os interesses sociais e
indivíduos indisponíveis, entre outros. Nesse sentido, a Constituição Federal e outras leis conferem
ao Ministério Público a legitimidade para atuar em diversas situações, inclusive na defesa de
interesses coletivos e difusos, como é o caso dos interesses individuais de interesse social. Nesse
sentido:

O Ministro Relator, TEORI ZAVASCKI, vai dizer que, “Os


direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e sem
titular determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo
invariavelmente em regime de substituição processual, por iniciativa
dos órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo, entre os
quais o Ministério Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de
suas relevantes funções institucionais”.

Os interesses individuais de interesse social são aqueles que, embora de natureza individual,
possuem fortaleza social e impacto coletivo. Exemplos desse tipo de interesse são a defesa dos
direitos do consumidor, a proteção do meio ambiente e a garantia do acesso à saúde e à educação de
qualidade. Quando tais interesses são ameaçados ou violados, o Ministério Público pode atuar para
defendê-los, propondo ações judiciais e buscando a reparação dos danos causados. O que nos leva
ao entendimento que os interesses mesmo individual e disponível, tendo como objetivo a relevância
social são compatíveis, haja vistas que eles se equiparam aos citados no art. 129, III, da CF.

Da leitura detida da lei 7.347/85 não constitui obstáculo a atuação do Ministério Público em
contextos fáticos jurídicos revestidos de interesses sociais qualificados, ainda que sua natureza seja
de direitos divisíveis, disponíveis e com titulares determinados ou determináveis, já que a
legitimidade ministerial, em tais situações, emana diretamente do art. 127 da CARTA MAGNA.

É interesse social de idêntico quilate se vislumbra nas pretensões “que envolvam tributos,
contribuições previdenciárias, o fundo de garantias do tempo de serviço – FGTS ou outros fundos
de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados” (parágrafo
único do art. 1º da lei 7.347/85).
Por tudo isso, não merece provimento o recurso interposto, pois tal aceitação estaria à
afrontar o principio do interesse social, principal norteador dos processos coletivos no âmbito do
Ministério Público.

É a conclusão.

Vitória da Conquista/BA, 25 de abril de 2023.

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