Você está na página 1de 24

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS

DA COMARCA DE ITU/SP

DISTRIBUIÇÃO

Tramitação Prioritária

XXXXX, brasileiro, casado, aposentado, portador da Cédula de Identidade do


tipo RG nº XXXXX SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº XXXXXX, residente e domiciliado na
XXXXX, n° XX, Itu/SP, CEP 13.300-000, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por
intermédio de seus advogados e bastante procuradores (procuração anexa), com fulcro nos artigo 815 e
seguintes, do Código de Processo Civil, proporãp

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

em face da PREFEITURA DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE ITU, pessoa jurídica de direito publico,


inscrita no CNPJ n° 46.634.440/0001-00, com endereço na Avenida Itu 400 anos, n° 111, Itu/SP, CEP
13303-500.

I - PRELIMINARMENTE

I.1 - Da Tramitação Prioritária – Idoso com 70 Anos


Conforme se depreende de documentação pessoal anexa, o autor é pessoa idosa,
atualmente com 70 anos de idade, ultrapassando assim a idade mínima de 60 anos, razão pela qual
possui o direito à tramitação prioritária da presente demanda, nos termos da Lei n° 10.741/2013
(Estatuto do Idoso) e artigo 1.048, I, do Código de Processo Civil.

Assim, considerando que o Sr. Edson dispõe de idade avançada, requer que seja
deferida a necessária prioridade na tramitação processual.

I.2 – Da necessária concessão da gratuidade da Justiça


O requerente não reúne, momentaneamente, meios suficientes para arcar com
as custas de um procedimento judicial sem prejuízo de seu sustento e de sua família, razão pela qual
requer, nos termos da Lei Federal nº 1.060/50, acolhido pelo artigo 98, do Código de Processo Civil, se
digne Vossa Excelência a deferir a concessão dos benefícios da justiça gratuita, para todos os fins de
direito (documentos em anexo).

Nesse passo, verifica-se o dispositivo legal, qual seja, artigo 98 do Novo


Código de Processo Civil prevê a referida benesse, a saber:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Desta feita, a condição para o deferimento da gratuidade da justiça não está em


ser pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, mas sim naquele com insuficiência de recursos
para custear o processo, o que realmente acontece no caso em tela, conforme documentos acostados aos
autos.

Cabe destacar que a lei não exige atestada miserabilidade do requerente, sendo
suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários
advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se


fala em renda familiar ou faturamento máximo. É possível que uma pessoa
natural, mesmo com boa renda mensal, seja merecedora do benefício, e que
também o seja aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de
viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à
justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua renda, ou
tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e
custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de.
Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2018. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário que a parte seja pobre


ou necessitada para que possa beneficiar-se da gratuidade da justiça. Basta
que não tenha recursos suficientes para pagar as custas, as despesas e os
honorários do processo. Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se
estes bens não têm liquidez para adimplir com essas despesas, há direito à
gratuidade."(MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz.
MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª ed.
Revista dos Tribunais, 2019. Vers. ebook. Art. 98)

O instituto da gratuidade judiciária veio permitir àqueles que não dispõem de


recursos econômicos a recorrer ao Poder Judiciário, visando à solução de conflitos, promovendo a
justiça para todos e não para apenas alguns.

Do que se infere da documentação anexa, o requerente aufere renda mensal


bruta de, aproximadamente, R$6.500,00 (seis mil e quinhentos reais). Pois bem. É certo que ao
menos 20% (vinte por cento) de sua renda é destinada ao custeio de medicamentos de uso
contínuo, o que compromete, demasiadamente, sua subsistência.

Atualmente, somente os custos com medicação, perfazem o montante mensal


aproximado de R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais), o que aduz sua hipossuficiencia para pagamento de
custas e despesas processuais, sem prejuízo do seu sustento e de sua familia, conforme declaração
anexa e comprovação de renda.

Por tais razões, com fulcro no 98 do Código de Processo Civil, requer seja
deferida a justiça gratuita ao requerente.
II - DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERATIVOS

II.1 – Dispensa de chamamento da União e do Estado na lide

O direito à saúde se trata de direito fundamental do autor, previsto nos artigos


196 e 227, da Constituição Federal e, para tanto, se estabelece a responsabilidade solidária da União,
Estados e Municípios a prestarem o atendimento necessário na área de saúde, o mencionado encontra
respaldo no artigo 23 da Carta Magna, conforme:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios:

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas


portadoras de deficiência;

O Supremo Tribunal de Justiça, ao julgar o tema n° 793, em 08 de setembro de


2022 dispôs o seguinte:

Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são


solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e
diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o
ônus financeiro.” Tema 793 - STF     

Por conseguinte, é obrigação do réu a assitência à saúde e fornecer os meios


indispensáveis para o adequado tratamento médico, conforme recente precedente do STF:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
DESENVOLVIMENTO DO PROCEDENTE. POSSIBILIDADE.
RESPONSABILIDADE DE SOLIDÁRIA NAS DEMANDAS
PRESTACIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE. DESPROVIMENTO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 1. É da jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal que o tratamento médico adequado aos necessitados
se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade
solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por
qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente. 2. A fim de
otimizar a compensação entre os entes federados, compete à autoridade
judicial, diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento conforme as
regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a
quem suportou o ônus financeiro. 3. As ações que demandem
fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União. Precedente
específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes. 4. Embargos
de declaração desprovidos. (STF RE 855.178. ED. Rel. Min. LUIZ
FUX. DJe 16/04/2020, #83102248) (não grifado no original).

Logo, percebe-se claramente que é dever do Estado praticar ações


visando à garantia da saúde de seus súditos, no caso, sendo o Município ente federativo, não
pode se livrar do dever de garantir a saúde aos munícipes.

Não sendo bastante, para não haver dúvida de que é dever do Município
fornecer tratamento médico para as pessoas carentes, vejamos o que diz a Lei 8.080/90:

“Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o


inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de
governo pelos seguintes órgãos:

(...) no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão


equivalente. (...)

Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:

I-planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e


gerir e executar os serviços públicos de saúde;

II-(...)
V- dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos
para a saúde”.

Ora, se a descentralização do SUS prevê a atuação do Município na execução


de serviços de saúde e na política fornecer insumos e equipamentos, e medicamentos, não pode haver
dúvida de que o fornecimento de tratamentos para pessoas carentes é dever do Poder Público, sendo
assim, o requerido deve fornecer gratuitamente todos os medicamentos e insumos necessários onde quer
que seja o local.

Como já dito anteriormente a matéria, ora em debate, já se encontra delineada


na Constituição Federal em seu artigo 198, § 1º, in verbis:

"O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com
recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes."

Vislumbra-se do texto legal que a referência é feita às três esferas do Poder


Executivo para ampliar a responsabilidade, de tal forma, que não há que se falar em litisconsórcio ou
ilegitimidade passiva de um dos entes públicos, pois o autor pode requerer o custeio a qualquer um
dos entes federados.

Além do mais, o texto do artigo 196 da Constituição Federal, ao falar


genericamente em Estado, tem cunho geral, preconizando que o custeio do Sistema Único de Saúde se
dê por meio de recursos orçamentários da seguridade social comum a todos os entes federados,
regionalização e hierarquização nele referidas que devem ser compreendidas sempre como intenção de
descentralizar e garantir sua efetividade.

Ademais, impende registrar que não existe subordinação, concorrência ou


subsidiariedade entre as esferas municipal e estadual, aliás, qualquer uma delas responde
autonomamente pela proteção à saúde individual.

Assim sendo, não se verifica imprescindível o chamamento ao processo da


União, vez que, em que pese tratar-se de um dever solidário dos entes federativos, tal fato não impõe o
seu acatamento, posto que não são litisconsortes necessários, mas, sim, facultativos, podendo ser
exigida a obrigação de cada um dos entes públicos de forma isolada.
III - DOS FATOS

O autor é portador de diabetes mellitus (CID E.11) e hipertensão essencial


(CID I.10), e necessita do consumo diário de medicamentos, consoante orientação médica, receitado
pela Dra.Samira Alarcon (CRM 86940), cujo receituário segue anexo:

- ROSUVASTATINA CÁLCICA 10 mg + EZETIMIBA 10 mg, equivalente à


R$61,19/mês;

- INSULINA DEGLUDECA 100 UI/ML + LIRAGLUTIDA 3,6 MG/ML – 32 UI,


equivalente R$944,00/mês1;

-CLORIDRATO DE PIOGLITAZONA 30MG, equivalente a R$ 90,41/mês;

- DAPAGLIFLOZINA 5 mg + CLORIDRATO DE METFORMINA 1000 mg,


equivalente a R$190,00/mês.

- ÁCIDO ACETILSALICÍLICO 81 mg + CARBONATO DE MAGNÉSIO 24,30


mg + GLICINATO DE ALUMÍNIO 12.15 mg, equivalente a R$ 27,00/mês.

- LOSARTANA POTÁSSICA 50 mg, equivalente a R$ 4,00/mês

- HIDROCLOROTIAZIDA 25 mg, equivalente a R$ 3,00/mês

Com o diagnóstico e munido de laudo médico, o requerente, então, buscou


respaldo junto ao Município de Itu, instaurando o procedimento administrativo de abertura de processo,
perante a Prefeitura, através do protocolo n° 16007112022 (doc. Anexo). Do que se extrai de resposta
enviada ao email do autor, o pedido fora negado, e sugerida a substituição por outros medicamentos
similares, consoante print abaixo:

1
Cada caixa disponibiliza 01 aplicação, sendo necessárias 4 aplicações mensais uma vez por semana.
Pois bem, em virtude da solicitação de substituição dos medicamentos, o
requerente retornou em consulta médica, e intentou-se na utilização da medicação fornecida pelo SUS.

Ocorre que em novembro de 2022, após fazer uso dos medicamentos indicados,
o autor fez novos exames e a médica responsável pelo tratamento, constatou que a substituição pelo
esquema proposto pelo SUS acarretou em piora de estado de saúde, e, considerando o alto risco
cardiovascular, realizou a alteração do tratamento proposto, receitando as medicações de controle
já anteriormente aviadas, o que mostraram um excelente resultado. (Laudo Médico – Anexo).

Portanto Excelencia, resta incontroversa a necessidade e urgência para que o


paciente tenha seu devido tratamento médico. Ressalta-se que o requerente tentou tratamento com
medicação diversa, oferecida pelo SUS, no entanto, o resultado foi insatisfatório, com piora de
quadro clínico.

O custo mensal dos sobreditos medicamentos custam, em média, R$ 1.300,00


(mil e quatrocentos reais), consoante orçamentos anexos, o que compromete severamente a renda do
autor.

É inconteste que o autor buscou amparo perante o SUS, visando alcançar seu
consagrado direito constitucional à saude, mas como dito acima, foi informado que os medicamentos
necessários para manutenção da sua saúde não constam na lista de distribuição, e, por tal motivo, o
pedido foi indeferido.

Consoante se verifica do laudo médico que segue anexo, o risco de


agravamento do quadro de saúde do requerente é significativo, principalmente no que tange as doenças
cardiovasculares.
Ressalta-se que não cabe ao ente público determinar qual é o tratamento mais
adequado ao paciente, posto que tal munus cabe, exclusivamente, ao profissional de saúde habilitado, e
que acompanha a evolução do quadro clínico do autor. Nesta esteira, é certo que a médica responsável
pelo tratamento já demonstrou a real necessidade de manutenção dos medicamentos receitados,
posto que adequados ao controle e monitoramento das doenças acometidas pelo requerente.

Ante o exposto, resta inconteste que, tanto a lei quanto a jurisprudência, são
uníssonas quanto ao direito de se pleitear o fornecimento da medicação necessária, através da via
judicial, desde que não fornecidos pelo SUS.

Nesse sentido, e diante do dever constitucional que os entes federativos têm de


custear o tratamento adequado do requerente, pelo tempo que se fizer necessário, em decorrência do
princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à saúde, razão pela qual se justifica a presente
demanda, para a intervenção judicial em caráter urgente.

IV – DO DIREITO

IV.1 – Do princípio constitucional do direito à saúde e da obrigação de fazer

O direito à saude, tido como direito material e formalmente fundamental,


encontra respaldo no ordenamento jurídico brasileiro, e está previsto no art. 6º, caput, e mais
detalhadamente, no art. 196 e seguintes da Constituição Federal.

No entanto, impende ressaltar que o artigo 196 previu limitações ao direito à


saúde, consagrado pelo princípio da dignidade humana, ao estabelecer a necessidade de políticas sociais
e econômicas:

Art. 196. A sáude é direito de todos e dever do Estado, garagtido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

Nesse sentido, verifica-se que o direito à saúde e o dever do Poder Público em


garanti-lo estão condicionados à elaboração de políticas sociais e econômicas, o que faz crer que, muito
embora a saúde seja direito de todos e dever do ente estatal, esse direito não é absoluto e nem
tampouco irrestrito.
Por esta razão, o direito à saúde deve ser entendido em consonância com o
princípio da dignidade da pessoa humana, conforme assevera o artigo 1°, III, da Contituição Federal.

Em respeitosa tese, aduz o Doutrinador Marcelo Novelino Camargo:

"A dignidade da pessoa humana, em si, não é um direito fundamental,


mas sim um atributo a todo ser humano. Todavia, existe uma relação de
mútua dependência entre ela e os direitos fundamentais. Ao mesmo
tempo em que os direitos fundamentais surgiram como uma exigência da
dignidade de proporcionar um pleno desenvolvimento da pessoa
humana, somente através da existência desses direitos a dignidade
poderá ser respeitada e protegida". (in Direito Constitucional para
concursos. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2007). (não grifado no
original).

Trata-se de garantia que só pode ser suprimida com amplo atendimento à


saúde, devendo ser resguardada pelo Estado. Ou seja, o Estado assume o papel principal no
atendimento às necessidades basicas de cada cidadão, devendo cumprir suas obrigações legais
e contitucionais, acima explicitadas, sob pena de grave afronta ao principio da legalidade.

Consoante extrai-se dos termos acima explanados, o requerente é portador de


direito contitucional de fornecimento das medicações necessárias para sua saúde, pelo tempo em que
necessitar delas.

As medicações são de alto custo para sua subsistência, conforme demonstra


orçamentos anexos.

Ainda que, tratando-se de medicamentos de alto custo, subsiste a obrigação dos


entes federados do fornecimentos destes, havendo a imposição contitucional da obrigação de fazer.
Portanto, a obrigação de fazer consiste no dever de realizar-se conduta que
vincule o devedor a prestação de um serviço ou ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro,
em benefício de credor ou de terceira pessoa.

Diante do explanado, resta claro que tem-se por inequívoca a necessidade da


presente demanda, para a devida obrigação e dever dos órgão requeridos.

IV.2 – Do enquadramento do autor nos requisitos modulados no Tema 106 do STJ

No data de 25/04/2018, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça


concluiu o julgamento do recurso repetitivo, relatado pelo Ministro Benedito Gonçalvez, que fixou os
requisitos para que o Poder Judiciário determine o fornecimento de remédios fora da lista do Sistema
Único de Saúde – SUS.

A tese fixada estabeleceu que constitui obrigação do poder público o


fornecimento de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, desde que presentes,
cumulativamente, os requisitos abaixo delineados:
1 - Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e
circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;

2 - Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do


medicamento prescrito; e

3 - Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (Anvisa).

Abaixo, o aresto sobre o Tema:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. ESTADO DO RIO DE JANEIRO. RECURSO ESPECIAL
JULGADO SOB A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS.
TEMA 106. OBRIGATORIEDADE DO PODER PÚBLICO DE FORNECER
MEDICAMENTOS NÃO INCORPORADOS EM ATOS NORMATIVOS DO
SUS.
ART. 1.022 DO CPC/2015. AUSÊNCIA DE VÍCIOS. NECESSIDADE DE
ESCLARECIMENTO. VEDAÇÃO DE FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO PARA USO OFF LABEL.
1. Nos termos do que dispõe o artigo 1.022 do CPC/2015, cabem embargos de
declaração contra qualquer decisão judicial para esclarecer obscuridade,
eliminar contradição, suprir omissão de ponto ou questão sobre a qual devia
se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento, bem como para corrigir
erro material.
2. Não cabe ao STJ definir os elementos constantes do laudo médico a ser
apresentado pela parte autora. Incumbe ao julgador nas instâncias
ordinárias, no caso concreto, verificar se as informações constantes do laudo
médico são suficientes à formação de seu convencimento. 3. Da mesma
forma, cabe ao julgador avaliar, a partir dos elementos de prova juntados
pelas partes, a alegada ineficácia do medicamento fornecido pelo SUS
decidindo se, com a utilização do medicamento pedido, poderá haver ou não
uma melhoria na resposta terapêutica que justifique a concessão do
medicamento. 4. A pretensão de inserir requisito diverso dos fixados no
acórdão embargado para a concessão de medicamento não é possível na via
dos aclaratórios, pois revela-se como mero inconformismo e busca de
rejulgamento da matéria. 5. No caso dos autos, faz-se necessário tão somente
esclarecer que o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de
fornecimento de medicamento para uso off label, salvo caso autorizado pela
ANVISA. 6. Embargos de Declaração acolhidos parcialmente, sem efeitos
infringentes, para esclarecer que onde se lê: “existência de registro na
ANVISA do medicamento”, leia-se: “existência de registro do medicamento
na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência”.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. UNIÃO. RECURSO ESPECIAL JULGADO SOB A
SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS. TEMA 106.
OBRIGATORIEDADE DO PODER PÚBLICO DE FORNECER
MEDICAMENTOS NÃO INCORPORADOS EM ATOS NORMATIVOS DO
SUS. ART. 1.022 DO CPC/2015. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS.
NECESSIDADE DE ESCLARECIMENTO. 1. Nos termos do que dispõe o
artigo 1.022 do CPC/2015, cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial para esclarecer obscuridade, eliminar contradição, suprir
omissão de ponto ou questão sobre a qual devia se pronunciar o juiz de ofício
ou a requerimento, bem como para corrigir erro material. 2. No caso dos
autos, não há vício a ensejar a modificação do que foi decidido no julgado.
3. Todavia, tendo em vista as indagações do embargante, é necessário fazer
os seguintes esclarecimentos: (a) o laudo médico apresentado pela parte não
vincula o julgador, isto é, cabe ao juiz avaliar o laudo e verificar se as
informações constantes nele são suficientes para a formação de seu
convencimento quanto à imprescindibilidade do medicamento; (b) a
exortação constante no acórdão embargado para que o juiz, após o trânsito
em julgado, expeça comunicação ao Ministério da Saúde e/ou CONITEC a
fim de realizar estudos quanto à viabilidade de incorporação no SUS do
medicamento deferido, deve receber o mesmo tratamento da situação prevista
no § 4º do art. 15 do Decreto n.
7.646/2011. 4. Necessário, ainda, realizar os seguintes esclarecimentos, agora
quanto à modulação dos efeitos: (a) os requisitos cumulativos estabelecidos
são aplicáveis a todos os processos distribuídos na primeira instância a partir
de 4/5/2018;
(b) quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior à 4/5/2018, é
exigível o requisito que se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ:
a demonstração da imprescindibilidade do medicamento. 5. Embargos de
declaração rejeitados. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PARTE AUTORA. RECURSO
ESPECIAL JULGADO SOB A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS
REPETITIVOS. TEMA 106. OBRIGATORIEDADE DO PODER PÚBLICO
DE FORNECER MEDICAMENTOS NÃO INCORPORADOS EM ATOS
NORMATIVOS DO SUS. ART. 1.022 DO CPC/2015. AUSÊNCIA DE
VÍCIOS. 1. Nos termos do que dispõe o artigo 1.022 do CPC/2015, cabem
embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para esclarecer
obscuridade, eliminar contradição, suprir omissão de ponto ou questão sobre
a qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento, bem como para
corrigir erro material. 2. No caso dos autos, não há vício a ensejar a
integração do que decidido no julgado, pois, não constitui omissão o mero
inconformismo com a conclusão do julgado, manifestado nas seguintes
afirmações: que o STF tem admitido o fornecimento de medicamento não
registrado na ANVISA; que a questão está sendo apreciada, em sede de
repercussão geral, pelo Supremo Tribunal Federal, mas que ainda não foi
concluído o julgamento; que o requisito de registro na ANVISA fere o
princípio da isonomia. 3. Embargos de declaração rejeitados.

PROCESSUAL CIVIL. ART. 494, I, DO CPC/2015. CORREÇÃO DE


INEXATIDÃO MATERIAL. ALTERAÇÃO DO TERMO INICIAL DA
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO REPETITIVO.
1. O inciso I do art. 494 do CPC/2015 possibilita ao julgador a correção de
ofício de eventuais inexatidões materiais no decisum. 2.
No caso dos autos, a fim de evitar dúvidas, impõe-se a alteração do termo
inicial da modulação dos efeitos. 3. Ante o exposto, de ofício, altera-se o
termo inicial da modulação dos efeitos, do presente recurso especial
repetitivo, para a data da publicação do acórdão embargado (4/5/2018).

TESE FIXADA: A tese fixada no julgamento repetitivo passa a ser: A


concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS
exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: i) Comprovação, por
meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico
que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos
fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de arcar com o
custo do medicamento prescrito; iii) existência de registro do medicamento
na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima
elencados sejam exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos
distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado, ou seja,
4/5/2018.
(EDcl no REsp 1657156/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/09/2018, DJe 21/09/2018).
Infere-se de toda a documentação anexa que o requerente preenche,
cumulativamente, os requisitos indispensáveis para a concessão dos medicamentos cotejados, como se
demonstrará:

1 - Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico
que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS

Conforme se extrai dos laudos médicos que seguem anexos, o primeiro


receituário médico, constatou a necessidade de utilização dos medicamentos abaixo:
Após ter seu pleito negado, pelas vias administrativas, o requerente, com a
autorização de sua médica, iniciou o tratamento com os medicamentos análogos, de acordo com a
proposta do SUS, e, em decorrência disso, houve significativa piora do quadro clínico:

Nessa esteira, restou inconteste que, com o esquema proposto pelo SUS, houve
a confirmada “piora progressiva”, e o medicamento metformina, também do protocolo do SUS,
mostrou-se ineficaz.

Em consulta efetivada em Janeiro do corrente ano, o requerente só foi


dispensado do consumo de cloridrato de duloxetina, permanecendo o restante do tratamento intacto,
consoante receituário que segue anexo.

Ante a tentativa frustrada de enquadramento dos medicamentos fornecidos pelo


Sistema Único de Saúde, restou inconteste que as substituições sugeridas, para viabilizar a concessão de
medicamentos gratuitos, se revelaram prejudiciais ao quadro de saúde do autor.

Em decorrência do agravamento da saúde do requerente, foi reestabelecido o


protocolo anteriormente receitado, com a substituição dos medicamentos fornecido pelo SUS, pelos já
anteriormente indicados pela médica responsável pelo tratamento do paciente, restando excelente os
resultados de controle das doenças que acometem o requerente. Assim sendo, demonstrado o
cumprimento do primeiro requisito.

2 - Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento prescrito

Preliminarmente, necessário ressaltar que ao se exigir a hipossuficiência para o


recebimento judicial de medicamentos não padronizados, os parâmetros considerados divergem das
condições de hipossuficiência para concessão de outros benefícios, ao exemplo, a gratuidade da justiça.

Dito isso, é inconteste que dependendo do valor do tratamento, mesmo que a


pessoa tenha bons rendimentos e patrimônio razoável, esta pode não ter condições de arcar com os
custos deste. Ademais, diferentemente da prestação de um serviço de assistência judiciária gratuita, o
fornecimento de medicamento é uma prestação continuada, já que muitos tratamentos de saúde devem
ser feitos pela vida toda.

Ainda que não se encontre na doutrina, muito menos em entendimentos


jurisprudenciais qual o patamar financeiro exigido, a questão da hipossuficiência de recursos, para a
concessão de tratamentos e medicamentos pelo Sistema Único de Saúde, também é pouco abordada em
decisões judiciais, até mesmo porque, como já dito, trata-se de questão relativa, pois, dependendo do
custo e do tempo de duração do tratamento pleiteado, até mesmo pessoas com bom poder aquisitivo
podem ser consideradas hipossuficientes para fazerem jus ao fornecimento de medicamentos que não
constem do rol do SUS.

Como já salientado no introito da presente peça, o requerente aufere renda


mensal, proveniente de aposentadoria, no montante bruto equivalente a R$ 6.500,00 (seis mil e
quinhentos reais). Além dos gastos ordinários, necessários para a subsistência de qualquer pessoa, o
autor despende o valor médio mensal de R$ 1.400,00 (mil e quatrocentos reais) com os medicamentos
necessários para a manutenção da sua saúde. O valor mensal gasto com remédios ultrapassa 20%
(vinte por cento) da renda mensal percebida pelo autor.

Demais disso, e também como já delineado, as enfermidades que acometem o


requerente são permanentes, não possuindo tratamento definitivo, mas tão somente controle de avanço
das doenças, através do uso contínuo de tais fármacos por tempo indeterminado.

Por essas razões, a hipossuficiência do autor restou demonstrada, não somente


pelo comprometimento de sua renda, em percentual superior à 20% (vinte por cento) de seus
rendimentos, como também pela uso vitalício dos fármacos necessários para controle e regressão de
suas comorbidades.

3 - Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Impende ressaltar que todos os medicamentos receitados pela profissional de


saúde responsável pelo tratamento do autor, encontram-se devidamente registrados na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, consoante se demonstrará:
- Insulina Degludeca + Liraglutida: Medicamento referência Xultophy. Registro Anvisa nº
1176600330038;

- Cloridrato de Pioglitazona: Medicamento referência Stanglit . Registro Anvisa nº 102351019;

- Dapagliflozina + Cloridrato de metformina: Medicamento referência Xigduo XR. Registro Anvisa nº


1161802620081;

- Rosuvastatina + Ezetimiba: Medicamento referência Plenance EZE. Registro Anvisa nº 1003302100067.

- Ácido acetilsalicílico + Carbonato de magnésio + Glicinato de alumínio: Medicamento referência


Somalgin Cardio. Registro Anvisa nº 1356906470145.

Posto isso, restou demonstrada a última e necessária condição para o


enquadramento do autor no rol de requisitos para a concessão de medicamento pelo Sistema Único de
Saúde – SUS.

V– DA NECESSÁRIA CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos temos do artigo 300, do Código de Processo Civil a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco
ao resultado util do processo.

Indiscutível reconhecer, como bem caracterizada, a urgência no fornecimento dos


medicamentos requisitados por médica credenciada à rede pública de saúde.

Na presente, tais requisitos são perfeitamente caracterizados, conforme delineado:

- Perigo de dano: Trata-se de grave risco de vida ao autor, devido à tanta espera, o que não se pode
prolongar com o trâmite processual da presente demanda, ou seja, o enfermo não dispõe nem mesmo de
medicamentos para o corrente mês e, conforme prova incontroversa apresentada, resta claro os
padecimentos das moléstias e a recomendação dos medicamentos.

Não obstante, conforme descrito pela própria profissinal da saúde responsável pelo
tratamento do requerente, o risco de irreversibilidade, em virtude da possibilidade de desenvolvimento de
doenças cardiovasculares, se faz urgente e incontroversa a presente liminar.

Nesse sentido, leciona Humberto Theodoro Junior:

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com
"(...) um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse
demonstrado pela parte", em razão do "periculum in mora", risco esse que
deve ser objetivamente apurável, sendo que e a plausibilidade do direito
substancial consubstancia-se no direito "invocado por quem pretenda
segurança, ou seja, o "fumus boni iuris" (in Curso de Direito Processual
Civil, 2016. I. p. 366).

- Probabilidade do direito: A probabilidade do direito encontra-se bem evidenciada nos laudos médicos
que atestam a necessidade dos fármacos receitados, bem como o agravamento da condição do requerente
ante a utilização dos remédios sugeridos pelo SUS, consoante documentação colacionada a presente peça
vestibular. Ademais, resta perfeitamente demonstrada, diante do direito do autor, perante o Estado, em
garantir as condições mínimas de dignidade, devendo garantir o acesso ao único meio de garantir uma boa
saúde e vida digna.

Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para aguardar o despecho
do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em obrigar o


autor a esperar o tempo necessário à produção da provas dos fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos, uma vez que o autor já se
desincumbiu do ônus da prova e a demora inerente à prova dos fatos, cuja
prova incumbe ao réu certamente o beneficia." (MARINONI, Luiz
Guilherme. Tutela de Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017.
p.284).

Em decisão recente, versaram Nossos Tribunais sobre este mesmo assunto:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. DIREITO À


SAÚDE. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA.
FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTO. HIPOSSUFICIÊNCIA DO
REQUERENTE. REGISTRO NA ANVISA. IMPRESCINDIBILIDADE DO
FÁRMACO.
1. A questão posta nos autos diz respeito à concessão gratuita de medicamentos
não incorporados em atos normativos do Sistema Única de Saúde – SUS.

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com
2. A tutela provisória de urgência, em sua modalidade antecipada, objetiva
adiantar a satisfação da medida pleiteada, garantindo a efetividade do direito
material discutido. Para tanto, nos termos do art. 300 do atual Código de
Processo Civil, exige-se, cumulativamente, a demonstração da probabilidade do
direito (fumus boni iuris) e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo (periculum in mora).

3. Ainda que no campo da definição de políticas públicas, seja possível priorizar a


tutela das necessidades coletivas, não se pode, com esse raciocínio, deixar de
promover a guarda dos direitos fundamentais, especialmente no que concerne ao
chamado mínimo existencial, quando não houver, por parte do Poder Público, o
devido suprimento às necessidades básicas do indivíduo.

5. Não se cogita, igualmente, de indevida ingerência do Poder Judiciário na


gestão de políticas públicas, visto que, em situações excepcionais, é cabível
controle judicial para determinar que a Administração Pública cumpra
determinada obrigação de fazer, cuja inadimplência possa comprometer a real
eficácia dos direitos fundamentais, sem que isso configure violação do princípio
da separação de poderes.

6. No julgamento do REsp. 1.657.156/RJ, pelo C. Superior Tribunal de Justiça, foi


fixada a seguinte tese, acerca do fornecimento de medicamentos não distribuídos
gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde – SUS: a concessão dos medicamentos
não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos
seguintes requisitos: i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e
circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento , assim como da ineficácia,
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; ii)
incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; iii)
existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados
pela agência.

7.No caso em comento, a insuficiência de recursos do demandante para arcar


com o tratamento pretendido foi demonstrada por documentos juntados aos
autos originais (ID 253674640 e 253675221). Verifica-se também, em consulta
ao Portal da ANVISA (http://portal.anvisa.gov.br/consulta-produtos-registrados),
que o medicamento Ofev (Esilato de Nintedanibe) encontra-se atualmente
registrado pela Agência Reguladora, sob o número 103670173 (processo nº
25351.456304/2015-63).

8. Os relatórios médicos acostados (ID 253675225) atestam o diagnóstico do


paciente e confirmam a indispensabilidade do medicamento para a melhora de
sua condição de saúde, notadamente porque os tratamentos à base de corticoide,
acetilcisteina e imunossupressores já foram empregados sem êxito.

9. Identificada a probabilidade do direito pretendido, uma vez que a hipótese em


tela satisfaz os requisitos exigidos pela jurisprudência para concessão de

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com
medicamentos não incorporados em atos normativos do Sistema Único de Saúde
- SUS. Considerando-se os valores sociais em cotejo, o risco da irreversibilidade
da demanda se opera, de maneira muito mais intensa, em desfavor da paciente,
cuja saúde encontra-se fragilizada, do que em relação ao Estado que poderá vir
a arcar, no máximo, com prejuízo financeiro.

10. Agravo de instrumento provido. (TRF 3ª Região, 3ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO


- 5018988-90.2022.4.03.0000, Rel. Desembargador Federal CONSUELO YATSUDA MOROMIZATO
YOSHIDA, julgado em 30/11/2022, DJEN DATA: 05/12/2022) (não grifado e/ou destacado no
original).

Portanto, requer-se que seja deferida a presente liminar para a imediata liberação
dos medicamentos necessários INDICADOS AO TRATAMENTO , sob pena de multa diária à ser
fixada por este Juízo, pelo descumprimento.

VI – DO VALOR DA CAUSA

Nos termos da mais pacífica jurisprudência, o valor a ser dado à causa, em


demandas análogas, por se tratar de prestação continuada e de prazo indeterminado, deverá corresponder à
prestação anual.
APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ESTADO DO RIO DE
JANEIRO E MUNICÍPIO DE PARAÍBA DO SUL. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS. VALOR DA CAUSA.

1. O valor da causa guarda correspondência com o proveito econômico


pretendido pela parte autora. É o que se depreende do disposto nos artigos 291 e
seguintes do Código de Processo Civil de 2015.

2. Segundo a regra específica do art. 292, § 2º, do CPC, para o caso de cobrança
de prestação continuada e de prazo indeterminado, como se dá no presente, deve
a causa corresponder à prestação anual.

3. Orçamento apresentado pela parte autora. Valor da causa que se corrige.


Sentença que se retoca nesta parte.

4. Recurso conhecido a que se dá provimento. (0001511-44.2019.8.19.0040 - APELAÇÃO.


Des(a). RICARDO COUTO DE CASTRO - Julgamento: 20/07/2021 - SÉTIMA CÂMARA CÍVEL).

Assim sendo, e considerando que o valor médio mensal de custo dos medicamentos
é de R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais), o valor a ser atribuído corresponderá a somatória de doze
parcelas, resultando em R$ 15.600,00 (quinze mil e seiscentos reais).

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com
VII – DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer:

a) pela concessão das beneses da gratuidade da Justiça, nos termos do artigo 98, do
Código de Processo Civil;

b) pelo deferimento da tramitação prioritária, por ser o autor pessoa idosa com 70
anos, consoante delineado no artigo 1.048 do Código de Processo Civil,

c) pela concessão do pedido de tutela de urgência, inaudita altera pars, para


determinar que o ente requerido forneça os medicamentos necessários para o devido tratamento, sendo eles,

 Rosuvastatina cálcica 10mg + Ezetimiba 10mg;


 Insulina Degludeca 100 ui/ml + Liraglitida 3,6 mg/ml – 32 ui;
 Cloridrato de pioglitazona 30mg e
 Dapaglifozina 5 mg + Metformina 1000 mg,
 Ácido Acetilsalicílico 81 mg + Carbonato de Magnésio 24,30 mg +
Glicinato de Alumínio 12,15 mg
consoante receitado pela médica responsável pelo tratamento do autor, sob pena de incorrer em multa diária à
ser fixada pelo MM. Juízo;

d) pela citação do ente federativo requerido, para, querendo, responder a presente


demanda, no prazo legal;

e) seja dada total procedência à ação, para confirmados os efeitos da tutela


concedida, e no mérito, sejam as requeridas condenadas à obrigação de fazer concernente ao fornecimento dos
seguintes medicamentos:

 Rosuvastatina cálcica 10mg + Ezetimiba 10mg;


 Insulina Degludeca 100 ui/ml + Liraglitida 3,6 mg/ml – 32 ui;
 Cloridrato de pioglitazona 30mg e
 Dapaglifozina 5 mg + Metformina 1000 mg,
 Ácido Acetilsalicílico 81 mg + Carbonato de Magnésio 24,30 mg +
Glicinato de Alumínio 12,15 mg
pelo prazo que se fizer necessário para o tratamento da enfermidade do requerente, nos termos da lei;

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com
f) pela condenação da ré em custas judiciais e honorários advocatícios, além da
cominação de multa diária, caso não seja cumprido, espontaneamente, o determinado em caráter liminar;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos e


cabíveis à especie, especialmente pela prova documental, e pericial, caso seja necessária.

Por derradeiro, manifesta o requerente pelo não interesse na audiência


conciliatória.

Atribui-se à causa o valor de R$ 15.600,00 (quinze mil e seiscentos reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Itu/SP, 10 de abril de 2023.

RENATA AP. CALAMANTE


OAB/SP 277.525

(11) 99011-0994 19
renatacalamante@outlook.com

Você também pode gostar