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AO DOUTO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE RELAÇÕES DE CONSUMO DA COMARCA

DE SÃO PAULO – SP

Fernanda, brasileira, servidora pública, XXXX, XXX, e-mail: X XXX, portadora da carteira de
Identidade nº XXXXX, expedida pelo SSP-SP, inscrita no CPF nº XXXXX, residente e domiciliada
na XXXXXXXXXX São Paulo, CEP: XXXX , por meio de seu advogado ora intermediado por seu
patrono ao final firmado – instrumento procuratório acostado, esse com endereço eletrônico e
profissional inserto na referida procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no Art. 287
do Código de Processo Civil, indica-o para as intimações que se fizerem necessárias, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento Art. 5º XXXII da
Constituição Federal, Lei nº 8.078/90 e demais dispositivos legais aplicáveis, ajuizar a presente:

AÇÃO DE REPACTUAÇÃO DE DÍVIDAS (LEI DE SUPERENDIVIDAMENTO) C/ OBRIGAÇÃO DE


FAZER COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA.

Em face do BANCO ITUBANK CNPJ XXXXX, BANCO NESCO CNPJ XXXXX e FINANCEIRA BOA
GRANA, pelos motivos abaixo aduzidos:

I- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: Art. 6 VIII do CDC, Art. 373, § 1º do CPC.

Inicialmente verifica-se que o presente caso se trata de relação de consumo, sendo amparada
pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que fornecedores e
consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que concerne a matéria
probatória.

Tal legislação, faculta ao magistrado determinar a inversão do ônus da prova em favor do


consumidor conforme seu artigo 6º, VIII:

"Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]
VIII- A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência" (grifamos).

Da simples leitura deste dispositivo legal, constata-se, sem maior esforço, ter o legislador
conferido ao arbítrio do juiz, de forma subjetiva, a incumbência de presentes o requisito da
verossimilhança das alegações ou quando o consumidor for hipossuficiente, poder inverter o
ônus da prova.

Assim, presentes a verossimilhança do direito alegado e a hipossuficiência da parte autora


para o deferimento da inversão do ônus da prova no presente caso, dá-se como certo seu
deferimento.

Contudo, os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da


inversão do ônus da prova, não exoneram a autora do ônus de fazer, a seu encargo, prova
mínima do fato constitutivo do alegado direito.

II – JUSTIÇA GRATUITA:

A parte Autora requer desde logo a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, em
consonância ao Princípio do Pleno Acesso à Justiça nos termos do artigo 5º, incisos XXXV e
LXXIV da Constituição Federal Brasileira de 1988, por ser a Autora pobre no sentido jurídico do
termo, com esteio nos artigos Art. 98 e 99 parágrafo 4º do CPC por não gozar de meios
financeiros suficientes a patrocinar a presente demanda, fazendo juntada de declaração de
pobreza.

III - DOS FATOS

A autora é cliente dos Bancos, ora Réus e atualmente veem sua família encarar grande
dificuldade financeira neste momento de profundo crise econômica.

Ocorre que a autora não tem por ora, como imaginar mais soluções engenhosas para honrar
tantos compromissos bancários já comprometendo profundamente o sustento da família a
qual é provedora. Insta salientar que os documentos anexos demonstram que a autora possui
os seguintes empréstimos contratados:
1) Junto ao 1º Réu.

EMPRÉSTIMO VALOR DESCONTO MENSAL

Discriminar os empréstimos:

1) Banco Itubank

TOTAL: R$ 700.000.00

2) Junto ao 2º Réu

EMPRÉSTIMO VALOR DESCONTO MENSAL

Discriminar os empréstimos:

1) Empresa de cartão de crédito / Banco Nesco

TOTAL: R$ 300.000.00

3) Junto ao 3º Réu

EMPRÉSTIMO VALOR DESCONTO MENSAL

Discriminar os empréstimos:

1) Empresa de cartão de crédito / Financeira Boa Grana

TOTAL: R$ 100.000.00
Dessa forma, constata-se que a autora tem empréstimos com os réus citado na discriminação
acima ,totalizando uma dívida no montante de R$ 1.100.000.00 ( um milhão e sem mil reais)

Outrossim, por mês são descontados, xxxxxx, ou seja, a autora recebe hoje menos de R$ xxxx
líquidos os quais correspondem a 100% (cem por cento) da renda familiar, inviabilizando o
custeio das despesas familiares, violando diversos dispositivos Constitucionais e infra, tal
como: a Dignidade da Pessoa Humana.

Até a propositura desta demanda, a parte autora possui diversas dívidas de consumo, vencidas
e vincendas, as quais deverão ser objeto do plano compulsório de pagamento.

Por oportuno, a parte autora declara que nenhuma dessas dívidas foram contraídas de má-fé
ou mediante fraude. Também não se trata de dívidas oriundas de contratos de aquisição de
produtos ou serviços de luxo de alto valor. Ao contrário, as dívidas foram firmadas com o pleno
propósito de serem adimplidas, todavia houve uma verdadeira situação de
superendividamento ativo inconsciente.

Portanto, a autora é uma pessoa idônea, servidora pública mais de 20 (vinte) anos não
restando outra opção senão requerer uma limitação dos descontos referentes a empréstimos
contratados no patamar de 30% (trinta) por cento de seus rendimentos líquidos.

IV- DO DIREITO

IV. I- DA VIOLAÇÃO À CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O PRIMEIRO fundamento jurídico para a propositura desta ação encontra-se fulcro na Carta da
Republica, no Art. 1º III:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Por isso que a Constituição brasileira elenca a dignidade da pessoa humana como valor
supremo, como um dos fundamentos da nossa sociedade. Todos os seres humanos,
independentemente de qualquer condição, devem ser tratados com a respectiva dignidade. É
um atributo que toda pessoa possui. A dignidade da pessoa humana é o núcleo em torno do
qual gravitam todos os outros direitos fundamentais e deve ser analisada a partir da realidade
do ser humano em seu contexto social.

IV. II DA LEI DE SUPERENDIVIDAMENTO

Lei de Superendividamento Publicada em 02 de julho de 2021, a Lei nº 14.181/2021 do


superendividamento traz uma série de regras e princípios a serem observados pelas empresas,
em especial aquelas que concedem crédito. Com o foco em dar maior proteção aos
consumidores em vulnerabilidade, a exemplo dos idosos, a lei dispõe de mecanismos para
inibir o superendividamento.

Tem-se por superendividamento:

Art. 54-A ao CDC, "entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o


consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo,
exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação."

A nova lei traz como princípio a prevenção e tratamento do superendividamento como forma
de evitar a exclusão social do consumidor, bem como a instituição de mecanismos de
prevenção, conciliação, tratamento extrajudicial e judicial do superendividamento e de
proteção do consumidor pessoa natural e a preservação de um mínimo existencial. (Art. 4º,
inc. X e Art. 5º, inc. I do CDC).

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a exclusão social do


consumidor.
Art. 5º Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público
com os seguintes instrumentos, entre outros:

I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;

A Lei do superendividamento permite ao consumidor endividado apresentar a todos os seus


credores, de uma só vez, uma proposta para pagamento das dívidas que pode alcançar o prazo
de até 5 anos. Ao propor a ação judicial de repactuação de dívidas, poderá o consumidor,
respeitando suas possibilidades financeiras, elaborar um plano de pagamento que contemple
todos os seus credores. Em audiência designada pelo juízo, que poderá ser presidida por um
conciliador, os credores serão ouvidos e poderão se manifestar a favor ou contra o plano de
pagamento apresentado.

Nos termos do Art. 54-A, § 2º a repactuação prevista na lei se refere às dívidas relacionadas a
quaisquer compromissos financeiros assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive
operações de crédito, compras a prazo e serviços de prestação continuada, tendo em vista que
todas as dívidas são de natureza consumerista é totalmente cabível a presente demanda.

Ademais, cumpre enfatizar que a lei prevê a possibilidade de repactuação de dívidas vencidas e
vincendas, ou seja, mesmo que o compromisso ainda não tenha vencido, pode ser incluído no
plano de repactuação, reduzindo o valor da parcela de modo a harmonizar com o
comprometimento máximo da minha renda (30%).

IV.III. DA CONFIGURAÇÃO DA SITUAÇÃO DE SUPERENDIVIDAMENTO

DA SITUAÇÃO REMUNERATÓRIA E PATRIMONIAL DA PARTE AUTORA E DE SEU NÚCLEO


FAMILIAR:

A parte autora possui duas fontes de renda e apesar da renda e patrimônio retratados, a
verdade é que a parte autora acabou por contrair, de plena boa-fé, inúmeras dívidas de
consumo por nunca ter recebido qualquer tipo de educação financeira, assim como porque os
credores deixaram de praticar o crédito responsável, ofertando e fornecendo crédito sem a
devida avaliação da capacidade financeira da parte autora (arts. 6º, XI c/c 54-D, II, CDC), como
será mais bem detalhado no tópico seguinte.
Por oportuno, a parte autora declara que nenhuma dessas dívidas foram contraídas de má-fé
ou mediante fraude. Também não se trata de dívidas oriundas de contratos de aquisição de
produtos ou serviços de luxo de alto valor. Ao contrário, as dívidas foram firmadas com o pleno
propósito de serem adimplidas (§ 3º, do. Art. 54-A, CDC), todavia houve uma verdadeira
situação de superendividamento ativo inconsciente.

Por fim, ressalta-se que o plano de pagamento não poderá ser apresentado neste momento.
Primeiro, porque será necessário que esse Juízo enfrente todas as abusividades contratuais
apontadas nesta petição. Ademais, a parte autora é pessoa hipossuficiente devendo ser
preservado o mínimo existencial conforme explicação abaixo.

IV.IV DO MÍNIMO EXISTENCIAL

A falta de regulamentação da figura do mínimo existencial previsto no Código de Defesa do


Consumidor, a partir das atualizações trazidas pela Lei 14.181/21, não é óbice à repactuação
de dívidas e nem ao processo de superendividamento.

Com isso, até que seja editado o regulamento, compreende-se que o melhor caminho é seguir
o precedente do Superior Tribunal de Justiça no qual compreendeu que os descontos devem
se limitar a 30% da remuneração do devedor, porque somente assim é que haverá a
preservação do mínimo existencial e da dignidade da pessoa humana.

Essa limitação é imprescindível para que a parte autora faça frente às suas necessidades vitais
com alimentação, habitação, vestuário, saúde, transporte e higiene, e provados pelos
documentos anexos.

IV.V DAS SANÇÕES PELA PRÁTICA DE CRÉDITO IRRESPONSÁVEL E O NECESSÁRIO ESTÍMULO À


REPACTUAÇÃO VOLUNTÁRIA DE DÍVIDAS

A situação de superendividamento da parte autora, sem qualquer dúvida, derivou da prática


do crédito irresponsável por parte dos credores.

Quando foram ofertados e concedidos empréstimo mediante débito em conta para a parte
autora, esta já possuía empréstimos consignados que tomam todo o limite de margem
consignável de 30% para empréstimo.

Se além do crédito consignado que já possuía, a parte autora também necessitava fazer frente
às suas despesas básicas relacionadas ao seu mínimo existencial, tem-se muito claro que não
houve a mínima avaliação da capacidade de pagamento da parte autora, como também não
houve o seu preciso esclarecimento sobre os riscos do superendividamento.

Com efeito, tem-se que a postura das requeridas foi de encontro com o que preceitua o art.
6º, XI e art. 54-D, II, ambos do CDC:

O crédito responsável é a concessão de empréstimo em contexto de informações claras,


completas e adequadas sobre todas as características e riscos do contrato. A noção de crédito
responsável decorre do princípio da boa-fé objetiva e de seus consectários relacionados à
lealdade e transparência, ao dever de informar, ao dever de cuidado e, até mesmo, ao dever
de aconselhamento ao consumidor. 4. Constitui dever do agente financeiro, na fase pré-
contratual, analisar a situação econômica do consumidor, seu perfil, suas necessidades e,
dentre as inúmeras modalidades de crédito disponíveis, sugerir. Se for o caso. A contratação
do empréstimo que está mais adequado ao momento, aos propósitos, necessidades e
possibilidades orçamentárias do consumidor. 5. No presente caso, constata-se que a soma dos
descontos dos empréstimos consignados em folha de pagamento e aqueles realizados
diretamente em conta corrente comprometem integralmente os proventos de aposentadoria
da autora. Observa-se que a margem consignável em folha está de acordo com o art. 116, § 2º,
da Lei Complementar Distrital 840/11. Todavia, com relação aos descontos efetivados
diretamente em conta corrente, a sua limitação a 30% (trinta por cento) do valor líquido da
aposentadoria é medida que se impõe para preservação do mínimo existencial. 6. Recurso
conhecido e parcialmente provido. (TJDF; AGI 07294.XXXXX-92.2021.8.07.0000; Ac. 138.6966;
Sexta Turma Cível; Rel. Des. Leonardo Roscoe Bessa; Julg. 17/11/2021; Publ. PJe 30/11/2021)

Como consequência disso, as requeridas deverão suportar a redução de todo e qualquer


acréscimo ao valor principal de cada contrato, na forma do parágrafo único do art. 54-D do
CDC.

II JORNADA DE PESQUISA CDEA - Enunciado 6. Os deveres de informação, de esclarecimento,


de avaliação da situação financeira do consumidor previstos nos artigos. 52, 54-B, 54-C e 54-D,
são a base do crédito responsável junto com os deveres de entrega da cópia do contrato, de
verificação da margem consignada, de pesquisa nos bancos de dados, de prestar uma
informação leal e útil à compreensão dos riscos e ônus da contratação, sob a pena de incorrer
na revisão-sanção do parágrafo único (art. 54-D parágrafo único). Autoras: Prof. Dr. Bruno
Miragem, Profa. Dra. Andréia Rangel e Profa. Dra. Dr. h. c. Claudia Lima Marques

Aqui a redução deve se dar em grau máximo, preservando-se apenas o principal e a correção
monetária prevista no contrato (§ 4º do art. 104-C, CDC), porque é gravíssima a conduta dos
fornecedores de comprometerem praticamente a integralidade do salário da parte autora com
empréstimos com pagamento em débito conta. Além disso, capacidade financeira da parte
autora impede de realizar o seu mínimo existencial, como já ilustrado nos tópicos anteriores.
De mais a mais, é importante que a redução seja em grau máximo para que se estimule a
adesão à fase repactuação de dívidas amigável. Sem essa medida a fase de repactuação vai ser
solenemente ignorada pelos credores, pois saberão que nada impactará seu crédito se deixar
chegar na fase do plano compulsório.

Na hipótese de não se excluir todos os encargos, é razoável que se reduza os juros


remuneratórios do contrato para a mínima taxa legal atualmente vigente, qual seja, 1% ao
mês, conforme se extrai da interpretação sistemática do art. 591 c/c art. 406 do Código Civil
em conjugação com o art. 1º da Lei da Usura (decreto nº 22.626/33)

IV.VI DA REVISÃO DE CLAÚSULAS ABUSIVAS

Em relação aos contratos firmados com os credores, é necessária a intervenção do Estado-juiz


para declarar a abusividade da cláusula contratual de que fixou juros remuneratórios,
porquanto estão completamente díspares da taxa média do Banco Central do Brasil.

A revisão dos juros remuneratórios de contratos bancários já foi objeto de recurso especial
repetitivo, onde o Superior Tribunal de Justiça assentou ser possível a revisão do encargo
quando: desvantagem exagerada para o consumidor e houver relação de consumo.

Portanto, o que se vê é a busca pelo enriquecimento sem causa das Demandadas, que se
aproveita da fragilidade dos consumidores para formar contratos com extrema desvantagem
para estes.

A propósito, é oportuno dizer que o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do AgInt no


REsp XXXXX/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
04/05/2020, DJe 12/05/2020 acabou por entender como abusiva a seguinte situação
contratual:

Trecho do voto vencedor: “Nesse ponto, importante trazer a lume que o acórdão estadual
determinou a limitação, pois entendeu "verificada a abusividade na exigência de taxas de juros
remuneratórios de 17,46% ao mês e 608,48% ao ano (fls. 81-2), em razão da taxa apurada pelo
BACEN, para o mesmo período e modalidade contratual (Juros rotativos) ser de 14,23% ao mês
e 393,65% ao ano, necessária a limitação, salvo se a taxa contratada for mais favorável ao
consumidor" (fl. 182 e-STJ). Importante atentar que no caso a taxa apurada anualmente
revela-se bem superior a mensal, chegando quase ao dobro da taxa anual média apurado pelo
Banco Central.”
Ora, se nesse caso citado do Tribunal da Cidadania a diferença entre a taxa contratual e a taxa
média do Bacen era de 22,69%, aqui também está justificada a abusividade do ponto de vista
concreto.

Essa abissal diferença é a grande prova da violação dos princípios bases da política nacional da
relação de consumo por parte da Demandada, em especial a boa-fé objetiva e o equilíbrio na
relação entre consumidores e fornecedores (art. 4º, III, CDC).

Dessa forma, deve ser presumido o exagero da cláusula contratual em debate, na forma do §
1º do art. 51 do CDC.

Por essas razões, há de se declarar a abusividade das cláusulas contratuais, determinando-se a


redução da taxa de juros remuneratórios do contrato para a média de mercado, qual seja,
1,63% ao mês e 21,29% ao ano.

IV.VII DA Recomendação CNJ nº 125/21 e Decreto Judiciário número 131/23 TJ/BA

Conforme a recomendação do CNJ, bem como Decreto Judiciário, o formulário se encontra em


anexo junto aos Dados socioeconômicos, bem como, Mapa dos Credores

IV. VIII TUTELA PROVISÓRIA

Independentemente da natureza da tutela provisória de urgência (antecipada ou cautelar),


estabelece o novo Código de Processo Civil que seus requisitos gerais são: a) probabilidade do
direito; e, b) perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300 CPC).

Os elementos coligidos na inicial e neste plano de pagamento sumariamente demonstram a


verossimilhança dos fundamentos deduzidos na exordial, isto é, que a parte autora está em
situação de completo superendividamento especialmente por conta da postura agressiva dos
fornecedores de crédito na fase de oferta.

Ora, se tivesse havido o devido respeito aos deveres anexos da boa-fé10e fosse respeitada a
garantia do crédito responsável (art. 6º, XI, CDC) com realização da análise da devida
capacidade de pagamento da parte autora (inciso II do art. 54-D do CPC), certamente ela não
estaria com sua remuneração e mínimo existencial comprometidos como está.
Hoje os empréstimos/financiamentos consignados e os para pagamento em conta corrente
descritos nas tabelas acima consomem mais % da remuneração líquida a parte autora, o que
jamais deveria ser tolerado diante necessária proteção ao “salário” determinada pela
Constituição da Republica (art. 7º, X).

No tocante aos credores que não compareceram na audiência de conciliação, a probabilidade


do direito à suspensão da exigibilidade das dívidas é induvidosa, porque os documentos
anexos provam a ausência mesmo tendo havida a devida notificação para o comparecimento
ao ato, inclusive com a advertência de sanção.

Portanto, há claríssima probabilidade de ser acolhido o pleito futuro de limitação dos valores
que incidem sobre remuneração da parte superendividado.

O segundo requisito, que pode ser sintetizado como sendo perigo da demora, decorre do fato
de que o grau de superendividamento atual da parte autora não lhe permitir fazer frente ao
seu mínimo existencial. Com efeito, não é razoável que se espere até o final tramitar desta
ação para que a dignidade da parte autora seja restabelecida.

A espera neste caso prejudica severamente a parte, porque a falta de renda lhe priva de bens
vitais, tais como: alimentação, saúde, energia, água, vestuário, moradia etc. E isso
compromete a própria sanidade mental do superendividado, o que em muitos casos tem
desaguado no suicídio.

Ainda, é de se considerar como plenamente reversível a medida a ser concedida, haja vista que
a retomada dos pagamentos no valor contratual pode ser feita a qualquer momento.

Dessa forma, é justo que se limite os descontos que atualmente incidem sobre a remuneração
da parte autora, como bem decidiram recentemente o TJDFT11 e o TJRJ, sem que lhe seja
exigido o oferecimento de caução real ou fidejussória, conforme autoriza o § 1º do já citado
artigo 300 do Código de Ritos.

Dessa arte, merece ser concedida a tutela de urgência no caso presente, em relação aos
credores BANCO xxxxx e xxxxxxx , tendo em vista a verossimilhança das alegações, a prova
inequívoca da existência do contrato entre as partes, requer a parte autora, nos termos dos
Arts. 294, 297, 300 e 536 e 537 do Código de Processo Civil, digne-se Vossa Excelência de
antecipar a tutela ora requerida, determinando Liminarmente, Limitar os débitos dos
contratos e mútuo ao teto de 30% sobre os vencimentos líquidos da Requerente, ou seja,
R$XXXXXX (XXXXXXXreais), conforme plano de repactuação de dívida; sob pena de multa diária
de R$500,00 (quinhentos reais);
Sendo assim, tal princípio exige ações capazes de garantir sua eficácia. Melhor dizendo, a
Dignidade da Pessoa Humana, sem garantia, não atinge seu fim.

IV. VIII CONCLUSÃO

Restou fartamente demonstrado neste capítulo da petição que a parte autora apresenta um
quadro de dívidas impagável neste momento com a renda e patrimônio que possui, o que
inclusive tem prejudicado absolutamente seu mínimo existencial.

V – DOS PEDIDOS.

Ante o exposto requer de Vossa Excelência:

a) A inversão do ônus da prova, conforme o Art. 6 VIII do CDC, Art. 373, § 1º, do CPC;

b) Seja concedido o benefício da Justiça gratuita em consonância ao Princípio do Pleno Acesso


à Justiça nos termos do artigo 5º, incisos XXXV e LXXIV da CF, por ser a parte Autora pobre no
sentido jurídico do termo, com esteio nos artigos 98 e 99 4º do CPC; (Declaração anexa);

c) Tutela provisória de natureza antecipada de urgência:

d) Tendo em vista a verossimilhança das alegações, a prova inequívoca da existência do


contrato entre as partes, requer a parte autora, nos termos dos Arts. 294, 297, 300 e 536 e 537
do Código de Processo Civil, digne-se Vossa Excelência de antecipar a tutela ora requerida,
determinando Liminarmente, Limitar os débitos dos contratos e mútuo ao teto de 30% sobre
os vencimentos líquidos da Requerente, ou seja, R$ xxxxx (xxxxx reais), da Requerente,
conforme plano de repactuação de dívida; sob pena de multa diária de R$500,00 (quinhentos
reais);

e) No mérito, requer a conversão da tutela provisória em definitiva, por ser questão da mais
pura e lídima Justiça;

f) Designar audiência conciliatória nos termos do Art. 104-A do CDC, com a presença dos
credores Requeridos e que o não comparecimento implique a cominação estipulada no § 2ºdo
artigo o supra;
g) Em relação aos credores B e B , seja suspensa a exigibilidade dos seus créditos, proibindo-se
a cobrança a realização de qualquer tipo de cobrança (extrajudicial ou judicial) do crédito,
como também seja interrompida a aplicação de encargos moratórios desde a audiência
conciliatória;

h) A citação e intimação das partes demandadas, por meio do eletrônico (art. 246, CPC), para
apresentar defesa, na forma do § 2º do art. 104B, do CDC;

i) Sejam, ainda, condenados os requeridos ao pagamento das despesas processuais, custas e os


honorários advocatícios no percentual de 20 (vinte por cento) % do valor da causa.

V – DAS PROVAS.

A parte autora pretende provar todos os fatos acima alegados por meio da apresentação de
documentos, depoimento pessoal do réu e oitiva de testemunhas.

VI- DO VALOR DACAUSA

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (Um mil reais), para fins fiscais.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 17 de Abril de 2023

Rafael Siqueira Leite

OAB/(RJ) XXXXX.

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