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AO JUÍZO DA __ª VARA CIVEL DE IJUÍ/RS

ÉRICO ANGONESI FAVERO, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o n°


014.600.190-75, inscrito no RG sob o n° 0400923553, residente e domiciliado na
Rua Alfredo Glitz, número 85, Bairro Independência, Ijuí/RS, CEP 98700-000,
vem respeitosamente à presença de V. Exa., por seus procuradores
(procuração anexa, doc. 01), que recebem intimações no endereço constante
do rodapé, propor

AÇÃO DE REPACTUAÇÃO DE DÍVIDAS


(SUPERENDIVIDAMENTO)

em face de (1) BANCO DAYCOVAL S.A., inscrito no CNPJ sob n°


62.232.889/0001-90, com sede na Avenida Paulista, número 1793, Bairro Bela
Vista, São Paulo/SP (CEP 01.311-200); (2) BANCO SANTANDER (BRASIL)
S.A., inscrito no CNPJ sob n° 90.400.888/0001-42, com sede na Avenida
Presidente Juscelino Kubitschek, número 2041, conjunto 281, bloco A,
Condomínio Wtorre JK, Vila Nova Conceição, São Paulo/SP (CEP 04.543-011);
(3) CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, inscrita no CNPJ sob n° 00.360.305/0001-
04, com sede no Setor Bancário Sul, quadra 04, número 34, bloco A, Bairro A
SA Sul, Brasília/DF (CEP 70.092-900); (4) BANCO MASTER S/A, inscrito no
CNPJ sob n° 33.923.798/0001-00, com sede na Praia de Botafogo, número
00228, sala 1702, Bairro Botafogo, Rio de Janeiro/ RJ (CEP 22.250-906); (5) NU
PAGAMENTOS S.A. - INSTITUICAO DE PAGAMENTO, inscrita no CNPJ sob
n° 18.236.120/0001-58, com sede na Rua Capote Valente, número 39, Bairro
Pinheiros, São Paulo/SP (CEP: 05.409-000); (6) BANCO BRADESCO S.A.,
inscrito no CNPJ sob o n° 60.746.948/0001-12, com sede no Núcleo Cidade de
Deus, sem número, Vila Raya, Osasco/SP; (7) FUNDAÇÃO HABITACIONAL DO
EXERCITO- FHE, inscrito no CNPJ sob o n° 00.643.742/0001-35, com sede na
Av. Duque de Caxias, sem número, Brasília/DF, (CEP: 70.630-902), pelos fatos
e fundamento jurídicos expostos a seguir:

1. JUÍZO 100% DIGITAL


Neste ato o autor da ação expressamente manifesta interesse
na utilização do “Juízo 100 Digital”, instituído pela Resolução n. 345/2020 do
CNJ, já implementado por este Tribunal de Justiça.
Para tal mister, em observância do artigo 2º, parágrafo único, de
dita resolução, desde já informa o seguinte endereço eletrônico e linha telefônica
móvel celular: joaoaugusto@sbzadvogados.com.br e (54) 9.9132-5914.

Dito isso, consigna derradeiramente que, optando as partes pelo


“Juízo 100 Digital”, as audiências ocorrerão exclusivamente por
videoconferência, o que requer seja levado a efeito nestes autos, na esteira do
que determina o artigo 5º, caput, da Resolução n. 345/2020 do CNJ, a seguir
transcrita:
Art. 5º. As audiências e sessões no “Juízo 100% Digital” ocorrerão
exclusivamente por videoconferência.

Parágrafo único. As partes poderão requerer ao juízo a participação na audiência


por videoconferência em sala disponibilizada pelo Poder Judiciário.

Diante de tudo isso, passa a expor os fatos e fundamentos jurídicos


que dão azo à procedência dos pedidos a seguir formulados.

2. FATOS
O autor percebe a seguinda renda líquida (contracheque anexo,
doc. 02 –aqui já deduzidos os descontos legais):

Ademais, o requerente possui encargos financeiros mensais


oriundos de empréstimos consignados celebrados junto aos réus, que
correspondem aos seguintes valores:

Somado a isso, ainda tem dívidas bancárias de natureza não


consignada, que são descontados diretamente de sua conta corrente, a seguir
elencadas:
Isto é, honrando com suas dívidas bancárias, o autor se coloca
em situação de superendividamento, pois grande parte de SUA RENDA
ESTÁ COMPROMETIDA JUNTO AOS RÉUS, gerando demasiado desequilíbrio
a sua vida financeira, pois está a viver de favores de familiares e amigos, pois
obviamente, com sua renda, não consegue prover a si a necessária
mantença e o indispensável mínimo existencial.

A soma dos empréstimos, frente seu salário, torna seus


rendimentos deficitários, mormente quando confrontados com suas despesas
ordinárias.

As dívidas bancárias do autor estão dispostas da seguinte forma:

Não fosse isso, o demandante tem despesas ordinárias e básicas,


necessárias à sua subsistência e à preservação de seu mínimo existencial
(isso sem considerar gastos com comida, lazer e vestuário), despesas essas que
dizem respeito a suas necessidades vitais básicas, nos termos do artigo 7º,
inciso IV, da Constituição Federal, conforme faz prova a documentação anexa
(doc. 04), elucidada pela tabela abaixo:
Logo, em razão dos fatos descritos, motivado pela necessidade de
regularização de sua situação financeira em busca de assegurar um mínimo
existencial para si e ainda assim cumprir com seus deveres de pagar, o autor da
ação propõe a presente ação de repactuação de dívidas.

3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS
3.1. Aplicação do CDC (inversão do ônus da prova)

O Código de Defesa do Consumidor, norma reguladora das


relações consumeristas, define a figura do consumidor como pessoa que adquire
ou utiliza produto como destinatário final (art. 2º).

Também estabelece o conceito de fornecedor como pessoa que


desenvolve atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços (art. 3º).

No presente caso, conforme já exposto, ao autor é consumidor dos


requeridos, tendo firmado contratos extremamente onerosos e se encontrando
atualmente em situação de superendividamento.

Soma-se a isso a hipossuficiência técnica do demandante e sua


hiper vulnerabilidade econômica, sendo evidente, portanto, tratar-se de relação
consumerista, o que exige a aplicação das normas dispostas no Código de
Defesa do Consumidor.

Em geral, vigora a regra prevista no Art. 373, I do Código de


Processo Civil, de modo que seria incumbido ao autor, o ônus da prova quanto
ao fato constitutivo de seu direito.

Entretanto, o mesmo Art. 373, no §1º, determina que nos casos


previstos em lei ou diante de peculiaridades relacionadas à impossibilidade ou
excessiva dificuldade para obter as provas dos fatos, o juízo poderá atribuir o
ônus da prova de maneira diversa daquela determinada como uma das regras
gerais da processualística.

No presente caso, é imperiosa a inversão do ônus da prova pelas


duas razões, uma vez que (i) é extremamente dificultoso para ao requerente
estabelecer provas além daquelas documentalmente trazidas aos autos; (ii) o
próprio Código de Defesa do Consumidor, prevê a possibilidade de que seja
invertido o encargo probante, em razão da hipossuficiência do elo mais frágil da
relação consumerista.

Por tais razões, requer-se que este d. juízo determine a inversão


do ônus das provas para àquelas evidências que só poderiam ser formuladas e
apresentadas pelos próprios réus, ou aquelas que os requeridos tenham maior
facilidade em produzir, em especial: I) todos os instrumentos contratuais das
dívidas que se pretende repactuar existentes entre o autor e os requeridos,
contendo o número dos contratos, a quantidade total de parcelas, e o valor das
parcelas; e II) a evolução atualizada da dívida, informando quantas parcelas já
foram adimplidas pelo autor, de modo a possibilitar a posterior confecção de
Plano de Pagamento.

3.2. SUPERENDIVIDAMENTO

A Lei do Superendividamento foi incorporada a CDC para


estabelecer normas que buscam a proteção do consumidor frente às
abusividades perpetradas indiscriminadamente por empresas e prestadores de
serviços. Nessa esteira, consignou o § 1º do Art. 54-A do CDC que:
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o
consumidor pessoa natural, de boa-fé́ , pagar a totalidade de suas dívidas de
consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial,
nos termos da regulamentação.

Veja-se, embora não haja definição jurídica do que é mínimo


existencial no ordenamento jurídico brasileiro, há condições de se estabelecer
um critério para que se vislumbre o que é, caso a caso, o comprometimento do
mínimo existencial.

A definição do “mínimo existencial” surgiu no Direito Alemão, em


1954, através de uma decisão do então Tribunal Federal Administrativo, através
da qual foi definido que o Estado deve prover auxílio material ao indivíduo
carente e que isso é um direito subjetivo de cada um.

No Brasil, a aplicação dessa ramificação dos Direitos Humanos e


da dignidade da pessoa humana foi utilizada pela primeira vez, a despeito da
inexistência de definição legal, na Medida Cautelar em Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 45/04, de relatoria do Min.
Celso de Mello, através da qual foi decido que mínimo existencial significa,
em resumo, o seguinte:
A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular,
pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo
ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que
inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de
existência.

Em complemento a isso, a Declaração Internacional dos Direitos


Humanos, recepcionada pela constituição brasileira, determina em seu artigo
XXV que todas as pessoas tem o direito a um nível de vida suficiente para
assegurar a sua saúde, o seu bem-estar e o de sua família, a associação direta
e explícita do assim chamado mínimo existencial com a dignidade da pessoa
humana, verbis:
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à
sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao
vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na
invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

De mais a mais, a Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso VI,


define indiretamente o que é mínimo existencial, determinando que o salário do
cidadão brasileiro deve ser capaz de atender a todas as suas necessidades
básicas, citando a moradia, a alimentação, a educação, a saúde, a higiene,
dentre outros, conforme se verifica a seguir:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:

[...] IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender


a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;

No particular, como dito anteriormente, o saldo do salário da


parte autora é inferior aos gastos que tem com água, luz, telefone, aluguel,
comida e farmácia, isto é, não é suficiente para prover seu mínimo
existencial, pois suas necessidades básicas (saúde, moradia, higiene e
alimentação) não conseguem ser garantidas com o saldo de seus
proventos.

Este é exatamente o caso da Parte Autora, que se vê diante da


necessidade de propor a presente demanda judicial para repactuar suas
obrigações e conseguir viver com dignidade e com seu nome limpo, podendo
retornar a participar do mercado de consumo.

A parte AUTORA encontra-se em estado de insolvência, incapaz de


pagar suas dívidas, visto que, ao adimplir com as obrigações, sua subsistência
estaria prejudicada, impossibilitando-o de pagar por bens essenciais como
comida, aluguel, água, luz e telefone.

3.3. MÍNIMO EXISTENCIAL


Para citar, aqui vão os gastos mínimos e vitais do autor da ação, já
referidos anteriormente, e cujo valor, no particular, deve ser considerado
como o necessário para prover seu mínimo existencial:
Por outro lado, hoje não sobra nada do salário do demandante,
descontadas as dívidas bancárias e os descontos legais.

Isto é: a subtração da renda do autor pelos empréstimos


contratados com os réus resulta em saldo negativo:

Contudo, como referido anteriormente, o valor aproximado


necessário para suprir o MÍNIMO EXISTENCIAL supera em muito seu saldo
salarial.
Assim, o autor fica impossibilitado de custearia suas despesas
vitais.

Desta forma, levando em conta que no presente caso o mínimo


existencial do autor da ação é lesado quando confrontado com as dívidas
bancárias, deve ser considerado o requerente como pessoa
superendividada, para os fins a que se destina a lei do superendividamento
e o presente procedimento.

4. TUTELA DE URGÊNCIA
Conforme consignado, o requerente não possui nenhuma condição
de arcar com suas dívidas junto aos réus sem comprometer sua subsistência.
Tal circunstância coloca em risco inclusive sua dignidade, o que requer seja
considerado por esse Mm. Juízo.

A tutela de urgência se destina a permitir a imediata prática do


direito alegado. Segundo Câmara, a respectiva modalidade de tutela de urgência
é “adequada em casos nos quais se afigure presente uma situação de perigo
iminente para o próprio direito substancial [...] em caso no qual a demora do
processo pode acarretar grave dano à própria subsistência do demandante”1, ou
seja, é uma resposta jurisdicional que se destina a satisfação provisória da
pretensão.

Ao teor do Art. 300 do Código de Processo Civil, a tutela de


urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.

Explica-se: a parte autora percebe renda mensal líquida inferior ou


praticamente igual às suas dívidas bancárias, conforme se depreende do quadro
elucidativo a seguir exposto:

1 CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017. p. 162.
O perigo de dano é evidente quando observado que os encargos
financeiros mensais do autor correspondem a grande parte do salário do autor
da ação.

Insta também ressaltar que não há perigo de irreversibilidade,


conforme Art. 300, §3º do CPC, já que se trata unicamente de objetos de
natureza pecuniária. Ainda assim, destaca-se que, conforme Enunciado 419 do
Fórum permanente de Processualistas Civis, a referida regra não seria absoluta:
FPPC, enunciado 419: Não é absoluta a regra que proíbe a tutela provisória com
efeitos irreversíveis.

Há então necessidade de que o presente juízo analise


especificamente o caso concreto discutido para que compreenda as exceções
da tutela pretendida.

O autor não se nega a pagar o que deve, pelo contrário, busca


repactuar suas obrigações de forma a ser possível adimpli-las, o que é feito com
base na norma presente no CDC, introduzidas pela Lei 14.181/2021.

Seguindo esse raciocínio, é clara a compreensão de que os valores


descontados não se tratam de quantia suscetível de gerar dano a nenhum aos
réus, mas para o autor é um encargo financeiro fatal ante a manutenção de seu
sustento.

Quanto à probabilidade do direito, temos que a Lei do


Superendividamento foi incorporada ao CDC para estabelecer normas que
buscam a proteção do consumidor, conforme disposto no Art. 54-A, §1º:
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o
consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de
consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos
termos da regulamentação.

Este é exatamente o caso do requerente, que se vê diante da


necessidade de propor a presente demanda judicial para repactuar suas
obrigações e conseguir viver com dignidade e com seu nome limpo, podendo
retornar a participar do mercado de consumo.

Em específico, se está diante de uma situação de hiper


vulnerabilidade do autor em face dos réus. Conforme estipula o CDC em seu Art.
4º, inciso I:
“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: “

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;”

A isso se acresce os incisos IX e X incluídos pela Lei 14.181/2021,


que trata sobre o superendividamento:
“IX - fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos
consumidores;
X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a
exclusão social do consumidor.”

Portanto, em face da vulnerabilidade de fato, o consumidor merece


a proteção jurídica da legislação. No caso, o requerente preenche todos os
requisitos para se enquadrar na lei do superendividamento.

O superendividamento impede que o autor possa fruir de direitos


fundamentais básicos como a proteção de um mínimo existencial.

Como dito anteriormente, em direito brasileiro não há definição do


que é mínimo existencial, mas há como se estabelecer seus parâmetros com
base na experiência, doutrina e jurisprudência.

No Brasil, a aplicação dessa ramificação dos Direitos Humanos e


da dignidade da pessoa humana foi utilizada pela primeira vez, a despeito da
inexistência de definição legal, na Medida Cautelar em Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 45/04, de relatoria do Min.
Celso de Mello, através da qual foi decido que mínimo existencial significa,
em resumo, o seguinte:
A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular,
pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo
ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que
inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de
existência.

Em complemento a isso, a Declaração Internacional dos Direitos


Humanos, recepcionada pela constituição brasileira, determina em seu artigo
XXV que todas as pessoas tem o direito a um nível de vida suficiente para
assegurar a sua saúde, o seu bem-estar e o de sua família, a associação direta
e explícita do assim chamado mínimo existencial com a dignidade da pessoa
humana, verbis:
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à
sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao
vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na
invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

De mais a mais, a Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso VI,


define indiretamente o que é mínimo existencial, determinando que o salário do
cidadão brasileiro deve ser capaz de atender a todas as suas necessidades
básicas, citando a moradia, a alimentação, a educação, a saúde, a higiene,
dentre outros, conforme se verifica a seguir:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social: [...] IV - salário mínimo, fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas
e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

No particular, como dito anteriormente, o saldo do salário da


parte autora é inferior aos gastos que tem com água, luz, telefone, aluguel,
comida e farmácia, isto é, não é suficiente para prover seu mínimo
existencial, pois suas necessidades básicas (saúde, moradia, higiene e
alimentação) não conseguem ser garantidas com o saldo de seus
proventos.

Este é exatamente o caso o demandante, que se vê diante da


necessidade de propor a presente demanda judicial para repactuar suas
obrigações e conseguir viver com dignidade e com seu nome limpo, podendo
retornar a participar do mercado de consumo. O autor encontra-se em estado de
insolvência, incapaz de pagar suas dívidas, visto que, ao adimplir com as
obrigações, sua subsistência estaria prejudicada, impossibilitando-o de pagar
por bens essenciais como comida, aluguel, água, luz e telefone.

Para citar, aqui vão os gastos mínimos e vitais da parte autora, já


referidos anteriormente, e cujo valor, no particular, deve ser considerado
como o necessário para prover o mínimo existencial da parte autora:
Por outro lado, hoje não sobra nada do salário do autor quando
descontadas as dívidas bancárias e os descontos legais.

Assim, levando em conta que, no presente caso, o valor


necessário para prover o mínimo existencial da parte autora é R$ 3.018,45
e do salário dele não sobra nada, deve ser considerada a parte ativa como
superendividada, para os fins a que se destina a lei do superendividamento
e o presente procedimento.

Nesse sentido, cumpre ressaltar que os Tribunais Pátrios têm


concedido medidas de urgência semelhantes, sendo inequívoco o Direito
pleiteado. Nesse sentido:
Agravo de Instrumento. Decisão que deferiu o pedido de tutela provisória de
urgência, para o fim de determinar que os réus se abstivessem de efetuar na
conta corrente do autor, descontos em valores superiores a 30% (trinta por
cento) dos seus vencimentos líquidos, sob pena de multa mensal
correspondente ao dobro de cada desconto indevido. Inconformismo de um dos
réus. A fixação do percentual em 30% (trinta por cento) dos rendimentos do
agravado, a fim de limitar os referidos descontos, evitando o comprometimento
da sua própria subsistência, é medida que se revela em harmonia com os
princípios do mínimo existencial e da dignidade humana. Inteligência que se
extrai da Súmula 295 deste Egrégio Tribunal de Justiça. In casu, as provas
trazidas aos autos foram suficientes para convencer o magistrado a quo da
verossimilhança das alegações formuladas pelo demandante, correto se revela
o deferimento da medida pleiteada. Trata-se de ato judicial que não é teratológico
nem contrário à lei ou à evidente prova dos autos. Manutenção do decisum que
se impõe, na forma da Súmula 59 desta Corte de Justiça. Recurso a que se nega
provimento, nos termos do artigo 932, inciso IV, alínea a, do Código de Processo
Civil. AGRAVO DE INSTRUMENTO N.o 0019933-61.2017.8.19.0000

“0021500-64.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. SERGIO


SEABRA VARELLA - Julgamento: 22/06/2016 -VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA
CÍVEL CONSUMIDOR. Agravo de instrumento. Relação de Consumo. Limite
máximo de desconto a título de empréstimo consignado na folha de pagamento.
Servidor público estadual. Policial militar. Decisão que limitou os descontos em
30% da renda do agravado. Irresignação da parte ré. Descontos relativos a
mútuo bancário que não podem ultrapassar o percentual de 30% da renda
do servidor. Aplicável, analogicamente, as súmulas 200 e 295 do TJRJ.
Precedentes. Ainda que se trate de servidor público estadual, os descontos
devem ser limitados ao patamar de 30% dos seus GANHOS LÍQUIDOS.
Decreto Estadual 25.547/99. Inaplicabilidade. Prevalência dos preceitos
constitucionais do mínimo existencial, da dignidade da pessoa, da isonomia e da
natureza da verba alimentar da remuneração do servidor. NEGA-SE
PROVIMENTO AO RECURSO”.
“89166-29.2012.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. JOAQUIM DOMINGOS DE
ALMEIDA NETO - Julgamento: 26/06/2014 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA
CÍVEL CONSUMIDOR. Relação de consumo. Rito ordinário. Litisconsórcio
passivo facultativo. Contratos de mútuo consignado em folha de pagamento.
Pensionista de servidor federal militar. Superendividamento. Absorção de
48% dos ganhos mensais. Pretensão de restrição dos descontos ao
patamar de 30% dos proventos líquidos. Verba alimentar. Necessidade de
garantia do mínimo existencial. Medida Provisória no 2215- 10/2001, artigo 14,
§ 3o. Comprometimento de até 70% da remuneração. Tratamento desigual entre
iguais. Reforma da sentença de extinção do feito por ilegitimidade passiva ad
causam. Tratamento isonômico entre os consumidores contratantes de
empréstimo. Preceito constitucional. Limitação dos descontos em 30% dos
proventos líquidos do mutuário. Manutenção da sentença de improcedência
dos demais pedidos. Precedentes jurisprudenciais deste Tribunal. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. Assim sendo, é à luz dos princípios da dignidade
da pessoa humana e do mínimo existencial que os autores requerem a
suspensão das cobranças dos débitos referentes a empréstimos contratados e
cobrança de cartão de crédito por 06 (seis) meses e, após o decurso do prazo,
a limitação dos descontos no patamar de 30 % (trinta por cento) de seus
rendimentos líquidos”. (grifo nosso)

Sendo assim, resta caracterizada a probabilidade do direito,


assim como o perigo de dano, uma vez que qualquer demora colocará a
AUTORA em situação totalmente insustentável.

Sendo assim, estão presentes os requisitos para que seja deferida


a antecipação parcial dos efeitos da tutela, a fim de que seja:

a) Determinado à parte ré que cancele todos os débitos do


empréstimo e, ato contínuo, autorize a parte autora a depositar em juízo o
montante de 35% de sua renda mensal líquida.

b) Subsidiariamente, intimado as rés para que limitem o valor


descontado a título de empréstimo para valor equivalente a 35% de sua renda
líquida mensal.

A fim de facilitar o cumprimento da liminar, informa os seguintes


valores:

Assim como determinar a suspensão da exigibilidade dos demais


valores devidos, ao menos até́ a realização da audiência de conciliação prevista
no artigo 104-A do CDC e, como efeito da tutela provisória, requer seja
determinado aos demandados que se abstenham de incluir o nome da parte
autora em cadastros de restrição de crédito, tais como SERASA, SPC e afins.
5. REQUISITOS DO ARTIGO 104-A e 104-B,
do CPC
a) Conciliação
Com relação à tentativa de conciliação prevista no artigo 104-A,
caput, do CDC, postula o autor da ação seja feita através de audiência feita no
CEJUSC, a exemplo do que majoritariamente tem decidido o TJRS, inclusive
este próprio Projeto de Gestão. Assim, postula seja designada audiência de
conciliação, para os fins a que se destina o citado artigo 104-A.

b) Propostas de plano de pagamento

As dívidas estão assim dispostas:

b.1) Primeira proposta

A título de dilação do prazo de pagamento, pugna, também em


aplicação ao artigo 104-B, § 4º, do CDC2, entende seja o caso de se deferir uma
carência para o primeiro pagamento de, no mínimo, seis meses.

Assim, apresenta o seguinte plano de repactuação:

2 § 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do principal


devido, corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da
dívida, após a quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-A deste Código,
em, no máximo, 5 (cinco) anos, sendo que a primeira parcela será devida no prazo máximo
de 180 (cento e oitenta) dias, contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo
será devido em parcelas mensais iguais e sucessivas.
c) MEDIDAS DE DILAÇÃO DE PRAZO E DE REDUÇÃO DOS
ENCARGOS DA DÍVIDA E SUSPENSÃO DA AÇÃO JUDICIAL
EM CURSO

Consoante ao disposto pelo artigo 104-A, § 4º, inciso II do CDC, o


plano de pagamento deverá fazer “referência à suspensão ou à extinção das
ações judiciais em curso”.

Considerando que o deferimento do presente plano de repactuação


implica na resolução súbita do objeto da ação, requer a suspensão do presente
processo, assim como de qualquer outra ação anterior que tenha como objeto a
discussão das dívidas então repactuadas, enquanto se der o cumprimento do
plano de pagamento.
d) EXCLUSÃO DO REQUERENTE DOS BANCOS DE
DADOS E DOS CADASTROS DE INADIMPLENTES

Também, em sequência ao deferimento do presente plano de


pagamento, requer seja estipulado prazo de 10 dias para que os réus procedam
a exclusão do nome da autora de qualquer banco de dados ou cadastro de
inadimplência, sob pena de multa a ser estipulada pelo r. juízo.

e) EFEITOS DE ABSTENÇÃO E AGRAVAMENTO DA


SITUAÇÃO DE SUPERENDIVIDAMENTO

Levando em conta o que dispõe o Artigo 104-A, § 4º, inciso IV do


CDC, requer seja estipulado pelo r. juízo as sanções cabíveis no caso de
descumprimento do plano de pagamento estipulado.

Não obstante, requer seja oportunizado ao autor da ação a


possibilidade de justificativa ante eventual descumprimento do plano de
repactuação, tendo em vista a probabilidade de ser ocasionado por caso fortuito
ou força maior, não sendo então legítima a imposição de sanção.
6. E-MAIL DOS CREDORES E DA FONTE
PAGADORA
Segue lista de todos os credores aqui elencados, além da fonte
pagadora do autor da ação, com seus respectivos e-mails:
Bancos réus E-mail
FHE senor@poupex.com.br
Bradesco dpo@bradesco.com.br
Daycoval
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7. GRATUIDADE JUDICIÁRIA
A situação de superendividado demonstra, por si só, a necessidade
de concessão do beneplácito perquirido, na medida em que, mormente no caso
concreto – em que a parte requerente tem comprometido valor equivalente a
480,53% de sua renda – a pessoa superendividada já não consegue prover seu
sustento observando o mínimo existencial com a situação corrente, muito menos
conseguiria arcar com as custas do processo sem comprometer sua vida.

Assim, pugna pelo deferimento da AJG em favor do requerente.

8. CONCLUSÃO E PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se:

a. a utilização do “Juízo 100% Digital”;

b. a concessão do benefício da gratuidade de justiça, nos termos


do Art. 98 e seguintes do CPC;

c. seja deferida a tutela de urgência, em caráter inaudita altera


pars, para:

i. seja proibido as rés de efetuarem os descontos e


cobranças dos valores contratados a título de
empréstimo e autorizado a Parte Autora a depositar em
juízo o equivalente a 35% de sua renda líquida mensal
e seja determinada a suspensão da exigibilidade dos
demais valores devidos, ao menos até a realização da
audiência de conciliação prevista no artigo 104-A do
CDC; subsidiariamente, que sejam as rés intimadas
para limitarem os descontos feitos por elas em 35% da
remuneração líquida da autora, já para o próximo
vencimento;

ii. que os REQUERIDOS se abstenham de incluir o nome da


parte autora em cadastros de restrição de crédito pelas
dívidas aqui discutidas, sob pena de multa diária a ser
arbitrada por este d. juízo;

d. seja aplicada a inversão do ônus da prova, em atenção aos Arts.


6º, VII e 14, §3º, do Código de Defesa do Consumidor para
àquelas evidências que só poderiam ser formuladas e
apresentadas pelos próprios réus, ou aquelas que os requeridos
tenham maior facilidade em produzir, em especial:

i. todos os instrumentos contratuais das dívidas que


se pretende repactuar, contendo o número dos
contratos, a quantidade total de parcelas, e o
valor das parcelas; e

ii. a evolução atualizada da dívida, informando


quantas parcelas já foram adimplidas pela
AUTORA, de modo a possibilitar a posterior
confecção de Plano de Pagamento

e. em especial, para que os requeridos juntem toda a


documentação referentes às dívidas do autor, em até 15 (quinze)
dias antes da realização de audiência de conciliação;

f. a citação e intimação dos REQUERIDOS para comparecer à


audiência de conciliação prevista no artigo 104-A do CDC;

g. na hipótese de acordo parcial ou inexistência de acordo, desde


logo requer seja ordenado o prosseguimento do feito, com a sua
conversão em “processo por superendividamento para revisão e
integração dos contratos e repactuação das dívidas” conforme
expressamente previsto no artigo 104-B do CDC;

h. requer ainda a revisão dos contratos firmados entre as partes


para ajustar os juros remuneratórios à taxa média de mercado
apurada pelo Banco Central, de forma que os juros viabilizem o
pagamento pela parte autora, respeitando os ditames
constitucionais citados, dentre eles o da dignidade da pessoa
humana;

i. a condenação dos REQUERIDOS ao pagamento de honorários


advocatícios, no importe de 20% (vinte por cento) do proveito
econômico obtido em razão da causa;

j. que sejam admitidos todos os meios de provas cabíveis para o


deslinde da presente tutela jurisdicional;

Dá à causa, o valor de R$ 186.442,08.

Passo Fundo, 3 de outubro de 2023.

João Augusto Salles Lucas Bortolini Vinícius Zwirtes


OAB/RS 112.962 OAB/RS 112.478 OAB/RS 112.657

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