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PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO E FEIRAS AGROECOLÓGICAS

CAMPONESAS NA REGIÃO AGRESTE DA PARAÍBA

PRODUCTION ORGANIZATION AND FAIRS AGROECOLOGICAL


PEASANT IN THE REGION AGRESTE PARAÍBA

Severino Justino Sobrinho


Graduando do curso Geografia (UFCG/ Campus Campina Grande)
E-mail: severinojustinogeografo@gmail.com

Ana Paula de Araújo Alves


Graduanda do curso Geografia (UFCG/ Campus Campina Grande)
E-mail: paulinha02_araujo@hotmail.com

José Geraldo da Costa Neto


Graduando do Curso Geografia (UFCG/Campus Campina Grande)
E-mail: geraldo_zin@hotmail.com

Renata Xavier de Lima


Graduanda do curso Geografia (UFCG/ Campus Campina Grande)
E-mail: r_renata2010@hotmail.com

Este artigo versa sobre a produção, a organização e as feiras agroecológicas na região


Agreste do Estado da Paraíba, resulta de visitas a campo realizadas no âmbito do projeto
PROBEX da Universidade Federal de Campina Grande, intitulado Feiras
Agroecológicas em Campina Grande: Informação e comunicação na relação campo-
cidade, realizadas nas feiras e produções agrícolas da região nos anos de 2011 e 2012. A
Agroecologia na região Agreste do Estado é importantíssima para o desenvolvimento
local da agricultura camponesa pautada nos moldes da agricultura familiar. Essas
unidades agricultáveis produzem frutas e hortaliças nos modelos da Agroecologia há
mais de dez anos e comercializam em diversas feiras e supermercados das cidades do
Agreste paraibano. Os camponeses estão organizados localmente através de associações
comunitárias ou através de associações regionais, a exemplo da Ecoborborema, que
congrega agricultores de diversos municípios dessa região, onde lutam por uma
aceitação maior da população aos produtos agroecológicos em prol de um consumo
responsável e de qualidade, resgatando dessa forma, os saberes tradicionais dos
camponeses de forma coletiva. Assim, ao organizarem-se coletivamente os camponeses

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deram preferência a pequenos grupos, estratégia que tem facilitado o uso de melhores
tecnologias, favorecendo o desenvolvimento econômico e social da família. O objetivo
deste trabalho é compreender a importância da produção agrícola camponesa e das
feiras agroecológicas para o desenvolvimento da agroecologia e da sociabilidade do
campo nestas localidades. A metodologia utilizada para a construção deste trabalho
constituiu em visitas a campo em diversas produções agrícolas de alguns municípios da
região Agreste á exemplo dos sítios Ribeiro em Alagoa Nova, Carrasco nos limites
entre Alagoa Nova e Esperança, e Oiti e Almeida em Lagoa Seca, além de algumas
feiras agroecológicas em Alagoa Nova e Campina Grande. A utilização de questionários
para as entrevistas à campo serviram de norte para a elaboração desta pesquisa, assim
como a utilização de aparelhos digitais para captura de imagens e de áudio nas
entrevistas realizadas. Como suporte teórico, utilizamos referências bibliográficas de
temas referentes à Agroecologia, assentamento rural, desenvolvimento sustentável,
campesinato, comunidade e produção rural, a partir de autores como Altieri (2004),
Carvalho (2007), Castro (2003), Castro et al (2000), Lima (2008), Leff (2002), Guzmán
(2005), Paulino (2010), Oliveira (2003) Saquet & Santos (2010). Enfatizamos a
importância de produção de alimentos com qualidade nutricional e de forma
agroecológica, bem como da necessidade de pesquisas e análises sobre essa temática, a
fim de contribuir com a construção de processos agrícolas socialmente justos e
ambientalmente equilibrados. Dessa forma, a Agroecologia é uma importante
ferramenta do homem do campo, pois, valoriza os saberes tradicionais, o manejo correto
dos sistemas agrícolas locais e fortalece a autonomia camponesa. Apesar da falta de
apoio governamental a coletividade dos camponeses vem superando as dificuldades
para a autoafirmação de suas produções agroecológicas na região Agreste da Paraíba.

This article deals with the production, organization and agroecological fairs in the
region Wasteland of Paraíba, results from field visits carried out under the project
PROBEX Federal University of Campina Grande, entitled Trade Agroecologies in
Campina Grande: Information and communication rural-urban relationship, performed
at fairs and agricultural production in the region in the years 2011 and 2012. The
Wasteland Agroecology in the region of the state is important for the local development
of peasant agriculture guided along the lines of family farming. These units arable
produce fruits and vegetables in models of Agroecology for over ten years and sell in
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various fairs and supermarkets in the cities of the Wasteland Paraiba. The farmers are
organized locally through community associations or through regional associations,
such as the Ecoborborema, which brings farmers of several municipalities in this region,
where fighting for a greater acceptance of the population to agroecological products
towards responsible consumption and quality, rescuing this way, the traditional
knowledge of farmers collectively. Thus, to organize themselves collectively peasants
gave preference to small groups, a strategy that has facilitated the use of improved
technologies, fostering economic development and social family. The objective of this
work is to understand the importance of peasant agricultural production and agro-
ecological fairs for the development of agroecology and sociability of the field at these
locations. The methodology used for the construction of this work consisted in field
visits in various agricultural production of some municipalities in the region will
Wasteland example sites Brook in Alagoa Nova, the boundaries between Carrasco and
Alagoa New Hope, and Oiti Almeida and Lagoa Seca, as well some agroecological fairs
in Alagoa Nova and Campina Grande. The use of questionnaires for the interviews
served as a field north to the preparation of this research, as well as the use of digital
devices to capture images and audio in the interviews. Theoretical support, use
references to issues related to Agroecology, rural settlement, sustainable development,
peasants, community and rural production, from authors such as Altieri (2004),
Carvalho (2007), Castro (2003), Castro et al ( 2010), Lima (2008), Leff (2002), Guzman
(2005), Paulino (2010), Oliveira (2003) Saquet & Santos (2010). We emphasize the
importance of food production and nutritional quality so agroecology as well as the
need for research and analysis on this topic in order to contribute to the construction of
agricultural processes socially just and environmentally balanced. Thus, Agroecology is
an important tool of the peasant therefore values the traditional knowledge, the correct
management of agricultural systems and strengthen local autonomy peasant. Despite the
lack of government support the community of peasants is overcoming the difficulties
for the self-assertion of their productions Wasteland agroecological region of Paraíba.

Palavras-Chave: Feiras agroecológicas, Camponês, Ecoborborema, Saberes


tradicionais.

Keywords: Trade agroecological, Peasant, Ecoborborema, Traditional knowledge.

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Eixo de inscrição/Debate: Comunidades Tradicionais, Resistência/Recriação
Camponesa e Agroecologia.

INTRODUÇÃO

Este trabalho resulta do projeto intitulado “Feira Agroecológica Regional de Campina


Grande: informação e comunicação na relação campo-cidade” desenvolvido durante o
período de maio a dezembro de 2011 e renovado no ano de 2012, em igual período na
UFCG, Centro de Humanidades na Unidade Acadêmica de Geografia, desenvolvido
pela professora Aline Barboza de Lima.
A região Agreste do Estado da Paraíba concentra um polo agrícola diversificado com
uma agricultura desenvolvida ou em desenvolvimento, onde partes dessas produções
são comercializadas em feiras convencionais e agroecológicas que acontecem
semanalmente nas diversas cidades da região.
O Agreste, área de estudo deste trabalho, possui altitudes acima de 500 metros do nível
do mar com pluviosidade anual entre 800 e 1400 milímetros em alguns lugares. Essas
características proporcionam um quadro geográfico que favorece a produção de
hortaliças, frutas e legumes, tornando esses alimentos de boa qualidade nutricional sem
o uso de defensivos químicos. Assim, a Agroecologia figura-se como um importante
conceito para o entendimento das práticas agrícolas da atualidade, correlacionada a
temas como segurança e soberania alimentar presentes na pauta das discussões
desenvolvidas no âmbito das práticas sustentáveis, da educação ambiental e da
conservação da natureza. Vários autores versam sobre a temática da Agroecologia entre
eles, (Leff, 2002) que destaca:
As práticas agroecológicas resultam culturalmente compatíveis com a
racionalidade produtiva camponesa, pois se constroem sobre o
conhecimento agrícola tradicional, combinando este conhecimento
com elementos da ciência agrícola moderna. (LEFF, 2002, p.41)

Nosso enfoque se concentrará nas feiras agroecológicas que acontecem com ênfase na
produção e comercialização dos produtos de origem camponesa destinados a abastecer
diversas feiras livres. No mapa a seguir há a localização da área de estudo do projeto,
ela abrange além da feira agroecológica de Campina Grande, outras feiras das cidades
circunvizinhas e consequentemente a produção dos camponeses destas feiras (Figura
01).

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Figura 01. Área de estudo

Fonte: SOBRINHO, Severino Justino, 2013.

A agricultura agroecológica vem tomando impulso nos diversos centros urbanos do


agreste, especialmente em cidades como Campina Grande, Esperança, Alagoa Nova,
Remígio, Bananeiras, Queimadas, Pocinhos, Lagoa Seca, Massaranduba e demais
centros urbanos. As feiras agroecológicas acontecem de forma organizada politicamente
com o apoio de diversas associações locais, sindicatos de trabalhadores rurais, a
Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA). De acordo com
(ALTIERI, 2004, p.20) a Agroecologia surge paralelamente “as inovações tecnológicas
não se tornaram disponíveis aos agricultores pequenos ou pobres em recursos em
termos favoráveis, nem se adequaram as suas condições socioeconômicas”. Desta
forma, a produção busca a justiça social para o homem do campo, fortalecendo os laços
de identidade com o seu lugar de origem e a permanência destes na sua atividade e a
partir do princípio de igualdade social, busca a valorização do trabalho familiar como
forma de sobrevivência, criando alternativas capazes de garantir uma renda a essas
famílias.
As feiras agroecológicas tomaram impulso na região a partir do ano 2001/2002 com
camponeses de diferentes cidades que produziam organicamente com o apoio de
diversas ONG`S e poder publico local. Ao longo do ano 2011 e começo do ano 2012,
visitamos vários lotes de propriedades agrícolas camponesas em cidades como Alagoa
Nova, Esperança e Lagoa Seca, localizadas no compartimento da Borborema onde
produzem de forma sustentável, sem agredir o meio ambiente e a saúde humana.

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O projeto desenvolvido no âmbito PROBEX da Universidade Federal de Campina
Grande intitulado Feiras agroecológicas em Campina Grande: Informação e
comunicação na relação campo-cidade realizado nos anos de 2011 e 2012 busca um
maior conhecimento e divulgação dessas práticas camponesas através de visitas
realizadas nas feiras agroecológicas e nas produções orgânicas da região, as quais
oferecem renda ao homem do campo e fortalecem sua autonomia em ralação as praticas
capitalistas no meio rural. Para alcançar os objetivos propostos, o projeto divulgou essas
práticas em boletins informativos, panfletos e nas mídias sociais, com o intuito de
despertar um maior número possível de pessoas a aderir e conhecer produtos de boa
qualidade, sem uso de agrotóxico e com preço acessível a todas as classes sociais, e com
isso, fortalecer a agricultura camponesa da região. Foi incorporada a necessidade de
estender as ações de divulgação para escolas da rede pública de Campina Grande,
mostrando a importância dos benefícios da alimentação saudável, livre de agrotóxicos,
para crianças e jovens.

OBJETIVOS

O principal objetivo deste trabalho é compreender a importância das feiras


agroecológicas, das produções agrícolas camponesas e sua importância para a
sociedade.Com o projeto deve realizar ações de divulgação sobre a Feira Agroecológica
Regional de Campina Grande para estimular o consumo de alimentos agroecológicos e
fortalecer a agricultura camponesa. Buscando com isso proporcionar uma melhor
qualidade de vida através de divulgações dessa cultura que vem se fortalecendo a cada
dia nas diversas feiras do gênero. Essas ações consolida a economia agrícola dos
camponeses.
Neste sentido, se faz necessário pesquisar as práticas da produção agroecológica nas
feiras e nas produções dos camponeses, verificando a relação com a terra, com sua
família e com os consumidores. Há ainda a necessidade de estudar o processo de
consolidação da agroecologia na região, os desafios e possibilidades encontradas pelos
camponeses, e, como é dada essa circulação de mercadorias para essas feiras.

PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÕES COLETIVAS CAMPONESAS

Na segunda metade do século XX, a modernização através da Revolução Verde atingiu


também o campo, reestruturando as relações produtivas nas áreas rurais. Na Paraíba, os
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efeitos desse processo se deram de forma mais significativa a partir da década de 1970,
acentuando as desigualdades sociais de áreas já acometidas pela pobreza. As modernas
tecnologias aplicadas na agricultura não foram capazes de amenizar a falta de alimentos
na mesa de grande parte da sociedade em todo o mundo, principalmente nos países mais
pobres economicamente. Esses fatos foram todos legalizados pelo Estado, por
consequente pressão das grandes empresas de agrotóxicos e insumos. Os agricultores
menos esclarecidos e incentivados pelo Estado introduziram agrotóxicos sem
conhecimento de causa e efeito na saúde e em suas plantações.

Na década de 1980, a crise fiscal gerou grandes impactos econômicos


na redução do papel do Estado, favorecendo uma política neoliberal.
Enquanto a agricultura dos países desenvolvidos contou com volumes
crescentes de recursos públicos, nos países pobres a crise econômica
desarticulou as políticas setoriais existentes, forçando-a aos
ajustamentos com grandes custos sociais. (SAQUET & SANTOS,
2010. p.39).

Na tentativa de resistir aos processos de expropriação do campo, bem como garantir a


sobrevivência de suas famílias, camponeses da região do Agreste Paraibano passaram a
buscar na agroecologia uma forma de garantir uma vida mais digna. Por meio da
produção agroecológica. O camponês assume sua identidade com a terra, com a sua
família, passando a se preocupar não apenas com a produção agrícola, mas também com
o meio ambiente.

Pensando nessa produção e consumo de modo sustentável, os camponeses do


compartimento da Borborema - Alagoa Nova, Lagoa Seca, Maçaranduba, Remígio,
Esperança, Lagoa Seca, Queimadas, Solânea, Campina Grande - vendem seus produtos
em diversas feiras da região, e juntos formam a Associação Agroecológica do
compartimento da Borborema – Ecoborborema, criada no ano 2004 com o intuito de
fortalecer a agricultura agroecológica em todo o Agreste atualmente conta com
aproximadamente 100 integrantes. São em geral agricultores oriundos de assentamentos
rurais e pequenas propriedades. As figuras (02 e 03) mostram camponeses reunidos
nessa associação.

Figura 02 e 03- Reunião da Ecoborborema em Lagoa Seca-PB

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Fonte: SOBRINHO, Severino Justino. Maio de 2012

A sede dessa organização funciona no sindicato dos trabalhadores rurais do município


de Lagoa Seca-PB. As reuniões acontecem mensalmente ou quando há necessidade,
sempre discutindo o andamento/fortalecimento das feiras Agroecológica da região,a
entrega de sua produção a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) se dar
através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Este é um programa do
Governo Federal que melhora a renda do homem do campo, fortalecendo sua
autonomia. Cada Associado da Ecoborborema possui uma planilha de quais produtos
ele pode oferecer para a CONAB e com a quantidade que cada um tem que oferecer,
mensalmente ou anualmente.
Todas as quartas-feiras na Estação Velha local onde funciona a feira agroecológica em
Campina Grande-PB há uma pessoa responsável da CONAB para receber os alimentos
de cada camponês, havendo em comum acordo com os camponeses a entrega de
produtos por ordem de chegada.
As feiras agroecológicas buscam desenvolvimento rural, autonomia camponesa e
autoafirmação, surgem como ferramentas que vão contra a lógica capitalista de mercado
rural, nesse sentido, (ALTIERI, 2004) ressalta que,

As estratégias de desenvolvimento convencionais revelaram-se


fundamentalmente limitadas em sua capacidade de promover um
desenvolvimento equânime e sustentável. Não foram capazes nem de
atingir os mais pobres, nem de resolver o problema da fome, da
desnutrição ou as questões ambientais. As inovações tecnológicas não
se tornaram disponíveis aos agricultores pequenos ou pobres em
recursos em termos favoráveis, nem se adequaram às suas condições
agroecológicas e socioeconômicas. (ALTIERI, 2004, p.19).

O Pólo Sindical da Borborema, constituído por um conjunto de sindicatos dos


trabalhadores rurais do Agreste paraibano é outro órgão que apoia as feiras.
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Na fala de um camponês sócio da Ecoborborema, o senhor Gilberto, diz que “Para
entrar na feira tem que se manter na feira, pois tem gente que entra e logo sai”.
Percebemos a partir disso, que alguns camponeses não creditam todas as suas produções
nas referidas feiras e muitas vezes saem desestruturando e desarticulando as mesmas e
as instituições representadas neste caso, as associações formadas por eles.

Figura 04 e 05-Feira da Estação Velha e do Catolé em Campina Grande - Agosto de 2011

Fonte: COSTA NETO, José Geraldo, 2011.

As organizações em que os camponeses estão inseridos são fundamentais para o


fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica nas cidades do Agreste e
Brejo paraibano, pois fortalece a economia rural e mantêm o camponês em seu local de
origem. Além disso, as formas de organizações a que estão inseridos como a
Ecoborborema, os sindicatos rurais e outras entidades não governamentais mostram a
resistência do agricultor em meio ao capitalismo que está presente nas cidades e
também no espaço agrário. Esse capitalismo no campo é notório através de grandes
empresas rurais e de maquinários que substitui a mão de obra humana por mão de obra
motorizada, favorecendo o êxodo rural e dependência do agricultor a essas empresas.

REFERENCIAL TEÓRICO

Na construção do trabalho buscamos compreender temas referentes à agroecologia,


comunidade, segurança e soberania alimentar, camponês, campesinato, territorialidades
camponesas. Sistematizados e analisados com base nos procedimentos empíricos e na
revisão bibliográfica sobre o tema.

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Procuramos entender a questão dos camponeses inseridos na produção capitalista e sua
autonomia no capitalismo assalariado na atualidade. Muitas vezes esta visão capitalista
de mercado torna os camponeses dependentes do sistema capitalista que tende a unificar
e homogeneizar a produção e o trabalho assalariado, neste sentido a busca pela mais
valia é acentuada no campo:
É certo que esse circuito nada tem de harmônico, posto que donos dos
meios de produção e proprietários da força de trabalho disputam
permanentemente as frações da riqueza daí oriundas. Não obstante,
tenderam à desvantagem os últimos, visto que a mercadoria que
possuem a força de trabalho tem oferta em progressiva expansão, por
força do aumento da produtividade, o que dá aos primeiros a
possibilidade de pagar baixos salários, logo, de ampliar a margem de
mais-valia a ser auferida no processo produtivo. (PAULINO,
2010.p.71)

Opondo a este fato, as feiras agroecológicas são importantes para que o camponês possa
garantir sua produção e que ela seja levada diretamente ao destino final, o consumidor.
As produções camponesas são em geral para a subsistência e abastecer os centros
urbanos em especial as feiras semanais. Os tamanhos da propriedade variam de três a
dez hectares, lembrarmos aqui que esses tamanhos são referentes as propriedades
agrícolas visitadas na região Agreste da Paraíba. O uso de biofertizantes naturais
encontradas nas áreas visitadas contrariam os agricultores que produzem
convencionalmente em todo o país, assim, (Oliveira, 2003) destaca:

Absurdamente mais da metade dos estabelecimentos informam que


consumiam estes produtos em 95/96. Excetuando-se os
estabelecimentos com área inferior a 10 hectares, nas pequenas
unidades o uso chega a mais de 80% e entre as medias e grandes
unidades, este consumo está acima de 90% dos estabelecimentos. Este
uso generalizado dos agrotóxicos mostra que ele foi o mais
“espetacular resultado da modernização” da agricultura; seu
envenenamento gradativo. (OLIVEIRA, 2003, p.6)

Neste sentido, a agricultura camponesa há tempos é motivo de luta para a permanência


do camponês na terra, esta por sua vez é responsável pelo sustento de cada núcleo
familiar, através da produção e comercialização dos excedentes cultivados. As
resistências dos camponeses durante séculos de batalhas entre os latifundiários pauta-se
no princípio da apropriação legal da terra para produção familiar e consequentemente
pela sobrevivência de suas gerações, além de uma melhor qualidade de vida e
permanência na área rural, apesar das heranças coloniais.
A concentração de terras teve origem no Brasil através das capitanias hereditárias, onde
partes das terras eram doadas aos colonos em troca de um lucro posterior a metrópole
portuguesa. O sistema sesmarial perpetua a estrutura concentrada da terra, e, a Lei de

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Terras de 1850 exclui a população pobre do acesso a terra. Nesse contexto, os
camponeses vão perdendo o direito a propriedade e a grande concentração de terras e
riquezas se espalham no país aumentando ainda mais a situação de pobreza de grande
parte da população rural, decorrendo desta forma o assalariamento do pequeno
trabalhador.
Era possível dar a marcha para trás e saltar sobre a etapa do
capitalismo chegando diretamente ao progresso do socialismo. Isso
seria possível mediante o fortalecimento das formas de ação solidária
do coletivismo camponês para evitar o sofrimento e a exploração que
sobre a comunidade rural gerava a mercantilização das formas de vida
e natureza (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p.25).

Dessa maneira, o modo capitalista de produção implantar-se-ia de forma plena na


agricultura, tal qual se implantou na indústria. Contudo, as relações não capitalistas de
produção permanecem ligadas ao avanço do capitalismo, recriando dessa forma, as
formas de sobrevivência e trabalho camponês. Estas formas de sobrevivência do
camponês podem ser explicitadas nas localidades estudadas. Neste contexto,
(CARVALHO, 2007), ressalta que a agroecologia assume um papel de fundamental
importância para a sobrevivência das famílias camponesas, constituindo-se como um
fator significativo para o desenvolvimento sócio- territorial.

Figura 06 e 07-Sítio Ribeiro-Alagoa Nova-PB e Camponês do Sítio Oiti-Lagoa Seca-PB

Fonte: RIBEIRO, N.C e SOBRINHO. S.J: - PROBEX: 2011/2012

Destacamos a questão da agricultura familiar como fonte alternativa, onde de acordo


com Castro (2003), são “terras férteis”, propícias para o desenvolvimento da agricultura
familiar e de exportação. Enfatizamos essa agricultura como alternativa para saciar a

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fome do mundo, para isso destacamos que se faz necessário uma reforma agrária de
base para atender o social, além disso, precisamos de leis mais rígidas que combatam
parcialmente o poderio econômico estatal das empresas de cunho agrícola.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi estudos de tema sobre a Agroecologia e a relação campo-


cidade, onde se discutiu livros, capítulos de livros e artigos sobre a agroecologia e temas
correlatos, para possibilitar aos integrantes do projeto uma visão mais aprofundada
sobre as atividades que foram desenvolvidas na extensão.
Para realização da construção de boletins informativos sobre Agroecologia, foi
desenvolvida metodologia de trabalho para construir base de informações sobre a
Agroecologia, desde seus aspectos conceituais, até as informações sobre camponeses e
produção agrícola na Paraíba.
Nas atividades de campo vimos à história de vida dos camponeses da Feira
Agroecológica Regional de Campina Grande e sua inserção nas feiras agroecológicas do
Agreste. A elaboração de roteiro de entrevista com perguntas abertas direcionadas para
analisar as seguintes questões: história de vida dos camponeses; história da terra
transição dos camponeses na agroecologia; importância da agroecologia na vida
camponesa; desafios e avanços na construção da agroecologia, dentre outros temas.
Esses roteiros foram aplicados durante as visitas nas feiras agroecológicas da região e
nos sítios visitados.

Descobrimos em pesquisas nos supermercados e feiras livres agroecológicas, a


diferença de preços entre hortaliças e verduras, isso com intuito de demostrar a relação
custo-benefício dos alimentos agroecológicos, sendo mais vantajoso comprar nas feiras.
Visitamos a Ecoborborema, associação que integra camponeses da mesorregião Agreste
com produção agroecológica e algumas entidades civis e Organizações Não
Governamentais, como também foram feitas pesquisas correlacionas a produção
agroecológica para auxiliar na produção dos textos dos boletins informativos. Essas
pesquisas foram direcionadas para os seguintes temas: alimentação saudável; plantas
medicinais; receitas culinárias; sustentabilidade; meio ambiente, Organismos
Geneticamente Modificados – OGM, dentre outros.
Foram realizadas ainda, transcrições de entrevistas, organização de fotografias,
elaboração de tabelas e gráficos. A organização desse material foi fundamental na

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elaboração dos materiais informativos, que serviram para a divulgação da produção
agroecológica na cidade de Campina Grande -PB.

RESULTADOS

Nas visitas a feira, constatamos que a partir do momento em que o agricultor opta por
trabalhar com um produto de boa qualidade, ele produz com maior satisfação. Neste
sentido, há uma redescoberta de identidade com a terra, contudo, os desafios são
grandes, pois esses agricultores enfrentam dentre outras dificuldades falta de apoio
governamental, desinformação da população quanto aos benefícios de uma alimentação
sem agrotóxicos, custos de transporte e distribuição das mercadorias, assistência técnica
insuficiente para acompanhar as áreas de produção e dificuldade de acesso a linhas de
crédito destinadas ao fortalecimento da agroecologia.Nas entrevistas ficou explicito o
desânimo de alguns em relação à falta de apoio e incentivo.
Constatamos que a utilização conjunta de diferentes técnicas agroecológicas favorece
uma produção de frutas e hortaliças de excelente qualidade. Dentre essas técnicas
agrícolas destacamos: a utilização de cobertura morta, para proteger e nutrir o solo; o
cultivo consorciado, que favorece a policultura e garante uma produção bastante
diversificada; a utilização de plantas como a arruda servindo de barreira natural contra
alguns insetos; o aproveitamento dos espaços através do manejo dos solos. A produção
agroecológica colaborou para que os camponeses busquem a soberania alimentar no
campo e na cidade.
Foram criados alguns espaços de divulgação no ano de 2011, a exemplo de uma conta
no facebook, outra no twitter e um blog para a divulgação do material elaborado no
Probex, essas mídias foram continuamente alimentadas com informações sobre
Agroecologia e sobre a Feira Agroecológica. Atualmente as redes sociais na internet são
um meio rápido e econômico de divulgação. Dessa forma, um maior número de pessoas
pode ter acesso às informações sobre a produção e comercialização de alimentos
agroecológicos.
A Agroecologia tem se constituído como um importante campo de conhecimento, capaz
de reverter situações de pobreza, através do manejo sustentável dos recursos naturais e
da valorização dos saberes e culturas locais, sendo, portanto, fundamental as ações que
colaborem para o fomento dessas práticas. Com isso, destacamos a importância da
divulgação da produção e alimentação agroecológica, através das nossas mídias

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eletrônicas e dos nossos boletins informativos. Isso fortalece a agricultura de base
agroecológica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os agricultores inseridos nos processos agroecológicos do Agreste paraibano muitas


vezes não encontram apoio dos gestores locais para se manterem na agricultura, a não
ser de organizações internas como a Ecoborborema, as associações locais e sindicatos,
não teriam tantas conquistas, e não tinham conquistados os espaços nas feiras
agroecológicas da região.
Percebemos que dentre as dificuldades enfrentadas por esses produtores, o escoamento
de suas produções e a desassistência são os mais aparentes, o primeiro em virtude das
feiras consumirem apenas 5% de seus produtos, e o segunda, ao fato deles ficarem
relegados a própria sorte e vulneráveis as intempéries da natureza, muitas vezes sem
uma reserva financeira para lhe dar suporte.
Verificamos, através das nossas ações que a Agroecologia tem se constituído enquanto
um importante campo de conhecimento, capaz de reverter situações de pobreza, através
do manejo sustentável dos recursos naturais e da valorização dos saberes e culturas
locais, sendo, portanto, fundamental que as ações extensionistas realizadas por
instituições de ensino colaborem para o fomento dessas práticas.
Se opondo as práticas capitalistas de mercado, as associações locais ou regionais dos
camponeses são ferramentas que amenizam os custos e o escoamento das produções
camponesas, isso mostra que a coletividade quando está organizada pode beneficiar a si
próprio e as demais pessoas envolvidas. Essa oposição ao modelo hegemônico traz uma
vida mais digna à família camponesa.
No tocante a autonomia camponesa, busca-se a soberania alimentar a partir da
preservação das sementes crioulas para não depender das empresas capitalistas. Essas
iniciativas camponesas devem ser incentivadas por políticas públicas que valorizem
suas culturas agrícolas através das sementes nativas de cada localidade, favorecendo
uma vida saudável com preservação das espécies e do meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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