EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA
COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
JUSTIÇA GRATUITA AUTOR, brasileiro, , , portador da Carteira de Identidade nº, expedida pelo , inscrito no CPF sob o nº , domiciliado na Rua , CEP , vem, por intermédio de seus advogados constituídos por meio da procuraçã o anexa, com endereço profissional na Rua d , com fulcro na Dignidade da Pessoa Humana -Fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CRFB/88)[1], propor a presente AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO c/c OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face de BANCO X., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ sob o nº XXXX, estabelecida na (ENDEREÇO), pelos fatos e fundamentos expostos a seguir. I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA O instituto da gratuidade de justiça existe para garantir que a parte vulnerá vel economicamente tenha acesso à justiça, acabando com os obstá culos pecuniá rios que comprometeriam sua atuaçã o em juízo. Trata-se de uma decisã o sem critérios objetivos para sua concessã o, ficando a cargo do magistrado avaliar o caso concreto. Afinal: O conceito de necessitado nã o é determinado mediante regras rígidas, matemá ticas, nã o se utilizando limites numéricos determinados. Têm direito ao benefício aqueles que nã o podem arcar com os gastos necessá rios à participaçã o no processo, na medida em que, contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o pró prio sustento e da família, nã o lhe reste numerá rio suficiente para tanto. O direito ao benefício decorre da indisponibilidade financeira do sujeito. (MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciá ria e justiça gratuita cit., p. 90). Logo, a situaçã o de hipossuficiência dos requerentes nã o se dá pela renda/salá rio, mas também pelo nível de endividamento dos mesmos. Aliá s, a lide tem por objeto exatamente o reconhecimento do superendividamento dos mesmos, com pedido de suspensã o dos pagamentos de empréstimos bancá rios por causarem prejuízo à subsistência dos autores; ou no mínimo, revisã o de clá usulas dos contratos de empréstimos para que seja garantia a sobrevivência destes. É um contrassenso acreditar que pessoas que estã o ingressando em juízo justamente para terem a condiçã o de superendividados reconhecida possam arcar com as altas custas judiciais. Importante lembrar que faz jus ao pedido de gratuidade aqueles que nã o têm condiçõ es de custear as despesas processuais sem prejuízo da sua mantença e de sua família. A CRFB, em seu artigo 5º, inciso LXXIV, assegura a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Os requerentes encontram-se endividados e sem condiçõ es de arcar com as custas do processo, sem prejuízo do pró prio sustento e o de sua família. Sendo que o fato de possuírem bons salá rios nã o pode obstar a concessã o do benefício legal. Constam nos autos do processo todas as despesas que compõ em o orçamento doméstico dos autores, sendo, portanto, incontestá vel que devem ser beneficiados com a gratuidade de justiça. Ademais, o Có digo de Processo Civil dispõ e que “presume-se verdadeira a alegaçã o de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Desta forma, à pessoa natural basta a mera alegaçã o de insuficiência de recursos, sendo desnecessá ria a produçã o de provas da hipossuficiência financeira. A alegaçã o presume-se verdadeira. Até porque: “A efetivaçã o dos direitos individuais e coletivos, por meio da assistência judiciá ria gratuita, suplanta os limites do direito formal, do arcabouço jurídico que proclama a igualdade perante a lei e a proteçã o do Estado aos mais pobres. A letra fria da lei aquece-se com o calor da vida real.” (SCHUBSKY, Cá ssio (org.). Escola de justiça: histó ria e memó ria do Departamento Jurídico XI de Agosto cit., p. 12). Portanto, os autores AFIRMAM, nos termos da Lei nº 1.060/50 e do art. 98 do CPC, que se encontram com insuficiência de recursos, nã o possuindo condiçõ es financeiras para pagar as custas, as despesas processuais e os honorá rios advocatícios sem o prejuízo do sustento de sua família, fazendo jus à GRATUIDADE DE JUSTIÇA. II – DOS FATOS Os autores sã o clientes antigos dos Bancos, ora réus, inclusive desde o antigo Banerj, e atualmente veem sua família encarar grande dificuldade financeira neste momento de profunda crise econô mica, tendo a autora uma renda líquida mensal de aproximadamente R$ . Ocorre que o autor nã o tem, por ora, como imaginar mais soluçõ es engenhosas para honrar tantos compromissos bancá rios sem comprometer profundamente o sustento da família da qual sã o provedores. Insta salientar que os documentos anexos demonstram que o autor possui os seguintes empréstimos contratados: i) Junto ao primeiro réu : • ii) Junto ao segundo réu: • Total = Desta forma, da soma das parcelas que ainda vencerã o, constata-se que a autora possui uma dívida com os réus no montante R$ . Por mês são descontados R$ pelos réus, que correspondem a % (por cento) da renda familiar, inviabilizando o custeio das despesas familiares, violando o princípio da dignidade da pessoa humana. Ressalte-se que os autores fazem uso de medicaçã o continuada e a autora, há quase 05 (cinco) anos, se submete a tratamento de câncer de mama, o que demanda muita despesa com remédios. Além disso, sã o também suportados pelos autores os gastos com o filho na ordem de R$ , como se constata dos docs anexos. Pelo histó rico bancá rio dos autores é possível constatar que os descontos feitos pelos réus em suas constas bancá rias comprometem a sua pró pria subsistência, violando os princípios do mínimo existencial e da dignidade humana. Hoje, o autor possui saldo negativo de R$ na conta corrente nº xx. Portanto, aos autores, pessoas idôneas, não resta outra opção senão requererem a suspensão temporária dos descontos nas contas bancárias por 06 (seis) meses, e, após este período, a limitação dos descontos referentes a empréstimos contratados e faturas de cartão de crédito no patamar correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, ou seja, no valor de R$ ). II – DO DIREITO A) DO SUPERENDIVIDAMENTO O superendividamento ainda nã o se encontra disciplinado no ordenamento jurídico brasileiro, ao contrá rio de outros ordenamentos jurídicos como o francês e o norte-americano. Assim, a aplicaçã o deste instituto jurídico é feita por meio do direito comparado, se trata de uma construçã o dogmá tica e jurisprudencial. O superendividamento está caracterizado quando a pessoa física se vê impossibilitada de honrar a totalidade de suas dívidas nos termos inicialmente convencionados, exatamente como se encontram os autores atualmente. Pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça constata-se que no Brasil foi adotado o modelo do Direito francês, o qual prevê no Code de la consommation (Có digo do consumo) a possibilidade de suspensã o de execuçã o do devedor pelo Juiz, excluindo-se a incidência dos juros.[2] Desta forma, pacificou-se o entendimento de que os descontos feitos nas contas bancá rias do consumidor nã o podem ultrapassar o patamar de 30% de seus vencimentos líquidos, nesse sentido tem-se: Súmula nº 200 do TJRJ - A RETENÇÃ O DE VALORES EM CONTA-CORRENTE ORIUNDA DE EMPRÉ STIMO BANCÁ RIO OU DE UTILIZAÇÃ O DE CARTÃ O DE CRÉ DITO NÃ O PODE ULTRAPASSAR O PERCENTUAL DE 30% DO SALÁ RIO DO CORRENTISTA. Súmula nº 295 do TJRJ - NA HIPÓ TESE DE SUPERENDIVIDAMENTO DECORRENTE DE EMPRÉ STIMOS OBTIDOS DE INSTITUIÇÕ ES FINANCEIRAS DIVERSAS, A TOTALIDADE DOS DESCONTOS INCIDENTES EM CONTA CORRENTE NÃ O PODERÁ SER SUPERIOR A 30% DO SALÁ RIO DO DEVEDOR. Enunciado n.º 148 do Encontro de Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (Aviso n.º 100/20110)– JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE – Na hipó tese de superendividamento decorrente de empréstimos obtidos de instituiçõ es financeiras diversas, a totalidade dos descontos incidentes em conta corrente nã o poderá ser superior a 30% do salá rio do devedor”. Diante do estado de superendividamento que se encontram atualmente os autores, nã o lhes resta outra possibilidade senã o, à luz da jurisprudência do STJ e do TJRJ, requerer a suspensã o temporá ria dos descontos em suas contas bancá rias por 06 (seis) meses e, apó s este período, a limitaçã o dos descontos no patamar correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, que correspondem a R$3.751,28 (três mil e setecentos e cinquenta e um reais e vinte e oito centavos) até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus B) DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL O pedido principal dos autores possui fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana, ao passo que pretende proteger o mínimo existencial de sua família. A dignidade da pessoa humana é o centro da ordem jurídica democrá tica, revelando-se como verdadeiro super (ou supra) princípio. Das liçõ es do Ministro do Supremo Tribunal Federal e professor Luís Roberto Barroso (2010, p.4) extrai- se que: A dignidade da pessoa humana, na sua acepçã o contemporâ nea, tem origem religiosa, bíblica: o homem feito à imagem e semelhança de Deus. Com o Iluminismo e a centralidade do homem, ele migra para a filosofia, tendo por fundamento a razã o, a capacidade de valoraçã o moral e autodeterminaçã o do indivíduo. Ao longo do século XX, ela se torna um objetivo político, um fim a ser buscado pelo Estado e pela sociedade. Apó s a 2a Guerra Mundial, a ideia de dignidade da pessoa humana migra paulatinamente para o mundo jurídico, em razã o de dois movimentos. O primeiro foi o surgimento de uma cultura pó s- positivista, que reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia política, atenuando a separaçã o radical imposta pelo positivismo normativista. O segundo constituiu na inclusã o da dignidade da pessoa humana em diferentes documentos internacionais e Constitucionais de Estados democrá ticos. Convertida em um conceito jurídico, a dificuldade presente está em dar a ela um conteú do mínimo, que a torne uma categoria operacional e ú til, tanto na prá tica doméstica de cada país quanto no discurso transnacional. Avançando um pouco, Barroso afirma que: A dignidade da pessoa humana tem seu berço secular na filosofia. Constitui, assim, em primeiro lugar, um valor, que é conceito axioló gico, ligado à idéia de bom, justo, virtuoso. Nessa condiçã o, ela se situa ao lado de outros valores centrais para o Direito, como justiça, segurança e solidariedade. É nesse plano ético que a dignidade se torna, para muitos autores, a justificaçã o moral dos direitos humanos e fundamentais. (BARROSO 2010, p.4) Por seu turno, o Ministo Alexandre de Moraes (2010, p. 48) leciona que: A dignidade da pessoa humana concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerente à s personalidades humanas. Esse fundamento afasta a idéia de predomínio das concepçõ es transpessoalistas de Estado e Naçã o, em detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminaçã o consciente e responsá vel da pró pria vida e que traz consigo a pretensã o ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerá vel que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitaçõ es ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessá ria estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. Começa-se a explanaçã o dos fundamentos jurídicos dos requerimentos dos autores pelo princípio que é a base de todo ordenamento jurídico brasileiro, o qual provocou a mudança do ponto nevrá lgico do Direito Civil através de uma mudança axioló gica provocada pela constitucionalizaçã o do direito privado, que atribuiu eficá cia horizontal aos Direitos Fundamentais. Nesse sentido, é possível destacar as liçoes de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald[3], o quais afirmam que: Todas as normas de Direito Privado – tanto o Có digo Civil (norma geral) quanto as leis extravagantes específicas (normas especiais) – estã o cimentadas a partir da normatividade constitucional, devendo obediência aos valores emanados da Carta Magna e, por isso, fundamentadas em princípios de dignidade, solidariedade social, igualdade substancial e liberdade (a tá bua axioló gica constitucional). A dignidade da pessoa humana é efetivada através da proteçã o de direitos e garantias fundamentais promovida pela Constituiçã o Federal. Daí surge a ideia de um mínimo existencial, o qual deve ser visto como a base e o alicerce da vida humana. Trata-se de um direito fundamental e essencial, vinculado à Constituiçã o Federal, e nã o necessita de Lei para sua obtençã o, tendo em vista que é inerente a todo ser humano. A grande maioria dos direitos fundamentais depende de prestaçõ es positivas, exigindo gastos financeiros por parte do Estado, que encontra restriçõ es para a total efetivaçã o desses direitos na escassez de recursos do Estado. Entretanto, nã o é possível deixar a mercê do Estado a decisã o de implementar ou nã o ao menos uma parcela mínima de cada direito fundamental social necessá ria para garantir a vida digna de cada indivíduo, sob pena de atentar diretamente contra os direitos e garantias constitucionais. Esta parcela mínima dos direitos fundamentais é chamada Mínimo Existencial, que, no entendimento de Rocha (2005, p. 445) foi criado “[...] para dar efetividade ao princípio da possibilidade digna, ou da dignidade da pessoa humana possível, a ser garantido pela sociedade e pelo Estado”. Acerca do nú cleo abrangido pelo Mínimo Existencial, Canotilho (2001, p. 203) expõ e: Das vá rias normas sociais, econô micas e culturais é possível deduzir-se um princípio jurídico estruturante de toda a ordem econô mico-social portuguesa: todos (princípio da universalidade) têm um direito fundamental a um nú cleo bá sico de direitos sociais (minimum core of economic and social rights) na ausência do qual o estado português deve se considerar infractor das obrigaçõ es jurídico-sociais constitucional e internacionalmente impostas. Neste diapasã o, o Mínimo Existencial é o direito de cada indivíduo à s condiçõ es mínimas indispensá veis para a existência humana digna, que nã o pode ser objeto de intervençã o do Estado, mas que exige prestaçõ es positivas deste. Consiste, entã o, a um padrã o mínimo de efetivaçã o dos direitos fundamentais sociais pelo Estado. Embora nã o esteja expressamente contido em nossa Constituiçã o Federal, deve-se contextualizá -lo nos direitos humanos, na ideia de liberdade em todos os seus sentidos e nos princípios da igualdade e, acima de tudo, da dignidade da pessoa humana, princípio basilar das garantias constitucionais. O mínimo se refere aos direitos relacionados à s necessidades sem as quais nã o é possível “viver como gente”. É um direito que visa garantir condiçõ es mínimas de existência humana digna, e se refere aos direitos positivos, pois exige que o Estado ofereça condiçõ es para que haja eficá cia plena na aplicabilidade destes direitos. Os direitos abrangidos pelo mínimo existencial sã o os que estã o relacionados com os direitos sociais, econô micos e culturais, previstos na Constituiçã o Federal (como o trabalho, salá rio mínimo, alimentaçã o, vestimenta, lazer, educaçã o, repouso, férias e despesas importantes, como á gua e luz). Sã o direitos de 2ª geraçã o que possuem cará ter programá tico, pois o Estado deve desenvolver programas para que esses direitos alcancem o indivíduo. O mínimo existencial, portanto, abrange o conjunto de prestaçõ es materiais necessá rias e absolutamente essenciais para todo ser humano ter uma vida digna. Ele é tã o importante que é consagrado pela Doutrina como sendo o nú cleo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, previsto no artigo 1º, III da CF. Ocorre que os descontos nas contas dos autores nã o estã o permitindo fruiçã o destes direitos fundamentais, sendo que o que se pretende com a presente demanda é justamente preservar esses direitos abrangidos pelo mínimo existencial, tais como alimentaçã o, vestimenta, lazer, educaçã o e despesas importantes como á gua e luz. Nesse sentido é possível destacar a vasta jurisprudência do TJRJ em que é adotado o entendimento de que a limitaçã o dos descontos dos rendimentos líquidos no patamar de 30% (trinta por cento) atende aos referidos princípios, conforme se constata dos julgados abaixo: 0021500-64.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. SERGIO SEABRA VARELLA - Julgamento: 22/06/2016 -VIGÉ SIMA QUARTA CÂ MARA CÍVEL CONSUMIDOR. Agravo de instrumento. Relaçã o de Consumo. Limite má ximo de desconto a título de empréstimo consignado na folha de pagamento. Servidor pú blico estadual. Policial militar. Decisã o que limitou os descontos em 30% da renda do agravado. Irresignaçã o da parte ré. Descontos relativos a mú tuo bancá rio que nã o podem ultrapassar o percentual de 30% da renda do servidor. Aplicá vel, analogicamente, as sú mulas 200 e 295 do TJRJ. Precedentes . Ainda que se trate de servidor público estadual, os descontos devem ser limitados ao patamar de 30% dos seus GANHOS LÍQUIDOS. Decreto Estadual 25.547/99. Inaplicabilidade. Prevalência dos preceitos constitucionais do mínimo existencial, da dignidade da pessoa, da isonomia e da natureza da verba alimentar da remuneração do servidor . NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO. 01 89166-29.2012.8.19.0001 - APELAÇÃ O DES. JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO - Julgamento: 26/06/2014 - VIGÉ SIMA QUARTA CÂ MARA CÍVEL CONSUMIDOR. Relaçã o de consumo. Rito ordiná rio. Litisconsó rcio passivo facultativo. Contratos de mú tuo consignado em folha de pagamento. Pensionista de servidor federal militar. Superendividamento. Absorçã o de 48% dos ganhos mensais. Pretensã o de restriçã o dos descontos ao patamar de 30% dos proventos líquidos. Verba alimentar. Necessidade de garantia do mínimo existencial. Medida Provisó ria nº 2215-10/2001, artigo 14, § 3º. Comprometimento de até 70% da remuneraçã o. Tratamento desigual entre iguais. Reforma da sentença de extinçã o do feito por ilegitimidade passiva ad causam. Tratamento isonômico entre os consumidores contratantes de empréstimo. Preceito constitucional. Limitação dos descontos em 30% dos proventos líquidos do mutuário. Manutenção da sentença de improcedência dos demais pedidos. Precedentes jurisprudenciais deste Tribunal. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Assim sendo, é à luz dos princípios da dignidade da pessoa humana e do mínimo existencial que os autores requerem a suspensã o das cobranças dos débitos referentes a empréstimos contratados e cobrança de cartã o de crédito por 06 (seis) meses e, apó s o decurso do prazo, a limitaçã o dos descontos no patamar de 30 % (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos. C) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR A relaçã o jurídica existente entre as partes que fundamenta o pedido principal decorre de um vínculo contratual da prestaçã o de serviço pelos réus, o que já configura o cará ter consumerista. O Có digo de Defesa do Consumidor impõ e a aplicaçã o de suas normas quando o titular do direito violado é destinatá rio final dos serviços – art. 2º – ou quando é vítima de evento danoso – art. 17 – estabelecendo uma série de direitos protetivos de ordem pú blica. Na hipó tese dos autos os réus prestam serviços bancá rios em que os autores sã o destinatá rios finais, o que, na forma da sú mula 297 do STJ, permite a aplicaçã o do CDC. Portanto, está evidenciada a relaçã o de consumo existente entre as partes, tendo os autores como consumidores e as partes rés como fornecedoras de produtos/serviços, motivo pelo qual deve ser aplicado CDC, que disciplina tal relaçã o. D) DO PREQUESTIONAMENTO Quando da apreciaçã o dos fatos narrados e dos fundamentos jurídicos articulados acima, requerem os autores à Vossa Excelência a aná lise das questõ es suscitadas, pois o indeferimento dos pedidos importa em ofensa à Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil, tendo em vista a eventual interposiçã o de recurso Extraordiná rio e/ou Recurso Especial. Pelo recurso extraordiná rio por contrariar o princípio da dignidade da pessoa humana e os artigos: 1º, II, III; 3º, I, II, III e IV; 4º, II; 5º, XXXII e XXXV; 6º, da CRFB/88, na forma do art. 102, III, a da CRFB/88. Pelo recurso especial por contrariar os arts. 156 e 421 do CC/02, bem como os arts. 2º; 3º; 4º; 5º, I; 6º, I, VII, e VIII; 7º e 8º do CDC, na forma do art. 105, III, a CRFB. E) DA TUTELA DE URGÊNCIA Postulam os autores, a título de tutela de urgência, que sejam suspendidos os descontos nas contas bancá rias referentes aos empréstimos e gastos com cartõ es de crédito, bem como a limitaçã o no patamar de 30% (trinta por centos) das verbas líquidas de natureza alimentar recebidas pelos consumidores, sob pena de multa diá ria em caso de descumprimento da decisã o a ser proferira pelo MM. Juízo. O art. 300 do CPC determina que a tutela de urgência será concedida quando houverem elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do processo. Probabilidade do direito está sobejamente comprovada pelos descontos das instituiçõ es financeiras, conforme consta dos contracheques acostados e dos extratos bancá rios anexos. Tais fatos quando em subsunçã o aos dispositivos constitucionais e à jurisprudência do C. TJRJ e do C. STJ, que limitam os descontos consignados a até 30% (trinta por cento) dos rendimentos líquidos, asseguram proteçã o à s verbas de natureza alimentar dos consumidores. Cumpre ressaltar, que o C. TJRJ tem concedido medidas de urgência idênticas em açõ es individuais, sendo inequívoco o direito dos autores. Nesse sentido: Agravo de Instrumento. Decisã o que deferiu o pedido de tutela provisó ria de urgência, para o fim de determinar que os réus se abstivessem de efetuar na conta corrente do autor, descontos em valores superiores a 30% (trinta por cento) dos seus vencimentos líquidos, sob pena de multa mensal correspondente ao dobro de cada desconto indevido. Inconformismo de um dos réus. A fixação do percentual em 30% (trinta por cento) dos rendimentos do agravado, a fim de limitar os referidos descontos, evitando o comprometimento da sua própria subsistência, é medida que se revela em harmonia com os princípios do mínimo existencial e da dignidade humana. Inteligência que se extrai da Súmula 295 deste Egrégio Tribunal de Justiça. In casu, as provas trazidas aos autos foram suficientes para convencer o magistrado a quo da verossimilhança das alegaçõ es formuladas pelo demandante, correto se revela o deferimento da medida pleiteada. Trata-se de ato judicial que nã o é teratoló gico nem contrá rio à lei ou à evidente prova dos autos. Manutençã o do decisum que se impõ e, na forma da Sú mula 59 desta Corte de Justiça. Recurso a que se nega provimento, nos termos do artigo 932, inciso IV, alínea a, do Có digo de Processo Civil. AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0019933- 61.2017.8.19.0000. AGRAVANTE: BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. AGRAVADO: MOISÉ S DA SILVA SANTOS RELATORA: DESEMBARGADORA GEÓ RGIA DE CARVALHO LIMA O perigo de dano por conta da demora também está preenchido, na medida em que os descontos promovidos pelas instituiçõ es financeiras colocam em risco a subsistência dos consumidores e de sua família, submetendo-os a condiçõ es indignas de vida e privando-os dos recursos mínimos para satisfazer suas necessidades mais bá sicas, tais como moradia, alimentaçã o, higiene, vestuá rio, entre outras. Nesta direçã o, importa destacar a liçã o do eminente jurista RODOLFO DE CAMARGO MANCUSA, no sentido de que, em sede de direitos difusos e coletivos: “O que interessa é a prevençã o do dano antes que sua reparaçã o, esta ú ltima tornada à s vezes impossível ou ineficaz;” principalmente quando se está debatendo a dignidade da pessoa humana e o direito ao mínimo existencial, como no caso em tela. Por ú ltimo, destaque-se que a medida é reversível, tendo em vista que as instituiçõ es financeiras nã o terã o quaisquer prejuízos com a concessã o da antecipaçã o dos efeitos da tutela, pois, o que se está postulando é apenas uma suspensã o e uma limitaçã o dos descontos realizados no patamar de 30% (trinta por cento) das verbas alimentares dos autores. III – DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto acima, requerem os autores à V. Exa. que: 1 - Seja designada audiência de conciliaçã o para a tentativa de autocomposiçã o das partes para a soluçã o da lide; 2 - Seja concedida a GRATUIDADE DE JUSTIÇA nos termos da Lei nº 1.060/50 e do art. 98 e seguintes do CPC, tendo em vista que os autores sã o hipossuficientes financeiramente e nã o possuem condiçõ es de arcar com o pagamento de custas processuais e honorá rios advocatícios, o que se constata dos documentos acostados que comprovam tal situaçã o, e, na remota hipó tese de seu indeferimento, que permita o recolhimento das custas judiciais ao final; 3 - Seja invertido o ô nus da prova, na forma do art. 6º, VIII, do CDC, em face da verossimilhança das alegaçõ es e da hipossuficiência dos autores consumidores, conforme sú mula 229 do TJRJ.; 4 - Seja concedida medida de tutela de urgência de cará ter antecipató rio inaudita altera pars, nos termos do art. 300 do Có digo de Processo Civil, para: 4.1 - Suspender temporiamente os descontos nas contas bancá rias dos autores por 06 (seis) meses, sem a incidência de juros, sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo; 4.2 - Limitar os descontos referentes aos empréstimos e gastos dos cartõ es de crédito no patamar de 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, o que corresponde a R$ centavos), até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus, sem a incidência de juros, observando a ordem cronoló gica dos contratos firmados, com a suspençã o dos empréstimos mais recentes, aguardando-se a amortizaçã o dos mais antigos, na forma das sú mulas 200 e 295 do TJRJ, bem como do enunciado n.º 148 do Encontro de Desembargadores do TJRJ (Aviso n.º 100/2011), sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo; 4.3 - Subsidiariamente, em respeito ao artigo 326 do CPC, caso nã o atenda aos pedidos anteriores: determinar que as parcelas dos empréstimos pessoais sejam cobradas através de boletos bancá rios e nã o mais com desconto em conta corrente; 4.4 - Obrigar os réus a se absterem de negativar os nomes dos autores junto aos serviços de proteçã o ao crédito – SPC, SERASA e outros – sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo, sem prejuízo dos danos morais; 4.5 – Determinar a exibiçã o de TODOS os contratos de origem das relaçõ es obrigacionais creditícias, sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo, consoante ao que determina o inciso VIII, do art. 6º, do CDC; 5 - Seja julgada procedente a açã o para confirmar em cará ter definitivo a tutela de urgência antecipató ria para: i) suspender temporiamente os descontos nas contas bancá rias dos autores por 06 (seis) meses e, apó s este período; ii) limitar os descontos referentes aos empréstimos e gastos de cartõ es de crédito no patamar correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, sem a incidência de juros, até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus; iii) subsidiariamente, em respeito ao artigo 326 do CPC, caso nã o atenda aos pedidos anteriores: determinar que as parcelas dos empréstimos pessoais sejam cobradas através de boletos bancá rios e nã o mais com desconto em conta corrente; e iv) obrigar os réus a se absterem de incluir os nomes dos autores nos cadastros de proteçã o ao crédito, sob pena de multa diá ria, abitrada pelo Juízo, sem prejuízo dos danos morais; 6 – Sejam os réus condenados ao pagamento das custas processuais e honorá rios advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa; 7 – Seja produzida prova pericial, documental e oral, consistente no depoimento pessoal dos autores. Por derreadeiro, atribui-se à causa o valor de R$ (soma de toda a dívida). Nestes termos, Pede deferimento. (CIDADE), (DIA) de (MÊ S) de (ANO). 1. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela uniã o indissolú vel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá tico de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; ↑ 2. RECURSO ESPECIAL No 1.584.501 - SP (2015/0252870-2); RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO ↑ 3. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 – 13. ed. rev., ampl. e atual. – Sã o Paulo: Atlas, 2015. ↑
Direito Adquirido a Regime Jurídico: confiança legítima, segurança jurídica e proteção das expectativas no âmbito das relações de Direito Público brasileiras