Você está na página 1de 11

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA

COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


JUSTIÇA GRATUITA
AUTOR, brasileiro, , , portador da Carteira de Identidade nº, expedida pelo ,
inscrito no CPF sob o nº , domiciliado na Rua , CEP , vem, por intermédio de seus
advogados constituídos por meio da procuraçã o anexa, com endereço profissional
na Rua d , com fulcro na Dignidade da Pessoa Humana -Fundamento da
República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CRFB/88)[1], propor a presente
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO c/c
OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
em face de BANCO X., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ sob o nº
XXXX, estabelecida na (ENDEREÇO), pelos fatos e fundamentos expostos a seguir.
I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
O instituto da gratuidade de justiça existe para garantir que a parte vulnerá vel
economicamente tenha acesso à justiça, acabando com os obstá culos pecuniá rios
que comprometeriam sua atuaçã o em juízo. Trata-se de uma decisã o sem critérios
objetivos para sua concessã o, ficando a cargo do magistrado avaliar o caso
concreto.
Afinal:
O conceito de necessitado nã o é determinado mediante regras rígidas,
matemá ticas, nã o se utilizando limites numéricos determinados. Têm direito ao
benefício aqueles que nã o podem arcar com os gastos necessá rios à participaçã o
no processo, na medida em que, contabilizados os seus ganhos e os seus gastos
com o pró prio sustento e da família, nã o lhe reste numerá rio suficiente para tanto.
O direito ao benefício decorre da indisponibilidade financeira do sujeito.
(MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciá ria e
justiça gratuita cit., p. 90).
Logo, a situaçã o de hipossuficiência dos requerentes nã o se dá pela renda/salá rio,
mas também pelo nível de endividamento dos mesmos.
Aliá s, a lide tem por objeto exatamente o reconhecimento do superendividamento
dos mesmos, com pedido de suspensã o dos pagamentos de empréstimos bancá rios
por causarem prejuízo à subsistência dos autores; ou no mínimo, revisã o de
clá usulas dos contratos de empréstimos para que seja garantia a sobrevivência
destes.
É um contrassenso acreditar que pessoas que estã o ingressando em juízo
justamente para terem a condiçã o de superendividados reconhecida possam arcar
com as altas custas judiciais.
Importante lembrar que faz jus ao pedido de gratuidade aqueles que nã o têm
condiçõ es de custear as despesas processuais sem prejuízo da sua mantença e de
sua família.
A CRFB, em seu artigo 5º, inciso LXXIV, assegura a assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Os requerentes
encontram-se endividados e sem condiçõ es de arcar com as custas do processo,
sem prejuízo do pró prio sustento e o de sua família. Sendo que o fato de possuírem
bons salá rios nã o pode obstar a concessã o do benefício legal.
Constam nos autos do processo todas as despesas que compõ em o orçamento
doméstico dos autores, sendo, portanto, incontestá vel que devem ser beneficiados
com a gratuidade de justiça.
Ademais, o Có digo de Processo Civil dispõ e que “presume-se verdadeira a alegaçã o
de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Desta forma, à
pessoa natural basta a mera alegaçã o de insuficiência de recursos, sendo
desnecessá ria a produçã o de provas da hipossuficiência financeira. A alegaçã o
presume-se verdadeira.
Até porque: “A efetivaçã o dos direitos individuais e coletivos, por meio da
assistência judiciá ria gratuita, suplanta os limites do direito formal, do arcabouço
jurídico que proclama a igualdade perante a lei e a proteçã o do Estado aos mais
pobres. A letra fria da lei aquece-se com o calor da vida real.” (SCHUBSKY, Cá ssio
(org.). Escola de justiça: histó ria e memó ria do Departamento Jurídico XI de Agosto
cit., p. 12).
Portanto, os autores AFIRMAM, nos termos da Lei nº 1.060/50 e do art. 98 do CPC,
que se encontram com insuficiência de recursos, nã o possuindo condiçõ es
financeiras para pagar as custas, as despesas processuais e os honorá rios
advocatícios sem o prejuízo do sustento de sua família, fazendo jus à
GRATUIDADE DE JUSTIÇA.
II – DOS FATOS
Os autores sã o clientes antigos dos Bancos, ora réus, inclusive desde o antigo
Banerj, e atualmente veem sua família encarar grande dificuldade financeira neste
momento de profunda crise econô mica, tendo a autora uma renda líquida
mensal de aproximadamente R$ .
Ocorre que o autor nã o tem, por ora, como imaginar mais soluçõ es engenhosas
para honrar tantos compromissos bancá rios sem comprometer profundamente o
sustento da família da qual sã o provedores. Insta salientar que os documentos
anexos demonstram que o autor possui os seguintes empréstimos contratados:
i) Junto ao primeiro réu :

ii) Junto ao segundo réu:

Total =
Desta forma, da soma das parcelas que ainda vencerã o, constata-se que a autora
possui uma dívida com os réus no montante R$ .
Por mês são descontados R$ pelos réus, que correspondem a % (por cento)
da renda familiar, inviabilizando o custeio das despesas familiares, violando
o princípio da dignidade da pessoa humana.
Ressalte-se que os autores fazem uso de medicaçã o continuada e a autora, há
quase 05 (cinco) anos, se submete a tratamento de câncer de mama, o que
demanda muita despesa com remédios.
Além disso, sã o também suportados pelos autores os gastos com o filho na ordem
de R$ , como se constata dos docs anexos.
Pelo histó rico bancá rio dos autores é possível constatar que os descontos feitos
pelos réus em suas constas bancá rias comprometem a sua pró pria subsistência,
violando os princípios do mínimo existencial e da dignidade humana. Hoje, o autor
possui saldo negativo de R$ na conta corrente nº xx.
Portanto, aos autores, pessoas idôneas, não resta outra opção senão
requererem a suspensão temporária dos descontos nas contas bancárias por
06 (seis) meses, e, após este período, a limitação dos descontos referentes a
empréstimos contratados e faturas de cartão de crédito no patamar
correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, ou
seja, no valor de R$ ).
II – DO DIREITO
A) DO SUPERENDIVIDAMENTO
O superendividamento ainda nã o se encontra disciplinado no ordenamento
jurídico brasileiro, ao contrá rio de outros ordenamentos jurídicos como o francês e
o norte-americano.
Assim, a aplicaçã o deste instituto jurídico é feita por meio do direito comparado, se
trata de uma construçã o dogmá tica e jurisprudencial. O superendividamento está
caracterizado quando a pessoa física se vê impossibilitada de honrar a totalidade
de suas dívidas nos termos inicialmente convencionados, exatamente como se
encontram os autores atualmente.
Pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça constata-se que no Brasil foi
adotado o modelo do Direito francês, o qual prevê no Code de la consommation
(Có digo do consumo) a possibilidade de suspensã o de execuçã o do devedor pelo
Juiz, excluindo-se a incidência dos juros.[2]
Desta forma, pacificou-se o entendimento de que os descontos feitos nas contas
bancá rias do consumidor nã o podem ultrapassar o patamar de 30% de seus
vencimentos líquidos, nesse sentido tem-se:
Súmula nº 200 do TJRJ - A RETENÇÃ O DE VALORES EM CONTA-CORRENTE
ORIUNDA DE EMPRÉ STIMO BANCÁ RIO OU DE UTILIZAÇÃ O DE CARTÃ O DE
CRÉ DITO NÃ O PODE ULTRAPASSAR O PERCENTUAL DE 30% DO SALÁ RIO DO
CORRENTISTA.
Súmula nº 295 do TJRJ - NA HIPÓ TESE DE SUPERENDIVIDAMENTO
DECORRENTE DE EMPRÉ STIMOS OBTIDOS DE INSTITUIÇÕ ES FINANCEIRAS
DIVERSAS, A TOTALIDADE DOS DESCONTOS INCIDENTES EM CONTA CORRENTE
NÃ O PODERÁ SER SUPERIOR A 30% DO SALÁ RIO DO DEVEDOR.
Enunciado n.º 148 do Encontro de Desembargadores do Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro (Aviso n.º 100/20110)– JURISPRUDÊNCIA
PREDOMINANTE – Na hipó tese de superendividamento decorrente de
empréstimos obtidos de instituiçõ es financeiras diversas, a totalidade dos
descontos incidentes em conta corrente nã o poderá ser superior a 30% do salá rio
do devedor”.
Diante do estado de superendividamento que se encontram atualmente os autores,
nã o lhes resta outra possibilidade senã o, à luz da jurisprudência do STJ e do TJRJ,
requerer a suspensã o temporá ria dos descontos em suas contas bancá rias por 06
(seis) meses e, apó s este período, a limitaçã o dos descontos no patamar
correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, que
correspondem a R$3.751,28 (três mil e setecentos e cinquenta e um reais e vinte e
oito centavos) até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus
B) DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL
O pedido principal dos autores possui fundamento no princípio da dignidade da
pessoa humana, ao passo que pretende proteger o mínimo existencial de sua
família. A dignidade da pessoa humana é o centro da ordem jurídica democrá tica,
revelando-se como verdadeiro super (ou supra) princípio. Das liçõ es do Ministro
do Supremo Tribunal Federal e professor Luís Roberto Barroso (2010, p.4) extrai-
se que:
A dignidade da pessoa humana, na sua acepçã o contemporâ nea, tem origem
religiosa, bíblica: o homem feito à imagem e semelhança de Deus. Com o
Iluminismo e a centralidade do homem, ele migra para a filosofia, tendo por
fundamento a razã o, a capacidade de valoraçã o moral e autodeterminaçã o do
indivíduo. Ao longo do século XX, ela se torna um objetivo político, um fim a ser
buscado pelo Estado e pela sociedade. Apó s a 2a Guerra Mundial, a ideia de
dignidade da pessoa humana migra paulatinamente para o mundo jurídico, em
razã o de dois movimentos. O primeiro foi o surgimento de uma cultura pó s-
positivista, que reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia política,
atenuando a separaçã o radical imposta pelo positivismo normativista. O segundo
constituiu na inclusã o da dignidade da pessoa humana em diferentes documentos
internacionais e Constitucionais de Estados democrá ticos. Convertida em um
conceito jurídico, a dificuldade presente está em dar a ela um conteú do mínimo,
que a torne uma categoria operacional e ú til, tanto na prá tica doméstica de cada
país quanto no discurso transnacional.
Avançando um pouco, Barroso afirma que:
A dignidade da pessoa humana tem seu berço secular na filosofia. Constitui, assim,
em primeiro lugar, um valor, que é conceito axioló gico, ligado à idéia de bom, justo,
virtuoso. Nessa condiçã o, ela se situa ao lado de outros valores centrais para o
Direito, como justiça, segurança e solidariedade. É nesse plano ético que a
dignidade se torna, para muitos autores, a justificaçã o moral dos direitos humanos
e fundamentais. (BARROSO 2010, p.4)
Por seu turno, o Ministo Alexandre de Moraes (2010, p. 48) leciona que:
A dignidade da pessoa humana concede unidade aos direitos e garantias
fundamentais, sendo inerente à s personalidades humanas. Esse fundamento afasta
a idéia de predomínio das concepçõ es transpessoalistas de Estado e Naçã o, em
detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral
inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminaçã o
consciente e responsá vel da pró pria vida e que traz consigo a pretensã o ao
respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerá vel
que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitaçõ es ao exercício dos direitos
fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessá ria estima que merecem
todas as pessoas enquanto seres humanos.
Começa-se a explanaçã o dos fundamentos jurídicos dos requerimentos dos autores
pelo princípio que é a base de todo ordenamento jurídico brasileiro, o qual
provocou a mudança do ponto nevrá lgico do Direito Civil através de uma mudança
axioló gica provocada pela constitucionalizaçã o do direito privado, que atribuiu
eficá cia horizontal aos Direitos Fundamentais.
Nesse sentido, é possível destacar as liçoes de Cristiano Chaves e Nelson
Rosenvald[3], o quais afirmam que:
Todas as normas de Direito Privado – tanto o Có digo Civil (norma geral) quanto as
leis extravagantes específicas (normas especiais) – estã o cimentadas a partir da
normatividade constitucional, devendo obediência aos valores emanados da Carta
Magna e, por isso, fundamentadas em princípios de dignidade, solidariedade social,
igualdade substancial e liberdade (a tá bua axioló gica constitucional).
A dignidade da pessoa humana é efetivada através da proteçã o de direitos e
garantias fundamentais promovida pela Constituiçã o Federal. Daí surge a ideia de
um mínimo existencial, o qual deve ser visto como a base e o alicerce da vida
humana. Trata-se de um direito fundamental e essencial, vinculado à Constituiçã o
Federal, e nã o necessita de Lei para sua obtençã o, tendo em vista que é inerente a
todo ser humano.
A grande maioria dos direitos fundamentais depende de prestaçõ es positivas,
exigindo gastos financeiros por parte do Estado, que encontra restriçõ es para a
total efetivaçã o desses direitos na escassez de recursos do Estado.
Entretanto, nã o é possível deixar a mercê do Estado a decisã o de implementar ou
nã o ao menos uma parcela mínima de cada direito fundamental social necessá ria
para garantir a vida digna de cada indivíduo, sob pena de atentar diretamente
contra os direitos e garantias constitucionais.
Esta parcela mínima dos direitos fundamentais é chamada Mínimo Existencial, que,
no entendimento de Rocha (2005, p. 445) foi criado “[...] para dar efetividade ao
princípio da possibilidade digna, ou da dignidade da pessoa humana possível, a ser
garantido pela sociedade e pelo Estado”.
Acerca do nú cleo abrangido pelo Mínimo Existencial, Canotilho (2001, p. 203)
expõ e:
Das vá rias normas sociais, econô micas e culturais é possível deduzir-se um
princípio jurídico estruturante de toda a ordem econô mico-social portuguesa:
todos (princípio da universalidade) têm um direito fundamental a um nú cleo
bá sico de direitos sociais (minimum core of economic and social rights) na
ausência do qual o estado português deve se considerar infractor das obrigaçõ es
jurídico-sociais constitucional e internacionalmente impostas.
Neste diapasã o, o Mínimo Existencial é o direito de cada indivíduo à s condiçõ es
mínimas indispensá veis para a existência humana digna, que nã o pode ser objeto
de intervençã o do Estado, mas que exige prestaçõ es positivas deste. Consiste,
entã o, a um padrã o mínimo de efetivaçã o dos direitos fundamentais sociais pelo
Estado.
Embora nã o esteja expressamente contido em nossa Constituiçã o Federal, deve-se
contextualizá -lo nos direitos humanos, na ideia de liberdade em todos os seus
sentidos e nos princípios da igualdade e, acima de tudo, da dignidade da pessoa
humana, princípio basilar das garantias constitucionais.
O mínimo se refere aos direitos relacionados à s necessidades sem as quais nã o é
possível “viver como gente”. É um direito que visa garantir condiçõ es mínimas de
existência humana digna, e se refere aos direitos positivos, pois exige que o Estado
ofereça condiçõ es para que haja eficá cia plena na aplicabilidade destes direitos.
Os direitos abrangidos pelo mínimo existencial sã o os que estã o relacionados com
os direitos sociais, econô micos e culturais, previstos na Constituiçã o Federal (como
o trabalho, salá rio mínimo, alimentaçã o, vestimenta, lazer, educaçã o, repouso,
férias e despesas importantes, como á gua e luz). Sã o direitos de 2ª geraçã o que
possuem cará ter programá tico, pois o Estado deve desenvolver programas para
que esses direitos alcancem o indivíduo.
O mínimo existencial, portanto, abrange o conjunto de prestaçõ es materiais
necessá rias e absolutamente essenciais para todo ser humano ter uma vida digna.
Ele é tã o importante que é consagrado pela Doutrina como sendo o nú cleo do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, previsto no artigo 1º, III da CF.
Ocorre que os descontos nas contas dos autores nã o estã o permitindo fruiçã o
destes direitos fundamentais, sendo que o que se pretende com a presente
demanda é justamente preservar esses direitos abrangidos pelo mínimo
existencial, tais como alimentaçã o, vestimenta, lazer, educaçã o e despesas
importantes como á gua e luz.
Nesse sentido é possível destacar a vasta jurisprudência do TJRJ em que é adotado
o entendimento de que a limitaçã o dos descontos dos rendimentos líquidos no
patamar de 30% (trinta por cento) atende aos referidos princípios, conforme se
constata dos julgados abaixo:
0021500-64.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. SERGIO SEABRA
VARELLA - Julgamento: 22/06/2016 -VIGÉ SIMA QUARTA CÂ MARA CÍVEL
CONSUMIDOR. Agravo de instrumento. Relaçã o de Consumo. Limite má ximo de
desconto a título de empréstimo consignado na folha de pagamento. Servidor
pú blico estadual. Policial militar. Decisã o que limitou os descontos em 30% da
renda do agravado. Irresignaçã o da parte ré. Descontos relativos a mú tuo bancá rio
que nã o podem ultrapassar o percentual de 30% da renda do servidor. Aplicá vel,
analogicamente, as sú mulas 200 e 295 do TJRJ. Precedentes . Ainda que se trate
de servidor público estadual, os descontos devem ser limitados ao patamar
de 30% dos seus GANHOS LÍQUIDOS. Decreto Estadual 25.547/99.
Inaplicabilidade. Prevalência dos preceitos constitucionais do mínimo
existencial, da dignidade da pessoa, da isonomia e da natureza da verba
alimentar da remuneração do servidor . NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO.
01
89166-29.2012.8.19.0001 - APELAÇÃ O DES. JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA
NETO - Julgamento: 26/06/2014 - VIGÉ SIMA QUARTA CÂ MARA CÍVEL
CONSUMIDOR. Relaçã o de consumo. Rito ordiná rio. Litisconsó rcio passivo
facultativo. Contratos de mú tuo consignado em folha de pagamento. Pensionista de
servidor federal militar. Superendividamento. Absorçã o de 48% dos ganhos
mensais. Pretensã o de restriçã o dos descontos ao patamar de 30% dos proventos
líquidos. Verba alimentar. Necessidade de garantia do mínimo existencial.
Medida Provisó ria nº 2215-10/2001, artigo 14, § 3º. Comprometimento de até
70% da remuneraçã o. Tratamento desigual entre iguais. Reforma da sentença de
extinçã o do feito por ilegitimidade passiva ad causam. Tratamento isonômico
entre os consumidores contratantes de empréstimo. Preceito constitucional.
Limitação dos descontos em 30% dos proventos líquidos do mutuário.
Manutenção da sentença de improcedência dos demais pedidos. Precedentes
jurisprudenciais deste Tribunal. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Assim sendo, é à luz dos princípios da dignidade da pessoa humana e do mínimo
existencial que os autores requerem a suspensã o das cobranças dos débitos
referentes a empréstimos contratados e cobrança de cartã o de crédito por 06
(seis) meses e, apó s o decurso do prazo, a limitaçã o dos descontos no patamar de
30 % (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos.
C) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
A relaçã o jurídica existente entre as partes que fundamenta o pedido principal
decorre de um vínculo contratual da prestaçã o de serviço pelos réus, o que já
configura o cará ter consumerista.
O Có digo de Defesa do Consumidor impõ e a aplicaçã o de suas normas quando o
titular do direito violado é destinatá rio final dos serviços – art. 2º – ou quando é
vítima de evento danoso – art. 17 – estabelecendo uma série de direitos protetivos
de ordem pú blica.
Na hipó tese dos autos os réus prestam serviços bancá rios em que os autores sã o
destinatá rios finais, o que, na forma da sú mula 297 do STJ, permite a aplicaçã o do
CDC.
Portanto, está evidenciada a relaçã o de consumo existente entre as partes, tendo
os autores como consumidores e as partes rés como fornecedoras de
produtos/serviços, motivo pelo qual deve ser aplicado CDC, que disciplina tal
relaçã o.
D) DO PREQUESTIONAMENTO
Quando da apreciaçã o dos fatos narrados e dos fundamentos jurídicos articulados
acima, requerem os autores à Vossa Excelência a aná lise das questõ es suscitadas,
pois o indeferimento dos pedidos importa em ofensa à Constituiçã o da Republica
Federativa do Brasil, tendo em vista a eventual interposiçã o de recurso
Extraordiná rio e/ou Recurso Especial.
Pelo recurso extraordiná rio por contrariar o princípio da dignidade da pessoa
humana e os artigos: 1º, II, III; 3º, I, II, III e IV; 4º, II; 5º, XXXII e XXXV; 6º, da
CRFB/88, na forma do art. 102, III, a da CRFB/88.
Pelo recurso especial por contrariar os arts. 156 e 421 do CC/02, bem como os arts.
2º; 3º; 4º; 5º, I; 6º, I, VII, e VIII; 7º e 8º do CDC, na forma do art. 105, III, a CRFB.
E) DA TUTELA DE URGÊNCIA
Postulam os autores, a título de tutela de urgência, que sejam suspendidos os
descontos nas contas bancá rias referentes aos empréstimos e gastos com cartõ es
de crédito, bem como a limitaçã o no patamar de 30% (trinta por centos) das
verbas líquidas de natureza alimentar recebidas pelos consumidores, sob pena de
multa diá ria em caso de descumprimento da decisã o a ser proferira pelo MM. Juízo.
O art. 300 do CPC determina que a tutela de urgência será concedida quando
houverem elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado ú til do processo.
Probabilidade do direito está sobejamente comprovada pelos descontos das
instituiçõ es financeiras, conforme consta dos contracheques acostados e dos
extratos bancá rios anexos. Tais fatos quando em subsunçã o aos dispositivos
constitucionais e à jurisprudência do C. TJRJ e do C. STJ, que limitam os descontos
consignados a até 30% (trinta por cento) dos rendimentos líquidos, asseguram
proteçã o à s verbas de natureza alimentar dos consumidores.
Cumpre ressaltar, que o C. TJRJ tem concedido medidas de urgência idênticas em
açõ es individuais, sendo inequívoco o direito dos autores. Nesse sentido:
Agravo de Instrumento. Decisã o que deferiu o pedido de tutela provisó ria de
urgência, para o fim de determinar que os réus se abstivessem de efetuar na conta
corrente do autor, descontos em valores superiores a 30% (trinta por cento) dos
seus vencimentos líquidos, sob pena de multa mensal correspondente ao dobro de
cada desconto indevido. Inconformismo de um dos réus. A fixação do percentual
em 30% (trinta por cento) dos rendimentos do agravado, a fim de limitar os
referidos descontos, evitando o comprometimento da sua própria
subsistência, é medida que se revela em harmonia com os princípios do
mínimo existencial e da dignidade humana. Inteligência que se extrai da
Súmula 295 deste Egrégio Tribunal de Justiça. In casu, as provas trazidas aos
autos foram suficientes para convencer o magistrado a quo da verossimilhança das
alegaçõ es formuladas pelo demandante, correto se revela o deferimento da medida
pleiteada. Trata-se de ato judicial que nã o é teratoló gico nem contrá rio à lei ou à
evidente prova dos autos.
Manutençã o do decisum que se impõ e, na forma da Sú mula 59 desta Corte de
Justiça. Recurso a que se nega provimento, nos termos do artigo 932, inciso IV,
alínea a, do Có digo de Processo Civil. AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0019933-
61.2017.8.19.0000.
AGRAVANTE: BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A.
AGRAVADO: MOISÉ S DA SILVA SANTOS
RELATORA: DESEMBARGADORA GEÓ RGIA DE CARVALHO LIMA
O perigo de dano por conta da demora também está preenchido, na medida em que
os descontos promovidos pelas instituiçõ es financeiras colocam em risco a
subsistência dos consumidores e de sua família, submetendo-os a condiçõ es
indignas de vida e privando-os dos recursos mínimos para satisfazer suas
necessidades mais bá sicas, tais como moradia, alimentaçã o, higiene, vestuá rio,
entre outras.
Nesta direçã o, importa destacar a liçã o do eminente jurista RODOLFO DE
CAMARGO MANCUSA, no sentido de que, em sede de direitos difusos e coletivos: “O
que interessa é a prevençã o do dano antes que sua reparaçã o, esta ú ltima tornada
à s vezes impossível ou ineficaz;” principalmente quando se está debatendo a
dignidade da pessoa humana e o direito ao mínimo existencial, como no caso em
tela.
Por ú ltimo, destaque-se que a medida é reversível, tendo em vista que as
instituiçõ es financeiras nã o terã o quaisquer prejuízos com a concessã o da
antecipaçã o dos efeitos da tutela, pois, o que se está postulando é apenas uma
suspensã o e uma limitaçã o dos descontos realizados no patamar de 30% (trinta
por cento) das verbas alimentares dos autores.
III – DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto acima, requerem os autores à V. Exa. que:
1 - Seja designada audiência de conciliaçã o para a tentativa de autocomposiçã o das
partes para a soluçã o da lide;
2 - Seja concedida a GRATUIDADE DE JUSTIÇA nos termos da Lei nº 1.060/50 e do
art. 98 e seguintes do CPC, tendo em vista que os autores sã o hipossuficientes
financeiramente e nã o possuem condiçõ es de arcar com o pagamento de custas
processuais e honorá rios advocatícios, o que se constata dos documentos
acostados que comprovam tal situaçã o, e, na remota hipó tese de seu
indeferimento, que permita o recolhimento das custas judiciais ao final;
3 - Seja invertido o ô nus da prova, na forma do art. 6º, VIII, do CDC, em face da
verossimilhança das alegaçõ es e da hipossuficiência dos autores consumidores,
conforme sú mula 229 do TJRJ.;
4 - Seja concedida medida de tutela de urgência de cará ter antecipató rio inaudita
altera pars, nos termos do art. 300 do Có digo de Processo Civil, para:
4.1 - Suspender temporiamente os descontos nas contas bancá rias dos autores por
06 (seis) meses, sem a incidência de juros, sob pena de multa diá ria a ser fixada
pelo Juízo;
4.2 - Limitar os descontos referentes aos empréstimos e gastos dos cartõ es de
crédito no patamar de 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, o que
corresponde a R$ centavos), até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus,
sem a incidência de juros, observando a ordem cronoló gica dos contratos firmados,
com a suspençã o dos empréstimos mais recentes, aguardando-se a amortizaçã o
dos mais antigos, na forma das sú mulas 200 e 295 do TJRJ, bem como do
enunciado n.º 148 do Encontro de Desembargadores do TJRJ (Aviso n.º 100/2011),
sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo;
4.3 - Subsidiariamente, em respeito ao artigo 326 do CPC, caso nã o atenda aos
pedidos anteriores: determinar que as parcelas dos empréstimos pessoais sejam
cobradas através de boletos bancá rios e nã o mais com desconto em conta corrente;
4.4 - Obrigar os réus a se absterem de negativar os nomes dos autores junto aos
serviços de proteçã o ao crédito – SPC, SERASA e outros – sob pena de multa diá ria
a ser fixada pelo Juízo, sem prejuízo dos danos morais;
4.5 – Determinar a exibiçã o de TODOS os contratos de origem das relaçõ es
obrigacionais creditícias, sob pena de multa diá ria a ser fixada pelo Juízo,
consoante ao que determina o inciso VIII, do art. 6º, do CDC;
5 - Seja julgada procedente a açã o para confirmar em cará ter definitivo a tutela de
urgência antecipató ria para: i) suspender temporiamente os descontos nas contas
bancá rias dos autores por 06 (seis) meses e, apó s este período; ii) limitar os
descontos referentes aos empréstimos e gastos de cartõ es de crédito no patamar
correspondente a 30% (trinta por cento) de seus rendimentos líquidos, sem a
incidência de juros, até a quitaçã o dos débitos contraídos junto aos réus; iii)
subsidiariamente, em respeito ao artigo 326 do CPC, caso nã o atenda aos pedidos
anteriores: determinar que as parcelas dos empréstimos pessoais sejam cobradas
através de boletos bancá rios e nã o mais com desconto em conta corrente; e iv)
obrigar os réus a se absterem de incluir os nomes dos autores nos cadastros de
proteçã o ao crédito, sob pena de multa diá ria, abitrada pelo Juízo, sem prejuízo dos
danos morais;
6 – Sejam os réus condenados ao pagamento das custas processuais e honorá rios
advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa;
7 – Seja produzida prova pericial, documental e oral, consistente no depoimento
pessoal dos autores.
Por derreadeiro, atribui-se à causa o valor de R$ (soma de toda a dívida).
Nestes termos,
Pede deferimento.
(CIDADE), (DIA) de (MÊ S) de (ANO).
1. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela uniã o indissolú vel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrá tico de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana; ↑
2. RECURSO ESPECIAL No 1.584.501 - SP (2015/0252870-2); RELATOR:
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO ↑
3. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 – 13. ed. rev., ampl. e
atual. – Sã o Paulo: Atlas, 2015. ↑

Você também pode gostar