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Comarca de Soledade

1ª Vara Cível
Rua José Quintana, 23

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Processo nº: 036/1.12.0001536-2 (CNJ:.0004065-51.2012.8.21.0036)

Natureza: Ação Civil Pública

Autor: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

Réu: Município de Barros Cassal

Juíza Prolatora: Maira Grinblat

Data: 30/07/2013

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul ajuizou ação civil pública
em face do Município de Barros Cassal, objetivando a implementação do piso
salarial nacional de salário para o magistério público fixado na Lei 11.738/2008.
Referiu o Ministério Público que, oficiado o ente público réu em expediente
administrativo, esse informou que, em razão da limitada dotação orçamentária,
não tem condições de implementar o piso salarial.

À fl. 32, foi determinada a suspensão das ações individuais.

Citado, o Município de Barros Cassal apresentou contestação (fls.


35/57). Preliminarmente, requereu o chamamento da União ao processo. No mérito,
aduziu que a demanda deve ser sobrestada, tendo em vista que a ADIN 4167 ainda
não transitou em julgado; a ausência de mora na implantação do piso nacional; a
necessidade de edição de lei municipal e estadual e; que o piso deve ser limitado ao
valor de R$ 950,00, até que nova lei disponha sobre os novos valores que devem
ser adotados.

O pedido de chamamento ao processo da União foi indeferido (fl.


59).
O Ministério Público informou a interposição de agravo de
instrumento (fls. 60/65).

A decisão de suspensão das ações foi mantida (fl. 66).

O Ministério Público não requereu a produção de outras provas (fls.


71/73).

Ao agravo foi negado seguimento, ante a reconsideração da


decisão (fl. 76).

Instado, o Município não requereu a produção de outras provas (fl.


82).

Vieram os autos conclusos. É o relatório. Decido.

Tendo em vista que a matéria sub judice é eminentemente de direito,


julgo o processo no estado em que se encontra, forte no que dispõe o artigo 330, inciso I, do
CPC.

Trata-se de ação civil pública movida pelo Ministério Público


Estadual em face do Município de Barros Cassal, na qual pretende a implementação
do piso nacional de salário para o magistério público fixado na Lei 11.738/2008.

Como é cediço, a ADIN nº 4.167-3 foi julgada improcedente pelo


STF, sendo reconhecida a constitucionalidade dos artigos da Lei nº 11.738/2008,
sendo, assim, obrigatórias a normatização e implementação do Piso Nacional de
Salário a todo Estado Membro, Município e ao Distrito Federal.

E, no que pertine, assim dispõe o diploma legal citado:

[...]
Art. 2o  O piso salarial profissional nacional para os profissionais
do magistério público da educação básica será de R$ 950,00
(novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível
médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. grifei
§ 1o  O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão
fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da
educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta)
horas semanais.
§ 2o  Por profissionais do magistério público da educação básica
entendem-se aqueles que desempenham as atividades de
docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção
ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação
e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades
escolares de educação básica, em suas diversas etapas e
modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação
federal de diretrizes e bases da educação nacional.
§ 3o  Os vencimentos iniciais referentes às demais jornadas de
trabalho serão, no mínimo, proporcionais ao valor mencionado no
caput deste artigo.
§ 4o  Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite
máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho
das atividades de interação com os educandos.
§ 5o  As disposições relativas ao piso salarial de que trata esta Lei
serão aplicadas a todas as aposentadorias e pensões dos
profissionais do magistério público da educação básica alcançadas
pelo art. 7o da Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro
de 2003, e pela Emenda Constitucional no 47, de 5 de julho de
2005.
[...] - grifei

A respeito, destaco que, por ocasião do julgamento dos embargos


declaratórios da ADI 4167, o STF assentou que a Lei 11.738/2008 tem eficácia
somente a partir de 27/04/2011, data do julgamento do mérito da ADI.

Assim, no período anterior, em razão do entendimento do Supremo


Tribunal Federal, descabe perquirir acerca do cumprimento da lei pelo ente público,
restando, deste modo, prejudicado o pagamento escalonado do piso inicialmente
previsto.

E no presente caso, o Município réu não logrou comprovar a efetiva


implantação do piso nacional de salário para o magistério. Intimado para declinar as
provas que ainda pretendia produzir, nada requereu (fl. 82).

Assim, o acolhimento da pretensão é solução jurídica que se


impõe, com a condenação do Município demandado a implementar o piso salarial
nacional de salário para o magistério público, a partir de 27/04/2011, com
atualização anual pelo índice do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
Educação Básica e de Valorização Profissional da Educação (FUNDEB), e
observância dos respectivos valores de R$ 1.187,00, R$ 1.451,00 e R$ 1.567,00,
relativamente aos anos de 2011, 2012 e 2013, e, assim, sucessivamente, para as
jornadas de trabalho de 40 horas semanais e proporcionalmente, nos termos do §3º,
do art. 2º da Lei 11.738/2008, para as demais jornadas de trabalho.

A respeito, para evitar tautologia, adoto a fundamentação dos


arestos abaixo colacionados como razões de decidir, sendo um dos precedentes
oriundo do Município demandado em ação individual:

APELAÇÃO CÍVEL. MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE BARROS


CASSAL. IMPLANTAÇÃO DE PISO SALARIAL INSTITUÍDO NA LEI
FEDERAL Nº 11.738/08. (...) . 3. A Lei Federal nº 11.738/2008, que
instituiu o piso nacional de salário para o magistério público da
educação básica, ao regulamentar a alínea "e", do inciso III, do
caput, do art. 60, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias - ADCT, em vigor desde o ano de 2008, já teve
exaurido o cronograma de aplicação escalonada do Piso de
vencimentos, restando obrigatória a observância por todo Estado
Membro, Município e ao Distrito Federal. 4. A ADIN nº 4.167-3 foi
julgada improcedente pelo STF, sendo reconhecida a
constitucionalidade dos artigos da Lei nº 11.738/2008, rechaçando
as alegações deduzidas pelos Estados membros, autores da ADI,
bem como as do ente municipal, no particular. 5. Aplicação da Lei
11960/09. APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE
CONHECIDA, PROVIDO EM PARTE. (Apelação Cível Nº
70050374594, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Rogerio Gesta Leal, Julgado em 21/03/2013) - grifei

REEXAME NECESSÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. MAGISTÉRIO PÚBLICO


MUNICIPAL DE SÃO BORJA. IMPLANTAÇÃO DE PISO SALARIAL
INSTITUÍDO NA LEI FEDERAL Nº 11.738/08. 1. A Lei Federal nº
11.738/2008, que instituiu o piso nacional de salário para o
magistério público da educação básica, ao regulamentar a alínea
"e", do inciso III, do caput, do art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias - ADCT, em vigor desde o ano de 2008,
já teve exaurido o cronograma de aplicação escalonada do Piso de
vencimentos, restando obrigatória a observância por todo Estado
Membro, Município e ao Distrito Federal. 2. A ADIN nº 4.167-3 foi
julgada improcedente pelo STF, sendo reconhecida a
constitucionalidade dos artigos da Lei nº 11.738/2008, rechaçando
as alegações deduzidas pelos Estados membros, autores da ADI,
bem como as do ente municipal, no particular. 3. Ausência de
diferenças a serem pagas a servidora, a partir do ano de 2012,
tendo em vista que a Lei Municipal nº 4.500/2012, que implantou o
piso salarial da categoria, observou os ditames da Lei 11.738/08. 4.
Aplicação da Lei 11960/09. SENTENÇA CONFIRMADA EM REEXAME
NECESSÁRIO. (Reexame Necessário Nº 70053105045, Terceira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rogerio Gesta
Leal, Julgado em 21/03/2013)

Ainda, descabe a insurgência do Município de Barros Cassal no


tocante ao valor devido, como se colhe do trecho do seguinte aresto, igualmente
aplicável ao caso:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PISO SALARIAL


PROFISSIONAL NACIONAL PARA OS PROFISSIONAIS DO
MAGISTÉRIO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO BÁSICA. DEMANDA
PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. "(...) [...] SUSPENSÃO DO
PROCESSO. INDEFERIMENTO. PREJUDICIAL EXTERNA. CPC, INC. IV,
ALÍNEA "A". INOCORRÊNCIA. Inexiste motivo jurídico plausível
para se suspender indefinidamente o julgamento do apelo no
aguardo do pronunciamento do STF sobre o mérito da ADI 4848.
Direito dos substituídos processuais à obtenção da tutela
jurisdicional em tempo razoável, sem que haja comprometimento
do direito subjetivo individual já reconhecido pela Suprema Corte
no julgamento, com cunho de definitividade, da ADI 4167.
Princípio da presunção da constitucionalidade das leis. [...]
SUSCITAÇÃO DO INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART.
5º DA LEI Nº 11.738/2008. DESNECESSIDADE. É desnecessário
suscitar incidente de controle de constitucionalidade ao Órgão
Especial deste TJRS, visto que o art. 5º da Lei nº 11.738/2008,
diploma legal de âmbito nacional, tem sua constitucionalidade
impugnada no STF através da ADI 4.848-DF. Medida cautelar
liminar indeferida pelo STF, em decisão monocrática do
Presidente dessa Corte datada de 13-11-2012. [...] CRITÉRIO DE
ATUALIZAÇÃO ANUAL DO VALOR DO PISO SALARIAL
PROFISSIONAL NACIONAL PARA OS PROFISSIONAIS DO
MAGISTÉRIO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO BÁSICA. ADOÇÃO DO
ÍNDICE DO FUNDEB. ART. 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº
11.738/2008. OPÇÃO LEGÍTIMA ADOTADA PELO CONGRESSO
NACIONAL. SOMENTE A ELE INCUMBE REVÊ-LA, SE E QUANDO
ENTENDER ADEQUADO E CONVENIENTE. O índice do reajuste do
FUNDEB está expressamente previsto no parágrafo único do art.
5º da Lei 11.738/2008. A atualização do valor do piso nacional do
magistério da educação básica realiza-se anualmente, no mês de
janeiro, conforme previsão do "caput" do dispositivo legal
supracitado. A sistemática adotada pela chamada Lei do Piso do
Magistério para estabelecer critérios de reajuste não retira
controle sobre os orçamentos dos entes federados, cabendo a
estes se organizarem para gestão adequada dos orçamentos e
aplicação da lei vigente. [...] (Apelação e Reexame Necessário Nº
70049971815, Vigésima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 25/06/2013)
Pontuo que a implementação é também devida aos respectivos
aposentados e pensionistas, nos moldes do §5º, do art. 2º, da Lei 11.738/2008,
conforme postulado no item d.1, à fl. 21, na inicial, alcançados pelo art. 7o da
Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro de 2003, e pela Emenda
Constitucional no 47, de 5 de julho de 2005.

Ante o exposto, julgoPROCEDENTES os pedidos formulados


pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul na ação civil
pública ajuizada em face do Município de Barros Cassal, condenando o ente
público demandado a:

1. implementar o piso salarial nacional de salário para o


magistério público, a partir de 27/04/2011, com atualização
anual pelo índice do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento Educação Básica e de Valorização
Profissional da Educação (FUNDEB), e observância dos
respectivos valores de R$ 1.187,00, R$ 1.451,00 e R$
1.567,00, relativamente aos anos de 2011, 2012 e 2013, e,
assim, sucessivamente, para as jornadas de trabalho de 40
horas semanais e, de modo proporcional, nos termos do
§3º, do art. 2º da Lei 11.738/2008, para as demais jornadas
de trabalho;

3. estender o pagamento do piso salarial aos respectivos


aposentados e pensionistas, nos moldes do §5º, do art. 2º,
da Lei 11.738/2008;

5. pagar a todos os profissionais abrangidos pela Lei


11.738/08, a diferença entre o que perceberam e o valor
que deveriam ter recebido, se tivesse sido implementado o
piso salarial profissional nacional para os profissionais do
magistério público da educação básica;

7. determinar que, no tocante aos juros e correção monetária,


que sobre as parcelas vencidas e vincendas da condenação,
devem incidir correção monetária e juros de mora na forma
prevista no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação que
lhe conferiu a Lei nº 11.960/09, sendo o termo inicial dos
juros de mora a data da citação, a teor do art. 219 do CPC;

9. incluir, no respectivo orçamento para 2014 e anos


seguintes, previsão orçamentária para pagamento do piso
nacional do magistério.
Outrossim, condeno o Município ao pagamento de metade das
custas processuais que lhe cabe, nos termos do art. 11, da Lei Estadual nº 8.121/85,
em sua redação original restabelecida, em razão do julgamento do Incidente de
Inconstitucionalidade nº 70041334053.

Sem honorários. Neste sentido: “ (...) HONORÁRIOS AO MINISTÉRIO


PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE. Tendo em vista que se trata de ação civil pública ajuizada pelo
Ministério Público e julgada procedente, não se pode falar em pagamento de honorários
advocatícios, com fundamento no art. 128, §5º, inc. II, alínea "a" da Constituição Federal. (...)
“(Apelação Cível Nº 70045987823, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Jorge Maraschin dos Santos, Julgado em 05/12/2011)

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Com ou sem recurso voluntário, submeto a presente sentença a


reexame necessário.
 
Soledade, 30 de julho de 2013.

Maira Grinblat 
Juíza de Direito

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