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EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA VARA COMPETENTE POR


DISTRIBUIÇÃO DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CIDADE-UF

NOME COMPLETO DA ASSOCIAÇÃO, pessoa jurídica de direito privado,


legalmente constituída desde 1º de Janeiro de 1984, com Estatuto e respectivas
alterações registrados e arquivados no Cartório de Registro de Títulos e
Documentos da Comarca de CIDADE-UF, cidade em que mantém sua sede,
devidamente inscrita no CGC/MF sob o nº 00000000 (doc. inclusos), com
endereço à Rua TAL, nº 000, sala 00, Bairro, CIDADE-UF, ora agindo na
qualidade de substituta processual dos Mutuários do Banco do Estado de São
Paulo – BANCO TAL S/A, em defesa dos direitos individuais homogêneos
destes, com supedâneo no inciso IV, do artigo 82, da Lei 8.078/90 (CDC),
através dos procuradores in fine subscritos, constituídos pelo instrumento de
mandato incluso, vem à presença de Vossa Excelência, respeitosamente, com
fulcro na Lei nº 4.380/64, art. 5º, § 1º (instituidora da correção monetária nos
Contratos Imobiliários); no Decreto-lei 2.164/84 (instituidor da equivalência
salarial como critério de reajustamento das prestações no SFH); na Lei
8.004/90 (cujo art. 22 modificou a redação do art. 9º do Dec. lei retro); na Lei
8.692/93 (originadora do Plano de Comprometimento de Renda – PCR); no art.
4º do Decreto-lei 22.626/33 (Lei de Usura); na Súmula 121 do STF; na Lei
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor); na Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil
Pública); e na decisão prolatada na ADIN 493-0-DF (em que o STF julgou
inconstitucional a incidência da Taxa Referencial – TR – nos mútuos
habitacionais lavrados com recursos do SFH), a fim de propor:

AÇÃO CIVIL COLETIVA EM QUE SE REQUER REVISÃO DE CLÁUSULAS


DE CONTRATOS DE MÚTUO PARA AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS
HABITACIONAIS ATRAVÉS DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO
NO TOCANTE AO CRITÉRIO DE REAJUSTE DOS ENCARGOS MENSAIS E
DOS SALDOS DEVEDORES COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em desfavor de:

BANCO TAL S/A – instituição financeira com personalidade jurídica de direito


privado, sediada na Capital do Estado de CIDADE-UF, na Praça TAL, nº 00,
inscrita no CGC/MF sob nº 00000000000, com seu estatuto social registrado na
JUCEUF sob nº 000000, em sessão de DATA TAL e BANCO TAL S/A, instituição
financeira sob a forma de empresa pública federal, dotada de personalidade
jurídica de direito privado, inscrita no CGC/MF sob nº 0000000000, com sede
em CIDADE-UF e subsidie estadual nesta Capital de CIDADE-UF, na AVENIDA
TAL, nº 00000, onde deverá ser citada dos termos da presente.

LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA CEF. LITISCONSÓRCIO


NECESSÁRIO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

Embora não figure diretamente como parte nos contratos que ora se discutem,
justifica-se a inclusão da CEF no pólo passivo da demanda, por versar a
presente ação sobre revisão de cláusulas de contratos de financiamento de
imóveis habitacionais adquiridos através do Sistema Financeiro da Habitação –
SFH. Com efeito, sendo a CEF sucessora do extinto BNH e atual gestora das
contas do SFH, deverá obrigatoriamente compor a lide como LITISCONSORTE
NECESSÁRIA. Esse é o entendimento pacífico dos nossos Tribunais, inclusive do
Colendo Superior Tribunal de Justiça, conforme se depreende dos julgados
abaixo transcritos:

"ADMINISTRATIVO. SITEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. PRESTAÇÃO DA


CASA PRÓPRIA. CRITÉRIO DE REAJUSTE. ÍNDICE DE CORREÇÃO DOS
SALÁRIOS. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. PROCESSUAL CIVIL. CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL. LEGITIMIDADE "AD CAUSAM". DECRETO-LEI Nº
2.291/86. PRECEDENTES.

(...)

A jurisprudência uníssona deste Tribunal consagrou a tese de que, em sede de


ação que tem como objeto o reajuste das prestações da casa própria, a Caixa
Econômica Federal, como sucessora do BNH, deve figurar no polo passivo da
demanda, inexistindo violação ao artigo 7º, do Decreto-Lei nº 2.291/86.
Recurso Especial conhecido e desprovido."

(REsp nº 43.364-9/RJ, Rel. Min. César Asfor Rocha)

"PROCESSO CIVIL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES DA CASA PRÓPRIA. SFH.


ILEGITIMIDADE PASSIVA DO BACEN. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CEF.

1- Na condição de sucessora do extinto BNH, a CEF é parte passiva legítima nas


ações em que se discutem os reajustes das prestações do SFH.

(...)

Agravo improvido. (Decisão unânime, em 08.02.96)"

(TRF 4ª Região, 5ª Turma, AI nº 95.0436007-6/PR, Rel. Juíza Luíza


Dias Cassales)

"PROCESSUAL CIVIL E HABITACIONAL. AÇÕES SOBRE SISTEMA FINANCEIRO


DA HABITAÇÃO – SFH. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO DA CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL – CEF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1- É entendimento tranqüilo neste Tribunal que, nas ações referentes ao SFH, é


forçosa a intervenção da CEF como litisconsorte necessária, na qualidade de
sucessora legal do Banco Nacional da Habitação–BNH, o que desloca a
competência para a Justiça Federal (artigo 109, I, da CF).

2- Recurso provido, por unanimidade. (Em 18.04.1994)."

(Recurso Especial nº 38.281-0/RS, Rel. Min. Demócrito Reinaldo).


Porquanto plenamente demonstrada a legitimidade passiva da CEF, conclui-se
pela competência desse r. Juízo Federal para processar e julgar a lide.

DOS FATOS

Celebraram os mutuários substituídos com o 1º Requerido contrato particular


de compra e venda e de mútuo com garantia hipotecária, visando a aquisição
de imóvel para moradia própria, através do Sistema Financeiro da Habitação.
(V. contratos modelos jj.).

Nos mútuos em tela, há contratos convolados sob o incógnito "PLANO BANESPA


DE ATUALIZAÇÃO MENSAL – PBAM" e outros pelo PLANO DE
COMPROMETIMENTO DE RENDA – PCR –, este último disciplinado em lei
federal (L 8.692/93).

Ambos esses sistemas, malgrado diferentes na nomenclatura, identificam-se


nos referidos contratos quanto ao critério de atualização (?) do valor das
prestações e do saldo devedor, qual seja, reajuste mensal pelo coeficiente
indexador da caderneta de poupança – TR.

DO "PLANO BANESPA DE ATUALIZAÇÃO MENSAL – PBAM"

A cláusula quinta dos contratos "PBAM", ao estabelecer o critério de reajuste do


encargo mensal, prescreve, verbis:

"O valor da prestação e seus acessórios serão atualizados mensalmente, no dia


do vencimento das prestações e já a partir da primeira prestação, mediante
aplicação de coeficiente de atualização idêntico àquele utilizado para
remuneração básica aplicável aos depósitos de poupança livre de pessoas
físicas, mantidos nas instituições integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança
e Empréstimo, que tenham aniversário no mesmo dia da assinatura deste
contrato, critério este designado pelo CREDOR como Plano Banespa de
Atualização Mensal - PBAM. ..." (g.n.)
Antes de adentrar à questão de fundo da presente querela (TR como índice de
correção), faz-se mister aduzir que o texto supratranscrito é
inquestionavelmente ofensivo ao ordenamento legal do SFH, senão vejamos:

Em primeiro, o "PBAM" é figura estranha ao Sistema Financeiro da Habitação,


pois ao seu criador, o Banespa, não é dado instituir plano de reajustamento em
mútuos habitacionais com recursos oriundos do SFH, competência exclusiva do
Poder Público, através de edição de norma jurídica cogente;

depois, o critério de reajustamento constante da cláusula em evidência difere


do definido no art. 22 da Lei 8.004/90 (aplicável ao Plano de Equivalência
Salarial – regra geral no SFH), e do enunciado no art. 8º, caput, da Lei
8.692/93 (previsto aos contratos firmados pelo PES na vigência desta lei),
conforme se constata dos textos dos mencionados dispositivos, que,
respectivamente, rezam:

(...)

"As prestações mensais dos contratos de financiamento firmados no âmbito do


SFH, vinculados ao Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional –
PES/CP – serão reajustadas no mês seguinte ao em que ocorrer a data-base da
categoria profissional do mutuário, utilizando-se a variação do Índice de Preços
ao Consumidor (IPC) apurada nas respectivas datas-base."

"No Plano de Equivalência Salarial o encargo mensal

(...)

será reajustado no mesmo percentual e na mesma periodicidade dos aumentos


salariais da categoria profissional do mutuário, aplicável no mês subsequente
ao de competência do aumento salarial."
Por isso, ao "PBAM"(caricatura de plano de atualização) devem ser aplicadas as
disposições reguladoras do PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL, eis que o PCR
(Plano de Comprometimento de Renda) é expressamente adotado na outra
espécie de contrato aqui discutido, inexistindo outro plano no SFH.

DA CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE CONSUMO. APLICAÇÃO DO


CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR.

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078/90 – de


ordem pública e de interesse social – veio permitir-se a defesa judicial de
direitos individuais homogêneos via AÇÃO CIVIL COLETIVA.

Assim, busca a Requerente através do presente processo a tutela estatal em


defesa dos direitos individuais de origem comum dos mutuários substituídos, na
condição de consumidores, sob o fulcro do art. 81, parágrafo único, inciso III,
do CDC.

É inegável que o mutuário integrante da relação jurídica consubstanciada no


contrato de mútuo, identifica-se como consumidor nos moldes do art. 2º da Lei
8.078/90 (CDC). Ao seu turno, o agente financeiro, ao pactuar o contrato de
financiamento pelo SFH, exerce duas atividades: a primeira, a concessão do
crédito (produto, art. 3º, § 1º, Lei nº 8.078/90); a segunda, a aprovação de
financiamento ao mutuário obedecendo às normas do SFH e a prestação de um
serviço contínuo com prazo de duração equivalente ao número de meses do
financiamento (serviço, art. 3º, § 2º, L. 8.078/90).

Destarte, as atividades do 1º Requerido (agente financeiro) estão sedimentadas


em ambos os conceitos estabelecidos nos §§ 1º e 2º do art. 3º do CDC: o
produto: a concessão do crédito; o serviço: aprovação do financiamento e a
prestação de serviço contínuo até o termo final do contrato.

Com efeito, os contratos de mútuo em referência têm por finalidade o crédito


de dinheiro, que é utilizado para aquisição da casa própria, caracterizando
relações jurídicas de consumo.
Nessa esteira proferiu o E.g. Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul a
seguinte decisão:

"Ementa Oficial: O conceito de consumidor, por vezes, se amplia no CDC, para


proteger quem "equiparado". É o caso do art. 29. Para efeito das práticas
comerciais e da proteção contratual, equiparam-se aos consumidores todas as
pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

O CDC rege as operações bancárias, inclusive as de mútuo ou de abertura de


crédito, pois relações de consumo.

O produto da empresa de banco é o dinheiro ou o crédito, bem juridicamente


consumível, sendo, portanto, fornecedora; e consumidor, o mutuário ou
creditado."

Desse modo, estando identificados os mutuários substituídos como


consumidores, lhes promove a lei a facilitação na defesa de seus direitos, por
representarem a parte mais frágil na relação de consumo (princípio da
vulnerabilidade do consumidor – CDC, art. 4, I), prevendo a interpretação dos
contratos sempre favorável a eles e a possibilidade de inversão do ônus da
prova em proveito dos mesmos (CDC, arts. 47 e 6º, VIII, respectivamente).

DA ILEGALIDADE DA APLICAÇÃO DA TR COMO ÍNDICE DE


"CORREÇÃO" DOS CONTRATOS IMOBILIÁRIOS DO SFH

Nos contratos de financiamento habitacional, típicos e indiscutivelmente de


adesão, predomina a regra da assinatura pelo mutuário no balcão do agente
financeiro, às pressas, sem uma leitura acurada das quase sempre ininteligíveis
cláusulas que vão gerar obrigações e compromissos de 10, 20 ou 25 anos.

O objetivo primordial do Sistema Financeiro da Habitação, quando criado por


proposição do Governo Federal – através da Lei 4.380/64 –, consistia na
facilitação à aquisição da casa própria sobretudo pela população de baixa
renda, tendo-se em vista os "fins sociais" e as "exigências do bem comum".

Partindo-se da premissa de que o SFH possui cunho estritamente social,


proporcionando a aquisição da casa própria através de um contrato de mútuo
que se propõe a respeitar uma proporção entre a renda familiar do mutuário e
o valor das prestações do financiamento, sem comprometer a sua subsistência,
não resta dúvida de que a atualização (de prestações e saldo devedor) dos
contratos habitacionais em hipótese alguma deveria ser superior aos reajustes
salariais da categoria profissional do mutuário (princípio da equivalência
salarial) ou à variação acumulada de índice oficial de correção monetária,
quando não se conhecer o percentual daqueles reajustes.

Mas, infelizmente, o SFH não vem cumprindo o seu papel institucional, seja
pelas práticas abusivas de seus agentes financeiros, seja pela
inconstitucionalidade de atos legislativos forjados sob a justificativa de proteger
o "interesse coletivo" – na verdade, somente o das classes que operam e
controlam o

mercado habitacional e financeiro –, mergulhando o mutuário-consumidor, às


dezenas de milhares pelo País afora, no seguinte dilema: compromete seu bem-
estar e de sua família, cortando gastos até com alimentação, para tentar
manter em dia as exorbitantes prestações do financiamento; ou torna-se
inadimplente e perde seu imóvel de moradia ao agente financeiro. Eis o
"pesadelo" da casa própria.

Assim é que ambos os instrumentos trazidos à revisão desse Juízo estão


tisnados em sua essência pelos aludidos abusos do agente financeiro e pela
inconstitucionalidade de atos legislativos. Respeita a questão aos mecanismos
adotados para a "correção" do valor das prestações e do saldo devedor dos
contratos.

As cláusulas quinta e sexta dos instrumentos anexos (nas duas espécies de


contrato) constituem o cerne do debate por estarem assim redigidas:

Como expendido nas disposições contratuais acima, os encargos mensais e os


saldos devedores dos financiamentos em exame devem ser atualizados
mediante a aplicação do coeficiente indexador da caderneta de poupança.
Ocorre que, após a Lei 8.177/91, os depósitos em caderneta de poupança
deixaram de ser corrigidos ou atualizados monetariamente, para serem
remunerados pela Taxa Referencial – TR –, por força do artigo 12, da cit. lei, in
expressis:
"Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão
remunerados:
I- como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD’s,
no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e
o dia do crédito de rendimento, exclusive;

II- Como adicional, por juros de meio por cento ao mês..."

Já previra a Lei 4.380/64 (que, após a promulgação da CF/88, foi promovida a


lei materialmente complementar, a exemplo da L. 4.595/64 – reguladora do
Sistema Financeiro Nacional, do qual o SFH é integrante), em seu art. 5º, caput
e § 1º, o reajustamento das prestações e do saldo devedor dos mútuos
imobiliários por índice que reflita adequadamente as variações do poder
aquisitivo da moeda nacional (i. é, índice de correção monetária). Inobstante
tenha havido ao longo do tempo "n" mudanças de índices, o princípio aí
insculpido somente poderá ser alterado através de lei complementar, consoante
o comando constitucional do art. 192 da Magna Carta. Conclui-se então que,
exceto por aprovação de lei complementar modificadora desse critério, não
poderão os contratos habitacionais celebrados no âmbito do SFH adotar índice
de reajuste que não represente as variações do poder aquisitivo da moeda, tal
qual a TR (taxa de juros remuneradora dos depósitos em poupança).

Aliás, o emprego (impróprio) da TR como índice de correção monetária já há


vários anos vem sendo condenado pelos nossos Tribunais, inclusive superiores,
conforme se denota dos julgados abaixo reproduzidos:

"A taxa referencial de juros, TR, não é índice de correção monetária e,


portanto, como tal não pode ser utilizada."

(STJ, 1ª T, REsp 57802-7, Rel. Min. Asfor Rocha, j. 5.11.94, DJU


13.2.1995, p. 2.223).

"EMENTA. Civil. Correção Monetária. Liquidação de sentença. Índice Aplicável


em Débitos da Previdência Social. Precedentes do STF e do STJ (6ª Turma e 3ª
Seção). Embargos Acolhidos.

I - A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, uma vez que
não reflete a variação do custo de vida, achando-se atrelada à captação dos
depósitos bancários. Precedentes do STF: ADIN 493-0/DF e ADIN 959/DF.
II- Embargos de Divergência acolhidos para que o índice aplicado seja o INPC,
e não a TR.

(Acórdão nº 0038495, 3ª Seção, Rel. Min. Adhemar Maciel. Embargos


de Divergência em Recurso Especial)"

No que pertine ao SFH, também caminha firmemente a jurisprudência em


oposição à utilização da TR para correção dos valores nos mútuos habitacionais.
Vejamos alguns arestos:

(...)

Contrariamente ao que vinha entendendo esta Turma, não pode a TR reajustar


os saldos devedores; o INPC é o índice adequado, já que corresponde à
variação do poder aquisitivo da moeda.

(TRF - 1ª Reg, DJ, Seção 2, de 17.05.96, p. 31.863)

O e.g. TRF da 5ª Região, por sua 2ª Turma, promulgou, na ementa e voto do


Relator, o Juiz LÁZARO GUIMARÃES, o seguinte:

"Civil. Sistema Financeiro da Habitação. Plano de amortização mista.


Aleatoriedade de índice prejudicial ao adquirente. Cláusula contratual abusiva.
Apelo improvido."

(...)

"O desequilíbrio entre a política salarial e a inflação motivou o descompasso


entre o crescimento do saldo devedor e a sua amortização pelo pagamento das
prestações, de tal modo que, ao final do contrato, o saldo remanescente
equivale muitas vezes à soma superior ao valor de mercado do imóvel, o que
implica em inviabilizar o sistema de cobertura."

(...)

"O agente financeiro predispôs o contrato de modo a aplicar o maior índice de


variação salarial ou na falta de parâmetro, o índice que serve à correção da
poupança, ou seja, a TR, que mede a taxa de juros, e, por isso, não serve à
correção monetária. Ambas as alternativas oneram excessivamente o
mutuário."

(...)

"Como as duas alternativas são injustas e desequilibram o contrato, depois da


decisão do STF sobre a imprestabilidade da Taxa Referencial os agentes
financeiros estão desesperados à cata de um índice para corrigir as prestações."
(g.n.)

A soberana decisão do Supremo Tribunal Federal a que se refere o aresto retro


transcrito foi proferida na ADIN nº 493-0/DF, Relator o Ministro MOREIRA
ALVES, sacramentando a tese advogada pelos doutos de ser inaplicável a TR
como fator de correção por se tratar de taxa de juros, e, inobstante haver sido
proferida em 25/06/92, surte efeitos ex tunc e erga omnes, alcançando
inclusive contratos assinados posteriormente a ela.

No voto do eminente Ministro Relator, consta:

"A TR é um indexador para o mercado financeiro de títulos e valores


mobiliários, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos
a prazo fixo, não consistindo, portanto, índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda. EM PERÍODO DE PLENA ESTABILIDADE MONETÁRIA, UM
INDEXADOR COMO A TR PODERÁ CERTAMENTE APRESENTAR PERCENTUAIS
ELEVADOS, REFLETINDO TAXAS DE CAPTAÇÃO ATRATIVAS AO MERCADO
FINANCEIRO." (dest. nossos).

Outro motivo que evidencia a ilegalidade do uso da TR nos contratos aqui


aventados: — tendo em vista que o cálculo inicial das prestações dos mútuos é
executado utilizando-se o Sistema Francês de Amortização – TABELA PRICE – e
que nessa fórmula já incidem juros compostos, pré-fixados (q.v. Quadro
Resumo, itens 18 e 19 no contrato PBAM, e itens 19 e 20 no contrato PCR), a
aplicação da TR+0,5% mensal em tais contratos na forma das cláusulas
revisadas constitui prática reprovável de anatocismo, vedada pela Lei de Usura
(DL 22.626/33, art. 4º) e repelida pela Súmula 121, do Supremo Tribunal
Federal.
A jurisprudência do e.g. Superior Tribunal de Justiça, como corolário do
entendimento da Excelsa Corte, inclina-se neste sentido:

"Capitalização de juros. Prevalece a proibição do Decreto-lei nº 22.626/33, art.


4º, ainda em relação às instituições do Sistema Financeiro Nacional."

(STJ, 3ª T., REsp 13829-PR, Rel. Min. Dias Trindade, j. 29.10.1991,


DJU 2.12.1991, p. 17.537).

"O Decreto-lei nº 22.626/33, art. 4º, não foi revogado pela Lei nº 4.595/64
(RTJ 108/277, 81/919). A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo
nosso direito, mesmo quando expressamente convencionada, não tendo sido
revogada a regra do Decreto-lei nº 22.626/33, art. 4º, pela Lei nº 4.595/64. O
anatocismo, repudiado pela Súmula 121 do STF, não guarda nenhuma relação
com a Súmula 596 do STF. (RSTJ 22/197)"

Mantida a aritmética do Banco requerido, baseada no antijurídico "binômio


anatocista" TABELA PRICE + TR, os saldos devedores dos empréstimos
habitacionais continuarão em escala crescente, mesmo após longos anos de
pagamento das prestações por parte do mutuário, gerando no final do prazo
contratual um resíduo superior ao preço de mercado do imóvel à época, isto
porque a capitalização sofrida pelo saldo devedor em razão da incidência da TR
(+0,5%) é superior à parcela de amortização da prestação paga pelo mutuário
no período correspondente. Cobrando-se juros (TR+0,5%) além dos já
incidentes (e ainda sobre estes), a amortização fica reduzida a ponto de ser
insuficiente para deduzir a dívida.

Não restam dúvidas, portanto, de que a utilização da TR nos mútuos


habitacionais em alusão é contrário à ordem jurídica e prejudicial aos mutuários
(principalmente em período de estabilidade monetária, tal qual estamos
vivenciando, onde existem meses em que os índices de correção registram,
inclusive, taxas de deflação), pois trata-se de coeficiente de natureza
remuneratória (juros), que não se presta, pois, a aferir a oscilação do valor da
moeda nacional.

Então, a revisão das cláusulas 5ª e 6ª dos contratos denunciados (PBAM e PCR)


é medida que impende proceder-se, para o fim de expurgar a TR, adotando em
seu lugar para o reajuste dos encargos mensais e dos saldos devedores índice
oficial de inflação, tal como o IPC da FIPE ou o INPC do IBGE, assinalando que
às prestações dos mútuos pelo "Plano Banespa de Atualização Mensal (PBAM)"
que deverá obedecer ao critério da Equivalência Salarial, aplicar-se-ão, quando
conhecidos e se não superiores à variação da inflação em igual período,
alternativamente os índices de reajuste salarial da categoria profissional de
cada mutuário, no mês seguinte ao da respectiva data-base, nos moldes da
legislação do PES. Decorrência lógica, o ressarcimento de todos os mutuários
que contrataram com o 1º Requerido da diferença que se verificar a partir da
primeira prestação paga.

DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

A fim de salvaguardar os direitos dos Mutuários substituídos, ante o real e


iminente risco de incorrerem em inadimplência face aos exorbitantes aumentos
lançados nas prestações dos mútuos pela ilegal incidência da TR

(situação que, aliás, para muitos deles já se verificou vide documentos em


anexo), para que não venham a sofrer dano irreparável com eventual retardo
no provimento jurisdicional da matéria discutida na presente ação, em virtude
do ágil mecanismo executório de que dispõe o agente financeiro contra
mutuários em mora, qual seja, a temível "execução extrajudicial" instituída pelo
Decreto-lei nº 70/66 (cuja constitucionalidade há muito tem sido discutida,
antes mesmo da promulgação da CF/88), vem a Autora agora pleitear –
receando percam os Substituídos seu imóvel ao agente financeiro antes mesmo
de uma decisão judicial final deste processo a antecipação dos efeitos de
eventual sentença procedente, na forma do art. 273, I, do CPC, haja vista a
verossimilhança do direito invocado, que se traduz no fumus boni iuris; este,
encontra-se aqui flagrante, tendo em vista o princípio basilar do SFH que prevê
a correção monetária dos valores dos mútuos imobiliários (art. 5º, caput, e § 1º
da L. 4.380/64), a vedação legal da capitalização de juros contida no bojo do
Decreto-lei 22.626/33, e também a vinculante decisão proferida na ADIN 493-
0–DF considerando imprestável a TR para reajuste dos contratos pactuados no
âmbito do SFH, por consistir esse fator taxa de juros e não índice de correção
monetária, e ainda a abundante jurisprudência de nossos Tribunais
corroborando e legitimando a pretensão da Autora.

De igual modo resta patente in casu o periculum in mora, pois, caso não seja
antecipada (ainda que parcialmente) a tutela judicial pretendida, poderão os
Mutuários substituídos, a qualquer momento, se tornar inadimplentes ante a
onerosidade dos ilegais aumentos exigidos pelo 1º Requerido, existindo nesse
caso o perigo de terem expropriados sumariamente seus respectivos imóveis
(dano irreparável), mediante o excepcional e "violento" procedimento da
execução extrajudicial, que corre à margem do Judiciário, sem observância das
garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório ao mutuário
executado.

Não concedida a tutela agora, há o efetivo risco de terem os substituídos (tanto


os inadimplentes, como os que se encontram na iminência da mora) seu direito
solapado, antes da prolação de uma decisão judicial final do litígio, a qual, se
pela procedência do pedido, poderá não lhes ser de proveito, eis que já teriam
sido expropriados os imóveis pelo agente financeiro. Cumpre asseverar que o
deferimento da tutela antecipada não representa qualquer perigo ao 1º
Requerido, pois este continuará tendo em seu favor as garantias reais
traduzidas nas hipotecas dos imóveis.

DOS REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, vem a Autora requerer em favor dos Substituídos a


antecipação da tutela, INAUDITA ALTERA PARS (haja vista a urgência de
"livrar" os mutuários do risco da inadimplência e dos consequentes efeitos da
mora, mesmo que em caráter provisório), no sentido de permitir aos mesmos
pagarem ao agente financeiro ou depositarem em juízo o valor de suas
prestações vencidas e vincendas pelo valor calculado consoante a aplicação de
índice de correção monetária – o IPC ou o INPC– em lugar da taxa referencial
(TR), até a solução definitiva da lide, de modo que durante o período de
vigência da decisão concessiva da tutela antecipatória fique o agente financeiro
impedido de adotar qualquer procedimento executório com relação aos
contratos em face dos Mutuários substituídos, inclusive de inscrever o nome
dos mesmos em órgãos de proteção ao crédito.

Requer, pois, a Vossa Excelência, com estribo nos argumentos retro e


precipuamente no § 1º, do art. 5º, da Lei 4.380/64, no art. 22 da Lei 8.004/90,
na Lei 8.692/93, no art. 4º do Decreto-lei 22.626/33 (Lei de Usura), na Súmula
121 do STF, na decisão proferida na ADIN 493-0–DF, e na Lei 8.078/90 (CDC),
digne-se em julgar PROCEDENTE a presente Ação Civil Coletiva, confirmando a
liminar concedida, para o fim de condenar o 1º Requerido, Banco Banespa S/A,
a revisional a 5ª (quinta) e 6ª (sexta) cláusulas dos contratos "PBAM" e PCR,
adotando para o reajuste dos encargos mensais e dos saldos devedores, em
lugar da Taxa Referencial (indexador remuneratório dos depósitos em
caderneta de poupança), índice oficial que reflita a variação do poder aquisitivo
da moeda nacional (o IPC da FIPE ou o INPC do IBGE), consignando que às
prestações dos contratos "PBAM" – a regerem-se pelo Plano de Equivalência
Salarial –, aplicar-se-ão, quando conhecidos e se não superiores à variação
oficial da inflação em período idêntico, alternativamente os percentuais de
correção auferidos pela categoria profissional de cada mutuário, no mês
subsequente ao da competência do aumento salarial. Requer, via de
consequência, condene-se o 1º Requerido a efetuar o recálculo das prestações
e dos saldos devedores substituindo o índice ilegal (TR) pelo julgado adequado
por V. Exª. (IPC ou INPC), deduzindo do valor da dívida o quantum pago
indevidamente (em decorrência da aplicação da TR) pelos mutuários desde o
início do financiamento, ou restituindo-os de eventual crédito apurado em favor
dos mesmos.

Outrossim, requer a CITAÇÃO dos Requeridos para que, querendo, contestem


os termos da presente sob as penas da lei, e a CIENTIFICAÇÃO do ilustre
Representante do Ministério Público Federal, custos legis, de conformidade com
o art. 92, da Lei 8.078/90.

REQUER, POR FINAL

2. A isenção de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer


outras despesas processuais, na forma do art. 87 do CDC;

3. Os benefícios legais da interpretação contratual favorável aos mutuários-


consumidores (CDC, art. 47) e da possibilidade de inversão do ônus da
prova em proveito dos mesmos (CDC, inciso VIII, art. 6º), em
reconhecimento da hipossuficiência dos substituídos frente aos
Requeridos (CDC, inciso I, art. 4º);

3. A publicação de EDITAL no Órgão Oficial (L. 8.078/90, art. 94) a fim


de que os interessados possam ingressar no processo;

4. A condenação dos Requeridos em custas e demais despesas


processuais, bem como em honorários advocatícios ao prudente arbítrio
de V. Exª.

Sendo a matéria toda de direito e documental a prova, desnecessária, data


venia, a dilação probatória; entretanto, caso assim não entenda Vossa
Excelência, protesta pela juntada posterior de documentos, perícia técnica e
pelos depoimentos pessoais dos representantes legais dos Requeridos, sem
prescindir de outros meios de prova em Direito admitidos e moralmente
legítimos. Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

CIDADE, 00, MÊS, ANO

ADVOGADO

OAB Nº
OBS: MODELO DE PETIÇÃO PARA SE BASEAR E CRIAR SUA PRÓPRIA
PETIÇÃO!

ATENCIOSAMENTE, EQUIPE CANAL DIREITO

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