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MARIA – RS
1. FATOS
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) foi instituído pela Lei n. 5.170,
de 13 de setembro de 1966, e é composto de recursos captados no setor privado e
administrados pela Caixa Econômica Federal, possuindo como principal finalidade a
proteção dos trabalhadores demitidos sem justa causa.
Atualmente, o FGTS é regido pela Lei n. 8.036, de 11 de maio de 1990, a qual
delegou à instituição financeira ré a qualidade de agente operador do fundo, cabendo-lhe,
nos termos do artigo 7º do referido diploma legal:
Art. 7º À Caixa Econômica Federal, na qualidade de agente operador, cabe:
1. centralizar os recursos do FGTS, manter e controlar as contas vinculadas, e
emitir regularmente os extratos individuais correspondentes às contas vinculadas
e participar da rede arrecadadora dos recursos do FGTS;
2. expedir atos normativos referentes aos procedimentos administrativo-
operacionais dos bancos depositários, dos agentes financeiros, dos empregadores
e dos trabalhadores, integrantes do sistema do FGTS;
Ocorre que, não obstante figurar como operadora do FGTS, a instituição financeira
demandada não vem aplicando, de forma correta, a atualização monetária das contas
vinculadas ao FGTS dos trabalhadores ora substituídos, uma vez que o parâmetro fixado
para correção – estabelecido nos artigos 12 e 17 da Lei n. 8.177, de 1º de março de 1991 –
não promove a efetiva atualização monetária desde 1999, se distanciando sobremaneira dos
índices oficiais de inflação.
Tal fato vem causando grave prejuízo aos trabalhadores, os quais, conforme perícia
contábil anexa, tiveram efetivas perdas em suas contas vinculadas ao FGTS por conta da
ausência de real correção monetária dos créditos nelas depositados, o que não se pode
admitir, diante da inequívoca perda do valor da moeda depositada no fundo criado para
proteção dos trabalhadores.
Dessa forma, impõe-se ao Poder Judiciário que, reconhecendo a ilegalidade da
aplicação da taxa referencial às contas do FGTS dos substituídos, determine à Caixa a
correta recomposição dos créditos depositados nas referidas contas, nos termos da
fundamentação a seguir, bem como que efetue o pagamento das respectivas diferenças, a
serem apuradas em liquidação de sentença.
4. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO
Antes de adentrar no âmago da questão, cabe destacar que o prazo prescricional
para invocar o direito ora pleiteado é trintenário, conforme já pacificado perante Superior
Tribunal de Justiça, conforme teor da Súmula 210: "A ação de cobrança das contribuições
para o FGTS prescreve em (30) trinta anos".
Para não restarem quaisquer dúvidas, cita-se recente julgado proferido pelo referido
Tribunal:
depósitos de poupança são corrigidos pela taxa referencial, nos termos dos artigos 12 e 17
da Lei n. 8.177, de 1º de março de 1991:
Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão
remunerados:
1. como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no
período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o
dia do crédito de rendimento, exclusive;
2. como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei n º 12.703,
de 2012)
3. 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano,
definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco
décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
4. 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco
Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de
rendimento, nos demais casos. (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012) [...]
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à
remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia
1º, observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são
mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.
Desde 1960 diversos índices de correção monetária foram criados, até a entrada em
vigor da Medida Provisória n. 294, de 31 de janeiro de 1991, que posteriormente se
transformou na Lei n. 8.177, de 1º de março de 1991. Por ela, o Governo Collor pretendeu
substituir pela taxa referencial os diversos indexadores tradicionais (ORTN, OTN e BTN),
os quais eram vinculados ao nível geral de preços.
Pois bem. É público e notório que, apesar de nunca ter sido fixada em percentual
correspondente à inflação, a TR sempre esteve em patamares próximos do INPC e IPCA,
pois o redutor aplicado à taxa referencial era razoável e visava, efetivamente, corrigir o
valor do capital.
Não bastasse, a análise do gráfico do parecer em anexo demonstra que os
rendimentos dos depósitos vinculados às contas do FGTS foram inferiores aos índices
inflacionários. Esse desempenho insatisfatório tem ligação direta com a vinculação do
FGTS à taxa referencial. Percebe-se, pelo gráfico, que a partir de 1999 o índice da TR
deixou de crescer no mesmo ritmo dos demais indexadores, evidenciando que não está
havendo a efetiva correção monetária nos termos da lei.
A análise do gráfico demonstra que, até o ano de 1999, a TR evoluiu em taxas
semelhantes às do INPC e do IPCA, em um mesmo patamar de crescimento. A partir
daquele ano, contudo, o INPC e IPCA continuaram no mesmo ritmo de crescimento,
correção monetária e juros. Aliás, é o que se extrai do próprio sítio do Governo Federal
( http://www.fgts.gov.br/trabalhador, acesso em 15.10.2013):
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS foi criado em 1967 pelo
Governo Federal para proteger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS
é constituído de contas vinculadas, abertas em nome de cada trabalhador, quando
o empregador efetua o primeiro depósito. O saldo da conta vinculada é formado
pelos depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalentes a 8,0% do
salário pago ao empregado, acrescido de atualização monetária e juros.
O crescimento dos saldos das contas vinculadas abaixo da inflação (mesmo com a
incidência dos juros de 3% ao ano que, conforme foi visto, acabam por perder seu caráter
de remuneração pela disposição de capital e apenas atenuar a correção monetária não
realizada) gera uma situação de confisco por parte do Governo Federal, feito através da
instituição financeira ré.
E além de confiscar o patrimônio do trabalhador, a Caixa Econômica Federal obtém
altíssimas taxas de lucro ao emprestar os mesmos valores a juros abusivamente mais
elevados, muitas vezes para o próprio trabalhador que teve seu patrimônio confiscado, por
meio do Sistema Financeiro de Habitação.
Explica-se: muitas vezes o trabalhador faz um planejamento para adquirir a casa
própria dentro de alguns anos. Passado esse tempo, contudo, o trabalhador percebe que, em
termos percentuais, seu saldo no FGTS não cresceu da mesma forma que a inflação e os
preços dos imóveis em sua região.
Diante desse quadro, o trabalhador saca seu dinheiro – menos do que tinha direito –
e o restante financia – na maioria das vezes com a própria Caixa Econômica Federal, que é
uma das instituições financeiras que mais se utiliza dos fundos do Sistema Financeiro de
Habitação.
Ou seja, a Caixa Econômica Federal utiliza o montante que deveria ter sido
repassado aos trabalhadores a título de correção monetária para emprestá-lo ao mesmo
trabalhador. Ela se apropria dos valores ao não efetuar o repasse da correção monetária e
depois os empresta, a taxas de juros que estão entre as maiores do mundo, aos mesmos
trabalhadores que, efetivamente, são donos daquele dinheiro. Essa prática não pode se
perpetuar!
Se os depósitos vinculados à conta do FGTS tivessem sido regularmente corrigidos,
é bem provável que o trabalhador não precisaria endividar-se por anos para poder quitar o
imóvel adquirido, por exemplo.
5º. Para fins do disposto no § 4º, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB
para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano
imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real.
(de acordo com a Lei nº 5.107/66 instituidora do FGTS, o artigo 11, parágrafo 3º da Lei
7.839/89 e o artigo 13, § 3º da Lei 8.036/90 e de 3% ao ano para todos os demais (artigo
13, caput da Lei 8.036/90)– as diferenças devidas aos substituídos devem ser majoradas
com a incidência de juros de mora, nos moldes previstos pelo Código Civil.
Isto posto, considerando que a presente ação versa sobre matéria idêntica e que
existe é Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 5090 pendente de julgamento com
determinação de suspensão de todos os processos que versem sobre a correção monetária
do FGTS, requer o autor (a) que este Nobre Julgador determine o sobrestamento do
processo em análise.
7.CONCLUSÃO
Frente a todo narrado, em primeiro lugar deve ser declarado que a TR – Taxa
Referencial, não constitui índice de correção monetária porquanto reflete a variação do
custo primário da captação dos depósitos bancários a prazo fixo, e não a variação do custo
da moeda, e a declaração do direito dos substituídos de terem os valores que foram e que
serão depositados em conta vinculada do FGTS, de serem corrigidos monetariamente
considerados os índices pleiteados na presente ação.
Além disso, os substituídos fazem jus a ter os seus depósitos do FGTS corrigidos
monetariamente com os índices pleiteados – inclusive sobre os saques eventualmente
ocorridos, com o crédito em suas contas das diferenças resultantes, acrescidas dos juros
garantidos pela própria Lei nº 8.036/90 e os juros de mora.
Por fim, as correções em tela devem ser consideradas também naquelas hipóteses
em que, com o apoio legal (art. 20 da Lei nº 8.036/90) o substituído sacou seu FGTS com a
continuidade do vínculo empregatício. Em outros termos, os valores sacados que no futuro
foram ou serão considerados para fins rescisórios, devem também ser corrigidos
monetariamente pelo índice reconhecido como devido na presente ação (art. 18, § 1º da Lei
nº 8.036/90 e Resolução do Conselho Curador do FGTS nº 28, de 06.02.91).
8. PEDIDOS
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:
a) a citação da requerida no endereço inicialmente indicado para, querendo, apresentar
defesa dos termos da lei, advertida das sanções de confissão e revelia;
b) a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a documental
anexa;
c) declaração judicial que a TR – Taxa Referencial, não constitui índice de correção
monetária porquanto reflete a variação do custo primário da
captação dos depósitos bancários a prazo fixo, e não a variação do custo da moeda;
d) a suspensão do feito com base na ADI 5090;
e) a condenação da ré a substituir a TR pelo INPC como índice de correção dos
depósitos efetuados em nome dos substituídos, a partir de 1999, com o consequente
pagamento, em favor de cada trabalhador substituído pelo autor, do valor
correspondente às diferenças do FGTS decorrentes da aplicação do INPC aos
valores vinculados, nos meses em que a TR foi menor que a inflação do período
(parcelas vencidas e vincendas);
f) caso não entenda pela aplicação do INPC, a condenação da ré a substituir a TR pelo
IPCA como índice de correção dos depósitos efetuados em nome dos substituídos,
a partir de 1999, com o consequente pagamento, em favor de cada trabalhador
substituído pelo autor, do valor correspondente às diferenças do FGTS decorrentes
da aplicação do IPCA aos valores vinculados, nos meses em que a TR foi menor
que a inflação do período (parcelas vencidas e vincendas);
g) e ainda, caso, não entenda das formas anteriormente expostas, a condenação da ré a
substituir a TR por outro índice que leve em consideração a correção monetária e
atualize os depósitos efetuados em nome dos substituídos, a partir de 1999, com o
consequente pagamento, em favor de cada trabalhador substituído pelo autor, do
valor correspondente às
diferenças do FGTS decorrentes da aplicação do referido índice aos valores
vinculados, nos meses em que a TR foi menor que a inflação do período (parcelas
vencidas e vincendas);
h) sobre os valores devidos pela condenação de que tratam os itens anteriores, a
incidência de correção monetária desde a inadimplência da Caixa, bem como os
juros legais, observando aqueles próprios do FGTS e os juros do código civil
quando tenha ocorrido saque do FGTS em qualquer uma das hipóteses da previstas
no art. 20 da Lei 036/90;