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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA *** REGIÃO

Apelação Cível n" ************

RECORRENTE ***************, nos autos da Apelação Cível em


epígrafe, não se conformando, data vénia, com a r. decisão proferida
pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 5 Região, vem, por seus
advogados abaixo firmados, com fulcro no art. 105, 111, "a" e -c" da
CF/88, interpor RECURSO ESPECIAL para o SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, conforme as razões de recurso a seguir expostas.

Aponta como violados os arts. 11 da Lei 7.839/89, 13 da Lei


8.036/90. 19 do Decreto 99.684/90 e 30. § 1'. da Lei 5.107/66.

O recurso encontra-se devidamente preparado, seguindo em anexo


as guias de pagamento devidamente autenticadas.

Após cumpridas as formalidades legais, requer sejam remetidos os


presentes autos ao tribunal ad quern.

Nesses Termos

Pede Deferimento

Cidade e data

Advogado.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECORRENTE: ***********

RECORRIDA: CEF CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Processo n" **********************

RAZOES DE RECURSO

EMINENTES MINISTROS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PRECLARO RELATOR

I BREVE SÍNTESE DA LIDE

O Recorrente ajuizou demanda com o objetivo de que fosse afastada


a TR como índice de correção monetária dos saldos das contas de
FGTS por não representar esta a recomposição da inflação oficial
divulgada pelo Governo Federal, bem como por não ser a taxa
apontada na Lei 8.036/90, vez que não é a taxa de correção dos
saldos da caderneta de poupança, e sim, de remuneração.

Alternativamente, caso fosse entendida devida a aplicação da TR, que


fossem afastados os índices utilizados antes de sua vinculação â
correção monetária dos saldos do Fundo.

Em sede de primeira instância, o pedido foi julgado parcialmente


procedente, apenas para garantir a aplicação dos expurgos
inflacionários a conta do recorrente.

Com relação à correção monetária do fundo, o d. Juízo singular


fundamentou a sua decisão na afirmação de que seriam legais os
índices aplicados na correção monetária dos saldos das contas
vinculadas ao FGTS.

Inconformado com o julgamento proferido pelo MM Juízo singular, o


ora Recorrente interpôs recurso de apelação, tendo o Tribunal a quo
negado provimento ao apelo e mantido a sentença recorrida.

Entendeu o Exmo. Desembargador Federal Relator que é legal a


aplicação da TR na correção dos saldos das contas vinculadas do
FGTS, afastando a pretensão autoral.

III - DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL


2.1 - DOS FUNDAMENTOS PARA REFORMA DIRETA DO
ACÓRDÃO
O recorrente, por se submeter ao regime do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço - FGTS têm direito ao saldo de suas contas
vinculadas depositados pelo empregador nos termos da legislação de
regência do fundo.

Conforme estabelece a legislação que regulamenta o FGTS, o saldo


das contas vinculadas deverá ser acrescido de juros de 30% ao ano e
correção monetária.

Contudo, a Caixa Econômica Federal - CEF vem aplicando índices de


correção monetária ao saldo das contas vinculadas que não traduzem
a real preservação do valor da moeda, o que faz com que os
fundistas percam o poder aquisitivo do saldo de suas contas com o
passar dos anos.

Dessa forma, cumpre modificar tal forma de correção para que se


preserve o real valor da moeda e se mantenha incólume a garantia
constitucional prevista no inciso III, do artigo 70, da Constituição
Federal de 1988.

A Lei 5.107/66 determinava, apenas, que o saldo das contas


vinculadas ao FGTS deveria sofrer incidência da correção monetária
de acordo com legislação específica, sem, contudo, estabelecer qual
índice deveria ser aplicado.

Nesse sentido, o Recorrente traz à colação o disposto no artigo 3º da


referida lei:

Art. 3º Os depósitos efetuados na forma do art. 20


são sujeitos à correção monetária de acordo com a
legislação específica, e capitalizarão juros, segundo
o disposto no art. 40.

A partir da edição da Lei 7.839/89, a correção monetária do saldo das


contas vinculadas passou a ser realizada com os mesmos parâmetros
fixados para atualização das cadernetas de poupança, nos termos do
seu artigo 11:

Art. 11. Os depósitos efetuados nas contas


vinculadas serão corrigidos monetariamente, com
base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança, e capital izarão.
juros de 3% a.a.
Essa sistemática permaneceu no cenário legislativo criado pela Lei
8.036/90 e pelo Decreto 99.684/90, que em seus artigos 13 1 e 192
respectivamente, mantiveram a adoção dos índices de correção dos
saldos da caderneta de poupança como parâmetro para a atualização
monetária do saldo das contas de FGTS.

Entretanto, entende o Recorrente que tal determinação não pode


prosperar, havia vista que a utilização da TR nas contas de poupança
se dá a título de remuneração do capital e não de correção
monetária, nos termos do artigo 12 da Lei 8.177/91, verbis:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os


depósitos de poupança serão remunerados:
1- como remuneração básica, por taxa
correspondente à acumulação das TRD, no período
transcorrido entre o dia do último crédito de
rendimento, inclusive, e o dia do crédito de
rendimento, exclusive;
II - como adicional, por juros de meio por cento ao
mês.
§ 1 A remuneração será calculada sobre o menor
saldo apresentado em cada período de rendimento.
§ 2 Para os efeitos do disposto neste artigo,
considera-se período de rendimento:
- para os depósitos de pessoas físicas e entidades
sem fins lucrativos, o mês corrido, a partir da data
de aniversário da conta de depósito de poupança;
II - para os demais depósitos, o trimestre corrido a
partir da data de aniversário da conta de depósito
de poupança.
§ 30' A data de aniversário da conta de depósito
de poupança será o dia do mês de sua abertura,
considerando-se a data de aniversário das contas
abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1º do mês
seguinte.
§ 4º crédito dos rendimentos será efetuado:
- mensalmente, na data de aniversário da conta,
para os depósitos de pessoa física e de entidades
sem fins lucrativos, e
1
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para
atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capital
ização.juros de (três) por cento ao ano.
2
Art. 19. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para
atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalizarão
juros de três por cento ao ano.
II - trimestralmente, na data de aniversário no
último mês do trimestre, para os demais
depósitos. (grifos nossos)

Com o advento da Lei 8.660/93 a TRD mencionada no excerto acima


transcrito foi extinta e substituída pela TR (Taxa Referencial), a qual
compõe, até hoje, a REMUNERAÇÃO BÁSICA das cadernetas de
poupança e é. de forma equivocada, utilizada como índice de
correção monetária das contas vinculadas do FGTS.

Deve-se considerar, ainda, que a Taxa Referencial (TR) apresentou


percentual de 000 (zero por cento) em determinados períodos
(setemrbro a novembro de 2009, janeiro, fevereiro e abril de 2010),
fato que somente corrobora a tese de que não pode a mesma ser
utilizada como índice de correção monetária das contas vinculadas.

Admitir entendimento diverso ser-ia entender que nos meses citados


acima inexistiu defasagem do poder aquisitivo da moeda pela não
ocorrência da inflação, o que, de fato, não existiu, tendo o IPCA no
período atingido os percentuais de 0,24%, O,28% e 0,41%, (set. a
nov/09) e 0,75%o, 0,78% e 0,57%o (para os meses respectivos de
jan. fev e abr/ 10).

O termo correção monetária constante das leis acima mencionadas,


por definição, representa a atualização monetária da Moeda em
virtude de sua desvalorização por conta de um processo inflacionário.

No caso concreto, os substituídos, enquanto submetidos ao regime do


FGTS, têm direito à remuneração do saldo de suas contas vinculadas
na forma estabelecida em lei, além da preservação do valor real da
moeda, com a aplicação dos índices de correção monetária que, de
fato, reponham as perdas decorrentes do processo inflacionário.

E ponto pacífico na jurisprudência pátria que "a correção monetária


não se constitui em um plus; não é uma penalidade, sendo, apenas, a
reposição do valor real da moeda, corroído pela inflação, independe
de culpa das partes 1... .1 o STJ adota o princípio de aplicar, em
qualquer situação, o índice que melhor reflita a realidade inflacionária
do período, independente das determinações oficiais. Assegura-se,
contudo, seguir o percentual apurado por entidade de absoluta
credibilidade e que, para tanto, mereceu credenciamento do Poder
Público, como é o caso da Fundação IBGE. " (REsp 956.258/SP, Rel.
Ministro JOSE DELGAD)O, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/02/2008.
D.Je 05/03/2008; REsp 942.759/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO.
PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ 27/08/2007 p. 205)
Seguindo a orientação firmada no âmbito do C. Superior Tribunal de
Justiça, conforme excerto acima transcrito, na atualização das contas
vinculadas do FGTS deve-se aplicar os índices oficiais de inflação com
vistas a preservar o real poder aquisitivo dos valores envolvidos.

Conforme estudo realizado pelo DIEESE6, é absurda a diferença entre


a suposta correção monetária aplicada às contas vinculadas e os
índices oficiais adotados pelo Governo. Segue abaixo tabela
demonstrativa dos valores aplicados ao fundo, comparados com o
índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA. onde se vê
urna diferença acumulada de mais de 4.587,97% em desfavor dos
fundistas:
http://www.dieese.org.br/bol/esp/esl mai97.xmI
Conforme já dito anteriormente, não se pode vincular a atualização
monetária do saldo das contas vinculadas do FGTS à remuneração
das cadernetas de poupança, uma vez que essa, por possuir natureza
contratual, pode ter regras de remuneração mais flexíveis.

0 Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, por sua vez, é uma


garantia constitucional assegurada desde a Constituição de 19677,
permanecendo na EC 01119698 e na Constituição Federal de 1988,
que em seu artigo 7°, 111, reconhece-o corno direito fundamental
nos seguintes termos:

Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e


rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
( .)
Ill - fundo de garantia do tempo de serviço;
( .)

Nesse diapasão, goza o FGTS da prerrogativa de garantia


constitucional, devendo ser a ele distribuído tratamento compatível
com a sua finalidade, que é a de assegurar ao trabalhador uma
garantia financeira no caso de rescisão do contrato de trabalho.

Com isso, o valor dos depósitos fundiários deve ser preservado com a
aplicação de índice de correção monetária capaz de anular os
nefastos efeitos da inflação, sob pena de se vilipendiar a vontade
suprema do legislador constituinte.

Aceitar a imposição de que as contas vinculadas tenham a correção


monetária de seus saldos vinculada à Taxa Referencial TR seria o
mesmo que adotar por verdadeira, por exemplo, a afirmação de que
a inflação do ano de 2009 foi de apenas 0,71% (nos termos da tabela
supra), o que, notoriamente, não condiz com a realidade econômica
do Brasil.

Dessa forma, deve ser afastada a utilização da TR como índice de


correção monetária dos saldos das contas vinculadas do FGTS dos
substituídos, aplicando-lhes os índices oficiais de inflação divulgados
pelo Governo Federal.

Com a adoção de tal medida, estar-se-ia preservando o real valor dos


depósitos fundiários e, com isso, respeitando a Garantia
Constitucional estabelecida no dispositivo constitucional acima
transcrito.

Verifica-se, também, que anteriormente à criação da TR, os índices


aplicados à correção monetária das contas vinculadas não representa
a correta manutenção do valor da moeda, razão pela qual deverão
ser afastados e, em seu lugar, aplicados os índices de inflação oficiais
divulgados pelo Governo Federal.

Trata a legislação aqui violada, do artigo 11, da Lei 5.107/66, uma


vez que, com a aplicação de índices que não compõem as perdas
geradas pela inflação, não existe a correção monetária garantida por
lei.

Também restaram violados os artigos 11 da Lei 7.839/89, 13 da Lei


8.036/90 e 19 do Decreto 99.684/90. uma vez que a utilização da TR
como índice de correção monetária das contas vinculadas não reflete
a vontade do legislador, haja visto que a TR é índice que compõe a
REMUNERXAO das cadernetas de poupança enquanto que os referidos
dispositivos estabelecem que será utilizado o índice usado para a
ATUALIZACÃO dos seus saldos.

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, estando atendidos os pressupostos de


admissibilidade, pede e espera seja conhecido e provido o presente
Recurso Especial, a fim de que seja reformado in totum o r. acórdão
no sentido de determinar a aplicação dos índices de correção
monetária oficiais adotados pelo Governo Federal aos saldos das
contas vinculadas do FGTS durante toda a sua vigência, observada a
prescrição trintenária e para afastar a aplicação da TR como índice de
correção monetária a partir de sua criação, reconhecendo-se o direito
dos substituídos ao pagamento das diferenças resultantes da correta
aplicação dos índices que, de fato, reponham as perdas sofridas pelo
desgaste inerente ao processo inflacionário, restabelecimento o
respeito aos artigos 11 da Lei 7.839/89, 13 da Lei 8.036/90, 19 do
Decreto 99.684/90 e 30,§ 1º, da Lei 5.107/66.

Nesses termos

Pede deferimento.

Cidade e data.

Advogado.

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