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AO DOUTO JUÍZO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO

JUDICIÁRIA DE ANÁPOLIS-GO.

XXXXXX, através de seu procurador assinado (constituído conforme instrumento


procurató rio em anexo), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ajuizar
AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO LIMINAR

Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pelos motivos de fato e razõ es de direito que
passa a expor.
Sucintamente, a parte autora busca o provimento jurisdicional para ver corrigida uma
grave injustiça que vem sendo imposta a todos os trabalhadores brasileiros que possuem
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
O FGTS, fruto originariamente da lei nº 5107/66 e atualmente regulamentado pela lei
8036/90, serve de modo primordial como uma “segurança” ao trabalhador demitido sem
justa causa; de modo secundá rio, pode complementar sua renda para aquisiçã o de seleta
lista de bens e serviços, como faz exemplo o financiamento para compra da casa pró pria.
A Caixa Econô mica Federal, por sua vez, ingressa na demanda em virtude de ser definido
por lei1 como “agente operador” do Fundo, sendo a responsá vel direta para responder
tanto ativa quanto passivamente em litígios que versem sobre FGTS, conforme já pacificado
entendimento jurisprudencial.
Estabelecido o apertado acervo de dados que compõ e o pano de fundo desta demanda,
passamos à aná lise do efetivo ponto controvertido. O requerimento por provimento
jurisdicional manejado nos presentes autos encontra sua razã o de ser basilar em virtude de
uma contradiçã o fá tica ocorrida supervenientemente à prolaçã o da Lei do FGTS, em 1990.
Isto porque, conforme pode-se vislumbrar através de rá pida leitura dos artigos 2º e 13 da
referida legislaçã o, ficou definido naquela época que os valores depositados na conta
vinculada dos trabalhadores seriam atualizados monetariamente pelos mesmos índices
aplicados à caderneta de poupança e angariariam adicionalmente juros de 0,25% ao mês:
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e
outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualizaçã o monetá ria e
juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigaçõ es.
Art. 13. Os depó sitos efetuados nas contas vinculadas serã o corrigidos monetariamente
com base nos parâ metros fixados para atualizaçã o dos saldos dos depó sitos de poupança e
capitalizaçã o juros de (três) por cento ao ano.
Como bem se sabe, a poupança era – e é – atualizada monetariamente pela Taxa Referencial
(TR), conforme menciona a Lei nº 8177/91:
Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados:
I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período
transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de
rendimento, exclusive;
(...)
A simbiose entre a atualizaçã o da poupança e dos saldos de FGTS é confirmada pelo artigo
17 da mesma lei nº 8.177/91, in verbis:
1 Artigo 4º da Lei nº 8036/90
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos
depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade mensal
para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e
consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.
Inobstante, referido indexador é calculado pelo Banco Central do Brasil (e, diretamente,
pelo Conselho Monetá rio Nacional) a partir de requisitos e especificaçõ es constantes do
artigo 1º da mesma norma, como se vê a seguir:
Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da
remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos
bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de
investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de
acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de
sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
(...)
§ 2º As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de referência, dentre elas,
necessariamente, as dez maiores do País, classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo,
estão obrigadas a fornecer as informações de que trata este artigo, segundo normas
estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus
administradores, no caso de infração às referidas normas, às penas estabelecidas no art. 44
da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
§ 3º Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este artigo, o Banco
Central do Brasil fixará a TR.
Como mencionado alhures, o CMN, por ter o poder de fixar unilateralmente e a seu bel-
prazer os detalhes acerca da metodologia de cá lculo aludida no caput do dispositivo acima
transcrito, é o responsá vel direto por escolher o percentual real da TR. Hodiernamente em
vigência temos a Resoluçã o nº 3354/06.
Com tudo isso em mente, chegamos, finalmente, ao cerne da questã o: a Lei do FGTS,
quando previu a utilizaçã o da TR como indexador para a atualizaçã o monetá ria, encontrava
no cená rio nacional um índice que rivalizava com os demais, estando sempre pró ximo, em
percentuais, dos demais índices utilizados para correçã o de valores. No entanto, conforme
provas em anexo (notadamente o parecer do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconô micos - DIEESE), torna- se visível que, a partir do ano de 1999, referido
índice nã o mais se prestava à finalidade que dele se esperava e, ao invés de corrigir
monetariamente os depó sitos, acabou causando a perda parcial dos mesmos perante a
inflaçã o acumulada em cada período.
Desta maneira, há uma contradiçã o fá tica merecedora de atençã o – e intervençã o – por
parte deste eminente juízo: a lei que incluiu a TR como índice de correçã o do FGTS assim o
fez em um período onde a Taxa Referencial claramente cumpria seu papel – e assim o fez
até 1998, atualizando os saldos de FGTS em patamar superior à inflaçã o, assim como todos
os outros índices semelhantes. Destarte, ao deixar de atualizar os depó sitos do FGTS de
maneira satisfató ria a partir de 1999, referido índice nã o mais cumpria a finalidade para a
qual a lei nº 8036/90 o escolheu.
É possível finalizar o resumo dos fatos deixando consignada apenas uma indagaçã o ao
Poder Judiciá rio: qual é o comando mais importante da Lei nº 8036/90, a necessidade de
corrigir monetariamente os saldos de FGTS ou a necessidade de utilizaçã o da TR?
Conforme restará demonstrado a seguir, o entendimento segundo o qual a previsã o de
atualizaçã o monetá ria é suficiente para permitir a substituiçã o do índice que, manipulado
artificialmente segundo interesses do BACEN / CMN, nã o representa sequer a garantia de
reposiçã o da inflaçã o, é o mais acertado.
Por essa razã o, vem à presença de Vossa Excelência requerer a substituiçã o da TR por
outro índice, idô neo, na correçã o do FGTS desde 1999.
Antes de adentrarmos as questõ es de mérito da demanda, imperioso se faz destacar, por
extremamente oportuno, que a presente açã o versa sobre a declaraçã o de um direito a ser
reconhecido ao postulante – qual seja, a de que os valores depositados em seu Fundo de
Garantia sejam revisados, recalculados conforme índices que mantenham o poder de
compra dos valores recolhidos no decorrer dos anos.
Conforme já destacado, a açã o se justifica, em apertada síntese, na medida em que o FGTS
dos trabalhadores brasileiros vem sendo atualizado pelo índice “TR”, o qual nã o reflete
minimamente a realidade financeira nacional e culmina, sem dú vidas, na defasagem dos
recolhimentos em comparaçã o a qualquer outro índice (como, por exemplo, o INPC).
O que está em jogo, Excelência, é o reconhecimento ou nã o do direito que a parte autora
sustenta possuir, no sentido de lhe ser deferido ou indeferido o pleito pela substituiçã o da
TR por outro índice que, desde 1999, reflita equitativamente as variaçõ es (a maior) da
moeda nacional no decorrer de todo esse período. Conforme restará demonstrado a seguir,
as diferenças de um montante remunerado pela TR e de outro (de igual valor) remunerado
pelo INPC poderá superar os 80% nos ú ltimos 14/15 anos.
E, por ó bvio, a discussã o acerca do direito independe da juntada dos extratos para
apuraçã o do valor a ser corrigido em caso de provimento da açã o: sendo o quantum
apurado em R$ 100,00 ou R$ 20.000,00, o direito pleiteado é o mesmo em qualquer caso.
Por este motivo, nã o se faz necessá rio perder tempo, neste momento processual, com a
discussã o e impugnaçã o de cá lculos realizados unilateralmente pelo autor: até mesmo por
celeridade processual, é imperativo a concentraçã o dos atos judiciais no sentido de
declarar a possibilidade ou impossibilidade do direito pleiteado, de maneira que, apenas
posteriormente – já em sede de liquidaçã o de sentença – poderíamos analisar o valor
efetivo da condenaçã o.
Sobre a possibilidade de restringir a discussã o à questã o de direito com a posterior juntada
de extratos em sede de cumprimento do julgado, tem decidido pacificamente toda a
jurisprudência pá tria, in verbis:
APELAÇÃO CÍVEL - EXPURGOS DA INFLAÇÃO - PRELIMINARES E PREJUDICIAL DE MÉRITO
ARGUIDAS EM CONTRARRAZÕES AFASTADAS - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
TITULARIDADE DA CONTA-POUPANÇA À ÉPOCA DA IMPLANTAÇÃO DOS PLANOS
ECONÔMICOS DE GOVERNO - POSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA -
EXISTÊNCIA DA POUPANÇA COMPROVADA - JUNTADA DE EXTRATOS EM LIQUIDAÇÃO -
RECURSO PROVIDO. (TJ-MS - AC: 403 MS 2010.000403-0, Relator: Des. Júlio Roberto Siqueira
Cardoso, Data de Julgamento: 29/04/2010, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: 07/05/2010)

AÇÃO DE COBRANÇA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. JUNTADA DOS EXTRATOS.


FASE DE LIQUIDAÇÃO. A juntada dos extratos não é necessária ao reconhecimento do direito
do poupador aos expurgos inflacionários, mas, tão somente, à apuração das diferenças
reclamadas e devidas. E, os valores certos e líquidos decorrentes dos expurgos inflacionários
desconsiderados pela Instituição Financeira poderão ser apurados em sede de liquidação de
sentença, sendo despicienda a juntada dos extratos ou comprovantes até tal fase. (TJ-MG
104330721757410011 MG 1.0433.07.217574-1/001 (1), Relator: MARCOS LINCOLN, Data de
Julgamento: 27/01/2010, Data de Publicação: 22/02/2010)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POUPANÇA. JUNTADA DOS EXTRATOS


ANALÍTICOS. MOMENTO PROCESSUAL. DISPENSABILIDADE. FASE DE LIQUIDAÇÃO. MULTA
IMPOSTA. AFASTAMENTO. DECISÃO REFORMADA. RECURSO PREJUDICADO. 1 - Cuida- se de
agravo de instrumento interposto pela Caixa Econômica Federal - CEF, com requerimento de
efeito suspensivo, contra decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 4a Vara Federal Cível
de Vitória, na ação de rito ordinário, em face de Ivan de Oliveira. 2 - A decisão agravada
determinou que a agravante apresentasse, no prazo de 15 (quinze) dias, os extratos das
contas de poupança de titularidade do autor, sob pena de multa diária correspondente a R$
100,00 (cem reais). 3 - Considerando o ofício nº ES-OFI-2010/02119, de 23/09/2010,
remetido pelo Juízo da 4a Vara Federal Cível de Vitória, Seção Judiciária do Estado do Espírito
Santo, verifica-se que a decisão agravada foi revogada. O referido ofício foi recebido por este
Relator quando já incluído o processo na pauta de julgamento. 4 - A questão abordada
através do presente recurso encontra-se superada, ficando o mesmo prejudicado pela perda
de objeto. 5 - Agravo de instrumento prejudicado. (TRF-2 - AG: 201002010066021 RJ
2010.02.01.006602-1, Relator: Desembargador Federal GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA
GAMA, Data de Julgamento: 27/09/2010, SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, Data de
Publicação: E-DJF2R - Data::11/10/2010 - Página::332/333)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM


CONTA CORRENTE. CHEQUE ESPECIAL. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL. AUSÊNCIA
DOS EXTRATOS DE TODO O PERÍODO DE CONTRATUALIDADE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA DA AÇÃO. DISCUSSÃO QUE CINGE-SE ÀS
CLÁUSULAS CONTRATUAIS. POSSIBILIDADE DE JUNTADA ULTERIOR, NO MOMENTO DA
LIQUIDAÇÃO DO DÉBITO. PRELIMINAR INACOLHIDA. RELAÇÃO DE CONSUMO. CONTRATO
DE ADESÃO. APLICABILIDADE DA LEI N. 8.078/90. SÚMULA 297 DO STJ. MITIGAÇÃO DO
PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE.
INTELIGÊNCIA DO ART. 6º DO CDC. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. EXIGÊNCIA PERMITIDA
TÃO SÓ NOS CONTRATOS EM QUE HOUVER EXPLÍCITA CONVENÇÃO LIMITADA À TAXA DE
JUROS REMUNERATÓRIOS LEGAL FIXADA NO AJUSTE, VEDADA, CONTUDO, A CUMULAÇÃO
COM A CORREÇÃO MONETÁRIA. MATÉRIA AFETADA NA FORMA DE RECURSO REPETITIVO.
ATENÇÃO AO PRECEDENTE DE RECURSO ESPECIAL N. 1058114 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. DECLARAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE,
POR ESTA CORTE, DA MP N. 1.963-17/2000, REEDITADA PELA MP N. 2.170- 36/2001.
CÔMPUTO EXPONENCIAL NÃO PERMITIDO NA FORMA MENSAL. JUROS REMUNERATÓRIOS
EM 12% AO ANO. INAPLICABILIDADE DO ART. 192, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
EXEGESE DA SÚMULA VINCULANTE 7 DO STF. LIMITAÇÃO PELA TAXA MÉDIA DE MERCADO.
OBSERVÂNCIA DO ENUNCIADO I DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PEDIDO DE REDUÇÃO. REJEIÇÃO. VALOR ESTIPULADO EM
CONFORMIDADE COM OS PADRÕES ÍNSITOS AO ART. 20, § 3º, DO CPC. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO DO AUTOR CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. RECURSO DO RÉU CONHECIDO E DESPROVIDO. O Superior Tribunal de Justiça, em
recurso repetitivo (REsp. n. 1058114), reafirmou o entendimento jurisprudencial de que é
válida a cláusula que prevê a cobrança da comissão de permanência para o período de
inadimplência, assim entendida como juros remuneratórios à taxa média de mercado,
respeitada a fixada no ajuste, acrescidos de juros de mora e multa contratual, vedada a
exigência concomitante, contudo, com correção monetária (Súmula 30 do STJ). "Nos
contratos bancários, com exceção das cédulas e notas de crédito rural, comercial e industrial,
não é abusiva a taxa de juros remuneratórios superior a 12 % (doze por cento) ao ano, desde
que não ultrapassada a taxa média de mercado à época do pacto, divulgada pelo Banco
Central do Brasil." (Enunciado n. I do Grupo de Câmaras de Direito Comercial do TJSC). (TJ-SC
- AC: 170105 SC 2008.017010-5, Relator: Altamiro de Oliveira, Data de Julgamento:
14/06/2011, Quarta Câmara de Direito Comercial, Data de Publicação: Apelação Cível de
Pomerode)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CORREÇÃO MONETÁRIA. CADERNETA DE


POUPANÇA. PROVA DA TITULARIDADE DA CONTA. INEXISTÊNCIA DE DOCUMENTO
INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA DA AÇÃO. PRELIMINAR DE PRESSUPOSTO PROCESSUAL
ACOLHIDA. DEMAIS PRELIMINARES E MÉRITO PREJUDICADOS. EXTINÇÃO DO FEITO SEM
EXAME DO MÉRITO. ART. 267, IV E VI, DO CPC. – A jurisprudência pátria, capitaneada pelo e.
STJ, vem entendendo ser dispensável, à época da propositura da demanda, a juntada aos
autos dos extratos das contas de poupança, sendo necessário, apenas, a prova da titularidade
da conta no período requerido. - A teor do art. 333, I, do CPC, é da parte autora o ônus da
prova quanto ao fato constitutivo do seu direito. E, mesmo que se considere como sendo de
consumo a relação em discussão, a ser amparada pelo Código de Defesa do Consumidor, o fato
é que a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor somente deve ser determinada,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele - o consumidor -
hipossuficiente (art. 6º, VIII do CDC). - Inexistência de qualquer documento apto a provar a
titularidade de conta poupança pela parte autora ou que a sua situação financeira tenha
impedido o fornecimento pela instituição financeira de algum indício de prova material. -
Situação que impõe a extinção do feito sem apreciação do mérito por falta de pressuposto
processual - comprovação da existência de relação contratual entre as partes (titularidade de
conta) - e, também, por ausência de uma das condições da ação, qual seja, o interesse de agir,
nos moldes do art. 267, IV e VI, do CPC. - Exame das demais preliminares e do mérito
prejudicado. - Deixa-se de condenar a parte autora em custas e honorários advocatícios por
ser beneficiária da justiça gratuita. Preliminar de ausência de pressuposto processual
acolhida. Apelação provida. Extinção do feito sem exame do mérito. (TRF-5 - AC: 438184 PE
2007.83.00.008583-8, Relator: Desembargador Federal José Maria Lucena, Data de
Julgamento: 15/05/2008, Primeira Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da Justiça -
Data: 18/08/2008 - Página: 747 - Nº: 158 - Ano: 2008)
Desta maneira, em estando comprovada a existência de vínculo trabalhista apto a gerar
recolhimentos ao Fundo de Garantia, requer seja processada a presente açã o sem os
extratos do FGTS, declarando-se o direito à revisã o dos valores aqui pleiteados para,
apenas na sequência, na fase de execuçã o da sentença, determinar a juntada dos extratos
do FGTS pela requerida (CEF) de maneira a possibilitar os cá lculos, que serã o realizados
oportunamente.
Antes de adentrar no exame de mérito, imperioso se mostra requerer expressamente a este
douto juízo que declare prequestionados todos os temas tratados nesta petiçã o, tanto em
relaçã o a inconstitucionalidades materiais e formais quanto no que tange a ilegalidades
normativas, como se verá detalhadamente nos pró ximos itens desta exordial.
Conforme já dito, a Caixa Econô mica Federal foi incluída no polo passivo da demanda em
razã o de sua característica de gestora do Fundo de Garantia. Nã o há qualquer margem,
destarte, para alegaçã o de ilegitimidade passiva da instituiçã o financeira demandada, haja
vista que até mesmo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já demonstra estar
assentada em um ú nico sentido:
FGTS. CORREÇÃO MONETÁRIA. IPC DE JANEIRO/89 (42,72%). LEGITIMIDADE PASSIVA "AD
CAUSAM" EXCLUSIVA DA CEF. PRESCRIÇÃO. MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA.
I - A Seção de Direito Público do STJ firmou orientação de que apenas a CEF é parte legítima
para figurar no pólo passivo das ações em que se discute correção monetária das contas
vinculadas ao FGTS (Incidente de Uniformização de Jurisprudência no REsp nº 77.791/SC,
relator para o acórdão Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, DJU de 30/06/97)
(...)
IV - Recurso conhecido, mas improvido. (STJ - REsp: 181718 SP 1998/0050554-7, Relator:
Ministro ADHEMAR MACIEL, Data de Julgamento: 30/09/1998, T2 - SEGUNDA TURMA, Data
de Publicação: DJ 01.02.1999 p. 165)
Isto posto, requer-se, preemptivamente, seja indeferida qualquer pleito de ilegitimidade
passiva formulado pela requerida, tanto por força dos precedentes acima quanto em razã o
da prolaçã o da Sú mula nº 249 do Superior Tribunal de Justiça.
Também conforme já exposto, o que se requer nesta lide é a substituiçã o da Taxa
Referencial por outro índice idô neo (ou seja, nã o manipulado artificialmente segundo
interesses econô micos reprová veis do BACEN / CMN) e faticamente representativo da
variaçã o do poder econô mico da moeda a cada período. Tal substituiçã o deverá ser
realizada desde 1999, já que, conforme farta prova anexa, foi a partir deste exercício que a
TR foi arbitrariamente reduzida a ponto de sequer cobrir a inflaçã o do período.
Em cará ter preventivo (assim como o item IV acima), a parte autora deixa consignado,
desde já , que seu pedido jamais poderá ser declarado fulminado pela prescriçã o, já que esta
é trintená ria. Neste sentido:
CONSTITUCIONAL - FGTS - NATUREZA INSTITUCIONAL - LEGITIMIDADE PASSIVA
EXCLUSIVA DA CEF - INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO - ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DO
BANCO DO BRASIL S/A - EXPURGOS INFLACIONÁRIOS - JUROS PROGRESSIVOS.
(...)
2 A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se
discute correção monetária do FGTS
3. Inocorrência da prescrição, posto que a ação foi proposta dentro do prazo legal, a teor da
Súmula 210 do STJ, que consagrou o prazo prescricional de 30 (trinta) anos.
(...)
7. Apelação dos Primeiros Apelantes a que se dá parcial provimento e improvido o recurso da
CEF.
8. Recurso Adesivo conhecido e provido. (TRF-2 - AC: 164984 98.02.09660-1, Relator:
Desembargador Federal WANDERLEY DE ANDRADE MONTEIRO, Data de Julgamento:
03/10/2001, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJU - Data:14/08/2003 - Página::114)

Por tais razõ es e em tendo transcorrido apenas 14 anos desde o período inicialmente
requerido (1999), requer seja afastado qualquer argumento de prescriçã o do direito de
açã o.
Por meio da Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, foi instituída a correçã o monetá ria para
os depó sitos de Poupança – os quais já eram remunerados a 6% ao ano por juros (por força
do Decreto Imperial nº 2.723, de 12 de janeiro de 1861). Sendo assim, evidente resta que se
tratam de dois institutos completamente diferentes, de modo que um investimento
remunerado a juros nã o está , necessariamente, sendo atualizado monetariamente: este
ú ltimo depende de um índice pró prio.
Nesse diapasã o, enquanto os juros sã o conceituados como a remuneraçã o do capital
(dinheiro) emprestado durante um determinado período, a correçã o monetá ria se presta à
recuperaçã o do poder de compra do valor emprestado, podendo ser conceituada como um
ajuste período de valores tendo por base o valor da inflaçã o de um período, objetivando
compensar a perda de valor da moeda no mercado.
Como é cediço, durante a histó ria recente e também na atualidade, muitos sã o os índices
que se propõ e a efetuar a correçã o monetá ria de valores, cada qual com sua pró pria
sistemá tica. No entanto, a Taxa Referencial, por ser diretamente fixada pelo Conselho
Monetá rio Nacional, parece ser o ú nico indexador que, desde 1999, sequer cobre as perdas
com a inflaçã o. Por esta razã o, o STF, no julgamento da ADI nº 493-0/DF, definiu que a TR
nã o pode ser considerada um índice de correçã o monetá ria:
A Taxa Referencial (TR) nã o é índice de correçã o monetá ria, pois, refletindo as variaçõ es do
custo primá rio da captaçã o dos depó sitos a prazo fixo, nã o constitui índice que reflita a
variaçã o do poder aquisitivo da moeda.
Nesta Açã o Declarató ria de Inconstitucionalidade, restou definido que a Taxa Referencial
possui características predominantes de taxa de juros e nã o de indexador de correçã o
monetá ria. Por isso, foi efetivamente declarado inconstitucional o artigo 18 da Lei nº
8.177/91, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as prestaçõ es dos
contratos integrantes do Sistema Financeiro Habitacional passariam a ser corrigidos pela
TR. Veja-se:
Ação direta de inconstitucionalidade.- (...) A taxa referencial (TR) não é índice de correção
monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo
fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há
necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram índice de correção
monetária se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de contratos
celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna.-
Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de
reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência
Salarial por Categoria Profissional (PES /CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4;
20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de
maio de 1991. (ADI 493, Relator (a): Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em
25/06/1992, DJ 04-09- 1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-00143- 03
PP-00724)
Além do ó rgã o má ximo, também o pró prio Superior Tribunal de Justiça já exteriorizou em
reiteradas oportunidades entendimento segundo o qual a utilizaçã o da Taxa Referencial
deveria ser rechaçada, servindo como exemplo o seguinte julgado:
SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA UNIÃO. NULIDADE DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. VANTAGENS PESSOAIS.
INCLUSÃO. CORREÇÃO PELA TR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
(...)
4. Inaplicável a TR como fator de correção monetária Entendimento consagrado nesta Corte
na esteira de orientação traçada pelo STF.
5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
(REsp 209.466/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 07/08/2001, DJ 17/06/2002, p. 231)
Muito embora estes julgamentos já nã o mais reflitam a posiçã o majoritá ria dos tribunais
superiores, é preciso deixar claro que o Direito, no seu viés extremamente dinâ mico,
sempre carece de reaná lises quanto à s premissas já fixadas – refletindo a presente lide um
apelo nesse sentido. A razã o pela qual movemos a açã o pode ser visualizada rapidamente
no quadro comparativo abaixo, donde constam os índices de correçã o adotados
anualmente por diferentes indexadores:
ANO
TR
INPC
IPCA
1991
335,51%
475,11%
472,69%
1992
1.156,22%
1.149,05%
1.119,09%
1993
2.474,73%
2.489,11%
2,477,15%
1994
951,19%
929,32%
916,43%
1995
31,6207%
21,98%
22,41%
1996
9,5551%
9,125%
9,56%
1997
9,7849%
4,34%
5,22%
1998
7,7938%
2,49%
1,65%
1999
5,7295%
8,43%
8,94%
2000
2,0962%
5,27%
5,97%
2001
2,2852%
9,44%
7,67%
2002
2,8023%
14,74%
12,53%
2003
4,6485%
10,38%
9,30%
2004
1,8184%
6,13%
7,60%
2005
2,8335%
5,05%
5,69%
2006
2,0377%
2,81%
3,14%
2007
1,4452%
5,15%
4,46%
2008
1,6348%
6,48%
5,90%
2009
0,7090%
4,11%
4,31%
2010
0,6887%
6,46%
5,91%
2011
1,2079%
6,07%
6,50%
2012
0,2897%
6,17%
5,84%
2013 (até setembro)
0,12%
3,61%
3,79%
Até 1998, na prá tica, a Taxa Referencial mostrava resultados semelhantes aos dos outros
indexadores (pouco menos em alguns anos, compensando em outros com índices
superiores), nã o acarretando prejuízo aos trabalhadores com contas de FGTS. No entanto,
desde 1999, o que se vê é que o comando de garantir a correçã o monetá ria nã o é observado
pelo Banco Central, que manipula a TR de modo a deixá -la propositalmente abaixo da
inflaçã o – já que, deste modo, ocorre captaçã o de dinheiro “mais barato”, à custa do
trabalhador.
Veja-se, conforme tabela abaixo, que a TR nã o alcança a inflaçã o desde 1999, restando
evidente que referida taxa, de fato, nã o mais funciona como indexador de qualquer
atualizaçã o monetá ria idô nea:
ANO INFLAÇÃ O TR
1999 8,94 5,7295%
2000 5,97 2,0962%
2001 7,67 2,2852%
2002 12,53 2,8023%
2003 9,30 4,6485%
2004 7,60 1,8184%
2005 5,69 2,8335%
2006 3,14 2,0377%
2007 4,46 1,4452%
2008 5,90 1,6348%
2009 4,31 0,7090%
2010 5,91 0,6887%
2011 6,50 1,2079%
2012 5,84 0,2897%
Apesar de nã o termos as mediçõ es oficiais finais de 2013, sabemos que a Taxa Referencial
alcançará , historicamente, a maior distâ ncia (discrepâ ncia) em relaçã o à inflaçã o do
período.
Sendo assim, se mostra supervenientemente inconstitucional o artigo que determina a
utilizaçã o da TR como fator de correçã o monetá ria, já que confere à Taxa Referencial um
dever para o qual a mesma nã o se presta desde 1999, sendo mais importante a previsã o de
correçã o do que a previsã o de utilizaçã o da TR– decorrendo daí a necessidade do Poder
Judiciá rio determinar sua modificaçã o no caso em concreto.
Como se nã o bastasse o requerimento ser manejado com base em evidente prova
documental apta a respaldar o pedido por um viés eminentemente positivista, pugnamos,
igualmente, por questã o de justiça com a classe trabalhadora do país: como é cediço, nã o é
dado ao empregado o poder de gerir, investir ou dispor de seu Fundo de Garantia, de modo
que o dinheiro depositado na conta vinculada obrigatoriamente ficará preso mesmo que
existam investimentos muito melhores a serem realizados. Até mesmo a transferência do
dinheiro da conta do FGTS para uma conta poupança (investimento mais seguro e menos
rentá vel do mercado financeiro) traria enormes vantagens ao trabalhador.
Porém, o que ocorre é que o governo capta os recursos do FGTS sem correçã o monetá ria
(ou com uma correçã o “ridícula” pela TR) e os empresta – muitas vezes aos pró prios
trabalhadores – a juros elevados. Trata-se claramente de hipó tese de locupletamento ilícito
institucionalizado.
E é exatamente para corrigir essa injustiça que, se valendo principalmente dos comandos
legais principioló gicos, deverá este eminente juízo determinar que a correçã o monetá ria
assegurada ao trabalhador com conta vinculada de FGTS, junto à requerida, merece
observâ ncia sobre a previsã o de utilizaçã o da extremamente defasada Taxa Referencial, o
que acarretará na sua modificaçã o pelo INPC4, IPCA5 ou outro índice que, na visã o do
Judiciá rio, reflita idoneamente a atualizaçã o do poder econô mico dos depó sitos realizados
desde 1999.
A Taxa Referencial, enquanto índice de correçã o monetá ria assim considerada pela atual
jurisprudência pá tria, nã o pode ser reduzida a zero, como tem sido nos ú ltimos meses, pois
afronta flagrantemente o artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que garante atualizaçã o monetá ria
aos depó sitos feitos no FGTS.
Como índice de correçã o monetá ria, a TR deveria garantir o poder aquisitivo dos depó sitos
do FGTS, que se perfaz levando em conta os índices de inflaçã o. Desde janeiro de 1999, a TR
se distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflaçã o, impingindo profundas perdas
aos depó sitos do FGTS, tornando-se inidô nea para garantir a reposiçã o de perdas
monetá rias.
A inidoneidade da TR como índice de correçã o monetá ria decorre de mudanças
introduzidas na sua metodologia de cá lculo pelo Banco Central do Brasil/CMN que, através
do mecanismo econô mico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice para que
ele se desprenda da inflaçã o até anulá -la completamente, a despeito de um quadro de
inflaçã o persistente no País.
A Caixa Econô mica Federal está se prestando ao papel de espoliador do FGTS, na medida
em que dispõ e do patrimô nio do trabalhador sem a devida contraprestaçã o. A correçã o
monetá ria aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflaçã o registrada, de
forma que descumpre nã o só o artigo 2º da lei nº 3 LICC, artigo 5º:
Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum. O qual se indica por já ser o índice responsável pela atualização do salário mínimo,
com arrimo na Lei nº 12.382/2011, em seu artigo 2º, § 1º. O qual se indica por ser o indexador
utilizado nas medições de metas inflacionárias pelo governo. 8.036/90, artigo 233 do Código
Civil, mas também toda a lógica e princípios do mercado econômico.
Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade da correçã o
monetá ria. O trabalhador nã o pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do
Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS serem os
menores do mercado, o quê, por si só , demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a
perspectiva social.
Negar o direito de correçã o monetá ria aos depó sitos do FGTS, Fundo do qual o trabalhador
nã o pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar em outro fundo mais rentá vel,
configura ato de tirania, incompatível com um Estado Democrá tico de Direito e deve ser de
pronto rechaçado.
Se o Governo Brasileiro remunerasse os investidores internacionais com TR mais 3% a.a,
como faz com os trabalhadores, haveria uma fuga em massa dos investimentos no País.
Nem mesmo os investidores nacionais manteriam seu capital no país.
Sendo a TR índice inidô neo para restabelecer o poder aquisitivo dos depó sitos do FGTS, sua
substituiçã o por outro índice que melhor recomponha as perdas monetá rias se torna
imperioso, a fim de fazer prevalecer o artigo 2º da lei nº 8.036/90 e artigo 233 do Có digo
Civil.
Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado artificialmente pelo Banco Central/CMN
promoveu o completo distanciamento da TR dos índices oficiais de inflaçã o, temos que
desde entã o ela perdeu sua condiçã o de repor as perdas inflacioná rias dos depó sitos do
FGTS, devendo desde esta data ser substituída pelo INPC, alternativamente, pelo IPCA.
Como já exposto anteriormente, a Taxa Referencial nã o constitui – pelo menos a partir de
1999 – índice apto a corrigir monetariamente qualquer montante. Nesse sentido, manter a
aplicaçã o da TR é o mesmo que julgar que o demandante nã o possui direito à correçã o
monetá ria.
Comunga deste entendimento o Supremo Tribunal Federal que, em recente julgado, dispô s
o seguinte:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO
BÁSICA DA CADERNETA DE POUPANÇA”: INCONSTITUCIONALIDADE DA EXPRESSÃO.
ACÓRDÃO RECORRIDO DISSONANTE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. ÍNDICE DE CORREÇÃO MONETÁRIA: OFENSA CONSTITUCIONAL
INDIRETA.RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Relatório. Recurso extraordinário interposto
com base na alínea a do inc. III do art. 102 da Constituição da Republica contra julgado do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que decidiu:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. EXECUÇÃO. PRECATÓRIO/RPV COMPLR. EC
N. 62/2009. ART. 100, § 12, DA CF. CONSTITUCIONALIDADE. INCIDÊNCIA IMEDIATA.O § 12
do artigo 100 da Constituição Federal, introduzido pela EC n. 62, de 09/11/2009 (publicada
em 10/12/2009), tem aplicação imediata aos feitos de natureza previdenciária, sendo
constitucional. 2. Entendimento firmado no sentido de que a TR mostra-se válida como índice
de correção monetária. 3. Nada impede o legislador constitucional ou infraconstitucional de
dispor sobre correção monetária e taxa de juros e, em se tratando de relação de direito
público, não há óbice a incidência imediata da lei, desde que respeitado período anterior à
vigência da nova norma (vedação à retroatividade), pois não existe direito adquirido a
regime jurídico” (fl. 68). 2. O Agravante alega que o Tribunal a quo teria contrariado os arts.
1º, inc. III, 5º, caput e incs. XXII, XXXVI, e 37, caput, da Constituição da Republica. Argumenta
que: “A EC n. 62/2009, em seu art. 1º, § 12, instituiu que ‘”A partir da promulgação desta
Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o
efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora,
incidirão juros simples no mesmo percentual de juros indecentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios”. Como se sabe, o índice de
remuneração básico da poupança é a Taxa Referencial (TR), índice controlado pelo Estado, e
utilizado como instrumento de controle da economia, vide os sucessivos índices mensais
zerados, a fim de controle de aporte de capital nas poupanças. Tanto a TR não se presta como
índice de correção monetária, que o STF já decidiu nesse sentido: A taxa referencial (TR) não
é índice de correção monetária (...) não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda’ (ADI 493-0/DF, Relator Min. Moreira Alves, Plenário, DJ 4.9.1992). (...)
Assim sendo, texto tão danoso ao cidadão não poderá ser tolerado pelo Judiciário, merecendo
a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do artigo 100 da Constituição Federal,
adicionado pela EC n. 62/2009. (...) Assim, declarada a inconstitucionalidade do índice
aplicado ao precatório pago nos autos, deve ser tomado como vigente e aplicado ao caso
concreto o índice IPCA-E” (fls. 72-73).
(...)
5. Pelo exposto, dou parcial provimento a este recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A, do
Código de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal)
para reafirmar a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da Constituição da Republica e
determinar que o Tribunal de origem julgue como de direito quanto à aplicação de outro
índice que não a taxa referencial (TR). Publique-se. Brasília, 13 de junho de 2013.Ministra
CÁRMEN LÚCIA Relatora (STF - RE: 747706 SC, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de
Julgamento: 13/06/2013, Data de Publicação: DJe-124 DIVULG 27/06/2013 PUBLIC
28/06/2013)

Nesse ponto, o STF apenas reconhece aquilo que é ó bvio a qualquer indivíduo de boa-fé: os
trabalhadores sã o lesados mensalmente através da aplicaçã o de um índice que, ao
contrá rio do momento de sua fixaçã o (1991), nã o mais representa qualquer sombra de
correçã o monetá ria idô nea. Impossível presumir, portanto, que era do espírito da lei que os
trabalhadores obtivessem atualizaçã o irrisó ria de seus depó sitos de FGTS, motivo pelo
qual, mais uma vez, reiteramos os pleitos iniciais.
Finalmente, insta ressaltarmos, apesar de se tratar de informaçã o vastamente difundida e
que provavelmente já adentra na seara de “fato notó rio” ou de “conhecimento geral”, que
estamos diante de um “boom” de açõ es idênticas à presente Brasil afora. Por isso mesmo, é
importante que o Poder Judiciá rio, visando sempre garantir a segurança jurídica, faça o
possível para tutelar os direitos dos demandantes de maneira semelhante, evitando a
inserçã o de um cará ter de “sorte” ou “azar” no deferimento ou indeferimento dos pedidos
formulados pelo litigante.
Por isso, e visando até mesmo auxiliar no convencimento pessoal do eminente julgador,
imperioso se torna trazer ao vosso conhecimento o entendimento já exteriorizado por
magistrados que prolataram sentença de procedência dos pedidos de revisã o do FGTS
através da modificaçã o do índice de correçã o monetá ria – como é o caso do pedido
manejado na presente lide.
Para tanto, citamos a sentença dos autos eletrô nicos nº 5009533- 35.2013.404.7002/PR, a
qual trazemos na íntegra em anexo. Nela, o Juiz Federal Diego Viegas Véras, de Foz do
Iguaçú , decide pela procedência dos pedidos com base nos seguintes fundamentos,
sintetizados e destacados neste momento para facilitar e agilizar o entendimento:
(...) A Lei, portanto, dispõe que o fundo deverá ser corrigido monetariamente e a correção
monetária não representa qualquer acréscimo, mas simples recomposição do valor da moeda
corroído pelo processo inflacionário (STJ, REsp nº 1.191.868, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana
Calmon, j. 15/06/2010 e p. 22/06/2010). A Taxa Referencial (TR) como bem trazido pela
parte autora, foi índice capaz de refletir a inflação ocorrida na economia brasileira por
significativo período de tempo, durante o qual não havia quaisquer razões para se opor a sua
aplicação. Não é, contudo, a realidade desde janeiro de 1999, a partir de quando o índice
deixou de espelhar a desvalorização da moeda.
(...)
...foi com o julgamento das ADI 4425 e 4357, onde o Supremo Tribunal Federal analisou a
inconstitucionalidade da Emenda Constitucional nº 62/2009, que ficou inconteste o
entendimento daquela Corte no sentido de que a TR não pode ser utilizada como índice de
atualização monetária, eis que não é capaz de espelhar o processo inflacionário brasileiro.
(...)
Veja-se: com a TR ostentando seus índices praticamente zerados desde o ano de 2009, os
saldos das contas do FGTS acabaram sendo remunerados tão somente pelos juros anuais de
3% previstos na Lei 8.036/90. Ou seja, os juros que deveriam, supostamente, remunerar o
capital, não são sequer suficientes para repor o poder de compra perdido pela inflação
acumulada.
(...)
Tem-se, em resumo, que a Lei nº 8.036/90, lei específica do FGTS, determina que ao saldo de
suas contas deve ser obrigatoriamente aplicado índice de correção monetária. Não sendo a
Taxa Referencial (TR), índice disposto pela Lei 8.177/91, hábil a atualizar monetariamente
tais saldos, e estando tal índice em lei não específica do FGTS, entende-se que como
inconstitucional a utilização da TR para tal fim, subsistindo a necessidade de aplicar-se índice
de correção monetária que reflita a inflação do período, tal como prevê a Lei nº 8.036/90.
(...)
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos, condenando a CEF a pagar à parte autora
os valores correspondentes à diferença de FGTS em razão da aplicação da correção
monetária pelo IPCA-E desde janeiro de 1999 em diante até seu efetivo saque, cujo valor
deverá ser apurado em sede de cumprimento de sentença. Caso não tenha havido saque, tal
diferença deverá ser depositada diretamente na conta vinculada do autor.

Já nos autos nº 3279-88.2013.4.01.3810/MG, o Juiz Federal Má rcio José de Aguiar Barbosa,


de Pouso Alegre, ao também decidir favoravelmente ao pleito do trabalhador, realizou
detalhada aná lise jurídico-econô mica acerca da utilizaçã o da TR como índice de correçã o
monetá ria no FGTS, podendo ser considerada sua fundamentaçã o uma verdadeira aula
sobre o tema. Em suas irretocá veis liçõ es, diz:
Desde a primeira legislação, houve a preocupação de assegurar às contas vinculadas a
correção monetária (...). Nessa época, portanto, o FGTS tinha tríplice função: 1) pecúlio
opcional do empregado formado por contribuições do empregador; 2) seguro-desemprego
substitutivo da estabilidade prevista na CLT, título IV, capítulos V e VII; e 3) indenização pela
despedida arbitrária.
(...)
Dessa forma, a partir da CR/88 – regulamentada pela lei 8.036/90 – o FGTS perdeu as
funções de “seguro-desemprego” e de “indenização pela despedida sem justa causa”,
assumidas, respectivamente, pelo atual “seguro-desemprego” (Lei 7.988/90 e alterações) e
pela multa do art. 10 do ADCT- CR/88 (com as alterações da legislação complementar).
Manteve sua função de pecúlio do trabalhador formado por contribuições do empregador,
porém não mais facultativo: o FGTS se tornou um pecúlio obrigatório.
Não há mais opção: todos os empregados são beneficiários e filiados obrigatórios do FGTS.
Além de ser um pecúlio obrigatório cujas hipóteses de levantamento são bastante restritas e
quase sempre vinculadas à extinção do contrato de trabalho ou aquisição/financiamento da
casa própria (art. 20 da lei 8.036/90), o FGTS tem uma importante distinção em relação a
outros pecúlios privados e poupanças /aplicações realizadas no mercado financeiro: o FGTS
NÃO TEM PORTABILIDADE.
Ao contrário de outras opções postas à disposição de empregados e patrões para formar
pecúlios ou poupanças, como os fundos de previdência privada ou as aplicações em caderneta
de poupança, fundos de investimento, títulos públicos ou privados, o titular do FGTS não tem
possibilidade de transferir seus recursos para aplicações mais rentáveis, mais bem geridas ou
mais seguras. Ainda que sua remuneração seja muito insatisfatória ou que o titular da conta
do FGTS discorde das políticas de gestão do fundo ou que se atemorize quanto a sua solidez,
não há o que fazer, o titular do FGTS não pode transferir ou sacar seus recursos e aplicá-los
em outra modalidade disponível de poupança ou previdência.
Essas três características – obrigatoriedade, ausência de portabilidade e prazo
longo/indeterminado – que têm base constitucional e legal, tornam ainda mais importante a
questão da recomposição do seu valor vis a vis os efeitos corrosivos da inflação sobre a moeda
na qual os depósitos são realizados: o saldo do FGTS, enquanto pecúlio obrigatório, não
portável, por prazo indeterminado e previsto constitucionalmente, é uma obrigação de valor
devida pela instituição operadora ao trabalhador titular da conta vinculada, protegida
constitucional e legalmente dos efeitos inflacionários sobre a moeda.
Saliente-se que o art. 13 da lei 8.036/90, expressamente, se adéqua a esse entendimento, uma
vez que afirma a necessidade de “correção monetária” sobre os depósitos efetuados no FGTS –
reproduzindo expressão utilizada em todas as leis que regularam o FGTS desde a Lei
5.107/1966. Na época de sua edição (1990), seguindo também a legislação precedente, o art.
13 da lei 8.036/90 vinculou a correção monetária à atualização monetária das cadernetas de
poupança, que na época eram corrigidas por índices de preço, circunstância que se alteraria a
partir da edição da lei 8.177/1991.
(...)
A lei 8.177/91 – uma das medidas do chamado “Plano Collor II” – promoveu diversas medidas
de desindexação da economia que foram mantidas e aperfeiçoadas no “Plano Real”, dentre as
quais a substituição da ubíqua correção monetária das cadernetas de poupança por uma
remuneração básica não mais atrelada à inflação passada, mas, inicialmente, à previsão feita
pelo mercado financeiro de inflação futura: a taxa referencial ou TR. Como estabelecido no
art. 1º da lei 8.177/91, o cálculo da taxa referencial de cada dia seria feito a partir da média
das remunerações mensais dos títulos públicos e privados negociados no mercado financeiro
naquele dia.
(...)
Desse modo, teoricamente, a TR foi criada para remunerar as cadernetas de poupança com a
expectativa de inflação futura no período de aplicação, no lugar da inflação passada.
Desindexava-se, assim, a caderneta de poupança (principal ativo financeiro na época) dos
índices de inflação passada.
Nessa época havia ainda duas outras particularidades do mercado financeiro que tornavam o
cálculo da TR mais fácil e mais próximo dessa previsão teórica: 1) o imposto de renda
incidente sobre as aplicações financeiras tinha como base de cálculo apenas o “rendimento
real”, isto é, acima da inflação, e diversos foram os índices de correção monetária utilizados
pelo Fisco (OTN, BTN, BTN-fiscal e, por fim, UFIR) para identificar o “rendimento real”; 2) o
rendimento real líquido (isto é, descontado do IR) das aplicações era bem superior a 0,5% ao
mês, que sempre foi a taxa de juros remuneratórios da poupança.
Essas duas particularidades permitiam que o cálculo da TR fosse feito de forma bem simples.
Se considerarmos “RB” o rendimento bruto médio dos títulos, “IF” a inflação futura prevista
pelo mercado e “JR” os juros reais mensais médios, teríamos: (1 + RB) = (1 + IF) x (1 + JR).
Para saber a previsão de inflação futura (IF), teríamos (1 + IF) = (1 + RB) / (1 + JR).
A metodologia inicial do Banco Central para cálculo da TR era bem simples: bastava estimar
a taxa de juros reais na economia por um determinado fator (chamaremos de JR) e calcular:
(1 + TR) = (1 + RB)/ (1 + JR), onde RB era a média da remuneração bruta mensal da amostra
de títulos públicos e privados.
A partir de 1995, com a primeira edição da MP 2.074-73 (MP 1.053, de 30/06/1995), que
viria se tornar a lei 10.192/2001, foi criada a TBF – taxa básica financeira – definida como a
média de remuneração bruta mensal da amostra de títulos do mercado financeiro e o cálculo
da TR passou a se vincular à TBF pela fórmula simples: (1 + TR) = (1 + TBF)/ (1 + JR), e o fator
JR foi sendo alterado pelas resoluções do CMN para se adequar às previsões de juros reais.
A partir de 1996 (lei 8.981/95), o imposto de renda sobre as aplicações financeiras passou a
ser calculado não mais sobre a remuneração real (descontada a inflação), mas sobre a
remuneração total das aplicações, abandonando-se paulatinamente a utilização da UFIR
como indexador no âmbito fiscal, e, com a estabilização promovida pelo Plano Real, as taxas
de juros reais começaram a ceder.
Esses dois fatores fizeram com que o cálculo da TR tivesse que se modificar, pois não havia
mais a garantia de que o rendimento líquido das aplicações financeiras fosse sempre superar
a previsão de inflação futura mais uma taxa de juros de 0,5% ao mês. Com efeito, é possível
demonstrar que, com a cobrança do IR sobre o total da remuneração da aplicação financeira,
quanto maior a inflação e quanto menor a taxa de juros reais, maior a parcela dos juros reais
que seria paga ao Fisco como imposto de renda – e, portanto, menor a taxa de juros reais
líquida do período. A taxa de juros reais líquida poderia cair abaixo dos juros da poupança.
Na hipótese de a taxa de juros reais líquida das aplicações financeiras ficar abaixo da taxa de
juros da poupança, haveria uma migração em massa dos investidores dos títulos públicos e
privados para a caderneta de poupança, provocando grandes transtornos no mercado
financeiro e na dívida pública. Fazia-se necessário adequar o cálculo da TR de modo que a
remuneração total da poupança (TR
+ 0,5% ao mês) não superasse a remuneração líquida média dos títulos públicos e privados.
Inicialmente, com a Resolução CMN 2.387/97, o fator (1+ JR) foi substituído simplesmente
pelo fator R, vinculado à própria TBF por um cálculo um pouco mais complexo e utilizando
dois parâmetros, a e b determinados no normativo.
A partir da Resolução CMN 2.604, de 23/04/1999, o fator R passou a se vincular à TBF e à
taxa de juros da poupança pela fórmula R = a + b x TBF, onde a sempre foi 1,005 (fator
referente à taxa de juros mensais da poupança) e b foi sendo alterado à medida que as taxas
de juros brutas caíam ao longo do tempo. A primeira TR nessa nova metodologia foi referente
a 01/06/1999 (art. 3º da Res. 2.604/99).
O fator b, fixado inicialmente em 0,48, foi sendo reduzido até que, na redação atual da
Resolução 3.354/2007, para TBF abaixo de 11%, esse fator b tem sido discricionariamente
fixado pelo BACEN.
Com tal metodologia, o cálculo da TR se desvinculou de seus objetivos iniciais (indicar a
previsão do mercado financeiro para a inflação no período futuro escolhido) para se ater tão
somente à necessidade de impedir que a poupança concorra com outras aplicações
financeiras.
(...)
Olhando as curvas dos índices do IPCA e da TR (curvas irregulares, a da TR quase sempre
abaixo do IPCA que é a linha mais irregular) verifica-se que até meados de 1999 as duas
curvas estavam praticamente sobrepostas (índices mensais muito próximos) e a partir do
segundo semestre de 1999 há um descolamento, com os índices da TR quase sempre muito
inferiores ao IPCA, chegando ao final do período com TR igual ou muito próxima de 0%. O
descolamento se deu, basicamente, a partir da metodologia iniciada pela Resolução CMN nº
2.604, de 23/04/1999, com efeitos a partir de 01/06/1999.
(...)
Se já quando de sua introdução a TR não mais podia ser utilizada como índice de correção
monetária (pois mesmo como “previsão de inflação futura” ela jamais pôde antecipar, de
forma matematicamente precisa, essa inflação e, portanto, não podia ser utilizada como tal) e
isso foi reconhecido pelo E. STF no julgamento da ADIN 493-0/DF, no último sesquidecênio ela
se desvinculou totalmente de qualquer correlação com a inflação passada ou futura, não
podendo jamais servir como índice de correção monetária e de manutenção do valor real de
direitos e obrigações, como reconhecido pelo E. STF nos recentes julgamentos das ADI
4357/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, ADI 4425/DF, que afastaram a utilização da TR para
correção das dívidas judiciais como estabelecido na EC 62/09 e na lei 11960/09.
Há dois importantes pontos a se observar. Em primeiro lugar, a metodologia da TR fixada no
art. 1º da lei 8.177/91 é ampla o suficiente para permitir que sucessivos e distintos cálculos
normatizados pelas resoluções do CMN sejam consideradas válidas, pois em nenhum
momento a lei 8.177/91 estabelece a obrigatoriedade de a TR se vincular a uma “previsão de
inflação futura” ou algo semelhante – apesar de que esse era seu fundamento do ponto de
vista estritamente econômico, quando da publicação da lei 8.177/91.
Em segundo lugar, as alterações realizadas no cálculo da TR e que finalizaram por reduzi-la a
algo próximo de zero, tiveram como fundamento o fato de que as cadernetas de poupança e
as demais aplicações financeiras são portáveis, intercambiáveis, concorrem entre si pelos
recursos dos aplicadores: não há nenhuma ilegitimidade ou invalidade evidente em reduzir a
remuneração básica da poupança a percentuais ínfimos, pois o poupador pode, a qualquer
tempo, retirar seus recursos da caderneta de poupança e colocá-los em outra aplicação
financeira, se não estiver satisfeito. Além disso, as cadernetas de poupança podem ser sacadas
a qualquer tempo e rendem mensalmente, são típicas aplicações de curtíssimo prazo, que
permitem esse livre trânsito de recursos, se a rentabilidade ficar a desejar.
Isto é, para a caderneta de poupança, a TR calculada da forma atual não é inválida nem
ilegítima. Mas tais características de livre portabilidade, de curtíssimo prazo e de
facultatividade da poupança são exatamente opostas às características do FGTS, como já
analisado anteriormente.
(...)
O art. 13 da lei 8.036/90, ao estabelecer que “Os depósitos efetuados nas contas vinculadas
serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano”,
claramente objetivava dar continuidade ao princípio estabelecido desde a lei 5.107/66 de que
o pecúlio representado pelo FGTS é uma obrigação de valor, imune aos efeitos corrosivos da
inflação, sujeito a correção monetária de seus depósitos e ainda vencendo juros
remuneratórios “reais” (acima da inflação) de 3% ao ano.
Não apenas dava continuidade à tradição do FGTS, como densificava de forma válida,
conforme à Constituição, o direito trabalhista fixado no art. 7º, III, da CR/88, que previu o
pecúlio obrigatório do fundo de garantia. Tratando-se de pecúlio obrigatório, não portável, a
ser usufruído após longo prazo de sua formação, é mais razoável a interpretação de que a
norma constitucional contém implicitamente a obrigatoriedade de que o valor desse fundo
seja protegido da corrosão inflacionária.
(...)
Está claro que fatores alheios ao legislador da lei 8.036/90 fizeram com que o art. 13
progressivamente se tornasse inconstitucional, na parte em que vincula a correção monetária
das contas do FGTS aos índices de atualização da poupança e estes, por sua vez, passam a ser
calculados por metodologia prevista nos arts. 1º e 17 da lei 8.177/91, que não mais garante a
recomposição das perdas inflacionárias.
Como se viu no tópico anterior, a metodologia iniciada pela Resolução CMN 2.604, de
23/04/1999, com efeitos a partir de 01/06/1999, deu início ao descolamento da TR dos
índices de inflação, sendo esse o momento que se deve fixar para a recomposição das contas
do FGTS.

Diante do exposto, tendo em vista o que já decidido pelo E. STF no caso da lei 11.960/09 e o
fato de o FGTS ser um pecú lio constitucional obrigató rio, nã o portá vel e de longo prazo,
cuja garantia de recomposiçã o das perdas inflacioná rias está implícita na disposiçã o do art.
7º, III, da CR/88, que assegura esse direito trabalhista fundamental a todos os
trabalhadores, é de se declarar inconstitucional, pelo menos desde a superveniência dos
efeitos da Resoluçã o CMN 2.604, de 23/04/1999, a vinculaçã o da correçã o monetá ria do
FGTS à TR, conforme art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91.
Diante do acima exposto, pugnamos que também este respeitoso juízo dê provimento aos
pleitos formulados pela parte autora, na forma seguinte.
PEDIDOS
Antes o exposto, a parte autora pleiteia a Vossa Excelência que, cumulativamente:
1) Em aná lise de mérito, determine à Caixa Econô mica Federal que:
1.1) Venha a pagar à parte autora o montante correspondente ao valor corrigido pelo
índice de correçã o monetá ria deferido (INPC/IPCA/outro definido pelo Douto Juízo) nos
meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e vincendas;
1.2) Pagar à parte autora o montante correspondente ao valor corrigido pelo índice de
correçã o monetá ria deferido (INPC/IPCA/outro definido pelo Douto Juízo), desde Janeiro
de 1999, nos meses em que a TR nã o foi zero, mas foi menor que a inflaçã o do período ou,
alternativamente, pagar a favor da parte autora o montante correspondente à s diferenças
de FGTS em razã o da aplicaçã o do índice de correçã o definido, correspondentes à s perdas
inflacioná rias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste Juízo, desde Janeiro de
1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero.
2) A declaraçã o de inconstitucionalidade da parte do artigo 13 da Lei nº 8036/90, a qual
determina a utilizaçã o da Taxa Referencial como indexador de correçã o monetá ria para os
depó sitos realizados na conta vinculada ao FGTS.
3) Que se ordene a citaçã o da requerida, para querendo contestar a presente açã o, sob pena
de revelia e efeitos da confissã o;
4) A concessã o de correçã o monetá ria e juros legais sobre os valores devidos pela
condenaçã o de que tratam os itens acima;
5) A condenaçã o da Ré ao pagamento das custas e honorá rios advocatícios na ordem de
20% sobre o valor da condenaçã o;
6) A concessã o dos benefícios da justiça gratuita à parte autora, uma vez que pobre no
sentido jurídico do termo, conforme declaraçã o de hipossuficiência anexa.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,
principalmente prova documental – pugnando desde já pela juntada dos extratos do Fundo
de Garantia apenas em sede de liquidaçã o de sentença, conforme exposto preliminarmente.
Adicionalmente, pede a declaraçã o expressa de prequestionamento de todos os
dispositivos direta e indiretamente mencionados nesta exordial, de maneira a possibilitar o
protocolo de posteriores recursos.
Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000.00 (dez mil reais).
Á guas Lindas de Goiá s-GO,

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