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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA ___ª SUBSEÇÃ O

JUDICIÁ RIA DE SÃ O PAULO - SEÇÃ O JUDICIÁ RIA DE SÃ O PAULO.


FULANO (A) DE TAL, brasileiro (a), (estado civil), (profissã o), portador (a) da Cédula de
Identidade RG nº _____ - SSP/SP, inscrita no CPF/MF sob nº _________ , residente e
domiciliado (a) na Rua _______ , nº ___ , apto ___ , bairro ______ , Município de ______ , CEP ______
- Estado de , vem propor a presente
AÇÃO REVISIONAL DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS), COM
PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, contra
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob
nº 00.360.305/0001-04, com sede na SBS QD 04, Bloco A, Lote 3/4, 21º andar, Bairro Asa
Sul, CEP 70.092-900, Brasília / DF
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:
I – DOS FATOS
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS foi criado na década de 60 para proteger
o trabalhador da despedida imotivada, como sucedâ neo do antigo regime da estabilidade
decenal. É constituído por valores depositados pelas empresas em nome de seus
empregados, possibilitando que o trabalhador forme um patrimô nio em razã o do trabalho
realizado ao longo de uma vida.
O FGTS é regido hoje pelas disposiçõ es da Lei 8.036, de 11 de maio de 1990, por normas e
diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e geridas pela Caixa Econô mica Federal
- CEF, e hoje financia programas de habitaçã o popular, saneamento bá sico e infraestrutura
urbana.
Dos artigos 2º e 13, da Lei 8.036/1990 extraímos a obrigatoriedade de correção
monetária e de remuneraçã o por meio de juros sobre os depó sitos efetuados nas contas
vinculadas ao FGTS.
Art. 2º. O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e
outros recursos a ela incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e
juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
§ 1º Constituem recursos incorporados ao FGTS, nos termos do caput deste artigo:
...
d) multas, correção monetária e juros morató rios devidos;
Art. 13. Os depó sitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente
com base nos parâmetros fixados para a atualização dos saldos dos depósitos de
poupança e capitalizaçã o de juros de (três) por cento ao ano. [grifos meus]
Por sua vez, o parâ metro fixado para a atualizaçã o dos saldos dos depó sitos da caderneta
de poupança e, consequentemente, dos depó sitos do FGTS é a Taxa Referencial – TR,
conforme prescrevem os artigos 12 e 17, da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, com
redaçã o alterada pela Lei 12.703, de 7 de agosto de 2012.
Art. 12. Em cada período de rendimento, os depó sitos de poupança serã o remunerados:
I - como remuneraçã o bá sica, por taxa correspondente à acumulaçã o das TRD, no período
transcorrido entre o dia do ú ltimo crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de
rendimento, exclusive;
II - como remuneraçã o adicional, por juros de: (Redaçã o dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0, 5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida
pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8, 5% (oito inteiros e cinco décimos por cento);
ou (Redaçã o dada pela Lei nº 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do
Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos demais casos.
(Redaçã o dada pela Lei nº 12.703, de 2012)
§ 1º A remuneraçã o será calculada sobre o menor saldo apresentado em cada período de
rendimento.
§ 2º Para os efeitos do disposto neste artigo, considera-se período de rendimento:
I - para os depó sitos de pessoas físicas e entidades sem fins lucrativos, o mês corrido, a
partir da data de aniversá rio da conta de depó sito de poupança;
II - para os demais depó sitos, o trimestre corrido a partir da data de aniversá rio da conta de
depó sito de poupança.
§ 3º A data de aniversá rio da conta de depó sito de poupança será o dia do mês de sua
abertura, considerando-se a data de aniversá rio das contas abertas nos dias 29, 30 e 31
como o dia 1º do mês seguinte.
§ 4º O crédito dos rendimentos será efetuado:
I - mensalmente, na data de aniversá rio da conta, para os depó sitos de pessoa física e de
entidades sem fins lucrativos; e
II - trimestralmente, na data de aniversá rio no ú ltimo mês do trimestre, para os demais
depó sitos.
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicá vel à remuneraçã o
bá sica dos depó sitos de poupança com data de aniversá rio no dia 1º, observada a
periodicidade mensal para remuneraçã o.
Pará grafo ú nico. As taxas de juros previstas na legislaçã o em vigor do FGTS sã o mantidas e
consideradas como adicionais à remuneraçã o prevista neste artigo.
Sobressai, ainda, do artigo 1º, da Lei 8.177/1991 a forma como a TR deverá ser calculada:
Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da
remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixos
captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com
carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos
federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo
Conselho Monetá rio Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do
Senado Federal.
...
§ 3º. Enquanto nã o aprovada a metodologia de cá lculo de que trata este artigo, o Banco
Central do Brasil fixará a TR. [grifos meus]
A metodologia de cá lculo da TR foi há muito tempo definida pelo Banco Central, e hoje está
vigente sob a forma prevista na Resoluçã o nº 4.624/2018, de 18 de janeiro de 2018.
Ocorre que há muito tempo, a TR nã o reflete mais a correçã o monetá ria, tendo se
distanciado completamente dos índices oficiais de inflaçã o. Nos meses de setembro,
outubro e novembro de 2009, janeiro e fevereiro de 2010, fevereiro e junho de 2012 em
diante a TR tem sido ZERO, ou seja, foi completamente anulada, como se nã o existisse
qualquer inflaçã o no período passível de correçã o.
Diante disso, a presente açã o visa o reconhecimento pelo Poder Judiciá rio do direito do (a)
Requerente de que o saldo do seu FGTS seja atualizado monetariamente por índice que
reflita a recomposiçã o da moeda ao longo do tempo em que permaneceu em poder da
Requerida, devido à indiscutível diminuiçã o do poder aquisitivo deflagrada pela inflaçã o, a
qual, como já dito, há muito nã o se encontra refletida pela TR.
Em suma, esse é o objeto da açã o.
II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Uma vez que a açã o trata de correçã o monetá ria dos depó sitos de FGTS, indiscutível a
legitimidade passiva e exclusiva da Caixa Econô mica Federal (CEF), conforme precedentes
do STJ, senã o vejamos:
AÇÃ O RESCISÓ RIA. ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃ O DOS SALDOS DAS CONTAS
VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁ RIOS. TEMA JÁ PACIFICADO NO
STJ. PROCEDÊ NCIA DA AÇÃ O
1. A matéria referente à correçã o monetá ria das contas vinculadas ao FGTS, em razã o das
diferenças de expurgos inflacioná rios, foi decidida pela Primeira Seçã o deste Superior
Tribunal, no REsp n. 1.111.201- PE e no REsp n. 1.112.520 – PE, de relatoria do Exmo. Min.
Benedito Gonçalves, ambos submetidos ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluçã o
8/08 do STJ, que tratam dos recursos representativos da controvérsia, publicados no DJe
de 4.3.2010
(...)
3. Quanto à s demais preliminares alegadas, devidamente prequestionadas, esta Corte tem
o entendimento no sentido de que, nas demandas que tratam da atualização
monetária dos saldos das contas vinculadas do FGTS, a legitimidade passiva é ad
causam é exclusiva da Caixa Econômica Federal, por ser gestora do Fundo, com
exclusão da União e dos bancos depositários. (Sú mula 249/STJ) [grifo meu]
(...)
(AR 1.962/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Primeira Seçã o, julgado em
08/02/2012, DJe 27/02/2012)

Assim, a presente açã o se dirige exclusivamente contra a Caixa Econô mica Federal,
conforme entendimento pacificado pela jurisprudência pá tria.

SÚ MULA 249/STJ – “A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar um
processo em que se discute a correção monetária do FGTS.”
III – DA PRESCRIÇÃO
Quanto ao prazo prescricional, conforme entendimento do STF, no julgamento do Recurso
Extraordiná rio com Agravo nº 709.212/DF, aplica-se a prescriçã o quinquenal, com termo
inicial em 13 de novembro de 2014.
ARE STF nº 709.212/DF - O Tribunal, decidindo o tema 608 da Repercussã o Geral, por
maioria, negou provimento ao recurso, vencido o Ministro Marco Aurélio que o provia
parcialmente. Também por maioria declarou a inconstitucionalidade do art. 23, § 5º, da Lei
nº 8.036/1990, e do art. 55 do Decreto nº 99.684/1990, na parte em que ressalvam o
“privilégio do FGTS à prescrição trintenária”, haja vista violarem o disposto no art. 7º, XXIX,
da Carta de 1988, vencidos os Ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, que mantinham a
jurisprudência da Corte. Quanto à modulaçã o, o Tribunal, por maioria, atribuiu à decisã o
efeitos ex nunc, vencido o Ministro Marco Aurélio, que nã o modulava os efeitos. Tudo nos
termos do voto do Relator. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski.
Plená rio, 13.11.2014.
Nesse sentido aponta a Sú mula 362 do Tribunal Superior do Trabalho.
Súmula 362 TST – FGTS. PRESCRIÇÃO:
I – Para os casos em que a ciência da lesã o ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal a
prescriçã o do direito de reclamar contra o nã o-recolhimento de contribuiçã o para o FGTS,
observado o prazo de dois anos apó s o término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em curso em 13.11.2014, aplica-se
o prazo prescricional que se consumar primeiro: trinta anos, contados do termo inicial, ou
cinco anos, a partir de 13.11.2014 (STF-ARE-709212/DF).
Sendo assim, a açã o ora proposta, mesmo se enquadrando no novo entendimento das
Cortes Superiores acerca do prazo prescricional, qual seja o quinquenal, tem pleno vigor,
uma vez que fora ajuizada antes da derradeira data de 13 de novembro de 2019.
IV – DO DIREITO
Iniciamos lembrando que a correçã o monetá ria foi institucionalizada em nosso país por
meio da Lei nº 4.357, de 1964, que criou o primeiro indexador da Economia Brasileira – a
ORTN (Obrigaçã o Reajustá vel do Tesouro Nacional) – uma obrigaçã o monetá ria cuja funçã o
era fazer variar periodicamente o valor da moeda nacional segundo seus respectivos
poderes aquisitivos.
Desde essa data, uma gama de índices de correçã o monetá ria foi se sucedendo, até a
entrada em vigor da Medida Provisó ria nº 294, de 31 de janeiro de 1991, que foi convertida
na Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Nessa oportunidade, o Governo Collor pretendeu
substituir a série de indexadores tradicionais da correçã o monetá ria brasileira (ORTN,
OTN, BTN), que eram vinculados à variaçã o dos níveis gerais de preços, pela Taxa
Referencial (TR), que possuía natureza financeira.
Ainda hoje permanece a perplexidade em relaçã o à natureza jurídica da TR, até por conta
da pró pria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como taxa de juros (art. 39) ora
como indexador (art. 18).
Taxas de juros objetivam promover a remuneração do capital. Sã o calculadas por
quem disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que
empregue para satisfaçã o de determinada necessidade, na expectativa de lucro.
Os indexadores, por outro lado, podem ser entendidos como índices calculados a partir
da variação de preços de mercado em determinado período. O seu objetivo está na
correçã o dos efeitos inflacioná rios, quando se compara valores monetá rios em diferentes
épocas.
E assim, quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR, assentou no voto vencedor da
ADI 493-0/DF que:
“A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações
do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que refletia a
variação do poder aquisitivo da moeda.” [grifos meus]
Nã o obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvã o
entenderam que a estrutura de cá lculo da taxa referencial nã o era suficiente para impedir
sua utilizaçã o como parâ metro de indexaçã o de economia.
Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a TR possuía natureza de taxa de
juros e declarou inconstitucional o art. 18, da Lei nº 8.177/91, cujo texto original
estabelecia que os saldos devedores e as prestaçõ es dos contratos integrantes do SFH,
passariam a ser atualizados pela taxa aplicá vel à remuneraçã o bá sica dos Depó sitos de
Poupança. Vale a pena transcrever a ementa deste julgado:
Açã o direta de inconstitucionalidade – Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos
celebrados anteriormente a ela será esta lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai
interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. – O disposto no art. 5º, XXXVI,
da Constituiçã o Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer
distinçã o entre lei de direito pú blico e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pú blica e
lei dispositiva. Precedente do STF – Ocorrência, no caso, de violaçã o de direito adquirido. A
taxa referencial (TR) nã o é índice de correçã o monetá ria, pois, refletindo as variaçõ es do
custo primá rio da captaçã o dos depó sitos a prazo fixo, nã o constitui índice que reflita a
variaçã o do poder aquisitivo da moeda. Por isso, nã o há necessidade de se examinar a
questã o de saber se as normas que alteram o índice de correçã o monetá ria se aplicam
imediatamente, alcançando, pois, as prestaçõ es futuras de contratos celebrados no
passado, sem violarem o disposto no art. 5º, XXXVI, da Carta Magna. – Também ofendem o
ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das
prestaçõ es nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por
Categoria Profissional (PES/CP). Açã o direta de inconstitucionalidade julgada procedente,
para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18 “caput” pará grafos 1 e 4; 20; 21 e
pará grafo ú nico; 23 e pará grafos; e 24 e pará grafos, todos da Lei nº 8.177, de 1 de maio de
1991.
(STF - ADI 493, Relator (a): Min.: MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em
25/06/1992, DJ 04-09-1992 PP14089 EMENT VOL- 01674-02 PP- 00260 RTJ VOL- 00143-
03 PP- 00724)
Por algum tempo, o pró prio STJ rejeitou a TR como índice de correçã o monetá ria, tanto
para a poupança, quanto para o SFH. Nesse sentido:
COMERCIAL. MÚ TUO RURAL. CORREÇÃ O MONETÁ RIA. VINCULAÇÃ O AO CRITÉ RIO DE
REAJUSTE DOS DEPÓ SITOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃ O
PELA TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. PREVISÃ O DE UTILIZAÇÃ O DA
OTN. INDEXADOR CONTRATUALMENTE ELEITO. SUBSTITUIÇÃ O EX LEGE PELA TR.
INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃ O DO INPC. PRECEDENTES:
I- NO CONTRATO DE MÚ TUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE VINCULAÇÃ O DA CORREÇÃ O
MONETÁ RIA AO CRITÉ RIO DE ATUALIZAÇÃ O DOS DEPÓ SITOS EM CADERNETAS DE
POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊ NCIA DO MESMO INDEXADOR NOS MESES
SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91 (ART. 13 DA LEI 8.177).
II- EM FACE DA POSIÇÃ O DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL INADIMITINDO A TR COMO
FATOR DE ATUALIZAÇÃ O MONETÁ RIA SUBSTITUINDO O BTN, A CORREÇÃ O DOS
VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A
VARIAÇÃ O DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA PÚ BLICA, CUMPRE SEJA
PRECEDIDA, A PARTIR DA LEI 8.177/91, COM BASE NO INPC.
(REsp. 40.777/GO - Rel. Min. SÁ LVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado
em 13/11/1995, DJ 11/12/1995, p. 43225)
ADMINISTRATIVO – SFH – REAJUSTE DAS PRESTAÇÕ ES E DO SALDO DEVEDOR – PLANO
DE EQUIVALÊ NCIA SALARIAL (PES) – INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF –
VANTAGENS PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE AO SALÁ RIO – INCLUSÃ O NO
CÁ LCULO – DIVERGÊ NCIA JURISPRUDENCIAL NÃ O COMPROVADA – RISTJ. ART. 255 E
PARÁ GRAFOS – SÚ MULA 13/STJ – PRECEDENTES STJ.
- Nos contratos vinculados ao PES, o reajustamento das prestaçõ es deve obedecer à
variaçã o salarial dos mutuá rios, a fim de preservar a equaçã o econô mico-financeira do
pactuado.
-As vantagens pessoais incorporadas, definitivamente ao salá rio ou vencimento do
mutuá rio, incluem-se na verificaçã o da equivalência para fixaçã o das parcelas.
-Declarada pelo STF a inconstitucionalidade da TR como fator de correção monetária
(ADIN 493-0), o reajustamento do saldo devedor, a exemplo das prestações mensais,
também deve obedecer ao Plano de Equivalência Salarial. [grifo meu]
- Recurso conhecido e parcialmente provido
(REsp 14.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 23/11/1999, DJ 21/02/2000, p. 112)
SFH. PLANO DE EQUIVALÊ NCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕ ES. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA UNIÃ O. NULIDADE DO ACÓ RDÃ O. INOCORRÊ NCIA. VANTAGENS PESSOAIS.
INCLUSÃ O. CORREÇÃ O PELA TR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
(...)
4. Inaplicável a TR como fator de correção monetária
Entendimento consagrado nesta Corte na esteira de orientação traçada pelo STF.
[grifo meu]
5. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido
(REsp 209.466/BA Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 07/08/2011, DJ 17/06/2012, p. 231)
Todavia, aquela Corte de Justiça, fazendo uma releitura do voto do Ministro Moreira Alves
do STF, mudou o entendimento, e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice
de correçã o monetá ria, considerando inconstitucional apenas a sua aplicaçã o retroativa e,
no tocante a sua aplicaçã o na correçã o do FGTS, chegou até a editar a Sú mula 459.
Como dito alhures, aplicaçã o de índice de correçã o monetá ria se presta para recuperar o
poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado
por um processo inflacioná rio. O pró prio STJ reconhece a influência da inflaçã o como
correçã o monetá ria, senã o vejamos:
A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder
aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem
um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação
representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado
pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a
obrigaçã o levando em conta apenas oscilaçõ es positivas importaria distorcer a realidade
econô mica produzindo um resultado que nã o representa a simples manutençã o do
primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha,
estabelece o Manual de Orientaçã o de Procedimento de Cá lculos aprovado pelo Conselho
da Justiça Federal que, nã o havendo decisã o judicial em contrá rio, “os índices negativos de
correçã o monetá ria (deflaçã o) serã o considerados no cá lculo de atualizaçã o”, com a
ressalva de que, se, no cá lculo final, “a atualizaçã o implicar reduçã o do principal, deve
prevalecer o valor nominal” (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJe 18/4/12) [grifo meu]
Nã o podemos nos esquecer de que a cultura da correçã o monetá ria está de tal forma
arraigada ao nosso sistema econô mico, que o pró prio Có digo Civil de 2002, traz diversos
dispositivos garantindo atualizaçã o monetá ria.
Este retrospecto da evoluçã o legal e jurisprudencial a respeito da aplicaçã o da TR como
índice de correçã o monetá ria se faz necessá rio para que pudéssemos chegar ao nú cleo do
argumento desta açã o.
Hoje no país, há dois tipos de correção monetária. Índices que refletem a inflação e,
portanto, recuperam o valor de compra do valor aplicado, como o INPC e o IPCA, e
um índice que não reflete a inflação, e consequentemente não recupera o poder de
compra do valor aplicado – a Taxa de Referencial/TR.
Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca esteve alinhada à inflaçã o.
Nem quando experimentamos a hiperinflaçã o, nem quando experimentamos a deflaçã o.
Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA sempre andaram pró ximos. Em outras
palavras, imperava a razoabilidade dos índices da TR para que pudessem atingir a
finalidade de correçã o do valor do capital.
Nã o obstante, o cená rio começa a mudar a partir de 1999, quando a TR se distancia
expressivamente do INPC e IPCA, ao ponto de hoje a inflação ultrapassar 4% ao ano,
enquanto a TR permanece igual a ZERO. Logo, ela nã o se presta para o fim de manter o
poder aquisitivo dos depó sitos do FGTS, que sã o um patrimô nio do trabalhador.
O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo iníquo, por nã o apresentar a
recomposiçã o inflacioná ria dos seus recursos. Na verdade, o trabalhador nã o está
financiando programas de habitaçã o popular, saneamento bá sico e infraestrutura urbana,
mas sim, subsidiando.
Ao contrá rio de outros investimentos, o FGTS nã o é um fundo de livre disposiçã o por parte
do trabalhador, nã o podendo ele decidir sponte propria quais as aplicaçõ es que lhe sã o mais
convenientes ou rentá veis. O trabalhador tem que se submeter a políticas econô micas e
sociais que lhe sã o altamente prejudiciais.
Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu art. 2º que é garantida a atualização
monetária e juros. Quando a TR é igual a ZERO este artigo é descumprido. Quando a
TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este artigo também
é descumprido e o patrimônio do trabalhador é subtraído por quem tem o dever
legal de administrá-lo.
Em um ano de TR acumulada igual a ZERO e previsã o de INFLAÇÃ O OFICIAL de 4,05% para
2018 (Relató rio de Mercado Focus /BACEN), estamos diante de uma situaçã o de confisco.
O Governo Federal, por meio da Caixa Econô mica Federal, está confiscando os rendimentos
dos trabalhadores, para subsidiar políticas pú blicas, sem a menor ingerência destes
trabalhadores.
Assim como em nosso Estado Democrá tico de Direito, a Constituiçã o veda que se utilize
tributo com efeito de confisco, o trabalhador nã o pode ser punido com confisco do que a
pró pria Caixa define em seu sítio eletrô nico, como um patrimô nio do trabalhador, e
definitivamente o é. Quando se fala em patrimô nio, imediatamente sobrevém liçã o da
Professora Maria Helena Diniz, ao comentar o art. 91, do Có digo Civil de 2002:
“Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa,
dotadas de valor econômico.”
Universalidade de direito: é a constituída por bens singulares corpó reos heterogêneos e
incorpó reos (complexo de relaçõ es jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de
produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econô mico, como p. Ex., o
patrimô nio (...). O patrimô nio e a herança sã o considerados como um conjunto, ou seja,
como uma universalidade. Embora se constituam ou nã o de bens materiais e de créditos,
esses bens se unificam numa expressã o econô mica, que é o valor. O patrimônio é
complexo de relações jurídicas de uma pessoa apreciável economicamente. Incluem-
se no patrimônio: a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes
a tais direitos. O patrimônio abrange direitos deveres redutíveis a dinheiro. (DINIZ,
2017, p. 100) [grifo meu]
Levando em conta que a relaçã o jurídica entre os trabalhadores e a Caixa Econô mica
Federal é de direito pessoal, o art. 233 do Có digo Civil se torna inafastá vel, na medida em
que determina que a obrigaçã o de dar coisa certa abrange os acessó rios ainda que nã o
mencionados.
“Art. 233 A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados,
salvo o contrário resultar do título ou das circunstancias do caso.”
Ora, acessó rios de dinheiro sã o juros e a correçã o monetá ria.
E entã o voltamos à Taxa Referencial.
Manipulação da TR pelo Banco Central
Independentemente da discussã o sobre sua natureza jurídica, vamos aqui partir do
pressuposto, assentado pela jurisprudência, principalmente pelo STJ, que a TR é índice de
correçã o monetá ria.
Tanto o art. 1º da Lei nº 8.177/91, quanto o art. 5º da Lei nº 10.192/2001 (que convolou a
MP nº 1.053/95) atribuíram ao Banco Central a regulamentaçã o da metodologia de cá lculo
da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expediçã o das instruçõ es necessá rias ao
cumprimento do artigo que criou a Taxa Bá sica Financeira - TBF.
Art. 5º. Fica instituída Taxa Bá sica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente
como base de remuneraçã o de operaçõ es realizadas no mercado financeiro, de prazo de
duraçã o igual ou superior a sessenta dias.
Pará grafo ú nico. O Conselho Monetá rio Nacional expedirá as instruçõ es necessá rias ao
cumprimento do disposto neste artigo, podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo
previsto no caput. (Lei nº 10.192/2001)
Com o propó sito de regulamentar a TR, o Banco Central vem ao longo dos anos criando e
reinventando fó rmulas para calculá -la. Pelo menos desde a Resoluçã o nº 2.075, de 26 de
maio de 1994, há fó rmulas para encontrar a TR. Todavia com a instituiçã o da Taxa Bá sica
Financeira, pela Medida Provisó ria nº 1.053/95, de 30 de junho de 1995, a forma de cá lculo
da TR sofreu uma expressiva modificaçã o.
Desde a Resoluçã o nº 2.437, de 30 de outubro de 1997, a TR é calculada levando em conta a
Taxa Bá sica Financeira e um Redutor.
A Resoluçã o nº 4.624/2018, hoje vigente sobre o assunto, diz o seguinte:
Art. 1º A Taxa Bá sica Financeira (TBF), de que trata o art. 5º da Lei nº 10.192, de 14 de
fevereiro de 2001, e a Taxa Referencial (TR), de que tratam os arts. 1º da Lei nº 8.177, de 1º
de março de 1991, e 1º da Lei nº 8.660, de 28 de maio de 1993, serã o calculadas a partir de
taxas de juros negociadas no mercado secundá rio com Letras do Tesouro Nacional (LTN).
Art. 2º Será constituída, a cada dia ú til, base de dados composta por todas as operaçõ es
definitivas realizadas no mercado secundá rio, registradas no Sistema Especial de
Liquidaçã o e de Custó dia (Selic), com LTNs de prazo de vencimento imediatamente
anterior, ou coincidente, e imediatamente posterior ao prazo de um mês.
Art. 3º Para cada vencimento de LTN que compõ e a base de dados de que trata o art. 2º,
será calculada a taxa de juros média (TM) [...]
Art. 4º Para cada dia do mês – dia de referência –, o Banco Central do Brasil deve calcular a
TBF, para o período de um mês, com início no pró prio dia de referência e término no dia
correspondente ao dia de referência no mês seguinte [...]
Pará grafo ú nico. Quando inexistente o dia correspondente ao dia de referência no mês
seguinte, será considerado como término do período o dia primeiro do segundo mês
posterior ao do dia de referência.
Art. 6º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 5º, deve ser calculada
a correspondente TR, pela aplicaçã o de um redutor R, de acordo com a seguinte fó rmula:
TR = max { 0 ; 100 x {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (%)
§ 1º O valor do redutor R deve ser calculado para todos os dias, inclusive não úteis,
de acordo com a seguinte fórmula:
R = (a + b x TBF/100), em que:
I - TBF corresponde à TBF relativa ao dia de referência;
II - a corresponde a 1,005; e
III - b corresponde ao valor obtido na tabela abaixo, em funçã o da TBF relativa ao dia de
referência, expressa em termos percentuais ao ano, considerando a convençã o de 252 dias
ú teis:
_________________________________________________
TBF (% a.a.)_________________________________________ b
TBF maior que 16,0 __________________________________ 0,48
TBF menor ou igual a 16,0 e maior que 15,0 __________________ 0,44
TBF menor ou igual a 15,0 e maior que 14,0 __________________ 0,40
TBF menor ou igual a 14,0 e maior que 13,0 __________________ 0,36
TBF menor ou igual a 13,0 e maior ou igual a 10,5 ______________ 0,32
TBF menor que 10,5 e maior ou igual a 10,0 __________________ 0,31
TBF menor que 10 e maior ou igual a 9,5 ____________________ 0,26
TBF menor que 9,5 ___________________________________ 0,23
______________________________________________________
§ 2º O Banco Central do Brasil deve calcular o redutor R utilizando, no processo, todas
as casas decimais dos valores envolvidos, procedendo ao arredondamento do valor final
para quatro casas decimais, com utilizaçã o das Regras de Arredondamento na Numeraçã o
Decimal (NBR 5891) estabelecidas pela Associaçã o Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
§ 3º Os valores do redutor R devem ser divulgados pelo Banco Central do Brasil quando da
divulgaçã o da TR. [grifos meus]
O peculiar nessa determinaçã o do Banco Central, que de resto se repete desde 1997, é que
TBF e TR sã o exatamente iguais em sua gênese até o momento em que se determina que se
aplique um redutor à TBF para se chegar à TR.
Não há na Lei da TR previsão de aplicação do redutor, assim como também não há na
Lei que criou a TBF. Todavia causa estranheza que diante de um comando aberto como o
do art. 5º da MP nº 1.503/95 (Lei nº 10.192/01), o Banco Central, com amplos poderes
para regular o assunto, nã o tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar
o art. 1º da Lei nº 8.177/91, que nã o era tã o flexível.
Atrelado a esses parâ metros, o trabalhador que tem seu dinheiro aplicado no FGTS, de
onde nã o pode retirá -lo para outro investimento. Nã o há correçã o monetá ria, tampouco
Taxa Referencial (independentemente de sua natureza jurídica), em flagrante ofensa ao art.
2º da Lei nº 8.036/90, que impõ e a correçã o monetá ria dos valores depositados pelo
empregador.
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e
outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualizaçã o monetá ria e
juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigaçõ es.
Ainda que se argumente que a aplicaçã o do Redutor pelo Banco Central seja legal, sua
reduçã o a zero em um cená rio de inflaçã o superior a 4% ao ano, configura afronta ao art. 2º
da Lei nº 8.036/90, que determina a atualizaçã o monetá ria.
Mas é necessá rio ir mais além e revisar o entendimento jurisprudencial sobre a TR como
índice de correçã o monetá ria, má xime a partir da instituiçã o de um Redutor que tem por
efeito zerar o índice da TR em ambiente de inflaçã o.
O quadro comparativo mostra que a TR nã o se presta como atualizador monetá rio do FGTS,
pelo menos, desde janeiro de 1999.
Desde o momento em que o Banco Central estabeleceu um redutor para TR, ela deixou de
ser índice confiá vel para atualizar monetariamente as contas do FGTS, porque se descola
dos índices de inflaçã o, sendo reduzido ano a ano.
A finalidade da correçã o monetá ria é manter o poder de compra do capital. E essa
finalidade nem de perto vem sendo alcançado pela TR.
O trabalhador, que busca a formaçã o de um patrimô nio digno, necessita e deve confiar na
lei. E no cená rio apresentado essa confiança foi quebrada.
Há nítida expropriaçã o do patrimô nio do trabalhador, na medida em que se nega a ele a
devida atualizaçã o monetá ria.
Ora, a atualizaçã o monetá ria é o elemento mais importante do mercado financeiro, pois
sem a mediçã o precisa de perda do poder aquisitivo da moeda com o decorrer do tempo,
ocorre desproporcional destruiçã o de valor.
Por isso, o objetivo fundamental da escolha do índice de atualizaçã o é de proteger o
patrimô nio, evitando que ele seja corroído pela inflaçã o.
O Poder Judiciá rio há de se opor a este esbulho, confisco, expropriaçã o que o trabalhador
está sofrendo, desde 1999, com as constantes reduçõ es da TR em relaçã o aos índices de
inflaçã o, culminando na sua completa nulidade.
Em 1991 e 1992, quando julgada a ADIN 493-0/DF, o STF deixou bem assentado que a TR
nã o constituía índice que refletia a variaçã o do poder aquisitivo da moeda. Esta
característica da TR tem se confirmando ao longo dos anos.
A aplicaçã o da TR na correçã o dos saldos dos depó sitos do FGTS vem causando uma
descabida subtraçã o do valor do patrimô nio do trabalhador. Há anos, os trabalhadores que
têm depó sitos no FGTS nã o experimentam ganhos reais em sua aplicaçã o e sequer
conseguem preservá -la das perdas inflacioná rias.
Muito ao contrá rio. Há muito tempo, os trabalhadores têm rendimentos inferiores à
inflaçã o, mesmo levando em conta a remuneraçã o dos juros de 3% ao ano.
Apesar de a Caixa Econô mica Federal ter divulgado índices de correçã o do FGTS acima da
inflaçã o, para os anos de 2017 e 2018, nem de longe tais índices permitem repor a
diferença patrimonial que foi usurpada do trabalhador, ao longo de quase duas décadas.
Somado a isso, de pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao Banco Central
que recalculasse a TR, pois, uma nova fó rmula estaria igualmente sob a discricionariedade
e subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessã o de Resoluçõ es do Banco Central
sobre o tema.
Partindo da premissa inequívoca que a TR nã o mais repõ e as perdas monetá rias dos
depó sitos do FGTS, outro caminho nã o existe se nã o o de adotar um novo índice que
verdadeiramente cumpra a determinaçã o da Lei e corrija esses depó sitos.
Nessa ordem, a seguir podemos verificar índices que efetivamente produzem correção
monetária.
A Lei de Introduçã o à s Normas de Direito Brasileiro estabelece, em seu art. 5º, que “na
aplicaçã o da lei, o juiz atenderá os fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem
comum”. A lei do FGTS tem um fim social indiscutível, proteger o trabalhador e constituir
um patrimô nio que lhe sirva de arrimo ao termo de sua relaçã o de emprego.
Diante de tudo que foi demonstrado, a juiz atenderá os fins sociais da Lei do FGTS ao
reconhecer que a correçã o monetá ria, com efetiva reposiçã o dos índices inflacioná rios de
forma a preservar o poder de compra do dinheiro depositado no Fundo, é devida pela Caixa
Econô mica Federal.
“A correçã o monetá ria nã o constitui parcela que se agrega ao principal, mas simples
recomposiçã o do valor e poder aquisitivo do mesmo. Trata-se, apenas, na verdade, de nova
expressã o numérica do valor monetá rio aviltado pela inflaçã o. Quem recebe com correçã o
monetá ria nã o recebe um ‘plus’, mas apenas o que lhe é devido, em forma atualizada.” (JTA
109/372)
Obedece ao princípio do restitutio in integrum, atinente nas normas pú blicas que protegem
a coisa depositada e regulam o contrato de depó sito.
Observe-se para tanto, nesse esforço de exposiçã o analítica, que a referência legislativa do
art. 1.266 do antigo Có digo Civil de 1916, foi reproduzida ipsis litteris no art. 629 do atual
Có digo Civil de 2002:
Art. 629. O depositá rio é obrigado a ter na guarda e conservaçã o da coisa depositada o
cuidado e diligência que costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com
todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. [grifo meu]
Desse modo, se a TR nã o pode ser considerada como um índice idô neo, sobrevém a
necessidade de substituí-la por um índice que realmente reponha as perdas monetá rias. E
entã o, nada obsta que o juiz considere índice previsto em outra legislaçã o.
Até por questã o de equidade, o melhor índice para substituir a TR é o índice que corrige
monetariamente o salá rio dos trabalhadores e os benefícios previdenciá rios. Esse índice
está previsto na Lei nº 12.382/2011, cujos primeiros artigos trazem a seguinte dicçã o:
Art. 1º. O salá rio mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545, 00 (quinhentos e
quarenta e cinco reais).
Pará grafo ú nico. Em virtude do disposto no caput, o valor diá rio do salá rio mínimo
corresponderá a R$ 18, 17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horá rio, a R$ 2, 48
(dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2º. Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorizaçã o do salá rio mínimo a
vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1º de janeiro do respectivo ano.
§ 1º. Os reajustes para a preservaçã o do poder aquisitivo do salá rio mínimo
corresponderã o à variaçã o do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e
divulgado pela Fundaçã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada
nos doze meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2º. Na hipó tese de nã o divulgaçã o do INPC referente a um ou mais meses compreendidos
no período do cá lculo até o ú ltimo dia ú til imediatamente anterior à vigência do reajuste, o
Poder Executivo estimará os índices dos meses nã o disponíveis.
§ 3º. Verificada a hipó tese de que trata o § 2º, os índices estimados permanecerã o vá lidos
para os fins desta Lei, sem qualquer revisã o, sendo os eventuais resíduos compensados no
reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4º. A título de aumento real, serã o aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2012 será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto
Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010;
II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;
III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e
IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.
§ 5º. Para fins do disposto no § 4º, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o
ano de referência, divulgada pelo IBGE até o ú ltimo dia ú til do ano imediatamente anterior
ao de aplicaçã o do respectivo aumento real.
Sobre a mesma matéria, para os anos de 2016 a 2019, a Lei nº 13.152/2015 assim
apresenta-se:
Art. 1º Sã o estabelecidas as diretrizes a vigorar entre 2016 e 2019, inclusive, a serem
aplicadas em 1º de janeiro do respectivo ano, para:
I - a política de valorizaçã o do salá rio-mínimo; e
II - (VETADO).
§ 1º Os reajustes para a preservaçã o do poder aquisitivo do salá rio-mínimo
corresponderã o à variaçã o do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado e
divulgado pela Fundaçã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulada
nos 12 (doze) meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2º Na hipó tese de nã o divulgaçã o do INPC referente a um ou mais meses compreendidos
no período do cá lculo até o ú ltimo dia ú til imediatamente anterior à vigência do reajuste, o
Poder Executivo estimará os índices dos meses nã o disponíveis.
§ 3º Verificada a hipó tese de que trata o § 2º, os índices estimados permanecerã o vá lidos
para os fins desta Lei, sem qualquer revisã o, sendo os eventuais resíduos compensados no
reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4º A título de aumento real, serã o aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2016, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto
Interno Bruto (PIB), apurada pelo IBGE, para o ano de 2014;
II - em 2017, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2015;
III - em 2018, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2016; e
IV - em 2019, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2017.
§ 5º Para fins do disposto no § 4º, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o
ano de referência, divulgada pelo IBGE até o ú ltimo dia ú til do ano imediatamente anterior
ao de aplicaçã o do respectivo aumento real.
Nã o há fundamento em haver duas formas de remuneraçã o para matérias correlatas. Se o
salá rio mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, por analogia, o depó sito do FGTS
que, em ú ltima aná lise, é um salá rio indireto do trabalhador, também há de sê-lo.
E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salário mínimo pelo INPC decorre
exclusivamente da necessidade de preservar seu poder aquisitivo.
O índice mostra-se infinitamente mais adequado a preservar o poder aquisitivo dos
depó sitos do FGTS do que a aniquilada TR, conforme demonstrado na Planilha de Cá lculo
anexa.
Ademais, por ser reconhecida sua inconstitucionalidade pelo E. STF (uma vez que nã o
representa índice oficial de correçã o monetá ria) e por analogia, a adoçã o da TR na
atualizaçã o mensal do saldo do FGTS contraria a garantia assegurada pela Lei nº 8.036/90.
Fato é que a TR se desvinculou de qualquer correlaçã o com a inflaçã o passada ou futura,
nã o podendo servir como índice de correçã o monetá ria, como reconhecido pelo Supremo
nos julgamentos das ADI 4357/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, ADI 4425/DF, que
afastaram a utilizaçã o da TR para correçã o das dívidas judiciais, como estabelecido na
Emenda Constitucional nº 62/09 e na Lei nº 11.960/09, afirmando que ela “não pode ser
utilizada como índice de atualização monetária, eis que não é capaz de espelhar o
processo inflacionário brasileiro.”
Foi com o julgamento das ADI 4425 e 4357, que o Supremo Tribunal Federal analisou a
inconstitucionalidade da EC nº 62/2009, onde ficou inconteste o entendimento daquela
Corte, no sentido de que a TR nã o pode ser utilizada como índice de atualizaçã o monetá ria,
eis que nã o é capaz de espelhar o processo inflacioná rio brasileiro.
Seguem trechos do voto do Ministro Luiz Fux, redator para o acó rdã o:
Quanto à disciplina da correçã o monetá ria dos créditos inscritos em precató rios, a EC nº
62/09 fixou como critério o “índice oficial de remuneração da caderneta de poupança”.
Ocorre que o referencial adotado nã o é idô neo a mensurar a variaçã o do poder aquisitivo
da moeda. Isso porque a remuneraçã o da caderneta de poupança, regida pelo art. 12 da Lei
nº 8.177/91, com atual redaçã o dada pela Lei nº 12.703/2012, é fixada ex ante, a partir de
critérios técnicos em nada relacionados com a inflaçã o empiricamente considerada. Já se
sabe, na data de hoje, quanto irá render a caderneta de poupança. E é natural que seja
assim, afinal a poupança é uma alternativa de investimento de baixo risco, no qual o
investidor consegue prever com segurança a margem de retorno do seu capital.
A inflaçã o, por outro lado, é fenô meno econô mico insuscetível de captaçã o apriorística. O
má ximo que se consegue é estimá -la para certo período, mas jamais fixá -la de antemã o. Daí
por que os índices criados especialmente para captar o fenô meno inflacioná rio sã o sempre
definidos em momentos posteriores ao período analisado, como ocorre com o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgado pela Fundaçã o
Getú lio Vargas (FGV). A razã o disso é clara: a inflaçã o é sempre constatada em apuraçã o ex
post, de sorte que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a efetiva variaçã o de
preços que caracteriza a inflaçã o. É o que ocorre na hipó tese dos autos. A prevalecer o
critério adotado pela EC nº 62/09, os créditos inscritos em precató rios seriam atualizados
por índices pré-fixados e independentes da real flutuaçã o de preços apurada no período de
referência. Assim, o índice oficial de remuneraçã o da caderneta de poupança nã o é critério
adequado para refletir o fenô meno inflacioná rio.
Destaco que nesse juízo nã o levo em conta qualquer consideraçã o técnico-econô mica que
implique usurpaçã o pelo Supremo Tribunal Federal de competência pró pria de ó rgã os
especializados. Nã o se trata de definiçã o judicial de índice de correçã o. Essa circunstâ ncia,
já rechaçada pela jurisprudência da Casa, evidentemente transcenderia as capacidades
institucionais do Poder Judiciá rio. Nã o obstante, a hipó tese aqui é outra.
Diz respeito à idoneidade ló gica do índice fixado pelo constituinte reformador para
capturar a inflaçã o, e nã o do valor específico que deve assumir o índice para determinado
período. Reitero: nã o se pode quantificar, em definitivo, um fenô meno essencialmente
empírico antes mesmo da sua ocorrência. A inadequaçã o do índice aqui é auto evidente.
Corrobora essa conclusã o reportagem esclarecedora veiculada em 21 de janeiro de 2013
pelo jornal especializado Valor Econômico. Na matéria intitulada “Cuidado com a inflação”, o
perió dico aponta que “o rendimento da poupança perdeu para a inflação oficial, medida pelo
IPCA, mês a mês desde setembro” de 2012. E ilustra: “Quem investiu R$ 1 mil na caderneta em
31 de junho [de 2012], fechou o ano com poder de compra equivalente a R$ 996,40. Ganham
da inflação apenas os depósitos feitos na caderneta antes de 4 de maio, com retorno de 6%.
Para os outros, vale a nova regra, definida no ano passado, de rendimento equivalente a 70%
da meta para a Selic, ou seja, de 5,075%”. Em suma: há manifesta discrepâ ncia entre o índice
oficial de remuneraçã o da caderneta de poupança e o fenô meno inflacioná rio, de modo que
o primeiro nã o se presta a capturar o segundo. O meio escolhido pelo legislador
constituinte (remuneraçã o da caderneta de poupança) é, portanto, inidô neo a promover o
fim a que se destina (traduzir a inflaçã o do período).
[...]
Assentada a premissa quanto à inadequaçã o do aludido índice, mister enfrentar a natureza
do direito à correçã o monetá ria. Na linha já exposta pelo i. Min. Relator, “a finalidade da
correção monetária, enquanto instituto de Direito Constitucional, não é deixar mais rico o
beneficiário, nem mais pobre o sujeito passivo de uma dada obrigação de pagamento. É deixá-
los tal como qualitativamente se encontravam, no momento em que se formou a relação
obrigacional”. Daí que a correçã o monetá ria de valores no tempo é circunstâ ncia que
decorre diretamente do nú cleo essencial do direito de propriedade (CF, art. 5º, XXII).
Corrigem-se valores nominais para que permaneçam com o mesmo valor econô mico ao
longo do tempo, diante da inflaçã o. A ideia é simplesmente preservar o direito original em
sua genuína extensã o. Nesse sentido, o direito à correçã o monetá ria é reflexo imediato da
proteçã o da propriedade. Deixar de atualizar valores pecuniá rios ou atualizá -los segundo
critérios evidentemente incapazes de capturar o fenô meno inflacioná rio representa
aniquilar o direito propriedade em seu nú cleo essencial.
Tal constataçã o implica a pronú ncia de inconstitucionalidade parcial da EC nº 62/09 de
modo a afastar a expressã o “índice oficial de remuneração da caderneta de poupança”
introduzida no § 12 do art. 100 da Lei Maior como critério de correçã o monetá ria dos
créditos inscritos em precató rio, por violaçã o ao direito fundamental de propriedade (art.
5º, XII, CF/88), inegá vel limite material ao poder de reforma da Constituiçã o (art. 60, § 4º,
IV, CF/88). (ADI 4425-DF, LUIZ FUX, 2013, p. 34/38)
Com tudo isso, ainda é necessá rio nos aprofundarmos um pouco mais nas consequências
que essa subtraçã o de recursos traz ao patrimô nio do trabalhador.
Assim, importante pô r em voga o preceito do artigo 7º, da CF/88:
Art. 7º Sã o direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condiçã o social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Assentado nesse ditame, podemos seguir, lembrando que é de conhecimento geral que o
Sistema Financeiro de Habitaçã o-SFH dispõ e dos recursos do FGTS para financiar o maior
sonho do trabalhador brasileiro – a casa pró pria. Também é de conhecimento geral que a
Caixa Econô mica Federal é a instituiçã o financeira que mais se utiliza desses recursos do
SFH para financiar, emprestar dinheiro para que os brasileiros possam comprar a casa
pró pria.
Embora, em princípio, nã o haja correlaçã o entre o trabalhador que tem depó sito no FGTS,
cujos valores sã o emprestados para o financiamento imobiliá rio, e aqueles que se valem do
empréstimo do SFH para adquirir sua casa pró pria, em alguns momentos, trabalhador e
mutuá rio sã o a mesma pessoa.
E nesse conceito de mutuá rio e trabalhador serem a mesma pessoa é que se evidencia o
verdadeiro aviltamento do patrimô nio do trabalhador.
Já seria reprová vel o fato de a Caixa Econô mica Federal tomar dinheiro a juros baixos e sem
nenhuma correçã o e emprestá -lo a juros muito mais altos, mesmo sem correçã o (uma vez
que a TR também corrige as prestaçõ es do SFH), pois, agindo assim, a instituiçã o bancá ria
leva imensa vantagem nessa negociaçã o.
Mas a situaçã o piora consideravelmente quando, a Caixa pega dinheiro a juros baixos, sem
nenhuma correçã o para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.
Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa pró pria utilizando os recursos
do seu FGTS. Ele encontra o imó vel, mas verifica que seus recursos nã o sã o suficientes para
adquiri-lo. Entã o se dirige a um Banco para financiar a diferença, comprometendo sua
renda por longos anos, podendo alguns financiamentos chegarem a inacreditá veis 35
(trinta e cinco) anos, conforme divulgado pela pró pria Caixa Econô mica Federal, procurada
pela maioria dos trabalhadores brasileiros, quando o assunto é a aquisiçã o de imó veis.
Todavia, se o depó sito do FGTS tivesse sido devidamente corrigido, se ele mantivesse seu
poder de compra, ou o empréstimo seria menor, ou sequer haveria a necessidade de o
trabalhador comprometer sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que é seu
sonho mais primá rio, sua necessidade mais real, como indivíduo e como brasileiro.
A Caixa Econô mica Federal ao nã o corrigir o FGTS cria a necessidade do empréstimo e,
depois, empresta ao trabalhador aquilo que deixou de lhe pagar a título de correçã o
monetá ria da sua conta de FGTS e, ainda, lhe cobra juros, valendo-se da fragilidade humana
para colocar-se como realizadora de sonhos, ao mesmo tempo em que, ano apó s ano, aufere
lucros exorbitantes à custa do trabalhador.
V – CONCLUSÕES
A Taxa Referencial (TR), enquanto índice de correçã o monetá ria, nã o pode ser reduzida a
ZERO, como tem ocorrido por longos anos, pois afronta flagrantemente ao art. 233 do
Có digo Civil e ao art. 2º da Lei nº 8.036/90, que garantem a atualizaçã o monetá ria aos
depó sitos feitos no FGTS.
Nã o se pode olvidar o entendimento do STJ, acerca da correçã o monetá ria:
“correção monetária não representa qualquer acréscimo, mas simples recomposição
do valor da moeda corroído pelo processo inflacionário” (STJ, REsp nº 1.191.868, 2ª
Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 15/06/2010 e p. 22/06/2010).
Desde janeiro de 1999, a TR se distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflaçã o,
impingindo profundas perdas aos depó sitos do FGTS, tornando-se inidônea para garantir a
reposiçã o das perdas monetá rias, como determina a Lei do FGTS.
A inidoneidade da TR como índice de correçã o monetá ria decorre de mudanças
introduzidas em sua metodologia de cá lculo pelo Banco Central do Brasil que, por meio do
mecanismo econô mico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice, ao passo
que ele se desprenda da inflaçã o, até anulá-lo completamente, a despeito do quadro
inflacioná rio do país.
O FGTS acumula um desempenho nada animador por quase duas décadas, no que se refere
a sua remuneraçã o. Se tomarmos como exemplo o período de janeiro de 1999 a setembro
de 2018, a TR chegou ao medíocre índice de 41,87%, muito abaixo da inflaçã o. Enquanto o
INPC, no mesmo período, acumula alta de 253,95%, de acordo com cá lculos realizados por
meio da ferramenta chamada “Calculadora do Cidadã o”, disponível no site oficial do BACEN.
Mesmo sabendo que a remuneraçã o anual do FGTS é de 3%, o que daria 75,35% para o
período considerado, somado ao índice acumulado da TR, o rendimento total pouco
ultrapassou os 115%, sendo notó ria a diferença entre a remuneraçã o atualmente aplicada
ao FGTS e o INPC, índice que verdadeiramente repercute a correçã o monetá ria.
A Caixa Econô mica Federal está se prestando ao papel de espoliador do FGTS, na medida
em que dispõ e do patrimô nio do trabalhador sem sequer preservá -lo. A correçã o
monetá ria aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflaçã o registrada, de
forma que descumpre nã o só o art. 2º da Lei nº 8.036/90 e o art. 233 do Có digo Civil, mas
também toda ló gica e princípios do mercado econô mico.
Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade da correçã o
monetá ria. O trabalhador nã o pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do
Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato dos juros de 3% do FGTS serem os
menores do mercado, o que por si só , demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a
perspectiva social.
Negar o direito de correçã o monetá ria aos depó sitos do FGTS do qual o trabalhador nã o
pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar em outro fundo mais rentá vel,
configura verdadeiro ato de império, incompatível com um Estado Democrá tico de Direito,
diante da situaçã o fá tica apresentada, e que deve ser de pronto rechaçado.
Sendo a TR inidônea para restabelecer o poder aquisitivo dos depó sitos do FGTS, sua
substituiçã o por outro índice que melhor recomponha as perdas inflacioná rias se torna
imperioso, a fim de fazer prevalecer o art. 2º da Lei. 8.036/90 e o art. 233 do Có digo Civil.
Posto que, desde janeiro de 1999, o redutor criado pelo Banco Central promoveu o
completo distanciamento entre a TR e os índices oficiais de inflaçã o, temos que desde entã o
ela perdeu sua condiçã o de repor as perdas inflacioná rias dos depó sitos do FGTS, devendo
desde essa data ser substituída por índice idô neo, sendo o INPC o melhor índice que se
apresenta para tanto.
VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA
Douto Juiz, O artigo 300, do Có digo de Processo Civil preceitua que é possível a concessã o
de Tutela de Urgência “quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e
o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”
No caso, a matéria é exclusivamente de direito e o perigo de dano já foi amplamente
demonstrado, o qual, vale dizer, já vem ocorrendo por quase duas décadas de dilapidaçã o
do patrimô nio do trabalhador. Dessa forma, estã o nitidamente evidenciados o “fumus boni
iuris e periculum in mora.”
O art. 12 da Lei nº 8.177/ 91, com Redaçã o da Lei nº 12.073/12, determina que a
remuneraçã o dos depó sitos seja feita em cada período de rendimento. Sendo que, no caso
em tela, a cada período de rendimento que a Caixa Econô mica Federal sonega a correçã o
monetá ria dos depó sitos do FGTS, o dano contra o trabalhador se configura.
O dano que a ausência de correçã o monetá ria implica em menos dinheiro à disposiçã o do
trabalhador para a consecuçã o dos seus negó cios jurídicos, naquelas hipó teses em que a lei
permite. Cada casa que o trabalhador deixa de adquirir, cada prestaçã o de imó vel que ele
deixa de abater, cada tratamento médico que deixa de fazer, cada medicamento necessá rio
que deixa de usar porque seu FGTS perdeu o poder aquisitivo, é um dano que se renova.
Acresça-se a este dano, a situaçã o de refém que o trabalhador com depó sito do FGTS se
encontra quando quer financiar seu imó vel pelo SFH com a Caixa Econô mica Federal. Hoje,
e enquanto perdurar a TR de índice zero, ele terá que financiar mais do que seria
necessá rio, pois o que lhe pertence de direito – correçã o monetá ria – nã o está incidindo
sobre o saldo de seus depó sitos.
E ao que tudo indica, este dano continuará se repetindo por um longo período. Ressai que
ao tempo em que essa açã o perdurar, a TR continuará anulada, ou reduzida a patamares
mínimos, impondo aos trabalhadores mais perda de seu poder aquisitivo, mais dilapidaçã o
do seu patrimô nio, mais restriçõ es a sua capacidade de fazer negó cio jurídico.
Nã o há dú vida de que há um risco ao resultado ú til do processo, na medida em que nã o é
possível quantificá -lo, mas nã o há como negá -lo.
Tanto assim que a mais consagrada doutrina e nossa mais recomendada jurisprudência,
consideram a tutela de urgência, tutela antecipada como era definida pelo CPC/1973, como
meio inerente ao exercício do Direito Constitucional de Açã o e instrumento da Garantia do
Devido Processo Legal.
A garantia constitucional da açã o nã o está limitada à s tutelas definitivas e satisfativas. A
tutela cautelar de urgência deve ser incluída, portanto, no â mbito da proteçã o que a
Constituiçã o Federal confere ao direito de açã o, que, em ú ltima aná lise, é direito de acesso
à s garantias do devido processo legal ou devido processo constitucional. (BEDAQUE, 1998,
p. 82)
Assim, imperioso é que desde já a TR seja substituída pelo INPC, índice que corrige o
salá rio mínimo ou outro, como o IPCA, índice oficial de medida de inflaçã o. Índices que
minimamente repõ em as perdas monetá rias, haja vista que hoje nã o há nenhum tipo de
correçã o monetá ria dos depó sitos do Fundo.
Por outro lado, nã o há dano de irreversibilidade do provimento antecipado porque é de
natureza do FGTS ser um fundo de aplicaçã o de longo prazo. Eventual decisã o que nã o
reconheça o direito ora pleiteado, permitirá que a Caixa Econô mica Federal utilize de
mecanismos legais para promover a devida compensaçã o ao longo do tempo.
Assim, requer a concessã o da tutela para substituir imediatamente a TR, como índice de
correçã o monetá ria nos depó sitos do FGTS pelo INPC, ou IPCA, ou, ainda, outro índice que,
no entender deste Juízo, melhor reflita as perdas inflacionarias daqui por diante, até o
trâ nsito em julgado do presente feito.
VII – DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
Ante ao exposto, presentes os requisitos que lhe autorizam a concessã o, requer a concessã o
da tutela de urgência, nos termos do art. 300, do CPC, para determinar:
i) A concessã o de tutela de urgência para que a TR seja substituída pelo INPC ou pelo IPCA
como índice de correçã o do saldo dos depó sitos do FGTS em nome do (a) Requerente, a
partir de sua concessã o até o trâ nsito em julgado da presente açã o, com sua consequente
aplicaçã o na conta vinculada do (a) Requerente; ou, ainda, sucessivamente,
ii) A aplicaçã o de qualquer outro índice que melhor reponha as perdas inflacioná rias do
saldo dos depó sitos do FGTS, no entender deste Juízo, a partir de sua concessã o até o
trâ nsito em julgado da presente açã o, com sua consequente aplicaçã o na conta vinculada do
(a) Requerente.
VIII – DOS PEDIDOS
Face ao exposto, é a presente para requerer a V.Exa:
a) A Citaçã o Eletrô nica da Requerida, na forma do art. 9º, da Lei nº 11.419/2006, para
responder, sob pena de revelia e confissã o, pela total Procedência da presente açã o, com a
condenaçã o da Requerida aos pedidos formulados, além dos ô nus da sucumbência;
b) Que seja confirmada a tutela de urgência deferida;
c) Que a Requerida seja condenada a aplicar o INPC, em substituiçã o a TR, como índice de
correçã o monetá ria do saldo dos depó sitos do FGTS do (a) Requerente, em cada período de
rendimento desde janeiro de 1999, vencido e vincendo;
d) Que a Requerida seja condenada a pagar ao (à ) Requerente o valor correspondente à s
diferenças apuradas sobre o saldo do FGTS em razã o da aplicaçã o do INPC, em substituiçã o
a TR, como índice de correçã o monetá ria, em cada período de rendimento vencido desde
janeiro de 1999 e vincendos, inclusive nos meses em que a TR foi zero;
e) Sucessivamente, caso nã o deferidos os pedidos anteriores, que a Requerida seja
condenada a pagar ao (à ) Requerente o valor correspondente à s diferenças de FGTS em
razã o da aplicaçã o de qualquer outro índice de correçã o monetá ria que no entender desse
Douto Juízo, melhor reponha as perdas inflacioná rias, em cada período de rendimento
vencido desde janeiro de 1999 e vincendos, inclusive nos meses em que a TR foi zero;
f) Sobre os valores devidos pela condenaçã o de que tratam os itens anteriores, deverã o
incidir os juros remunerató rios de 3% ao ano previstos no art. 13 da Lei nº 8.036/90, além
da correçã o monetá ria e juros legais desde o inadimplemento da Requerida.
IX – DAS PROVAS
Protesta por todos os meios de prova admitidos em direito, principalmente pela prova
documental anexa e suplementar. Requer a exibiçã o pela Requerida, dos extratos de FGTS
em nome do (a) Requerente, desde janeiro de 1999, na forma do art. 396, do CPC.
X – DO VALOR DA CAUSA
Dá -se a causa o valor de R$ 0,00 (xxx mil, xxx reais e xxx centavos).
Termos em que,
Pede deferimento.
Sã o Paulo, __ de ______ de 2019.
Fulano (a) de Tal
Requerente

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