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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CRICIÚMA—SC.

VANTER MELO, brasileiro, divorciado, metalúrgico, inscrito no CPF


sob o nº 761.247.209-06, RG nº 2.399.743-5 SESP/SC, residente e domiciliado na Rua Rosa
Epolina Candido, n° 28, Bairro São Sebastião, em Criciúma—SC, cujo endereço eletrônico é
advogados@gilvanfrancisco.adv.br, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por
intermédio de seus procuradores abaixo-assinados, propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA DE CORREÇÃO DOS SALDOS DO FUNDO DE


GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS) COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública, com


sede no SBS quadra 04 lotes 3/4 Matriz, Brasília – DF, CEP: 70092-900 , pelas razões de fato e
de direito que passa a expor.

I. DOS FATOS

01. O processo em tela trata de questão de extrema importância para


milhões de trabalhadores brasileiros e diz respeito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
doravante FGTS. Referido fundo foi criado na década de 1960 para proteger o trabalhador,
como sucedâneo da antiga estabilidade decenal. É constituído por valores depositados pelas
empresas em nome de seus empregados e possibilita que o trabalhador forme um patrimônio.

02. Nesse sentido, verifica-se no sítio eletrônico da Caixa Econômica


Federal que o FGTS hoje financia programas de habitação popular, saneamento básico e
infraestrutura urbana.
03. Assim, o FGTS é regido pelas disposições da Lei nº 8.036, de 11
de maio de 1990, por normas e diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e gerido
pela Caixa Econômica Federal.

04. Conforme se observa dos artigos 2º e 13 da citada lei, o FGTS


deve ser aplicado com atualização monetária com base nos parâmetros fixados para
atualização dos saldos dos depósitos de poupança, bem como juros de três por cento ao ano, a
fim de assegurar a cobertura de suas obrigações.

05. Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos


depósitos dos saldos de poupança e consequentemente dos depósitos do FGTS é a Taxa
Referencial, doravante TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei nº 8.177, de 1º de
março de 1991, com redação da Lei nº 12.703, de 7 de agosto de 2012.

06. Ocorre que, há muito tempo, a TR não reflete mais a correção


monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação. Nos meses de
setembro, outubro e novembro de 2009, janeiro e fevereiro de 2010, fevereiro e junho de 2012 e
de setembro de 2012 em diante, a TR tem sido completamente anulada, como se não existisse
qualquer inflação no período passível de correção.

II. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

07. Tendo-se em vista que o processo em tela versa sobre correção


monetária dos depósitos do FGTS, é manifesta a legitimidade passiva e exclusiva da Caixa
Econômica Federal, tendo em vista o disposto na Súmula 249, do STJ, a qual dispõe que: “A
Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute
correção monetária do FGTS”.

08. No mesmo sentido, é o entendimento jurisprudencial, também do


STJ, veja-se:

“AÇÃO RESCISÓRIA. ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃO DOS SALDOS DAS CONTAS


VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ PACIFICADO NO
STJ. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.1. A matéria referente à correção monetária das contas
vinculadas ao FGTS, em razão das diferenças de expurgos inflacionários, foi decidida pela
Primeira Seção deste Superior Tribunal, no REsp n.1.111.201 - PE e no REsp n. 1.112.520 -
PE, de relatoria do Exmo.Min. Benedito Gonçalves, ambos submetidos ao regime do art. 543-C
do CPC e da Resolução n. 8/08 do STJ, que tratam dos recursos representativos da
controvérsia, publicados no DJe de 4.3.2010.(...)3. Quanto às demais preliminares alegadas,
devidamente prequestionadas, esta Corte tem o entendimento no sentido de que, nas
demandas que tratam da atualização monetária dos saldos das contas vinculadas do FGTS, a
legitimidade passiva ad causam é exclusiva da Caixa Econômica Federal, por ser gestora do
Fundo, com a exclusão da União e dos bancos depositários” (Súmula 249/STJ).(...)(AR
1.962/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
08/02/2012, DJe 27/02/2012).

09. Assim, a presente ação foi proposta exclusivamente contra a Caixa


Econômica Federal, conforme pacificamente definido pela jurisprudência do Colendo STJ.

III. DA PRESCRIÇÃO

10. Como é cediço, a prescrição em relação ao pleito de correção


monetária do FGTS é trintenária.

11. A propósito:

“RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. FGTS. CORREÇÃO DOS SALDOS DAS CONTAS


VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ JULGADO PELO
REGIME DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO N. 8/08 DO STJ, QUE TRATAM DOS
RECURSOS REPRESENTATIVOS DE CONTROVÉRSIA.(...)3. No REsp n. 1.112.520 - PE, por
seu turno, firmou-se o seguinte entendimento: 4. Outrossim, não deve prevalecer a
interpretação da recorrente quanto à ocorrência de prescrição quinquenal, pois este Tribunal já
decidiu que é trintenária a prescrição para cobrança de correção monetária de contas
vinculadas ao FGTS, nos termos das Súmula 210/STJ: "A ação de cobrança das contribuições
para o FGTS prescreve em (30) trinta anos".(...)”(REsp 1150446 RJ 2009/0143136-0, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Julgamento: 10/08/2010, Órgão Julgador: T2 -
SEGUNDA TURMA, Publicação: DJe 10/09/2010).

12. Assim, não há que se cogitar da hipótese de prescrição, tendo em


vista que a presente demanda está sendo proposta dentro do período de 30 anos.

IV. DO DIREITO

13. A correção monetária existe entre nós desde a década de 1960,


tendo como teórico principal do tema o Advogado Tributarista Bulhões Pedreira, o qual explica
que:

“Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer que o nível geral de preços é
o padrão primário do valor financeiro, enquanto que a unidade monetária serve como padrão
secundário – usado, na prática, para exprimir o valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo
padrão primário porque sujeito a modificações” (BULHÕES PEDREIRA, José Luiz, “Correção
Monetária; Indexação Cambial. Obrigação Pecuniária”, in “Revista de Direito Administrativo”, c.
193 p, 353 a 372 Jul/Set 1993).

14. Ainda, o autor Letácio Jansen diz que Bulhões Pedreira teria
conseguido institucionalizar e colocar em prática a sua doutrina principalmente através da Lei nº
4.357, de 1964, que criou o primeiro indexador da Economia Brasileira – a ORTN (obrigação
reajustável do tesouro nacional), uma obrigação monetária cuja função era fazer variar,
periodicamente, a moeda nacional segundo a perda de seus respectivos poderes aquisitivos
http://www.scamargo.adv.br/scripts/forum/textoTema.asp?
id=81&tema=nvalidade+da+taxa+referencial+(TR)%3A+o+Significado+da+ADI+493-0-df).

15. Desde esta data, uma plêiade de índices de correção monetária foi
se sucedendo, até a entrada em vigor da Medida Provisória nº 294, de 31 de janeiro de 1991,
que se transformou na Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Nesta oportunidade o Governo
Collor pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais da correção monetária brasileira
(ORTN, OTN e BTN) que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços, pela Taxa
Referencial, que tinha natureza financeira.

16. Ainda hoje permanece a perplexidade em relação à natureza


jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como
taxa de juros (artigo 39) ora como indexador (artigo 18).

17. Todavia, não se pode fazer confusão entre taxa de juros e


indexador, pois a primeira objetiva promover a remuneração do capital e é calculada por quem o
disponibiliza em benefício de outra pessoa, seja esta física ou jurídica, para que empregue para
satisfação de determinada necessidade, na expectativa de lucro. Já os indexadores, por outro
lado, podem ser entendidos como índices calculados a partir da variação de preços de mercado
em determinado período. O seu objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se
compara valores monetários em diferentes épocas.

18. Pois bem. Quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR,


defendeu através do voto vencedor da ADI 493-0/DF que:

“A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do
custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação
do poder aquisitivo da moeda”.

19. Não obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio


e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da taxa referencial não era suficiente para
impedir sua utilização como parâmetro de indexação da economia.
20. Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a TR
possuía natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o artigo 18 da Lei nº 8.177/91,
cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as prestações dos contratos
integrantes do SFH, passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração básica dos
Depósitos de Poupança. Vale a pena transcrever a ementa deste julgado:

“Ação direta de inconstitucionalidade.- Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos


celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai
interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado.- O disposto no artigo 5, XXXVI,
da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer
distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei
dispositiva. Precedente do S.T.F..- Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa
referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo
primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do
poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se
as normas que alteram índice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcançando,
pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no
artigo 5, XXXVI, da Carta Magna.- Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos
impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo
sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18,
"caput" e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos
da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991” (ADI 493, Relator (a): Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno,
julgado em 25/06/1992, DJ 04-09-1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-
00143-03 PP-00724).

21. Além disso, durante algum tempo, o próprio STJ rejeitou a TR


como índice de correção monetária, tanto para a poupança, quanto para o SFH. Neste sentido:

“COMERCIAL. MÚTUO RURAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. VINCULAÇÃO AO CRITÉRIO DE


REAJUSTE DOS DEPÓSITOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃO
PELA TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. PREVISÃO DE UTILIZAÇÃO DA
OTN. INDEXADOR CONTRATUALMENTE ELEITO. SUBSTITUIÇÃO EX LEGE PELA TR.
INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃO DO INPC. PRECEDENTES.
I – NO CONTRATO DE MÚTUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE VINCULAÇÃO DA
CORREÇÃO MONETÁRIA AO CRITÉRIO DE ATUALIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS EM
CADERNETA DE POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊNCIA DO MESMO
INDEXADOR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. (ART. 13 DA LEI 8.177).
II – EM FACE DA POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL INADMITINDO A TR COMO
FATOR DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA SUBSTITUTIVO DO BTN, A CORREÇÃO DOS
VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A
VARIAÇÃO DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA PÚBLICA, CUMPRE SEJA
PROCEDIDA, A PARTIR DA LEI 8.177/91, COM BASE NO INPC” (REsp. 40.777/GO, Rel.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/11/1995, DJ
11/12/1995, p. 43225) (grifamos)
ADMINISTRATIVO - SFH - REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES E DO SALDO DEVEDOR - PLANO
DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES) - INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF -
VANTAGENS PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE AO SALÁRIO - INCLUSÃO
NO CÁLCULO - DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA - RISTJ, ART. 255
E PARÁGRAFOS - SÚMULA 13/STJ -PRECEDENTES STJ.- Nos contratos vinculados ao PES,
o reajustamento das prestações deve obedecer à variação salarial dos mutuários, a fim de
preservara equação econômico-financeira do pactuado.- As vantagens pessoais incorporadas,
definitivamente, ao salário ou vencimento do mutuário, incluem-se na verificação da
equivalência para fixação das parcelas.- Declarada pelo STF a inconstitucionalidade da TR
como fator de correção monetária (ADIN 493-0), o reajustamento do saldo devedor,a exemplo
das prestações mensais, também deve obedecer ao Plano de Equivalência Salarial.- Recurso
conhecido e parcialmente provido(Resp 140.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/11/1999, DJ 21/02/2000, p. 112) (grifamos)
SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. NULIDADE DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA.
VANTAGENS PESSOAIS. INCLUSÃO. CORREÇÃO PELA TR. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES.(...)4. Inaplicável a TR como fator de correção monetária Entendimento
consagrado nesta Corte na esteira de orientação traçada pelo STF.5. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido”.(REsp 209.466/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2001, DJ 17/06/2002, p. 231) (grifamos)

22. Como dito alhures, a aplicação de índice de correção monetária se


presta para recuperar o poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é
diretamente influenciado por um processo inflacionário. O próprio STJ reconhece a influência da
inflação e da deflação na composição do índice de correção monetária, veja-se:

“PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. DETERMINAÇÃO DE


CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO.APLICABILIDADE.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃO OCORRÊNCIA.
PRESERVAÇÃO DO VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES.1. "A correção
monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda,
não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua
substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu
poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas
ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas
importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a
simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real.
Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo
Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices
negativos de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização", com
a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização implicar redução do principal, deve
prevalecer o valor nominal'" (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJe18/4/12).2. No precedente da Corte Especial, mencionado na decisão
agravada, ficou expressamente consignado que se, na atualização da dívida, houver redução do
principal, deve prevalecer o valor nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de
vencimentos,previsto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição Federal.3. A compreensão no
sentido de que não há violação ao princípio da irredutibilidade dos vencimentos, quando
preservado o valor nominal da obrigação, encontra respaldo na jurisprudência do STF e do
STJ.4. Agravo regimental improvido” (AgRg nos EREsp 1252558/RS, Rel. Ministro SERGIO
KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2013, DJe 21/03/2013) (grifos nossos).

23. Ademais, não se pode olvidar que a cultura da correção monetária


está de tal forma arraigada ao nosso sistema econômico, que o próprio Código Civil de 2002,
traz diversos dispositivos garantindo atualização monetária. Citam-se a título de exemplo os
artigos 389, 395, 404, 418, 772 e 884, todos do CC.

24. Este retrospecto da evolução legal e jurisprudencial a respeito da


aplicação da TR como índice de correção monetária se fez necessário para que pudéssemos
chegar ao núcleo do argumento desta ação.

25. Hoje, no país, há dois tipos de índices de correção monetária.


Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra do valor aplicado,
como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a inflação, e consequentemente não
recupera o poder de compra do valor aplicado – a Taxa Referencial/TR.

26. Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca foi


igual à inflação. Nem quando experimentamos hiperinflação, nem quando experimentamos
deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA, sempre andaram próximos. Em outras
palavras, imperava a razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de
correção do valor do capital.

ANO TR INPC IPCA


1991 335,51% 475,11% 472,69%
1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%
1993 2.474,73% 2.489,11% 2,477,15%
1994 951,19% 929,32% 916,43%
1995 31,6207% 21,98% 22,41%
1996 9,5551% 9,125% 9,56%

27. Não obstante, o cenário começa a mudar a partir de 1999. A TR se


distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflação superar 6% ao ano e
a TR ser igual a zero. Logo, ela não se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos
depósitos do FGTS, que são um patrimônio do trabalhador.

28. O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo


iníquo por ele não ter recomposição inflacionária dos seus recursos. Na verdade, o trabalhador
não está financiando programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura
urbana, ele está subsidiando.

29. Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de


livre disposição por parte do trabalhador, não podendo ele decidir acerca de quais as aplicações
que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que se submeter a políticas
econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.

30. Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu artigo 2º que é
garantida a atualização monetária e juros. Quando a TR é igual a zero este artigo é
descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este
artigo também é descumprido e o patrimônio do trabalhador é subtraído por quem tem o dever
legal de administrá-lo.

31. Em um cenário de TR zero e inflação pública e notória, estamos


diante de uma situação de confisco. O Governo Federal, através da Caixa Econômica Federal,
está confiscando os rendimentos dos trabalhadores, para subsidiar políticas públicas, sem a
menor possibilidade de ingerência destes trabalhadores.

32. Assim como em nosso Estado Democrático de Direito, a


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 veda que se utilize o tributo com efeito
de confisco, o trabalhador não pode ser punido com o confisco do que a própria Caixa define
em seu sítio eletrônico, como um patrimônio do trabalhador, e definitivamente o é.

33. Além do mais, considerando que a relação jurídica entre os


trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, destaca-se o artigo 233 do CC, o qual assevera
que a obrigação de dar coisa certa abrange os seus acessórios.

34. Portanto, em se tratando de dinheiro, não existem dúvidas que


seus acessórios compreendem os juros, bem como a correção monetária.

IV.1 . DA MANIPULAÇÃO DA TR PELO BANCO CENTRAL/CMN

35. Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica,


vamos aqui partir do pressuposto de que a TR supostamente é índice de correção monetária, o
que não se vislumbra.

36. Tanto o artigo 1º da Lei nº 8.177/91 quanto o artigo 5º da Lei nº


10.192/01 (que convolou a MP 1.053/95) atribuíram ao Banco Central a regulamentação da
metodologia de cálculo da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expedição das
instruções necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF.

37. No mister de regulamentar a TR, o Banco Central/CMN vem ao


longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo menos desde a
Resolução 2.075, de 26 de maio de 1994, há fórmulas para encontrar a TR. Todavia, é com a
instituição da Taxa Básica Financeira, pela Medida Provisória 1.053/95, de 30 de junho de 1995,
que a forma de cálculo da TR sofre uma expressiva reviravolta.

38. Desde a Resolução 2.437, de 30 de outubro de 1997, a TR é


calculada levando em conta a Taxa Básica Financeira e um Redutor.

39. A Resolução 3.354/06, hoje vigente sobre o assunto, diz o


seguinte:

“Art. 1º Estabelecer que, para fins de cálculo da Taxa Básica Financeira - TBF e da Taxa
Referencial - TR, de que tratam os arts. 1º da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, 1º da Lei
8.660, de 28 de maio de 1993, e 5º da Lei 10.192, de 14 de fevereiro de 2001, deve ser
constituída amostra das 30 maiores instituições financeiras do País, assim consideradas em
função do volume de captação efetuado por meio de certificados e recibos de depósito bancário
(CDB/RDB), com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, e remunerados a taxas prefixadas,
entre bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas econômicas.
Art. 2º A TBF e a TR são calculadas a partir da remuneração mensal média dos CDB/RDB
emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, com
base em informações prestadas pelas instituições integrantes da amostra de que trata o art. 1º,
na forma a ser determinada pelo Banco Central do Brasil.
Art. 4º Para cada dia do mês - dia de referência -, o Banco Central do Brasil deve calcular a
TBF, para o período de um mês, com início no próprio dia de referência e término no dia
correspondente ao dia de referência no mês seguinte, considerada a hipótese prevista no § 2º,
inciso IV. (...)
Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, deve ser calculada a
correspondente TR, pela aplicação de um redutor "R", de acordo com a seguinte fórmula:
TR = max {0,100 {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (em %).
§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias, inclusive não-úteis, de acordo
com a seguinte fórmula:
R = (a + b . TBF/100), onde:Resolução nº 3354, de 31 de março de 2006.
TBF = TBF relativa ao dia de referência;
a = 1,005;
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da TBF obtida, segundo a
metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais ao ano:
TBF (% a.a.) b
TBF maior que 16 0,48
TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44
TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40
TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36
TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32
Redação dada pela Resolução 3.446, de 05/03/2007.
§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do parâmetro "b" no caso de
a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por cento ao ano)”.

40. O peculiar nesta determinação do Banco Central/CMN, que de


resto se repete desde 1997, é que a TBF e a TR são exatamente iguais em sua gênese até o
momento em que se determina que se aplique um redutor à TBF para se chegar à TR.

41. Não há na Lei da TR previsão de aplicação de redutor, assim como


não há na Lei que criou a TBF. Todavia, causa estranheza que diante de um comando aberto
como o do art. 5º da MP nº 1.503/95 (Lei nº 10.192/01), o Banco Central/CMN, com amplos
poderes para regulamentar o assunto, não tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao
regulamentar o artigo 1º da lei nº 8.177/91, que não era tão flexível.

42. O Economista César Roberto Buzin explica o quê o Banco


Central/CMN está fazendo com a TR, neste trecho do Parecer Econômico que se junta a esta
inicial.

“Objeto de discussão é a utilização da TR como índice de correção monetária, que apesar de


não ter sido criada como um índice de indexação monetária, vem sendo utilizada para tal
finalidade na correção dos valores aplicados à caderneta de poupança e outras aplicações
como os depósitos do FGTS, dinheiro pertencente aos trabalhadores, porém, com gestão de
terceiros.
A posição adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, em agosto de 2010, a respeito da
utilização da TR como índice de correção monetária foi sacramentada por meio da criação da
Súmula 454, com a seguinte redação: “Pactuada a correção monetária nos contrato do SFH
pelo mesmo índice aplicável à caderneta de poupança, incide a Taxa Referencial (TR) a partir
da vigência da Lei 8.177/91”.
A TR é calculada a partir da Taxa Básica Financeira (TBF), uma média de taxas de juros pagas
nas aplicações em certificados de depósitos bancários (CDB) emitidas pelas 30 maiores
instituições financeiras.
Para calcular o valor da TR, é preciso aplicar um redutor sobre a TBF, que depende de dois
parâmetros, chamados de “a” e “b”. O parâmetro “a” é o fator de 1,005, equivalente à
remuneração da caderneta antiga, ou seja, 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano de juros
remuneratório. Enquanto que o “b” é um decimal menor do que 1, arbitrado pelo BACEN e que
varia de acordo com o nível de taxa de juros básica da economia, divulgada após as reuniões
do Comitê de Política Monetária do BC (Copom).
Para calcular o redutor (R) o parâmetro “b” é multiplicado pelo valor da TBF e somado ao
parâmetro “a”, ou seja,
R= a + b x TBF
TR= 1+TBF – 1
A fórmula significa que os novos depósitos realizados nas contas de depósitos de poupança
tenham como remuneração adicional (TR): (i) 0,5% a. m. enquanto a meta da taxa SELC, taxa
básica de juros, definida pelo BACEN, estiver acima de 8,5% a.a e (ii) 70% da meta da taxa
SELIC, mensalizada, vigente na data do início do período de rendimento.
No nível atual de taxa de juros decrescente de uma economia estabilizada e num cenário para
os próximos anos, de juros baixos, a TR permanecerá por um longo período indeterminado
como zero”.

43. Na esteira do que foi deduzido no Parecer, um quadro comparativo


entre os percentuais da TR, INPC e IPCA, desde 1997, os depósitos nas contas vinculadas do
FGTS dos trabalhadores estão perdendo poder de compra, notadamente a partir de 1999.

ANO TR INPC IPCA


1997 9,7849% 4,34% 5,22%
1998 7,7938% 2,49% 1,65%
1999 5,7295% 8,43% 8,94%
2000 2,0962% 5,27% 5,97%
2001 2,2852% 9,44% 7,67%
2002 2,8023% 14,74% 12,53%
2003 4,6485% 10,38% 9,30%
2004 1,8184% 6,13% 7,60%
2005 2,8335% 5,05% 5,69%
2006 2,0377% 2,81% 3,14%
2007 1,4452% 5,15% 4,46%
2008 1,6348% 6,48% 5,90%
2009 0,7090% 4,11% 4,31%
2010 0,6887% 6,46% 5,91%
2011 1,2079% 6,07% 6,50%
2012 0,2897% 6,17% 5,84%
2013 (até março) 0,00% 2,05% 1,94%

44. Excelência, hoje, o trabalhador que tem seu dinheiro aplicado no


FGTS, e de lá não pode retirá-lo para outro investimento, está sendo remunerado com 0,247%
de juros ao mês e mais nada. Não há nem correção monetária nem Taxa Referencial
(independentemente da sua natureza jurídica), em flagrante ofensa ao artigo 2º da Lei nº
8.036/90, que impõe a correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
45. Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo Banco
Central/CMN seja legal, sua redução à zero em um cenário de inflação superior a 6% ao ano,
configura flagrante afronta ao artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que determina a atualização
monetária, bem como ao artigo 233 do Código Civil, quando sonega os acessórios da obrigação
de dar.
46. Mas é necessário ir mais além e revisitar o entendimento
jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária, máxime a partir da instituição de
um redutor que tem por efeito zerar o índice da TR em um ambiente de inflação.

47. O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como


atualizador monetário do FGTS, pelo menos desde janeiro de 1999. Desde o momento em que
o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela deixou de ser um índice confiável
para atualizar monetariamente as contas do FGTS, porque se descola dos índices de inflação,
sendo reduzido ano a ano. A finalidade da correção monetária é manter o poder de compra do
capital, e esta finalidade nem de perto vem sendo alcançada pela TR. A anulação total da TR é
só o desfecho desta política predatória para o trabalhador.

48. O trabalhador, que luta para formar um patrimônio, tem que poder
confiar na lei. Esta confiança está quebrada.

49. Há a nítida expropriação do patrimônio do trabalhador, na medida


em que se nega a ele a devida atualização monetária. Como dito no estudo acostado à inicial:

“A atualização monetária é o elemento mais importante do mercado financeiro, pois sem a


medição precisa da perda do poder aquisitivo da moeda com o decorrer do tempo, ocorre uma
gigantesca destruição de valor. O objetivo fundamental de escolha de um índice de atualização
nos ativos (negócios, contratos, aplicações e etc) é de proteger o patrimônio, evitando que ele
seja corroído pela inflação”.

50. O Poder Judiciário há de se opor a este esbulho, confisco,


expropriação que o trabalhador está sofrendo, desde janeiro de 1999, com as constantes
reduções da TR em relação aos índices de inflação, culminando na sua completa nulidade,
ininterruptamente, desde setembro de 2012.

51. Em 1991 e 1992, quando o STF julgou a ADI 493-0/DF, ele deixou
bem assentado que a TR não constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da
moeda. Esta característica da TR tem se confirmado ao longo dos anos. A sua aplicação aos
saldos dos depósitos do FGTS tem gerado “gigantesca destruição de valor” do patrimônio do
trabalhador. Há anos, os trabalhadores que têm depósitos no FGTS não experimentam ganhos
reais em sua aplicação. Ao contrário. Há muito tempo, os trabalhadores tem rendimentos
inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3% ao ano.

52. O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do


Banco Central/CMN na sua formulação. Como explica o Economista César Buzim:
“A TR deveria servir como referência para os juros vigentes no Brasil, sendo divulgada
mensalmente, a fim de evitar que a taxa de juros no mês corrente refletisse a inflação do mês
anterior, apesar das suas características, foi usada como índice econômico de correção
monetária (...)
A mudança no comportamento da TR não se deve somente a oscilações da economia, mas
também à sistemática apuratória desse índice. Inicialmente, ficou estabelecido que o BACEN
efetuaria o cálculo da TR a partir da remuneração mensal média dos certificados e recibos de
depósito bancário (CDB/RDB) emitidos por uma amostra de instituições financeiras, levando em
conta a taxa média de remuneração dos CDB/RDB´s e um redutor fixado por resolução do
CMN.
Como consequência da atuação do BACEN, a taxa referencial deixou de refletir o índice
inflacionário a partir de 1999.
(...)
O prejuízo causado aos trabalhadores devido à aplicação da TR como índice de correção
monetária é tamanho que quando analisado o fator de correção acumulado do FGTS visualiza-
se que a rentabilidade desse fundo não supera os índices inflacionários desde 2002, rendendo
menos que a inflação a partir de 2007, apesar da aplicação de juros de 3% a.a.
Diante do exposto, podemos afirmar que a TR não repõe mais as perdas inflacionárias, o que
afeta consideravelmente os poupadores, bem como os trabalhadores que possuem o FGTS. (...)
Com base nas normas Resolução CMN nº 2.437, de 30.10.98, Resolução CMN nº 2.604, de
23.04.99. resolução CMN nº 2.809, de 21.12.00, Resolução CMN nº 3.354 de 31.03.2006,
Resolução CMN nº 3.446 de 05.03.2007 e Circular nº 3.356 de 11.07.2007, que estabeleceram
no decorrer dos anos a forma de cálculo da TR, bem como nas informações disponibilizadas
pelo BACEN foi construída planilha demonstrando a evolução do fator de ponderação “b”,
elemento essencial para o cálculo do redutor da TR.
As primeiras mudanças significativas da TR ocorreram através das Resoluções CMN nº
2.387/97 e nº 2.437/97 que estabeleceram a fórmula de cálculo do redutor da TR com duas
novas variáveis, ambas definidas pelo BACEN, quais sejam: a constante “a” e o fator de
ponderação “b”.
A partir da Resolução CMN nº 2.809/2000, o BACEN passou a determinar o fator “b”, sem
critério técnico conhecido, a partir de certo patamar, conforme visualizado na tabela abaixo:
MS – é a meta para a taxa SELIC em (% a.a)
MS “b”
MS > 16 0,48
16 >= MS >15 0,44
15 >= MS >14 0,40
14 >= MS >13 0,36
13 >= MS >12 0,32
12 >= MS >11 0,28
11 >= MS >10 0,24
10
Abaixo de 10 fator “b” determinado pelo BACEN”.

53. Essa discricionariedade do BACEN na valoração do fator “b”,


acolhida pelas circulares e resoluções posteriores, impactou o cálculo do Redutor da TR.
54. De pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao
Banco Central/CMN que recalculasse a TR, pois uma nova fórmula estaria igualmente sob a
discricionariedade e subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessão de resoluções do
Banco Central/CMN sobre o tema, conforme Parecer do referido Economista.

55. Partindo da premissa inequívoca de que a TR não repõe as perdas


monetárias dos depósitos do FGTS, outro caminho não existe se não o de adotar um novo
índice que verdadeiramente corrija estes depósitos.

IV.2 . DOS ÍNDICES QUE EFETIVAMENTE PRODUZEM CORREÇÃO


MONETÁRIA

56. A Lei de Introdução às Normas do direito Brasileiro estabelece em


seu artigo 5º que na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

57. Nesse sentido, é inequívoco que a Lei do FGTS tem um fim social,
consistente em proteger o trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em
várias situações de sua vida.

58. Diante de tudo que foi demonstrado, o juiz atenderá aos fins sociais
da Lei do FGTS ao reconhecer que correção monetária, reposição dos índices inflacionários de
forma a garantir o poder de compra daquele dinheiro ali depositado no Fundo, é efetivamente
devida pela Caixa.

59. Se a TR não pode ser considerada um índice idôneo, sobrevém a


necessidade de substituí-la por um índice que realmente reponha as perdas monetárias. E
então, nada obsta que o juiz considere índices previsto em outra legislação.

60. Até por uma questão de equidade, o melhor índice que pode
substituir a TR é o índice que corrige monetariamente os salários dos trabalhadores e os
benefícios previdenciários. Este índice está previsto na Lei 12.382 de 25 de fevereiro de 2011,
cujos primeiros artigos trazem a seguinte dicção:

“Art. 1o O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e


cinco reais).

Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo


corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2,48
(dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2o Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a
vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano.

§ 1o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à


variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses
anteriores ao mês do reajuste.

§ 2o Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais meses compreendidos no


período do cálculo até o último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder
Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis.

§ 3o Verificada a hipótese de que trata o § 2 o, os índices estimados permanecerão válidos para


os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste
subsequente, sem retroatividade.

§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:

I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto


Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010;

II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada
pelo IBGE, para o ano de 2011;

III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada
pelo IBGE, para o ano de 2012; e

IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,


apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.

§ 5o Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano
de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de
aplicação do respectivo aumento real”.

61. Não há porque ter dois pesos e duas medidas. Se o salário mínimo
é corrigido monetariamente pelo INPC, o depósito do FGTS que, em última análise, é um salário
indireto do trabalhador, também há de sê-lo.

62. E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salário mínimo pelo


INPC decorre exclusivamente da necessidade de preservar seu poder aquisitivo. A necessidade
de preservar o poder aquisitivo é um constante em todas as transações financeiras, e ela só
aperfeiçoa quando repõe efetivamente as perdas inflacionárias.

63. Outro índice que se mostra aplicável, na hipótese deste douto Juízo
entender que não se aplicaria o INPC, é o IPCA, índice oficial do Governo Federal para medição
das metas inflacionárias, contratadas com o FMI, a partir de julho de 1999 (informação obtida no
Portal Brasil (WWW.portalbrasil.net).

64. Ambos os índices são infinitamente mais adequados a preservar o


poder aquisitivo dos depósitos do FGTS do que a aniquilada TR.

V. DO PREQUESTIONAMENTO PARA EVENTUAL INTERPOSIÇÃO


DE RECURSO ESPECIAL OU RECURSO EXTRAORDINÁRIO

65. Inicialmente, cabe destacar que o tema em debate versa acerca de


matéria de ordem pública, a qual ultrapassa a esfera individual do cidadão atingindo toda a
ordem social quer seja jurídica, quer seja em âmbito político-social, afetando, dessa forma, toda
a parcela da sociedade comprometida com o bem comum.

66. Além do mais, afronta de imediato preceitos constitucionais no que


diz respeito aos direitos e garantias de todos os trabalhadores que possuem conta vinculada do
FGTS.

67. Assim, há repercussão geral na presente demanda, frente ao


Estado Democrático de Direito, compromissário e dirigente que tem como postulado a
segurança jurídica.

68. No mais, com efeito, o tema apresenta relevância do ponto de vista


jurídico, uma vez que a definição sobre a constitucionalidade dessa correção norteará o
julgamento de inúmeros processos similares, que tramitam neste e nos demais tribunais
brasileiros. Além de fixar a interpretação da Corte sobre os dispositivos constitucionais
suscitados no feito.

69. Nesse sentido, a realização de interpretação ou decisão diversa, no


sentido que as contas vinculadas do FGTS devem ser corrigidas pela TR, violariam diversos
preceitos constitucionais, tais como, o Estado Democrático de Direito, atentando contra a
Dignidade da pessoa Humana (art. 1º e inciso III, da CRFB/1988), bem como os princípios da
igualdade, segurança jurídica (art. 5º, caput, da CRFB/1988), da proteção ao direito de
propriedade, direito adquirido (art. 5º, XXII e XXXVI da CRFB/1988) e moralidade (art. 37 da
CRFB/1988).

70. Nessa mesma linha, recentemente o Supremo Tribunal Federal


decidiu pela inconstitucionalidade da utilização da Taxa Referencial - TR - como índice de
correção monetária para o pagamento dos chamados precatórios (ADI nº 4357) reafirmando
entendimento anteriormente adotado por aquela Corte na ADI nº 493. Essa decisão tem
desdobramentos que vão além do processo no qual foi tomada. Isso porque a Lei nº 8.036/90
que estabelece as bases do FGTS também prevê a aplicação de correção monetária e há muito
tempo é utilizado o referido índice (TR) para corrigir aludido fundo, o mesmo agora considerado
inconstitucional para este fim pelo STF.

71. Assim, a parte autora há por bem PREQUESTIONAR a matéria,


para efeito de eventual interposição de Recurso Especial e/ou Extraordinário, conforme
fundamentos que passa a expor logo abaixo.

72. Devemos inicialmente nos recordar que a dignidade da pessoa


humana é valor constitucional supremo que agrega em torno de si a unanimidade dos demais
direitos e garantias fundamentais do homem, envolvendo-se tanto em relação aos direito à vida
como, também, aos direitos pessoais tradicionais, os direitos sociais, econômicos, e as
liberdades públicas em geral.

73. Em verdade quando o texto constitucional proclama a dignidade da


pessoa humana está corroborando um imperativo de justiça social, e consigna, acima de tudo,
um sobreprincípio (é o caso dos diretos fundamentais).

74. Nesse sentido, em relação ao caso concreto, é necessário


aprofundarmos um pouco mais nas consequências que esta subtração de recursos do
patrimônio do trabalhador traz a todos, individual e coletivamente.

75. É de conhecimento geral que o Sistema Financeiro de Habitação


dispõe dos recursos do FGTS para financiar o maior sonho de todo brasileiro, qual seja, a casa
própria. Também é de conhecimento geral que a Caixa Econômica Federal é o Banco que mais
se utiliza destes recursos do SFH para financiar, emprestar dinheiro para os brasileiros
comprarem a casa própria.

76. E, embora em princípio, não haja correlação entre o trabalhador


que tem depósitos no FGTS que são emprestados para financiar a casa própria, e aquele que
se vale do empréstimo do SFH para adquirir sua casa própria, em algum momento, trabalhador
e mutuário são a mesma pessoa.

77. E neste contexto de mutuário e trabalhador serem a mesma pessoa


é que se evidencia a maior sordidez da história recente deste País.

78. Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros


baixos e sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito altos, mesmo sem correção (uma
vez que a TR corrige prestações do SFH), evidencia que a instituição bancária leva imensa
vantagem nesta negociação.

79. Mas a situação piora consideravelmente quando, a Caixa pega


dinheiro a juros baixos, sem nenhuma correção para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.

80. Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa própria


utilizando recursos do seu FGTS. Ele encontra o imóvel, mas verifica que seus recursos não
são suficientes para adquiri-lo. Então ele se dirige a um Banco para financiar a diferença,
comprometendo sua renda por muitos anos.

81. A maioria dos trabalhadores brasileiros, quando quer adquirir um


imóvel, dirige-se à Caixa Econômica Federal.

82. Todavia, se o depósito do FGTS tivesse sido devidamente


corrigido, se ele mantivesse seu poder de compra, ou o empréstimo seria menor ou sequer
haveria necessidade de o trabalhador comprometer sua renda e anos de trabalho para adquirir
aquilo que é o nosso sonho mais primário, nossa necessidade mais rela como indivíduo e como
povo brasileiro.

83. A Caixa está emprestando para o trabalhador aquilo que ela deixou
de pagar a ele a título de correção monetária na sua conta de FGTS. O Trabalhador Brasileiro
não merece isto!

84. A Caixa vale-se da fragilidade humana para colocar-se como


realizadora de sonhos, ao mesmo tempo em que, ano após ano, aufere lucros exorbitantes à
custa do trabalhador.

85. Ainda, em relação aos dispositivos constitucionais violados,


apontamos a violação ao direito de propriedade (art. 5º, XXII da CRFB/1988).

86. O direito de propriedade decorre da própria lei natural. Por isso, é


uma exigência da natureza intelectual do homem. Enquanto os irracionais se contentam com a
satisfação de suas necessidades imediatas, o homem pode prever o seu futuro. Assim, para
subsistir hoje e no tempo futuro, precisa apropriar-se de bens naturais, de consumo, bens
fungíveis e, também, de produção.

87. A propriedade é a expressão da pessoa humana. É fruto do seu


trabalho ou do de seus antepassados. É o espelho do indivíduo, que precisa de um aconchego
preservado pela privacidade, onde pode ser ele mesmo, cercado dos sinais que identificam o
seu eu. Ela estimula o trabalho, sendo o homem atraído espontaneamente pela perspectiva da
recompensa direta e pessoal de seus esforços.

88. Finalmente, a propriedade é penhor de uma sociedade articulada


ou organizada, ao contrário da meramente coletiva, que tem por conseqüência uma sociedade
massificada, sem diversificação nem liberdade. Ela defende os cidadãos contra a concentração
de todos os poderes nas mãos do Estado, garantindo a liberdade dos indivíduos e sua
independência em relação ao poder.

89. Nesse sentido: "A propriedade faz parte da natureza do homem e


da natureza das coisas. Como o trabalho, ela encerra um mistério – é a projeção da
personalidade humana sobre as coisas. A pessoa tende à propriedade por um impulso
instintivo, do mesmo modo que a nossa natureza animal tende ao alimento. O apetite da
propriedade é tão natural à nossa espécie como a fome e a sede; apenas é de notar que estes
são apetites da nossa natureza inferior, ao passo que aquele procede da nossa natureza
superior. Todo o homem tem alma de proprietário, mesmo os que se julgam seus inimigos. É
isto que se entende quando se afirma que a propriedade decorre do direito natural" (R.G.
Renard, L’Église et la Question Sociale, p. 137 et seq.).

90. Partindo das premissas acima, em 1991 e 1992, quando o STF


julgou a ADI 493-0/DF, ele deixou bem assentado que a TR não constituía índice que refletia a
variação do poder aquisitivo da moeda. Esta característica da TR tem se confirmado ao longo
dos anos. A sua aplicação aos saldos dos depósitos do FGTS tem gerado “gigantesca
destruição de valor” do patrimônio do trabalhador. Há anos, os trabalhadores que tem depósitos
no FGTS não experimentam ganhos reais em sua aplicação. Ao contrário. Há muito tempo, os
trabalhadores tem rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração
dos juros de 3% ao ano.

91. O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do


Banco Central/CMN na sua formulação.
92. De pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao
Banco Central/CMN que recalculasse a TR, pois uma nova fórmula estaria igualmente sob a
discricionariedade e subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessão de resoluções do
Banco Central/CMN sobre o tema, conforme Parecer do referido Economista.

93. Partindo da premissa inequívoca de que a TR não repõe as perdas


monetárias dos depósitos do FGTS verifica-se de forma incontestável a destruição de valor do
patrimônio do trabalhador, outro caminho não existe se não o de adotar um novo índice que
verdadeiramente corrija estes depósitos.
94. Como se sabe, o índice de remuneração básico da poupança é a
TR, índice controlado pelo Estado, e utilizado como instrumento de controle da economia – vide
os sucessivos índices mensais zerados, a fim de controle de aporte de capital nas poupanças.
Tanto a TR não se presta como índice de correção monetária, que o STF já decidiu nesse
sentido: “A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária [...] não constitui índice que
reflita a variação do poder aquisitivo da moeda” (ADI 493-0/DF, Relator Min. Moreira Alves,
Plenário, DJ 4.9.1992).

95. Assim sendo, texto tão danoso ao cidadão (art. 13 da Lei 8.036/90)
não poderá ser tolerado pelo Judiciário.

96. Logo, declarada a inconstitucionalidade o índice aplicado ao


precatório pago nos autos, deve ser tomado como vigente e aplicado ao caso concreto -
atribuindo-se outro índice de correção, como retratado nos pedidos da presente ação.

97. A ofensa ao art. 5º, caput, da CRFB/1988, na vertente da


segurança jurídica das relações com a Caixa Econômica Federal, verifica-se, notadamente após
o reconhecimento pelo SFT que a TR não se presta como índice de correção monetária.

98. Logo, como citado, resta clara a violação aos artigos 1º, incisoIII,
5º, caput e incisos XXII, XXXVI, e 37, caput, da CRFB/1988.

99. Frise-se, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL já decidiu que


envolve questão constitucional a discussão a respeito da aplicação ou não, nas contas
vinculadas do FGTS, de índices de correção monetária expurgados em decorrência de planos
de estabilização da economia.

100. Com efeito, no dia 31-08-2000, em Sessão Plenária, o STF ao


apreciar o RE- n. 226855-RS consolidou entendimento de que a decisão judicial que decreta a
procedência de pedido de pagamento de índices de correção monetária, sob a alegação de
direito adquirido, trata de questão constitucional, pois está fundamentada na CRFB/1988 (artigo
5º, inciso XXXVI).

101. Ou seja, ao apreciar pedido de aplicação de índices de correção


monetária extralegais, a decisão judicial está, obrigatoriamente, posicionando-se quanto à
existência ou não de direito adquirido.

102. Pois bem, nos casos em que se pleiteiam a aplicação nas suas
contas vinculadas do FGTS, de índices de correção monetária com discussão de previsão em
leis vigentes - tratamos de análise de direito adquirido.
103. A concessão ou não do pedido depende então da apreciação,
pelo Juiz da causa, da existência ou não de direito adquirido aos índices de correção monetária.

104. Logo, caso o entendimento seja no sentido que não há aplicação


de direito adquirido ao índice de correção/atualização monetária (TR) - torna-se possível a
interpretação no sentido de aplicação do índice que realmente cumpra o disposto no art.2º da
Lei nº 8.036/90.

105. Assim, a parte autora requer, desde já, que este MM.Juiz Federal
"a quo" manifeste-se em sua r. sentença sobre a ofensa aos dispositivos constitucionais citados.

106. Portanto, resta PREQUESTIONADA a matéria pugnando pela


PROCEDÊNCIA DO PREQUESTIONAMENTO suscitado, requerendo ao Excelentíssimo JUIZ
FEDERAL que se pronuncie de forma objetiva, explícita e fundamentada sobre o assunto.

VI. DA TUTELA ANTECIPADA

107. O artigo 273 do Código de Processo Civil preceitua que é possível


a concessão de tutela antecipada se o Juiz se convencer da verossimilhança da alegação e
houver o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

108. A verossimilhança da alegação já foi amplamente demonstrada.


Já o fundado receio de dano de difícil reparação advém do fato de que a correção monetária é
uma obrigação de trato sucessivo.

109. O artigo 12 da Lei nº 8.177/91, com redação da Lei nº 12.703/12,


determina que a remuneração dos depósitos será feita em cada período de rendimento.
110. Cada período de rendimento que a Caixa sonega a correção
monetária dos depósitos do FGTS, o dano contra o trabalhador se configura.

111. O dano que a ausência de correção monetária traz é,


indubitavelmente, individual homogêneo. O nexo entre o sujeito ativo e o responsável pelo dano
se dá em uma situação jurídica com origem comum para todos os titulares do direito violado.

112. Apesar da origem comum, não se exige que cada um dos


indivíduos atingidos pela violação do direito padeçam do mesmo mal. O dano é divisível.
113. Mas mesmo sendo divisível é de fácil percepção que, no geral, a
ausência de correção monetária implica em menos dinheiro à disposição do trabalhador para a
consecução dos seus negócios jurídicos naquelas hipóteses em que a lei permite.

114. Cada casa que o trabalhador deixa de comprar, cada prestação


de imóvel que ele deixa de abater, cada tratamento de neoplasia maligna que ele deixa de
fazer, cada remédio para o tratamento de HIV que ele deixa de comprar porque seu FGTS
perdeu o poder aquisitivo, é um dano de difícil reparação que se renova.

115. Acresça-se a este dano, a situação de refém que o trabalhador


com depósito do FGTS se encontra quando quer financiar seu imóvel pelo SFH com a Caixa.
Hoje, e enquanto durar a TR zero, ele terá que financiar mais do que seria necessário, pois o
que lhe pertence de direito – correção monetária – não está incidindo sobre seu depósito.

116. E ao que tudo indica, este dano continuará se repetindo por um


longo período. Verifica-se no Estudo Econômico que ao tempo em que esta ação perdurar, a TR
continuará anulada, ou reduzida a patamares mínimos, impondo aos trabalhadores mais perda
do seu poder aquisitivo, mais dilapidação do seu patrimônio e mais restrições à sua capacidade
de fazer negócio jurídico.

117. Não há dúvida de que há um risco de difícil reparação na medida


em que não é possível quantificá-lo, mas não há como negá-lo, tanto se levarmos em conta o
trabalhador individualmente considerado como a coletividade de trabalhadores.

118. Assim, imperioso é que desde já a TR seja substituída pelo INPC,


índice que corrige o salário mínimo ou pelo IPCA, índice oficial de medida de inflação. Índices
que minimamente repõem as perdas monetárias haja vista que hoje não há nenhum tipo de
correção monetária dos depósitos do Fundo.

119. Por outro lado, não há dano de irreversibilidade do provimento


antecipado porque é da natureza do FGTS ser um fundo de aplicação a longo prazo. Eventual
decisão que não reconheça o direito ora pleiteado, permitirá que a Caixa utilize de mecanismos
legais para promover a devida compensação ao longo do tempo.

120. Assim, requer a concessão da tutela para substituir imediatamente


a TR, como índice de correção monetária nos depósitos do FGTS dos ora substituídos, pelo
INPC, IPCA ou índice que, no entender deste Juízo, melhor reflita as perdas inflacionárias daqui
por diante, até o trânsito em julgado do presente feito.
VII. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

121. No que tange a possibilidade de condenação da requerida em


honorários advocatícios, o STF reiterou o entendimento de que cabe a cobrança de honorários
advocatícios nas ações entre o FGTS e os titulares das contas vinculadas. A decisão foi tomada
por unanimidade no julgamento do RExt 581.160, com repercussão geral reconhecida,
interposto contra acórdão do TRF da 1ª região.

122. Segundo o relator, ministro Ricardo Lewandowski, o acórdão


recorrido julgou constitucional o artigo 29-C da Lei 8.036/90, inserido pela MP 2.164/01, que
veda a condenação em honorários advocatícios nas ações entre o FGTS e os titulares das
contas vinculadas.

123. Ocorre que, o STF já declarou o artigo inconstitucional no


julgamento da ADIn 2.736, em que foi relator o ministro Cezar Peluso, que excluiu o artigo 29-C
da Lei 8.036 do ordenamento legal, sendo, desta feira, constitucional a condenação da
requerida em honorários advocatícios.

VIII. DAS CONCLUSÕES

124. A TR, enquanto índice de correção monetária assim considerada


pela atual jurisprudência pátria, não pode ser reduzida a Zero, como tem sido nos últimos
meses, pois afronta flagrantemente o artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que garante atualização
monetária aos depósitos feitos no FGTS.

125. Como índice de correção monetária, a TR deveria garantir o poder


aquisitivo dos depósitos do FGTS, que se perfaz levando em conta os índices de inflação.
Desde janeiro de 1999, a TR se distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflação,
impingindo profundas perdas aos depósitos do FGTS, tornando-se inidônea para garantir a
reposição de perdas monetárias.
126. A inidoneidade da TR como índice de correção monetária decorre
de mudanças introduzidas na sua metodologia de cálculo pelo Banco Central do Brasil/CMN
que, através do mecanismo econômico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice
para que ele se desprenda da inflação até anulá-la completamente, a despeito de um quadro de
inflação persistente no País.

127. A Caixa Econômica Federal está se prestando ao papel de


espoliador do FGTS, na medida em que dispõe do patrimônio do trabalhador sem a devida
contraprestação. A correção monetária aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a
inflação registrada, de forma que descumpre não só o artigo 2º da Lei nº 8.036/90, artigo 233 do
Código Civil, mas também toda a lógica e princípios do mercado econômico.
128. Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a
totalidade da correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a subsidiar ainda mais
os projetos do Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS
serem os menores do mercado, o quê, por si só, demonstra que ele já está fazendo sua parte
sob a perspectiva social.

129. Negar o direito de correção monetária aos depósitos do FGTS,


Fundo do qual o trabalhador não pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar em outro
fundo mais rentável, configura ato de tirania, incompatível com um Estado Democrático de
Direito e deve ser de pronto rechaçado.

130. Se o Governo Brasileiro remunerasse os investidores


internacionais com TR mais 3% a.a, como faz com os trabalhadores, haveria um fuga em massa
dos investimentos no País, e certamente estaríamos experimentando uma tsunami econômica e
não uma simples “marolinha”.

131. Sendo a TR índice inidôneo para restabelecer o poder aquisitivo


dos depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que melhor recomponha as perdas
monetárias se torna imperioso, a fim de fazer prevalecer o artigo 2º da Lei nº 8.036/90 e artigo
233 do Código Civil.

132. Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo Banco
Central/CMN promoveu o completo distanciamento da TR dos índices oficiais de inflação, temos
que desde então ela perdeu sua condição de repor as perdas inflacionárias dos depósitos do
FGTS, devendo desde esta data ser substituída pelo INPC, alternativamente, pelo IPCA.

IX. DO PEDIDO DE SUSPENSÃO DO FEITO

133. Na Reclamatória (RCL) nº 37278, o ministro Ricardo Lewandowski


concedeu liminar para que todos os feitos que tivessem como objeto a discussão da utilização
da Taxa Referencial (TR) como índice para a atualização monetária de valores depositados nas
contas vinculadas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) fossem suspensos, por
determinação do ministro Luís Roberto Barroso em medida cautelar deferida na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 5090/DF. (Fonte
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=426314. Acesso em
12.11.2019).
134. A suspensão dos feitos envolvendo a matéria tem como objetivo,
segundo o próprio ministro Barroso, a segurança jurídica e evitar o esgotamento dos recursos
antes mesmo de uma decisão definitiva sobre a matéria.

135. Diante de tal fato, requer, antes da prolação da sentença, seja


determinada a suspensão do presente feito até decisão final do Supremo Tribunal Federal na
ADI nº 5.090/DF.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a parte autora requer:

a) preliminarmente, antes da prolação da sentença, seja determinada a


suspensão do presente feito até decisão final do Supremo Tribunal Federal na ADI nº 5.090/DF,
frente a recente decisão do ministro Ricardo Lewandowski;

b) Seja a presente ação julgada totalmente procedente, requerendo-se:

b.1) A concessão de tutela antecipada para que a TR seja substituída


pelo INPC como índice de correção dos depósitos efetuados em nome da parte autora a partir
da concessão até o trânsito em julgado da presente ação, com a consequente aplicação do
novo índice sobre os depósitos constantes das contas vinculadas da mesma; ou

b.2) que a TR seja substituída pelo IPCA como índice de correção dos
depósitos efetuados em nome da parte autora a partir de sua concessão até o trânsito em
julgado da presente ação, com a consequente aplicação do novo índice sobre os depósitos
constantes das contas vinculadas da mesma; ou

b.3) a aplicação de qualquer outro índice que reponha as perdas


inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste Juízo, até o trânsito em
julgado da presente ação, com a consequente aplicação do novo índice sobre os depósitos
constantes das contas vinculadas da parte autora;

c) A citação da requerida para, querendo, contestar a presente


demanda;

d) Ao final, a confirmação da tutela antecipada e a condenação da


requerida para:
d.1) pagar, a favor da parte autora o valor correspondente às
diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo INPC, desde Janeiro de
1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e vincendas; ou

d.2) pagar, a favor da parte autora o valor correspondente às


diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA , desde Janeiro de
1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e vincendas; ou

d.3) pagar, a favor da parte autora o valor correspondente às


diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária por qualquer outro índice
que reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste
Juízo, desde Janeiro de 1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero;

e) Sobre os valores devidos pela condenação de que tratam os itens


acima, deverão incidir correção monetária desde a inadimplência da Caixa, bem como os juros
legais;

f) A condenação da Caixa ao pagamento das custas e honorários


advocatícios de 20% sobre o valor da condenação;

g) A concessão da gratuidade da justiça, porquanto a parte autora não


possui condições financeiras para recolhimento de custas ou despesas processuais.
Subsidiariamente, requer sejam as custas recolhidas ao final;

h) Requer, ainda, que este MM.Juiz Federal "a quo" manifeste-se em


sua r. sentença sobre a exigência de correção monetária do art. 2º da Lei nº 8.036/90 que
garante atualização monetária aos depósitos das contas vinculadas do FGTS;

i) Requer, por fim, que este MM. Juiz Federal " a quo" manifeste-se em
sua r. sentença sobre os fundamentos que a utilização da TR como índice de correção
desobedeceria os limites materiais de inúmeros fundamentos e princípios constitucionais, como
o Estado Democrático de Direito, atentando contra a Dignidade da pessoa Humana (art. 1º e
inciso III, da CF), bem como os princípios da igualdade, segurança jurídica (art. 5º, caput, da
CF), da proteção ao direito de propriedade, direito adquirido (art. 5º, XXII e XXXVI da CF) e
moralidade (art. 37 da CF). Logo, resta PREQUESTIONADA a matéria pugnando pela
PROCEDÊNCIA DO PREQUESTIONAMENTO suscitado, requerendo ao Excelentíssimo JUIZ
FEDERAL que se pronuncie de forma objetiva, explícita e fundamentada sobre o assunto.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em
direito, principalmente prova documental.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100,00.

Criciúma, 12 de Novembro de 2019.

GILVAN FRANCISCO
Advogado OAB/SC—7367

SAMUEL FRANCISCO REMOR


Advogado OAB/SC—25.907

AGRISLAINE C. CORDEIRO DE OLIVEIRA


Advogada OAB/SC—53.583

CARLOS ALBERTO DA CUNHA JUNIOR


Advogada OAB/SC—51.686

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