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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO ___ JUIZADO ESPE-

CIAL CÍVEL FEDERAL DE _____________________

_____________, qualificaçao, inscrita no CPF/MF


_____________ e no Registro Geral , residente e
domiciliada_______________________, vem respeitosa-
mente, advogando em causa própria, com endereço profis-
sional a Rua Estado, CEP propor a presente:

AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE CORREÇÃO


MONETÁRIA DE FGTS

em face de CAIXA ECONOMICA FEDERAL, pessoa jurídica,


inscrita no CNPJ 00.360.305/0001-04, com base nos fatos e
fundamentos que passa a expor:

1. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Inicialmente, afirma a parte Autora que não possui condições de


arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sus-
tento próprio bem como o de sua família, razão pela qual faz jus ao benefício da
gratuidade da justiça, assegurado pela Constituição Federal, Artigo 5º, LXXIV e pela
Lei 13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes.

2. DOS FATOS

A Requerente é trabalhadora e, como tal, possui conta vinculada


ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, como comprova a documen-
tação acostada.
O FGTS foi criado nos anos 60 do século passado com o escopo
de proteger o trabalhador, como sucessor da pretérita estabilidade decenal. Sua
composição se faz mediante depósitos de valores pelos empregadores em nome de
seus empregados, possibilitando que estes últimos constituam um patrimônio, ainda
que muitas vezes singelo.
Ademais, é sabido que as importâncias do fundo também são
destinadas ao financiamento de programas de habitação popular, saneamento
básico e infra-estrutura urbana.
A regulamentação do FGTS está estampada na Lei nº. 8.036/90,
nas normas e diretrizes fixadas por seu Conselho Curador e sua gestão está a
cargo da Caixa Econômica Federal.
Na lei que disciplina o tema, mais especificadamente nos artigos
2º e 13, se vê que há uma obrigatoriedade de correção monetária e de remuneração
por meio de juros das quantias depositadas nas contas vinculadas ao fundo, “in ver-
bis”:

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se


refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados
com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de
suas obrigações.

Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos


monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento
ao ano.

Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos de-


pósitos da poupança e consequentemente para os depósitos do FGTS é a Taxa
Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei 8.177/1991, com a
redação da Lei 12.703/2012, que mencionam:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão


remunerados:

I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das


TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento,
inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;

II - como remuneração adicional, por juros de:

a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic
ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito in-
teiros e cinco décimos por cento); ou
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo
Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período
de rendimento, nos demais casos.

Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de


Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela
taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data
de aniversário no dia 1°, observada a periodicidade mensal para remuner-
ação.

Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do


FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração pre-
vista neste artigo.

No tocante à fórmula de cálculo da TR, diz a Lei nº 8.177/1991:

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calcu-


lada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos de-
pósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investi-
mentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos,
caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais,
de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Na-
cional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado
Federal.

§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de referên-


cia, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País, classificadas
pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão obrigadas a fornecer as infor-
mações de que trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo Con-
selho Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus admin-
istradores, no caso de infração às referidas normas, às penas estabeleci-
das no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.

§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este ar-


tigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR.

A metodologia do cálculo foi há muito tempo definida pelo Banco


Central – Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente vigente pela Resolução
nº 3.354/2006.
Ocorre que há muito tempo a TR não reflete mais a correção
monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação. Nos
meses de setembro, outubro e novembro de 2009; janeiro e fevereiro de 2010;
fevereiro e junho de 2012; e setembro de 2012 em diante, a TR tem sido completa-
mente anulada, como se não existisse qualquer inflação no período passível de cor-
reção.
Aqui se encontra o cerne da questão: a necessidade de garantir
aos depósitos nas contas vinculadas ao FGTS uma efetiva e real correção mon-
etária, em atenção aos princípios que nortearam a sua criação como patrimônio do
trabalhador.

3. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONOMICA FEDERAL

Tendo em vista o objeto da demanda – correção monetária dos


depósitos do FGTS – é inafastável a legitimidade passiva da Caixa Econômica Fed-
eral. Matéria esta que já foi analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, culminando
inclusive com a edição de súmula:

Súmula 249 – A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para in-
tegrar processo em que se discute correção monetária de FGTS.

4. DO AFASTAMENTO DA PRESCRIÇÃO

A pacífica posição jurisprudencial no que concerne ao lapso pre-


scricional para as demandas relacionadas à correção do FGTS merece ser desta-
cada, até mesmo como forma de evitar discussões desnecessárias. Por isso a
seguinte súmula do STJ é digna de descrição:

Súmula 210 – A ação de cobrança das contribuições para o


FGTS prescreve em 30 (trinta) anos.

O presente pleito encontra-se perfeitamente dentro do interregno


mencionado, como se verá no transcorrer da exposição.

5. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A) CORREÇÃO MONETÁRIA E A INCONSTITUCIONALIDADE DA TAXA REFER-


ENCIAL
Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer
que o nível geral de preços é o padrão primário do valor financeiro, enquanto que a
unidade monetária serve como padrão secundário – usado, na prática, para exprimir
o valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo padrão primário porque sujeito a
modificações; (In Correção Monetária; Indexação Cambial Obrigação Pecuniária, in
Revista de Direito Administrativo, nº 193, p. 353 a 372 – Jul/Set 1993);

A moeda, segundo o doutrinador, seria a expressão do valor fi-


nanceiro; mas este – valor financeiro - seria apurado em sintonia com a modificação
do nível geral de preços.

Em interessante artigo de Letácio Jansen (Invalidade da Taxa


Referencial (TR) o significado da ADI 493-0 – DF. Disponível em
<http://scamargo.adv.br), o mesmo afirma que Bulhões Pedreira teria colocado em
prática sua doutrina, sobretudo por meio da Lei nº 4.357/1964, que criou a ORTN
(Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional), índice cuja função era fazer variar,
periodicamente, a moeda nacional, em conformidade com a perda de seu respectivo
poder aquisitivo.

Desde então um sem fim de índices de correção monetária foram


criados, até a edição da Medida Provisória 294/1991, convertida na Lei nº
8.177/1991, oportunidade em que o governo do então presidente Collor pretendeu
substituir a série de indexadores tradicionais (ORTN, OTN e BTN), que eram vincu-
lados à variação dos níveis gerais de preços, pela taxa referencial, de natureza fi-
nanceira.

Subsiste ainda hoje a perplexidade em relação à natureza jurídica


da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata
como taxa de juros (art.39), ora como indexador (art. 18).

Taxas de juros objetivam promover a remuneração de capital.


São calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física
ou jurídica, para que a empregue com a finalidade de satisfazer determinada neces-
sidade, na expectativa de lucro. Já os indexadores podem ser entendidos como
índices calculados a partir da variação de preço de mercado em determinado
período. O seu objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se com-
param valores monetários em diferentes épocas.

Quando o Supremo Tribunal Federal enfrentou o tema da na-


tureza do TR no julgamento da ADI 493-0 DF, assentou:

“A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo,


as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não
constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda”;

Ao final, sacramentou a Corte Suprema o entendimento segundo


o qual a TR possuía natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o artigo 18
da lei nº 8.177/1991, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as
prestações integrantes do SFH passariam a ser atualizadas pela taxa aplicável à re-
muneração básica dos depósitos de poupança. Vejamos:

Ação direta de inconstitucionalidade. Se a lei alcançar os efeitos futuros de


contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroativi-
dade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido
no passado.- O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se
aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre
lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e
lei dispositiva. Precedente do S.T.F..- Ocorrência, no caso, de violação de
direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção mon-
etária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos de-
pósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a
questão de saber se as normas que alteram índice de correção monetária
se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de con-
tratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI,
da Carta Magna.- Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos
impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos
já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria
Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada proce-
dente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e pará-
grafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos,
todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493 – Relator: Ministro
Moreira Alves – Julgado em 25/06/1992, pp.14089)
Por algum tempo até mesmo o Superior Tribunal de Justiça re-
jeitou a TR como índice de correção monetária, tanto para a poupança quanto para
o SFH, do que são exemplos: Resp 40777/GO, Resp 140839/BA, Resp 209466/BA.
Posteriormente em releitura do voto do Ministro Moreira Alves do STF, mudou o en-
tendimento e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice de correção
monetária (Resp 752879/DF).

Vale repisar que a aplicação de índice de correção monetária se


presta a recuperar o poder da compra do valor emprestado. Este poder de compra é
diretamente influenciado por um processo inflacionário. O STJ reconhece a influên-
cia da inflação e da deflação na composição do índice de correção monetária, senão
vejamos:

PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. DE-


TERMINAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IGP-M. ÍNDICES DE
DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRRE-
DUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃO OCORRÊNCIA. PRESER-
VAÇÃO DO VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES. 1. "A
correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do
poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente,
por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor
nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder
de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e neg-
ativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta ape-
nas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica pro-
duzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primi-
tivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha,
estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado
pelo Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em
contrário, "os índices negativos de correção monetária (deflação) serão
considerados no cálculo de atualização", com a ressalva de que, se, no cál-
culo final, 'a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o
valor nominal'" (Corte Especial, Resp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI AL-
BINO ZAVASCKI, Dje 18/4/12). 2. No precedente da Corte Especial, men-
cionado na decisão agravada, ficou expressamente consignado que se, na
atualização da dívida, houver redução do principal, deve prevalecer o valor
nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de vencimentos, pre-
visto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição Federal. 3. A compreensão
no sentido de que não há violação ao princípio da irredutibilidade dos venci-
mentos, quando preservado o valor nominal da obrigação, encontra
respaldo na jurisprudência do STF e do STJ. 4. Agravo regimental im-
provido. (AgRg no Resp1252558/RS, rel. Ministro Sergio Kukina, 1ª Seção,
julgado em 13/03/2013)
Em contraste com a linha traçada pelo STJ, o STF voltou recente-
mente à análise da TR como fator de correção e, uma vez mais reafirmou que já
houvera sedimentado quando da ADI 493-0/DF. No julgamento pelo plenário do STF
das quatro ações diretas de inconstitucionalidade (ADI´s 4357, 4372, 4400, 4425)
que tinham por objeto a emenda constitucional nº 62/2009, que criou o regime espe-
cial de pagamento de precatórios, se lê do voto do relator Ministro Ayres Britto:

“Com efeito, neste ponto de intelecção das coisas, nota-se que a correção
monetária se caracteriza, operacionalmente, pela citada aptidão para man-
ter um equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos jurídicos. E falar de
equilíbrio econômico-financeiro entre partes jurídicas é, simplesmente,
manter as respectivas pretensões ou os respectivos interesses no estado
em que primitivamente se encontravam. Pois não se trata de favorecer ou
beneficiar ninguém(...).”

E citando a ADI 493-0 DF, que reconheceu que a TR “...não re-


flete a perda do poder aquisitivo da moeda...”, finaliza o Ministro:

“O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição


acabou por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito que
está ontologicamente associado à manutenção do valor real da moeda.
Valor real que só se mantém pela aplicação de índice que reflita a desval-
orização dessa moeda em determinado período. Ora, se a correção mon-
etária dos valores inscritos em precatório deixa de corresponder à perda do
poder aquisitivo da moeda, o direito reconhecido por sentença judicial tran-
sitada em julgado será satisfeito de forma excessiva ou, de revés,
deficitária. Em ambas as hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das
partes da relação jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada,
no caso, será, quase que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública.
Basta ver que, nos últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa
de remuneração da poupança) foi de 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de
acordo com o IPCA.”

Os fragmentos destacados permitem vislumbrar a postura da


Corte Constitucional sobre a atualização da TR como índice de correção.

Não se pode esquecer que a cultura da correção monetária está


arraigada ao nosso sistema econômico de tal forma que o Código Civil traz diversos
dispositivos garantindo-a. E este breve retrospecto da evolução legal e jurispruden-
cial da aplicação da TR como índice de correção monetária é necessário para servir
de introdução ao núcleo da argumentação delineada na presente ação.
Hoje no país existem dois tipos de índice de correção monetária.
Índices que refletem a inflação, e portanto, recuperam o poder de compra do valor
aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a inflação e, conse-
quentemente, não recupera o poder de compra do valor aplicado: a taxa referencial
– TR;

Historicamente é preciso lembrar que a taxa referencial nunca foi


igual à inflação. Nem em tempos de hiperinflação, nem no curto período de de-
flação. Todavia, os índices da TR, INPC e IPCA sempre andaram próximos. Em out-
ras palavras, imperava a razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atin-
gir a finalidade de correção do valor do capital.

ANO TR INPC IPCA


1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%

1993 2.474,73% 2.489,11% 2.477,15%

1994 951,19% 929,31% 916,43%

1995 31,6201% 21,98% 22,41%

1996 9,5551% 9,125% 9,56%

O panorama começa a mudar a partir de 1999, quando a TR se


distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflação superar
6% ano e a TR ser igual a ZERO. Logo, ela não se presta para o fim de manter o
poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são patrimônio do trabalhador;

Da maneira como atualmente está o FGTS, sem recomposição


inflacionária de seus recursos, o trabalhador não está financiando programas de
habitação popular, e sim está subsidiando.

Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de


livre disposição por parte do trabalhador, que não pode decidir por si mesmo quais
as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que
se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.

Não se trata aqui de elucubrações desprovidas de sustentação


fática. A própria lei do FGTS diz em seu artigo 2º que é garantida a aplicação de at-
ualização monetária e juros aos saldos das contas vinculadas. Quando a TR é igual
a ZERO, este dispositivo é descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente de-
sproporcional em relação à inflação, este dispositivo também é descumprido. E em
ambos os casos, o patrimônio do trabalhador é diminuído, subtraído por quem tem o
dever legal de administrá-lo.

Num cenário de TR zero e inflação pública e notória, estamos di-


ante de uma situação de confisco. O Governo Federal, por meio da Caixa
Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores para sub-
sidiar políticas públicas sem a menor possibilidade de ingerência desses trabal-
hadores.

Ora, se nosso Estado Democrático de Direito veda que se utilize


o tributo com efeito de confisco, o trabalhador não pode ser punido com o confisco
do que a própria Caixa define em sua web site como “um patrimônio seu”, do trabal-
hador.
Quando se fala em patrimônio imediatamente sobrevém a lição
de Maria Helena Diniz ao comentar o artigo 91 do Código Civil:

Art. 91 – Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídi-


cas de uma pessoa, dotadas de valor econômico.

Universalidade de direito. É constituída por bens corpóreos heterogêneos


ou incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídica,
com intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de
valor econômico, como por exemplo, o patrimônio (...). O patrimônio e a
herança são considerados como um conjunto, ou seja, uma universalidade.
Embora se constituam ou não de bens materiais e de créditos, esses bens
se unificam numa expressão econômica, que é o valor. O patrimônio é
complexo de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis economica-
mente. Incluem-se no patrimônio: a posse os direitos reais, as obrigações e
as ações correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos e
deveres redutíveis a dinheiro. (Código Civil Anotado, Saraiva, p.100);
Levando-se em conta que a relação jurídica entre os trabal-
hadores e a Caixa é de direito pessoal, o artigo 233 do Código Civil se torna in-
afastável na medida em que determina que a obrigação de dar coisa certa abrange
os acessórios, ainda que não mencionados. Ora, os acessórios de dinheiro são os
juros e a correção monetária;

E então exsurge, outra vez a Taxa Referencial;

B) MANIPULAÇÃO DA TR – BACEN/CMN

Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica,


convém adotar como pressuposto inicial, para desconstituí-la, a tese assentada pela
jurisprudência, como destaque para as decisões do STJ, que apontam a TR como
índice de correção monetária;

Tanto o artigo 1º da Lei nº 8.177/91 quanto o artigo 5º da Lei nº


10.192/2001 (que convolou a MP1.053/1995) atribuíram ao Banco Central a regula-
mentação da metodologia de cálculo da TR, conforme crédito estabelecido na lei e a
expedições das instruções necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF
(Taxa Básica Financeira), “in verbis”:

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calcu-


lada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos de-
pósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investi-
mentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos,
caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais,
de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Na-
cional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado
Federal.

Art. 5º Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada ex-
clusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mer-
cado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias.

Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as instruções


necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo, podendo, inclusive,
ampliar o prazo mínimo previsto no caput.

Com o objetivo de regulamentar a TR, o Banco Central/ CMN


vem ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo
menos desde a Resolução nº2.075/1994 há formulas para encontrar a TR. Todavia,
é com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela medida provisória nº1.053/1995,
que a fórmula de cálculo sofre uma expressiva reviravolta;
Desde a Resolução nº 2.437/1997 a TR é calculada levando em
conta a Taxa Básica Financeira e um redutor;
A Resolução nº 3.354/2006, hoje vigente sobre o assunto, diz:

Art. 1º Para fins de cálculo da Taxa Básica Financeira (TBF) e da Taxa Ref-
erencial (TR), de que tratam os arts. 1º da Lei nº 8.177, de 1º de março de
1991, 1º da Lei nº 8.660, de 28 de maio de 1993, e 5º da Lei nº 10.192, de
14 de fevereiro de 2001, deve ser constituída amostra das 20 maiores insti-
tuições financeiras do País, assim consideradas em função do volume de
captação efetuado por meio de certificados e recibos de depósito bancário
(CDB/RDB), com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, e remunerados
a taxas prefixadas, entre bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de
investimento e caixas econômicas. (Redação dada pela Resolução nº
4.240, de 28/6/2013.)

§ 1º Para efeito da constituição da amostra referida neste ar-


tigo, devem ser considerados:

I - como uma única instituição financeira, o conjunto de instituições de um


mesmo conglomerado financeiro, nos termos do conceito estabelecido no
Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF);

II - os somatórios dos valores de captação de CDB/RDB ao longo de cada


semestre civil.

§ 2º O Banco Central do Brasil deve constituir a amostra de que trata este


artigo até o décimo quinto dia útil dos meses de janeiro e julho, para vigorar
a partir dos dias 1º de fevereiro e 1º de agosto de cada ano.

Art. 2º A TBF e a TR são calculadas a partir da remuneração mensal média


dos CDB/RDB emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo de 30 a
35 dias corridos, inclusive, com base em informações prestadas pelas insti-
tuições integrantes da amostra de que trata o art. 1º, na forma a ser deter-
minada pelo Banco Central do Brasil.

Art. 4º Para cada dia do mês - dia de referência -, o Banco Central do Brasil
deve calcular a TBF, para o período de um mês, com início no próprio dia
de referência e término no dia correspondente ao dia de referência no mês
seguinte, considerada a hipótese prevista no § 2º, inciso IV.

Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º,
deve ser calculada a correspondente TR, pela aplicação de um redutor "R",
de acordo com a seguinte fórmula:

TR = max {0,100 {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (em %).

§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias, inclusive
não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:

R = (a + b . TBF/100), onde:

TBF = TBF relativa ao dia de referência;

a = 1,005;
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da TBF
obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais
ao ano:

TBF (% a.a.) b

TBF maior que 16 0,48

TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44

TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40

TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36

TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32

§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do


parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por
cento ao ano).

O peculiar nesta determinação do Banco Central / CMN, que de


resto se repete desde 1997, é que a TBF e a TR são exatamente iguais em sua gê-
nese até o momento em que se determina a aplicação do redutor à TBF para se
chegar a TR;
Não há na lei na TR previsão de aplicação de redutor, assim
como também não há na lei que criou a TBF. Todavia, causa espécie que adiante
de um comando aberto como o do artigo 5º da MP 1.503/1995 (Lei 10192/2001), o
Banco Central/ CMN, com amplos poderes para regulamentar o assunto, não tenha
instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o artigo 1º da Lei nº
8.177/1991, que não era flexível;

Uma comparação entre os percentuais da TR, INPC e IPCA,


desde 1997, deixa evidente a perda do poder de compra dos depósitos nas
contas vinculadas do FGTS, especialmente a partir de 1999.

ANO TR INPC IPCA


1997 9,7849% 4,34% 5,22%

1998 7,7938% 2,49% 1,66%


1999 5,7295% 8,43% 8,94%

2000 2,0962% 5,27% 5,97%

2001 2,2852% 9,44% 7,67%

2002 2,8023% 14,74% 12,53%

2003 4,6485% 10,38% 9,30%

2004 1,8184% 6,13% 7,60%

2005 2,8335% 5,05% 5,69%

2006 2,0377% 2,81% 3,14%

2007 1,4452% 5,15% 4,45%

2008 1,6348% 6,48% 5,90%

2009 0,7090% 4,11% 4,31%


0,6887% 6,46% 5,90%

2011 1,2079% 6,07% 6,50%

2012 0,2897% 6,19% 5,83%

Fonte: Portal Brasil (HTTP://www.portalbrasil.net)

O disparate é claro;

Como dito antes, o trabalhador aplica compulsoriamente seu din-


heiro no FGTS e não pode retirá-lo para outro investimento. Recebe apenas uma re-
muneração de 0,247% a título de juros e nada mais. Não há correção monetária
nem taxa referencial, em grande desrespeito ao artigo 2º da Lei 8.036/1990, que im-
põe a correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
Ainda que se argumente que a aplicação do redutor pelo Banco
Central/CMN é ilegal, sua redução à ZERO em um cenário de inflação superior a
6% ao ano configura ataque à concepção do preceito do artigo 2º da Lei
8.036/1990, claro ao determinar a atualização monetária bem como ao artigo 233 do
Código Civil, na medida em que se ignoram os acessórios da obrigação de dar.

Impende, porém, revisitar o entendimento jurisprudencial sobre a


TR como índice de correção monetária, mormente a partir da instituição de um Re-
dutor que tem por efeito zerá-la num ambiente de inflação.

O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como atu-


alizador monetário do FGTS pelo menos desde janeiro de 1999. No momento em
que o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela deixou de ser um
índice confiável para atualizar monetariamente as contas do fundo porque se afasta
dos índices de inflação, com sensível redução ano a ano;

Corrigir monetariamente o capital é mantê-lo com poder de com-


pra, finalidade distante de ser alcançada pela TR. Há nítida expropriação do
patrimônio do trabalhador no instante em que lhe é negada uma hígida atualização
monetária.
O STF no julgamento da ADI 493-0/DF, asseverou que a TR não
constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda, característica
que o transcorrer dos anos só fez confirmar.

O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do


Banco Central/CMN na sua formulação. Vale lembrar como é feito o cálculo:

§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias, inclusive
não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:

R = (a + b . TBF/100), onde:

TBF = TBF relativa ao dia de referência;

a = 1,005;

b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da TBF


obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais
ao ano:
TBF (% a.a.) b

TBF maior que 16 0,48

TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44

TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40

TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36

TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32

§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do


parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por
cento ao ano).

Como se vê, quando a TBF (taxa básica financeira – SELIC for


inferior a 11%), a variável “b” será determinada pelo Banco Central/ CMN, sem
critério técnico conhecido. Aí está o cerne da questão, posto que é esta discricionar-
iedade estipulada desde a Resolução 2.809/2000 e reproduzida nas posteriores,
que afetou o cálculo do redutor da TR e, consequentemente, a conduziu de modo
paulatino a ZERO.
Pugnar pelo recálculo da TR tampouco se mostraria uma
solução, vez que uma nova fórmula estaria igualmente sob a discricionariedade do
BACEN. Basta avaliar a sucessão de resoluções do órgão sobre o assunto, que
sempre mantiveram em suas mãos o poder de interferir na aferição da TR.

Não há duvida de que a TR não tem o condão de suprir as per-


das monetárias dos depósitos do FGTS, ainda mais depois do que foi narrado até
aqui. Outro caminho não existe se não o de adotar um novo índice que de fato cor-
rija e mantenha o poder de compra desses depósitos.

C) ÍNDICES REAIS DE CORREÇÃO MONETÁRIA

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece


em seu artigo 5º que na aplicação da Lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se destina e às exigências do bem comum.
Pois bem. A Lei do FGTS tem um fim social indiscutível: proteger
o trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em várias situações
da vida. Assim, reconhecer a necessidade de efetiva correção monetária, com
reposição dos índices inflacionários de forma a garantir o poder de compra daquele
dinheiro, implica em atender o social descrito na lei do fundo. Cabe à Caixa tal pro-
ceder.

Visto que a TR não reflete a corrosão do poder de compra dos


depositários e não repõe as perdas monetárias havidas, urge substituí-las por um
índice que o faça. Mas por qual?

A resposta, até por uma questão de equidade está na adoção do


mesmo índice utilizado para a correção do salário dos trabalhadores e benefícios
previdenciários, previsto na Lei nº 12.382/2011:

Art. 1º O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00


(quinhentos e quarenta e cinco reais).

Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário


mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o
valor horário, a R$ 2,48 (dois reais e quarenta e oito centavos).

Art. 2º Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do


salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas
em 1o de janeiro do respectivo ano.

§ 1º Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo


corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor -
INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês
do reajuste.

§ 2º Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais


meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil imediata-
mente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo estimará os
índices dos meses não disponíveis.

§ 3º Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices estimados per-


manecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os
eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem retroativi-
dade.

§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:

I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento


real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de
2010;
II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento
real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;

III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento


real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e

IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento


real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.

Ora, se o salário mínimo é corrigido pelo INPC, porque o FGTS,


que é um salário indireto do trabalhador, não o é?
A correção do salário mínimo pelo INPC objetiva preservar o seu
poder aquisitivo. A necessidade de preservar o poder aquisitivo é uma constante em
todas as transações financeiras e só se aperfeiçoa quando repõe efetivamente as
perdas inflacionárias.
Outro índice que se mostra viável para a manutenção do poder
aquisitivo dos depósitos do FGTS é o IPCA/IBGE, índice oficial do Governo Federal
instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das
companhias abertas e que, a partir de julho de 1999, passou a ser utilizado para
medição de metas de inflação, contratadas com o FMI (sobre o IPCA:
<HTTP://www.portalbrasil.net/ipca.html>).

Qualquer desses dois índices (INPC ou IPCA) se mostra mais ad-


equado para a manutenção do poder aquisitivo dos valores ingressados nas contas
vinculadas ao FGTS, ao que se requer desde já.

D) OUTRAS PONDERAÇÕES

O alvitramento dos recursos do patrimônio do trabalhador traz


conseqüências para todos, individual e coletivamente.

O Sistema Financeiro de Habitação – SFH dispõe dos recursos


do FGTS para financiar a aquisição de casa própria pelos trabalhadores. É a Caixa
Econômica Federal a Instituição que mais utiliza esses recursos, emprestando din-
heiro para aquisição do imóvel.
Em principio parece não haver correlação entre o trabalhador que
tem depósitos no FGTS e aquele que se vale do empréstimo do SFH para comprar
sua casa. Contudo, em algum momento trabalhador e mutuário se tornam a mesma
pessoa. É neste ponto de convergência que o debate ganha ares preocupantes.

Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros


baixo e sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito mais altos, mesmo sem
correção (uma vez que a TR também corrige as prestações do SFH), o que eviden-
cia que a instituição já leva vantagem nessa negociação. Mas a situação piora ainda
mais quando a Caixa pega dinheiro a juros baixo, sem nenhuma correção para o
trabalhador, e empresta a ele mesmo.

Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa


própria utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra um imóvel, mas verifica
que seus recursos não são suficientes para adquiri-lo. Dirige-se, então, a um banco
para financiar a diferença, comprometendo sua renda por longos anos.

A maioria dos brasileiros, quando quer adquirir um imóvel, dirige-


se à Caixa Econômica Federal. É uma questão histórica. Mas se seus depósitos do
FGTS tivessem sido devidamente corrigidos, com a manutenção do seu poder de
compra, ou o empréstimo seria menor ou sequer haveria a necessidade de contratá-
lo, contratação esta que implica no comprometimento de sua renda e anos de tra-
balho para adquirir aquilo que é básico: uma moradia;

A caixa empresta para o trabalhador aquilo que ela deixou de lhe


pagar a título de correção monetária na sua conta do FGTS, lhe vendo o sonho da
casa própria e às suas custas aufere lucros.

6. O ÍNDICE INPC

O que compõe o INPC/IBGE:


O INPC/IBGE foi criado inicialmente com o objetivo de orientar os
reajustes de salários dos trabalhadores.

O Sistema Nacional de Preços ao Consumidor - SNIPC efetua a


produção contínua e sistemática de índices de preços ao consumidor tendo como
unidade de coleta estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, conces-
sionária de serviços públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e con-
domínio). A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos men-
sais compreendidos entre 1 (hum) e 5 (cinco) salários-mínimos (aproximadamente
50% das famílias brasileiras), cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e
residente nas áreas urbanas das regiões, qualquer que seja a fonte de rendimentos,
e demais residentes nas áreas urbanas das regiões metropolitanas abrangidas.

Abrangência geográfica: Regiões metropolitanas de Belém, Fort-


aleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto
Alegre, Brasília e município de Goiânia.

Calculado pelo IBGE entre os dias 1º e 30 de cada mês, compõe-


se do cruzamento de dois parâmetros: a pesquisa de preços nas onze regiões de
maior produção econômica, cruzada com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF).

Vê-se, pois que, enquanto o INPC abrange as famílias com rendi-


mentos mensais entre 1 a 5 salários mínimos e é calculado pelo IBGE com base em
pesquisa de preços nas 11 regiões de maior produção econômica cruzada com a
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) - encontro de 2 parâmetros, o IPCA-E, por
sua vez, alcança o patamar familiar de 1 a 40 salários mínimos é calculado também
IBGE de forma direta, abrangendo os seguintes setores: alimentação e bebidas,
habitação, artigos de residência, vestuário,transportes, saúde e cuidados pessoais,
despesas pessoais, educação e comunicação, sendo este último (IPCA-E) mais
abrangente e refletindo a real inflação nos principais setores econômicos que influ-
enciam os gastos familiares de forma real (sem interferência da POF a qual pode
ficar congelada por 5 anos, diversamente do que ocorre na fórmula de cálculo do
INPC que deve ser cruzada com aquela pesquisa).
Não bastasse a eleição de tal índice pelos Tribunais Pátrios, a Lei
de Diretrizes Orçamentárias de 2014 (Lei 12.919/2013), previu no seu artigo 27 que
os precatórios no ano de 2014 serão corrigidos pelo IPCA-E do IBGE:

Art. 27. A atualização monetária dos precatórios, determinada no § 12 do


art. 100 da Constituição Federal, inclusive em relação às causas trabalhis-
tas, previdenciárias e de acidente do trabalho, observará, no exercício de
2014, a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - Es-
pecial - IPCA-E do IBGE. Grifou-se.

Corroborando, ainda, a eleição de tal índice, importa consignar


que em sessão ordinária do Conselho da Justiça Federal - CNJ, ocorrida em
25/11/2011, foi aprovado o novo 'Manual de Cálculos da Justiça Federal' onde
passa a incidir o IPCA-e como indexador de Correção Monetária para as sentenças
condenatórias em geral, conforme se pode verificar no sítio do cjf na internet
(www.cjf.jus.br).

Assim sendo, requer seja aplicado, para fins de dar cumprimento


à atualização monetária dos saldos das contas do FGTS prevista no art. 2º da Lei
8.036/90, o INPC-IBGE, em substituição à TR, desde janeiro do ano de 1999, a par-
tir de quando tal índice deixou de refletir a variação inflacionária da moeda. Além
disso, tais valores deverão ser acrescidos de juros de mora de 1% a.m. (um por
cento ao mês), a contar da citação, até o efetivo pagamento.

Subsidiariamente, requer seja aplicado o outro índice referente à


de correçao monetária que, contudo, represente de forma mais adequda a perda de
poder de compra da moeda no decurso do tempo.
.

7. DOS CÁLCULOS APRESENTADOS.


Anexa-se a presente petição inicial uma planilha de cálculos
matemáticos que apresenta discrimiandamente as diferenças oriundas da aplicação
do índice INPC aos depósitos do FGTS percebidos, descontando, obviamente, os
valores já percebidos pela parte autora no momento dos saques efetuados na conta
vinculada ao FGTS.
A partir da respective planilha de cálculos é possível auferir que a
parte autora tem direito a ser ressarcida no valor de R$ __________________.

08. DO JULGAMENTO DA ADI 5.090 PELO STF.

Sabe-se que o objeto da presente ação, qual seja, a pretensão de


que haja substituição da TR, como índice de correção monetária do FGTS, pelo
INPC ou outro índice oficial, também é objeto da Ação Direta de
Inconstitucionalidade 5.090, que aguarda o seu julgamento pelo Supremo Tribunal
Federal.

Logo, é perfeitamente plausível que a presente ação reste


sobrestada, afim de que a decisão a ser proferida esteja em acordo com o
precedente que a Corte Suprema emitir através de seu julgamento.

Determinada medida visa atender o artigo 926 do Código de


Processo Civil que determina: “Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e
mantê-la estável, íntegra e coerente. ”

Dessa forma, é imprescindível tanto para os Tribunais, como para


os juízos primários, proferir decisões que estejam em conformidade com os
posicionamentos exarados pelo Supremo Tribunal Federal.

Portanto, requer-se o sobrestamento da presente demanda, até o


julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.090 pelo Supremo Tribunal
Federal, afim de que a decisão a ser proferida por este juízo/colegiado observe a
integridade e a coerência com a decisão proferida pela Corte Suprema.

9. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

Preliminarmente, seja declarada a inconstitucionalidade da taxa TR e a falta de ra-


zoabilidade do redutor da mesma;
a) O recebimento e o processamento da presente demanda, com a citação da re-
querida para, querendo, apresentar contestação;

b) Requer a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos


processuais, por ser a Requerente pobre na acepção jurídica do tema;

c) A procedência da ação para declarar o direito da requerente em ter seus depósi-


tos vinculados ao FGTS corrigidos monetariamente por índice que reflita sem per-
das a inflação apurada, garantindo, assim, a recuperação de seu poder aquisitivo,
além da condenação da Caixa Econômica Federal a:

I) Pagar, a seu favor, o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da


aplicação da correção monetária pelo INPC, desde de janeiro de 1999 até os dias
atuais, nas parcelas vencidas e vincendas;

Diferença total estimada na correção pelo INPC na conta da demandante, como


segue na planilha em anexo: ______________________

OU

II) Pagar a seu favor o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da


aplicação da correção monetária por qualquer outro índice que reponha as perdas
inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste Douto Juízo,
desde janeiro de 1999 até os dias atuais.

d) Condenar a requerida a pagar, sobre os valores apurados em conformidade com


os itens acima, correção monetária desde a inadimplência, bem como juros legais;

e) Condenar a suplicada a suportar o pagamento das custas e despesas proces-


suais, inclusive honorários advocatícios sucumbenciais;

f) Subsidiariamente, requer seja declarada a inconstitucionalidade do artigo de Lei


que aplica a TR como índice de correção das contas do FGTS com a adesão cole-
tiva ou individual desta ação.

F) Requer-se o sobrestamento do julgamento da presente ação até o julgamento da


Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.090 pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez
que ambas as ações possuem o mesmo objeto.

G) A prova do quanto alegado pelos meios em direito admitidos, sem exceção de


quaisquer;

Dá-se a causa o valor de R$ _________________

Nestes termos,
Pede deferimento.

Cidade-UF, data.

ADVOGADO
OAB/_______: _______

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