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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA

Turma: 3K - Profa. Mariana Luzia Aron

Ana Luiza Bonato Mariano, 32162405


Ana Luiza do Nascimento, 32167121
Isadora Aikawa da Silveira Abbade, 32179911
Gustavo Gomes Braga Zamarian, 32165226
Maria Vitoria Male Cannalonga, 32174268
Marina Rondon Jallad, 32161034

Prática em Psicologia e Sociedade.

O Impacto da Publicidade Infantil na Erotização Precoce.

São Paulo, 2022


INTRODUÇÃO
Devido ao desenvolvimento tecnológico na contemporaneidade, são perceptíveis as
mudanças quanto a forma pela qual a comunicação direcionada a massa popular ocorre: a
sociedade encontra-se em um constante movimento metamórfico e, consecutivamente, a
mídia, haja vista que esta caracteriza-se como um veículo transportador de ideias, valores e
comportamentos e efetua precisas manobras para atingir sua respectiva audiência. Destarte,
dentro da esfera midiática, propagandas e publicidades são elementos de significativo
impacto social, dado o fato de que possuem alto poder de atuação na geração de desejos,
gostos e preferências da massa popular.
Assim sendo, quando estas ferramentas midiáticas encaminham-se ao público infantil,
tornam-se ainda mais influentes ao considerar-se que a criança não é capaz de distinguir, por
intermédio moral, entre o que é valioso e deve ser reproduzido e o que há de ser descartado
por apresentar malefícios à sua integridade e segurança. Isto posto, é notável o quanto a
publicidade infantil deleita-se da ingenuidade de seu público e apresenta a este materiais que
cabem somente à vida adulta, provocando o que é nomeado de erotização precoce —
processo que resulta na adultização de gestos, comportamentos e preferências de crianças
através da exibição de estímulos inadequados, usualmente por meio de portais midiáticos.
Além disso, para melhor aprofundar o tópico apresentado, foi realizada uma entrevista
com Susete Figueiredo, professora e psicóloga infantil, há cerca de 35 anos.
Em síntese, o processo de erotização e adultização precoce é acarretado por uma
variedade de fatores mas, especialmente, pela mídia e pela propaganda. Assim sendo, é
gerado um impacto expressivo no desenvolvimento da identidade das crianças ao serem
ignoradas importantes etapas do desenvolvimento infantil, as colocando em uma posição de
vulnerabilidade e perigo, além das questões psicológicas que podem tornar-se explícitas.

MÉTODO
O método o qual foi utilizado para a realização da presente apresentação descreve-se
por pesquisa qualitativa, sendo esta caracterizada por uma metodologia de caráter
exploratório em que é visada a intelecção das experiências profissionais do sujeito
entrevistado, nesse caso, no ramo da psicologia infantil. Sendo assim, por meio deste método,
é possível maior profundidade no entendimento acerca do assunto.
Adicionalmente, a entrevista realizada com Susete Figueiredo, psicóloga infantil e
professora universitária, foi produzida de modo semi estruturado por meio de um breve
roteiro, o que permite a conversação e diálogo livre entre os entrevistadores e o entrevistado.
E, em conclusão, foi utilizada uma seleção de artigos e textos para a construção do
embasamento teórico da pesquisa e da construção do roteiro da entrevista.

OBJETIVO GERAL
O presente estudo tem como objetivo a apresentação da problematização do impacto
da mídia em relação à erotização infantil e, mais especificamente, o impacto da publicidade
que, como forma de gerar lucro, trata crianças de forma “adultizada” em prol do consumismo.

OBJETIVO ESPECÍFICO
Foi realizada uma entrevista com a psicóloga infantil Susete Figueiredo, com o
objetivo de averiguar as consequências da erotização infantil na vida das crianças e
comprovar a influência da mídia e da publicidade na contínua sexualização de corpos infantis.

REVISÃO LITERÁRIA
É a partir do século XX que a criança passa a ter seu lugar na sociedade, que
iniciam-se os estudos sobre a psicologia e o desenvolvimento físico e social da infância. Além
disso, discute-se a posição do infante na sociedade o que, por consequência, acarreta no
crescimento do papel da criança dentro do mercado consumidor. Porém, é no século XXI que
o impacto juvenil atinge seu ápice dentro de uma ótica de mercado e passam a ser criados
diversas espécies de produtos e mídias focalizadas exclusivamente nessa faixa etária, que, por
sua vez, consegue mais facilmente atingir seu público alvo devido à facilidade ao acesso ao
conteúdo que a internet proporciona. A mídia ganha um papel tão significante na formação
social do infante que passa a ter um mesmo poder (ou, em alguns casos, mais poder) de
influência do que a família, a escola e a igreja, por exemplo.
Nesse aspecto, é a partir do enorme fluxo de informações, filmes, músicas, danças,
padrões e modos de agir que a criança forma grande parte de sua personalidade e esse
processo ocorre devido à crença por parte da mesma de que o padrão exibido midiaticamente
é o padrão socialmente esperado para ela. Sendo assim, "as crianças atribuem poder aos
personagens que a televisão apresenta e, ao mesmo tempo, estabelecem um vínculo afetivo
(BELLONI, GOMES, 2008 p. 718-723)” e, ao verem personalidades e ídolos, usando um
determinado modelo de vestimentas ou performando 'sensualmente', passam a reproduzir
esses comportamentos e a os normalizarem, o que seria uma das grandes causas do processo
de sexualização extremamente precoce.
Segundo Silva (2007), podemos definir erotização infantil como uma forma de
emergir a sexualidade precocemente trazendo questões sociais que não deveriam ser tratadas
com uma criança, uma vez que ela não possui discernimento de compreender o efeito e as
consequências desse processo.
“A criança é estimulada a imitar a sexualidade adulta, sem amadurecimento
psicológico para isso. Como consequência, estudos indicam que o excesso de excitação pode
diminuir o interesse e a capacidade para se concentrar, refletir, para se sentir capaz, e
desenvolver saudavelmente a sua identidade. Este estímulo impedirá a criança de vivenciar
experiências lúdicas fundamentais para o progresso da imaginação e formação no convívio
afetivo entre outras crianças (SBORQUIA, 2002)”, exemplos dessa sexualização são
facilmente notados ao observarmos crianças de 5 anos falando que namoram, ou algumas um
pouco mais velhas fazendo danças sensuais e postando na internet.
Em síntese, o processo de erotização e adultização precoce é acarretado por uma
variedade de fatores mas, especialmente, pela mídia e pela propaganda. Assim sendo, é
gerado um impacto expressivo no desenvolvimento da identidade das crianças ao serem
ignoradas importantes etapas do desenvolvimento infantil, as colocando num lugar de
vulnerabilidade e perigo, além das questões psicológicas que podem tornar-se explícitas.

ANÁLISE CRÍTICA

Ao abordarmos a erotização infantil por meio do escopo da publicidade, uma das


primeiras características demonstradas explicitamente é a prática discursiva, guiada e mantida
por relações de poder e mediada pela linguagem. Segundo o autor John Austin, a linguagem
possui um caráter performático, ou seja, é a capacidade da língua de criar diferentes
realidades. Nesse sentido, ao analisarmos o ramo publicitário, principalmente para o público
infantil, é possível estabelecer um paralelo: as crianças tendem a buscar inspiração nessas
propagandas, que são capazes de criar seu produto cultural, articulados com práticas
econômicas, políticas e sociais. Esse discurso voltado para as crianças traz um apelo
emocional e social, gerando grande influência sobre suas personalidades. Elas moldam um
cenário social difícil de ser reproduzido pelos telespectadores e, dessa forma, incentivam o
consumo desenfreado de redes sociais que retratam os corpos infantis de forma adultizada. À
exemplo disso, tem-se a divulgação de músicas e videoclipes, que tornam-se tendências ao
usarem danças fáceis de serem reproduzidas e de cunho sexual, incitando crianças a
participarem e inclusive a publicarem seus vídeos nas redes.
Acerca da exposição infantil nas redes sociais, Figueiredo aponta:

“A própria imagem que se utiliza da criança na mídia já é uma


exposição terrível. Acho que o ponto de partida é aí, você não precisa ir
muito longe, entrar em grandes sites para ver essa exposição. O acesso
também é uma questão, pois eles (os mais jovens) encontram tudo com
muita facilidade”

Dessa maneira, torna-se nítido como os infantes são explorados pelo mundo
publicitário, o que acarreta uma série de padrões e comportamentos em detrimento de seu
desenvolvimento cognitivo devido a ausência de um julgamento moral nessa faixa etária no
que se refere a distinção entre o que é certo ou errado, o que deve ser reproduzido ou
descartado. A respeito desta questão, a psicóloga infantil cita:

“Essa criança (que é influenciada pela mídia) está pulando


muitas etapas [...] Ela ser exposta a muita estimulação faz com que ela
deixe de viver as etapas do desenvolvimento infantil, o que pode
prejudicar muito o cognitivo da criança, pois essa erotização vem com
um retorno muito rápido e a aprendizagem não acontece dessa forma.”

Para mais, é importante destacar como a mídia, particularmente em seu âmbito


comercial, possui como significativo alvo o público feminino — nesse cenário, jovens
meninas. Neste aspecto, é razoável a afirmação de que o consumismo é abundantemente
incentivado às mulheres, especialmente as crianças, haja vista que estas possuem maior
suscetibilidade à intervenção externa por serem jovens . “As meninas explicitam mais (o
impacto da erotização), desde a roupa que elas usam até a identificação com as músicas, então
elas expressam com mais facilidade”, comenta a entrevistada, “Quando falamos de
convivências e acesso, os dois lados (meninos e meninas) têm acesso, mas quanto a
reprodução dessa sexualização, as meninas ficam mais ‘ligadas’, principalmente em relação a
maquiagem, cabelo e a ficarem bonitas”, complementa Figueiredo. Sendo assim, embora o
processo da sexualização infantil ocorra em ambos os gêneros, é mais expressiva e
preocupante a forma pela qual o mesmo atinge crianças do sexo feminino, o que exige
atenção e cuidado em relação a seus corpos e sua integridade física.
Por conseguinte, a abordagem da educação sexual torna-se necessária, à vista do fato
de que a normalização da adultização de corpos infantis traz consigo uma maior
vulnerabilidade ao abuso desses mesmos corpos. Em referência à necessidade da conversa a
respeito da sexualidade na infância, a professora apresenta: “Eu sou a favor desde cedo (da
educação sexual nas escolas) e me apoio muito no plano nacional da educação que garante a
educação sexual respeitando cada faixa etária”, e “Para as crianças é ensinado os cuidados
com o próprio corpo, que é uma forma de educação sexual”. Isto posto, há de se ressaltar a
importância de educar crianças acerca da sexualidade, destacando a forma como seus corpos
devem ser respeitados e cuidados para que, assim, torne-se possível que as mesmas não
permitam serem influenciadas e guiadas pelo caminho da erotização precoce, tão propagada
pelas grandes corporações midiáticas e pelo mercado de consumo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os aspectos observados, é notável que o impacto da publicidade na


erotização precoce apresenta uma finalidade maléfica para as crianças, principalmente as que
estão em sua fase inicial de desenvolvimento, haja vista que o retorno a essa exposição
acontece de maneira rápida, prejudicando o processo de aprendizagem destas. O presente
trabalho tem como objetivo ressaltar a importância da abordagem da educação sexual, e de
questionar o objetivo da mídia ao direcionarem conteúdos adultizados para o público infantil,
considerados mais “influenciáveis” por estarem em um período de descoberta, sobre o
mundo, e sobre o que é certo ou errado, e a mídia por si só pode estar relacionada ao processo
de construção de ideias e valores, principalmente para estas crianças.
Podemos afirmar que em um mundo de consumismo desenfreado, em que as massas
capitalistas sustentam um ciclo vicioso de consumo, os infantes são os mais prejudicados,
expostos ao imediatismo da mídia, buscam suprir um “vazio” que é estabelecido a eles a
partir da quantidade de informação que os é imposta, sem conseguir diferenciar o que é real
do que é fantasioso, trazendo sofrimento por não conseguirem cumprir com o papel que lhes é
apresentado. Assim, a partir de uma revisão bibliográfica e de uma entrevista com uma
profissional da saúde, psicóloga, atuante na área infantil, pudemos concluir que esse
fenômeno não é recente e muito menos natural, é estruturado culturalmente através dos anos,
e tem objetivos bem demarcados, sustentados pela sociedade política e econômica.

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