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EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ______ VARA FEDERAL DA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ____________

, brasileiro, estado civil, profissão, portador da cédula de


identidade RG. xxxxx SSP/SP, regularmente inscrito no CPF
sob n.º xxxxxxx, residente e domiciliado na xxxxxxx , Cidade -
UF, CEP 0 xxxxxxx , telefone (xx) xxxxxxx , e-
mail: xxxxxxx@hotmail.com , por seus representantes judiciais
(Procuração Ad Judicia – anexa) que subscrevem a exordial,
Dr. xxxxxxx , inscrito na OAB/xx sob o nº xxxxxxx e xxxxxxx ,
inscrito na OAB/xxsob o nº xxxxxxx , ambos com escritório na
xxxxxxx endereço eletrônico xxxxxxx@ol.com.br, vem, mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, propor:
AÇÃO DE REVISÃO DO FGTS
Em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa
pública, inscrita no CNPJ sob o nº xxxxxxx que deverá ser
citada, por meio de seu representante legal, no xxxxxxx pelos
motivos de fato e de direito a seguir colacionados

DOS FATOS
A parte Autora é optante do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço – FGTS, possuindo algumas contas vinculadas ao FGTS
ao longo de sua vida laboral, conforme cópias das Carteiras de
Trabalho e Previdência Social em anexo.

Nesse contexto, a Caixa Econômica Federal vem lesando os


trabalhadores desde 1991, ao aplicar ao saldo das contas de
FGTS, como índice de correção monetária, a Taxa Referencial
(TR).

Nesse sentido, a Lei nº 8.036/90, que rege o Fundo de


Garantia do Tempo de Serviço, prevê que a Caixa Econômica
Federal deve depositar nas contas de FGTS a correção
monetária e os juros devidos.
Já a Lei 8.177/91 prevê que, a partir de fevereiro de 1991, o
FGTS deve ser remunerado pela taxa aplicável à remuneração
básica dos depósitos de poupança e pelas taxas de juros
previstas na legislação do FGTS em vigor, sendo essas taxas de
juros, consideradas como adicionais à remuneração pela taxa
aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança.
Ocorre que, a taxa aplicável à remuneração básica dos
depósitos de poupança desde 1991 é a Taxa Referencial -
TR, que não é índice de correção monetária plausível
a remunerar os trabalhadores, pois não reflete a
inflação do período.
Dessa forma, desde 1991 a Caixa Econômica Federal deixou de
aplicar índice de correção monetária as contas de FGTS,
aplicando apenas os juros remuneratórios consistentes na taxa
referencial acrescida dos juros legais previstos na legislação do
FGTS.

De outro lado, tendo em vista que a TR não reflete a inflação, e


que desde 1999 se encontra progressivamente abaixo dos
índices inflacionários, com diferença de até 6% ao ano, a
utilização dos índices da TR como índice de correção
monetária, vem causando sérios prejuízos ao trabalhador.

Por esse motivo a parte Autora ingressa com a presente


demanda.

DO DIREITO
A Constituição Federal garante ao trabalhador, no tópico
referente aos direitos sociais a formação de um Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço – FGTS (art. 7, inciso III).
Ou seja, o FGTS foi criado para proteger o trabalhador, com a
garantia de que terá uma reserva financeira em casos de
necessidade, como no desemprego involuntário, ou para
facilitar a aquisição de imóvel ou ainda para garantir melhores
condições na velhice ou em caso de doença, como ocorre na
hipótese de aposentadoria.

Dessa forma, para que se efetive o intuito de proteger o


trabalhador é imperioso que os depósitos em conta de FGTS
sejam atualizados por índice de correção monetária que
garanta a recuperação do valor da moeda frente ao processo
inflacionário ocorrido durante o período em que o dinheiro
trabalhador permaneceu aplicado na conta de FGTS.

Diante disto, ao ser depositado na sua conta de FGTS, o


valor passa a integrar o patrimônio do trabalhador.
Tal situação não poderia ter outra interpretação, na medida
que com o falecimento do mesmo o eventual saldo não é
restituído à empresa, mas repassado aos dependentes
previdenciários, ou na falta destes, aos seus sucessores
(art. 20, IV, da Lei Federal nº 8.036/90).
Portanto, sendo propriedade do trabalhador, incide a proteção
constitucional do direito de propriedade (art. 5º, XXI, CF).
Diante desta perspectiva, ao impor a poupança forçada do seu
patrimônio, os valores depositados em contas do FGTS,
evidentemente, devem receber correção monetária, a fim de
garantir a própria subsistência do direito de propriedade.

Acrescente-se a isso as singularidades do FGTS, ou seja, cuida-


se de um pecúlio constitucional obrigatório, não portável e com
prazo indefinido. Ou seja, não há possibilidade do trabalhador
titular de transferir seus recursos para aplicações mais
rentáveis, mais bem geridas ou mais seguras. Logo, é do
núcleo essencial do art. 7º, III, da CF/1988 que o
Fundo de Garantia seja preservado, ao menos, da
inflação.
Nessa esteira, a não aplicação de correção monetária idônea a
refletir o processo inflacionário acaba por ferir de morte o
direito de propriedade do trabalhador, tendo em vista que seus
depósitos na conta de FGTS não podem ser sacados a qualquer
momento, acarretando em enriquecimento ilícito da Caixa
Econômica Federal, que no final das contas irá lucrar com o
empobrecimento do trabalhador.

Aliás, o FGTS foi criado para proteger o trabalhador, com a


garantia de que terá uma reserva financeira em casos de
necessidade. Ora, se o trabalhador não possui livre disposição
da sua reserva financeira, somente podendo dispor dela em
momento posterior, a não incidência de correção monetária
capaz de refletir a inflação obviamente acarreta em prejuízo
flagrante do seu direito de propriedade.

Dessa forma, para que se efetive o intuito de proteger o


trabalhador é imperioso que os depósitos em conta de FGTS
sejam atualizados por índice de correção monetária que
garanta a recuperação do valor da moeda frente ao processo
inflacionário ocorrido durante o período em que o dinheiro
trabalhador permaneceu aplicado na conta de FGTS.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DA
TAXA REFERENCIAL (TR) COMO CRITÉRIO DE
CORREÇÃO MONETÁRIA
No caso do FGTS, a matéria é disciplinada no art. 13 da
Lei 8.036/90 e no art. 17 da Lei 8.177/91:
Lei Federal nº 8.036/1990:
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados
para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e
capitalização juros de (três) por cento ao ano.

Lei Federal nº 8.177/1991


Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
passam a ser remunerados pela taxa aplicável à
remuneração básica dos depósitos de poupança com
data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade
mensal para remuneração.
Parágrafo único. (...) (grifado)

Em suma, os saldos das contas de FGTS são sujeito a dois


índices:

a) O primeiro é o índice de 3% ao ano, referente a capitalização


de juros, prevista no final do caput art. 13 da Lei 8.036/90; e
b) O segundo índice, que deveria ser o responsável pela
atualização monetária, é aquele equivalente aos “parâmetros
fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança”
(caput art. 13 da Lei 8.036/90), o qual, desde a edição do
art. 17, caput, da Lei Federal nº 8.177/1991, é a Taxa
Referencial (TR).
Ocorre que a adoção da Taxa Referencial como critério de
atualização monetária não é capaz atualmente de refletir
idoneamente o fenômeno inflacionário. Um dos motivos se dá
pela alteração que a TR foi sofrendo ao longo do tempo.
Inicialmente, a TR foi criada para remunerar as cadernetas de
poupança com a expectativa de inflação futura no período de
aplicação, no lugar da inflação passada. Desindexava-se, assim,
a caderneta de poupança (principal ativo financeiro na época)
dos índices de inflação passada.

Ocorre que anteriormente à Lei nº 8.981/95, o imposto de


renda incidente sobre as aplicações financeiras tinha como
base de cálculo apenas o “rendimento real”, isto é, acima da
inflação, e diversos foram os índices de correção monetária
utilizados pelo Fisco (OTN, BTN, BTN-fiscal e, por fim, UFIR)
para identificar o “rendimento real”. Todavia, com a edição da
referida lei, passou-se a incidir o imposto de renda sobre
a remuneração total das aplicações.
Nesse sentido, a fim de evitar uma transferência em massa de
capitais investidos em títulos públicos e privados para a
caderneta de poupança, alterou-se a metodologia de cálculo da
TR (Resolução CMN 2.604, de 23/04/1999), desvinculando-se
inclusive da inflação futura, foco inicial da TR.

Diante do exposto, pede-se vênia para expor o entendimento já


exarado pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal em sede de
controle concentrado de constitucionalidade no sentido de que
a TR não mais reflete idoneamente o fenômeno inflacionário.

Veja-se trecho do voto do Ministro Ayres Britto na ADI nº


4425:
20.O que determinou, no entanto, a Emenda Constitucional nº
62/2009? Que a atualização monetária dos valores inscritos
em precatório, após sua expedição e até o efetivo pagamento,
se dará pelo “índice oficial de remuneração básica da caderneta
de poupança”. Índice que, segundo já assentou este Supremo
Tribunal Federal na ADI 493, não reflete a perda de poder
aquisitivo da moeda . 9 Cito passagem do minucioso voto do
Ministro Moreira Alves:
“Como se vê, a TR é a taxa que resulta, com a utilização das
complexas e sucessivas fórmulas contidas na Resolução nº
1085 do Conselho Monetário Nacional, do cálculo da taxa
média ponderada da remuneração dos CDB/RDB das vinte
instituições selecionadas, expurgada esta de dois por cento que
representam genericamente o valor da tributação e da ‘taxa
real histórica de juros da economia’ embutidos nessa
remuneração. Seria a TR índice de correção monetária, e,
portanto, índice de desvalorização da moeda, se
inequivocamente essa taxa média ponderada da remuneração
dos CDB/RDB com o expurgo de 2% fosse constituída apenas
do valor correspondente à desvalorização esperada da moeda
em virtude da inflação. Em se tratando, porém, de taxa de
remuneração de títulos para efeito de captação de recursos por
parte de entidades financeiras, isso não ocorre por causa dos
diversos fatores que influem na fixação do custo do dinheiro a
ser captado. (...) A variação dos valores das taxas desse custo
prefixados por essas entidades decorre de fatores econômicos
vários, inclusive peculiares a cada uma delas (assim, suas
necessidades de liquidez) ou comuns a todas (como, por
exemplo, a concorrência com outras fontes de captação de
dinheiro, a política de juros adotada pelo Banco Central, a
maior ou menor oferta de moeda), e fatores esses que nada têm
que ver com o valor de troca da moeda, mas, sim – o que é
diverso -, com o custo da captação desta.”

21.O que se conclui, portanto, é que o § 12 do


art. 100 da Constituição acabou por artificializar o conceito
de atualização monetária. Conceito que está
ontologicamente associado à manutenção do valor
real da moeda. Valor real que só se mantém pela
aplicação de índice que reflita a desvalorização dessa
moeda em determinado período. Ora, se a correção
monetária dos valores inscritos em precatório deixa de
corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda, o direito
reconhecido por sentença judicial transitada em julgado será
satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em
ambas as hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das
partes da relação jurídica. E não é difícil constatar que a parte
prejudicada, no caso, será, quase que invariavelmente, o credor
da Fazenda Pública. Basta ver que, nos últimos quinze anos
(1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de remuneração
da poupança) foi de 55,77%, a inflação foi de 97,85%,
de acordo com o IPCA.
22.Não há como, portanto, deixar de reconhecer a
inconstitucionalidade da norma atacada, na medida
em que a fixação da remuneração básica da caderneta
de poupança como índice de correção monetária dos
valores inscritos em precatório implica indevida e intolerável
constrição à eficácia da atividade jurisdicional. Uma afronta à
garantia da coisa julgada e, por reverberação, ao protoprincípio
da separação dos Poderes.
Ademais, há de se relembrar que a TR é fixada ex ante, ou seja,
a partir de critérios técnicos que não levam em conta a
desvalorização da moeda empiricamente realizada.
Nesse sentido, transcrevem-se trechos do brilhante voto do
Ministro Luiz Fux ao julgar o Tema 810 desta Egrégia Corte:

Nota-se, pois, que a remuneração da caderneta de


poupança – diferentemente de qualquer outro índice
oficial de inflação – é sempre prefixada, seja na parte já
prevista na lei (0,5% ao mês ou 70% da meta da taxa Selic ao
ano, consoante as hipóteses do inciso II), seja na parte fixada
pelo Banco Central (a Taxa Referencial relativa à respectiva
data de aniversário, na forma do inciso I, atualmente calculada
com base em CDBs e RDBs prefixados). Essa circunstância
deixa patente a desvinculação entre a evolução dos
preços da economia e a remuneração da caderneta de
poupança, o que a impede de caracterizar-se, quer sob
o ângulo formal (lógico-conceitual) quer sob o ângulo
material (técnico-metodológico), como termômetro
da inflação.
[...]

Em terceiro lugar, a inidoneidade se manifesta em


perspectiva histórico-jurisprudencial. O próprio
Supremo Tribunal Federal já decidiu que a TR não é,
em abstrato, idônea a capturar a perda do poder
aquisitivo da moeda. Ao julgar a ADI nº 493, o plenário
desta Corte entendeu que o aludido índice não foi criado para
captar a variação de preços na economia. Eis trecho
esclarecedor da ementa e do voto condutor do acórdão, lavrado
pelo Min. Moreira Alves:
Ementa: (…) A taxa referencial (TR) não é índice de
correção monetária, pois, refletindo as variações do
custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo,
não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda.
Trecho do Voto: “(...) o índice de correção monetária é um
número-índice que traduz, o mais aproximadamente possível,
a perda do valor de troca da moeda, mediante comparação,
entre os extremos de determinado período, da variação do
preço de certos bens (mercadorias, serviços, salários, etc.),
para a revisão do pagamento de obrigações que deverá ser feito
na medida dessa variação. (…) É, pois, um índice que se
destina a determinar o valor de troa da moeda, e que, por isso
mesmo, só pode se calculado com base em fatores econômicos
exclusivamente ligados a esse valor. Por isso, é um índice
neutro, que não admite, para seu cálculo, se levem em
consideração fatores outros que não os acima referidos. (…)
não é isso que ocorre com a Taxa Referencial (TR), que
não é o índice de determinação do valor de troca da
moeda, mas, ao contrário, índice que exprime a taxa
média ponderada do custo de captação da moeda por
entidades financeiras para sua posterior aplicação por
estas. A variação dos valores das taxas desse custo
prefixados por essas entidades decorre de fatores
econômicos vários, inclusive peculiares a cada uma
delas (assim, suas necessidades de liquidez) ou
comuns a todas (como, por exemplo, a concorrência
com outras fontes de captação de dinheiro, a política
de juros adotada pelo Banco Central, a maior ou
menor oferta de moeda), e fatores esses que nada têm
a ver com o valor de troca da moeda, mas, sim – o que
é diverso -, com o custo da captação desta. Na formação
desse custo, não entra sequer a desvalorização da moeda (sua
perda de valor de troca), que é a já ocorrida, mas – o que é
expectativa com os riscos de um verdadeiro jogo – a previsão
da desvalorização da moeda que poderá ocorrer”. (ADI nº 493,
rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, j. em 25/06/1992, DJ
04-09-1992)
No mesmo sentido se manifestou o Ministro Celso de Mello:

“O caráter eminentemente remuneratório da TR foi


reconhecido, de modo expresso, pela própria Lei nº 8.177/91
em seus arts. 12, 17 e 39. Esse aspecto – que assume inegável
essencialidade na análise do tema – revela-se bastante para
descaracterizar a pretendida natureza da TR como índice de
atualização monetária”. (ADI nº 493, rel. Min. Moreira Alves,
Tribunal Pleno, j. em 25/06/1992, DJ 04-09-1992) Mais
recentemente, no julgamento das ADIs nº 4.357 e 4.425, o
Supremo Tribunal Federal reiterou essa compreensão ao
pontuar a inidoneidade prima facie da remuneração da
caderneta de poupança para mensurar o fenômeno
inflacionário, como ficou registrado na ementa: “(...) a
inflação, fenômeno tipicamente econômico
monetário, mostra-se insuscetível de captação
apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido
pelo legislador constituinte (remuneração da
caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim
a que se destina (traduzir a inflação do período)”. (ADI
nº 4.357, rel. Min. Ayres Britto, relator p/ acórdão Min. Luiz
Fux, Tribunal Pleno, j. 14/03/2013, DJe-188 de 25-09- 2014)
[...]

Ora, se o Estado não utiliza a caderneta de poupança


como índice de correção quando tem o objetivo de
passar credibilidade ao investidor ou de atrair
contratantes, é porque tem consciência de que o
aludido índice não é adequado a medir a variação de
preços na economia.
Ainda, a fim de demonstrar o completo distanciamento da TR
dos índices que tradicionalmente são utilizados para
atualização monetária, segue tabela comparativa:
Observando-se a tabela acima, verifica-se que até meados de
1999 os índices do IPCA e da TR estavam muito próximos, mas
a partir do segundo semestre de 1999 aconteceu um
descolamento, com os índices da TR quase sempre muito
inferiores ao IPCA, chegando ao final do período com TR igual
ou muito próxima de 0%. O descolamento se deu, basicamente,
a partir da metodologia iniciada pela já mencionada Resolução
CMN nº 2.604, de 23/04/1999, com efeitos a partir de
01/06/1999.

Nessa esteira, hoje, o trabalhador que tem seu dinheiro


aplicado no FGTS, e de lá não pode retirá-lo para outro
investimento, está sendo remunerado com 3% de juros ao ano
e nada mais. Não há nem correção monetária nem Taxa
Referencial (independentemente de sua natureza jurídica) em
flagrante ofensa ao art. 2º da Lei nº 8.036/90, que impõe a
correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
Diante destas considerações, o entendimento fixado pelo
STJ no REsp nº 1614874 (“a remuneração das contas
vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei,
que estabelece a TR como forma de atualização
monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder Judiciário
substituir o mencionado índice”) se mostra totalmente
equivocado, eis que assume que a TR é forma de atualização
monetária, violando frontalmente o entendimento da
Suprema Corte no sentido de que “a taxa referencial
(TR) não é índice de correção monetária”.
Assim, a utilização da TR como forma de correção dos saldos
das contas de FGTS tem gerado uma gigantesca destruição do
valor do patrimônio do trabalhador. Há anos, os trabalhadores
que têm depósitos no FGTS não experimentam ganhos reais.
Ao contrário, há muito tempo os trabalhadores têm
rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a
remuneração dos juros de 3% ao ano previstos no art. 13 da
Lei 8.036/90.
Giza-se que em nenhum momento se defende aqui a
inconstitucionalidade da Taxa Referencial (TR) como índice de
remuneração básica dos depósitos de poupança. Quem coloca
seu dinheiro na poupança o faz por vontade própria, por outro
lado, o trabalhador não possui o direito de escolher em qual
fundo seus saldos do FGTS irão ser aplicados.

Nesse sentido, o que se assevera aqui, tal como decidido


pelo Supremo Tribunal Federal, é a
inconstitucionalidade da utilização da TR como índice
de correção monetária, porque de captação
apriorística (ex ante) e, como tal, totalmente
desvencilhado do real fenômeno inflacionário, não
correspondente à real garantia constitucional de
propriedade e incompatível com a obrigatoriedade e a
ausência de portabilidade dos depósitos do Fundo de
Garantia.
Diante destas premissas verifica-se a violação dos
arts. 5º, XXII (direito de propriedade) e 7º, III (direito ao
FGTS), ambos da Constituição Federal, na medida em que o
trabalhador está sofrendo verdadeiro confisco do Governo
Federal, que se apropria de sua propriedade (saldos do FGTS),
aplicando correção monetária que sequer repõe as perdas
inflacionárias, violando o núcleo essencial do direito
fundamental ao FGTS.
Assim, em face do exposto, deve se declarar
inconstitucional a expressão “com base nos parâmetros
fixados para atualização dos saldos dos depósitos de
poupança” do do art . 13 da Lei Federal nº 8.036/1990 e
o caput caput do art. 17 da Lei Federal nº 8.177/1991 –
dispositivos os quais impõem a correção dos
depósitos nas contas vinculadas do FGTS pela Taxa
Referencial (TR), determinando que a partir de 1999 a
correção monetária das contas de FGTS deixe de ser feita pela
TR, passando a ser realizada pelo INPC ou pelo IPCA, eis que
estes são capazes de refletir a inflação.
DA EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL
A decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal no Tema
787 (proferida em 11/12/2014), na qual supostamente afirmou-
se não existir Repercussão Geral acerca da matéria que versa
sobre a constitucionalidade da utilização da Taxa Referencial
(TR) para correção dos saldos das contas do FGTS, não se
mantém mais íntegra, seja ante ao firme
posicionamento da atual jurisprudência dominante do
STF, seja pelas alterações nas premissas fático-
jurídicas acerca da matéria.
Observem, nobres julgadores, que a decisão do Tema 787 (ARE
848.240/RN) foi tomada por maioria, e com a premissa de que
o STF “afirmou a legitimidade da Taxa Referencial (TR) como
índice de atualização de obrigações”:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. FGTS. DEPÓSITOS EFETUADOS NA CONTA
VINCULADA. ÍNDICE DE CORREÇÃO MONETÁRIA.
APLICAÇÃO DA TAXA REFERENCIAL. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO
GERAL. 1. Esta Suprema Corte, em diversas
manifestações de seu órgão plenário, afirmou a
legitimidade da Taxa Referencial (TR) como índice de
atualização de obrigações, com a única ressalva da
inviabilidade de sua aplicação retroativa para alcançar
situações pretéritas. Nesse sentido: ADI 493-MC, Rel. Min.
MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, DJ de 4/9/1992; ADI 768-
MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, DJ de
13/11/1992; ADI 959-MC, Rel. Min. SYDNEY SANCHES,
Tribunal Pleno, DJ de 13/5/1994. 2. Assim sendo, o exame da
inaplicabilidade da TR em situações específicas pertence ao
domínio da legislação ordinária pertinente a cada caso, a
significar que eventual ofensa à Carta Magna seria apenas
reflexa. 3. Portanto, é de natureza infraconstitucional a
controvérsia relativa à aplicação da TR como índice de
correção monetária dos depósitos efetuados em conta
vinculada do FGTS, fundada na interpretação das
Leis 7.730/89, 8.036/90 e 8.177/91. 4. É cabível a atribuição
dos efeitos da declaração de ausência de repercussão
geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou
quando eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma
indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE,
DJe de 13/03/2009). 5. Ausência de repercussão geral da
questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC. (ARE
848240 RG, Relator (a): Min. TEORI ZAVASCKI, julgado em
11/12/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 18-
12-2014 PUBLIC 19-12-2014 - grifado)
Todavia, conforme já amplamente exposto, o Pretório Excelso
já assentou na ADI 4425 e mais recentemente ao julgar o RE
870947 (Tema 810) que “a taxa referencial (TR) não é índice
de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo
primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não
constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da
moeda” e que “não há como, portanto, deixar de reconhecer a
inconstitucionalidade da norma atacada, na medida em que a
fixação da remuneração básica da caderneta de poupança
como índice de correção monetária”.
Nesse sentido, já foi decidido pela Suprema Corte que a
TR, enquanto índice de correção monetária, é
INCONSTITUCIONAL, pois “não constitui índice que
reflita a variação do poder aquisitivo da moeda”.
Ainda, fora proposta a Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 5090, sob relatoria do Ministro
Roberto Barroso, que assim asseverou em sua decisão que
recebeu a ação:
Estão presentes os requisitos legais. A relevância da
matéria é evidente, sendo pertinente a participação das
requerentes – a primeira, porque assiste centenas de
trabalhadores em demandas relativas à atualização do FGTS; e
a segunda, porque atua como agente operador do FGTS.
Aliás, cumpre ressaltar que o Supremo Tribunal
Federal já reconheceu a possibilidade de revisão da
decisão que em um primeiro momento reconhece
inexistência de Repercussão Geral, por alteração nas
premissas fático-jurídicas.
Observem a dicção do Informativo nº 605 da Suprema Corte
acerca do tema:

Repercussão Geral e Alteração nas Premissas Fático-


Jurídicas - 1
O Plenário resolveu questão de ordem no sentido
de reconhecer a repercussão geral da matéria
discutida em recursos extraordinários, relativa à
possibilidade, ou não, de se aplicar a alíquota máxima do
Imposto de Renda de Pessoa Física aos valores recebidos
acumuladamente pelo beneficiário, por culpa exclusiva da
autarquia previdenciária. Com base nisso, reformou decisão
monocrática da Min. Ellen Gracie, que não admitira
os recursos, dos quais relatora, ao fundamento de que a
questão já teria sido considerada “sem repercussão
geral” no âmbito do Plenário Virtual. No caso, após o
STF haver deliberado que o tema versado nos autos não
possuiria repercussão geral, o TRF da 4ª Região declarara a
inconstitucionalidade, sem redução de texto, do art. 12 da
Lei 7.713/88, o qual determina a incidência do Imposto de
Renda no mês do recebimento de valores acumulados sobre o
total dos rendimentos. A União, ao alegar a superveniente
alteração nas premissas fático-jurídicas, sustentava, em sede
de agravo regimental, que os recursos extraordinários
interpostos com fulcro no art. 102, III, b, da CF teriam
repercussão geral presumida. RE 614232 AgR-QO/RS, rel.
Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232) RE 614406 AgR-
QO/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232)
Nesse interim, verifica-se que o Pretório Excelso autoriza a
revisão da decisão que em um primeiro momento aduz que
inexiste repercussão geral.

A alteração fática se dá em razão do crescimento


impremeditável do número de ações que versam sobre a
matéria no Poder Judiciário. Quando julgado o Tema 731 do
STJ, mais de 409 mil ações aguardavam o referido
julgamento[1]. Ainda, cumpre salientar que após o julgamento
que não reconheceu repercussão geral na matéria, em 2014, a
inflação anual acumulada em 2015, segundo o IPCA, foi
de 10,67%, enquanto que a TR acumulada para o mesmo ano
foi de 1,79%!![2]
A alteração jurídica se dá pelo atual entendimento
dominante, julgado em Repercussão Geral (Tema 810) e em
sede de controle concentrado de constitucionalidade (ADI
4425), no sentido de que a Taxa Referencial enquanto
índice de correção monetária é inconstitucional.
Sob o tema, o art. 1.035, § 3º, I do CPC dispõe
que sempre haverá repercussão geral quando o recurso
impugnar acórdão que contrarie jurisprudência
dominante do STF:
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão
irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a
questão constitucional nele versada não tiver repercussão
geral, nos termos deste artigo.

§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso


impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal;
Nesse ínterim, é necessário que o Supremo Tribunal Federal
reveja o seu posicionamento acerca da existência de
Repercussão Geral sobre a matéria, em face da alteração e
consolidação da sua jurisprudência acerca da
constitucionalidade da TR como índice de correção monetária
e das alterações fáticas supervenientes ao julgamento de 2014,
com crescimento descontrolável da inflação e do número de
ações que versam sobre o tema, que foram afetadas pelo
julgamento do STJ no REsp Repetitivo nº 1614874.
DA ADI 5090 DO STF
Desde 2019 houve determinação do STF para suspensão de
todos os processos que versem sobre a matéria, em sede de
medida cautelar na ADI 5090 do STF:

Considerando: (a) a pendência da presente ADI 5090, que


sinaliza que a discussão sobre a rentabilidade do FGTS ainda
será apreciada pelo Supremo e, portanto, não está julgada em
caráter definitivo, estando sujeita a alteração (plausibilidade
jurídica); (b) o julgamento do tema pelo STJ e o não
reconhecimento da repercussão geral pelo Supremo, o que
poderá ensejar o trânsito em julgado das decisões já proferidas
sobre o tema (perigo na demora); (c) os múltiplos
requerimentos de cautelar nestes autos; e (d) a inclusão do
feito em pauta para 12/12/2019, defiro a cautelar, para
determinar a suspensão de todos os feitos que versem sobre a
matéria, até julgamento do mérito pelo Supremo Tribunal
Federal.
Nesta ADI discute-se os dispositivos das Leis 8.036/1990
(artigo 13) e 8.177/1991 (artigo 17) que impõem a correção dos
depósitos nas contas vinculadas do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) pela Taxa Referencial (TR).
Alega-se que as normas violam o direito de propriedade, o
direito ao FGTS e a moralidade administrativa, presentes,
respectivamente, nos artigos 5º, inciso XXII; 7º, inciso III;
e 37, caput, da Constituição da República.
Portanto, se o caso, requer a suspensão da presente ação, até
julgamento definitivo da ADI 5090.

DO PEDIDO
Diante do exposto requer:

1. A concessão do benefício da Gratuidade da Justiça,


tendo em vista que a parte Autora não tem como
suportar as custas judiciais sem o prejuízo de seu
sustento e de sua família;
2. O recebimento e deferimento da presente peça
inaugural;
3. A não realização de audiência de conciliação, ante a
ineficácia do procedimento, tendo em vista o notório
e reiterado posicionamento da Caixa Econômica
Federal em sentido contrário ao pedido apresentado
pela parte Autora;
4. A produção de todos os meios de provas em direito
admitidos, em especial o documental;
5. O julgamento da demanda com TOTAL
PROCEDÊNCIA para:
              a) declarar inconstitucional a expressão
“com base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança” do do art . 13 da Lei
Federal nº 8.036/1990 e o caput caput do art. 17 da Lei
Federal nº 8.177/1991 – dispositivos os quais impõem a
correção dos depósitos nas contas vinculadas do FGTS pela
Taxa Referencial (TR).
              b) que a partir de 1999 a correção monetária
das contas de FGTS deixe de ser feita pela TR, passando a ser
realizada pelo INPC ou pelo IPCA, eis que estes são capazes de
refletir a inflação.

    6. Condenar a Caixa Econômica Federal ao pagamento de


honorários advocatícios no patamar máximo fixado no § 3º, do
art. 85 do CPC/2015.
            Dá-se à causa o valor de R$ xxxxxxxxxxxxx

            Termos em que pede deferimento.

            Local, data

            Advogado

            OAB/xxxxx

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