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EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL DE JUIZ DE FORA, SEÇAO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS.

MARCOS AURÉLIO DOS SANTOS, brasileiro, eletricista, portador da


cédula de identidade RG nº........, e do CPF nº ........
, PIS 123.13060.55-3, residente e domiciliado na Rua Hélio Rui de Melo,
nº 45 AP 304, Bairro São Mateus, na cidade de Juiz de Fora, Estado de Minas
Gerais,CEP.: 36025-260, vem, com o devido respeito, à presença de Vossa
Excelência, através de seus procuradores, com endereço profissional
mencionado no rodapé, onde recebem intimações, propor

AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO


FGTS

contra a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL1, pessoa jurídica de direito público,


inscrita no CNPJ sob o n.º 00.360.305/001-04 com sede na Rua Santa Rita, nº
327,na cidade de Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais, CEP.: 36010-071, com
alicerce nos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir transcritos.

OS FATOS E FUNDAMENTOS DO PEDIDO

1
STJ Súmula 249 – A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo

em que se discute correção monetária do FGTS.


Introdução

O demandante, conforme extratos analíticos do FGTS anexos já


possuiu conta vinculada ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS,
depósitos de 1993 a 2013, que sofreram correção pela TR (Taxa Referencial),
índice esse não aplicável a correção monetária do FGTS, conforme
detalhadamente passaremos a expor.

A síntese da presente demanda é a busca da parte autora, por meio da


presente, que seja a ré condenada a substituir o índice de correção monetária
aplicado à sua conta vinculada do FGTS (Taxa Referencial - TR) pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, com o pagamento das diferenças
decorrentes da alteração.

Como é de conhecimento deste julgador o FGTS foi criado nos idos dos
anos 60 como substituto da estabilidade de emprego, e funciona mediante
depósitos de valores em um fundo que ao longo do tempo cria um patrimônio
para este trabalhador, o qual poderá ser utilizado em determinadas situações,

A atual regulamentação do FGTS esta contida na Lei nº 8.036, de 11 de


maio de 1990, a qual disciplina nos seus artigos 2º e 13ª, que deverá haver
correção monetária de todas as quantias depositadas juntos ao fundo, e nada
mais lógico, vez que se não ocorrer a correção monetárias dos valores
este fundo simplesmente desapareceria ao longo do tempo.

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das


contas vinculadas a que se refere esta lei e outros
recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados
com atualização monetária e juros, de modo a
assegurar a cobertura de suas obrigações.

Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas


vinculadas serão corrigidos monetariamente com
base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança e capitalização
juros de (três) por cento ao ano.

O art. 13 estabelece que a correção monetária deverá ser realizada com


base nos parâmetros fixado para a atualização dos depósitos de poupança.
Conforme os artigos 12 e 17 da Lei nº 8.177/1991, com redação da Lei
nº 12.703/2012, os depósitos da poupança são corrigidos pela Taxa
Referencial – TR, vejamos:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os


depósitos de poupança serão remunerados:
I - como remuneração básica, por taxa
correspondente à acumulação das TRD, no período
transcorrido entre o dia do último crédito de
rendimento, inclusive, e o dia do crédito de
rendimento, exclusive;
II - como remuneração adicional, por juros de:
(Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto
a meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco
Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e
cinco décimos por cento); ou (Redação dada pela
Lei n º 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao
ano, definida pelo Banco Central do Brasil,
mensalizada, vigente na data de início do período de
rendimento, nos demais casos. (Redação dada pela
Lei n º 12.703, de 2012)

Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das


contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) passam a ser remunerados pela taxa
aplicável à remuneração básica dos depósitos de
poupança com data de aniversário no dia 1°,
observada a periodicidade mensal para
remuneração.

Parágrafo único. As taxas de juros previstas na


legislação em vigor do FGTS são mantidas e
consideradas como adicionais à remuneração
prevista neste artigo.

Quanto a TR sua fórmula de cálculo esta disposta no art.1 da Lei n.º


8.177/1991:

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa


Referencial (TR), calculada a partir da remuneração
mensal média líquida de impostos, dos depósitos a
prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos
de investimentos, bancos múltiplos com carteira
comercial ou de investimentos, caixas econômicas,
ou dos títulos públicos federais, estaduais e
municipais, de acordo com metodologia a ser
aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no
prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento
do Senado Federal.

§ 1° (Revogado pela Lei n.º 8.660, de 1993)

§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas


como bancos de referência, dentre elas,
necessariamente, as dez maiores do País,
classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo,
estão obrigadas a fornecer as informações de que
trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo
Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a
instituição e seus administradores, no caso de
infração às referidas normas, às penas
estabelecidas no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de
dezembro de 1964.

§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de


cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do
Brasil fixará a TR.

O método de cálculo da TR foi definido pelo Banco Central – Conselho


Monetário Nacional (CMN), e esta regulado pela Resolução n.º 3.354/2006 a
qual se encontra anexo a esta inicial.

O Problema

Conforme vimos o FGTS é um fundo criado para proteger o trabalhador,


constituído por um patrimônio corrigido monetariamente a fim de que não perca
o seu valor e acrescido de uma pequena taxa de remuneração, paga em
contrapartida ao direito dos bancos e do governo de utilizarem este dinheiro em
vários projetos.
Ocorre Excelência, que nos últimos anos a TR não tem mais refletido os
índices de inflação, estando posicionada muito abaixo destes índices
conforme o gráfico abaixo.

0,35

0,30

0,25

0,20 IPCA
INPC
0,15
TR
0,10

0,05

Do gráfico fica evidente que a TR não se prestando minimamente para


ser utilizado como fator de correção monetária, pois não tem acompanhado o
índices de inflação e tal situação por si só já seria motivo para que esta
fosse substituída, visto que como vimos esta situação esta rompendo o
espírito da lei, vez que o art. 2ª da lei 8.036/90, estabelece que sobre os
saldos das contas do FGTS deve ser aplicada correção monetária.

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das


contas vinculadas a que se refere esta lei e outros
recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados
com atualização monetária e juros, de modo a
assegurar a cobertura de suas obrigações.

Ora se a lei estabelece que sobre os saldo do FGTS deve ser aplicada
correção monetária e o índice que está sendo utilizado não reflete os índices
mínimos de inflação é evidente que o art. 2 não esta sendo respeitado, neste
sentido o DIEESE apresentou um estudo que segue anexo mostrando o
desacerto da utilização da TR para corrigir os depósitos do FGTS.

O Direito
De outra banda a própria condição da TR como índice de correção
monetária já foi rechaçada pelo STF, vejamos:

A correção monetária, esta invenção brasileira, existe desde a Lei nº


4.357/1964, que criou a ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional),
cuja função era ajustar um montante conforme a perda de seu respectivo poder
aquisitivo, e de lá para cá uma infinidades de índices surgiram, muitos setoriais
como por exemplo o CUB, todos com o objetivo de quantificar uma taxa a ser
aplicada no período para garantir o poder de compra de um determinado
montante, em resumo todos estes índices acabam por refletir a mesma coisa, a
inflação, sendo os mais utilizados o IGPM 2, o CUB. o INPC e IPCA3.

Em 1991 o presidente Collor, buscando uma pacificação dos índices de


correção monetárias oficiais adotados pelo governo, substitui diversos
indexadores até então utilizados, como por exemplo ORTN, OTN e BTN, pela
chamada TR4.

Tal decisão do governo nunca foi bem aceita, pois enquanto os índices
anteriores eram calculado mediante a utilização de uma cesta de produtos
(vide notas de rodapé), a TR é calculada com base na remuneração mensal

2
IGP-M - A FGV calcula os IGPs (IGP-10, IGP-M e IGP-DI), que possuem metodologia idêntica e
diferem somente no período de coleta e na data de sua divulgação. A área de abrangência

inclui as 12 maiores regiões metropolitanas do país. Os períodos de coleta são: IGP-10 - do dia
11 do mês anterior ao dia 10 do mês de referência; IGP-M - do dia 21 do mês anterior ao dia 20
do mês de referência; IGP-DI - mês completo. A data de divulgação é de até 10 dias após o final
do período de coleta, aproximadamente. Os IGPs são calculados pela ponderação da inflação

medida por três sub-índices. O principal é o IPA, com peso de 60% e que mede a inflação dos
produtos agrícolas e industriais no atacado. Já o IPC tem um peso de 30% e mede a inflação da

cesta de consumo das famílias com rendimentos de até 33 salários mínimos. Por fim, o INCC
tem peso de 10% e mede a inflação do setor de construção civil. O IGP-M é utilizado como

indexador de títulos emitidos pelo governo e em operações do mercado financeiro.


3
IPCA - O IPCA é calculado pelo IBGE. A área de abrangência inclui as 11 maiores regiões

metropolitanas do país e sua coleta é feita pelo período de um mês completo. A divulgação
ocorre em torno do dia 10 do mês subseqüente. O objetivo é medir a inflação da cesta de

consumo das famílias com rendimentos de até 40 salários mínimos. Esse é o índice de preços
utilizado pelo Banco Central como base para as metas de inflação do país.
4
MP nº 294/1991, convertida posteriormente na Lei nº 8.177/1991
média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos
comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial
ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais,
estaduais e municipais.

Ou seja - definitivamente a natureza da TR não é de correção monetária


- pois não é calculada utilizando qualquer variação de preço, mas como um
índice de remuneração bancária, neste sentido a própria lei que a criou já
demonstrava esta situação, vez que também a tratava como uma taxa de juros
5
(art. 39), ao que a mesma mais se assemelha, vez que esta vinculada a
remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo (ou
seja juros remuneratórios).

Tanto assim que o STF enfrentou a questão da natureza da TR no julgamento


da ADI 493-0/DF, e foi claro ao afirmar que

A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois,


refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a
prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo
da moeda.

E justamente por tal o STF declarou inconstitucional o art. 18 da Lei n.º


8.177/1991, que estabelecia o reajuste dos saldos devedores das prestações
dos contratos do SFH pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos
de Poupança.6
5
Lei 8.177/91 - Art. 39. Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando não satisfeitos
pelo empregador nas épocas próprias assim definidas em lei, acordo ou convenção coletiva,
sentença normativa ou cláusula contratual sofrerão juros de mora equivalentes à TRD
acumulada no período compreendido entre a data de vencimento da obrigação e o seu efetivo
pagamento.   
6
Ação direta de inconstitucionalidade - Se a lei alcancar os efeitos futuros de contratos
celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade minima) porque vai
interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI,
da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer
distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei
dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrencia, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa
referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo
primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação
do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de
saber se as normas que alteram índice de correção monetária se aplicam imediatamente,
alcançando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o
disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna. - Também ofendem o ato jurídico perfeito os
dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos já
Deve-se dizer ainda que recentemente ao julgar RE 747.706/SC o STF
reafirmou este posicionamento.

Quanto ao STJ, este por diversas vezes já se manifestou no sentido de


negar a utilização da TR como índice de correção monetária (exemplos: Resp
40777/GO, Resp 140839/BA, Resp 209466/BA), e deixa sempre bem claro sua
posição em relação ao o que seja correção monetária:

...1. "A correção monetária nada mais é do que


um mecanismo de manutenção do poder
aquisitivo da moeda, não devendo representar,
consequentemente, por si só, nem um plus nem
um minus em sua substância. Corrigir o valor
nominal da obrigação representa, portanto,
manter, no tempo, o seu poder de compra
original, alterado pelas oscilações inflacionárias
positivas e negativas ocorridas no período.
Atualizar a obrigação levando em conta apenas
oscilações positivas importaria distorcer a realidade
econômica produzindo um resultado que não
representa a simples manutenção do primitivo poder
aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real.
Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de
Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho
da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial
em contrário, "os índices negativos de correção
monetária (deflação) serão considerados no cálculo
de atualização", com a ressalva de que, se, no
cálculo final, 'a atualização implicar redução do
principal, deve prevalecer o valor nominal'"
(Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min.
TEORI ALBINO ZAVASCKI, Dje 18/4/12).

Por certo, a CEF alegará que o STJ se posiciona de forma contrária a


questão porque afirmou na Súmula 459 que "a TR é o índice aplicável, a título
de correção monetária aos débitos com o FGTS recolhidos pelo empregador,
mas não repassados ao fundo", no entanto o que esta súmula esta analisando

celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP).
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade
dos artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e
parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493 – Relator: Min. Moreira Alves –
Julgado em 25/06/1992 – DJ 04/09/1992, pp. 14089).
não é a natureza ou adequação da TR como índice de correção monetária,
mas sim dizendo ao poder público que ele não pode pretender pagar correção
monetária por um índice e cobrar pelo outro, ou seja a questão em discussão
não era a TR e sim a utilização de índices diversos para a mesma coisa.

De qualquer sorte o STF voltou recentemente à análise da TR como


fator de correção e, uma vez mais, reafirmou o que já houvera sedimentado
quando da ADI 493-0/DF. No julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal das quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI’s 4357, 4372,
4400 e 4425) que tinham por objeto a Emenda Constitucional nº 62/2009, que
criou o regime especial de pagamento de precatórios, se lê do voto do relator,
Ministro Ayres Britto:

“Com efeito, neste ponto de intelecção das coisas, nota-se que a correção
monetária se caracteriza, operacionalmente, pela citada aptidão para
manter um equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos jurídicos. E falar
de equilíbrio econômico-financeiro entre partes jurídicas é, simplesmente,
manter as respectivas pretensões ou os respectivos interesses no estado em
que primitivamente se encontravam. Pois não se trata de favorecer ou
beneficiar ninguém…”7 (g.n.).

E citando a ADI 493-0/DF, que reconheceu que a TR “…não reflete a perda


do poder aquisitivo da moeda…”, finaliza o ministro:

“ O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição acabou


por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito que está
ontologicamente associado à manutenção do valor real da moeda. Valor real
que só se mantém pela aplicação de índice que reflita a desvalorização dessa
moeda em determinado período. Ora, se a correção monetária dos valores
inscritos em precatório deixa de corresponder à perda do poder aquisitivo da
moeda, o direito reconhecido pela sentença judicial transitada em julgado será
satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as
hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação
jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será, quase
que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver que, nos
últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de remuneração

7
Voto do relator, pp. 15/16.
da poupança) foi 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de acordo com o
IPCA”8..

A inconstitucionalização progressiva do art. 13


da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91.

Em recente decisão o juiz federal Dr. Márcio José de Aguiar Barbosa, ao


analisar uma ação nos exatos termos da presente, tombada sob o número
3279-88.2012.4.01.3810 na subseção judiciária de Pouso Alegre/MG, levantou
ainda a questão da inconstitucionalização progressiva do art. 13 da lei 8.036/90
c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91, a qual passamos a reproduzir.

“O dinamismo do Direito e da vida social que ele regula impõem, em


certos casos, a necessidade de verificar a existência ou não de validade e
legitimidade atuais de normas que, na sua origem, eram perfeitamente válidas
e legítimas.

Isso porque situações concretas da vida social e normatizações


paralelas que incidem sobre os mesmos fatos originalmente tratados pela
norma primitiva podem fazer com que seus objetivos se desvirtuem, seus fins,
inicialmente válidos e legítimos, passem a se opor à Constituição e seus
princípios.

Oriunda da teoria constitucionalista alemã e já sufragada pelo E. STF em


alguns julgados (v.g. HC 70.514/SP, RE 147.776, RE 135.328/SP), é a
construção doutrinária chamada de “inconstitucionalidade progressiva” ou
progressivo processo de inconstitucionalização de normas jurídicas
originariamente válidas.

É a situação dos autos. O art. 13 da lei 8.036/90, ao estabelecer que “Os


depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente
com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos
de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano”, claramente
objetivava dar continuidade ao princípio estabelecido desde a lei 5.107/66 de
que o pecúlio representado pelo FGTS é uma obrigação de valor, imune aos

8
Voto do relator, p. 18.
efeitos corrosivos da inflação, sujeito a correção monetária de seus depósitos e
ainda vencendo juros remuneratórios “reais” (acima da inflação) de 3% ao ano.

Não apenas dava continuidade à tradição do FGTS, como densificava de


forma válida, conforme à Constituição, o direito trabalhista fixado no art. 7º, III,
da CR/88, que previu o pecúlio obrigatório do fundo de garantia. Tratando-se
de pecúlio obrigatório, não portável, a ser usufruído após longo prazo de sua
formação, é mais razoável a interpretação de que a norma constitucional
contém implicitamente a obrigatoriedade de que o valor desse fundo seja
protegido da corrosão inflacionária.

À época da publicação da lei 8.036/90, a “atualização dos saldos dos


depósitos de poupança” também era feita por índices de inflação. Fica claro
que o art. 13 da lei 8.036/90, ao vincular a correção do FGTS à da poupança,
visava à plena proteção do FGTS quanto aos efeitos corrosivos da inflação.”

Após esta introdução do assunto o julgador então nos ressalta que com
a edição da lei 8.177/91, que criou a TR no seu art. 1º e no seu art. 17
estabeleceu que para fins do art. 13 da lei 8.036/90 a TR aplicável ao FGTS
seria aquela calculada no dia primeiro de cada mês, as coisas começam a
mudar, pois a atualização dos saldos dos depósitos da poupança deixa de se
dar por índice de correção monetária e passa a se dar pela TR, com
metodologia a ser fixada por órgão administrativo, inicialmente objetivando ser
uma previsão implícita de inflação futura feita pelo mercado financeiro, mas
sem nenhuma garantia de que tal metodologia se manteria – como não se
manteve.”

E o que ocorreu deste ponto em diante foi que,

“A necessidade de adequar a TR aos novos tempos de reduzidos juros reais e


alteração no cálculo do imposto de renda das aplicações financeiras, fez com
que ela fosse reduzida a ponto de se tornar praticamente nula, para evitar que
houvesse uma fuga de recursos das aplicações financeiras para a caderneta
de poupança.
Isto é, progressivamente, o art. 13 da lei 8.036/90, c/c art. 17 da lei
8.177/91 e com o art. 1º da lei 8.177/91, deixou de garantir ao FGTS a
recomposição das perdas inflacionárias, sujeitando o FGTS a perdas
consideráveis em relação à inflação.”

E continua o emérito julgador apresentando um demonstrativo da


aceleração das perdas do FGTS em relação à inflação medida por vários
índices, comprovando que progressivamente a perda foi cada vez maior
(conforme pode ser verificar no gráfico já mostrado nesta peça e nas tabelas
que seguem adiante).

Desta forma conclui o nobre julgador,

Está claro que fatores alheios ao legislador da lei 8.036/90 fizeram com
que o art. 13 progressivamente se tornasse inconstitucional, na parte em que
vincula a correção monetária das contas do FGTS aos índices de atualização
da poupança e estes, por sua vez, passam a ser calculados por metodologia
prevista nos arts. 1º e 17 da lei 8.177/91, que não mais garante a
recomposição das perdas inflacionárias.

Como se viu no tópico anterior, a metodologia iniciada pela Resolução


CMN 2.604, de 23/04/1999, com efeitos a partir de 01/06/1999, deu início ao
descolamento da TR dos índices de inflação, sendo esse o momento que se
deve fixar para a recomposição das contas do FGTS.

Diante do exposto, tendo em vista o que já decidido pelo E. STF no caso


da lei 11.960/09 e o fato de o FGTS ser um pecúlio constitucional obrigatório,
não portável e de longo prazo, cuja garantia de recomposição das perdas
inflacionárias está implícita na disposição do art. 7o, III, da CR/88, que
assegura esse direito trabalhista fundamental a todos os trabalhadores, é de se
declarar inconstitucional, pelo menos desde a superveniência dos efeitos da
Resolução CMN 2.604, de 23/04/1999, a vinculação da correção monetária do
FGTS à TR, conforme art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91.

Tendo havido pedido expresso para utilização do INPC e sendo esse


índice utilizado nos benefícios previdenciários e, neste Juízo, para correção
monetária das dívidas judiciais, entendo razoável e mais consentâneo com as
finalidades do FGTS que seja esse o índice de correção monetária dos saldos
do FGTS.
Considerações finais

Segundo o estudo do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística


e Estudos Socioeconômicos), já mencionado, a TR apesar de nunca refletir tão
bem os índices de inflação como INPC e IPCA, sempre esteve próximo a estes,
de forma que apesar de juridicamente não ser adequada, a utilização da TR
não acarretava grandes modificações fáticas, no entanto tudo isto começou a
mudar em 19979 quando o Banco Central/CMN, que define a forma de cálculo
da TR, passou a calcular a mesma levando em conta a Taxa Básica
Financeira10 e um fator REDUTOR.

A fórmula deste cálculo, deveras complexa, estabelecida atualmente na


resolução nº 3.354/2006, permitiu com que houvesse uma completa
manipulação do índice, e assim após 1999 a TR se desgarrou completamente
de qualquer índice de correção monetária, conforme fica evidente na tabela
abaixo.

ANO TR INPC IPCA

1997 9,7849% 4,34% 5,22%

1998 7,7938% 2,49 1,65

1999 5,7295% 8,43% 8,94%

2000 2,0962% 5,27% 5,97%

2001 2,2852% 9,44% 7,67%

2002 2,8023% 14,74% 12,53%

2003 4,6485% 10,38% 9,30%

2004 1,8184% 6,13% 7,60%

2005 2,8335% 5,05% 5,69%

2006 2,0377% 2,81% 3,14%

2007 1,4452% 5,15% 4,46%

2008 1,6348% 6,48% 5,90%


9
Resolução nº 2.437/1997
10
Taxa Básica Financeira, instituída pela Medida Provisória nº 1.053/1995
2009 0,7090% 4,11% 4,31%

2010 0,6887% 6,46% 5,91%

2011 1,2079% 6,07% 6,50%

2012 0,2897% 6,17% 5,84%

2013 (até maio) 0,00% 3,01% 2,88%

Fonte: Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net).

Desgarrando-se dos índices de correção monetária e chegando ao valor


de zero chegou-se a um ponto onde o trabalhador recebe apenas a
remuneração de 0,247% a título de juros sobre o seu fundo, e esta sendo
obrigado a assistir inerte um verdadeiro banquete sobre as suas economias
que estão sendo evidentemente saqueada para permitir um superávit
primário, fundado na lenta corrosão dos anos de labuta dos trabalhadores,
numa agressão direta não só ao art. 2º da Lei n.º 8.036/1990 e ao espírito da
norma que criou o FGTS, mas a todo ordenamento jurídico, pois estamos
testemunhando um confisco a luz do dias da economias dos trabalhadores.

Diante de tudo o que foi dito, fica claro que se faz necessária uma
imediata revisão da forma da correção monetária do FGTS do autor e por isto
vem o demandante a este juízo requerer não só que seja declarado o direito do
mesmo a ter os seu saldo do FGTS corrigido por um índice que de fato reflita a
variação da correção monetária, como também de ser indenizado pela não
correção monetária desde o anos de 1999.

Do índice a ser adotado

Diversos são os índices de correção monetária, no entanto entendemos


que se deve buscar na lei os mais adequados para o fato, neste sentido nos
parece que a escolha deve recair ou sobre o INPC, que é o índice utilizado
para a correção do salário dos trabalhadores e benefícios previdenciários,
previsto na Lei nº 12.382/201111, maiores informações podem ser obtidas no
link: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/
defaultinpc.shtm

Desta feita, como existe uma lei informando que este é o índice que
serve para preservação do poder aquisitivo do salário do trabalhador nos
parece que é o mais adequado ao caso.

Dos Pedidos

Diante do exposto requer-se que este juízo

1. Conceda ao autor o benefício da judiciária gratuita (declaração anexa);

2. Determine a citação da ré para querendo contestar a presente demanda;

3. Permita a produção de todas os meios de provas em direito admitidos;

4. Julgue procedente a presente demanda a fim de:

a) declarar o direito do demandante de ter o seus depósitos vinculados ao


FGTS corrigidos monetariamente por um índice que realmente reflita a inflação
do período;

b) declarar a inconstitucionalidade parcial superveniente do art. 13 da lei


8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91, desde 01/06/1999, pela não
vinculação da correção monetária do FGTS a índice que venha recompor a
perda de poder aquisitivo da moeda

c) condenar a ré a pagar ao(s) autor(es) os valores correspondentes à


diferença a ele devida desde 1999 em diante até seu efetivo saque, face a

11
Art. 2o § 1o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo

corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e


divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos

doze meses anteriores ao mês do reajuste.


aplicação de um índice menor que o da inflação (TR) sobre os seus depósitos
no FGTS, tal calculo deverá ser realizado levando-se em conta a diferença a
cada período entre a TR e o INPC;

d) condenar a ré a pagar juros moratórios de 1% ao mês sobre as diferenças


corrigidas do item “a” desde a citação até a data do pagamento.

e) condenar aos ônus da sucumbência e ao pagamento de honorários


advocatícios;

5. Junta-se aos autos o(s) contrato(s) de honorários existente(s) entre o(s)


autor(es) e o seu procurador, requer-se assim que os honorários contratuais já
acordados sejam repassados no momento do pagamento diretamente ao
procurador nos termos do art. 22 da Lei Federal nº 8.906/94.

Valor da Causa:

Nestes Termos

Pede deferimento.

_____________, ___ de __________ de 2013.

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