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Modelo de Petição Correção dos saldos do (FGTS).

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ANDRE LUIZ 17/06/2016 0 COMMENTS CORREÇÃ O DO FGTS, DICAS, MODELO DE


PETIÇÃ O

TEMPO DE LEITURA: MENOS DE 1 MINUTO

Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos depósitos dos saldos
de poupança e consequentemente dos depósitos do FGTS é a Taxa Referencial –
TR.
EXCELENTÍSSIMO JUIZ… (juízo competente para apreciar a demanda proposta) EMENTA:
CORREÇÃ O DOS SALDOS DO FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS).
PARTE AUTORA, (nacionalidade), (estado civil), (profissã o), portador (a) do documento de
identidade sob o n.º.., CPF sob o n.º…, residente e domiciliado (a) na rua.., bairro.., cidade..,
estado.., CEP…, vem a presença de Vossa Excelência propor a presente
AÇÃ O JUDICIAL PARA CORREÇÃ O DOS SALDOS DO FUNDO DE GARANTIA (FGTS)
contra a CAIXA ECONÔ MICA FEDERAL, com sede na rua…, bairro…, cidade…, estado…,
CEP…, pelos fatos e fundamentos que a seguir aduz.
I- FATOS
O presente processo trata de questã o de extrema importâ ncia para milhõ es de
trabalhadores brasileiros e diz respeito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Como é cediço, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço foi criado na década de 1960
para proteger o trabalhador, como sucedâ neo da antiga estabilidade decenal. É constituído
por valores depositados pelas empresas em nome de seus empregados e possibilita que o
trabalhador forme um patrimô nio.
Consta no sítio eletrô nico da Caixa Econô mica Federal que o FGTS hoje financia programas
de habitaçã o popular, saneamento bá sico e infraestrutura urbana.
O FGTS é regido pelas disposiçõ es da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, por normas e
diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e gerido pela Caixa Econô mica Federal.
Dos artigos 2º e 13 da Lei nº 8.036/90 extraímos que há uma obrigatoriedade de correçã o
monetá ria e de remuneraçã o através de juros dos depó sitos efetuados nas contas
vinculadas do FGTS, senã o vejamos:
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e
outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualizaçã o monetá ria e
juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigaçõ es.
Art. 13. Os depó sitos efetuados nas contas vinculadas serã o corrigidos monetariamente
com base nos parâ metros fixados para atualizaçã o dos saldos dos depó sitos de poupança e
capitalizaçã o juros de (três) por cento ao ano. (Grifamos)
Ressalte-se que o parâ metro fixado para a atualizaçã o dos depó sitos dos saldos de
poupança e consequentemente dos depó sitos do FGTS é a Taxa Referencial – TR, conforme
prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, com redaçã o da lei
nº 12.703, de 7 de agosto de 2012, cuja dicçã o é a seguinte:
Art. 12. Em cada período de rendimento, os depó sitos de poupança serã o remunerados:
I – como remuneraçã o bá sica, por taxa correspondente à acumulaçã o das TRD, no período
transcorrido entre o dia do ú ltimo crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de
rendimento, exclusive
II- como remuneraçã o adicional, por juros de: (Redaçã o dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida
pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento);
ou (Redaçã o dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do
Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos demais casos.
(Redaçã o dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
(…)
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicá vel à remuneraçã o
bá sica dos depó sitos de poupança com data de aniversá rio no dia 1º, observada a
periodicidade mensal para remuneraçã o. Pará grafo ú nico. As taxas de juros previstas na
legislaçã o em vigor do FGTS sã o mantidas e consideradas como adicionais à remuneraçã o
prevista neste artigo.
Retrata a Lei nº 8.177/91 a forma como a TR será calculada:
Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da
remuneraçã o mensal média líquida de impostos, dos depó sitos a prazo fixo captados nos
bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos mú ltiplos com carteira comercial ou
de investimentos, caixas econô micas, ou dos títulos pú blicos federais, estaduais e
municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetá rio Nacional,
no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
§ 2º As instituiçõ es que venham a ser utilizadas como bancos de referência, dentre elas,
necessariamente, as dez maiores do País, classificadas pelo volume de depó sitos a prazo
fixo, estã o obrigadas a fornecer as informaçõ es de que trata este artigo, segundo normas
estabelecidas pelo Conselho Monetá rio Nacional, sujeitando-se a instituiçã o e seus
administradores, no caso de infraçã o à s referidas normas, à s penas estabelecidas no art. 44
da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
§ 3º Enquanto nã o aprovada a metodologia de cá lculo de que trata este artigo, o Banco
Central do Brasil fixará a TR.
A metodologia de cá lculo foi há muito tempo definida pelo Banco Central, e hoje está
vigente sob a forma da Resoluçã o nº 3.354, de 31 de março de 2006.
Ocorre que, há muito tempo, a TR nã o reflete mais a correçã o monetá ria, tendo se
distanciado completamente dos índices oficiais de inflaçã o. Nos meses de setembro,
outubro e novembro de 2009, janeiro e fevereiro de 2010, fevereiro e junho de 2012 e de
setembro de 2012 em diante, a TR tem sido completamente anulada, como se nã o existisse
qualquer inflaçã o no período passível de correçã o.
Eis a razã o desta açã o.

II- PRELIMINARMENTE
A) LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔ MICA FEDRAL
Posto que a lide versa sobre correçã o monetá ria dos depó sitos de FGTS, sobressai
irrefutá vel a legitimidade passiva e exclusiva da Caixa Econô mica Federal, conforme
precedentes do STJ, senã o vejamos:
AÇÃ O RESCISÓ RIA. ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃ O DOS SALDOS DAS CONTAS
VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁ RIOS. TEMA JÁ PACIFICADO NO
STJ. PROCEDÊ NCIA DA AÇÃ O.
1. A matéria referente à correçã o monetá ria das contas vinculadas ao FGTS, em razã o das
diferenças de expurgos inflacioná rios, foi decidida pela Primeira Seçã o deste Superior
Tribunal, no REsp. N. 1.111.201 – PE e no REsp. N. 1.112.520 – PE, de relatoria do Exmo.
Min. Benedito Gonçalves, ambos submetidos ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluçã o
n. 8/08 do STJ, que tratam dos recursos representativos da controvérsia, publicados no DJe
de 4.3.2010.
(…)
3. Quanto à s demais preliminares alegadas, devidamente prequestionadas, esta Corte tem o
entendimento no sentido de que, nas demandas que tratam da atualizaçã o monetá ria dos
saldos das contas vinculadas do FGTS, a legitimidade passiva ad causam é exclusiva da
Caixa Econô mica Federal, por ser gestora do Fundo, com a exclusã o da Uniã o e dos bancos
depositá rios (Sú mula 249/STJ).
(…)
(AR 1.962/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃ O, julgado em
08/02/2012, DJe 27/02/2012) (grifamos)
Ainda nesse sentido a Sú mula 249 do Superior Tribunal de Justiça: “A Caixa Econô mica
Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute correçã o
monetá ria do FGTS”.
Assim, a presente açã o se dirige exclusivamente contra a Caixa Econô mica Federal,
conforme pacificamente definido pela jurisprudência pá tria.
B) DA PRESCRIÇÃ O
No que tange ao prazo prescricional, já está amplamente assentado na doutrina e
jurisprudência, que em relaçã o ao pleito de correçã o monetá ria do FGTS, a prescriçã o é
trintená ria.
Neste sentido, decisã o do STJ:
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁ RIO. FGTS. CORREÇÃ O DOS SALDOS DAS CONTAS
VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁ RIOS. TEMA JÁ JULGADO PELO
REGIME DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃ O N. 8/08 DO STJ, QUE TRATAM DOS
RECURSOS REPRESENTATIVOS DE CONTROVÉ RSIA.
(…)
3. No REsp n. 1.112.520 – PE, por seu turno, firmou-se o seguinte entendimento: 4.
Outrossim, nã o deve prevalecer a interpretaçã o da recorrente quanto à ocorrência de
prescriçã o quinquenal, pois este Tribunal já decidiu que é trintená ria a prescriçã o para
cobrança de correçã o monetá ria de contas vinculadas ao FGTS, nos termos das Sú mula
210/STJ: “A açã o de cobrança das contribuiçõ es para o FGTS prescreve em (30) trinta
anos”. (…)
(REsp 1150446 RJ 2009/0143136-0, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
Julgamento: 10/08/2010, Ó rgã o Julgador: T2 – SEGUNDA TURMA, Publicaçã o: DJe
10/09/2010) (grifamos)
Assim, a açã o ora proposta nã o está alcançada pela prescriçã o trintená ria, conforme se
demonstrará adiante.

III- FUNDAMENTOS JURÍDICOS


A) ANÁ LISE DA CORREÇÃ O MONETÁ RIA E DO FGTS
A correçã o monetá ria existe entre nó s desde a década de 1960. O principal teó rico da
Correçã o Monetá ria, o Advogado Tributarista Bulhõ es Pedreira explica o seguinte:
’” Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer que o nível geral de
preços é o padrã o primá rio do valor financeiro, enquanto que a unidade monetá ria serve
como padrã o secundá rio – usado, na prá tica, para exprimir o valor financeiro, mas que
deve ser aferido pelo padrã o primá rio porque sujeito a modificaçõ es.”
(BULHÕ ES PEDREIRA, José Luiz, “Correçã o Monetá ria; Indexaçã o Cambial. Obrigaçã o
Pecuniá ria”, in “Revista de Direito Administrativo”, c. 193 p, 353 a 372 Jul/Set 1993).
Ainda, o autor Letá cio Jansen diz que Bulhõ es Pedreira teria conseguido institucionalizar e
colocar em prá tica a sua doutrina principalmente através da Lei nº 4.357, de 1964, que
criou o primeiro indexador da Economia Brasileira – a ORTN (obrigaçã o reajustá vel do
tesouro nacional), uma obrigaçã o monetá ria cuja funçã o era fazer variar, periodicamente, a
moeda nacional segundo a perda de seus respectivos poderes aquisitivos.
Desde esta data, uma plêiade de índices de correçã o monetá ria foram se sucedendo, até a
entrada em vigor da Medida Provisó ria nº 294, de 31 de janeiro de 1991, que se
transformou na Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Nesta oportunidade o Governo Collor
pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais da correçã o monetá ria brasileira
(ORTN, OTN e BTN) que eram vinculados à variaçã o dos níveis gerais de preços, pela Taxa
Referencial, que tinha natureza financeira.
Ainda hoje permanece a perplexidade em relaçã o à natureza jurídica da TR, até por conta
da pró pria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como taxa de juros (artigo 39)
ora como indexador (artigo 18).
Taxas de juros objetivam promover a remuneraçã o do capital. Sã o calculadas por quem
disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue
na satisfaçã o de determinada necessidade, com expectativa de lucro. Os indexadores, por
outro lado, podem ser entendidos como índices calculados a partir da variaçã o de preços de
mercado em determinado período. O seu objetivo está na correçã o dos efeitos
inflacioná rios, quando se compara valores monetá rios em diferentes épocas.
Quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR, disse através do voto vencedor da ADI
493-0/DF que:
A Taxa Referencial (TR) nã o é índice de correçã o monetá ria, pois, refletindo as variaçõ es do
custo primá rio da captaçã o dos depó sitos a prazo fixo, nã o constitui índice que reflita a
variaçã o do poder aquisitivo da moeda.
Nã o obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvã o
entenderam que a estrutura de cá lculo da taxa referencial nã o era suficiente para impedir
sua utilizaçã o como parâ metro de indexaçã o da economia.
Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a TR possuía natureza de taxa de
juros e declarou inconstitucional o artigo 18 da Lei nº 8.177/91, cujo texto original
estabelecia que os saldos devedores e as prestaçõ es dos contratos integrantes do SFH,
passariam a ser atualizados pela taxa aplicá vel à remuneraçã o bá sica dos Depó sitos de
Poupança. Vale a pena transcrever a ementa deste julgado:
Açã o direta de inconstitucionalidade. – Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos
celebrados anteriormente a ela será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai
interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. – O disposto no artigo 5,
XXXVI, da Constituiçã o Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem
qualquer distinçã o entre lei de direito pú blico e lei de direito privado, ou entre lei de ordem
pú blica e lei dispositiva. Precedente do S. T. F. – Ocorrência, no caso, de violaçã o de direito
adquirido. A taxa referencial (TR) nã o é índice de correçã o monetá ria, pois, refletindo as
variaçõ es do custo primá rio da captaçã o dos depó sitos a prazo fixo, nã o constitui índice
que reflita a variaçã o do poder aquisitivo da moeda. Por isso, nã o há necessidade de se
examinar a questã o de saber se as normas que alteram índice de correçã o monetá ria se
aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestaçõ es futuras de contratos celebrados no
passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna.- Também ofendem o
ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das
prestaçõ es nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por
Categoria Profissional (PES/CP). Açã o direta de inconstitucionalidade julgada procedente,
para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18,” caput “e pará grafos 1 e 4; 20; 21 e
pará grafo ú nico; 23 e pará grafos; e 24 e pará grafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de
1991.
(ADI 493, Relator (a): Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-
09-1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-00143-03 PP-00724)
Por algum tempo, o pró prio STJ rejeitou a TR como índice de correçã o monetá ria, tanto
para a poupança, quanto para o SFH. Neste sentido:
COMERCIAL. MÚ TUO RURAL. CORREÇÃ O MONETÁ RIA. VINCULAÇÃ O AO CRITÉ RIO DE
REAJUSTE DOS DEPÓ SITOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃ O
PELA TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. PREVISÃ O DE UTILIZAÇÃ O DA
OTN. INDEXADOR CONTRATUALMENTE ELEITO. SUBSTITUIÇÃ O EX LEGE PELA TR.
INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃ O DO INPC. PRECEDENTES.
I – NO CONTRATO DE MÚ TUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE VINCULAÇÃ O DA CORREÇÃ O
MONETÁ RIA AO CRITÉ RIO DE ATUALIZAÇÃ O DOS DEPÓ SITOS EM CADERNETA DE
POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊ NCIA DO MESMO INDEXADOR NOS MESES
SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. (ART. 13 DA LEI 8.177).
II – EM FACE DA POSIÇÃ O DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL INADMITINDO A TR COMO
FATOR DE ATUALIZAÇÃ O MONETÁ RIA SUBSTITUTIVO DO BTN, A CORREÇÃ O DOS
VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A
VARIAÇÃ O DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA PÚ BLICA, CUMPRE SEJA
PROCEDIDA, A PARTIR DA LEI 8.177/91, COM BASE NO INPC.
(REsp. 40.777/GO, Rel. Ministro SÁ LVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 13/11/1995, DJ 11/12/1995, p. 43225) (grifamos)
ADMINISTRATIVO – SFH – REAJUSTE DAS PRESTAÇÕ ES E DO SALDO DEVEDOR – PLANO
DE EQUIVALÊ NCIA SALARIAL (PES) – INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF –
VANTAGENS PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE AO SALÁ RIO – INCLUSÃ O NO
CÁ LCULO – DIVERGÊ NCIA JURISPRUDENCIAL NÃ O COMPROVADA – RISTJ, ART. 255 E
PARÁ GRAFOS – SÚ MULA 13/STJ – PRECEDENTES STJ.
– Nos contratos vinculados ao PES, o reajustamento das prestaçõ es deve obedecer à
variaçã o salarial dos mutuá rios, a fim de preservar a equaçã o econô mico-financeira do
pactuado.
– As vantagens pessoais incorporadas, definitivamente, ao salá rio ou vencimento do
mutuá rio, incluem-se na verificaçã o da equivalência para fixaçã o das parcelas.
– Declarada pelo STF a inconstitucionalidade da TR como fator de correçã o monetá ria
(ADIN 493-0), o reajustamento do saldo devedor, a exemplo das prestaçõ es mensais,
também deve obedecer ao Plano de Equivalência Salarial.
– Recurso conhecido e parcialmente provido.
(Resp 140.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 23/11/1999, DJ 21/02/2000, p. 112) (grifamos)
SFH. PLANO DE EQUIVALÊ NCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕ ES. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA UNIÃ O. NULIDADE DO ACÓ RDÃ O. INOCORRÊ NCIA. VANTAGENS PESSOAIS.
INCLUSÃ O. CORREÇÃ O PELA TR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
(…)
4. Inaplicá vel a TR como fator de correçã o monetá ria. Entendimento consagrado nesta
Corte na esteira de orientaçã o traçada pelo STF.
5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
(REsp 209.466/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 07/08/2001, DJ 17/06/2002, p. 231) (grifamos)
Todavia, a Corte de Justiça, fazendo uma releitura do voto do Ministro Moreira Alves do
STF, mudou de entendimento, e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice
de correçã o monetá ria, conforme demonstra o seguinte julgado:
SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃ O. SALDO DEVEDOR. ATUALIZAÇÃ O MONETÁ RIA.
TR.
1. Nã o é inconstitucional a correçã o monetá ria com base na Taxa Referencial – TR. O que é
inconstitucional é sua aplicaçã o retroativa. Foi isso o que decidiu o STF da ADI 493/DF,
Pleno, Min. Moreira Alves, DJ de 04.09.1992, ao estabelecer o â mbito de incidência da Lei
8.177, de 1991.
2. Aos contratos de mú tuo habitacional firmados no â mbito do SFH que prevejam a
correçã o do saldo devedor pela taxa bá sica aplicá vel aos depó sitos da poupança aplica-se a
Taxa Referencial, por expressa determinaçã o legal. Precedentes da Corte Especial:
AGEREsp 725917 / DF, Min. Laurita Vaz, DJ 19.06.2006; DERESP 453600/DF, Min. Aldir
Passarinho Junior, DJ 24.04.2006.
3. Embargos de divergência a que se nega provimento.
(EREsp 752.879/DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em
19/12/2006, DJ 12/03/2007, p. 184) (grifamos)
Como dito alhures, aplicaçã o de índice de correçã o monetá ria se presta para recuperar o
poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado
por um processo inflacioná rio. O pró prio STJ reconhece a influência da inflaçã o e da
deflaçã o na composiçã o do índice de correçã o monetá ria, senã o vejamos:
PREVIDENCIÁ RIO E ECONÔ MICO. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. DETERMINAÇÃ O DE
CORREÇÃ O MONETÁ RIA PELO IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃ O. APLICABILIDADE. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃ O OCORRÊ NCIA.
PRESERVAÇÃ O DO VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃ O. PRECEDENTES.
1.”A correçã o monetá ria nada mais é do que um mecanismo de manutençã o do poder
aquisitivo da moeda, nã o devendo representar, consequentemente, por si só , nem um plus
nem um minus em sua substâ ncia. Corrigir o valor nominal da obrigaçã o representa,
portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilaçõ es
inflacioná rias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigaçã o levando em
conta apenas oscilaçõ es positivas importaria distorcer a realidade econô mica produzindo
um resultado que nã o representa a simples manutençã o do primitivo poder aquisitivo, mas
um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientaçã o de
Procedimento de Cá lculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que, nã o havendo
decisã o judicial em contrá rio, “os índices negativos de correçã o monetá ria (deflaçã o) serã o
considerados no cá lculo de atualizaçã o”, com a ressalva de que, se, no cá lculo final, ‘a
atualizaçã o implicar reduçã o do principal, deve prevalecer o valor nominal'”(Corte
Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe 18/4/12).
2. No precedente da Corte Especial, mencionado na decisã o agravada, ficou expressamente
consignado que se, na atualizaçã o da dívida, houver reduçã o do principal, deve prevalecer o
valor nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de vencimentos, previsto nos
arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituiçã o Federal.
3. A compreensã o no sentido de que nã o há violaçã o ao princípio da irredutibilidade dos
vencimentos, quando preservado o valor nominal da obrigaçã o, encontra respaldo na
jurisprudência do STF e do STJ.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EREsp 1252558/RS, Rel. Ministro SERGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃ O, julgado
em 13/03/2013, DJe 21/03/2013) (grifamos)
Nã o podemos nos esquecer de que a cultura da correçã o monetá ria está de tal forma
arraigada ao nosso sistema econô mico, que o pró prio Có digo Civil de 2002, traz diversos
dispositivos garantindo atualizaçã o monetá ria:
Art. 389. Nã o cumprida a obrigaçã o, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualizaçã o monetá ria segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorá rios de
advogado.
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros,
atualizaçã o dos valores monetá rios segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorá rios de advogado.
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigaçõ es de pagamento em dinheiro, serã o pagas com
atualizaçã o monetá ria segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo
juros, custas e honorá rios de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Art. 418. Se a parte que deu as arras nã o executar o contrato, poderá a outra tê-lo por
desfeito, retendo-as; se a inexecuçã o for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu
haver o contrato por desfeito, e exigir sua devoluçã o mais o equivalente, com atualizaçã o
monetá ria segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorá rios de
advogado.
Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualizaçã o monetá ria da
indenizaçã o devida segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos
juros morató rios.
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a atualizaçã o dos valores monetá rios.
Este retrospecto da evoluçã o legal e jurisprudencial a respeito da aplicaçã o da TR como
índice de correçã o monetá ria se fez necessá rio para que pudéssemos chegar ao nú cleo do
argumento desta açã o.
Hoje, no país, há dois tipos de índices de correçã o monetá ria. Índices que refletem a
inflaçã o e, portanto, recuperam o poder de compra do valor aplicado, como o IPCA e o INPC,
e um índice que nã o reflete a inflaçã o, e consequentemente nã o recupera o poder de
compra do valor aplicado – a Taxa Referencial/TR.
Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca foi igual à inflaçã o. Nem
quando experimentamos hiperinflaçã o, nem quando experimentamos deflaçã o. Todavia, os
índices da TR, do INPC e do IPCA, sempre andaram pró ximos. Em outras palavras, imperava
a razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de correçã o do
valor do capital.
ANO TR INPC IPCA
1991 335,51% 475,11% 472,69%
1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%
1993 2.474,73% 2.489,11% 2,477,15%
1994 951,19% 929,32% 916,43%
1995 31,6207% 21,98% 22,41%
1996 9,5551% 9,125% 9,56%
Nã o obstante, o cená rio começa a mudar a partir de 1999. A TR se distancia
expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflaçã o superar 6% ao ano e a TR
ser igual a zero. Logo, ela nã o se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos
depó sitos do FGTS, que sã o um patrimô nio do trabalhador.
O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo iníquo por ele nã o ter
recomposiçã o inflacioná ria dos seus recursos. Na verdade, o trabalhador nã o está
financiando programas de habitaçã o popular, saneamento bá sico e infraestrutura urbana,
ele está subsidiando.
Ao contrá rio de outros investimentos, o FGTS nã o é um fundo de livre à disposiçã o por
parte do trabalhador, nã o podendo ele decidir por vontade pró pria quais as aplicaçõ es que
lhe sã o mais convenientes ou rentá veis. O trabalhador tem que se submeter a políticas
econô micas e sociais que lhe sã o altamente prejudiciais.
Ora, mas a pró pria Lei do FGTS diz em seu artigo 2º que é garantida a atualizaçã o
monetá ria e juros. Quando a TR é igual a zero este artigo é descumprido. Quando a TR é
mínima e totalmente desproporcional em relaçã o à inflaçã o, este artigo também é
descumprido e o patrimô nio do trabalhador é subtraído por quem tem o dever legal de
administrá -lo.
Em um cená rio de TR zero e inflaçã o pú blica e notó ria, estamos diante de uma situaçã o de
confisco. O Governo Federal, através da Caixa Econô mica Federal, está confiscando os
rendimentos dos trabalhadores, para subsidiar políticas pú blicas, sem a menor
possibilidade de ingerência destes trabalhadores.
Assim como em nosso Estado Democrá tico de Direito, a Constituiçã o veda que se utilize o
tributo com efeito de confisco, o trabalhador nã o pode ser punido com o confisco do que a
pró pria Caixa define em seu sítio eletrô nico, como um patrimô nio do trabalhador, e
definitivamente o é.
Quando se fala em patrimô nio, imediatamente sobrevém liçã o da Professora Maria Helena
Diniz ao comentar o artigo 91 do Novo Có digo Civil:
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relaçõ es jurídicas de uma pessoa,
dotadas de valor econô mico.
Universalidade de direito. É a constituída por bens singulares corpó reos heterogêneos ou
incorpó reos (complexo de relaçõ es jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de
produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econô mico, como p. Ex., o
patrimô nio (…) O patrimô nio e a herança sã o considerados como um conjunto, ou seja,
como uma universalidade. Embora se constituam ou nã o de bens materiais e de créditos,
esses bens se unificam numa expressã o econô mica, que é o valor. O patrimô nio é complexo
de relaçõ es jurídicas de uma pessoa apreciá veis economicamente. Incluem-se no
patrimô nio: a posse, os direitos reais, as obrigaçõ es e as açõ es correspondentes a tais
direitos. O patrimô nio abrange direitos e deveres redutíveis a dinheiro.
(Có digo Civil Anotado, Ed. Saraiva, pag. 100) (grifamos).
Levando em conta que a relaçã o jurídica entre os trabalhadores e a Caixa é de direito
pessoal, o artigo 233 do Có digo Civil se torna inafastá vel, na medida em que determina que
a obrigaçã o de dar coisa certa abranja os acessó rios, ainda que nã o mencionados.
Art. 233. A obrigaçã o de dar coisa certa abrange os acessó rios dela embora nã o
mencionados, salvo se o contrá rio resultar do título ou das circunstâ ncias do caso.
Ora, acessó rios de dinheiro sã o os juros e a correçã o monetá ria.
E entã o voltamos à Taxa Referencial.
B) MANIPULAÇÃ O DA TR PELO BANCO CENTRAL/CMN
Independentemente da discussã o sobre sua natureza jurídica, vamos aqui partir do
pressuposto, assentado pela jurisprudência, principalmente do STJ, que a TR é índice de
correçã o monetá ria.
Tanto o artigo 1º da lei nº 8.177/91 quando o artigo 5º da Lei nº 10.192/01 (que convolou
a MP 1.053/95) atribuíram ao Banco Central a regulamentaçã o da metodologia de cá lculo
da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expediçã o das instruçõ es necessá rias ao
cumprimento do artigo que criou a TBF.
Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da
remuneraçã o mensal média líquida de impostos, dos depó sitos a prazo fixo captados nos
bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos mú ltiplos com carteira comercial ou
de investimentos, caixas econô micas, ou dos títulos pú blicos federais, estaduais e
municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetá rio Nacional,
no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.. (Lei nº 8177/91)
Artigo 5º Fica instituída Taxa Bá sica Financeira – TBF, para ser utilizada exclusivamente
como base de remuneraçã o de operaçõ es realizadas no mercado financeiro, de prazo de
duraçã o igual ou superior a sessenta dias.
Pará grafo ú nico. O Conselho Monetá rio Nacional expedirá as instruçõ es necessá rias ao
cumprimento do disposto neste artigo, podendo inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto
no caput. (Lei nº 10.192/01)
No mister de regulamentar a TR, o Banco Central/CMN vem ao longo dos anos criando e
reinventando fó rmulas para encontrá -la. Pelo menos desde a Resoluçã o 2.075, de 26 de
maio de 1994, há fó rmulas para encontrar a TR. Todavia, é com a instituiçã o da Taxa Bá sica
Financeira, pela Medida Provisó ria 1.053/95, de 30 de junho de 1995, que a forma de
cá lculo da TR sofre uma expressiva reviravolta.
Desde a Resoluçã o 2.437, de 30 de outubro de 1997, a TR é calculada levando em conta a
Taxa Bá sica Financeira e um Redutor.
A Resoluçã o 3.354/06, hoje vigente sobre o assunto, diz o seguinte:
Art. 1º Estabelecer que, para fins de cá lculo da Taxa Bá sica Financeira – TBF e da Taxa
Referencial – TR, de que tratam os arts. 1º da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, 1º da Lei
8.660, de 28 de maio de 1993, e 5º da Lei 10.192, de 14 de fevereiro de 2001, deve ser
constituída amostra das 30 maiores instituiçõ es financeiras do País, assim consideradas em
funçã o do volume de captaçã o efetuado por meio de certificados e recibos de depó sito
bancá rio (CDB/RDB), com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, e remunerados a taxas
prefixadas, entre bancos mú ltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas
econô micas.
Art. 2º A TBF e a TR sã o calculadas a partir da remuneraçã o mensal média dos CDB/RDB
emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, com
base em informaçõ es prestadas pelas instituiçõ es integrantes da amostra de que trata o art.
1º, na forma a ser determinada pelo Banco Central do Brasil.
Art. 4º Para cada dia do mês – dia de referência – o Banco Central do Brasil deve calcular a
TBF, para o período de um mês, com início no pró prio dia de referência e término no dia
correspondente ao dia de referência no mês seguinte, considerada a hipó tese prevista no §
2º, inciso IV. (…)
Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, deve ser calculada
a correspondente TR, pela aplicaçã o de um redutor R, de acordo com a seguinte fó rmula:
TR = max {0,100 {[(1 + TBF/100) / R] – 1}} (em %).
§ 1º O valor do redutor ‘R’ deve ser calculado para todos os dias, inclusive nã o ú teis, de
acordo com a seguinte fó rmula:
R = (a + b x TBF/100), onde: Resoluçã o nº 3354, de 31 de março de 2006.
TBF = TBF relativa ao dia de referência
a = 1,005
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em funçã o da TBF obtida, segundo a
metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais ao ano:
TBF (% a. A.)
TBF maior que 16 0,48
TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44
TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40
TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36
TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32
Redaçã o dada pela Resoluçã o 3.446, de 05/03/2007.
§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do parâ metro b no caso
de a
TBF obtida ser inferior a 11% a. A. (onze por cento ao ano).
O peculiar nesta determinaçã o do Banco Central/CMN, que de resto se repete desde 1997, é
que a TBF e TR sã o exatamente iguais em sua gênese até o momento em que se determina
que se aplique um redutor à TBF para se chegar à TR.
Nã o há na Lei da TR previsã o de aplicaçã o de redutor, assim como nã o há na Lei que criou a
TBF. Todavia, causa estranheza que diante de um comando aberto como o do art. 5º da MP
nº 1.503/95 (Lei nº 10.192/01), o Banco Central/CMN, com amplos poderes para
regulamentar o assunto, nã o tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao
regulamentar o artigo 1º da lei nº 8.177/91, que nã o era tã o flexível.
O Economista César Roberto Buzin explica o quê o Banco Central/CMN está fazendo com a
TR, neste trecho do Parecer Econô mico a seguir:
Objeto de discussã o é a utilizaçã o da TR como índice de correçã o monetá ria, que apesar de
nã o ter sido criada como um índice de indexaçã o monetá ria vem sendo utilizada para tal
finalidade na correçã o dos valores aplicados à caderneta de poupança e outras aplicaçõ es
como os depó sitos do FGTS, dinheiro pertencente aos trabalhadores, porém, com gestã o de
terceiros.
A posiçã o adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, em agosto de 2010, a respeito da
utilizaçã o da TR como índice de correçã o monetá ria foi sacramentada por meio da criaçã o
da Sú mula 454, com a seguinte redaçã o: “Pactuada a correçã o monetá ria nos contrato do
SFH pelo mesmo índice aplicá vel à caderneta de poupança, incide a Taxa Referencial (TR) a
partir da vigência da Lei 8.177/91”.
A TR é calculada a partir da Taxa Bá sica Financeira (TBF), uma média de taxas de juros
pagas nas aplicaçõ es em certificados de depó sitos bancá rios (CDB) emitidas pelas 30
maiores instituiçõ es financeiras.
Para calcular o valor da TR, é preciso aplicar um redutor sobre a TBF, que depende de dois
parâ metros, chamados de a e b. O parâ metro a é o fator de 1,005, equivalente à
remuneraçã o da caderneta antiga, ou seja, 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano de juros
remunerató rio. Enquanto que o b é um decimal menor do que 1, arbitrado pelo BACEN e
que varia de acordo com o nível de taxa de juros bá sica da economia, divulgada apó s as
reuniõ es do Comitê de Política Monetá ria do BC (Copom).
Para calcular o redutor (R) o parâ metro b é multiplicado pelo valor da TBF e somado ao
parâ metro a, ou seja,
R= a + b x TBF TR= 1+TBF – 1
A fó rmula significa que os novos depó sitos realizados nas contas de depó sitos de poupança
tenham como remuneraçã o adicional (TR): (i) 0,5% a. M. Enquanto a meta da taxa SELC,
taxa bá sica de juros, definida pelo BACEN, estiver acima de 8,5% a. A e (ii) 70% da meta da
taxa SELIC, mensalizada, vigente na data do início do período de rendimento. No nível atual
de taxa de juros decrescente de uma economia estabilizada e num cená rio para os
pró ximos anos, de juros baixos, a TR permanecerá por um longo período indeterminado
como zero.
Na esteira do que foi deduzido no Parecer, um quadro comparativo entre os percentuais da
TR, INPC e IPCA, desde 1997, os depó sitos nas contas vinculadas do FGTS dos
trabalhadores estã o perdendo poder de compra, notadamente a partir de 1999. Veja:
ANO TR INPC IPCA
1997 9,7849% 4,34% 5,22%
1998 7,7938% 2,49% 1,65%
1999 5,7295% 8,43% 8,94%
2000 2,0962% 5,27% 5,97%
2001 2,2852% 9,44% 7,67%
2002 2,8023% 14,74% 12,53%
2003 4,6485% 10,38% 9,30%
2004 1,8184% 6,13% 7,60%
2005 2,8335% 5,05% 5,69%
2006 2,0377% 2,81% 3,14%
2007 1,4452% 5,15% 4,46%
2008 1,6348% 6,48% 5,90%
2009 0,7090% 4,11% 4,31%
2010 0,6887% 6,46% 5,91%
2011 1,2079% 6,07% 6,50%
2012 0,2897% 6,17% 5,84%
2013 0,1910% 5,56% 5,91%
2014 0,8592% 6,23% 6,41%
2015 (até abril) 0,4576% 4,95% 4,56%
Excelência, hoje, o trabalhador que tem seu dinheiro aplicado no FGTS, e de lá nã o pode
retirá -lo para outro investimento, está sendo remunerado com juros abaixo de 0,300% ao
mês e mais nada. Nã o há nem correçã o monetá ria nem Taxa Referencial
(independentemente da sua natureza jurídica), em flagrante ofensa ao artigo 2º da Lei nº
8.036/90, que impõ e a correçã o monetá ria dos valores depositados pelo empregador.
Ainda que se argumente que a aplicaçã o do Redutor pelo Banco Central/CMN seja legal, sua
reduçã o a zero em um cená rio de inflaçã o superior a 6% ao ano, configura flagrante afronta
ao artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que determina a atualizaçã o monetá ria, bem como ao
artigo 233 do Có digo Civil, quando sonega os acessó rios da obrigaçã o de dar.
Mas é necessá rio ir mais além e revisitar o entendimento jurisprudencial sobre a TR como
índice de correçã o monetá ria, má xime a partir da instituiçã o de um redutor que tem por
efeito zerar o índice da TR em um ambiente de inflaçã o.
O quadro comparativo mostra que a TR nã o se presta como atualizador monetá rio do FGTS,
pelo menos desde janeiro de 1999. Desde o momento em que o Banco Central/CMN
estabeleceu um redutor para a TR, ela deixou de ser um índice confiá vel para atualizar
monetariamente as contas do FGTS, porque se descola dos índices de inflaçã o, sendo
reduzido ano a ano. A finalidade da correçã o monetá ria é manter o poder de compra do
capital, e esta finalidade nem de perto vem sendo alcançada pela TR. A anulaçã o total da TR
é só o desfecho desta política predató ria para o trabalhador.
O trabalhador, que luta para formar um patrimô nio, tem que poder confiar na lei. Esta
confiança está quebrada.
Há a nítida expropriaçã o do patrimô nio do trabalhador, na medida em que se nega a ele a
devida atualizaçã o monetá ria.
A atualizaçã o monetá ria é o elemento mais importante do mercado financeiro, pois sem a
mediçã o precisa da perda do poder aquisitivo da moeda com o decorrer do tempo, ocorre
uma gigantesca destruiçã o de valor. O objetivo fundamental de escolha de um índice de
atualizaçã o nos ativos (negó cios, contratos, aplicaçõ es e etc) é de proteger o patrimô nio,
evitando que ele seja corroído pela inflaçã o.
O Poder Judiciá rio há de se opor a este esbulho, confisco, expropriaçã o que o trabalhador
está sofrendo, desde janeiro de 1999, com as constantes reduçõ es da TR em relaçã o aos
índices de inflaçã o, culminando na sua completa nulidade, ininterruptamente, desde
setembro de 2012.
Em 1991 e 1992, quando o STF julgou a ADI 493-0/DF, ele deixou bem assentado que a TR
nã o constituía índice que refletia a variaçã o do poder aquisitivo da moeda. Esta
característica da TR tem se confirmado ao longo dos anos. A sua aplicaçã o aos saldos dos
depó sitos do FGTS tem gerado “gigantesca destruiçã o de valor” do patrimô nio do
trabalhador. Há anos, os trabalhadores que tem depó sitos no FGTS nã o experimentam
ganhos reais em sua aplicaçã o. Ao contrá rio. Há muito tempo, os trabalhadores tem
rendimentos inferiores à inflaçã o, mesmo levando em conta a remuneraçã o dos juros de
3% ao ano.
O que torna a TR um índice inidô neo é a intensa ingerência do Banco Central/CMN na sua
formulaçã o. Como explica o Economista César Buzim:
A TR deveria servir como referência para os juros vigentes no Brasil, sendo divulgada
mensalmente, a fim de evitar que a taxa de juros no mês corrente refletisse a inflaçã o do
mês anterior, apesar das suas características, foi usada como índice econô mico de correçã o
monetá ria (…)
A mudança no comportamento da TR nã o se deve somente a oscilaçõ es da economia, mas
também à sistemá tica apurató ria desse índice. Inicialmente, ficou estabelecido que o
BACEN efetuaria o cá lculo da TR a partir da remuneraçã o mensal média dos certificados e
recibos de depó sito bancá rio (CDB/RDB) emitidos por uma amostra de instituiçõ es
financeiras, levando em conta a taxa média de remuneraçã o dos CDB/RDB´s e um redutor
fixado por resoluçã o do CMN.
Como consequência da atuaçã o do BACEN, a taxa referencial deixou de refletir o índice
inflacioná rio a partir de 1999.
(…)
O prejuízo causado aos trabalhadores devido à aplicaçã o da TR como índice de correçã o
monetá ria é tamanho que quando analisado o fator de correçã o acumulado do FGTS
visualiza-se que a rentabilidade desse fundo nã o supera os índices inflacioná rios desde
2002, rendendo menos que a inflaçã o a partir de 2007, apesar da aplicaçã o de juros de 3%
a. A. Diante do exposto, podemos afirmar que a TR nã o repõ e mais as perdas inflacioná rias,
o que afeta consideravelmente os poupadores, bem como os trabalhadores que possuem o
FGTS.
(…)
Com base nas normas Resoluçã o CMN nº 2.437, de 30.10.98, Resoluçã o CMN nº 2.604, de
23.04.99. Resoluçã o CMN nº 2.809, de 21.12.00, Resoluçã o CMN nº 3.354 de 31.03.2006,
Resoluçã o CMN nº 3.446 de 05.03.2007 e Circular nº 3.356 de 11.07.2007, que
estabeleceram no decorrer dos anos a forma de cá lculo da TR, bem como nas informaçõ es
disponibilizadas pelo BACEN foi construída planilha demonstrando a evoluçã o do fator de
ponderaçã o b, elemento essencial para o cá lculo do redutor da TR. As primeiras mudanças
significativas da TR ocorreram através das Resoluçõ es CMN nº 2.387/97 e nº 2.437/97 que
estabeleceram a fó rmula de cá lculo do redutor da TR com duas novas variá veis, ambas
definidas pelo BACEN, quais sejam: a constante a e o fator de ponderaçã o b.
A partir da Resoluçã o CMN nº 2.809/2000, o BACEN passou a determinar o fator b, sem
critério técnico conhecido, a partir de certo patamar, conforme visualizado na tabela
abaixo:
MS – é a meta para a taxa SELIC em (% a. A)
MS b
MS > 16 0,48
16 >= MS >15 0,44
15 >= MS >14 0,40
14 >= MS >13 0,36
13 >= MS >12 0,32
12 >= MS >11 0,28
11 >= MS >10 0,24
10
Abaixo de 10 fator b determinado pelo BACEN
Essa discricionariedade do BACEN na valoraçã o do fator b, acolhida pelas circulares e
resoluçõ es posteriores, impactou o cá lculo do Redutor da TR.
De pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao Banco Central/CMN que
recalculasse a TR, pois uma nova fó rmula estaria igualmente sob a discricionariedade e
subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessã o de resoluçõ es do Banco Central/CMN
sobre o tema, conforme Parecer do referido Economista.
Partindo da premissa inequívoca de que a TR nã o repõ e as perdas monetá rias dos
depó sitos do FGTS, outro caminho nã o existe se nã o o de adotar um novo índice que
verdadeiramente corrija estes depó sitos.
C) ÍNDICES QUE EFETIVAMENTE PRODUZEM A CORREÇÃ O MONETÁ RIA
A Lei de Introduçã o à s Normas do direito Brasileiro estabelece em seu artigo 5º que na
aplicaçã o da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e à s exigências do bem
comum.
A Lei do FGTS tem um fim social indiscutível, proteger o trabalhador e constituir um
patrimô nio que lhe sirva de arrimo em vá rias situaçõ es de sua vida.
Diante de tudo que foi demonstrado, o juiz atenderá aos fins sociais da Lei do FGTS ao
reconhecer que correçã o monetá ria, reposiçã o dos índices inflacioná rios de forma a
garantir o poder de compra daquele dinheiro ali depositado no Fundo, é efetivamente
devida pela Caixa.
Se a TR nã o pode ser considerada um índice idô neo, sobrevém a necessidade de substituí-la
por um índice que realmente reponha as perdas monetá rias. E entã o, nada obsta que o juiz
considere índices previstos em outra legislaçã o.
Até por uma questã o de equidade, o melhor índice que pode substituir a TR é o índice que
corrige monetariamente os salá rios dos trabalhadores e os benefícios previdenciá rios. Este
índice está previsto na Lei 12.382 de 25 de fevereiro de 2011, cujos primeiros artigos
trazem a seguinte dicçã o:
Art. 1º O salá rio mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00 (quinhentos e
quarenta e cinco reais).
Pará grafo ú nico. Em virtude do disposto no caput, o valor diá rio do salá rio mínimo
corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horá rio, a R$ 2,48
(dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2º Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorizaçã o do salá rio mínimo a
vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1º de janeiro do respectivo ano.
§ 1º Os reajustes para a preservaçã o do poder aquisitivo do salá rio mínimo corresponderã o
à variaçã o do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, calculado e divulgado pela
Fundaçã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, acumulada nos doze meses
anteriores ao mês do reajuste.
§ 2º Na hipó tese de nã o divulgaçã o do INPC referente a um ou mais meses compreendidos
no período do cá lculo até o ú ltimo dia ú til imediatamente anterior à vigência do reajuste, o
Poder Executivo estimará os índices dos meses nã o disponíveis.
§ 3º Verificada a hipó tese de que trata o § 2º, os índices estimados permanecerã o vá lidos
para os fins desta Lei, sem qualquer revisã o, sendo os eventuais resíduos compensados no
reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4º A título de aumento real, serã o aplicados os seguintes percentuais:
I – em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto
Interno Bruto – PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010
II – em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2011
III – em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e
IV – em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.
§ 5º Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o
ano de referência, divulgada pelo IBGE até o ú ltimo dia ú til do ano imediatamente anterior
ao de aplicaçã o do respectivo aumento real.
Nã o há porque ter dois pesos e duas medidas. Se o salá rio mínimo é corrigido
monetariamente pelo INPC, o depó sito do FGTS que, em ú ltima aná lise, é um salá rio
indireto do trabalhador, também há de sê-lo.
E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salá rio mínimo pelo INPC decorre
exclusivamente da necessidade de preservar seu poder aquisitivo. A necessidade de
preservar o poder aquisitivo é um constante em todas as transaçõ es financeiras, e ela só
aperfeiçoa quando repõ e efetivamente as perdas inflacioná rias.
Outro índice que se mostra aplicá vel, na hipó tese deste douto Juízo entender que nã o se
aplicaria o INPC, é o IPCA, índice oficial do Governo Federal para mediçã o das metas
inflacioná rias, contratadas com o FMI, a partir de julho de 1999.
Ambos os índices sã o infinitamente mais adequados a preservar o poder aquisitivo dos
depó sitos do FGTS do que a aniquilada TR.
Por fim, cumpre lembrar que o entendimento que começa a surgir os primeiros
entendimentos razoá veis sobre a questã o, ainda que em primeiro grau de jurisdiçã o, como
se vê a seguir em uma decisã o na cidade de Foz do Iguaçu (4ª Regiã o):
“… Pois bem. Verificada a desigualdade/desproporçã o entre a TR e de outra banda, o IPCA-
E e o INPC, passa-se a analisar a real funçã o da correçã o monetá ria em cotejo com o
princípio constitucional do direito à propriedade (art. 5º, XXII, da Carta Magna). Embora
em tal julgado o STF nã o tenha declarado que haveria impossibilidade de utilizaçã o de tal
índice aos contratos firmados apó s essa data, nele ficou reconhecido, de maneira cristalina
que aquele Tribunal nã o reconhecia a TR como índice há bil a promover a atualizaçã o
monetá ria. Processo: 5009533-35.2013.404.7002/PR.”
Ainda, nesse sentido, na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais (1ª regiã o), também houve
procedência da açã o de revisã o do FGTS, neste caso para substituiçã o da Taxa Referencial
(TR) pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Neste caso o magistrado
demonstrou a evoluçã o do FGTS ao longo de 47 anos de histó ria, desde que foi criado pela
Lei 5.107/66. In Verbis:
“… Como se viu no tó pico anterior, a metodologia iniciada pela Resoluçã o CMN 2.604, de
23/04/1999, com efeitos a partir de 01/06/1999, deu início ao descolamento da TR dos
índices de inflaçã o, sendo esse o momento que se deve fixar para a recomposiçã o das
contas do FGTS. Diante do exposto, tendo em vista o que já decidido pelo E. STF no caso da
lei 11.960/09 e o fato de o FGTS ser um pecú lio constitucional obrigató rio, nã o portá vel e
de longo prazo, cuja garantia de recomposiçã o das perdas inflacioná rias está implícita na
disposiçã o do art. 7º, III, da CR/88, que assegura esse direito trabalhista fundamental a
todos os trabalhadores, é de se declarar inconstitucional, pelo menos desde a
superveniência dos efeitos da Resoluçã o CMN 2.604, de 23/04/1999, a vinculaçã o da
correçã o monetá ria do FGTS à TR, conforme art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei
8.177/91. Processo:3279-88.2013.4.01.3810, JUSTIÇA FEDERAL DE 1ª INSTÂ NCIA –
SUBSEÇÃ O JUDICIÁ RIA DE POUSO ALEGRE/MG.”
Assim sendo, deve ser aplicado, para fins de dar cumprimento à atualizaçã o monetá ria dos
saldos das contas do FGTS, qual seja, INPC ou alternativamente o IPCA, em substituiçã o à
TR, desde janeiro do ano de 1999, a partir de quando tal índice deixou de refletir a variaçã o
inflacioná ria da moeda.
IV- DO PREQUESTIONAMENTO PARA EVENTUAL INTERPOSIÇÃ O DE RECURSO ESPECIAL
OU RECURSO EXTRAORDINÁ RIO
Inicialmente é importante retratar que o tema em debate cuida de matéria de ordem
pú blica, a qual ultrapassa a esfera individual do cidadã o atingindo toda a ordem social quer
seja jurídica, quer seja em â mbito político-social afetando, dessa forma, toda a parcela da
sociedade comprometida com o bem comum.
Sublinha-se que a matéria ora ventilada, afronta de pronto preceitos Constitucionais que
violam os Direitos Garantia de todos os trabalhadores que possuem conta vinculada do
FGTS.
Assim, há repercussã o geral na presente açã o, frente ao Estado Democrá tico de Direito,
compromissá rio e dirigente que tem como postulado a segurança jurídica.
No mais, com efeito, o tema apresenta relevâ ncia do ponto de vista jurídico, uma vez que a
definiçã o sobe a constitucionalidade dessa exaçã o norteará o julgamento de inú meros
processos similares, que tramitam neste e nos demais tribunais brasileiros. Além de fixar a
interpretaçã o da Corte sobre os dispositivos constitucionais suscitados no feito.
Nesse contexto, em breve síntese, a aplicaçã o da T. R como índice de correçã o monetá ria do
FGTS, encontraria respaldo em dois artigos da Lei nº 8.036/90, art. 2º e art. 13.
Assim, entendemos, data venia, que há uma obrigatoriedade de correçã o monetá ria e de
remuneraçã o por meio de juros dos depó sitos efetuados nas contas vinculadas do FGTS,
senã o vejamos:
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e
outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualizaçã o monetá ria e
juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigaçõ es.
Art. 13. Os depó sitos efetuados nas contas vinculadas serã o corrigidos monetariamente
com base nos parâ metros fixados para atualizaçã o dos saldos dos depó sitos de poupança e
capitalizaçã o juros de (três) por cento ao ano.
Todavia, a realizaçã o de interpretaçã o ou decisã o diversa, no sentido que as contas
vinculadas do FGTS devem ser corrigidas pela TR, por força do citado artigo 13, viria a ferir
vá rios preceitos constitucionais.
Nesse sentido, referido artigo 13, desobedeceria aos limites materiais de inú meros
fundamentos e princípios constitucionais, como o Estado Democrá tico de Direito,
atentando contra a Dignidade da pessoa Humana (art. 1º e inciso III, da CF), bem como os
princípios da igualdade, segurança jurídica (art. 5º, caput, da CF), da proteçã o ao direito de
propriedade, direito adquirido (art. 5º, XXII e XXXVI da CF) e moralidade (art. 37 da CF).
Nessa mesma linha, recentemente o Supremo Tribunal Federal decidiu pela
inconstitucionalidade da utilizaçã o da Taxa Referencial – TR – como índice de correçã o
monetá ria para o pagamento dos chamados precató rios (ADI nº 4357) reafirmando
entendimento anteriormente adotado por aquela Corte na ADI nº 493. Essa decisã o tem
desdobramentos que vã o além do processo no qual foi tomada. Isso porque a Lei nº
8.036/90 que estabelece as bases do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS –
também prevê a aplicaçã o de correçã o monetá ria e há muito tempo é utilizado o referido
índice (TR) para corrigir referido fundo, o mesmo agora considerado inconstitucional para
este fim pelo STF.
Assim, a parte autora há por bem PREQUESTIONAR a matéria, para efeito de eventual
interposiçã o de Recurso Especial e/ou Extraordiná rio, conforme fundamentos que passa a
expor:
Inicialmente devemos nos recordar que a dignidade da pessoa humana é valor
constitucional supremo que agrega em torno de si a unanimidade dos demais direitos e
garantias fundamentais do homem, envolvendo-se tanto em relaçã o ao direito à vida como,
também, aos direitos pessoais tradicionais, os direitos sociais, econô micos, e as liberdades
pú blicas em geral.
Em verdade quando o texto constitucional proclama a dignidade da pessoa humana está
corroborando um imperativo de justiça social, e consigna, acima de tudo, um sobre
princípio (é o caso dos diretos fundamentais).
Nesse sentido, em relaçã o ao caso concreto, é necessá rio aprofundarmos um pouco mais
nas consequências que esta subtraçã o de recursos do patrimô nio do trabalhador traz a
todos, individual e coletivamente.
É de conhecimento geral que o Sistema Financeiro de Habitaçã o dispõ e dos recursos do
FGTS para financiar o maior sonho de todo brasileiro – casa pró pria. Também é de
conhecimento geral que a Caixa Econô mica Federal é o Banco que mais se utiliza destes
recursos do SFH para financiar, emprestar dinheiro para os brasileiros comprarem a casa
pró pria.
E, embora em princípio, nã o haja correlaçã o entre o trabalhador que tem depó sitos no
FGTS que sã o emprestados para financiar a casa pró pria, e aquele que se vale do
empréstimo do SFH para adquirir sua casa pró pria, em algum momento, trabalhador e
mutuá rio sã o a mesma pessoa.
Neste contexto de mutuá rio e trabalhador serem a mesma pessoa é que se evidencia a
maior sordidez da histó ria recente deste País.
Já seria reprová vel o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros baixos e sem nenhuma
correçã o e emprestá -lo a juros muito altos, mesmo sem correçã o (uma vez que a TR corrige
prestaçõ es do SFH), evidencia que a instituiçã o bancá ria leva imensa vantagem nesta
negociaçã o.
Mas a situaçã o piora consideravelmente quando, a Caixa pega dinheiro a juros baixos, sem
nenhuma correçã o para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.
Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa pró pria utilizando recursos do
seu FGTS. Ele encontra o imó vel, mas verifica que seus recursos nã o sã o suficientes para
adquiri-lo. Entã o ele se dirige a um Banco para financiar a diferença, comprometendo sua
renda por muitos anos.
A maioria dos trabalhadores brasileiros, quando quer adquirir um imó vel, dirige-se à Caixa
Econô mica Federal.
Todavia, se o depó sito do FGTS tivesse sido devidamente corrigido, se ele mantivesse seu
poder de compra, ou o empréstimo seria menor ou sequer haveria necessidade de o
trabalhador comprometer sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que é o nosso
sonho mais primá rio como indivíduo e como povo brasileiro.
A Caixa está emprestando para o trabalhador aquilo que ela deixou de pagar a ele a título
de correçã o monetá ria na sua conta de FGTS.
O Trabalhador Brasileiro nã o merece isto!
A Caixa vale-se da fragilidade humana para colocar-se como realizadora de sonhos, ao
mesmo tempo em que, ano apó s ano, aufere lucros exorbitantes à s custas do trabalhador.
Ainda em relaçã o aos dispositivos constitucionais violados, apontamos a violaçã o ao direito
de propriedade (art. 5º, XXII da CF).
O direito de propriedade decorre da pró pria lei natural. Por isso, é uma exigência da
natureza intelectual do homem. Enquanto os irracionais se contentam com a satisfaçã o de
suas necessidades imediatas, o homem pode prever o seu futuro. Assim, para subsistir hoje
e no tempo futuro, precisa apropriar-se de bens naturais, de consumo, bens fungíveis e,
também, de produçã o.
A propriedade é a expressã o da pessoa humana. É fruto do seu trabalho ou do de seus
antepassados. É o espelho do indivíduo, que precisa de um aconchego preservado pela
privacidade, onde pode ser ele mesmo, cercado dos sinais que identificam o seu eu. Ela
estimula o trabalho, sendo o homem atraído espontaneamente pela perspectiva da
recompensa direta e pessoal de seus esforços.
Finalmente, a propriedade é penhor de uma sociedade articulada ou organizada, ao
contrá rio da meramente coletiva, que tem por consequência uma sociedade massificada,
sem diversificaçã o nem liberdade. Ela defende os cidadã os contra a concentraçã o de todos
os poderes nas mã os do Estado, garantindo a liberdade dos indivíduos e sua independência
em relaçã o ao poder.
Nesse sentido:
“A propriedade faz parte da natureza do homem e da natureza das coisas. Como o trabalho,
ela encerra um mistério – é a projeçã o da personalidade humana sobre as coisas. A pessoa
tende à propriedade por um impulso instintivo, do mesmo modo que a nossa natureza
animal tende ao alimento. O apetite da propriedade é tã o natural à nossa espécie como a
fome e a sede; apenas é de notar que estes sã o apetites da nossa natureza inferior, ao passo
que aquele procede da nossa natureza superior. Todo o homem tem alma de proprietá rio,
mesmo os que se julgam seus inimigos. É isto que se entende quando se afirma que a
propriedade decorre do direito natural”(R. G. Renard, L’É glise et la Question Sociale, p. 137
et seq.).
Partindo da premissa acima, em 1991 e 1992, quando o STF julgou a ADI 493-0/DF, ele
deixou bem assentado que a TR nã o constituía índice que refletia a variaçã o do poder
aquisitivo da moeda. Esta característica da TR tem se confirmado ao longo dos anos. A sua
aplicaçã o aos saldos dos depó sitos do FGTS tem gerado “gigantesca destruiçã o de valor” do
patrimô nio do trabalhador. Há anos, os trabalhadores que tem depó sitos no FGTS nã o
experimentam ganhos reais em sua aplicaçã o. Ao contrá rio. Há muito tempo, os
trabalhadores tem rendimentos inferiores à inflaçã o, mesmo levando em conta a
remuneraçã o dos juros de 3% ao ano.
O que torna a TR um índice inidô neo é a intensa ingerência do Banco Central/CMN na sua
formulaçã o.
De pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao Banco Central/CMN que
recalculasse a TR, pois uma nova fó rmula estaria igualmente sob a discricionariedade e
subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessã o de resoluçõ es do Banco Central/CMN
sobre o tema, conforme Parecer do referido Economista.
Partindo da premissa inequívoca de que a TR nã o repõ e as perdas monetá rias dos
depó sitos do FGTS verifica-se de forma incontestá vel a destruiçã o de valor” do patrimô nio
do trabalhador”. Assim, outro caminho nã o existe se nã o o de adotar um novo índice que
verdadeiramente corrija estes depó sitos.
Como se sabe, o índice de remuneraçã o bá sico da poupança é a Taxa Referencial – TR,
índice controlado pelo Estado, e utilizado como instrumento de controle da economia –
vide os sucessivos índices mensais zerados, a fim de controle de aporte de capital nas
poupanças. Tanto a TR nã o se presta como índice de correçã o monetá ria, que o STF já
decidiu nesse sentido: “A taxa referencial (TR) nã o é índice de correçã o monetá ria (…) nã o
constitui índice que reflita a variaçã o do poder aquisitivo da moeda” (ADI 493-0/DF,
Relator Min. Moreira Alves, Plená rio, DJ 4.9.1992).
Assim sendo, texto tã o danoso ao cidadã o (art. 13 da lei 8.036/90) nã o poderá ser tolerado
pelo Judiciá rio.
Logo, declarada a inconstitucionalidade ao índice aplicado ao precató rio pago nos autos,
deve ser tomado como vigente e aplicado ao caso concreto – atribuindo-se outro índice de
correçã o, como retratado nos pedidos da presente açã o.
A ofensa ao art. 5º, caput, da CF, na vertente da segurança jurídica das relaçõ es com a Caixa
Econô mica Federal, verifica-se, notadamente apó s o reconhecimento pelo SFT que a TR nã o
se presta como índice de correçã o monetá ria.
Logo, como citado, resta clara a violaçã o aos Artigos 1º, inc. III, 5º, caput e incisos. XXII,
XXXVI, e 37, caput, da Constituiçã o da Repú blica.
Frise-se, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL já decidiu que envolve questã o constitucional a
discussã o a respeito da aplicaçã o ou nã o, nas contas vinculadas do FGTS, de índices de
correçã o monetá ria expurgados em decorrência de planos de estabilizaçã o da economia.
Com efeito, no dia 31-08-2000, em Sessã o Plená ria, o STF ao apreciar o RE n. 226855-RS
consolidou entendimento de que a decisã o judicial que decreta a procedência de pedido de
pagamento de índices de correçã o monetá ria, sob a alegaçã o de direito adquirido, trata de
questã o constitucional, pois está fundamentada na Constituiçã o Federal (art. 5º, XXXVI).
Ou seja, ao apreciar pedido de aplicaçã o de índices de correçã o monetá ria extralegais, a
decisã o judicial está , obrigatoriamente, posicionando-se quanto à existência ou nã o de
direito adquirido.
Pois bem, nos casos em que se pleiteiam a aplicaçã o nas suas contas vinculadas do FGTS, de
índices de correçã o monetá ria com discussã o de previsã o em leis vigentes – tratamos de
aná lise de direito adquirido.
A concessã o ou nã o do pedido depende entã o da apreciaçã o, pelo juiz da causa, da
existência ou nã o de direito adquirido aos índices de correçã o monetá ria.
Logo, caso o entendimento seja no sentido que nã o há aplicaçã o de direito adquirido ao
índice de correçã o/atualizaçã o monetá ria (TR) torna-se possível a interpretaçã o no sentido
de aplicaçã o do índice que realmente cumpra o disposto no art. 2º da lei nº 8.036/90.
Assim, a parte autora requer, desde já , que este MM. Juiz Federal” a quo “manifeste-se em
sua respeitá vel sentença sobre a ofensa aos dispositivos constitucionais citados.
Portanto, resta PREQUESTIONADA a matéria pugnando pela PROCEDÊ NCIA DO
PREQUESTIONAMENTO suscitado, requerendo ao Excelentíssimo JUIZ FEDERAL que se
pronuncie de forma objetiva, explícita e fundamentada sobre o assunto.

V- DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


No que tange a possibilidade de condenaçã o da requerida em honorá rios advocatícios, o
STF reiterou o entendimento de que cabe a cobrança de honorá rios advocatícios nas açõ es
entre o FGTS e os titulares das contas vinculadas. A decisã o foi tomada por unanimidade no
julgamento do RE 581.160, com repercussã o geral reconhecida, interposto contra acó rdã o
do TRF da 1ª regiã o.
Segundo o relator, ministro Ricardo Lewandowski, o acó rdã o recorrido julgou
constitucional o artigo 29-C da lei 8.036/90, inserido pela MP 2.164/01, que veda a
condenaçã o em honorá rios advocatícios nas açõ es entre o FGTS e os titulares das contas
vinculadas.
Ocorre que o STF já declarou o artigo inconstitucional no julgamento da ADIn 2.736, em
que foi relator o ministro Cezar Peluso, que excluiu o artigo 29-C da lei 8.036 do
ordenamento legal.”Entendo que o RE deve ter o mesmo destino da ADIn, de modo que dou
provimento ao pedido”, concluiu o ministro.
Nesse sentido:
RECURSO EXTRAORDINÁ RIO COM REPERCUSSÃ O GERAL RECONHECIDA.
CONSTITUCIONAL. ART. 9º DA MP 2.164-41/2001. INTRODUÇÃ O DO ART. 29-C NA LEI
8.036/1990. HONORÁ RIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊ NCIA. AÇÕ ES ENVOLVENDO O FGTS
E TITULARES DE CONTAS VINCULADAS. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA NA ADI
2.736/DF. RECURSO PROVIDO.
I – O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 2.736/DF, Rel. Min. Cezar Peluso,
declarou a inconstitucionalidade do art. 9º da MP 2.164-41/2001, na parte em que
introduziu o art. 29-C na lei 8.036/1990, que vedava a condenaçã o em honorá rios
advocatícios “nas açõ es entre o FGTS e os titulares de contas vinculadas, bem como
naquelas em que figuram os respectivos representantes ou substitutos processuais”. II – Os
mesmos argumentos devem ser aplicados à soluçã o do litígio de que trata o presente
recurso. III – Recurso extraordiná rio conhecido e provido.
(RE 581160 / MG – MINAS GERAIS – PROCESSO ELETRÔ NICO. Relator (a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI REPERCUSSÃ O GERAL – MÉ RITO. Julgamento: 20/06/2012. Ó rgã o
Julgador: Tribunal Pleno. DJe-166 DIVULG 22-08-2012 PUBLIC 23-08-2012- Tema 116 –
Direito a honorá rios advocatícios nas açõ es que visam obter expurgos inflacioná rios de
FGTS. – Acó rdã os citados: ADI 162 MC, ADI 525 MC, ADI 1647, ADI 1753 MC, ADI 2213 MC,
ADI 2736.) (Grifamos)
VI – CONCLUSÕ ESA Taxa Referencial, enquanto índice de correçã o monetá ria assim
considerada pela atual jurisprudência pá tria, nã o pode ser reduzida a Zero, como tem sido
nos ú ltimos meses, pois afronta flagrantemente o artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que garante
atualizaçã o monetá ria aos depó sitos feitos no FGTS.
Como índice de correçã o monetá ria, a TR deveria garantir o poder aquisitivo dos depó sitos
do FGTS, que se perfaz levando em conta os índices de inflaçã o. Desde janeiro de 1999, a TR
se distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflaçã o, impingindo profundas perdas
aos depó sitos do FGTS, tornando-se inidô nea para garantir a reposiçã o de perdas
monetá rias.
A inidoneidade da TR como índice de correçã o monetá ria decorre de mudanças
introduzidas na sua metodologia de cá lculo pelo Banco Central do Brasil/CMN que, através
do mecanismo econô mico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice para que
ele se desprenda da inflaçã o até anulá -la completamente, a despeito de um quadro de
inflaçã o persistente no País.
A Caixa Econô mica Federal está se prestando ao papel de espoliador do FGTS, na medida
em que dispõ e do patrimô nio do trabalhador sem a devida contraprestaçã o. A correçã o
monetá ria aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflaçã o registrada, de
forma que descumpre nã o só o artigo 2º da lei nº 8.036/90, artigo 233 do Có digo Civil, mas
também toda a ló gica e princípios do mercado econô mico.
Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade da correçã o
monetá ria. O trabalhador nã o pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do
Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS serem os
menores do mercado, o quê, por si só , demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a
perspectiva social.
Negar o direito de correçã o monetá ria aos depó sitos do FGTS, Fundo do qual o trabalhador
nã o pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar em outro fundo mais rentá vel,
configura ato de tirania, incompatível com um Estado Democrá tico de Direito e deve ser de
pronto rechaçado.
Se o Governo Brasileiro remunerasse os investidores internacionais com TR mais 3% ao
ano, como faz com os trabalhadores, haveria um fuga em massa dos investimentos no País,
e certamente estaríamos experimentando uma tsunami econô mica e nã o uma simples
“marolinha”.
Sendo a TR índice inidô neo para restabelecer o poder aquisitivo dos depó sitos do FGTS, sua
substituiçã o por outro índice que melhor recomponha as perdas monetá rias se torna
imperioso, a fim de fazer prevalecer o artigo 2º da lei nº 8.036/90 e artigo 233 do Có digo
Civil.
Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo Banco Central/CMN promoveu o
completo distanciamento da TR dos índices oficiais de inflaçã o, temos que desde entã o ela
perdeu sua condiçã o de repor as perdas inflacioná rias dos depó sitos do FGTS, devendo
desde esta data ser substituída pelo INPC ou, alternativamente, pelo IPCA.
VII – DOS PEDIDOS
Antes o exposto, requer:
A) A citaçã o da requerida, para querendo contestar a presente açã o.
B) Ao final, a condenaçã o da Caixa para:
B.1) pagar o valor correspondente à s diferenças de FGTS em razã o da aplicaçã o da correçã o
monetá ria pelo INPC nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e vincendas; e
B.2) pagar o valor correspondente à s diferenças de FGTS em razã o da aplicaçã o da correçã o
monetá ria pelo INPC, desde Janeiro de 1999, nos meses em que a TR nã o foi zero, mas foi
menor que a inflaçã o do período; ou
B.3) pagar o valor correspondente à s diferenças de FGTS em razã o da aplicaçã o da correçã o
monetá ria pelo IPCA nos meses em que a TR foi zero; e
B.4) pagar o valor correspondente à s diferenças de FGTS em razã o da aplicaçã o da correçã o
monetá ria pelo IPCA, desde Janeiro de 1999, nos meses em que a TR nã o foi zero, mas foi
menor que a inflaçã o do período; ou
B.5) pagar o valor correspondente à s diferenças de FGTS em razã o da aplicaçã o da correçã o
monetá ria por qualquer outro índice que reponha as perdas inflacioná rias do trabalhador
nas contas do FGTS, no entender deste Juízo, desde Janeiro de 1999, inclusive nos meses
em que a TR foi zero.
C) Sobre os valores devidos pela condenaçã o de que tratam os itens acima, deverã o incidir
correçã o monetá ria desde a inadimplência da requerida, bem como os juros legais.
D) A condenaçã o da requerida ao pagamento das custas e honorá rios advocatícios de 20%
sobre o valor da condenaçã o.
E) A concessã o dos benefícios da Justiça Gratuita conforme declaraçã o anexa.
F) Requer que este MM. Juiz Federal”a quo”manifeste-se em sua respeitá vel sentença sobre
a exigência de correçã o monetá ria do art. 2º da lei nº 8.036/90 que garante atualizaçã o
monetá ria aos depó sitos das contas vinculadas do FGTS
G) Requer, ainda, que este MM. Juiz Federal” a quo “manifeste-se em sua sentença sobre os
fundamentos que a utilizaçã o da TR como índice de correçã o desobedeceria aos limites
materiais de inú meros fundamentos e princípios constitucionais, como o Estado
Democrá tico de Direito, atentando contra a Dignidade da pessoa Humana (art. 1º e inciso
III, da CF), bem como os princípios da igualdade, segurança jurídica (art. 5º, caput, da CF),
da proteçã o ao direito de propriedade, direito adquirido (art. 5º, XXII e XXXVI da CF) e
moralidade (art. 37 da CF). Logo, resta PREQUESTIONADA a matéria pugnando pela
PROCEDÊ NCIA DO PREQUESTIONAMENTO suscitado, requerendo ao Excelentíssimo JUIZ
FEDERAL que se pronuncie de forma objetiva, explícita e fundamentada sobre o assunto.
H) Requer, por fim, a intimaçã o da requerida para juntar aos autos os extratos da evoluçã o
dos depó sitos, atualizaçã o monetá ria e juros creditados na conta vinculada da Parte Autora,
posto que é a atual administradora dos recursos do FGTS
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,
principalmente a prova documental.
Dá -se à causa o valor de R$… (valor da causa)
Pede deferimento.
(Cidade e data)
(Nome, assinatura e nú mero da OAB do advogado)
Fonte: JusBrasil.com.br
Por Raquel Guisolphi de Paula Vicenzi

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