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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
RECDO.(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
INTDO.(A/S) : ADRIANA AUXILIADORA REZENDE
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : DISTRITO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ACRE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ACRE
INTDO.(A/S) : ESTADO DE ALAGOAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE ALAGOAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAPÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAZONAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO
AMAZONAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DA BAHIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA BAHIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE GOIÁS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE GOIÁS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO MARANHAO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO
MARANHÃO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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Ementa e Acórdão

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RE 605533 / MG

GROSSO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO
GROSSO DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DA PARAÍBA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA PARAÍBA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARANÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARANÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE
PERNAMBUCO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PIAUÍ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RONDÔNIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SERGIPE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SERGIPE
INTDO.(A/S) : ESTADO DO TOCANTINS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO TOCANTINS

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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RE 605533 / MG

LEGITIMIDADE – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO DE


REMÉDIOS – MINISTÉRIO PÚBLICO – O Ministério Público possui
legitimidade para ajuizar ação civil pública com objetivo de compelir
entes federados a entregarem medicamentos a portadores de certa
doença.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em prover o recurso extraordinário, nos
termos do voto do relator e por unanimidade, em sessão presidida pelo
Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata do julgamento e das
respectivas notas taquigráficas.

Brasília, 15 de agosto de 2018.

MINISTRO MARCO AURÉLIO – RELATOR

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Relatório

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
RECDO.(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
INTDO.(A/S) : ADRIANA AUXILIADORA REZENDE
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : DISTRITO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ACRE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ACRE
INTDO.(A/S) : ESTADO DE ALAGOAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE ALAGOAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAPÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAZONAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO
AMAZONAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DA BAHIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA BAHIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE GOIÁS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE GOIÁS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO MARANHÃO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO
MARANHÃO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO
GROSSO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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Relatório

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RE 605533 / MG

GROSSO DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DA PARAÍBA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA PARAÍBA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARANÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARANÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE
PERNAMBUCO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PIAUÍ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RONDÔNIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SERGIPE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SERGIPE
INTDO.(A/S) : ESTADO DO TOCANTINS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO TOCANTINS

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Relatório

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RE 605533 / MG

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Adoto,


como relatório, as informações prestadas pelo assessor Dr. Paulo Timponi
Torrent:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais insurge-


se contra acórdão formalizado no julgamento de ação civil
pública por si ajuizada (folha 209 a 217), no qual a Sexta
Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por maioria, assentou a
ilegitimidade ativa daquele Órgão para a tutela de direitos
individuais homogêneos e extinguiu o processo, sem resolução
de mérito, ante fundamentos assim resumidos:

PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA


PARA FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO A
PESSOA DETERMINADA – ILEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO – INDEFERIMENTO DA
INICIAL E EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. Não se inserindo no âmbito
objetivo da ação civil pública o fornecimento de
medicamentos a pessoas determinadas, consoante
estabelece a Lei nº 7.357/1985, com fundamento no art.
129, III, da Constituição Federal, deve ser indeferida a
petição inicial, por ilegitimidade ativa do Ministério
Público, e extinto o processo sem julgamento do mérito,
com fulcro no art. 267, I e IV c/c art. 295, V, ambos do CPC.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DIREITOS INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS – MINISTÉRIO PÚBLICO –
LEGITIMIDADE ATIVA – RELEVÂNCIA SOCIAL –
VOTO VENCIDO. O Ministério Público Estadual tem
legitimidade para ajuizar Ação Civil Pública para a
proteção de direitos difusos e coletivos, bem como dos
direitos individuais homogêneos, como o direito à saúde,
em face da sua relevância social.

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Relatório

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RE 605533 / MG

(Apelação cível/reexame necessário nº


1.0702.05.214525-8/002, Sexta Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, acórdão publicado no
Diário do Judiciário de 23 de outubro de 2007)

O Colegiado, aludindo à natureza genérica e


indeterminada do pedido formulado – qual seja, o
fornecimento, a todos os usuários do Sistema Único de Saúde
portadores de hipotireoidismo e hipocalcemia severa, dos
medicamentos especificados na inicial –, consignou violadas as
normas constantes dos artigos 286 e 460 do Código de Processo
Civil de 1973. Entendeu inviável a pretensão, presente o
princípio da separação de poderes.

Embargos de declaração foram desprovidos (folha 226 a


228).

No recurso extraordinário de folha 250 a 274, protocolado


com base na alínea “a” do permissivo constitucional, o
recorrente argui transgressão aos artigos 2º, 5º, incisos LIV e LV,
93, inciso IX, 127, 129, incisos II e III, 196 e 197 da Constituição
Federal.

Em sede preliminar, requer seja assentada a nulidade do


acórdão mediante o qual apreciados os embargos. Alega
deficiência na prestação jurisdicional, apontando a ausência de
enfrentamento dos temas suscitados no recurso para fins de
prequestionamento.

Sob o ângulo da repercussão geral, reporta-se ao artigo


543-A, § 3º, do Código de Processo Civil, assinalando que a
decisão impugnada contraria a jurisprudência do Supremo.
Cita precedentes.

No mérito, afirma a própria competência, tanto na


condição de parte quanto na de fiscal da lei, para tutelar

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Relatório

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RE 605533 / MG

direitos individuais indisponíveis e zelar pelo efetivo


funcionamento dos serviços estatais de saúde, os quais,
segundo discorre, possuem relevância pública e derivam de
direito indisponível. Evoca as regras constitucionais contidas
nos artigos 127, 129, inciso II, 197 e 196. Menciona a decisão
proferida pelo Pleno no julgamento do recurso extraordinário
nº 248.869/SP e precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

Refere-se ao rol de atribuições que lhe conferem a Lei


Complementar nº 75/1993 e as Leis nº 7.347/1985 e nº 8.625/1993,
asseverando possuir a prorrogativa de defender direito
individual homogêneo, espécie de direito coletivo, conforme
aduz. Indica, como particularidade da tutela, em juízo, dessa
categoria de direitos, a formulação de pedido genérico. Assinala
a existência de decisões do Superior Tribunal de Justiça nas
quais admitida a legitimidade do Ministério Público para a
defesa de direitos individuais homogêneos, mesmo em
situações em que não verificada a indisponibilidade.

Reputa insustentável a alegação de ofensa ao princípio da


separação de poderes. Sublinha competir concorrentemente ao
Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário a efetivação do direito
à saúde. Diz essencial à concretização do Estado de Direito a
intervenção de todos os Poderes.

Pede, preliminarmente, a anulação do acórdão alusivo aos


declaratórios, para que outro, sem os vícios apontados, seja
proferido. No mérito, reconhecida a própria legitimidade ativa
para a guarda dos direitos debatidos neste processo, postula o
julgamento, pelo Tribunal de Justiça, da matéria de fundo
versada na apelação.

O Estado de Minas Gerais, em contrarrazões (folha 303 a


325), salienta a ilegitimidade do Ministério Público estadual
para defesa de direitos individuais, ou individuais homogêneos
fora da esfera do direito do consumidor. Transcreve trechos de

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Relatório

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RE 605533 / MG

deliberações do Tribunal local e do Superior Tribunal de Justiça


nas quais a óptica foi adotada. Frisa tratar-se de situação na
qual o Ministério Público pretende a tutela dos interesses de
uma única pessoa. Sustenta a possibilidade de identificação do
titular do direito supostamente lesado.

Diz descabida a atuação do Ministério Público em casos


como o veiculado no recurso, sob pena de afronta aos artigos 5º,
inciso LXXIV, 133 e 134 da Constituição Federal, a disciplinarem
as funções da advocacia e defensoria públicas.

Aludindo aos artigos 1º e 21 da Lei nº 7.347/1985 e 82 da


de nº 8.078/1990, destaca impróprio o uso da ação civil pública
para a proteção de direitos individuais.

Os recursos extraordinário e especial foram admitidos na


origem (folhas 344 e 345 e 346 a 348, respectivamente).

O Superior Tribunal de Justiça, por meio do acórdão de


folha 360 a 363, conheceu parcialmente do recurso especial e,
nessa parte, negou-lhe provimento.

Em 1º de abril de 2010, o Supremo concluiu pela


repercussão geral do tema, em acórdão assim ementado (folha
381):

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO DE


REMÉDIOS – LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO – RECUSA NA ORIGEM. Possui repercussão
geral a controvérsia sobre a legitimidade do Ministério
Público para ajuizar ação civil pública com objetivo de
compelir entes federados a entregar medicamentos a
pessoas necessitadas.

A Procuradoria-Geral da República, no parecer de folha


390 a 398, articulando com a legitimidade do Ministério Público

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RE 605533 / MG

para a tutela de prerrogativas individuais indisponíveis, de que


é exemplo, segundo assevera, o direito social à saúde, opina
pelo provimento do extraordinário.

Vossa Excelência admitiu o ingresso da União, do Distrito


Federal, bem assim dos Estados do Acre, Alagoas, Amapá,
Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná,
Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio
Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo,
Sergipe e Tocantins, na qualidade de terceiros interessados
(folhas 404 e 405 e 467 e 468).

O pedido formalizado pelo Ministério Público do Estado


de São Paulo, também de participação no processo, foi
indeferido (folhas 443 e 444 e 455 a 457).

A União, com a petição/STF nº 28.411/2011 (folha 417 a


427), e os demais interessados, mediante a de nº 16.908/2017
(folha 471 a 484), manifestam-se pelo desprovimento do
extraordinário.

É o relatório.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Atendeu-


se aos pressupostos de recorribilidade. O Ministério Público do Estado de
Minas Gerais foi cientificado do acórdão por meio do qual examinados os
declaratórios em 25 de janeiro de 2008 (folha 225, verso). A peça, subscrita
por Procurador de Justiça, veio a ser protocolada no dia 13 do mês
seguinte (folha 227), no prazo assinado pelos artigos 188 e 508 do Código
de Processo Civil de 1973.
Sob o ângulo da nulidade do pronunciamento mediante o qual o
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais desproveu embargos
declaratórios, não prospera a articulação do recorrente. O acórdão
referente à apelação cível e ao reexame necessário foi suficientemente
fundamentado, concluindo a maioria dos integrantes do Colegiado pela
ilegitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na
defesa de interesses sociais e na proteção de direitos individuais
homogêneos. O voto condutor do julgamento mostrou-se explícito no
sentido de faltar ao Ministério Público legitimidade para propor a ação
civil pública nos termos em que o fez, ou seja, buscando compelir o
Estado de Minas Gerais a fornecer gratuitamente certo medicamento a
todas as pessoas portadoras de hipotireoidismo e hipocalcemia severa,
especialmente a Adriana Auxiliadora Rezende, pessoa maior e capaz. Em
síntese, após aludir-se aos artigos 129, inciso III, da Constituição Federal e
1º da Lei nº 7.347/1985, a disciplinar a ação civil pública, concluiu-se de
forma negativa. Então, os embargos declaratórios protocolados pelo
Ministério Público sinalizaram cautela máxima, tendo em conta o risco
de, em passo seguinte, entender-se pela ausência de prequestionamento
do tema à luz não só da Constituição Federal como também da Lei
Complementar nº 75/1993 – Estatuto do Ministério Público da União –,
aplicável subsidiariamente aos Ministérios Públicos estaduais por força

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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RE 605533 / MG

do artigo 80 da Lei nº 8.625/1993, o preceito constitucional e o ditame,


também com essa envergadura, a revelarem a importância do direito à
saúde. Houve a entrega satisfatória da prestação jurisdicional.
É induvidoso que ao Ministério Público cabe, a teor do disposto no
inciso III do artigo 129 da Constituição Federal, promover o inquérito
civil e ação civil pública visando a defesa de interesses difusos e coletivos.
Define-se a ação proposta considerados os termos da inicial. Pois bem,
nesta apontou-se a situação da cidadã Adriana Auxiliadora Rezende,
afirmando-se que não teria ela condições financeiras para aquisição dos
medicamentos e que, ante peça da Secretaria de Saúde local, seriam
recusados os fármacos indispensáveis à respectiva saúde. Acontece que a
inicial mostrou-se, quer em relação à narração dos fatos, quer no tocante
ao pedido, abrangente, aludindo-se não só à situação da referida paciente
como também dos demais portadores da doença tida como grave, a
necessitarem, com brevidade possível, do fornecimento dos
medicamentos Euthyrox, Os-cal e Calcitriol.
Mais do que isso, ao postular-se a formalização de pronunciamento
condenatório, presente obrigação de fazer, citou-se como destinatários os
pacientes acometidos da enfermidade, formulando-se pleito final com o
seguinte teor: “seja julgado procedente o pedido, condenando o
requerido a fornecer os medicamentos Euthyrox, Os-cal, Calcitriol a todos
os portadores de hipotireoidismo e hipocalcemia severa e cujo médico
responsável os tenha prescritos, em especial, à Sra. Adriana Auxiliadora
Rezende, na quantia e dosagem receitadas (fls. 12) e enquanto necessário
for”.
Conclui-se, a mais não poder, que a menção à cidadã Adriana
Auxiliadora Rezende foi meramente exemplificativa, voltando-se a ação
proposta a alcançar, em termos de fornecimento do fármaco, todos
aqueles que estejam acometidos da doença e não tenham condições de
satisfazer o custo dos remédios. A ação, sem dúvida alguma, ganhou
contornos de civil pública, atendendo-se ao disposto no inciso III do
artigo 129 da Constituição Federal, à legislação substancial e instrumental
própria.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 73 548


RE 605533 / MG

Reitero o que tive oportunidade de consignar ao pronunciar-me no


sentido de encontrar-se configurada a repercussão geral do tema:

Está-se a ver a importância da matéria no que, ao primeiro


exame, envolve não o individual, não o subjetivo delimitado,
mas interesses difusos e coletivos. Não é demasia afirmar ser a
saúde direito de todos e dever do Estado, conforme previsto no
artigo 196 da Constituição Federal. Tenha-se presente competir
ao Ministério Público, no âmbito das funções institucionais a
serem desenvolvidas, promover o inquérito e a ação civil
pública para a proteção de interesses difusos e coletivos, além
do patrimônio público e social e do meio ambiente.
Cumpre ao Supremo definir se, na espécie – em que se
busca compelir o Estado de Minas Gerais a proceder à entrega
de remédios a portadores de certas doenças –, o Ministério
Público tem, ou não, legitimidade para a ação civil pública,
valendo notar que se mostraram indeterminados os indivíduos
que necessitam dos medicamentos.

Provejo o recurso extraordinário para que, suplantada a


ilegitimidade declarada pelo Tribunal de Justiça, este prossiga no
julgamento da apelação, ressaltando que, nas razões respectivas, versou-
se não apenas a preliminar como a matéria de fundo, as quais, de forma
igual, mereceram tratamento pelo Juízo.
Como tese, proponho seja aprovado o seguinte teor: “O Ministério
Público é parte legítima para ajuizamento de ação civil pública que vise o
fornecimento de remédios a portadores de certa doença.”

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES: Trata-se de Recurso


Extraordinário com Repercussão Geral (Tema 262), em que se discute a
“legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública que tem por
objetivo compelir entes federados a entregar medicamentos a portadores de certas
doenças”.
Na origem, o Ministério Público de Minas Gerais ajuizou Ação Civil
Pública pleiteando o fornecimento, pelo Estado de Minas Gerais, de
determinados medicamentos para uma paciente individualizada,
alegadamente necessitada, bem como o deferimento, por extensão, dessa
mesma tutela para todos os portadores de hipotireoidismo e
hipocalcemia residentes em Uberlândia/MG.
O pedido foi acolhido em 1ª Instância, mas o Tribunal de Justiça de
Minas Gerais deu provimento ao recurso interposto pelo Estado de Minas
Gerais, cassando a sentença e afirmando a ilegitimidade do Ministério
Público para a defesa de direitos individuais homogêneos em sede de
ação civil pública. Entendeu-se que as atribuições institucionais do
Ministério Público, tal como definidas na Constituição, e as hipóteses
legais de cabimento da ação civil pública (Lei 7.347/1985) não
alcançariam a tutela de interesses individuais de pessoas determinadas; e,
ainda que se tratasse de pessoas hipossuficientes, tal mister caberia à
Defensoria Pública, por meio de outros instrumentos processuais.
Esse entendimento foi calcado na literalidade do art. 129, III, da CF
(“São funções institucionais do Ministério Público: (...)III - promover o inquérito
civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;”) e no art. 1º da Lei
7.347/1985, cujo objeto não alcançaria a tutela do direito individual à
saúde.
O egrégio TJMG, ingressando, nesse aspecto, na própria questão de

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RE 605533 / MG

fundo debatida na ação civil pública intentada pelo Ministério Público


mineiro, também entendeu que a extensão do pedido a todos os usuários
do SUS implicaria pedido genérico e subjetivamente indeterminado, em
afronta aos arts. 286 e 460 do CPC/1973, o que, ao impactar no equilíbrio
de política governamental de competência do Poder Executivo, também
implicaria violação ao princípio da separação dos Poderes (art. 2º da CF).
O Recurso Extraordinário interposto aponta, no mérito, violação ao
art. 2º (separação dos Poderes), aos arts. 127 e 129 (funções institucionais
do Ministério Público), incisos II e III, e aos arts. 196 e 197 (direito
fundamental à saúde), todos da CF.
É o relato do essencial.

Presidente, essa questão tratada nos autos me é muito cara: a


possibilidade de membro de o Ministério Público, no caso membro de
Ministério Público estadual, ajuizar ação civil pública para, dentro
obviamente dos parâmetros constitucionais e legais, obrigar que o Poder
Executivo forneça determinado medicamento. E digo isso porque essa
discussão se iniciou em São Paulo, há 21 anos, em 1997, quando eu tive
oportunidade de inaugurar, em São Paulo, o chamado Grupo de Atuação
Especial de Saúde Pública e do Consumidor, exatamente com essa
missão. E a primeira ação ajuizada, a primeira ação que eu tive a
possibilidade de ajuizar foi para que o Estado de São Paulo fornecesse o
Interferon, um medicamento para Hepatite "C" que, à época, ainda não
estava na lista do Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde vinha se
recusando a fornecer, consequentemente, o Estado se negava também, e
foi essa primeira ação civil pública e os mesmos problemas tratados, há 21
anos, são trazidos agora. Primeiro a terminologia, questão da ação civil
pública, depois, a legitimidade ou não do Ministério Público.
A Constituição de 1988 atribuiu ao Ministério Público contornos
institucionais de amplo e único espectro, intensificando o seu regime de
garantias e atribuições. Como já anotei em sede doutrinária, o legislador
constituinte transformou o Ministério Público em verdadeiro defensor da
sociedade e da cidadania, seja na esfera penal, mediante a titularidade

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exclusiva da ação penal pública, quanto na esfera cível, por meio do


inquérito civil e da ação civil pública (Direito Constitucional, 33ª edição,
pág. 639).
A atribuições cíveis não se limitam à tutela do patrimônio público
estatal, embora seja essa uma das suas mais marcantes incumbências,
como se denota na proteção à moralidade administrativa e na fiscalização
dos demais Poderes. As atribuições do Ministério Público são
enumeradas pela Constituição em rol exemplificativo, delineado por
vetores normativos abertos, tais como “interesse social” (art. 127, caput), da
“relevância pública” (art. 129, II), do “patrimônio social” e de “outros
interesses difusos e coletivos (art. 129, III). Eis o teor do texto constitucional:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
(…)
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos;

Com especial interesse para o julgamento em curso, chama a atenção


que o art. 197 da Constituição, ao tratar das ações e serviços de saúde,
expressamente as qualifiquem como “de relevância pública”, em manifesto
paralelo com a atribuição elencada no art. 129, II, expressando a natural
vocação do Ministério Público para a fiscalização dos serviços de saúde
pública.
O legislador infraconstitucional, regulamentando as atribuições

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funcionais do Ministério Público, bem como versando sobre as hipóteses


de cabimento da ação civil pública, seguiu a mesma linha, tratando
dessas competências de forma exemplificativa, jungindo a atuação do
órgão a quaisquer situações que envolvam um interesse social de
relevância transcendente ao interesse concreto de indivíduos ou
segmentos econômicos específicos.

Lei 7.347/1985
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo
da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais
e patrimoniais causados:
l - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou
religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para
veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos
beneficiários podem ser individualmente determinados.

Lei 8.625/1993
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições
Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe,
ainda, ao Ministério Público:
(...)
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos

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de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a


outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e
homogêneos;
b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos
lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa
do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou
fundacionais ou de entidades privadas de que participem;

Por tudo isso, não me parece possível excluir da órbita de atribuições


do Ministério Público a possibilidade de ajuizamento de ação civil
pública que objetiva a proteção do direito fundamental à saúde, uma vez
que o papel de defensor da sociedade e da cidadania compreende
precisamente a atuação em prol de garantias fundamentais. Em sede
doutrinária, destaquei a necessária aproximação entre cidadania e gozo
de direitos fundamentais (Direito Constitucional, pag. 641):

Ademais, além de garantidor e fiscalizador da Separação


dos Poderes, o legislador constituinte conferiu ao Ministério
Público funções de resguardo ao status constitucional dos
indivíduos, armando-o de garantias que possibilitassem o
exercício daquelas e a defesa destes.
Assim, não podemos nos esquecer que a proteção ao
status (Jellinek) constitucional do indivíduo, em suas diversas
posições, hoje, também é função do Ministério Público, que
deve preservá-lo. (…) O status positivo, por sua vez, permite
que o indivíduo reclame para si algo que o Estado estará
obrigado a realizar. (…) Conclui-se, portanto, que a teoria dos
status evidencia serem os direitos fundamentais um conjunto de
normas jurídicas que atribuem ao indivíduo diferentes posições
frente ao Estado, cujo zelo também é função do Ministério
Público.

Encontra-se pendente de julgamento por este Plenário uma definição


mais precisa sobre a intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas
de saúde, especialmente de assistência farmacológica – RE 566.471

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(fornecimento de medicamentos não incorporados às listas e protocolos


do SUS) e RE 657.718 (medicamentos sem registro na ANVISA).
Os referidos casos, de relatoria do Min. MARCO AURÉLIO, já
receberam o voto do Ministro Relator e dos Ministros EDSON FACHIN e
ROBERTO BARROSO. Após detido estudo que fiz da matéria, decorrente
do pedido de vista formulado pelo saudoso Ministro TEORI ZAVASCKI,
a quem sucedi, liberei ambos os recursos para a pauta do Tribunal Pleno
(em 1º/8/2018).
Tão logo a Presidência da CORTE indique dia para julgamento, será
possível tratar do mérito atinente à questão de fundo abordada na ação
civil pública ajuizada pelo Ministério Público de Minas Gerais.
Em todo caso, já é possível vislumbrar a ampla legitimidade do
Ministério Público para atuar em prol do direito da população ao
fornecimento de medicamentos indispensáveis à tutela da saúde. Na
realidade, o Ministério Público é parte especialmente legitimada para
atuar nessa seara, por expressa opção do legislador constituinte (art. 129,
II, c/c art. 197, caput, da CF), e, em muitos aspectos, com a melhor
capacidade institucional para atuar no tema da judicialização, no papel
de interface entre o sistema de justiça e a população necessitada, sem
prejuízo da atuação de outros órgãos e entidades da sociedade civil
igualmente capacitados.
Cito, por exemplificativo, a experiência em curso no Estado de São
Paulo, por meio do Programa ACESSA SUS, que promove a cooperação
técnica entre os órgãos do sistema de saúde e os órgãos e entidades do
sistema de justiça.
O Ministério Público de São Paulo, juntamente com a Secretaria de
Estado da Saúde, a Defensoria Pública e o Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, firmaram convênios de cooperação técnica visando ao
estabelecimento de “protocolo de fluxos de serviços de triagem e orientação
farmacêutica, nutricional e correlatos pelo SUS e seus reflexos no Sistema de
Justiça”. A cooperação técnica entre essas instituições decorre da
preocupação de todos os personagens envolvidos com: (a) a
racionalização do gasto público; (b) a distribuição de medicamentos em

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uma fase pré-processual, mitigando a litigiosidade em juízo; (c) a


distribuição de medicamentos, conforme lógica e parâmetros do sistema
de saúde, atendendo aos princípios da seletividade e distributividade
(art. 194, parágrafo único, III, CF).
Assim, cada órgão assumiu compromissos institucionais perante os
demais órgãos envolvidos, com a indicação detalhada de rotinas e
procedimentos operacionais que permitem o fluxo de informações, o
acompanhamento continuado de indicadores e a tomada de decisões
alocativas embasadas. A Secretaria de Saúde, por exemplo, assumiu as
seguintes obrigações: (a) estabelecimento de serviços de triagem e
orientação farmacêutica à população em geral; (b) manutenção de
comissão técnica de análise de pedido de triagem, à disposição de
usuários, Ministério Público e Defensoria; (c) fornecimento de estatística
mensal de atendimentos; (d) acesso de todas as instituições conveniadas
ao sistema informatizado de acompanhamento dos processos
administrativos; (e) prazo de 24 horas para resposta, em meio eletrônico,
quanto à triagem do pleito como urgente ou não.
Com isso, obtém-se a disponibilidade do órgão técnico do sistema de
saúde para a prestação de informações concretas, perante o sistema de
justiça, quanto ao atendimento de cidadãos que pleiteiam assistência
farmacológica. De outro lado, os órgãos judiciários, MP e Defensoria se
comprometem com ações de estímulo, aperfeiçoamento e capacitação de
seus integrantes quanto ao disposto no termo de cooperação. A
apreciação dos casos concretos submetidos a cada juiz de direito,
promotor de justiça e defensor público passa a ser orientada pelas
informações disponibilizadas no âmbito do ACESSA SUS.
Essa experiência institucional, como outras em curso nos diferentes
Estados brasileiros, tem sido profícua na contenção dos efeitos negativos
da judicialização das políticas públicas de saúde. Dados da Secretaria de
Saúde do Estado de São Paulo informam que o número de condenações
do Estado em ações destinadas ao fornecimento de medicamento saltou
de 9.385 casos em 2010 para mais de 18 mil condenações em 2015.
Apenas no primeiro semestre de 2017, a redução no número de ações

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judiciais, em comparação com o mesmo período no ano anterior, foi da


ordem de 12,13%. E, até mais importante que a redução do número de
processos judiciais, é o fato de que as demandas que efetivamente se
judicializaram foram analisadas pelos órgãos competentes sob o enfoque
dos critérios técnicos declinados pelo órgão de saúde, preservando a
higidez da política pública estabelecida.
O objetivo é subsidiar cada órgão jurisdicional com informações a
respeito dos aspectos científicos do mérito apreciado nessas ações, como o
diagnóstico e prescrição médica apresentado pelo demandante, a
consistência da negativa administrativa de inclusão do medicamento nos
protocolos (quando é essa a causa do não fornecimento) e a análise da
ação terapêutica da medicação/tratamento postulados.
Portanto, a legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento
de ações civis públicas, tais como a intentada pelo Ministério Público de
Minas Gerais vai ao encontro de uma necessidade já apontada no
julgamento dos RREE sobre medicamentos: a coletivização dos
instrumentos de tutela do direito à saúde, como forma de atenuar as
distorções e ineficiências geradas pela judicialização em escala de
demandas pelo fornecimento de medicamentos.

Anoto ainda que a Jurisprudência da CORTE, em que pese a


pendência da presente repercussão geral, é firme no sentido da
legitimidade do Ministério Público: RE 554.088, Rel. Min. EROS GRAU,
Segunda Turma, DJe de 19/6/2008; RE 581.352-AgR, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, DJe de 21/11/2013; RE 820.910-AgR, Rel. Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 3/9/2014; RE
407.902, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJe 28/8/2009;
entre outros, remissivos a esses mesmos precedentes.
Também entendo com pertinência para o presente julgamento o
precedente firmado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça,
em que se reconheceu a legitimidade do Ministério Público com
fundamento na indisponibilidade do direito à vida (REsp 1.682.836-SP,
Rel. Min. OG FERNANDES, julgado em 25/4/2018, recurso repetitivo).

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Transcrevo a ementa do julgado:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL SOB A SISTEMÁTICA DOS REPETITIVOS.
DEMANDAS DE SAÚDE COM BENEFICIÁRIOS
INDIVIDUALIZADOS INTERPOSTAS CONTRA ENTES
FEDERATIVOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
SUPOSTA AFRONTA AOS DISPOSITIVOS DOS ARTS. 1º, V, E
21 DA LEI N. 7.347/1985, BEM COMO AO ART. 6º DO
CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO À SAÚDE.
DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 1º DA LEI N.
8.625/1993 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO). APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. RECURSO JULGADO SOB A
SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015,
C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO INTERNO
DO STJ.
1. Os dispositivos legais, cuja aplicação é questionada nos
dois recursos especiais e a tramitação se dá pela sistemática dos
repetitivos (REsp 1.681.690/SP e REsp 1.682.836/SP), terão sua
resolução efetivada em conjunto, consoante determina a regra
processual.
2. A discussão, neste feito, passa ao largo de qualquer
consideração acerca da legitimidade ministerial para propor
demandas, quando se tratar de direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida
da sua legitimidade, nesse particular, seja por parte da
legislação aplicável à espécie, seja por parte da jurisprudência.
De outra parte, a discussão também não se refere à legitimidade
de o Ministério Público postular em favor de interesses de
menores, incapazes e de idosos em situação de vulnerabilidade.
É que, em tais hipóteses, a legitimidade do órgão ministerial
decorre da lei, em especial dos seguintes estatutos jurídicos:
arts. 201, VIII, da Lei n. 8.069/1990 e 74, II e III, da Lei
10.741/2003.
3. A fronteira para se discernir a legitimidade do órgão

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RE 605533 / MG

ministerial diz respeito à disponibilidade, ou não, dos direitos


individuais vindicados. É que, tratando-se de direitos
individuais disponíveis e uma vez não havendo uma lei
específica autorizando, de forma excepcional, a atuação do
Ministério Público (como no caso da Lei n. 8.560/1992), não se
pode falar em legitimidade de sua atuação. Todavia, se se tratar
de direitos ou interesses indisponíveis, a legitimidade
ministerial já decorreria da redação do próprio art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
4. Com efeito, a disciplina do direito à saúde encontra na
jurisprudência pátria a correspondência com o próprio direito
à vida, de forma que a característica da indisponibilidade do
direito já decorreria dessa premissa firmada.
5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts. 1º, V,
e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973,
uma vez que a atuação do Ministério Público, em demandas de
saúde, assim como nas relativas à dignidade da pessoa humana,
tem assento na indisponibilidade do direito individual, com
fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público).
6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte
legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de
medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos
individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
7. No caso concreto, o aresto prolatado pelo eg. Tribunal
de origem está conforme o posicionamento desta Corte
Superior, mormente quando, neste caso, o processo diz respeito
a interesse de menor, em que a atuação do Ministério Público já
se encontra legitimada com base nesse único aspecto de direito.
8. Recurso especial conhecido e não provido.
9. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e
seguintes do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento
Interno deste STJ.

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RE 605533 / MG

(REsp 1682836/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,


PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe 30/04/2018)

Em vista do exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para


afirmar a legitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de
Ação Civil Pública visando ao fornecimento de medicamentos pelo
sistema público de saúde.
É o voto.

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Antecipação ao Voto

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

ANTECIPAÇÃO AO VOTO
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhor Presidente,
eminentes Pares, eminente Ministro-Relator, Ministro Marco Aurélio,
serei breve, vou juntar declaração de voto.
Senhor Presidente, na matéria de fundo, qual seja, o tema que está
aqui sobre a Mesa, que é a legitimidade do Ministério Público para
ajuizar ação civil pública em relação a essa legítima pretensão de
compelir os Estados federados a fornecer medicamentos a pessoas
necessitadas ou a grupo de pessoas, acompanho a conclusão que o
eminente Ministro Marco Aurélio traz à colação. Não estamos discutindo
aqui especificamente o tema dos medicamentos. O que está posto em
debate é a legitimidade do Ministério Público. Portanto, a repercussão
geral é uma repercussão geral cirurgicamente adstrita a esse aspecto.
Portanto, nessa medida, acompanho o eminente Ministro-Relator.
O Ministro Marco Aurélio, do que depreendi, há uma outra
argumentação que diz respeito a uma sustentação que veio no
extraordinário, quanto à ausência de fundamentação do acórdão
recorrido, que importaria numa suposta violação do inc. IX do art. 98 da
Constituição. Então, Sua Excelência, o Relator, ultrapassou essa questão
não acolhendo, o que poderia, eventualmente, levar, na concordância que
tenho, num provimento parcial, porque esse outro argumento não seria
acolhido.
Mas, seja qual for a técnica da conclusão, eu acompanho
integralmente o eminente Ministro-Relator no sentido de assentar a
legitimidade do Ministério Público e, portanto, atribuir razão ao
recorrente.
É como voto e juntarei a declaração, Senhor Presidente.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO VOGAL

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Adoto o bem lançado relatório


elaborado pelo I. Relator nos presentes autos.
Trata-se a controvérsia, em suma, de saber se o Ministério Público
detém legitimidade para ajuizar ação civil pública no intuito de compelir
os entes federados a fornecer medicamentos a pessoa necessitada ou a um
grupo de pessoas, nos termos da repercussão geral reconhecida:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA - FORNECIMENTO DE


REMÉDIOS - LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO -
RECUSA NA ORIGEM - Possui repercussão geral a
controvérsia sobre a legitimidade do Ministério Público para
ajuizar ação civil pública com objetivo de compelir entes
federados a entregar medicamentos a pessoas necessitadas.”
(RE 605533 RG, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
julgado em 01/04/2010, DJe-076 DIVULG 29-04-2010 PUBLIC
30-04-2010 EMENT VOL-02399-09 PP-02040 LEXSTF v. 32, n.
377, 2010, p. 243-246 )

No recurso extraordinário interposto, o Ministério Público do Estado


de Minas Gerais sustenta: (i) violação ao devido processo legal e ao dever
de motivar as decisões judiciais, pela ausência de apreciação das
alegações lançadas nos embargos de declaração; (ii) legitimidade do
Ministério Público na defesa de interesses individuais indisponíveis e
homogêneos.
Em relação ao primeiro argumento, por meio do qual aponta o
Recorrente contrariedade ao disposto nos artigos 5º, LIV, LV e 93, IX, não
assiste razão ao recorrente.
Isso porque o Supremo Tribunal Federal já assentou a inexistência da
repercussão geral quando a alegada ofensa aos princípios do devido

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 605533 / MG

processo legal, da ampla defesa, do contraditório, da legalidade e dos


limites da coisa julgada é debatida sob a ótica infraconstitucional (ARE-
RG 748.371, da relatoria do Min. Gilmar Mendes, DJe 1º.08.2013, tema 660
da sistemática da RG).
Ainda, no tocante à alegada afronta ao art. 93, IX, da C.F., verifica-se
que o acórdão recorrido inequivocamente prestou jurisdição, e enfrentou
as questões suscitadas com a devida fundamentação, ainda que com ela
não concorde os ora Agravantes.
Nesse sentido, ao julgar o AI-QO-RG 791.292, de relatoria do
Ministro Gilmar Mendes, DJe 13.8.2010, o Plenário desta Corte assentou a
repercussão geral do tema 339 referente à negativa de prestação
jurisdicional por ausência de fundamentação e reafirmou a jurisprudência
segundo a qual o art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão
ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem
determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações
ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão.
No que concerne ao mérito da causa, contudo, assiste razão ao
Recorrente.
Esta Corte já albergou a tese defendida pelo Parquet no presente caso
em diversas oportunidades:

“EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. MEDIDA


CAUTELAR. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
RECURSAL. REFERENDO DA TURMA. INCISOS IV E V DO
ART. 21 DO RI/STF. SAÚDE. DIREITO FUNDAMENTAL DE
DUPLA FACE (SOCIAL E INDIVIDUAL INDISPONÍVEL).
TEMA QUE SE INSERE NO ÂMBITO DA LEGITIMAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. ESPERA PELO JULGAMENTO QUE PODE
ACARRETAR GRAVES PREJUÍZOS À SAUDE DO
INTERESSADO. Decisão singular concessiva da antecipação
dos efeitos da tutela recursal. Constitucionalmente qualificada
como direito fundamental de dupla face (direito social e
individual indisponível), a saúde é tema que se insere no
âmbito de legitimação do Ministério Público para a propositura

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RE 605533 / MG

de ação em sua defesa. Espera pelo julgamento de mérito do


recurso extraordinário que pode acarretar graves prejuízos à
saúde do interessado. Presença dos pressupostos autorizadores
da medida. Questão de ordem que se resolve pelo referendo da
decisão concessiva da antecipação dos efeitos da tutela
recursal.”
(AC 2836 MC-QO, Relator(a): Min. AYRES BRITTO,
Segunda Turma, julgado em 27/03/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-124 DIVULG 25-06-2012 PUBLIC 26-06-2012
RDDP n. 114, 2012, p. 154-155)

“LEGITIMIDADE - MINISTÉRIO PÚBLICO – AÇÃO


CIVIL PÚBLICA - FORNECIMENTO DE REMÉDIO PELO
ESTADO. O Ministério Público é parte legítima para ingressar
em juízo com ação civil pública visando a compelir o Estado a
fornecer medicamento indispensável à saúde de pessoa
individualizada.”
(RE 407902, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira
Turma, julgado em 26/05/2009, DJe-162 DIVULG 27-08-2009
PUBLIC 28-08-2009 EMENT VOL-02371-04 PP-00816 RF v. 105,
n. 405, 2009, p. 409-411)

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. DIREITO À
SAÚDE. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA
DEFESA DE INTERESSE INDIVIDUAL INDISPONÍVEL.
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO.”
(RE 648410 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA,
Primeira Turma, julgado em 14/02/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-053 DIVULG 13-03-2012 PUBLIC 14-03-
2012)

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE

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ATIVA. DEFESA DE DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS


INDISPONÍVEIS. PRECEDENTES. 1. A Constituição do Brasil,
em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério Público
poderes para agir em defesa de interesses sociais e individuais
indisponíveis, como no caso de garantir o fornecimento de
medicamentos a hipossuficiente. 2. Não há que se falar em
usurpação de competência da defensoria pública ou da
advocacia privada. Agravo regimental a que se nega
provimento.”
(RE 554088 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda
Turma, julgado em 03/06/2008, DJe-112 DIVULG 19-06-2008
PUBLIC 20-06-2008 EMENT VOL-02324-06 PP-01237 RCJ v. 22,
n. 142, 2008, p. 90-91)

Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça decidiu controvérsia


idêntica a que ora se apresenta, pelo regime de recursos repetitivos. A
ementa do julgado é a que segue:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL SOB A SISTEMÁTICA DOS REPETITIVOS.
DEMANDAS DE SAÚDE COM BENEFICIÁRIOS
INDIVIDUALIZADOS INTERPOSTAS CONTRA ENTES
FEDERATIVOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
SUPOSTA AFRONTA AOS DISPOSITIVOS DOS ARTS. 1º, V, E
21 DA LEI N. 7.347/1985, BEM COMO AO ART. 6º DO
CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO À SAÚDE.
DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 1º DA LEI N.
8.625/1993 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO). APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. RECURSO JULGADO SOB A
SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015,
C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO INTERNO
DO STJ.
1. Os dispositivos legais, cuja aplicação é questionada nos
dois recursos especiais e a tramitação se dá pela sistemática dos
repetitivos (REsp 1.681.690/SP e REsp 1.682.836/SP), terão sua

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resolução efetivada em conjunto, consoante determina a regra


processual.
2. A discussão, neste feito, passa ao largo de qualquer
consideração acerca da legitimidade ministerial para propor
demandas, quando se tratar de direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida
da sua legitimidade, nesse particular, seja por parte da
legislação aplicável à espécie, seja por parte da jurisprudência.
De outra parte, a discussão também não se refere à legitimidade
de o Ministério Público postular em favor de interesses de
menores, incapazes e de idosos em situação de vulnerabilidade.
É que, em tais hipóteses, a legitimidade do órgão ministerial
decorre da lei, em especial dos seguintes estatutos jurídicos: art.
201, VIII, da Lei n. 8.069/1990, e art. 74, II e III, da Lei
10.741/2003.
3. A fronteira para se discernir a legitimidade do órgão
ministerial diz respeito à disponibilidade, ou não, dos direitos
individuais vindicados. É que, referindo-se a direitos
individuais disponíveis e uma vez não havendo uma lei
especifica autorizando, de forma excepcional, a atuação do
Ministério Público (como no caso da Lei n. 8.560/1992), não se
pode falar em legitimidade de sua atuação. Todavia, se se tratar
de direitos ou interesses indisponíveis, a legitimidade
ministerial já decorreria da redação do próprio art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
4. Com efeito, a disciplina do direito à saúde encontra na
jurisprudência pátria a correspondência com o próprio direito à
vida, de forma que a característica da indisponibilidade do
direito já decorreria dessa premissa firmada.
5. Assim, inexiste violação dos dispositivos do art. 1º, V, e
art. 21, da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973,
já que a atuação do Ministério Público, em demandas de saúde,
assim como nas relativas à dignidade da pessoa humana, tem
assento na indisponibilidade do direito individual, com
fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público).

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6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte


legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de
medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se trata de direitos
individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
7. No caso, o aresto prolatado pelo eg. Tribunal de origem
está conforme o posicionamento desta Corte Superior, ao
considerar a atuação do Ministério Público, por versar sobre
direitos individuais indisponíveis.
8. Recurso especial conhecido e não provido.
9. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e
seguintes do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento
Interno deste STJ.”
(REsp 1681690/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe 03/05/2018)

Em análise aos posicionamentos jurisprudenciais acima citados, não


antevejo razões para a revisão do entendimento.
De fato, o delineamento constitucional para a atuação do Ministério
Público vem exposta pelos artigos 127 e 129 da Constituição da
República, nos seguintes termos:

“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
(…)”
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério
Público:
(…)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia;

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III - promover o inquérito civil e a ação civil pública,


para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
(...)
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações
civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e
na lei.
(...)”

Ora, como já assentado na jurisprudência desta Corte, o direito à


saúde se configura como direito indisponível, e a prestação do serviço
público de saúde, na dicção do artigo 197 do texto constitucional, possui
relevância pública, a autorizar sua tutela por meio do instrumento da
ação civil pública, pelos Ministério Público, atribuição esta que está em
perfeita consonância com as funções a ele cometidas pela Carta Magna.
Nesse sentido:

“E M E N T A: PACIENTE COM HIV/AIDS – PESSOA


DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À
VIDA E À SAÚDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE
MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER
PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF)
- RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO À SAÚDE
REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL
INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA. - O direito público
subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica
indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela
própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem
jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade
deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem
incumbe formular - e implementar - políticas sociais e
econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos,
inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal
e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar. -
O direito à saúde - além de qualificar-se como direito

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fundamental que assiste a todas as pessoas – representa


conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O
Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua
atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode
mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob
pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave
comportamento inconstitucional. A INTERPRETAÇÃO DA
NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ- LA
EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE. - O
caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta
Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que
compõem, no plano institucional, a organização federativa do
Estado brasileiro - não pode converter-se em promessa
constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público,
fraudando justas expectativas nele depositadas pela
coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento
de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Fundamental do Estado. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE
MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES. - O
reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de
distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes,
inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/AIDS, dá efetividade
a preceitos fundamentais da Constituição da República (arts. 5º,
caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um
gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das
pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem,
a não ser a consciência de sua própria humanidade e de sua
essencial dignidade. Precedentes do STF.”
(RE 271286 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Segunda Turma, julgado em 12/09/2000, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJ 24-11-2000 PP-00101 EMENT VOL-02013-07
PP-01409)

Assim, é legitimado o Ministério Público para ajuizar ações


pleiteando compelir os entes federados a fornecer medicamentos a

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pessoas necessitadas, seja no âmbito individual, seja no âmbito coletivo.


Ressalte-se que não se trata, a toda evidência, de apreciação do
mérito dessas demandas, mas sim de assentar, uma vez mais, a
legitimação extraordinária do Parquet, federal ou estadual, para pleitear,
na qualidade de substituto processual, o fornecimento de fármacos
essenciais à manutenção da vida de pessoa individualmente considerada,
ou mesmo se grupos de pessoas que sofrem da mesma moléstia e
necessitam do mesmo medicamento.
Ora, ao substituir-se à pessoa necessitada no ajuizamento de
demandas como a que ora se apresenta, defende o Ministério Público
evidente interesse individual indisponível, socialmente relevante porque
diz respeito a direito fundamental à vida, e, portanto, não há desvio de
finalidade da figura da ação civil pública, porque sua utilização está de
acordo com o que dispõe a parte final do artigo 127, caput, do texto
constitucional, como farta jurisprudência já assentara.
De outra parte, ao ajuizar demanda de caráter coletivo, pleiteando a
concessão de medicamento a grupo de pessoas, o Parquet defende direito
individual homogêneo, de classe transindividual, portanto, e também
aqui não há qualquer violação às competências constitucionais do
Ministério Público.
O fato de não constar, expressamente, a tutela de direitos individuais
homogêneos no inciso III do artigo 129, ao lado da proteção aos direitos
difusos e coletivos, não significa que a defesa deles é vedada ao
Ministério Público, uma vez que a expressão “direito individual
homogêneo” somente surge no ordenamento jurídico brasileiro a partir
de 1990, com o Código de Defesa do Consumidor. Ressalte-se que a
própria Lei da Ação Civil Pública, em seu artigo 21, expressamente acolhe
essa categoria de tutela coletiva dentre as categorias de direitos e
interesses albergados pela espécie de demanda que ela regula.
Ademais, ainda restrita a análise à questão da legitimidade ativa, o
ajuizamento de demandas com finalidade coletiva no âmbito da saúde
insere-se dentro do que esta Corte já compreendeu como interesse social
qualificado, apto a ser tutelado por meio da figura da ação civil pública, e

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de titularidade do Ministério Público.


Nesse sentido, a respeito do Seguro DPVAT, está firmado o
entendimento do Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão
geral:

“Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


AÇÃO CIVIL COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS
(DIFUSOS E COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS. 127 E 129, III, DA CF. LESÃO
A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA.
COMPROMETIMENTO DE INTERESSES SOCIAIS
QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA
LEGITIMIDADE ATIVA. 1. Os direitos difusos e coletivos são
transindividuais, indivisíveis e sem titular determinado, sendo,
por isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em regime
de substituição processual, por iniciativa dos órgãos e entidades
indicados pelo sistema normativo, entre os quais o Ministério
Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de suas
relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os
direitos individuais homogêneos pertencem à categoria dos
direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular determinado ou
determinável e em geral são de natureza disponível. Sua
tutela jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa do próprio
titular, em regime processual comum, ou (b) pelo
procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de
substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos
ou entidades para tanto legitimados pelo sistema normativo.
3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da
Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos individuais
homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses direitos
se dá em duas distintas fases: uma, a da ação coletiva
propriamente dita, destinada a obter sentença genérica a
respeito dos elementos que compõem o núcleo de
homogeneidade dos direitos tutelados (an debeatur, quid
debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido na

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primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença genérica,


destinada (a) a complementar a atividade cognitiva mediante
juízo específico sobre as situações individuais de cada um dos
lesados (= a margem de heterogeneidade dos direitos
homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum
debeatur), bem como (b) a efetivar os correspondentes atos
executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao
Ministério Público, entre outras, a incumbência de defender
“interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre
interesses sociais e interesses de entidades públicas, já que em
relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos agentes
ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer
sinonímia entre interesse social e interesse coletivo de
particulares, ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos
homogêneos. Direitos individuais disponíveis, ainda que
homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela
pelo Ministério Público (CF, art. 127). 5. No entanto, há certos
interesses individuais que, quando visualizados em seu
conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de
transcender a esfera de interesses puramente particulares,
passando a representar, mais que a soma de interesses dos
respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade.
Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba
não apenas atingindo a esfera jurídica dos titulares do direito
individualmente considerados, mas também comprometendo
bens, institutos ou valores jurídicos superiores, cuja
preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em
casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de
interesse social qualificado, o que legitima a propositura da
ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da
Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a
legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil
coletiva destinada a obter sentença genérica sobre o núcleo de
homogeneidade dos direitos individuais homogêneos. 6.
Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções
institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos

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individuais homogêneos compromete também interesses


sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle
jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra
final sobre a adequada legitimação para a causa, sendo que, por
se tratar de matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer
até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e §
4.º). 7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro
obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos
Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74, alterada pela Lei
8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social
qualificado na tutela coletiva dos direitos individuais
homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma
semelhante pela Seguradora no pagamento das
correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança
com outros direitos individuais homogêneos em relação aos
quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis,
disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o
Supremo Tribunal Federal considerou que sua tutela se revestia
de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a
iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da
Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE
163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010
AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ). 8. Recurso
extraordinário a que se dá provimento.”
(RE 631111, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal
Pleno, julgado em 07/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-
2014 PUBLIC 30-10-2014)

Desta feita, seja pelo olhar da evidente indisponibilidade do direito à


saúde, seja por se qualificar como um interesse socialmente qualificado e
de relevância pública, a legitimidade do Ministério Público para
ajuizamento de demandas requerendo ao Poder Público a concessão de
medicamentos àqueles que não podem arcar com seus custos está de
acordo com as competências constitucionalmente conferidas ao Parquet.
E nem se alegue que a defesa dos necessitados é feita exclusivamente

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 38 de 73 573


RE 605533 / MG

pela Defensoria Pública, pois, nos termos do artigo 129, §1º, não há
legitimação exclusiva na hipótese, uma vez existir assento constitucional
para a repartição de atribuições nesses casos.
Assim, voto pelo provimento parcial do recurso extraordinário,
remetendo-se o feito à origem para continuidade do julgamento de
mérito do recurso de apelação, assentando-se, a título de tese, que o
Ministério Público detém legitimidade para ajuizar ações, tanto
individuais como coletivas, para pleitar do Poder Público a concessão de
medicamento a pessoa necessitada.
É como voto.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 39 de 73 574

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,
como agora pontuou o eminente Ministro Edson Fachin, já havia sido
destacada pelo Relator a questão processual que está aqui em discussão.
Também eu a vejo como relativamente simples e não teria dúvida de
identificar a legitimidade inequívoca do Ministério Público nesta
hipótese, por disposição expressa da Constituição, que o habilita a tutelar,
inclusive, interesses individuais homogêneos.
E também estou de acordo com a solução que o Ministro Marco
Aurélio propõe de determinar a baixa do processo para que, no âmbito
do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, possivelmente em Primeiro Grau,
que se proceda ao julgamento de mérito.
Apenas para não deixar de mencionar, a questão de fundo, a
procedência ou improcedência do pedido, diferentemente da questão
processual, eu considero extremamente complexa, porque ela envolve
esse tema que nós já iniciamos o debate aqui acerca da judicialização da
saúde.
E, aí, apenas para um parágrafo de reflexão, se o Ministério Público
estiver postulando um medicamento que já tenha sido incorporado pelo
SUS, eu não tenho nenhuma dúvida de que a hipótese é de solução
simples, trata-se de um caso fácil.
Agora, se o Ministério Público estiver postulando um medicamento
que não tenha sido incorporado pelo SUS, aí que começam as
complexidades, é um caso que, como lembrou o Ministro Alexandre, teve
o seu início de deliberação aqui no Plenário. A demonstrar a
complexidade do caso, houve três votos, cada um num sentido, não vou
dizer totalmente divergente, mas relativamente divergente: o do eminente
Ministro Marco Aurélio, que era o Relator, o do eminente Ministro Edson
Fachin e o meu próprio, que entendo que, se a postulação envolver a
outorga, por via judicial, de medicamento não incluído, é preciso que o
órgão técnico responsável pela inclusão, ou não, participe da lide para

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 40 de 73 575


RE 605533 / MG

dar as razões pelas quais o medicamento deixou de ser incluído.


O que acho ruim nesse tipo de judicialização da saúde que ocorreu é
o atendimento de pretensões individuais, porque aí você está dando
privilégio a quem tem acesso à Justiça, quando eu acho que as soluções
têm que ser ou universalizáveis, ou não. Vale dizer: ou se inclui para
todos os que estejam em igual situação, porque aquela é a solução
tecnicamente adequada e financeiramente possível, ou então, se você
concede em pretensões puramente individuais, você está favorecendo
quem tem acesso.
Essa é a dificuldade de uma questão para a qual não há solução
juridicamente fácil nem moralmente barata, porque, mal ou bem, o
dinheiro que vai para um lugar não está indo para outro lugar. Esta é a
discussão de fundo, que não é a que está posta aqui, é a que nós estamos
devolvendo para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Portanto, Presidente, eu estou acompanhando o Relator
integralmente. E apenas porque tenho o hábito de fazê-lo, e aqui se trata
de repercussão geral, penso que expressa...
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Ministro,
reservei-me, numa disciplina maior, a enunciação da tese após o
julgamento.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Vossa
Excelência tem toda a razão, é só porque eu já incluo isso, no âmbito do
meu voto, mas ainda não submetendo à votação, mas basicamente para
dizer que o Ministério Público tem legitimidade ativa para postular,
perante o órgão competente, o fornecimento de medicamentos. É muito
singela a tese. E concordo com a baixa do processo. De modo que estou
acompanhando integralmente a posição do Relator.
Apenas fiz a digressão porque acho que essa é uma matéria que vai
voltar e eu a considero um dos temas mais complexos que nós temos para
resolver aqui, porque, como disse, não há uma solução nem juridicamente
fácil nem moralmente barata, são escolhas trágicas que acho que vamos
ter que orientar os juízes do país.
Muito obrigado.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 41 de 73 576


RE 605533 / MG

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Voto - MIN. ROSA WEBER

Inteiro Teor do Acórdão - Página 42 de 73 577

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER - Senhor Presidente,


cumprimento todos, em especial aqueles que fizeram uso da tribuna para
a sustentação oral, a Doutora Raquel inclusive.
Já foi muito bem explicitado, e todos nós sabemos, o mérito do
recurso não se confunde com o mérito da ação, não se confunde com a
lide material posta em juízo, no caso, o fornecimento de medicamentos
pelos Estados.
O objeto do recurso extraordinário em discussão, o objeto recursal,
diz com a legitimidade do Ministério Público para a propositura de ação
em busca de direito individual indisponível a ensejar extinção do
processo sem resolução do mérito na hipótese de acolhermos a
ilegitimidade, como se fez na origem.
Eu, com todo o respeito às compreensões contrárias, retiro do texto
constitucional a legitimidade ad causam do Ministério Público e entendo
que, teologicamente interpretados - sequer recorro à legislação
infraconstitucional -, há reconhecimento desta legitimidade - artigos 127 e
129, II, da nossa Lei Fundamental.
Por isso, acompanhando o eminente Relator, eu provejo o recurso
ordinário e determino, como Sua Excelência, o retorno dos autos à origem
para que dê prosseguimento ao feito como entender de direito.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 43 de 73 578

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX: A questão posta nos autos diz


respeito à (i)legitimidade de o Ministério Público ajuizar ação civil
pública em que postule compelir o Poder Público a fornecer
medicamentos a pessoa específica, em defesa de seu direito à saúde.

De início, já se ressalta, desde já, que não se está a discutir a


legitimidade de decisão judicial que determine o fornecimento de
medicamentos ou em quais condições é possível tal determinação, tema
que é objeto de discussão do julgamento já iniciado dos RE’s 657.718 e
566.471 (rel. Min. Marco Aurélio). Discute-se, aqui, tão somente a
legitimidade, ou não do Ministério Público para requerer tal prestação em
sede de ação civil pública.

A organização do Ministério Público brasileiro é objeto de direto


delineamento constitucional. Por se tratar de órgão autônomo e
funcionalmente independente, a ele se deve assegurar – com as garantias
típicas das normas constitucionais – preceitos normativos mínimos que
proporcionem à instituição e a seus membros condições fáticas, concretas
e efetivas para o exercício independente e imparcial de seu mister
constitucional.

No arcabouço constitucional, o art. 129 da CRFB/88 dispõe sobre as


funções institucionais do Ministério Público, dentre as quais: promover o
inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos (inciso III); e exercer outras funções que lhe forem conferidas,
desde que compatíveis com sua finalidade (inciso IX).

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 44 de 73 579


RE 605533 / MG

Ademais, o art. 127 da CRFB/88 assenta como incumbência


institucional do Ministério Público a defesa dos interesses sociais e
individuais indisponíveis, dentre os quais desde já se assenta entender
estar incluso o direito à saúde.

No plano infraconstitucional, por sua vez, a ação civil pública é


regulada pela Lei nº 7.347/1985, importante marco legislativo que integra
o microssistema processual coletivo brasileiro, ao lado de outras normas
como a Lei da Ação Popular, o Mandado de Segurança e o Mandado de
Injunção coletivos, a tutela coletiva do Consumidor etc.

Deveras, sob uma filtragem constitucional, a promoção do processo


coletivo exsurge como uma relevante onda renovatória de acesso à
Jurisdição (CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryan. Acesso à justiça,
tradução e revisão: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: S. A. Fabris,
2015). Busca-se, assim, promover uma mais concreta e efetiva
concretização da garantia assegurada no art. 5º, XXXV, da CRFB/88,
promover a economia e a celeridade processuais, além de proteger, no
plano concreto, diversos outros direitos fundamentais.

Nesse sentido, o art. 1º da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº


7.347/1985), que cuida dos diversos interesses públicos e coletivos que
podem ser resguardados por tal instrumento processual, fazendo-o,
porém, de forma exemplificativamente, em densificação normativa da
previsão constitucional acima destacada: outros interesses difusos e
coletivos. Com efeito, o referido dispositivo é assim lançado, verbis (grifos
nossos):

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da


ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
I - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 45 de 73 580


RE 605533 / MG

turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
(Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).
VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº
2.180-35, de 2001)
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou
religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014)
VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº
13.004, de 2014)

Apesar de não se fazer menção expressa aos direitos individuais


homogêneos, tem-se entendido que estes são espécies da categoria direitos
coletivos, ao lado dos direitos difusos e dos direitos coletivos stricto sensu.
Nesse sentido, aliás, é o art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor, integrante do referido microssistema processual coletivo
brasileiro, em relação ao qual se interpretam conjuntamente suas normas
integrantes, à luz do diálogo das fontes.

Ainda que assim não fosse, relativamente ao direito à saúde, trata-se


de direito que possuir vieses coletivos e individuais, em relação aos quais
há inegável interesse público, de matriz coletiva lato sensu. No seu plano
individual, de todo modo, o direito à saúde revela conteúdo indisponível,
eis que diretamente associado à manutenção do direito à vida e da
concretização da dignidade da pessoa humana.

Com efeito, a superação do Estado de Direito pelo do Estado Social,


fenômeno que teve lugar a partir de meados do Século XX e se fortificou
no Pós-Segunda Guerra Mundial, representou consequências em diversas
áreas da vida coletiva. A partir da remodelação desse novo paradigma
estatal, aponta-se um novo traço marcante das democracias ocidentais: o
Estado, além das tutelas negativas que devia garantir aos cidadãos (tendo
como princípio base o direito à liberdade e à igualdade formal), deve

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 46 de 73 581


RE 605533 / MG

também se ocupar de prestações positivas (dessa feita, tendo como


ideário principal o direito à igualdade material), que busquem concretizar
efetivamente os direitos declarados pelo ordenamento jurídico respectivo.

Deveras, passa a se reconhecer a afirmação das Constituições como


normas jurídicas de observância obrigatória (veja-se, nesse sentido, a
ideia de força normativa da Constituição, formulada por Konrad Hesse),
bem como se procede ao incremento dos direitos fundamentais, a
abranger direitos sociais (como o direito à saúde) em sua forma mais
efetiva e universal possível. Nesse sentido é que a ordem constitucional
brasileira vigente assegura o direito à saúde como direito social (art. 6º da
CRFB/88), bem como o torna um “direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196 da CRFB/88).

Passa-se, portanto, a um cenário em que é obrigação do Estado e


direito de seus cidadãos a prestação de serviços de saúde, sendo possível,
inclusive, compeli-lo judicialmente a tomar medidas que representem a
efetiva concretização do aludido direito de ordem constitucional. Com
efeito, essa possibilidade de se exigir o cumprimento de prestações
materiais destinadas à concretização desses direitos sociais tem
implicado, mais recentemente, também uma rediscussão do alcance e
sentido do princípio da separação dos poderes. É que se passa a postular
tais direitos junto ao Judiciário, diante da omissão do cumprimento dos
deveres constitucionais por parte dos Poderes Executivo e Legislativo,
bem como nos imanentes conflitos que se instauram entre
Constitucionalismo e Democracia, que “embora sejam figuras usualmente
adjetas, desenvolvem entre si uma relação de constante tensão mútua”. (ARABI,
Abhner Youssif Mota Arabi. A tensão institucional entre Judiciário e
Legislativo: controle de constitucionalidade, dialogo e a legitimidade
da atuação Supremo Tribunal Federal. Curitiba: Editora Prismas, 2015, p.
45). E, nesse aspecto, tem-se no caso do direito à saúde um clássico

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 47 de 73 582


RE 605533 / MG

exemplo de maciça judicialização, nos âmbitos individual e coletivo.

O conteúdo e o mérito dessas intervenções, porém, não é âmbito da


discussão ora tomada, que se limita a reconhecer a legitimidade, ou não,
do Ministério Público para promover ação civil pública que busque
viabilizar o acesso à saúde, notadamente pelo fornecimento de
medicamentos.

Sobre o tema, rememoro que no RE 631.111 (rel. Min. Teori Zavascki,


Tribunal Pleno, julgamento em 07/08/2014, DJe de 30/0/2014), em que
analisado o tema nº 471 da Repercussão Geral (“Legitimidade do Ministério
Público para propor ação civil pública em defesa de interesses de beneficiários do
DPVAT”), essa Corte afirmou a legitimidade da atuação do Ministério
Público em defesa de interesses individuais homogêneos, quando neles se
vislumbre a presença de interesse social. Como efeito, o destacado
acórdão restou assim ementado, verbis:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


CIVIL COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS
E COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
ARTS. 127 E 129, III, DA CF. LESÃO A DIREITOS
INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA.
COMPROMETIMENTO DE INTERESSES SOCIAIS
QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA
LEGITIMIDADE ATIVA.
1. Os direitos difusos e coletivos são transindividuais,
indivisíveis e sem titular determinado, sendo, por isso mesmo,
tutelados em juízo invariavelmente em regime de substituição
processual, por iniciativa dos órgãos e entidades indicados pelo
sistema normativo, entre os quais o Ministério Público, que
tem, nessa legitimação ativa, uma de suas relevantes funções
institucionais (CF art. 129, III).
2. Já os direitos individuais homogêneos pertencem à
categoria dos direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 48 de 73 583


RE 605533 / MG

determinado ou determinável e em geral são de natureza


disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por
iniciativa do próprio titular, em regime processual comum, ou
(b) pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em
regime de substituição processual, por iniciativa de qualquer
dos órgãos ou entidades para tanto legitimados pelo sistema
normativo.
3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a
100 da Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos
individuais homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva
desses direitos se dá em duas distintas fases: uma, a da ação
coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença genérica
a respeito dos elementos que compõem o núcleo de
homogeneidade dos direitos tutelados (an debeatur, quid debeatur
e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido na primeira
fase, a da ação de cumprimento da sentença genérica, destinada
(a) a complementar a atividade cognitiva mediante juízo
específico sobre as situações individuais de cada um dos
lesados (= a margem de heterogeneidade dos direitos
homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum
debeatur), bem como (b) a efetivar os correspondentes atos
executórios.
4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao
Ministério Público, entre outras, a incumbência de defender
“interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre
interesses sociais e interesses de entidades públicas, já que em
relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos agentes
ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer
sinonímia entre interesse social e interesse coletivo de
particulares, ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos
homogêneos. Direitos individuais disponíveis, ainda que
homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela
pelo Ministério Público (CF, art. 127).
5. No entanto, há certos interesses individuais que,
quando visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e
impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 49 de 73 584


RE 605533 / MG

puramente particulares, passando a representar, mais que a


soma de interesses dos respectivos titulares, verdadeiros
interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses
interesses individuais acaba não apenas atingindo a esfera
jurídica dos titulares do direito individualmente
considerados, mas também comprometendo bens, institutos
ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma
comunidade maior de pessoas. Em casos tais, a tutela
jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social
qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo
Ministério Público com base no art. 127 da Constituição
Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a legitimação ativa do
Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada a
obter sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos
direitos individuais homogêneos.
6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas
funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a
direitos individuais homogêneos compromete também
interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior
controle jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito,
a palavra final sobre a adequada legitimação para a causa,
sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela pode
o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e
art. 301, VIII e § 4.º).
7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro
obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos
Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74, alterada pela Lei
8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social
qualificado na tutela coletiva dos direitos individuais
homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma
semelhante pela Seguradora no pagamento das
correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança
com outros direitos individuais homogêneos em relação aos
quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis,
disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o
Supremo Tribunal Federal considerou que sua tutela se revestia

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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RE 605533 / MG

de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a


iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da
Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE
163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010
AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ).
8. Recurso extraordinário a que se dá provimento.”

Ora, se há a legitimidade para que o Parquet atue, pela via da ação


civil pública para tutelar interesses individuais de ordem patrimonial e
disponível (isto é, o recebimento de indenizações do seguro obrigatório
DPVAT), desde que em relação a ele haja um relevante interesse social, com
maior razão para a defesa de direitos fundamentais indisponíveis, como o
direito à saúde.

Outrossim, não há que se argumentar, aqui, em qualquer óbice


decorrente do princípio da separação dos poderes, que já foi afastado por
esta Corte em outros casos semelhantes, verbi gratia:

“REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO DO MPE CONTRA


ACÓRDÃO DO TJRS. REFORMA DE SENTENÇA QUE
DETERMINAVA A EXECUÇÃO DE OBRAS NA CASA DO
ALBERGADO DE URUGUAIANA. ALEGADA OFENSA AO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E
DESBORDAMENTO DOS LIMITES DA RESERVA DO
POSSÍVEL. INOCORRÊNCIA. DECISÃO QUE CONSIDEROU
DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE PRESOS MERAS
NORMAS PROGRAMÁTICAS. INADMISSIBILIDADE.
PRECEITOS QUE TÊM EFICÁCIA PLENA E
APLICABIILIDADE IMEDIATA. INTERVENÇÃO JUDICIAL
QUE SE MOSTRA NECESSÁRIA E ADEQUADA PARA
PRESERVAR O VALOR FUNDAMENTAL DA PESSOA
HUMANA. OBSERVÂNCIA, ADEMAIS, DO POSTULADO DA
INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO PARA MANTER A SENTENÇA
CASSADA PELO TRIBUNAL.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 51 de 73 586


RE 605533 / MG

I - É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública


obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na
execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais.
II - Supremacia da dignidade da pessoa humana que
legitima a intervenção judicial.
III - Sentença reformada que, de forma correta, buscava
assegurar o respeito à integridade física e moral dos detentos,
em observância ao art. 5º, XLIX, da Constituição Federal.
IV - Impossibilidade de opor-se à sentença de primeiro
grau o argumento da reserva do possível ou princípio da
separação dos poderes. V - Recurso conhecido e provido.”
(RE 592.581, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal
Pleno, DJe de 01/02/2016)

Ex positis, certo de que quanto mais legitimados concorrentes, menos


são os cidadãos carentes desassistidos, voto pelo provimento do recurso
extraordinário, assentando-se a tese de que o Ministério Público possui
legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em defesa do direito
individual à saúde, inclusive para o fornecimento de medicamentos.

É como voto.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 52 de 73 587

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhor


Presidente, Senhores Ministros, eu saúdo também os oradores que
assomaram a tribuna ou que falaram diretamente da bancada, como é o
caso da eminente Procuradora-Geral da República.
Ouvi atentamente as sustentações orais e penso que o caso sob
análise não permite um mergulho mais profundo na questão, de um lado,
da judicialização da saúde e, de outro lado, a discussão da legitimidade
ativa do Ministério Público para pleitear, em juízo, como foi dito da
tribuna, direitos individuais disponíveis. Não é isso que se está
discutindo neste feito.
Como bem observou e esclareceu o douto Relator, Ministro Marco
Aurélio, aqui nós temos uma ação ajuizada pelo Ministério Público de
Minas Gerais para, a partir de um caso de um paciente, obter o
fornecimento de um determinado medicamento para toda uma categoria
de portadores de certa doença. Portanto, não se trata, especificamente, de
discutir aqui direito individual disponível de um paciente em particular.
Dito isso, eu gostaria de afirmar que acompanho integralmente o
substancioso voto do Ministro-Relator, que, a meu ver, bem analisou a
questão e chegou a uma conclusão aceitável, sobretudo considerados os
lindes do feito sob a análise deste egrégio Plenário. Acompanho o Relator
integralmente na conclusão a que chegou Sua Excelência.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 53 de 73 588

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Presidente, essa, como
já foi dito, é uma das questões mais aflitivas do atual sistema de direitos,
especialmente de direitos sociais e direitos de caráter positivo, porque
não se nega a importância do direito à saúde, inclusive, no que concerne a
sua interconexão, muitas vezes, com o próprio direito à vida, como tem
sido aqui articulado.
Não me parece também que se deva, a priori, coarctar a legitimação
do Ministério Público em se tratando de direitos indisponíveis. Todavia,
como também já foi observado, o tema da judicialização das políticas de
saúde é um dos temas mais complexos e que tem dado ensejo, inclusive,
em São Paulo, Ministro Alexandre, a um sem-número de polêmicas.
Temos estudos - hoje, por exemplo, me lembro de um artigo, salvo
engano, publicado na Folha de São Paulo, do Professor Gonzalo Vecina,
chamando atenção para as vicissitudes que marcam essa judicialização e
a sobreoneração que isto traz para o sistema de saúde, fazendo com que o
cobertor, que já é bastante curto, muitas vezes, se convole no cobertor
ainda mais curto, curtíssimo, tendo em vista a proliferação dessas ações.
O modelo da iniciativa já suscita dúvida, porque se escolhe um dado
cidadão em nome do qual se diz que está representando toda uma
coletividade. Imaginemos, Ministro Fux, que nós tenhamos aqui uma
decisão cautelar para a compra de medicamentos para este grupo de
pessoas. Como vai proceder o Judiciário? E como vai proceder a
Administração em casos tais? Como que isso se articula? Este promotor
de uma dada comarca com outro de uma outra comarca? São muitas
questões que se suscitam.
Eu me lembro que um dos últimos esforços da saudosa Professora
Ada Pellegrini Grinover tinha a ver com o tema do controle das políticas
públicas. E aqui nós temos algumas dimensões. Uma delas - já foi dita - é
a questão da mera execução de políticas públicas - políticas públicas que
estão plenamente desenhadas e que são de alguma forma mal

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 54 de 73 589


RE 605533 / MG

implementadas. O medicamento já está na lista da Anvisa, já está na lista


do SUS, não obstante não é colocado à disposição da população. Pode-se
buscar, portanto, uma solução judicial.
Outra é a necessidade de se desenhar uma política pública, um dado
atendimento. E nós vemos que essa é uma questão que está presente no
mundo todo. O modelo que se diz também inspirador do nosso SUS, o
modelo inglês, preconiza a ideia de limitação, de possibilidade de escolha
por parte do próprio serviço em relação a tratamentos. Não é o que
acontece na maioria dos casos de judicialização.
Parece-me, portanto, que nós temos aqui um sem-número de
situações que vai demandar, talvez, até normas de organização e
procedimentos. Saber quem pode propor ação, porque não me parece
que, pelo fato de haver vários possíveis autores concorrentes para propor
a ação, o tema será mais bem tratado. Pelo contrário, podemos ter aqui até
um certo tumulto em relação a essa temática. Há muito debate sobre essa
questão da judicialização; há a questão da cooptação, determinados
grupos atendem a determinados segmentos mais organizados, indicam
procedimentos - isso por depoimento de médicos, os mais qualificados -
que não são os mais indicados.
Nós tivemos casos - eu presidi a audiência pública da célebre
Suspensão de Tutela 172 - em que nós tivemos os famosos casos em São
Paulo de desvios, de estelionato pela via judicial e indução por
laboratórios de compra de medicamentos. Em suma, é um tema assaz
complexo.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Vossa Excelência me permite?
Eu tenho verificado que, com o decorrer do tempo, tem havido uma
mitigação daqueles direitos fundamentais que foram uma conquista do
Estado Social. Então, o cidadão paga todos os seus tributos para ter, pelo
menos, o tripé saúde-segurança-educação. Quando entra nessa área,
inicia-se uma judicialização pela impotência do Estado de cumprir o seu
designo maior, que é o de atender a esses objetivos, diante da colaboração
do público em pagar os impostos.
Então, por exemplo, eu participei perplexo recentemente de um

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 55 de 73 590


RE 605533 / MG

debate sobre a judicialização da saúde. E comentei, na antessala, com o


Ministro Fachin, que a formação do juiz brasileiro é romano-germânica,
uma formação que se baseia na justiça e na moral. Então, os juízes dessa
família da Civil Law têm, acima de tudo, exacerbada a sua sensibilidade, o
seu senso de justiça; porque a justiça e a moral andam uma ao lado da
outra. Os países anglo-saxônicos, e outros países muito menores que o
Brasil, têm como fundamento a justiça e a razão; são pragmáticos.
Realmente, fiquei perplexo de como está se mitigando essas
conquistas no Estado Social, conquistas essas que vieram depois de uma
derrota do nazifascismo. Quer dizer, quando se coloca que "a
judicialização da saúde está dando problema", está dando problema
porque o Estado não cumpre seu dever de prestar saúde. Está escrito na
Constituição que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado.
Então, nesse evento, Ministro Toffoli, para nossa perplexidade, defendeu-
se, por meio de um experiente professor de Oxford - é muito boa a
doutrina dele para lá - e até de um componente do Poder Judiciário, que,
se um cidadão estiver à beira da morte, precisar utilizar uma máquina de
hemodiálise, e, se essa máquina puder atender a várias pessoas, inclusive
ele, mas se ela será muito utilizada por ele, que o juiz deveria deixá-lo ao
desabrigo e ir a óbito; porque aquela máquina pode ser usada mais tempo
por outras pessoas. E eu, evidentemente, com a minha formação, narrei
um quadro completamente diverso. A plateia era composta por médicos e
donos de planos de saúde; quer dizer, eu só não recebi vaias; mas tive
modestos aplausos. E só pude, digamos assim, animar um pouco a
plateia, fazendo algumas incursões na área da medicina - porque os
colegas brincam comigo que eu tenho o vezo da arte de medicar e de
exercer ilegalmente a medicina. Foi só assim que o público conseguiu
ficar um pouco mais espontâneo.
Mas a verdade é que o problema da judicialização da saúde é a falta
de adimplemento por parte do poder público, que promete, mas não
cumpre. Então, empurram para o Poder Judiciário a solução de um
problema que é de outra esfera: a Executiva.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Quisera eu entender

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 56 de 73 591


RE 605533 / MG

assim; mas, Presidente, não. Participei daquela audiência pública e vi que


o tema, em geral, é muito mais complexo. De fato, aqui, há questões as
mais diversas, e, para um problema complexo, como se diz, não há
solução simples.
Muitas vezes, a judicialização também ocasiona um mau serviço, ela
tumultua esse processo. Basta colocar uma liminar para que uma
Prefeitura pequena do interior, seja do Rio, do Mato Grosso, de São Paulo,
responda por um dado tratamento para um cidadão, para se ver como
isto vai repercutir sobre o serviço como um todo.
E, não adianta falar, em tese, no descumprimento do dever do
Estado em relação à saúde, porque, o Estado tem os recursos que nós lhe
propiciamos e tem esses limites. Então, a mim, parece-me que é
fundamental que esta questão volte ao Plenário e que seja bem analisada,
porque, do contrário, vamos continuar a, talvez, enxugar gelo, a propiciar
mais tumultos.
Não vamos fazer paraplégico andar pelo simples fato de que nós
determinamos que eles andem. A própria atuação do Ministério Público,
aqui, há de ser coordenada. Por isso que a professora Ada, nesse projeto,
que acho que teve a participação também do Ministro Herman Benjamin
e de outros estudiosos do tema, fazia uma abertura para uma
responsabilidade política do Judiciário em relação a controles de políticas
públicas, em que as decisões não seriam prescritivas, determinativas,
haveria esse tipo de abertura.
Porque, claro, gostemos ou não, há o limite do financeiramente
possível. Lembro-me que estive num seminário com o professor Ingo
Sarlet, em Princeton, já faz alguns anos, e, lá, tem um especialista,
brasileiro, João Biehl, que pesquisa a questão da saúde pública.
E ele disse, bem impressionado, muitas vezes, com o bom resultado
da judicialização. E citava um case, ocorrido na grande Porto Alegre, em
que a Defensoria Pública acompanhava a situação de doentes renais. Mas,
ele disse também, que há casos em que há esse fenômeno da cooptação.
De modo que, a mim, parece-me que a própria temática, aqui, a
propositura da ação: imaginemos que, em Minas Gerais, todos os

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 57 de 73 592


RE 605533 / MG

promotores, ou vários promotores intentassem ação semelhante. Como


que isso se coordena? Ou imaginemos que cada promotor intentasse uma
ação com um medicamento específico, dentre esses faltantes. Como que
se cumpre essa decisão? E em que o sistema vai melhorar?
São muitos os questionamentos. Há pouco tempo, ouvia o professor
David Uip e o professor Kalil falando sobre essas questões, muitas vezes,
essas ordens judiciais.
Portanto, o tema, realmente, demanda muita cautela. O fato de dizer
que o Ministério Público tem, per se, legitimidade para fazê-lo, não diz,
obviamente, que o mérito há de ser decidido favoravelmente, até porque
podemos ter aqui, e há exemplos, vários, de muito tumulto.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (PRESIDENTE):
Mas me permite, Ministro Gilmar Mendes?
Penso que muito já se avançou nessa coordenação, seja com a relação
direta do Ministério Público, ou mesmo a Defensoria Pública, com o
Poder Público, na área de saúde, seja com os conselhos nacionais. Tanto
no Conselho Nacional do Ministério Público como no Conselho Nacional
de Justiça - a Ministra Cármen Lúcia está ausente da Presidência, porque
está na outra Presidência, na Presidência da República, em substituição -
há um trabalho muito bem desenvolvido, que, salvo engano, é
coordenado, hoje, no CNJ, por um conselheiro oriundo do Ministério
Público paulista, o Dr. Hossepian.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Eu conheço,
Presidente, inclusive, na verdade, esse grupo de trabalho iniciou na
minha gestão, depois da STA citada. Mas esse tema exige coordenação.
O modelo que aqui está em discussão é um modelo que pode levar a
essa judicialização extrema.
Vamos imaginar que cada promotor público, em Minas Gerais,
escolha um dado medicamento e proponha uma ação semelhante a esta.
Vamos analisar o tamanho da repercussão. E o serviço vai melhorar,
diante da finitude dos recursos? Porque falar que se está a descumprir
um dever do Estado ajuda muito pouco no contexto da falta efetiva de
recursos. O que pode acontecer é uma alocação privilegiada de recursos

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 58 de 73 593


RE 605533 / MG

para aqueles grupos que venham a ser contemplados ou aquinhoados.


De modo que a mim, parece-me esse tema exige toda a cautela.
Vou acompanhar o Relator, no sentido de prover o recurso, para que
o tema seja discutido, mas, desde logo, considero que isto tem que passar
por um escrutínio severo por parte do Judiciário.
Eu me lembro que, inclusive na audiência pública a que me referi,
estava aqui o professor legenda da medicina brasileira, professor Jatene. E
ele dizia, por exemplo, que era de se esperar que o próprio Supremo
Tribunal Federal expedisse uma súmula para só permitir o
desenvolvimento da judicialização após a prova de que houve a negativa
por parte da Administração. E, claro, o professor Jatene é insuspeito -
todos nós sabemos - de ter qualquer má vontade com o desenvolvimento
de um bom sistema de saúde pública. Mas ele próprio se preocupava com
os tumultos que a judicialização causava, de forma desorganizada,
evidente, no sistema como um todo.
Pode-se dizer até mesmo que, talvez, a participação do Ministério
Público, em muitos casos, desde que organizada, seja benfazeja. Ministro
Alexandre já citou exemplos de modelos de organização e procedimento.
Mas não quero deixar de fazer essas considerações porque muito
provavelmente nós podemos também ter aqui distorções que levam, com
certeza, a comprometer até aqueles serviços mais ou menos organizados.
De modo que, com essas considerações, Presidente, acompanho o
Relator.

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 59 de 73 594

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhor Presidente, o


caso ora em exame evidencia, como assinalou a eminente Senhora
Procuradora-Geral da República em seus memoriais, questão prévia
concernente à legitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar ação
civil pública com o objetivo de compelir entes federados a fornecer
medicamentos a hipossuficientes portadores de certas doenças. E mais, o
tema submetido à análise desta Corte põe em destaque, por isso mesmo, o
altíssimo relevo jurídico-social – como já destacado no voto do eminente
Ministro-Relator e de outros eminentes juízes deste Tribunal –, que
assume, em nosso ordenamento positivo, o direito à saúde,
especialmente em face do mandamento inscrito no art. 196 da
Constituição da República, que assim dispõe:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,


garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.” (grifei)

Na realidade, o cumprimento do dever político-constitucional


consagrado no art. 196 da Lei Fundamental do Estado, consistente na
obrigação de assegurar, a todos, a proteção à saúde, representa fator, que,
associado a um imperativo de solidariedade social, impõe-se ao Poder
Público, qualquer que seja a dimensão institucional em que atue no plano de
nossa organização federativa.

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 60 de 73 595


RE 605533 / MG

O Poder Público, por isso mesmo, deve proporcionar aos cidadãos o


acesso à saúde por meio de atendimento médico adequado, mediante
internações hospitalares em unidades plenamente equipadas com recursos
humanos e recursos materiais, providenciando e viabilizando a realização
de exames e fornecendo medicamentos, pois todos eles são fatores
essenciais e constituem elementos indispensáveis à preservação da própria
dignidade da pessoa humana.

A impostergabilidade da efetivação desse preceito constitucional


deve ser sempre preservada por esta Corte, pois entre proteger a
inviolabilidade do direito à vida e à saúde – que se qualifica como
direito subjetivo inalienável a todos assegurado pela própria Constituição
da República (art. 5º, “caput”, e art. 196) – ou fazer prevalecer, contra essa
prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário do
Estado, entendo, uma vez configurado esse dilema, que razões de ordem
ético-jurídica impõem, ao julgador, uma só e possível opção: aquela que
privilegia o respeito indeclinável à vida e à saúde humanas.

Essa relação dilemática, que se instaura na presente causa, conduz


os Juízes deste Supremo Tribunal a proferir decisão que se projeta no
contexto das denominadas “escolhas trágicas” (GUIDO CALABRESI e PHILIP
BOBBITT, “Tragic Choices”, 1978, W. W. Norton & Company), que nada
mais exprimem senão o estado de tensão dialética entre a necessidade
estatal de tornar concretas e reais as ações e prestações de saúde em favor
das pessoas, de um lado, e as dificuldades governamentais de viabilizar a
alocação de recursos financeiros, sempre tão dramaticamente escassos,
de outro, como observou o eminente Ministro GILMAR MENDES.

Mas, Senhor Presidente, a missão institucional desta Suprema Corte,


como guardiã da superioridade da Constituição da República, impõe,
aos seus Juízes, o compromisso de fazer prevalecer os direitos
fundamentais da pessoa, dentre os quais avultam, por sua inegável
precedência, o direito à vida e o direito à saúde.

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 61 de 73 596


RE 605533 / MG

O direito público subjetivo à saúde, por isso mesmo, representa


prerrogativa jurídica indisponível, assegurada à generalidade das
pessoas pela própria Constituição da República. Traduz bem jurídico
constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de
maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular – e
implementar – políticas sociais e econômicas que visem a garantir, aos
cidadãos, o acesso universal e igualitário à assistência médico-hospitalar.

Por isso o sentido de fundamentalidade do direito à saúde


(CF, arts. 6º e 196) – que representa, no contexto da evolução histórica dos
direitos básicos da pessoa humana, uma das expressões mais relevantes
das liberdades reais ou concretas – impõe ao Poder Público um dever de
prestação positiva que somente se terá por cumprido, pelas instâncias
governamentais, quando estas adotarem providências destinadas a
promover, em plenitude, a satisfação efetiva da determinação ordenada
pelo texto constitucional.

Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos


direitos sociais – que traduz estágio necessário ao processo de sua
afirmação constitucional e que atua como pressuposto indispensável à
sua eficácia jurídica (JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Poder Constituinte e
Poder Popular”, p. 199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) –, recai, sobre o
Estado, inafastável vínculo institucional consistente em conferir real
efetividade a tais prerrogativas básicas, em ordem a permitir, às pessoas,
nos casos de injustificável inadimplemento da obrigação estatal, que
tenham elas acesso a um sistema organizado de garantias
instrumentalmente vinculadas à realização, por parte das entidades
governamentais, da tarefa que lhes impôs a própria Constituição.

Não basta, portanto, que o Estado meramente proclame o


reconhecimento formal de um direito. Torna-se essencial que, para
além da simples declaração constitucional desse direito, seja ele
integralmente respeitado e plenamente garantido, especialmente

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 62 de 73 597


RE 605533 / MG

naqueles casos em que o direito – como o direito à saúde – se qualifica


como prerrogativa jurídica de que decorre o poder do cidadão de
exigir, do Estado, a implementação de prestações positivas impostas
pelo próprio ordenamento constitucional.

Senhor Presidente, a discussão sobre a essencialidade do direito à


saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse, como prestações
de relevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), em ordem
a legitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário
naquelas hipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente, deixassem
de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe ,
arbitrariamente, a eficácia jurídico-social, seja por intolerável omissão,
seja por qualquer outra inaceitável modalidade de comportamento
governamental desviante.

Isso significa, portanto, que a legitimidade ativa “ad causam” do


Ministério Público para propor ação civil pública visando à defesa do
direito à saúde (AI 655.392/RS, Rel. Min. EROS GRAU – AI 662.339/RS,
Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 462.416/RS, Rel. Min. GILMAR
MENDES, v.g.) tem o beneplácito da jurisprudência constitucional desta
Suprema Corte:

“Agravo regimental no agravo de instrumento.


Constitucional. Legitimidade do Ministério Público. Ação civil
pública. Implementação de políticas públicas. Possibilidade.
Violação do princípio da separação dos poderes. Não
ocorrência. Reserva do possível. Invocação. Impossibilidade.
Precedentes.
1. Esta Corte já firmou a orientação de que o Ministério
Público detém legitimidade para requerer, em Juízo, a
implementação de políticas públicas por parte do Poder Executivo
de molde a assegurar a concretização de direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos garantidos pela Constituição Federal,
como é o caso do acesso à saúde.

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 63 de 73 598


RE 605533 / MG

2. O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode


determinar que a Administração pública adote medidas assecuratórias
de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais sem que
isso configure violação do princípio da separação de poderes.
3. A Administração não pode invocar a cláusula da
‘reserva do possível’ a fim de justificar a frustração de direitos
previstos na Constituição da República, voltados à garantia da
dignidade da pessoa humana, sob o fundamento de insuficiência
orçamentária.
4. Agravo regimental não provido.”
(AI 674.764-AgR/PI, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – grifei)

“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO A SAÚDE.


AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PROSSEGUIMENTO DE JULGAMENTO.
AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA NO PODER
DISCRICIONÁRIO DO PODER EXECUTIVO. ARTIGOS 2º,
6º E 196 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. O direito a saúde é prerrogativa constitucional
indisponível, garantido mediante a implementação de políticas
públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas
que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço.
2. É possível ao Poder Judiciário determinar a
implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas
públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência
em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo.
Precedentes.
3. Agravo regimental improvido.”
(AI 734.487-AgR/PR, Rel. Min. ELLEN GRACIE – grifei)

E observo, Senhor Presidente, que a atuação do Ministério Público em


defesa de direitos e interesses metaindividuais, e também de direitos e
interesses indisponíveis, viabilizada, instrumentalmente, por meio
processual adequado (a ação civil pública, no caso), que lhe permite
invocar a tutela jurisdicional do Estado com o objetivo de fazer com que

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RE 605533 / MG

os Poderes Públicos respeitem, em favor da cidadania, os serviços de


relevância pública (CF, art. 129, II), como se qualificam, constitucionalmente,
as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), legitima-se, plenamente, em
decorrência da condição institucional de “defensor do povo” que é
conferida ao “Parquet” pela própria Constituição da República.

Põe-se em destaque, nesse contexto, Senhor Presidente, uma das mais


significativas funções institucionais do Ministério Público, consistente no
reconhecimento de que lhe assiste a posição eminente de verdadeiro “defensor
do povo”, como assinala o ilustre membro do Ministério Público paulista
HUGO NIGRO MAZZILLI (“Regime Jurídico do Ministério Público”,
p. 224/227, item n. 24, “b”, 3ª ed., 1996, Saraiva, v.g.), incumbido de
impor, aos poderes públicos, o respeito efetivo aos direitos que a
Constituição da República assegura aos cidadãos em geral (CF, art. 129, II),
podendo, para tanto, promover as medidas necessárias ao adimplemento
de tais garantias, o que lhe permite valer-se das ações coletivas, como as
ações civis públicas, que representam poderoso instrumento processual
concretizador das prerrogativas fundamentais atribuídas, a qualquer
pessoa, pela Carta Política.

Tenho para mim, desse modo, que se revela inquestionável a


qualidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública
objetivando, em sede de processo coletivo – hipótese em que estará presente
“o interesse social, que legitima a intervenção e a ação em juízo do Ministério
Público (CF 127 ‘caput’ e CF 129 IX)” (NELSON NERY JUNIOR, “O
Ministério Público e as Ações Coletivas”, “in” Ação Civil Pública,
p. 366, coord. por Édis Milaré, 1995, RT – grifei) –, a defesa de direitos
impregnados de transindividualidade, porque revestidos de inegável
relevância social (RTJ 178/377-378 – RTJ 185/302, v.g.), como sucede com o
direito à saúde, que traduz prerrogativa jurídica de índole
eminentemente constitucional.

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É certo, ainda, Senhor Presidente, como observou Vossa Excelência


no AI 863.852-AgR/MG, de que foi Relator, que esta Corte Suprema “já
firmou a orientação de que o Ministério Público é parte legítima para
propor ação civil pública na defesa de direitos individuais indisponíveis de
pessoa individualmente considerada, como ocorre com o direito à saúde”
(grifei).

Daí a correta manifestação da eminente Senhora Procuradora-Geral


da República:

“Observa-se, portanto, que a Suprema Corte já trilha pelo


entendimento da possibilidade de se veicular interesses
individuais por meio de ação civil pública já trilha pelo entendimento
da possibilidade de se veicular interesses individuais por meio de ação
civil pública. O caso subjacente diz respeito à ação judicial que teve
por finalidade a entrega compulsória pelo Estado de Minas Gerais de
determinados medicamentos aos substituídos pelo Ministério Público,
ou seja, encontra-se, por conclusão, que o valor protegido na causa é a
saúde.
A saúde é um dos três pilares da seguridade social e o
único em que se encontra acesso irrestrito à respectiva prestação
por parte do Estado; tanto, que o art. 196 da Constituição explicita
que ‘a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação’.
Essas características, somadas à inviolabilidade do
direito à vida (art. 5º – ‘caput’ da CF), dão a nota da
essencialidade e evidencia o fato de que nem o Estado pode dispor da
vida de seus cidadãos, subtraindo-lhe tratamento ou meios de cura,
tornando, assim, um bem indisponível.
O próprio Supremo Tribunal Federal já revisitou a
temática inúmeras vezes e, invariavelmente, decidiu pelo

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reconhecimento do trinômio Ministério Público, ação civil pública e


direito à saúde:

‘Agravo regimental no agravo de instrumento.


Recurso extraordinário. Constitucional. Legitimidade do
Ministério Público. Ação civil pública. Direitos
individuais indisponíveis. Tratamento médico.
Precedentes. 1. O Supremo Tribunal Federal já firmou a
orientação de que o Ministério Público é parte legítima para
propor ação civil pública na defesa de direitos individuais
indisponíveis, de pessoa individualmente considerada, como
ocorre com o direito à saúde. 2. Agravo regimental não provido.
3. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC, pois não houve fixação
prévia de honorários advocatícios na causa. (AI 863.852-AgR,
Relator Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado
em 07/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-093
DIVULG 04-05-2017 PUBLIC 05- 05-2017) (...).’

‘AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. INTERESSES INDIVIDUAIS
INDISPONÍVEIS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. DIREITO À SAÚDE. DEVER DO ESTADO.
REALIZAÇÃO DE TRATAMENTO MÉDICO.
OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DOS ENTES DA
FEDERAÇÃO. SITUAÇÃO DE OMISSÃO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONCRETIZAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS PELO PODER JUDICIÁRIO.
POSSIBILIDADE. AGRAVO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. I – O acórdão recorrido está em harmonia
com a jurisprudência desta Corte firmada no sentido de que o
Ministério Público possui legitimidade para ingressar em juízo
com ação civil pública em defesa de interesses individuais
indisponíveis, como é o caso do direito à saúde. II – A
jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que é
solidária a obrigação dos entes da Federação em promover os

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atos indispensáveis à concretização do direito à saúde, tais como,


na hipótese em análise, a realização de tratamento médico por
paciente destituído de recursos materiais para arcar com o
próprio tratamento. Portanto, o usuário dos serviços de saúde,
no caso, possui direito de exigir de um, de alguns ou de todos os
entes esta – tais o cumprimento da referida obrigação. III – Em
relação aos limites orçamentários aos quais está vinculada a ora
recorrente, saliente-se que o Poder Público, ressalvada a
ocorrência de motivo objetivamente mensurável, não pode se
furtar à observância de seus encargos constitucionais. IV – Este
Tribunal entende que reconhecer a legitimidade do Poder
Judiciário para determinar a concretização de políticas públicas
constitucionalmente previstas, quando houver omissão da
administração pública, não configura violação do princípio da
separação dos poderes, haja vista não se tratar de ingerência
ilegítima de um poder na esfera de outro. V – Agravo regimental
a que se nega provimento.’ (RE 820.910-AgR, Relator Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado
em 26/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-171
DIVULG 03-09-2014 PUBLIC 04-09-2014) (...)

‘QUESTÃO DE ORDEM. MEDIDA CAUTELAR.


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
RECURSAL. REFERENDO DA TURMA. INCISOS IV E V
DO ART. 21 DO RI/STF. SAÚDE. DIREITO
FUNDAMENTAL DE DUPLA FACE (SOCIAL E
INDIVIDUAL INDISPONÍVEL). TEMA QUE SE INSERE
NO ÂMBITO DA LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
ESPERA PELO JULGAMENTO QUE PODE
ACARRETAR GRAVES PREJUÍZOS À SAÚDE DO
INTERESSADO. Decisão singular concessiva da antecipação
dos efeitos da tutela recursal. Constitucionalmente qualificada
como direito fundamental de dupla face (direito social e
individual indisponível), a saúde é tema que se insere no âmbito
de legitimação do Ministério Público para a propositura de ação

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em sua defesa. Espera pelo julgamento de mérito do recurso


extraordinário que pode acarretar graves prejuízos à saúde do
interessado. Presença dos pressupostos autorizadores da medida.
Questão de ordem que se resolve pelo referendo da decisão
concessiva da antecipação dos efeitos da tutela recursal.’
(AC 2836 MC-QO, Relator Min. AYRES BRITTO, Segunda
Turma, julgado em 27/03/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-124 DIVULG 25-06-2012 PUBLIC 26-
-06-2012 RDDP n. 114, 2012, p. 154-155) (...)

‘DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO A


SAÚDE. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO. IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PROSSEGUIMENTO DE JULGAMENTO. AUSÊNCIA
DE INGERÊNCIA NO PODER DISCRICIONÁRIO DO
PODER EXECUTIVO. ARTIGOS 2º, 6º E 196 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. O direito a saúde é
prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a
implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a
obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo
acesso a tal serviço. 2. É possível ao Poder Judiciário determinar
a implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas
públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência
em questão que envolve o poder discricionário do Poder
Executivo. Precedentes. 3. Agravo regimental improvido’.
(AI 734.487-AgR, Relatora Min. ELLEN GRACIE, Segunda
Turma, julgado em 03/08/2010, DJe-154 DIVULG 19-08-2010
PUBLIC 20-08-2010 EMENT VOL-02411- 06 PP-01220
RT v. 99, n. 902, 2010, p. 158-162) (…).” (grifei)

No caso, como observou o eminente Ministro MARCO AURÉLIO,


consta expressamente da petição inicial que a ação civil pública foi
promovida não apenas tendo em consideração um único destinatário,
mas uma coletividade subjetivamente indeterminada de pessoas naquela
comarca do Triângulo Mineiro. Portanto, deduziu-se, no caso, uma

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pretensão de perfil coletivo destinada a obter, sim, uma sentença genérica


a respeito de um tema tão extremamente sensível.

Há ainda, Senhor Presidente, outros precedentes nesse sentido que


reconhecem a plena legitimidade ativa do Ministério Público para
promover ações de perfil coletivo em situações como a destes autos.

Por isso, Senhor Presidente, eu acompanho integralmente o


doutíssimo voto do eminente Ministro MARCO AURÉLIO e, em
consequência, dou provimento ao presente recurso extraordinário
interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais para o fim
pretendido na postulação recursal.

É o meu voto.

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15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (PRESIDENTE):


Ministro Celso de Mello, a leitura do voto com que Vossa Excelência
me honra, em processo de minha relatoria, facilita meu voto. É minha
posição.
Então, também acompanho o Relator.

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Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 71 de 73 606

15/08/2018 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533 MINAS GERAIS

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) –


Presidente, observo a tese, a matéria, a questão, em relação à qual o
Supremo admitiu a repercussão geral. A controvérsia diz respeito a ação
que poderia enquadrar como coletiva, ou seja, a ação civil pública. Por
isso, proponho, como tese, o seguinte: “O Ministério Público é parte
legítima para ajuizamento de ação civil pública que vise o fornecimento
de remédios a portadores de certa doença.”

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Extrato de Ata - 15/08/2018

Inteiro Teor do Acórdão - Página 72 de 73 607

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 605.533


PROCED. : MINAS GERAIS
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
RECDO.(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
INTDO.(A/S) : ADRIANA AUXILIADORA REZENDE
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : DISTRITO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ACRE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ACRE
INTDO.(A/S) : ESTADO DE ALAGOAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE ALAGOAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAPÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO AMAZONAS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO AMAZONAS
INTDO.(A/S) : ESTADO DA BAHIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA BAHIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE GOIÁS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE GOIÁS
INTDO.(A/S) : ESTADO DO MARANHAO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO MARANHÃO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DA PARAÍBA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA PARAÍBA
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PARANÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARANÁ
INTDO.(A/S) : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO PIAUÍ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

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Extrato de Ata - 15/08/2018

Inteiro Teor do Acórdão - Página 73 de 73 608

PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE


INTDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RONDÔNIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SANTA CATARINA
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ESTADO DE SERGIPE
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SERGIPE
INTDO.(A/S) : ESTADO DO TOCANTINS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO TOCANTINS

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do


Relator, apreciando o tema 262 da repercussão geral, deu
provimento ao recurso extraordinário para que, suplantada a
ilegitimidade declarada pelo Tribunal de Justiça, este prossiga no
julgamento da apelação. Em seguida, o Tribunal fixou a seguinte
tese: “O Ministério Público é parte legítima para ajuizamento de
ação civil pública que vise o fornecimento de remédios a
portadores de certa doença”. Ausente, justificadamente, a Ministra
Cármen Lúcia (Presidente). Falaram: pelo recorrente, Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, o Dr. Antônio Sérgio Tonet;
pelo recorrido, Estado de Minas Gerais, e demais Estados
interessados, o Dr. Gianmarco Loures Ferreira; e, pela
Procuradoria-Geral da República, a Dra. Raquel Elias Ferreira
Dodge, Procuradora-Geral da República. Presidiu o julgamento o
Ministro Dias Toffoli (Vice-Presidente). Plenário, 15.8.2018.

Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli (Vice-Presidente).


Presentes à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco
Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Elias Ferreira


Dodge.

p/ Doralúcia das Neves Santos


Assessora-Chefe do Plenário

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