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Direito Penal - Parte Especial

PROF: ÉRICO PALAZZO

Aula 1 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio I

TÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

CAPÍTULO I
CRIMES CONTRA A VIDA

HOMICÍDIO SIMPLES

Art. 121. Matar alguém:


Pena – reclusão, de 6 a 20 anos.

● Verbo Núcleo: matar


● Elementar: alguém
● Todos os tipos penais serão formados por duas partes: preceito primário (descrição
da conduta, ou seja, matar alguém) e preceito secundário (sanção penal, sendo a
pena de reclusão)
● A conduta típica de matar alguém realizada por um indivíduo será enquadrada no
crime de homicídio SE a vida retirada for uma vida extra uterina e não se
enquadrar no crime de infaticídio
● Hipóteses específicas: matar alguém em estado terminal, um paciente idoso, ou um
bebê anencéfalo que já nasceu. Em todos os casos o agente responderá por
HOMICÍDIO.
● Matar um bebê anencéfalo que ja nasceu se enquandra no crime de Homicidio, e
não deve ser confundido com o aborto de feto anencéfalo.
● Pontos específicos sobre o crime de homicídio:
○ Sujeito Ativo (quem pratica): qualquer pessoa (crime comum)
○ Sujeito Passivo (quem sofre): qualquer pessoa
○ Elemento Subjetivo: Dolo (Direto - animus necandi, intenção de matar e
Eventual, assume o risco de matar) e Culpa (negligência, imperícia e
imprudência - art 121, § 3º)
○ Consumação: crime MATERIAL (produz resultado naturalístico, e
portanto é compatível com a tentativa) e INSTANTÂNEO de efeitos
permanentes (se consuma no momento em que a pessoa morre)
○ Competência:
■ homicídio doloso: TRIBUNAL DO JÚRI
■ homicídio culposo: JUÍZO COMUM
○ Tentativa: possível
■ Branca ou Incruenta (o objeto material do delito não é atingido
pela conduta do agente - a vítima não é atingida);
■ Vermelha ou Cruenta (o objeto material do delito é atingido pela
conduta do agente - a vítima é atingida)
● Homicídio Simples pode ser considerado Crime Hediondo? Para ser crime
hediondo deve estar listado na Lei 8.072/90 (Brasil adota o sistema legal, e portanto
é necessário q o crime esteja descrito na lei 8.072/90 para ser considerado
hediondo);
○ Em regra, homicídio simples não é hediondo! Mas na hipótese do Art 1º da
Lei 8.072/90 onde é realizado em atividade típica de grupo de extermínio
é HEDIONDO.
○ Lei n. 8.072/1990 (Lei dos crimes hediondos): Art. 1º São considerados hediondos
(...) I – Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII).

CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA (HOMICÍDIO PRIVILEGIADO)

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social(1) ou


moral(2), ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
da vítima(3), o juiz PODE (DEVE) reduzir a pena de 1/6 a 1/3 .
● Se restar configurado o homicídio privilegiado, o juiz obrigatoriamente deve
reduzir a pena, mas é dada a discricionariedade ao juiz sobre o quantum deve ser
reduzido
● Elementos que, isoladamente, ensejam a diminuição da pena:
○ Relevante valor social (refere-se à proteção ou ao interesse da coletividade -
Ex.: matar um estuprador que tem o hábito de estuprar mulheres da cidade);
ou
○ Relevante valor moral (defende-se um interesse particular - Ex.: matar o
estuprador da filha); ou
○ Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima
■ O agente deve estar em surto;
■ Logo em seguida (algo momentaneamente posterior à injusta
provocação) e;
■ Diante de injusta provocação da vítima (Tal provocação pode ou não
ser um crime).
● Possui caráter SUBJETIVO - não se comunica no concurso de pessoas
○ Exemplo: o pai quer matar o estuprador de sua filha (o pai está acobertado
sob o relevante valor moral). Ele procura um assassino de aluguel e o
contrata para matar o estuprador. Observa-se, nessa situação, que não foi o
pai quem matou o estuprador, mas sim o assassino de aluguel. O mandante
(pai) permanece acobertado pelo privilégio, mas o mesmo não
acontecerá com o executor (assassino), que se enquadrará no homicídio
qualificado mediante pago ou promessa de recompensa
● A Premeditação do Crime Afasta o Homicídio Privilegiado?
○ Em regra, não afasta (é incompatível com a terceira hipótese, mas pode
acontecer com as hipóteses de relevante valor social ou moral)
● Se a ação é praticada sob violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, mas o autor erra a execução, vindo a atingir e matar
uma terceira pessoa, responde pelo homicídio privilegiado, simples ou
qualificado?
○ O agente responde pelo HOMICÍDIO PRIVILEGIADO, devido ao Aberratio
Ictus - ERRO NA EXECUÇÃO: CP, Art. 73. – Quando, por acidente ou erro no uso
dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime
contra aquela (...)

Aula 2 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio II

● Homicídio privilegiado é crime hediondo? NÃO, pois não há previsibilidade na Lei de


Crimes Hediondos
● Homicídio Privilegiado-Qualificado (híbrido - quando há uma privilegiadora e uma
qualificadora (§2º)) é crime hediondo? NÃO, pois não há previsão que este crime
seja hediondo na lei 8.072/90
● É possível um homicídio ser privilegiado e qualificado simultaneamente?
○ 1º) corrente: NÃO, devido a teoria topográfica/geográfica dos dispositivos
legais, ou seja, não é possível o homicídio qualificado que está no § 2º ser
aplicado ao homicídio privilegiado que está no § 1º
○ 2º) corrente: SIM, mas Homicídio Privilegiado-Qualificado só pode
ocorrer se a qualificadora for de natureza objetiva (é comunicável no
concurso de pessoas) - PREVALECE

HOMICÍDIO QUALIFICADO
● Só haverá homicídio híbrido se houver privilegiadora + qualificadora objetiva
(em azul)

§ 2º Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
SUBJETIVA
● Mediante paga ou promessa de recompensa SÃO motivos torpes;
● São homicídios mercenários quando há pagamento ou recompensa - NÃO precisa
ser necessariamente dinheiro;
● Na hipótese de pagamento ou ganho de recompensa há concurso de pessoas
necessário;
● ”mediante paga ou promessa de recompensa” só se aplica somente ao
EXECUTOR
● EXECUTOR sempre responde por essa qualificadora, o MANDANTE irá depender
● STJ: Não obstante a paga ou a promessa de recompensa seja circunstância
acidental do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável
automaticamente a coautores do homicídio, não há óbice a que tal circunstância se
comunique entre o mandante e o executor do crime, caso o motivo que levou o
mandante a empreitar o óbito alheio seja torpe, desprezível ou repugnante. (REsp
1209852/PR, julgado em 15/12/2015, DJe 02/02/2016)
● VINGANÇA pode ou não ser torpe;
● CIÚMES não é motivo torpe, mas pode ser FÚTIL

II – por motivo fútil; SUBJETIVA


● O motivo deve ser conhecido para que esta qualificadora seja aplicada. HC
152.548/STJ, HC 107.090/STJ – Info 711/2013.
● A futilidade deve ser imediata - Exemplo 1: João vai até o bar do Arnaldo e toma
vários copos de pinga, até seu dinheiro acabar. Quando seu dinheiro acaba, ele
pede para Arnaldo vender um copo de pinga fiado. Arnaldo não vende fiado. João
fica chateado e mata Arnaldo, homicídio por motivo fútil e imediato. Exemplo 2:
João quer beber pinga fiado e fala com Arnaldo, mas Arnaldo não aceita fiado. João
fica chateado, desfere um soco em Arnaldo, Arnaldo desfere um soco em João, os
dois começam a brigar, em determinado momento, João pega uma faca e mata
Arnaldo. No primeiro exemplo, a futilidade gerou um homicídio de maneira
imediata. No segundo exemplo, a futilidade gerou um homicídio de maneira
mediata, porque não foi pelo fato do Arnaldo ter negado a venda fiado que
João o matou. O que ocorreu é que eles acabaram brigando e, diante dessa
briga, João matou Arnaldo. No segundo exemplo, trata-se de uma futilidade
mediata, não se aplica a qualificadora do motivo fútil.
● Motivo fútil vs. dolo eventual - atualmente, entende-se que é perfeitamente
compatível a ocorrência de um homicídio com dolo eventual e que seja qualificado
por motivo fútil:
○ Não há incompatibilidade na coexistência da qualificadora do motivo fútil com
o dolo eventual em caso de homicídio causado após pequeno
desentendimento entre agressor e agredido. Precedentes do STJ e STF.
Com efeito, o fato de o recorrido ter, ao agredir violentamente a vítima,
assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do
dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por
motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se
confunde com o motivo que ensejou a conduta. (...) (REsp 1601276/RJ,
julgado em 13/06/2017)
○ A jurisprudência desta Corte Superior entende não ser incompatível a
qualificadora do motivo fútil com o dolo eventual, pois o dolo do agente,
direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta
capaz de colocar em risco a vida da vítima. (REsp 1779570/RS, julgado em
13/08/2019)

III – com emprego de veneno (venefício), fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; TODOS SÃO DE
NATUREZA OBJETIVA
● EMPREGO DE VENENO pode ser algo que faça mal a todos (Ex.: chumbinho), bem
como a uma única pessoa (Ex.: uso de algo que a pessoa seja alérgica)
● ASFIXIA pode ser tóxica ou mecânica
● TORTURA é empregar um meio que cause muito mais dor do que o necessário para
alcancar o objetivo morte. HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE
TORTURA x TORTURA QUALIFICADA PELA MORTE (preterdoloso) - a diferença
se dará pelo dolo do agente
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; TRAIÇÃO É SUBJETIVA, O
RESTANTE É OBJETIVA
● TRAIÇÃO é a única qualificadora deste inciso que é SUBJETIVA!
● TRAIÇÃO é crime próprio, ou seja é necessário a qualidade de deposição de
confiança da vítima no agente, portanto só pode ser cometido por quem tem a
confiança da vítima
● MEDIANTE DISSIMULAÇÃO - “crime do tinder”

V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro


crime; SUBJETIVA
● Esta qualificadora é chamada de qualificadora de conexão - pratico um crime para
assegurar a execução de outro crime
● Assegurar execução - conexão teleológica (finalidade) - ocorre antes da prática de
outro crime
● EM LATROCÍNIO NÃO CABE ESSA QUALIFICADORA, devido ao princípio da
especialidade, existe um crime que configura especificamente tal conduta

Aula 3 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio III

HOMICÍDIO QUALIFICADO - FEMINICÍDIO

VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (Incluído pela Lei n.
13.104, de 2015); NATUREZA OBJETIVA
● Hoje, entende-se que o feminicídio não se aplica aos transgêneros, transsexuais e
travestis (???)
● O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, até mesmo mulheres (crime comum)

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime


envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
● O que é considerado violência doméstica e familiar está na Lei 11.340/06 -LEI
MARIA DA PENHA (11.340/06), Art. 5º
○ Âmbito da unidade doméstica (convívio permanente de pessoas)
○ Âmbito da família (laços naturais, afinidade ou vontade expressa)
○ Relação íntima de afeto (convívio, independentemente de coabitação)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)
● Este inciso traz uma ampliação das hipóteses trazidas pela Lei Maria da Penha para
o crime de Feminicídio

CAUSA DE AUMENTO DE PENA PARA O FEMINICÍDIO

§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for praticado:


(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
● Este parágrafo traz hipóteses de aumento de pena apenas para o crime de
feminicídio
I - durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante
ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
(Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II
e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº
13.771, de 2018)
● O SUBLINHADO NESTE PARÁGRAFO E SEUS INCISOS INDICA O QUE FOI
ACRESCENTADO/ALTERADO PELA LEI CORRESPONDENTE
● O PARÁGRAFO 7º É MUITO IMPORTANTE
● Caracteriza bis in idem o reconhecimento da qualificadora do motivo torpe e
do feminicídio? PODE! Pois motivo torpe é uma qualificadora subjetiva e o
feminicídio é uma qualificadora objetiva
○ Informativo n. 625 do STJ – não caracteriza bis in idem o motivo torpe e a
qualificadora feminicídio no homicídio praticado contra mulher em situação
de violência doméstica

HOMICÍDIO QUALIFICADO (conti. do Art. 121, §2º (...))

HOMICÍDIO FUNCIONAL

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei
n. 13.142, de 2015) SUBJETIVA
● Matar alguma autoridade ou agente de segurança no exercício de sua função ou
devido a ela.
● Ex-policiais ou policiais aposentados estão protegidos por esta qualificadora
● Filhos adotivos e parentes por afinidade (sogra(o), cunhada(o) e etc) ficam de fora
dessa hipótese
○ O Direito Penal não admite analogia in malam partem, não admite analogia
para prejudicar o réu e se o tipo penal determina expressamente que
somente alcançará o parente consanguíneo até 3º grau, o filho adotivo não é
parente consanguíneo e não pode ser aplicada analogia in malam partem no
Direito Penal

Aula 4 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio IV

VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) OBJETIVA
● Este dispositivo é uma norma penal em branco, visto que exige um complemento,
uma explicação sobre o que é considerado uma arma de fogo de uso restrito e
proibido, que se dá por meio de decreto do Presidente da República
● Pergunta: alguém que pratica um homicídio qualificado pelo uso de arma de fogo de
uso restrito também pode ser responsabilizado pelo crime de porte de arma de fogo
de uso restrito? DEPENDE do caso concreto. Se o agente se utilizar da arma de
fogo de uso restrito apenas para praticar o homicídio, não haverá o concurso de
crimes. Já se o sujeito pratica o homicídio, mas é possível provar que em outros
contextos, ele portava essa arma de fogo de uso restrito, a ele também poderá ser
imputado o crime do art. 16 do Estatuto do Desarmamento

HOMICÍDIO CONTRA MENORES DE 14 ANOS (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)

IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)

Pena – reclusão, de 12 a 30 anos.

NATUREZA OBJETIVA - pode ocorrer concurso de pessoas


NATUREZA SUBJETIVA - não pode ocorrer concurso de pessoas

● TODOS OS HOMICÍDIOS QUALIFICADOS SÃO HEDIONDOS


Lei n. 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos) Art. 1º São considerados hediondos os seguintes
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,
consumados ou tentados: I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II,
III, IV, V, VI, VII, VIII e IX); (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)

§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:


(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
I - 1/3 até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique
o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer
outro título tiver autoridade sobre ela.

Aula 5 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio V

● CUIDADO:
○ Homicídio de familiar (parricídio, matricídio e filicídio)
■ Não qualifica, por si só, o homicídio
■ Trata-se de uma agravante genérica do art. 61, II, e, CP (contra
descendente, ascendente, irmão ou cônjuge
○ Homicídio premeditado
■ Não qualifica, por si só, o homicídio
■ Pode funcionar como circunstância judicial para a dosimetria da pena
(1ª fase)

HOMICÍDIO CULPOSO

§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
● Devido a pena mínima ser menor/igual do que 1 ano, a Lei 9099/95 prevê
suspensão condicional do processo
● É um crime de médio potencial ofensivo
● Pode se dar por três fatores
○ Negligência (culpa negativa): inobservância do dever de cuidado por parte
do agente.
○ Imprudência (culpa positiva): Excesso de confiança, sem assumir o risco
do resultado (por isso, não confundir com o dolo eventual em que se assume
tal risco)).
○ Imperícia (culpa profissional): Falta de aptidão técnica, geralmente
relacionada a profissão do agente
● Crimes culposos não admitem a tentativa (Exceto a culpa imprópria, Art. 20, §1º,
CP)
● Crimes Preterdolosos (dolo na conduta e culpa no consequente. Ex.: Lesão
corporal com resultado morte) não admitem a tentativa
○ Isso porque, existe a hipótese específica da modalidade preterdolosa no CP

AUMENTO DE PENA (HOMICÍDIO CIRCUNSTANCIADO)

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta


de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato,
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
● HOMICIDIO DOLOSO CIRCUNSTANCIADO
○ Exemplo: a ação ocorre quando a vítima possui 13 anos de idade, mas
morre apenas após completar 14 anos, a causa de aumento de pena descrita
no parágrafo 4º é aplicada? SIM, deve-se levar em consideração o
momento da ação. Além disso, o autor precisa saber que a vítima possui
menos de 14 anos. E se a ação ocorrer com uma vítima de 59 anos que
morre após completar 60 anos? NÃO será aplicada, devido ao mesmo fato
do exemplo anterior (Teoria da Atividade)
● HOMICÍDIO CULPOSO CIRCUNSTANCIADO
○ 1) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício
■ É diferente da imperícia, aqui é uma falta de observância de alguma
norma técnica, ou seja, isto é uma NEGLIGÊNCIA
○ 2) Agente que deixa de prestar socorro imediato à vítima
■ Não se aplica ao homicídio culposo na direção de veículo automotor
(Atualmente existe um dispositivo específico para essa hipótese no
Código de Trânsito Brasileiro, CTB, Art. 302, §1º)
■ Não se aplica se era impossível ao agente prestar socorro
■ Não se aplica se a morte for evidentemente (notoriamente)
instantânea
○ 3) Não procurar diminuir as consequências do seu ato
■ Quando possível
○ 4) Foge para evitar prisão em flagrante
■ *Alguns doutrinadores entendem que essa causa de aumento de
pena é inconstitucional, uma vez que o agente não pode ser obrigado
a se entregar à polícia.

PERDÃO JUDICIAL

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz PODERÁ deixar de aplicar a pena, se


as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária.
● Exemplo: Mãe que mata o filho de forma acidental, o Juiz pode entender que a
morte do filho já é uma punição suficiente
● Só é possível em Homicídio Culposo
● Natureza Jurídica: Causa extintiva da punibilidade (Art. 107, IX, CP e Súmula 18,
STJ)
● Deve haver análise do caso concreto
● Cabível Perdão Judicial no homicídio culposo na direção de veículo automotor

MAIS UMA HIPÓTESE DE AUMENTO DE PENA

§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.
● Milícia privada = Agentes de segurança que “tomam conta” de determinada região
prometendo segurança a população cobrando e extorquindo essa população
● É crime hediondo, se cometido por grupo de extermínio
Aula 6 - Crimes Contra a Pessoa - Homicídio VI

1) (CESPE - 2010 - MPE-SE - Promotor de Justiça) Assinale a opção correta acerca do


homicídio privilegiado.
a) A natureza jurídica do instituto é de circunstância atenuante especial. (causa de
diminuição de pena)
b) Estando o agente em uma das situações que ensejem o reconhecimento do homicídio
privilegiado, o juiz é obrigado a reduzir a pena, mas a lei não determina o patamar de
redução. (⅙ a ⅓ )
c) O relevante valor social não enseja o reconhecimento do homicídio privilegiado.
d) A presença de qualificadoras impede o reconhecimento do homicídio privilegiado.
(híbrido - qualificadora objetiva + privilegiadora subjetiva)
e) A violenta emoção, para ensejar o privilégio, deve ser dominante da conduta do agente e
ocorrer logo após injusta provocação da vítima.

2) (CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário) Acerca dos crimes previstos na parte
especial do Código Penal, julgue o item a seguir.
De acordo com a doutrina e a jurisprudência dominantes, o chamado homicídio
privilegiado-qualificado, caracterizado pela coexistência de circunstâncias privilegiadoras,
de natureza subjetiva, com qualificadoras, de natureza objetiva, não é considerado crime
hediondo. (A privilegiadora afasta a hediondez)

3) (FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia) Juca, transtornado, após ter flagrado seu
pai praticando violência sexual com sua irmã de apenas 05 anos de idade, que vem a
falecer em razão da violência praticada, desfere uma facada contra a cabeça do seu genitor
que também vem a falecer. Após desferir o golpe contra seu pai, e certificar-se da morte
deste, Juca foge levando o relógio que a vítima usava na ocasião. O agressor sexual era
solteiro e possuía somente estes dois filhos. Mais tarde, com a prisão de Juca, o fato foi
levado ao conhecimento da autoridade policial. Com base no exposto, assinale a alternativa
que apresenta a tipificação correta.
a) Juca deverá responder por homicídio qualificado por meio cruel (Art. 121, § 2º, III, do CP)
e por furto simples (Art. 155, do CP). (Não responde por furto/roubo, pois no caso em
específico, Juca é o único herdeiro e facada não é considerado meio cruel)
b) Juca deverá responder por homicídio privilegiado (Art. 121, § 1º, do CP) e por furto
simples (Art. 155, do CP).(Não responde por furto/roubo, pois no caso em específico, Juca é
o único herdeiro)
c) Juca não deverá responder por qualquer crime por ter agido escorado pela excludente de
ilicitude da legítima defesa de terceiro. (a questão não deixa claro se a situação foi uma
ameaça atual ou iminente, a violência sexual parece se tratar de uma agressão pretérita)
d) Juca deverá responder por homicídio privilegiado (Art. 121, § 1º, do CP). (Relevante valor
moral)
e) Juca deverá responder por homicídio privilegiado (Art. 121, § 1º, do CP) e por roubo
simples (Art. 157, do CP).(Não responde por furto/roubo, pois no caso em específico, Juca é
o único herdeiro)

4) (FUMARC - 2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A policial Michele Putin, na noite
de 14 de março de 2018, quando retornava para sua casa, após liderar uma exitosa
operação contra o tráfico de entorpecentes na comunidade de “Miracema do Norte”, foi
abordada por dois homens armados e friamente assassinada. Num fenomenal trabalho
investigatório, a Polícia Civil logrou êxito em identificar os assassinos como sendo os irmãos
Jorge e Ernesto Petralha, apurando que tal homicídio se deu em represália pelas prisões
ocorridas quando da citada operação policial. Diante desse quadro, podemos asseverar que
os assassinos responderão por:
a) Feminicídio, conduta tipificada no art. 121, § 2° , VI CP.
b) Homicídio funcional, conduta tipificada no art. 121, § 2° , VII CP.
c) Homicídio qualificado por motivo fútil, conduta tipificada no art. 121, § 2° , II CP.
d) Homicídio qualificado por motivo torpe, conduta tipificada no art. 121, § 2° , II CP.

5) (UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia) De acordo com o Código Penal, há


homicídio qualificado quando for cometido
a) por grupo de extermínio. (não é qualificadora, mas é um caso de aumento de pena)
b) para assegurar a impunidade de outro crime.
c) estando o ofendido sob a imediata proteção da autoridade.
d) contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. (causa de aumento de
pena)
e) por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança. (causa de
aumento de pena)

6) (CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto)


O crime de homicídio admite interpretação analógica no que diz respeito à qualificadora que
indica meios e modos de execução desse crime. (Não há como prever todas as
possibilidades de motivos torpes, por exemplo)

7) (VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito) O feminicídio (CP, art. 121, § 2 o , VI):
a) está ausente do rol dos crimes hediondos (Lei n o 8.072/90). (TODOS OS HOMICÍDIOS
QUALIFICADOS SÃO CRIMES HEDIONDOS)
b) demanda, para seu reconhecimento, obrigatória relação doméstica ou familiar entre
agressor e vítima.
c) é o homicídio qualificado por condições do sexo feminino.
d) foi introduzido em nosso ordenamento pela Lei Maria da Penha (Lei n o 11.340/06).
e) admite a modalidade preterdolosa.

8) (CESPE - 2018 - DPE-PE - Defensor Público)


A pena do feminicídio poderá ser aumentada se o crime for praticado durante a gestação ou
nos seis meses posteriores ao parto. (3 meses)

9) (FCC - 2010 - TRE-AC - Analista Judiciário - Área Judiciária) Considere as hipóteses:


I. O agente deixa de prestar imediato socorro à vítima.
II. O delito é resultado da inobservância de regra técnica de profissão.
III. O crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos. (aumenta só
no crime de homicídio doloso)
IV. O agente foge para evitar prisão em flagrante.
V. O agente encontrava-se em estado de embriaguez preordenada. (agravante e não causa
de aumento de pena)
De acordo com o Código Penal brasileiro, é majorado o homicídio culposo nas hipóteses:
a) I, II e III. b) I, II e IV. c) I, II e V. d) II, III e V. e) III e IV.

10) (FGV - 2018 - AL-RO – Advogado) Após intenso debate político repleto de ofensas,
Ana, 40 anos, e Maria, 30 anos, iniciam uma longa discussão. Ana, revoltada com o
comportamento agressivo de Maria, arremessa uma faca em direção a esta com a intenção
de causar sua morte, mas a arma branca acaba por atingir Joana, criança de 13 anos, que
passava pela localidade, sendo o golpe de faca no coração a causa eficiente de sua morte.
Descobertos os fatos pelo Ministério Público, considerando apenas as informações
narradas, é correto afirmar que Ana deverá ser responsabilizada pelo crime de homicídio
a) doloso consumado sem a causa de aumento da idade da vítima, em razão do erro de
execução.
b) culposo consumado, em razão do erro sobre a pessoa.
c) culposo consumado, em razão do erro de execução.
d) doloso consumado sem causa de aumento da idade da vítima, em razão do erro de
pessoa.
e) consumado com a causa de aumento da idade da vítima, em razão do erro sobre a
pessoa

Aula 7 - Crimes Contra a Pessoa - Art. 122 - Participação em Suicidio ou


Automutilação

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A AUTOMUTILAÇÃO

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou


prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de
2019)
Pena – reclusão, de 6 meses a 2 anos.
● Menor potencial ofensivo
● Verbos: induzir e instigar (participação moral) e prestar auxílio (participação
material)
● Elementares: Suicídio e automutilação
● O induzimento, a instigação e a prestação de auxílio para automutilação é uma
novatio legis dada pela lei 13.968/19, ou seja, é um novo delito previsto no código
penal
● Apenas condutas voltadas a automutilação cometidas após 26/12/2019 podem ser
punidas (novatio legis in pejus)
● É necessário lembrar que o suicídio e a tentativa de suicídio NÃO são crimes,
devido ao principio da alteridade da lei penal brasileira
● A Participação Material deve ser um:
○ Auxílio Secundário; e
○ Auxílio Eficaz
● Tipo Misto Alternativo: Se no mesmo contexto fático, um agente comete dois
verbos núcleos ele responderá apenas por UM CRIME
● De acordo com a doutrina, essas condutas do Art. 122 devem ser cometidas contra
pessoas determinadas, e não de forma generalizada. Ex.: Um lunático que grita em
praça pública que todos devem cometer suicídio ou automutilção e, de fato, algumas
pessoas acatam, esse lunático não responde pelo Art. 122.
● A conduta do caput é Crime Formal, ou seja, não se condiciona ao resultado
naturalístico
● Cabe a Tentativa? SIM, desde que o meio empregado não seja unissubsistente
● Só existe na modalidade Dolosa

QUALIFICADORAS:

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de


natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
● Médio Potencial Ofensivo
● Se houver apenas lesões corporais leves? A conduta se enquadra no caput

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte


Pena - reclusão, de 2 a 6 anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
● Alto Potencial Ofensivo

AUMENTO DE PENA

§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.
● Vítimas com depressão, menores de idade entre 14 a 17 anos (devido ao § 6º)

§ 4º A pena é aumentada até o DOBRO se a conduta é realizada por meio da rede de


computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.

§ 5º Aumenta-se a pena em METADE se o agente é líder ou coordenador de grupo ou


de rede virtual.
● Os §§ 4º e 5º foram incluídos para inibir a prática de desafios semelhantes aos do
Blue Whale

§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza


gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
● A lei brasileira entende o menor de 14 anos como vulnerável e os crimes cometidos
contra ele, geralmente, são mais graves.
● Nessa situação descrita, o agente responde pelo crime de Lesão Corporal
Gravíssima
● E lesão corporal de natureza grave? Entende-se que o agente responde apenas
pelo Art. 122, § 1º
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
● Nessa situação descrita, o agente responde pelo crime de Homicídio
● Roleta Russa, Duelo Americano e Baleia Azul
○ Roleta Russa e Duelo Americano: Os demais participantes respondem pelo
artigo 122
○ Baleia Azul: Administradores, responsáveis e demais participantes também
respondem pelo artigo 122

Aula 8 - Crimes Contra a Pessoa - Art. 123 - Infanticídio

INFANTICÍDIO

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto
ou logo após:
Pena - detenção, de 2 a 6 anos.
● Verbo: matar
● Elementares: sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após
● Pode ser considerado uma forma de Homicídio Privilegiado
● Estado Puerperal: Efeitos psíquicos causados em mulheres devido a gravidez e ao
parto
○ Haverá, inclusive, uma presunção que a mulher está em estado puerperal e
portanto, em regra, não há necessidade de Laudo Psiquiátrico para
comprovar o Estado Puerperal
● Crime Próprio, em regra, só pode ser praticado por mulheres mães
● “logo após": não há definição legal para saber qual a duração do estado puerperal,
é feito uma análise casuística
● Cabe a modalidade culposa? NÃO!
● O art. 61 do CP trás Circunstâncias Agravantes:
○ Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime: (...) II - ter o agente cometido o crime: (...) e)
contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; (...) h) contra criança,
maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
○ A mãe que pratica Infanticídio NÃO responde por essas agravantes
● Por qual crime responde a mãe que, logo após o parto, sob o estado puerperal,
e com a intenção de matar o próprio filho, mata outra criança pensando ser
seu filho?
○ Erro sobre a pessoa: Art. 20, § 3º, CP - O erro quanto à pessoa contra a
qual o crime é praticado não é isento de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.
○ Portanto, ela ainda será responsabilizada pelo crime de infanticídio
● Por qual crime responde o agente que participa do infanticídio, mas que não
se encontra sob o efeito do estado puerperal?
○ Ex.: Uma mãe sob o efeito do estado puerperal recebe auxílio de um terceiro
para matar seu próprio filho. Por qual crime os dois agentes respondem?
■ Existe uma hipótese de Concurso de pessoas
Art. 30, CP - Não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do
crime
○ O estado puerperal é uma circunstância pessoal da mãe, MAS é uma
elementar e, portanto, deve se comunicar com o terceiro. Dessa forma, a
mãe e o terceiro (como partícipe) respondem por Infanticídio
● Por qual crime responde o agente que contribui para o infanticídio?
○ 1º Situação) Mãe pratica os atos executórios auxiliado por terceiro
■ Ambos respondem pelo art. 123, a mãe como autora e o terceiro
como partícipe
○ 2ª Situação) Mãe e terceiro praticam os atos executórios conjuntamente
■ Ambos respondem pelo art. 123, a mãe como autora e o terceiro
como coautor
○ 3ª Situação) Terceiro pratica atos executórios auxiliado pela mãe
■ A mãe responde pelo art. 123 como partícipe e;
● 1º corrente) o terceiro responde por homicídio
● 2º corrente) o terceiro também responde pelo art. 123, mas
como autor

Aula 9 - Crimes Contra a Pessoa - Art. 124 a 128 - Aborto

ABORTO:
● Objeto Jurídico protegido: Vida
● Objeto Material: Feto (e no art. 125 a Integridade Física e Psíquica da Gestante)
● Termo inicial da gravidez: Fecundação (Pílulas do dia seguinte ou outros métodos
contraceptivos que atuam após a fecundação são Exercícios Regulares de Direito -
a lei permite)
● É possível o aborto culposo? Não existe a possibilidade de aborto culposo, pois
não há previsão legal
● É possível a prática do crime de aborto por omissão (art. 13, § 2º, CP - Omissão
imprópria)? Sim, é possível!

ABORTO PRATICADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma (autoaborto) ou consentir que outrem lho
provoque (consentimento para o aborto):
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
● As duas condutas descritas são crimes de Mão-Própria, ou seja, não há
possibilidade de delegação (não há coautoria) da conduta, pois provocar aborto em
si ou consentir só pode ser realizado pela gestante
● Autoaborto - Não há possibilidade de coautoria, mas permite que haja a
possibilidade de existir o participe
● Consentimento para o aborto - É uma Excessão pluralística (um médico que
provoca o aborto de uma gestante responde pelo art. 126 e a gestante pelo art. 124)
● Crime de médio potencial ofensivo

ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO


Art. 125 - Provocar aborto, SEM o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 a 10 anos.
● Alto potencial Ofensivo
● Dupla subjetividade passiva: dois sujeito passivos, o feto e a gestante

Art. 126 - Provocar aborto COM o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de
quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência.
● Exceção pluralística
● Médio potencial ofensivo
● O Parágrafo Único deixa claro que o consentimento deve ser VÁLIDO, se a gestante
for menor de 14 anos, for alienada ou débil mental ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência considera-se que houve um aborto
SEM O CONSENTIMENTO da gestante

FORMA QUALIFICADA (NA REALIDADE É UMA CAUSA DE AUMENTO DE PENA)

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores (art 125 e 126) são
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave (sentido ampo:
grave ou gravissíma); e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém
a morte
● Não pode ser aplicado para a gestante que visava (art. 126) ou não (art. 125) o
aborto
● São hipóteses Preterdolosas
● O aborto não precisa ser consumado

CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE PARA O CRIME DE ABORTO

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por MÉDICO:


● Causas Especiais de Exclusão de Ilicitude
● Obrigatoriamente, em regra, deve ser realizado por médico. Não pode a gestante ir a
uma clínica clandestina de aborto e depois alegar que havia risco de vida a sua vida

ABORTO NECESSÁRIO (OU TERAPÊUTICO)

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;


● Requisitos:
○ Vida da gestante em risco (risco atual ou futuro)
○ Não há outro meio de salvá-la, se for apenas um risco a saúde, não pode
abortar

ABORTO NO CASO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO (OU HUMANITÁRIO,


OU SENTIMENTAL OU ÉTICO)
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
● Depende de manifestação de vontade da vítima ou do representante legal
● Requisitos:
○ A gravidez deve ser oriunda de Estupro
○ Consentimento VÁLIDO
● Não exige autorização judicial, e nem condenação do autor.

OUTRAS HIPÓTESE DE ABORTO LEGAL


● 3ª) Interrupção da gravidez de feto anencéfalo (anencefalia)
○ Na ADPF 54/DF, o STF decidiu que a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo é conduta atípica. Fundamentos:
■ 1) De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o anencéfalo é
um natimorto cerebral, portanto é um feto inviável. Nesse
entendimento, o anencéfalo não possui vida humana – perspectiva do
feto.
■ 2) Dignidade da pessoa humana – perspectiva da gestante
● *4ª) Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação
○ No HC 124306, a 1ª Turma do STF decidiu por uma quarta exceção: a
interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação (julgado em
29/11/2016. Info 849). Houve manifestação por maioria nesse sentido
○ CUIDADO! Ainda não é pacifico esse entendimento!

OBSERVAÇÕES JURISPRUDENCIAIS
● Homicídio de mulher visivelmente grávida ou que o agente tem conhecimento
da gravidez
○ Concurso formal impróprio (imperfeito) entre homicídio (art. 121, CP) e aborto
provocado por terceiro (art. 125, CP)
○ HC 191.490-RJ, julgado em 27/09/2012
● Aborto de gêmeos ou trigêmeos
○ A doutrina entende que haverá dois ou três crimes de aborto em concurso
formal impróprio (imperfeito), desde que a(o) agente tenha conhecimento
dessa condição.

HIPÓTESES PROIBIDAS DE ABORTO - GERAM RESPONSABILIZAÇÃO PENAL


● Aborto eugênico: aborto cometido em razão de uma má formação do feto.
● Aborto miserável, econômico, ou social: aborto praticado pela agente que não
vislumbra possuir condições financeiras adequadas para criar um filho.
● Aborto honoris causae: aborto para esconder a gravidez originária de uma relação
extramatrimonial.

PROCESSOS QUE SERÃO JULGADOS EM BREVE PELO STF:


● ADI 5581/DF – pugna pela permissão para abortar feto vítima de microcefalia
(deficiência na caixa craniana)
● ADPF 442/DF – pugna pela não punição do aborto praticado pela gestante até a 12ª
semana de gestação
Aula 10 - Crimes Contra a Pessoa - Exercícios - Art. 122 a 128

1) (CESPE - 2015 - STJ - Analista Judiciário – Administrativa) Situação hipotética: Telma,


sabendo que sua genitora, Júlia, apresentava sérios problemas mentais, que retiravam
dela a capacidade de discernimento, e com o intuito de receber a herança decorrente de
sua morte, induziu-a a cometer suicídio. Em decorrência da conduta de sua filha, Júlia
cortou os próprios pulsos, mas, apesar das lesões corporais graves sofridas, ela não
faleceu.
Assertiva: Nessa situação, Telma cometeu o crime de induzimento, instigação ou auxílio a
suicídio, na forma consumada. (Apesar de Telma ser uma pessoa sem discernimento, não
podemos aplicar os §§ 6º e 7º do art. 122 devido ao fato de que não houve o resultado de
lesão corporal gravíssima e nem de morte. Portanto devemos aplicar o art. 122, §1º com a
pena duplicada por motivo egoístico (§3º). Além disso o crime do art. 122 é formal e
independe de resultado naturalístico para se consumar) (ESPERANDO A RESPOSTA NO
FÓRUM DE DÚVIDAS)

2) (CESPE - 2014 - Câmara dos Deputados - Consultor Legislativo)


Se um fanático religioso conclamar, em TV aberta, que todos os espectadores cometam
suicídio para salvar-se do juízo final, e se, estimuladas pelo entusiasmo do orador, várias
pessoas cometerem suicídio, ter-se-á, nessa hipótese, a tipificação da prática, pelo fanático
orador, do crime de induzimento ou instigação ao suicídio. (É necessário que esse
induzimento seja determinada a uma pessoa, não pode ser generalizado)

3) (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Valinhos - SP - Guarda Civil Municipal – SSPC) Aristeu


tem 17 anos de idade e revela a seu irmão, Cícero, maior de idade, que pretende cometer
suicídio. Ao ouvir essa confissão, Cícero presta auxílio a seu irmão para que este tire a sua
própria vida. No entanto, Aristeu tenta cometer o suicídio, mas este não se consuma, vindo
apenas a sofrer lesão de natureza grave. Conforme dispõe o Código Penal Brasileiro, nessa
hipótese, é correto afirmar que Aristeu
a) responderá pelo crime de autolesão, e Cícero responderá pelo crime de lesão corporal,
sem agravante.
b) responderá pelo crime de suicídio na sua forma tentada, e Cícero pela tentativa de
homicídio, com aumento de pena por ser a vítima menor.
c) não responderá por qualquer crime, e Cícero responderá pelo crime de induzimento ao
suicídio, com agravante por ser a vítima seu irmão.
d) e Cícero não responderão por qualquer crime, tendo em vista que o suicídio não se
consumou.
e) não responderá por qualquer crime, e Cícero responderá pelo crime de auxílio ao
suicídio, com aumento de pena por ser a vítima menor

4) (VUNESP - 2018 - PC-BA - Investigador de Polícia) Suponha que “A” seja instigado a
suicidar-se e decida pular da janela do prédio em que reside. Ao dar cabo do plano suicida,
“A” não morre e apenas sofre lesão corporal de natureza leve.
Pode-se afirmar que o instigador deverá responder pelo crime de tentativa de instigação ao
suicídio, previsto no art. 122 do Código Penal. (A instigação foi consumada)

5) (CESPE - 2014 - TJ-DFT - Juiz de Direito Substituto) Mauro, sabendo que sua vizinha,
Maria, apresentava quadro depressivo e considerava pôr fim à própria vida,
entregou-lhe uma dose letal de veneno. Maria, no entanto, deixou cair parte da dose,
tendo ingerido apenas pequena porção do veneno e, após lavagem estomacal, sobreviveu
sem danos físicos.
Nessa situação, deve ser imputada a Mauro a prática de auxílio a suicídio.

6) (CESPE - 2018 - Polícia Federal - Perito Criminal Federal) Uma mulher de vinte e oito
anos de idade foi presa acusada do crime de infanticídio, após ter jogado em uma
centrífuga o bebê que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência policial, um familiar da
suspeita disse que ela havia escondido a gravidez e que negava que houvesse praticado
aborto. A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir.
A configuração do crime de infanticídio independe da existência de estado puerperal,
bastando para tal que o sujeito passivo seja uma criança. (O crime de Infanticídio depende
do estado puerperal)

7) (FUNCAB - 2014 - SSP-SE – Papiloscopista) Quanto ao crime de infanticídio, é correto o


que se afirma na alternativa:
a) Se a mãe não quis ou assumiu o risco da morte do filho, não se configura crime de
infanticídio, em qualquer das formas, eis que inexiste para o crime de infanticídio forma
culposa. (QUESTÃO POLÊMICA)
b) É um crime comum (próprio), de perigo (dano), formal (material), plurissubjetivo
(monossubjetivo), comissivo, instantâneo de efeitos permanentes, complexo (simples).
c) É sujeito passivo (ativo), no crime de infanticídio, a mãe que mata o próprio filho durante
ou logo após o parto sob a influência do estado puerperal e, sujeito ativo (passivo), seu
próprio filho.
d) Pratica o crime de infanticídio (aborto) a mãe que mata o óvulo fecundado após a
nidação, o embrião ou o feto sob a influência do estado puerperal.
e) O estado puerperal pode durar muito tempo, portanto, a mãe que mata seu próprio filho
uma semana após o parto, estando, ainda, sob a influência do estado puerperal, pratica o
crime de infanticídio. (QUESTÃO POLÊMICA)

8) (Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Ana, após realizar exame
médico, descobriu estar grávida. Estando convicta de que a gravidez se deu em decorrência
da prática de relação sexual extraconjugal que manteve com Pedro, seu colega de
faculdade, e temendo por seu matrimônio decidiu por si só que iria praticar um aborto. A
jovem comunicou a Pedro que estava grávida e pretendia realizar um aborto em uma clínica
clandestina. Pedro, por sua vez, procurou Robson, colega que cursava medicina, e o
convenceu a praticar o aborto em Ana. Assim, alguns dias depois de combinar com Pedro,
Robson encontrou Ana e realizou o procedimento de aborto. Sobre a questão apresentada,
é correto afirmar que a conduta de Ana se amolda ao crime previsto no
a) art. 124, segunda parte, do Código Penal (consentimento para o aborto). Robson, por sua
vez, tem sua conduta subsumida ao crime previsto no art. 124, segunda parte, do Código
Penal. Já Pedro responderá como partícipe no crime de Ana.
b) art. 125, segunda parte, do Código Penal (consentimento para o aborto). Robson, por sua
vez, tem sua conduta subsumida ao crime previsto no art. 124 do Código Penal (aborto
provocado por terceiro sem consentimento). Já Pedro responderá como partícipe no crime
de Robson.
c) art. 124, primeira parte, do Código Penal (autoaborto). Robson, por sua vez, tem sua
conduta subsumida ao crime previsto no art. 126 do Código Penal (aborto provocado por
terceiro com consentimento). Já Pedro responderá como partícipe no crime de Ana.
d) art. 126, primeira parte, do Código Penal (autoaborto). Robson, por sua vez, tem sua
conduta subsumida ao crime previsto no art. 124 do Código Penal (aborto provocado por
terceiro com consentimento). Já Pedro responderá como partícipe no crime de Ana.
e) art. 124, segunda parte, do Código Penal (consentimento para o aborto). Robson, por sua
vez, tem sua conduta subsumida ao crime previsto no art. 126, do Código Penal (aborto
provocado por terceiro com consentimento). Já Pedro responderá como partícipe no crime
de Robson.

9) (VUNESP - 2018 - PC-BA - Investigador de Polícia)


I - O Código Penal permite o aborto praticado pela própria gestante quando existir risco de
morte e não houver outro meio de se salvar.
II - O aborto provocado pela gestante, figura prevista no art. 124 do Código Penal, cuja pena
é de detenção de 1 (um) a 3 (três) anos, admite coautoria. (é crime de mão própria, não
admite coautoria, mas admite participe)

10) (VUNESP - 2014 - PC-SP - Delegado de Polícia) “X” recebe recomendação médica para
ficar de repouso, caso contrário, poderia sofrer um aborto. Ocorre que “X” precisa trabalhar
e não consegue fazer o repouso desejado e, por essa razão, acaba expelindo o feto, que
não sobrevive. Em tese, “X”
a) não praticou crime algum.
b) praticou o crime de aborto doloso.
c) praticou o crime de aborto culposo.
d) praticou o crime de lesão corporal qualificada pela aceleração do parto.
e) praticou o crime de desobediência.

Aula 11 - Crimes Contra a Pessoa - Lesão Corporal I

CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS

LESÃO CORPORAL

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano.
● Menor potencial ofensivo
● A lesão deve deixar “marcas”, vestígios, enquanto as Vias de Fato (contravenção
penal) podem não deixar marcas (empurrão).
● Qual o principal meio de prova da lesão corporal? O exame de corpo de delito!
○ CPP, Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o EXAME DE
CORPO DE DELITO, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
acusado
○ É um crime não-transeunte (deixa vestígios - necessário exame de corpo de
delito)
● Admite-se outro meio de prova? Sim, pois o art. 158 do CPP não exclui outros
meios de prova
○ CPP, Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, A PROVA TESTEMUNHAL poderá suprir-lhe a falta.
“Comprovação da gravidade das lesões sofridas mediante prova testemunhal
e laudo médico. (...) A ausência do laudo pericial não impede que seja
reconhecida a materialidade do delito de lesão corporal de natureza grave
por outros meios.” (HC 114567, julgado em 16/10/2012)
● Pode ser praticada mediante:
○ Dolo (animus laedendi ou animus nocendi) ou culpa
● Lesão corporal leve: todas as lesões que não se enquadram em lesão corporal
grave, gravíssima ou em razão de violência doméstica
● Ação penal:
○ Lesão corporal leve ou culposa (é ação penal pública CONDICIONADA à
representação)
■ Lei n.º 9.099/95 Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da
legislação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas
○ Lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte (é ação penal
pública INCONDICIONADA)
● NÃO HÁ CRIME DE LESÃO CORPORAL:
○ Consentimento da vítima para lesão corporal leve (tatuagem, piercing
sadomasoquismo, etc) - Se aplica apenas a lesão corporal culposa ou a leve
○ Autolesão (Princípio da Alteridade)
○ Prática de esportes que envolve ou que se tolere a violência (excludente de
ilicitude exercício regular de direito)
○ Princípio da Insignificância pode ser aplicado, exceto em razão de violência
doméstica contra a mulher

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE (sentido amplo)


● Algumas hipótese ocorrem de maneira Dolosa ou de maneira Preterdolosa
○ O aborto aqui é preterdoloso! É uma lesão corporal seguida de aborto
● Natureza Objetiva - As qualificadoras de comunicam com todos os agentes

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE - sentido estrito (esse nome foi dado pela
doutrina)
§ 1º Se resulta: (P/I/D/A)
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
● Hipótese de crime a prazo, ou seja, é necessário esperar os 30 dias para se figurar
essa hipótese
● Ocupação habitual é diferente de trabalho (atividade laborativa), ou seja, ocupação
habitual pode ser uma atividade recreativa, desde que lícita
II - perigo de vida;
● Deve ser um perigo concreto, não pode ser um “e se…”
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
○ Membro – braços, mãos, pernas, pés
■ Dedos não são membros, mas é a sua perda causa debilidade
permanente de membro
○ Sentido – Visão, olfato, tato, audição, paladar
■ A perda de um dos olhos causa debilidade permanente de sentido
○ Função – sistema respiratório, neurológico, urinário, etc
● Debilidade é diferente de perda/inutilização
● Se houver a possibilidade de se realizar uma cirurgia para curar totalmente a
debilidade, ainda sim deve incidir a natureza grave da lesão
IV - aceleração de parto:
● O agente deve conhecer a condição de gestante da vítima
● O dolo do agente não pode estar voltado para o feto, pois se isso ocorrer ele
responde pelo crime de aborto (pois é uma hipótese preterdolosa)
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos.
● Médio potencial ofensivo

Aula 12 - Crimes Contra a Pessoa - Lesão Corporal II

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA - sentido estrito (esse nome foi


dado pela doutrina)
§ 2° Se resulta: (P/E/I/D/A)
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
● Aqui sim, é o trabalho (atividade laboral)!
● O trabalho deve ser o trabalho que a vítima desempenhava
II - enfermidade incurável;
● Alteração prejudicial física ou psíquica
● Se a cura da enfermidade for encontrado depois de cometidas as lesões, ainda sim,
o agente responde por lesão corporal gravíssima
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
● Inutilização de membro - exemplo: pessoa que fica paraplégica
● Perda de função - exemplo: perda da capacidade reprodutiva
IV - deformidade permanente;
● Ligada a estética (ex.: cicatrizes) da vítima
● A possibilidade de realização de cirurgia não afasta a natureza gravíssima
○ “A realização de cirurgia estética posteriormente à prática do delito não afeta
a caracterização, no momento do crime constatada, de lesão geradora de
deformidade permanente, seja porque providência não usual (tratamento
cirúrgico custoso e de risco), seja porque ao critério exclusivo da vítima.”
STJ. 6ª Turma. HC 306.677-RJ, 19/5/2015 (Info 562).
V - aborto:
● O agente deve conhecer a condição de gestante da vítima
● O dolo do agente não pode estar voltado para o feto, pois se isso ocorrer ele
responde pelo crime de aborto (hipótese preterdolosa)
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.
● Alto potencial ofensivo

LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (Homicídio preterdoloso)

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o


resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
● O dolo do agente vai diferenciar se o agente responde por homicídio ou pela lesão
corporal seguida de morte (Crime Preterdoloso)
● Não admite tentativa, pois crimes preterdolosos não a admite

DIMINUIÇÃO DE PENA

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou


moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
● Lesão corporal privilegiada
● Se aplica a qualquer natureza de Lesão corporal

SUBSTITUIÇÃO DA PENA

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção
pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
● Só é aplicado a lesões corporais leves
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas

LESÃO CORPORAL CULPOSA

§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano.
● Devido a negligência, imprudência ou imperícia
● Na lesão corporal culposa não há diferenciação entre lesões leves, graves ou
gravíssimas
● Se ocorrer a morte, aplica-se o Crime de Homicídio Culposo
● Não se aplica a lesões causadas no trânsito (art. 303, CTB)

AUMENTO DE PENA

§ 7º Aumenta-se a pena de um terço se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º


do art. 121 deste Código.
● Art. 121, § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato,
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60
anos.
● Art. 121, § 6º A pena é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121:


● Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária. (Perdão judicial)
Aula 13 - Crimes Contra a Pessoa - Lesão Corporal III

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 meses a 3 anos
● Médio potencial ofensivo
● Conviver não significa, necessariamente, coabitar
● O § 9º é muito amplo, não se restringe a violência contra mulher, filhos, etc
● Sujeito passivo: Homens ou mulheres
● O § 9º é para lesões corporais leves, para lesões grave, gravíssima ou seguida de
morte, aplica-se o § 10

§ 10 Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as


indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3.
● Grave: art. 129, § 1º combinado com o § 10
● Gravíssima: art. 129, § 2º combinado com o § 10
● Seguida de morte: art. 129, § 3º combinado com o § 10

§ 11 Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 se o crime for


cometido contra pessoa PORTADORA DE DEFICIÊNCIA.

§ 12 Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3. . (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
● Diferentemente do crime de homicídio que essa hipótese é uma qualificadora, aqui
no crime de lesão corporal é causa de aumento de pena
● Aplica-se na lesão corporal leve, grave, gravíssima (crime hediondo) e seguida de
morte (crime hediondo)
● Deve ser consanguíneo, parentes afins não valem

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da CONDIÇÃO DO SEXO
FEMININO, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188,
de 2021) (Entrou em vigor em 29/07/2021, antes dessa data aplica-se o § 9º)
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
● Médio potencial ofensivo, mas a suspensão condicional do processo dependerá da
hipótese
● Art. 121. § 2º - A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o
crime envolve:
I - violência doméstica e familiar; (Aqui se aplica-se a lei Maria da Penha, Lei 11.340/06
- NÃO PODE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Aqui não necessariamente
aplica a Lei Maria da Penha, pode aplicar o §13 - PODE SUSPENSÃO CONDICIONAL
DO PROCESSO)
● Súmulas
○ Súmula 536-STJ - A suspensão condicional do processo e a transação penal
não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
○ Súmula 542, STJ - A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
○ Súmula 589, STJ - É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.
● O Delegado de Polícia Pode Arbitrar Fiança, na Esfera Policial, diante de um
Flagrante Delito Relacionado ao § 13, Art. 129, da CP? A resposta é sim, ele
poderá arbitrar fiança, devido ao que está disposto no art. 322 do Código de
Processo Penal. Segundo este, o Delegado de Polícia poderá arbitrar fiança em
crimes cuja pena máxima não ultrapasse quatro (4) anos. Todavia, é interessante
notar que, antigamente, quando ainda se utilizava o § 9º na violência doméstica
contra a mulher, a pena era de 3 meses a 3 anos de detenção, o que dificultava a
possibilidade de fixação de fiança. Agora a pena máxima aumentou para 4 anos e,
se o sujeito ativo do delito cometer um outro delito em concurso de crimes, a pena
máxima será alcançada e a fiança inviabilizada.

Aula 14 - Crimes Contra a Pessoa - Lesão Corporal - Exercícios

1) (FCC - 2018 - Prefeitura de Caruaru - PE - Procurador do Município) Lesão corporal de


natureza grave é aquela da qual resulta
a) deformidade permanente. (Gravíssima)
b) incapacidade permanente para o trabalho. (Gravíssima)
c) violência doméstica. (Qualificadora da lesão corporal)
d) feminicídio. (não é crime de lesão corporal é hipótese de homicídio qualificado)
e) aceleração de parto.

2) (VUNESP - 2018 - TJ-MT – Juiz) João, com a intenção de matar, desferiu golpes de
faca em seu irmão José. Antes de desferir o golpe fatal, atendendo aos apelos de sua mãe
que implorava para que poupasse a vida de José, João parou de agredir o irmão. Por
insistência de sua mãe, João socorreu José, que sobreviveu com lesões corporais que,
embora tenham causado risco de vida, se regeneraram em vinte dias. Sobre a situação
hipotética, assinale a alternativa correta.
a) João responderá por lesões corporais graves em razão da desistência voluntária. (Na
desistência voluntária o agente responde apenas pelos atos já praticados. Além disso aqui
também caberia o arrependimento eficaz)
b) João responderá por tentativa de homicídio com redução de pena pelo arrependimento
posterior.
c) João responderá por lesões corporais leves em razão da desistência voluntária.
d) João responderá por tentativa de homicídio.
e) João não responderá por crime.
3) (Inédita) Sobre os aspectos relacionados ao delito de lesões corporais, é correto afirmar
que:
a) A gradação como lesão leve, grave ou gravíssima se aplica às modalidades dolosa e
culposas do delito. (Não se aplica a gradação em lesões culposas)
b) No caso de lesões recíprocas, o Juiz pode, em qualquer caso, substituir a pena de
detenção pela pena de multa. (art. 129, §5º, CP - apenas se aplica a lesões de natureza
leve)
c) Nos casos de lesão corporal culposa, o Juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária. (art. 129, §8º)
d) Aumenta-se a pena do delito de lesões corporais caso praticadas em situação de
violência doméstica. (Qualifica)
e) Qualifica-se o delito de lesão corporal em caso de prática contra agente integrante da
Força Nacional de Segurança Pública (Causa de aumento de pena)

4) (FGV - 2019 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público – Processual) No dia 3 de junho


de 2019, Vitor, revoltado com a intenção de sua companheira Rosa de terminar o
relacionamento, faz um grande buraco no quintal da residência e surpreende sua
companheira com um forte golpe de pá na sua cabeça. Em seguida, apesar de saber que
aquele golpe não seria suficiente para causar a morte de Rosa, a joga no interior do buraco,
com a intenção de persistir nos golpes, causar sua morte e, em seguida, esconder o corpo.
Ocorre que Rosa começa a chorar e implora para que Vitor pense na filha do casal. Vitor,
então, cessa sua conduta, ajuda Rosa a sair do buraco e permite que ela vá se limpar,
ocasião em que a vítima pulou pela janela do banheiro e informa os fatos a policiais
militares que passavam pela localidade. É constatada a existência de lesões de natureza
leve na vítima. Considerando apenas as informações expostas, a conduta de Vitor
configura:
a) tentativa de homicídio qualificado por ser contra a mulher, por condição do sexo feminino;
b) lesão corporal qualificada por ser contra companheira, em razão do arrependimento
eficaz;
c) lesão corporal qualificada por ser contra companheira, em razão da desistência
voluntária;
d) fato atípico, em razão do arrependimento eficaz;
e) fato atípico, em razão da desistência voluntária.

5) (FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia) João decide agredir fisicamente Pedro, seu
desafeto, provocando-lhe vários ferimentos. Porém, durante a luta corporal, João resolve
matar Pedro, realizando um disparo de arma de fogo contra a vítima, sem contudo,
conseguir atingi-lo. A polícia é acionada, separando os contendores. Diante do caso
hipotético, João responderá
a) apenas por lesões corporais.
b) apenas por tentativa de homicídio. (Progressão criminosa: altera o dolo para um crime
mais grave durante a conduta, Resultado: o crime mais grave absorve o crime menos
grave)
c) por rixa e disparo de arma de fogo.
d) por lesões corporais consumadas e disparo de arma de fogo.
e) por lesões corporais consumadas e homicídio tentado.
6) (FGV - 2015 - TJ-PI - Analista Judiciário - Escrivão Judicial) A qualificadora "deformidade
permanente" do crime de lesão corporal (artigo 129, § 2º, IV, do CP) deve ser valorada
quando:
a) da consumação do crime;
b) da prática da ação;
c) do exaurimento do crime;
d) da ação médica reparadora;
e) da oitiva em juízo.

7) (CESPE - 2015 - TJ-PB – Juiz) O crime de lesão corporal praticado por um indivíduo
contra seu irmão, no âmbito doméstico, configura apenas o crime de lesão corporal simples,
dada a inaplicabilidade da Lei Maria da Penha em casos em que a vítima seja do sexo
masculino. (aplica-se a art. 129, §9º e não o caput)

8) (CESPE - 2013 - Polícia Federal - Perito Criminal Federal) Tendo em vista que o
médico-legista deve descrever, em seu laudo, às lesões que eventualmente encontrar, e
cuja natureza jurídica pode ser leve, grave e gravíssima, ou, ainda, lesão corporal seguida
de morte, em conformidade com o art. 129 do Código Penal, julgue o item que se segue.
A incapacidade para ocupações habituais por mais de trinta dias, a deformidade
permanente e a aceleração de parto caracterizam lesões corporais de natureza grave.

9) (CESPE - 2012 - PC AL –
Agente de Polícia) A conduta
de João configura tentativa de
homicídio ou lesão corporal
de natureza grave, a
depender do elemento
subjetivo de João, a ser
revelado com base em elementos fáticos apurados na investigação e no processo.

10) (CESPE - 2012 - PC AL – Agente de Polícia) O homicídio e a lesão corporal são


classificados como crimes contra a pessoa.

11) (CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público Federal) Para a configuração da agravante da
lesão corporal de natureza grave em face da incapacidade para as ocupações habituais por
mais de trinta dias, não é necessário que a ocupação habitual seja laborativa, podendo ser
assim compreendida qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima. (Pode ser
uma incapacidade de realizar qualquer atividade habitual da vítima)

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