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HOMICÍDIO ARTIGO 121

1.Conceito: é a morte de um ser humano provocada por outro ser humano.

O texto legal não define quando um homicídio é considerado simples. Ao


contrário, preferiu o legislador definir expressamente apenas as hipóteses em que
o crime é privilegiado (art. 121, § 1º) ou qualificado (art. 121, § 2º). Dessa forma, é
por exclusão que se conclui que um homicídio é simples, devendo ser assim
considerados os fatos em que não se mostrem presentes quaisquer das hipóteses
de privilégio e qualquer qualificadora.

1.1. Objetividade jurídica


A vida humana extrauterina. Antes do nascimento, a eliminação da vida
constitui crime de aborto.
Como o homicídio atinge um único bem jurídico, é classificado como crime
simples.

1.2.Meios de execução
A conduta típica “matar” admite qualquer meio de execução (disparos de arma
de fogo, facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia etc.)

É possível que o homicídio seja praticado por omissão.

Temos, nesse caso, um crime comissivo por omissão, em que a mãe tinha o
dever jurídico de evitar o resultado e podia fazê-lo, porém, querendo a morte do
filho, se omite.

Existe, ainda, a participação por omissão.

1.3-Crime impossível por absoluta ineficácia do meio

É que o art. 17 do Código Penal estabelece que não se pune a tentativa.


Nesse sentido se manifestou Celso Delmanto: “o revólver sem
munição é absolutamente inidôneo para matar alguém a tiro; já o revólver com
balas velhas (que podem ou não disparar de acordo com a sorte) é meio
relativamente ineficaz e seu uso permite configurar tentativa punível”.
Fernando Capez, por sua vez, salienta que, se “uma arma apta a efetuar disparos
mas que, às vezes, falha, picotando o projétil e, com isso, vindo a vítima a sobreviver,
ocorre tentativa, pois o meio era relativamente eficaz”.
Na jurisprudência podemos encontrar:“Estando o revólver empunhado pelo réu
desmuniciado, com todas as balas já deflagradas, absolutamente ineficaz o seu uso
para a prática do homicídio. Tem-se, na espécie, pois, verdadeira tentativa
impossível” (TJSP — Rel. Camargo Sampaio — RT 514/336); “Configura crime
impossível o uso de arma descarregada, ocorrendo tal fato como causa de
impunibilidade, segundo o art. 17 do CP” (TJSC — Rel. Thereza Tang — ADV
7.342/760).

1.4. SUJEITO ATIVO -O homicídio enquadra-se no conceito de crime comum


porque pode ser praticado por qualquer pessoa, na medida em que o texto legal
não exige qualidade especial para que alguém seja autor desse crime.

1.5 SUJEITO PASSIVO


Pode ser qualquer ser humano.
Após o nascimento toda e qualquer pessoa pode ser vítima do crime de
homicídio.

1.6 Consumação

O crime de homicídio, por óbvio, consuma-se no momento da


morte decorrente da conduta dolosa do agente.

• Momento da morte e sua definição legal

O legislador, preocupado com as imensas filas de pacientes aguardando


transplantes, e fundado em estudos conclusivos de que a morte encefálica é
irreversível, aprovou a Lei n. 9.434/97, que, em seu art. 3º, declara que se
considera morta a pessoa nomomento da cessação da atividade encefálica.

1.7.Prova da materialidade

A materialidade do homicídio é demonstrada pelo exame necroscópico, em


que o médico legista atesta a ocorrência da morte e suas causas.
A autópsia deve ser feita pelo menos seis horas após o óbito (art. 162 do CPP).
Se a autópsia não tiver sido realizada antes de o corpo ser enterrado ou se
surgirem dúvidas em torno da conclusão do perito, poderá ser determinada a
exumação do corpo para a sua realização ou para exames complementares, tudo
na forma dos arts. 163 e 164 do CPP.
Se não for possível o exame do corpo por ter ele desaparecido, a materialidade
do homicídio pode ser demonstrada por prova testemunhal (art. 167 do CPP). É o
que ocorre quando o corpo da vítima do homicídio é lançado ao mar e depois não
é recuperado, mas testemunhas afirmam ter visto a pessoa morta.

1.8.Tentativa

A tentativa de homicídio é plenamente possível e, aliás, muito comum. Para o


seu reconhecimento, são exigidos três fatores:
-Que exista prova inequívoca de que o agente queria matar a vítima.
- Que tenha havido início de execução do homicídio.

-Que o resultado morte não tenha ocorrido por


circunstâncias alheias à vontade do agente.

1.9.Ação penal e competência


O crime de homicídio apura-se mediante ação pública incondicionada, sendo
a iniciativa exclusiva do Ministério Público.
A análise do mérito da acusação, que resultará em condenação ou absolvição
do réu, cabe aos jurados, pois, de acordo com o art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição
Federal, os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri.
A competência é a do local da consumação do delito. De ver-se, todavia, que a
jurisprudência reconhece uma exceção no caso de homicídio doloso quando a
vítima é alvejada em uma cidade e levada para hospital de outro município.

2-HOMICIDIO SIMPLES (ART.121, caput, CP)- É aquele previsto no caput do


art.121, CP. A identificação da modalidade simples faz-se por exclusão, isto é,
quando não apresenta elementos qualificadores.

3-HOMICIDIO PRIVILEGIADO (ART.121, § 1º, CP) - É a causa de diminuição de


pena (1/6 a 1/3) prevista no § 1º do art.121, CP. É quando o agente pratica o fato:
a) - impelido por motivo de relevante valor sócial - refere-se a causa
que tem por fundamento interesse coletivo(os autores tradicionais citam a morte
do traidor da pátria);
Essa primeira hipótese de privilégio está ligada à motivação do agente, que
supõe que, ao matar a vítima, estará beneficiando a coletividade.

b) - impelido por motivo de relevante valor moral - diz respeito a


interesse particular (por exemplo, a eutanásia).
No dizer de Heleno Cláudio Fragoso, são os motivos tidos como nobres ou
altruístas. A própria exposição de motivos do Código Penal cita a eutanásia como
exemplo de homicídio cometido por motivo de relevante valor moral.

Eutanásia ou (homicídio piedoso) pode ser conceituada como o “ato deliberado


para retirar a vida de uma pessoa que está em grave possibilidade de um
sofrimento intenso, ou já se encontra nele, em razão de alguma doença incurável”
(é abrangida pelo homicídio privilegiado);
A ortotanásia não constitui crime. Nesta o médico deixa de lançar mão de
tratamentos paliativos que só prolongariam por pouco tempo a vida de pessoa com
doença irreversível em fase terminal, como em caso de grave câncer em que o
médico desiste de tratamento quimioterápico, que só traria mais sofrimento à vítima
em razões dos seus efeitos colaterais, quando já se sabe que o quadro não
reverterá. Nesse caso, a morte da vítima decorre do câncer, e não da ação ou
omissão do médico. Em geral, essa decisão de não prorrogar os tratamentos
paliativos é tomada pelo médico em conjunto com o próprio paciente e seus
familiares.

RELEVANTE VALOR MORAL, Possível também o reconhecimento do


relevante valor moral em casos de homicídio consentido para abreviar o sofrimento
da vítima. Exemplo pai que mata estuprador da filha.

c) - Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta


provocação da vítima –

PRIVILÉGIO
Injusta provocação da Violenta emoção do Ato homicida logo em
vítima agente seguida ao ato provocador

é possível que uma pessoa provoque a outra, fazendo-o, por exemplo, por
meio de xingamentos, de brincadeiras de mau gosto, riscando seu carro, jogando
lixo ou pichando sua casa etc.

O texto legal é bastante exigente, já que, para o reconhecimento do benefício,


não basta a violenta emoção, sendo necessário que o agente fique sob o
domínio desta.
Ato homicida logo em seguida à injusta provocação

Para a aplicação do benefício, mostra-se necessária a chamadareação imediata, ou


seja, que o ato homicida ocorra logo eM seguida à provocação. Não existe uma
definição exata em torno da expressão “logo em seguida”, sendo ela
normalmente reconhecida quando o homicídio ocorre no mesmo contexto fático
da provocação ou minutos depois.

Diferença entre o privilégio da violenta emoção e a atenuante genérica


homônima (de mesmo nome)

Nota-se no próprio texto legal duas diferenças. No privilégio, exige-se que o


agente esteja sob o domínio de violenta emoção porque o ato se dá logo em
seguida à injusta provocação. Na atenuante (art. 65, III, c), basta que ele esteja
sob influência de violenta emoção decorrente de ato injusto, sem a necessidade
que o ato homicida ocorra logo em seguida àquele.
Obs.: Todas as hipóteses de crimes privilegiados são hipóteses de motivados
subjetivos, vez que motivo é subjetivo.

4-HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º CP), PREVISTOS NOS INCISOS I


A VII:

Art. 121, § 2º, I — Se o homicídio é cometido mediante paga ou promessa de


recompensa, ou outro motivo torpe;

Art. 121, § 2º, II — Se o homicídio é cometido por motivo fútil.

I) Mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe –


Essa modalidade de homicídio qualificado é conhecida como homicídio
mercenário porque uma pessoa contrata outra para executar a vítima mediante
pagamento em dinheiro ou qualquer outra vantagem econômica, como a entrega
de bens, promoção no emprego etc. A paga é prévia em relação ao homicídio,
enquanto a promessa de recompensa é para entrega posterior, como no caso em
que o contratante é filho da vítima e promete dividir o dinheiro da herança com a
pessoa contratada para matar o pai.

A polêmica, basicamente, gira em torno de se definir se a qualificadora da


paga ou promessa de recompensa é ou não elementar do homicídio mercenário,
uma vez que o art. 30 do Código Penal dispõe que as circunstâncias de caráter
pessoal não se comunicam aos comparsas, salvo se elementares do crime.
O ato de matar em troca de dinheiro ou outros valores é circunstância de
caráter pessoal para o executor porque se refere à sua motivação: matar por
dinheiro ou outros valores. Assim, caso se entenda que esse aspecto pessoal é
elementar do homicídio mercenário, ele se comunica ao mandante, e, caso se
entenda o contrário, não.

1ª Corrente — Não se comunica a qualificadora.


para essa corrente, a paga ou promessa de recompensa não é elementar e, por
ser de caráter pessoal, não se estende ao mandante, que deve ser
responsabilizado de acordo com os motivos que o levaram a contratar o executor.
Nesse sentido, as opiniões de Heleno Cláudio Fragoso, Fernando Capez,Flávio

Monteiro de Barros e Rogério Greco.

Na jurisprudência podemos apontar os seguintes julgados:

“A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp


1.415.502/MG (Rel. Ministro Felix Fischer, DJe 17/2/2017), firmou compreensão no
sentido de que a qualificadora da paga ou promessa de recompensa não é
elementar do crime de homicídio e, em consequência, possuindo caráter pessoal,
não se comunica aos mandantes. Ressalva de entendimento pessoal do Relator”
(HC 403.263/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 13-
11-2018, DJe 22-11-2018).

2ª Corrente — Comunica-se a qualificadora ao mandante.

se excluído o envolvimento do mandante, o fato não pode ser caracterizado


como homicídio mercenário, daí por que seu envolvimento no delito constituir
elementar. Trata-se, portanto, de qualificadora sui generis, pois sua existência tem
como premissa o envolvimento de duas pessoas e, assim, para ambos deve ser
aplicada a pena maior.
Argumentam, ainda, sob o prisma da lógica, que o mandante deve também
ser condenado pela forma qualificada, pois é dele a iniciativa de procurar o executor
e lhe propor o crime. Sem essa proposta não haveria o homicídio.
Podem ser apontados como defensores dessa tese: Julio Fabbrini
Mirabete,Damásio de Jesus e Euclides Custódio da Silveira.

É a orientação do Supremo Tribunal Federal: “... a comissão do fato mediante


paga, porque qualifica o homicídio e, portanto, constitui essentialia do tipo
qualificado, não atinge exclusivamente o accipiens, mas também o solvens e
qualquer outro dos coautores do delito: assim já se decidiram, não faz muito, ambas
as turmas do Tribunal (HC 66.571, 2ª Turma, 20.6.89, Rel. Borja, Lex 156/226; HC
69.940, 1ª Turma, Rel. Pertence, 09.03.1993)” (STF — HC 71.582, 1ª Turma — Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, 28-3-1995).
No mesmo sentido: “No homicídio mercenário, a qualificadora da paga ou
promessa de recompensa é elementar do tipo qualificado, comunicando-se ao
mandante do delito” (STJ — AgInt no REsp 1.681.816/GO, 6ª Turma — Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 3-5-2018, DJe 15-5-2018).

II) Motivo Fútil - é o motivo sem importância, frívolo, insignificante,


desarrazoado, desproporcional à própria conduta do homicídio. Evidencia-se ele
quando se destaca a insignificância da motivação em relação ao crime praticado
(ex: morte por dívida, por ofensa verbal, discussões entre marido e mulher, futebol,
política, religião etc.).

Ciúme. Nossa doutrina costuma sustentar que o ciúme não pode ser
interpretado como um motivo pequeno, pois, para quem o sente, trata-se de
sentimento forte. A regra vale para ciúme entre marido e mulher, namorados,
filhos em relação aos pais e vice-versa etc. É preciso, contudo, que essa regra
não seja interpretada de forma absoluta, pois existem situações práticas em
que o agente mata a namorada apenas porque “ela olhou para o lado”, não
sendo viável excluir-se, de plano, a qualificadora em tal hipótese em que é
evidente a desproporção entre o ato e o ciúme dele gerado
A doutrina diverge quanto a ausência de motivação do homicida, se também
não caracterizaria o motivo fútil, pois, ao menos em tese, a falta de razões para
matar é mais desproporcional que o motivo insignificante. Sobre o tema, os
precedentes do Superior Tribunal de Justiça não admitem que a falta e motivos
para matar seja igualada à insignificância de alguma razão, pelo que se
compreende incidente, neste caso, apenas a figura do homicídio simples.

III) emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio


insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum - não contém maiores
dificuldades em sua redação, pois claro está que o emprego de veneno, fogo,
explosivo, asfixia ou tortura no ato de matar qualificam o delito.

Nesse dispositivo, a lei, após explicitar uma série de circunstâncias que tornam
mais gravosa a conduta em razão do meio de execução empregado, utiliza a
fórmula genérica “ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum”. Assim, é evidente que a aplicação da fórmula genérica só será possível
se não for viável o enquadramento nas figuras específicas iniciais
Por sua vez, o meio insidioso é o desleal, o desconhecido pela vítima, e o
cruel é o que impõe a ela um sofrimento maior do que o necessário para a prática
do crime, ou revela brutalidade incomum do agente.
MEIO CRUEL são aqueles em que o ato executório é breve, embora provoquem
forte sofrimento físico na vítima.
MEIO INSIDIOSO -É um meio velado, uma armadilha, um meio fraudulento para
atingir a vítima sem que se perceba que está havendo um crime.

IV – traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (qualificadoras objetivas)
A- TRAIÇÃO
Diverge a doutrina acerca do exato conceito de traição.

Nélson Hungria, é o ato “cometido mediante ataque súbito e sorrateiro, atingida a


vítima, descuidada ou confiante, antes de perceber o gesto criminoso”, como o
golpe dado pelas costas.
Já para Julio Fabbrini Mirabete“a traição consubstancia-se essencialmente na
quebra de confiança depositada pela vítima no agente, que dela se aproveita para
matá-la”.
OBS- a melhor definição é a última, por ser restritiva, já que, no golpe dado pelas
costas, por um desconhecido, contra a vítima após uma discussão, torna-se
discutível a existência de traição, sendo, porém, perfeitamente adequado o
enquadramento na qualificadora genérica existente no final do inc. IV — outro
recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima. Não se deve, portanto,
optar por um enquadramento duvidoso quando existe outro, elencado no próprio
texto legal, capaz de solucionar a questão sem dar margem à controvérsia no
julgamento em Plenário.

B-Emboscada - é a tocaia, na qual o autor se oculta em determinado local à espera


da vítima (tocaia);
C-Disssimulação – é o disfarce que esconde o propósito criminoso, a intenção
hostil do agente é ocultada;

D-Recurso que dificulte ou torna impossível à defesa do ofendido – é disposição


genérica que deve guardar correlação, e ser interpretada, em consonância com as
formulas casuísticas anteriores, por exemplo, embriagar a vítima com objetivo de
praticar afogamento; a surpresa está implícita inserida na clausula genérica e
qualifica o crime quando tenha efetivamente, dificuldade ou impossibilidade da
defesa contra a agressão.

IV) assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime –


é qualificado o homicídio praticado com o fim de garantir a execução, ocultação,
impunidade ou a vantagem de outro crime (neste caso ocorre a conexão
ocasional). Tal circunstância se configura quando também comprovada a prática
do crime fim, aquele cuja execução, ocultação, impunidade ou proveito se quer
garantir.

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei
nº 13.104, de 2015) – A presente figura delituosa foi introduzida no Código Penal pela
Lei n. 13.104/2015. Não obstante a denominação específica contida no texto legal —
feminicídio —, cuida-se, em verdade, de mais uma forma qualificada do crime de
homicídio.
De acordo com o inc. VI do art. 121, § 2º, do Código Penal, existe feminicídio
quando o crime é cometido “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”.
Cuida-se, em nosso entendimento, de qualificadora de caráter subjetivo, na medida em
que não basta que a vítima seja mulher, sendo necessário, de acordo com o texto legal,
que o delito seja motivado pela condição de sexo feminino.
(homicídio contra mulher motivado por razões do sexo feminino por envolver
violência doméstica ou familiar), é necessário fazer a conjugação com o art. 5º da Lei
n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que conceitua violência doméstica ou familiar
como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou Psicológico e dano moral ou patrimonial”, no âmbito da
unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto.

VI-Homicídio cometido por milícia privada ou grupo de extermínio (causas de


aumento de pena)

Art. 121, § 6º — A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou
por grupo de extermínio.

Esse dispositivo foi introduzido no Código Penal pela Lei n. 12.720, de 27 de setembro
de 2012. Inicialmente, o texto legal refere-se às milícias privadas. Alguns
autores questionam a aplicabilidade do dispositivo legal,legando que a lei não define o
que é milícia. O significado da palavra, entretanto, é facilmente encontrado nos
dicionários e diz respeito aos militares, à carreira militar. Milícia privada, portanto, é o
grupo montado clandestinamente por particulares para atuar em determinada área
fazendo as vezes da polícia preventiva ostensiva.

Em segundo lugar, o homicídio tem a pena aumentada quando cometido por


grupo de extermínio. Discute a doutrina o significado da expressão “grupo de
extermínio”, havendo, entretanto, consenso de que não se trata de sinônimo de
concurso de agentes (coautoria e participação), pois, em geral, quando a lei quer
abranger o simples concurso de duas ou mais pessoas, fá-lo de forma explícita, o que
não ocorre na hipótese em análise.
Assim, para alguns basta o envolvimento de três pessoas, enquanto, para outros,
é necessário o número mínimo de quatro. Com o advento da Lei n. 12.850/2013,
parece-nos que a primeira interpretação é a correta, bastando três pessoas
.
Segundo Cézar Roberto Bitencourt, basta que pessoas se unam para a prática
de homicídio caracterizado pela impessoalidade na determinação da vítima, sendo tal
escolha pautada por características do sujeito passivo (e não pelo sujeito em sua
individualidade)
punição pelo crime de formação de milícia privada decorre do perigo que representa
para a coletividade a existência de um grupo de tal natureza agindo de forma contumaz,
enquanto o agravamento do homicídio tem como fundamento a maior gravidade da
conduta em relação à vítima do caso concreto.
Em segundo lugar, o homicídio tem a pena aumentada quando cometido por
grupo de extermínio. Discute a doutrina o significado da expressão “grupo de
extermínio”, havendo, entretanto, consenso de que não se trata de sinônimo de
concurso de agentes (coautoria e participação), pois, em geral, quando a lei quer
abranger o simples concurso de duas ou mais pessoas, fá-lo de forma explícita, o que
não ocorre na hipótese em análise.
Assim, para alguns basta o envolvimento de três pessoas, enquanto, para outros,
é necessário o número mínimo de quatro. Com o advento da Lei n. 12.850/2013,
parece-nos que a primeira interpretação é a correta, bastando três pessoas.
VII-Homicídio contra policiais ou integrantes das Forças Armadas ou seus
familiares (art. 121, § 2º, VII)
antes da aprovação de referida Lei, tais condutas já podiam ser enquadradas
como homicídio qualificado (motivo torpe), contudo, devido ao considerável número de
crimes contra a vida de policiais, o legislador entendeu ser necessária a inserção no
Código Penal de qualificadora específica.

Noções - De acordo com o art. 142 da CF que trata sobre Forças Armadas
(Marinha, Exército ou Aeronáutica).
São o art. 144 do CF, considera como Autoridades ou agentes do art.
144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal; IV
- polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Situação dos guardas municipais - Como se vê pela redação do caput do art.


144 da CF, não há menção às guardas municipais. Diante disso, indaga-se: o
homicídio praticado contra um guarda municipal no exercício de suas funções pode
ser considerado qualificado, nos termos do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP.
Sim, Essa nova qualificadora aplica-se também para os guardas municipais,
pois, o § 8º do art. Dispõe que os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinados à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a
lei.
Agentes de segurança viária – também pode ser aplicado para os agentes de
segurança viária, disciplinados no § 10 do art. 144 da CF.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além
de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à
mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito,
estruturados em Carreira, na forma da lei.
Servidores aposentados - Não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art.
121 do CP os servidores aposentados dos órgãos de segurança pública,
considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria que ter sido
expresso já que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser
autoridade, agente ou integrante do órgão público.

Familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança


pública - Será qualificado ainda o homicídio praticado contra cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau das autoridades, agentes e
integrantes dos órgãos de segurança pública.
Obs.: Quando se fala em cônjuge ou companheiro, isso inclui, tanto
relacionamentos heteroafetivos como homoafetivos. Assim, matar um
companheiro homoafetivo do policial, em retaliação por sua atuação funcional, é
homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VII, do CP.
A expressão “parentes consanguíneos até 3º grau” abrange:
 Ascendentes (pais, avós, bisavós);
 Descendentes (filhos, netos, bisnetos);
 Colaterais até o 3º grau (irmãos, tios e sobrinhos).
Obs.: Por sua vez o filho adotivo não está abrangido na proteção conferida por
este inciso VII. Assim, se um filho adotivo do policial é morto como retaliação por
sua atuação funcional haverá homicídio qualificado com base no art. 121, § 2º, VII,
do CP.
O tema certamente suscitará polêmica na doutrina e jurisprudência, mas
penso que não.
Existem três espécies de parentesco no Direito Civil:
a) parentesco consanguíneo ou natural (decorrente do vínculo biológico);
b) parentesco por afinidade (decorrente do casamento ou da união estável);
c) parentesco civil (decorrente de uma outra origem que não seja biológica nem
por afinidade).
De acordo com essa classificação, a adoção gera uma espécie de
parentesco civil entre adotando e adotado. O filho adotivo possui parentesco civil
com seu pai adotivo.
O legislador, ao prever o novel inciso VII cometeu um grave equívoco ao restringir
a proteção do dispositivo às vítimas que sejam parentes consanguíneas da
autoridade ou agente de segurança pública, falhando, principalmente, por deixar
de fora o parentesco civil.
Tivesse o legislador utilizado apenas a expressão “parente”, sem qualquer
outra designação, poderíamos incluir todas as modalidades de parentesco. Ocorre
que ele, abraçando a classificação acima explicada, escolheu proteger apenas os
parentes consanguíneos.

É certo que a CF/88 equipara os filhos adotivos aos filhos consanguíneos,


afirmando que não poderá haver tratamento discriminatório entre eles. Isso está
expresso no § 6º do art. 227:
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
Desse modo, a restrição imposta pelo inciso VII é manifestamente
inconstitucional. No entanto, mesmo sendo inconstitucional, não é possível “corrigi-
la” acrescentando, por via de interpretação, maior punição para homicídios
cometidos contra filhos adotivos. Se isso fosse feito, haveria analogia in malam
partem, o que é inadmissível no Direito Penal.

Parentes por afinidade também estão fora - Não estão abrangidos os parentes
por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire em decorrência do
casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc. Assim, se
o traficante mata a sogra do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio
qualificado do art. 121, § 2º, VII, do CP. A depender do caso concreto, poderá ser
enquadrado como motivo torpe (art. 121, § 2º, I, do CP).

RELAÇÃO COM A FUNÇÃO - Não basta que o crime tenha sido cometido contra
as pessoas acima listadas. É indispensável que o homicídio esteja relacionado com
a função pública desempenhada pelo integrante do órgão de segurança pública.

Assim, três situações justificam a incidência da qualificadora:


 O indivíduo foi vítima do homicídio no exercício da função.
Ex: PM que, ao fazer a ronda no bairro, é executado por um bandido.
 O indivíduo foi vítima do homicídio em decorrência de sua função.
Ex: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a
quadrilha que ele chefiava.
 O familiar da autoridade ou agente foi vítima do homicídio em razão dessa
condição de familiar de integrante de um órgão de segurança pública.

Ex: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa


como retaliação por ter conduzido operação policial que apreendeu enorme
quantidade de droga.

Tentado ou consumado - Incidirá a qualificadora tanto nos casos de homicídio


tentado, como consumado.

Elemento subjetivo - É indispensável que o homicida saiba (tenha consciência)


da função pública desempenhada e queira cometer o crime contra o agente que
está em seu exercício ou em razão dela ou ainda que queira praticar o delito contra
o seu familiar em decorrência dessa atividade.

Natureza da qualificadora - A qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva,


ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente (ele mata a vítima no
exercício da função, em decorrência dela ou em razão da condição de familiar do
agente de segurança pública).
Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com
o meio ou modo de execução.
Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa
qualificadora não se comunica aos demais coautores ou partícipes, salvo se eles
também tiverem a mesma motivação. Ex: João, por vingança, deseja matar o
Delegado que lhe investigou e, para tanto, contrata o pistoleiro profissional Pedro,
que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas lucrar
com a execução; João responderá por homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII e
Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do
inciso VII não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP: “Não se
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime”.

Impossibilidade de a qualificadora do inciso VII ser conjugada com o


privilégio do § 1º - O § 1º do art. 121 do CP prevê a figura do homicídio privilegiado
nos seguintes termos:
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-
qualificado. No entanto, para isso, é necessário que a qualificadora seja de
natureza objetiva. No caso do novo inciso VII a qualificadora é subjetiva. Logo, não
é possível que seja conjugada com o § 1º.

5-Homicídio culposo (art. 121, § 3º CP) - é o que advém do descumprimento de


um dever de cuidado objetivo, resultado da imprudência, imperícia ou negligência
do autor.
Aumento de pena no homicídio culposo § 4º do art. 121, CP – a pena aumenta
de 1/3 nas seguintes hipóteses:
a) – inobservância de regra de profissão, arte ou ofício – somente é
possível ocorrer quando o sujeito tem conhecimento técnico; conhece-a, mas a
desconsidera, não se confunde com imperícia, pois nesta pressupõe que o agente
não tem habilidade profissional, não domina conhecimentos técnicos. Atenta-se
para o fato de que para aplicar o aumento de pena a inobservância de regra técnica
não pode constituir-se em núcleo de culpa sob pena de bis in idem. Logo, seria
mister a concorrência de duas condutas distintas – uma para fundamentar a culpa,
e outra para configurar a majorante. Segundo entendimento do STF em julgamento
de HC nº 95078/RJ, em 10/03/2009 relator Min Cezar Peluso.
O homicídio culposo de trânsito encontra regulação especial no Código de
Trânsito Brasileiro (artigo 302 da Lei n.º 9.503/97).
A primeira parte do artigo 70 do Código Penal admite a hipótese de concurso
formal para o homicídio culposo. Se houver concurso de homicídios, ele será
homogêneo, se o crime de homicídio concorrer com outra espécie delitiva o
concurso será heterogêneo.
Obs.: A primeira parte do § 4.º do artigo 121 do Código Penal prevê que
será aumentada a pena do homicídio culposo quando o autor viola regra técnica
de profissão, arte ou ofício. Noutros termos, se, além da imprudência, imperícia ou
negligência, a conduta do autor denotar violação de norma técnica relativa
profissão, arte ou ofício, incidirá o aumento de 1/3 (um terço) da pena. Contudo,
deve se compreender a regra técnica violada como particularmente oponível ao
autor (ex: sendo engenheiro de segurança, orientar empregados de empresa a fim
de que laborem sem utilização do equipamento de proteção individual exigido).
A negativa de socorro à vítima ou a fuga do local para evitar a prisão em
flagrante também autorizam o aumento da pena. Mas quando justificadas a
omissão do socorro ou a fuga, o aumento por tais fundamentos não deve incidir. A
fuga, por seu turno deve ter o fim especial de evitar a prisão em flagrante.

Obs. - A segunda parte do § 4.º do artigo 121 do Código Penal é criticada


pela doutrina em razão da posição em que colocada dentro da norma, já que
deslocada da apreciação do homicídio doloso.
Seu objetivo, contudo, é o de impor maior proteção o menor de 14 anos e ao
maior de 60, que, pelas reduzidas aptidões físicas, presume-se não conseguirem
opor resistência às agressões que lhes são dirigidas.

6-Perdão Judicial (art. 121, § 5º CP) – extingue – se a punibilidade, no homicídio


culposo quando as consequências da infração venham atingir o sujeito de forma
tão grave, de sorte que seja desnecessária a aplicação da pena. Exemplo possível
disso é o homicídio culposo em que o pai desastroso mata o próprio filho, por certo
que sua “culpa”, entendida aqui como a agrura de seu sofrimento emocional, já é
punição suficientemente capaz de dispensá- lo da imposição de uma pena privativa
de liberdade, pelo que a lei confere ao Juiz a faculdade de deixar de aplicar a pena.
Também o acidente em que o próprio autor restou mutilado pode constituir hipótese
a ensejar o perdão judicial.

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