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1ª e 2ª AULA – 08.05.2013.
E-mail do prof.: gabrielhabib@yahoo.com.br
ESTUDO DA PARTE ESPECIAL DO CP:
Estudaremos os tipos penais mais importantes, ou seja, os que caem em provas. Para os demais,
basta a leitura em casa.
Indicações de bibliográficas:
• Tratado de direito penal – Cesar Roberto Bitencourt (saraiva) – vol. II e seguintes;
• Curso de direito penal – Rogério Greco (impetus) – vol. II e seguintes;
• Informativos STJ/STF.
O prof. traz uma classificação básica dos tipos penais, pois a maioria dos tipos do CP (80%) são:
• Materiais;
• Dolosos;
• Comissivos;
• Instantâneos
• Unissubjetivos ou de concurso eventual;
• Admitem tentativa.
Nos casos em que o prof. nada mencionar, é porque a classificação é esta. Quando for diferente,
haverá menção.
1° SEMESTRE DE 2013.
estudocemporcento@hotmail.com
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
A ideia é a seguinte: sempre que houver lesão a um bem jurídico sujeito à proteção, o direito penal
vai incidir, no entanto, se não houver lesão ao bem jurídico, o direito penal não irá proteger.
ART. 121 – HOMICÍDIO: “Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos”.
Bem jurídico tutelado: vida humana.
O prof. traz a lição de Franz Von Liszt, para o qual o homicídio consiste na destruição da vida
humana alheia. Atenção, pois o que se protege é a visa alheia, e é por essa razão que o suicídio não
é mais crime.
Destaque-se que a vida humana é um bem jurídico assegurado até mesmo pela CF, no art. 5°. É um
bem jurídico que é protegido desde a concepção, de modo que, uma vez concebida a vida humana,
já pode se falar do delito de aborto.
A supressão da vida humana alheia pode configurar duas espécies de crime: aborto e homicídio.
Como diferenciar tais? Em ambos se protege a vida humana alheia. A diferença entre um e outro
reside no início do parto, de maneira que a supressão da vida humana antes do início do parto
configura o aborto, independentemente de ser a vida intra ou extra uterina. Já a supressão da vida
humana após o início do parto vai configurar o homicídio.
Pergunta-se: quando que se dá o início do parto, para diferenciar? Vai depender de acordo com a
modalidade de parto. Irá depender se o parto é na modalidade normal ou cesariana. Sendo o parto
normal, o início ocorrerá com o chamado, doutrinária e dogmaticamente, “rompimento do saco
amniótico”. Na modalidade cesariana o parto se dá com as chamadas “incisões abdominais”.
Questão de prova: uma mulher, com oito meses e meio de gravidez se depara com um agente, com
dolo de matá-la, desfere um tiro em sua direção. A mulher morre, mas a criança é salva e, vem a
morrer, quinze dias após. O laudo pericial esclarece que a causa morte da criança foi o tiro
desferido pelo agente em sua mãe, quinze dias antes. Tipifique a conduta do agente em relação à
criança... Resposta: Em relação à mulher é homicídio doloso. Em relação à criança, não tinha como
não saber que ela estava grávida, já que estava com um barrigão de oito meses e meio, então ele
assumiu o risco de matar (dolo eventual). Quando ele desferiu o tiro já havia se iniciado o parto?
Não.
Em que momento se considera consumado o momento? O art. 4º do CP positivou a teoria da
atividade, segundo a qual se considera praticado o crime quando da omissão ou da conduta.
Em relação à criança o crime praticado foi o aborto (dolo eventual), e à mulher homicídio, de modo
que há concurso de crimes, e como a conduta única, é concurso formal impróprio (dolo + dolo). A
aplicação da pena se dá pelo critério da soma.
A vida humana é um bem jurídico indisponível, já a integridade física é disponível.
1° SEMESTRE DE 2013.
estudocemporcento@hotmail.com
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
A eutanásia é crime, mas há muito ela vem sendo enquadrada como homicídio privilegiado do §1º
do art. 1211 do CP.
Se a vida humana é um bem indisponível, não pode incidir o consentimento do ofendido como
causa de exclusão da ilicitude.
A eutanásia pode ser considerada, a depender do caso concreto, como motivo de relevante valor
moral, o que pode ocasionar a incidência de uma causa de diminuição de pena, que é a do homicídio
privilegiado.
Até quando pode falar em homicídio? Até a morte, que é quando o crime de homicídio se consuma.
Pode ocorrer do início do parto até a morte. O que se considera morte?
Existem duas espécies de morte: morte cerebral e a morte encefálica. Na morte cerebral não há mais
a função do encéfalo, mas ainda há a função do tronco cerebral (responsável por alguns estímulos)
(é uma meia morte). Na morte encefálica há a cessação irreversível das funções do encéfalo e do
tronco cerebral.
Para definir o momento da morte, em direito penal, adota-se o critério da morte encefálica, ou
seja, a cessação irreversível da atividade cerebral de modo que ainda que haja alguma vida
biológica, a pessoa já não mais se viabiliza.
Temos um conceito ex lege, ver art. 3° da Lei 9.434/972 – Lei de doação de órgãos e tecidos.
De outro lado, a presença de condições orgânicas precárias não autoriza retirar a vida de alguém. É
a questão da eutanásia, já apontada.
Sujeito passivo: quem é a vítima do homicídio? Segundo Franz Von Liszt o sujeito passivo é o ser
vivo nascido de mulher.
Ex.: um bebê nasceu morto. Alguém foi lá e, logo após o parto, deu um tiro nele. Tem homicídio?
Se a criança nasceu morta não houve lesão ao bem jurídico, então isso vai configurar um crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto.
Questão: anencéfalo (pessoa que nasce sem a calota craniana). Apesar de vivo e não ter expectativa
de sobreviver a longo tempo, se alguém lhe dá um tiro e a mata, tem homicídio? Sim, pois há vida!
OBS.: irmãos siameses (xifópagos): são duas ou uma vida? São duas pessoas, com personalidades
jurídicas distintas reunidas em um só corpo. Com isso há dois bens jurídicos vida.
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Art. 121 § 1°: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço”
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Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento
deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das
equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do
Conselho Federal de Medicina.
1° SEMESTRE DE 2013.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
Imaginemos tais sujeitos como vítimas de crime: o agente quer matar os dois. Atira no coração e
mata ambos. Quantos homicídios? Como são dois bens jurídicos, são dois homicídios em concurso
formal impróprio.
Por outro lado, se o agente quer matar o siamês ‘A’, mas não quer matar o ‘B’. Ele mira e atira na
cabeça do siamês ‘A’, mas como um não sobrevive sem o outro, consequentemente o ‘B’ vai
morrer. Já sabemos que há dois homicídios, mas em relação ao siamês ‘A’ há dolo direto de 1°
grau, mas em relação ao siamês ‘B’ há dolo direto de 2º grau (dolo de consequências necessárias)
ou dolo eventual ou? Questão controvertida na doutrina: 1ª. Posição: Bitencourt e Greco –
(majoritária) – em relação ao irmão siamês que o agente não queria matar, mas morreu, agiu com
dolo direto de 2° grau, isso porque a morte do siamês ‘B’ foi uma consequência necessária da
conduta do agente; 2ª. Posição: Nelson Hungria – em relação ao siamês ‘B’ o agente agiu com dolo
indireto eventual, porque ao provocar a morte do siamês ‘A’, ele assumiu o risco de causar a morte
do siamês ‘B’, então estamos diante de um dolo eventual.
Questão processual: o homicídio é um crime que deixa vestígios? Existe homicídio sem cadáver? O
homicídio deixa vestígios materiais e o que o CPP dispõe a respeito? O art. 158 do CPP fala em
exame de corpo de delito. Corpo de delito significa o conjunto de vestígios.
Existe homicídio sem cadáver? Sim, pois pode ser feito exame indireto (art. 167 do CPP). Apesar
de o homicídio ser um crime que deixa vestígios, pode se falar em homicídio sem cadáver, desde
que haja o exame de corpo de delito indireto.
Especialidades do crime de homicídio: há especificidades dentro do CP e também fora dele.
Exemplos:
►Art. 293 da Lei 7.170/1983 – homicídio do presidente da república, do presidente do senado, do
presidente da câmara dos deputados ou do presidente do STF. Ou seja, crimes em que a vítima é
qualquer dos chefes de poder.
►Art. 123, CP – crime de infanticídio. Tem alguns elementos especializantes. Sujeito ativo é a
mãe. Sujeito passivo é o filho. A mãe tem que estar influenciada pelo estado puerperal.
►Art. 124, CP – crime de aborto. Aqui também se suprime a vida humana. A especialidade é ainda
não ter havido o início do parto.
Vista a parte introdutória, vejamos:
Espécies de homicídio:
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Art. 29 - Matar qualquer das autoridades referidas no art. 26.
Pena: reclusão, de 15 a 30 anos.
Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do
Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação.
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.
1° SEMESTRE DE 2013.
estudocemporcento@hotmail.com
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
►Art. 121, caput: homicídio simples. É o simplesmente matar alguém. Por que matou? Porque quis
matar. Não tem motivação. Ocorre que é muito difícil acontecer matar sem nenhum motivo.
Como se chega num homicídio simples? Por exclusão, isto é, o homicídio que não for privilegiado
nem qualificado será simples.
O homicídio simples é um crime hediondo? Ver a Lei 8.072/1990. Esta lei se valeu do critério legal
para definir os crimes hediondos, de modo que apenas o que a lei estabelece é hediondo e se a lei
não disser não será hediondo.
Artigo 1º4 da lei 8.072/90.
Quanto ao Homicídio, há menção ao artigo 121 do CP, quando praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que por um só agente, e o homicídio qualificado (artigo 121, §2º, I a V,
CP). Devemos separar as normas.
Homicídio qualificado é um crime hediondo. E o homicídio simples é hediondo? E o privilegiado?
O art. 1°, I da Lei 8.072 menciona o art. 121 caput e o art. 121 § 2°, não mencionando o
privilegiado do § 2°. E o homicídio simples do art. 121, caput do CP? Duas correntes: 1ª. Posição:
Greco, Bitencourt (majoritária) – homicídio simples é um crime hediondo por expressa previsão do
art. 1º, I, primeira parte da Le 8.072/1990, desde que praticado em atividade típica de grupo de
extermínio. OBS.: mas o que é atividade típica de grupo de extermínio? O que vai caracterizar essa
atividade é a indeterminação da vítima, isto é, a vítima é indeterminada, de modo que se mata a
vítima porque ela pertence a determinado grupo ou classe social. Ex.: se mata a vítima porque ela
pertence a um grupo de mendigos. 2ª. Posição: Guilherme de Souza Nucci (minoritária) – o
homicídio praticado de forma simples em atividade típica de grupo de extermínio não é hediondo
porque essa atividade já configura o motivo fútil/torpe. Assim, se o motivo é torpe/fútil, o
homicídio será qualificado. Qualificado já está na lei como hediondo, então nunca será hediondo o
homicídio simples. O prof. se filia à posição de Nucci.
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Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de
1984)
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);(Inciso incluído pela Lei nº
8.930, de 1994)
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art.
273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela
Lei nº 9.695, de 1998)
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o,2o e 3o da Lei no 2.889, de
1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
1° SEMESTRE DE 2013.
estudocemporcento@hotmail.com
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
1° SEMESTRE DE 2013.
estudocemporcento@hotmail.com
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
No artigo 65, III, c do CP também há menção à violenta emoção, e lá tal é uma atenuante. A
diferença da atenuante para o privilégio é no sentido de que, na atenuante, o agente está apenas sob
a influência de violenta emoção. Já no privilégio o agente está sob o domínio de violenta emoção.
Esse domínio é muito mais intenso do que uma simples influência. O agente fica transtornado.
Como se prova isso? A questão vai dizer se era uma influência ou mero domínio. No caso concreto
há de se examinar as provas pertinentes.
Já vimos que a emoção é passageira, de modo que para a incidência do privilégio é preciso que a
ação se dê logo em seguida. O que isso significa e como devemos interpretar essa relação de
imediatidade? Para a doutrina convencional (Greco, Nucci, Bitencourt) até pode haver um espaço
de tempo entre a provocação e a conduta homicida do agente, mas esse intervalo não pode ser muito
longo.
Porém, o prof. destaca que há uma solução dada por Bitencourt. Ele vinculou a duração, o espaço
do logo em seguida à duração da violenta emoção. Ou seja, será ‘logo em seguida’ enquanto durar o
domínio da violenta emoção.
Como último elemento temos a atuação logo em seguida à injusta provocação da vítima.
Provocação e agressão são sinônimas? O privilégio se faz presente quando há a provocação da
vítima, de modo que a vítima provoca o agente e ele a mata. Caso a vítima ofereça uma agressão ao
agente e este matá-la por conta da agressão estaremos diante de uma legítima defesa, de uma
excludente da ilicitude.
Não confundir!
Ex.: se a vítima agredir o agente e ele matar a vítima por conta dessa agressão, dentro dos limites e
dos meios necessários, etc. = causa de exclusão da ilicitude.
Natureza jurídica do privilégio – causa de diminuição de pena.
O responsável pelo julgamento do homicídio privilegiado é o júri. O conselho de sentença
reconheceu o privilégio – o juiz é obrigado a reduzir a pena? A redução da pena é obrigação ou
faculdade do juiz? A lei disse ‘pode’. Em doutrina temos duas correntes: 1ª. Posição – Mirabete,
Fragoso, Magalhães Noronha – a redução do privilégio é uma faculdade do julgador. O artigo
dispõe que o juiz ‘pode’ reduzir, então a lei trouxe uma faculdade, mesmo que o júri reconheça o
privilégio. 2ª. Posição – dominante – Frederico Marques, Luiz Regis Prado, Bitencourt, Greco,
Damásio de Jesus, Celso Delmanto, Alvaro Mayrink da Costa – a redução pelo privilégio é uma
obrigação. Porque é uma obrigação? Há dois fundamentos para tal – 1°. Fundamento: Princípio da
soberania dos veredictos: o júri é soberano, logo, se se reconheceu o privilégio, o juiz está
vinculado à decisão do júri, estando obrigado a reduzir a pena. 2°. Fundamento: Súmula 1625, STF
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Súmula 162. STF. É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das
circunstâncias agravantes.
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– os quesitos de defesa devem vir antes das agravantes. Privilégio é quesito de defesa. Tem que ser
quesitado, sob pena de nulidade absoluta. Como é preciso que seja quesitado, se for quesitado e o
júri reconheceu, aí sim torna-se um direito subjetivo do acusado a obtenção da redução. Atenção: há
sim uma faculdade do juiz, mas tal se liga ao quantum de redução entre 1/6 e 1/3, mas a redução em
si é obrigatória.
►Art. 121, §2º: homicídio qualificado. O homicídio se qualifica porque ele é praticado – 1. Por
alguns motivos: motivo torpe ou fútil; 2. Por alguns meios do inciso III: fogo, asfixia, tortura; 3. Por
alguns modos: dissimulação, emboscada, traição... 4. Por alguns fins: assegurar a execução,
ocultação...
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Inciso I – homicídio mediante paga ou promessa de recompensa: chama-se homicídio mercenário.
Qual a diferença entre paga e mediante promessa de recompensa? Na paga o agente recebe
recompensa antes de executar o homicídio. Na promessa temos um recebimento futuro.
A recompensa, em tese, é obtida após a execução do homicídio.
Na promessa de recompensa, se o agente não receber a recompensa depois, incide a qualificadora?
Sim!! A qualificadora vai incidir, pois o que importa é o dolo do agente, que praticou o homicídio
motivado por isso.
Qual que natureza desta paga? Podem ser enquadrados como paga uma promoção no emprego; um
casamento; favores sexuais? Ou é preciso que haja natureza econômica? Duas correntes: 1ª.
Posição: Greco, Damásio de Jesus – (minoritários) – não se exige que haja o cunho econômico da
vantagem, de modo que podem ser favores sexuais, promessa de casamento, cargo político, etc.
Argumenta-se tal a partir de uma interpretação literal: a lei não exigiu, isto é, a lei não fala em
indevida vantagem econômica. 2ª. Posição: Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Fragoso, Mirabete,
Frederico Marques, Magalhães Noronha, Bitencourt, Luís Regis Prado – (majoritária) – a natureza
econômica é fundamental na recompensa para configuração do homicídio qualificado. Isso se dá
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
PROFA. GABRIEL HABIB - CURSO FÓRUM TV.
por interpretação teleológica. Quando o legislador criou esse inciso I teve em mente qualificar o
homicídio por questões financeiras.
Outra questão importante: quantas pessoas têm no homicídio mercenário? Uma pessoa que pagou
ou prometeu e a outra pessoa que executou. Essa qualificadora se aplica só ao executor ou a quem
pagou ou prometeu? Também temos duas correntes. 1ª. Posição: Bitencourt (pouco minoritária) –
aplica-se aos dois, a quem pagou ou prometeu e a quem executou, isso porque quem pagou ou
prometeu será tido como autor mediato do homicídio. Não faria sentido, pois o crime é o mesmo.
2ª. Posição: Greco, Luís Regis Prado (pouco majoritária) – nem sempre se aplica aos dois, em regra,
vai ser aplicada ao executor, mas até pode ser aplicada a quem pagou ou prometeu, mas não é uma
regra absoluta e automática, até porque quem pagou ou prometeu pode ter tido um motivo
relevante. Ex.: o pai que paga para matar o traficante que vendia drogas para o seu filho na escola.
Homicídio qualificado por motivo torpe:
É o motivo hediondo. Ex.: matar para receber herança; matar para receber indenização do seguro;
mulher matou a esposa do amante para ficar com ele.
Atenção, pois qualquer motivo patrimonial será motivo torpe.
No inciso II temos o motivo fútil, que é o motivo desproporcional/banal/insignificante. Ex.: matar
por dívida de bar. Ex.: matar o dono do bar porque se recusou a vender fiado.
TJ-SP homicídio por discussão decorrente de separação judicial.
Ciúme é motivo fútil? O STJ, num acordão muito antigo ( REsp 171.627 6) disse que não; Um
julgado mais recente (20117) dizendo que ciúme é motivo fútil.
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PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL HOMICÍDIO E LESÕES CORPORAIS.
QUALIFICADORAS. PRONÚNCIA.
I - A qualificadora de homicídio, para ser admitida na pronúncia (iudicium accusationis), exige a existência de indícios
e sobre eles, sucintamente, deve manifestar-se o magistrado (Precedente).
II - O ciúme, por si só, sem outras circunstâncias, não caracteriza o motivo torpe.
Recurso conhecido e desprovido.
(REsp 171627/GO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/09/1999, DJ 18/10/1999, p.
252)
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HABEAS CORPUS. DUPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO. PLEITO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO EM FATOS CONCRETOS. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA,
CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.
ORDEM DENEGADA.
1. No caso, há fundamentação concreta para a manutenção da custódia cautelar do paciente, levando em conta a
acentuada gravidade de sua conduta, pois o agente ceifou a vida da vítima, com quem teve um relacionamento
extraconjugal, e, também, do então namorado da mesma, por motivo fútil - ciúme doentio e injustificável -, em local
público e na presença de diversas pessoas, sendo certo que o modus operandi expressa maior periculosidade do
paciente.
2. A segregação foi determinada, também, para garantir a conveniência da instrução criminal, uma vez que o paciente
denota "ser pessoa violenta, tanto que registra outros antecedentes por tentativa de homicídio, e aparentemente temida
no pequeno distrito de Paraíso das Águas", e que, apesar do crime ter sido cometido na presença de várias pessoas,
salvo os familiares das vítimas, nenhuma outra testemunha arrolada afirmou ter presenciado os disparos, o que
"demonstra ser pessoa influente e temida na pequena localidade".
3. Ressalta-se, outrossim, que o paciente está foragido, pois evadiu-se do distrito da culpa logo após os fatos, tendo sido
citado por edital, sendo necessário, portanto, manter sua custódia cautelar a fim de garantir a aplicação da lei penal.
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A ausência de motivo configura motivo fútil? Duas correntes: 1ª. Posição: Capez, Greco – É motivo
fútil sim, porque o homicídio sem motivo configura um homicídio gratuito, que é até mais
reprovável do que se o agente tivesse um motivo. A supressão da vida humana é mais reprovável
que o motivo fútil e por isso tem que ser qualificado. 2ª. Posição: Luiz Regis Prado, Bitencourt,
Damásio de Jesus, Celso Delmanto (majoritária) – a ausência de motivo não pode ser motivo fútil,
pois não existe previsão legal.
OBS.: os motivos fútil e torpe aparecem na agravante do artigo 61, II, ‘a’ do CP – circunstâncias
agravantes. Diante de tais motivos no homicídio qualificado, essa agravante vai incidir? Não, pois
seria incidência em bis in idem.
Meios qualificadores: (inciso III). Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Primeiramente cabe destacar que todos esses meios figuram no artigo 61, II, ‘d’, CP: são
agravantes, mas não se aplicam aqui, pois essas circunstâncias já funcionam como qualificadora.
O que se entende por veneno? Para fins do direito penal é qualquer substância que possa causar a
morte da vítima. Para a pessoa que é diabética, açúcar é um veneno. Para a pessoa que tem alergia a
aspirina, isso é um veneno. Devem ser consideradas as condições da vítima.
Cuidado – o veneno, como qualificadora, tem que ser utilizado de forma dissimulada, isto é, sem
que a vítima saiba que está ingerindo o veneno. Com isso, se o agente usar da coação para dar o
veneno à vítima, o homicídio será qualificado, mas não pelo veneno e sim por meio cruel.
E quanto à asfixia? É o impedimento da função respiratória que pode ser tóxica ou mecânica.
O que se entende por tortura? É o meio que cause o padecimento da vítima.
OBS.: Tortura x Crime de tortura qualificada pela morte (artigo 1º, §3º, 2ª parte 8, Lei 9.455). Em
ambos os tipos há tortura e há morte. Como diferenciar? Através do dolo do agente. O dolo do
agente é o elemento distintivo.
No crime de homicídio qualificado pela tortura o dolo do agente é matar e a tortura é o meio
empregado para tal. É óbvio que a tortura dolosa, mas a finalidade do agente é matar a vítima e a
tortura é o meio empregado.
Já no crime de tortura qualificada pela morte o dolo é de torturar, mas em razão da violência
empregada, a vítima morre. A morte se dá a título de culpa, de modo que temos um crime
preterdoloso.
4. As condições pessoais favoráveis do agente, tais como domicílio certo e exercício de atividade lícita, não impedem a
manutenção da segregação cautelar, quando presentes os requisitos legais, como se dá na hipótese dos autos.
5. Habeas corpus denegado.
(HC 207.154/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe
20/10/2011)
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Art. 1°. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
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Seguindo: no inc. III ainda se fala em outro meio insidioso ou outro meio cruel.
Meio insidioso é o meio dissimulado, ao passo que o meio cruel é o meio que aumenta o sofrimento
da vítima.
Ex.: TJ-PR – o agente queria matar a vítima, para tal desferiu facadas. Enquanto a vítima estava no
chão, sangrando, ele impediu que outros a socorressem, ficando com uma arma de fogo ameaçando
as pessoas que tentaram socorrê-la. Meio cruel.
O que é perigo comum? É o perigo gerado a um número indeterminado de pessoas.
Ex.: TJ-SP – eu quero matar uma pessoa, vou atrás com a arma na mão, atirando no meio da rua.
Trata-se de perigo comum, pois se gera perigo a um número indeterminado de pessoas = homicídio
qualificado.
Modos qualificadores: (inciso IV). À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Atenção, pois o art. 61, II, ‘c’ do CP não incidirá aqui sob pena de bis in idem, pois já figura como
elemento do tipo.
Traição? É o ataque inesperado. Emboscada? Ocultação do agente, ficar de tocaia. Dissimulação?
Ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima.
O prof. dá a dica: há uma palavra que caracteriza tais modos qualificadores, que é utilizada pelo
ministro Felix Fischer: qualquer elemento que configurar surpresa será homicídio qualificado pelo
inciso IV.
Exemplos que configuram surpresa: ►TJ-SP agente que mata a vítima durante o ato sexual; ►TJ-
SP matar a vítima enquanto ela dormia; ►Tiro pelas costas; ►TJ-MG agente matou a vítima
enquanto ela estava tomando banho; ►TJ-SC agente que iludiu a vítima fingindo ser amigo dela e
matou a vítima.
►Desavença entre o autor e a vítima do crime antes do homicídio configura o elemento surpresa?
Jurisprudência – TJ-RS, SP e MT: Não.
►Traficante que mata policial militar quando ele está em diligência? TJ-RJ: não configura
surpresa.
Fins qualificadores do inciso V: para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime.
Agravantes do artigo 61, II, ‘b’ do CP não serão aplicadas aqui sob pena de bis in idem.
Assegurar a execução: mata-se a vítima para executar outro crime. Mato o teu segurança pessoal
para te sequestrar.
Assegurar a ocultação: aqui o crime não foi descoberto e mata-se a vítima para impedir que
descubram o crime praticado.
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Assegurar a impunidade: o crime já foi descoberto, mata-se a vítima para garantir a impunidade do
agente. Sabe-se que foi praticado um crime, mas não se sabe o autor.
Assegurar a vantagem: vantagem obtida pelo delito.
OBS.: se o agente matar a vítima para assegurar a execução do crime e não conseguir praticar o
crime, incide a qualificadora? Sim, basta o dolo do agente.
Quanto à ocultação ou à impunidade: se o agente matar a vítima para assegurar a ocultação ou a
impunidade de outro crime, já prescrito? Tem homicídio qualificado? O que importa é o dolo do
agente. Independentemente de o outro crime estar prescrito ou não, incide a qualificadora.
Jogo do bicho é crime? Não, é contravenção penal. Em homenagem ao princípio da legalidade não
está a abranger a contravenção penal. Com isso, se pratico um homicídio para assegurar a
impunidade de uma contravenção penal, não há a qualificadora.
ATENÇÃO! Temos a expressão “outro crime”, o que é isso? Qualquer crime ou não? Em tese, é
qualquer crime, porém há um crime que não está inserido aqui. Existe um crime que se desencadear
o homicídio não configurará a qualificadora! É o Roubo, porque o sujeito mata uma pessoa para
assegurar a execução de um roubo, não há homicídio qualificado, mas sim o crime de latrocínio, há
tipo próprio!
OBS.: é possível combinar as qualificadoras de um homicídio privilegiado e de um qualificado?
Imaginemos uma pessoa dominada por violenta emoção mata uma pessoa por asfixia. Sobre o tema
há 3 correntes: 1ª. Posição: Euclides Custódio da Silveira – não é possível que o homicídio seja ao
mesmo tempo privilegiado e qualificado. Isso porque o privilégio foi um benefício que o legislador
trouxe para o agente, reconhecendo que o agente tinha um motivo relevante por exemplo pra matar
a vítima e com isso trouxe a diminuição de pena. Se o legislador fez isso é porque, em qualquer
hipótese, ele quis privilegiar o agente. A incidência, ao mesmo tempo do privilégio e da
qualificadora, significa violar a vontade do legislador. Porque? Porque o este quis beneficiar o
agente com o privilégio e a incidência da qualificadora iria aumentar a pena. Com isso aqui se
entende que a incidência do privilégio automaticamente afasta a qualificadora. Esta posição é
isolada; 2ª. Posição: não, isso em razão da posição topográfica dos dispositivos no código penal.
Sabe-se que pela técnica legislativa brasileira, o parágrafo é uma continuação do caput do artigo e a
ele pertence, assim eles só podem ser aplicados ao caput do artigo. Não é possível aplicar os
parágrafos entre si, de modo que não posso combinar o § 1° ao § 2°, só sendo possível aplicá-los ao
caput do artigo. Logo, para a 2ª posição, é impossível que o homicídio seja qualificado e
privilegiado. Com isso afasta-se o privilégio e incido a qualificadora. Isso se dá pelo fato de a
qualificadora formar um novo tipo penal, isto é, a qualificadora é um tipo qualificado. O privilégio
não, sendo tão somente uma causa de diminuição de pena. Esta posição é jurisprudencial; 3ª.
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Posição: Nucci, Luiz Regis Prado, Greco, Bitencourt (majoritária) – é possível, desde que as
qualificadoras tenham natureza objetiva, sob pena de incompatibilidade. Quais são as
qualificadoras que têm cunho objetivo? Os motivos fútil e torpe são subjetivos (I e II) –
incompatíveis; Meios e modos (III e IV) são objetivos; Fins qualificadores (V) são totalmente
subjetivos. Então só as qualificadoras dos incisos III e IV são compatíveis com o privilégio, pois
só elas são objetivas. Ex.: o agente mata alguém por motivo relevante valor social com emprego de
veneno. É compatível. O que é incompatível é, por ex., o sujeito que mata por relevante valor moral
e por motivo fútil: há incompatibilidade. Esta é a posição majoritária e a da jurisprudência do
STF e do STJ.
OBS.: o homicídio qualificado privilegiado é um crime hediondo? Como a Lei 8.072/1990 adotou
o critério legal, por absoluta ausência de previsão legal este homicídio não é um crime hediondo.
Sendo o homicídio qualificado privilegiado, como se aplica a pena? Ex.: o agente matou o sujeito
com emprego de asfixia = art. 121, §2º, III do CP, mas ele o fez por motivo de relevante valor social
= art. 121, §1º do CP. Aplique a pena: três fases de aplicação da pena (art. 68 do CP) – pena base,
circunstâncias legais (agravantes e atenuantes) e causas de aumento e de diminuição.
Qual a natureza jurídica do privilégio? Causa de diminuição de pena: 3ª fase.
Qual a natureza jurídica da qualificadora? Tipo penal autônomo: 1ª fase – pena base.
Com isso, sendo o homicídio qualificado, já devo tomar a pena base do tipo qualificado.
Se o homicídio fosse simples a pena seria de 6 a 20 anos, mas sendo qualificado devemos partir da
pena de 12 a 30 anos.
Sendo o homicídio qualificado privilegiado a pena base começa de 12 a 30 anos e na terceira fase
incide o privilégio. O privilégio incide sobre a qualificadora.
Imaginemos: o sujeito comete um homicídio qualificado privilegiado, com a incidência de uma
agravante. Pela política da pena mínima, não há nada que desabone o agente, ficando a pena base de
12 anos. Pela incidência da agravante (2ª fase), o juiz decide por incidir um aumento de 3 anos.
Chegamos a 15 anos. Pela incidência do privilégio, que é causa de diminuição, o juiz decide por
reduzir de 1/3, que equivale a 5 anos. 15 – 5 = 10 anos.
Analisando agora a noção apenas do homicídio qualificado: agente matou alguém por motivo torpe
e com emprego de asfixia, por emboscada. Há três situações qualificadoras (inc. I, III e IV). Como
eu aplico essa pena? Quando houver mais de uma qualificadora devemos considerar, por
recomendação jurisprudencial e doutrinária o seguinte: uma das qualificadoras formará a pena base
= 12 a 30 anos, e as demais qualificadoras vão incidir a título de agravante. Assim, não haverá
nenhum bis in idem.
Fechamos o homicídio qualificado.
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3ª e 4ª AULA – 15.05.2013.
CONTINUAÇÃO – HOMICÍDIO.
►Art. 121, § 4°10: homicídio majorado. Há uma escala de aumento de pena.
O homicídio majorado traz algumas causas de aumento de pena, também chamadas de majorantes
específicas para uma o tipo culposo e para o tipo doloso, quais sejam:
• No homicídio culposo a pena é majorada em 1/3 se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro
à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante.
OBS.1: num homicídio, se a vítima tiver morte instantânea, pode incidir a majorante atinente à
omissão de socorro? A doutrina afirma que a pena é aumentada porque se quer que o agente preste
o socorro imediato, vindo-se a salvar o bem jurídico. Ocorre que se a vítima morreu
instantaneamente, não há mais bem jurídico a ser salvo, de modo que não incidirá a majorante. Em
suma, mesmo ocorrendo um homicídio culposo e se o agente não prestar o devido socorro no caso
da vítima tiver morte instantânea não incidirá a causa de aumento de pena. Atenção, pois crime de
homicídio culposo ainda persiste. O que não haverá é a incidência da majorante.
9
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
10
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3
(um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
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Quando estivermos no julgamento deste crime no laudo pericial que deverá constar o momento em
que houve a morte da vítima, pois não poderá o agente ter conhecimento no momento da conduta se
a vítima morreu instantaneamente ou não.
OBS.2: destaca-se uma especificidade no que toca à omissão de socorro, porém esta não é aquela
capitulada no art. 135 do CP. Esta omissão de socorro é uma causa de aumento de pena do crime de
homicídio culposo, em que o agente deu causa ao homicídio culposamente e não prestou socorro.
• Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 ou maior de 60 anos.
Neste caso estamos falando de crime doloso.
No caso do agente praticar o crime de homicídio doloso contra uma criança no dia em que esta
completou os seus 14 anos, esta é menor de 14 anos? Não, pois na data de seu aniversário ela
completa o seu 14º ano de vida, dando início ao 15º ano de vida, portanto, não é menor de 14 anos,
não incidindo a majorante ao agente neste caso. Este é o mesmo pensamento que devemos levar
para o estupro de vulnerável.
11
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
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O artigo 300 do CTB (vetado) trazia a figura do perdão judicial para o homicídio culposo (art. 302)
e a lesão culposa no trânsito (art. 303). Na sanção presidencial ocorreu o seu veto. Podemos aplicar
o perdão judicial no CTB? Não, pois não há lei autorizando.
Mas isso gera uma grande injustiça, até porque a maior causa de mortes culposas ocorrem no
trânsito. Mas por que houve tal veto? Razões do veto: é desnecessário que o art. 300 faça previsão
do perdão judicial porque o CP, no art. 121, §5º, já faz esta previsão. O próprio art. 291 do CTB
dispõe que ao CTB são aplicadas as normas da parte geral do CP. Com isso a intenção do veto não
foi proibir o perdão judicial ao CTB. No entanto, se exige que a lei autorize expressamente a
aplicação do perdão judicial.
Visto isso, a doutrina começou a sustentar que, de fato, o perdão judicial só pode ser concedido nos
casos em que a lei prevê, e também é verdade que no CTB não há esta autorização, mas de outro
lado é necessário se observar que em ambos os tipos penais temos a configuração de um homicídio
culposo, tendo como única diferença o fato de que um foi ocasionado na direção de veículo
automotor e o outro não, logo, por analogia, deve ser permitida a aplicação do perdão judicial ao
homicídio culposo do CTB e também à lesão corporal culposa do CTB, até porque, pelo teor das
razões do veto, nota-se que o Presidente da República quis que o perdão judicial fosse efetivamente
aplicado.
Hoje, STJ e o STF, de forma pacífica, admitem a aplicação do perdão judicial nos casos previstos
do CTB (homicídio culposo e lesão corporal culposa).
Qual é a natureza jurídica da sentença que aplica o perdão judicial? Tem natureza condenatória ou
absolutória? Se o perdão judicial tem natureza jurídica de causa de extinção da punibilidade, ora, o
que o juiz faz quando reconhece a prescrição, que também é uma causa de extinção da
punibilidade? Declara a extinção da punibilidade de réu. Sempre que o juiz se deparar com uma
causa de extinção da punibilidade ela terá que declará-la. Assim, a sentença que aplica o perdão
judicial está na verdade reconhecendo uma causa de extinção da punibilidade e por este
motivo terá a natureza declaratória. O juiz não condena e nem absolve, simplesmente declara
extinta a punibilidade. Isto está retratado na súmula 18 do STJ.
O perdão judicial é uma obrigação ou uma faculdade para o juiz? A questão é muito controvertida:
uma 1ª posição majoritária diz que a concessão do perdão judicial é uma faculdade do juiz, porque
sua aplicação variará de caso a caso. Já uma 2ª posição defende no sentido de que a concessão do
perdão judicial é obrigatória desde que haja uma relação de parentesco entre o autor e a vítima.
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►Art. 121, §6º, do CP: § 6° A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
Estamos falando do art. 288-A, do CP: constituição de milícia privada (Incluído dada pela Lei nº
12.720, de 2012).
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste
Código: (Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Estamos diante de uma causa de aumento de pena, e será analisada no devido momento em que
estudarmos o artigo 288-A, do CP.
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tratava de uma peça, deveríamos fazer uma denúncia, endereçada não à vara criminal, mas ao juiz
presidente do tribunal do júri.
Condutas:
• Induzir: o agente faz a ideia suicida nascer na vítima.
• Instigar: o agente alimenta, reforça a ideia suicida.
• Prestar auxílio: o agente está ligado a meios materiais. O que seria isso? Fornecimento de
uma arma de fogo, veneno, uma seringa etc. Mas até que momento há o fornecimento de
meios materiais hábil a configurar o auxílio ao suicídio? Qual é o limite entre o auxílio ao
suicídio e o homicídio? O auxílio só pode existir até o momento anterior do ato executório
de supressão da vida alheia, porque o auxílio não pode consistir na supressão da vida alheia
(homicídio). O fornecimento de meios materiais não pode configurar um ato executório de
supressão da vida alheia, senão teremos um homicídio.
Estamos diante de um tipo penal misto alternativo, ou seja, temos três verbos, três condutas. Assim,
se o agente praticar mais de uma conduta prevista no tipo (mais de um verbo), não configurará a
concurso de crimes. O agente pode induzir e auxiliar, e mesmo assim responderá uma única vez
pelo crime.
Observamos que há previsão de sanções diversas a depender do resultado: a morte e a lesão
corporal grave.
Qual é a natureza jurídica dos resultados morte e lesão corporal grave no crime de induzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio? A 1ª corrente diz que os resultados morte e lesão corporal grave
configuram condições objetivas de punibilidade, ou seja, o crime se consuma com o simples
induzimento, instigação ou auxílio. Se não houver a lesão corporal grave ou a morte não haverá a
punibilidade. Crime tem, mas não teremos punição. Esta posição é defendida por Nelson Hungria,
Aníbal Bruno, Greco, Luiz Regis Prado. Uma 2ª corrente diz que a lesão corporal grave e a morte
têm natureza jurídica de elementos do tipo penal, assim o crime é material, de modo que a morte e a
lesão corporal grave são resultados pretendidos pelo agente, e caso tais resultados não ocorram, a
conduta do agente será atípica. Não haverá crime. É a posição de Cezar Roberto Bitencourt,
Magalhaes Noronha, Damásio, Manzini, Silvio Ranieri, Luís Jiménez de Asúa.
Não temos a posição majoritária neste caso, porém o professor indica para concursos ficarmos com
a primeira.
A conduta de prestar auxílio pode ser praticada por omissão? Existe um auxílio por omissão?
Temos duas correntes: a 1ª corrente, minoritária, diz que não, pois a conduta prestar auxílio é
sempre uma conduta comissiva, uma prestação – é a posição de Euclides Custodio da Silveira,
Frederico Marques, Bento de Faria, Paulo Jose da Costa Junior, Damásio de Jesus, Cuello Callón. A
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2ª posição, majoritária, diz que sim, no caso da omissão imprópria, pois existe a figura do
garantidor: o enfermeiro, que está cuidado de uma pessoa internada, vê que ela tenta desligar os
aparelhos e se omite, nada fazendo. É a posição de Nelson Hungria, Cezar Roberto Bitencourt,
Greco, Luis Regis Prado, Anibal Bruno, Fragoso, Nucci, Ottorino Vannini, Manzini, Eugenio
Florian, Altavila, Antolisei, Edmund Mezger.
Como diferenciar o homicídio por omissão imprópria e o auxílio a suicídio por omissão imprópria:
devemos sempre perquirir a intenção da vítima. No caso do auxílio por omissão imprópria, o agente
quer suprimir a sua própria vida e o agente se omite, quando deveria agir. O paciente que retira o
respirador artificial para se matar e o enfermeiro vê e nada faz: auxílio ao suicídio por omissão
imprópria. Criança que está se afogando na praia e o salva vidas vê e nada faz: homicídio por
omissão imprópria. A criança não tinha a intenção de suprimir a própria vida enquanto que o
paciente tinha.
Consumação: para que o crime seja consumado, basta a configuração do induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio? Ou é necessário ocorrer a lesão corporal grave ou a morte? Tema altamente
controvertido e há três correntes: 1ª. Posição: a consumação se dá tão somente com a morte da
vítima, porque este crime é um crime material. Quando o agente pratica a conduta ele quer a morte
da vítima. O resultado lesão corporal grave não consuma o crime, de modo que havendo lesão
corporal grave estaríamos diante de uma simples tentativa deste crime. Ocorre que aqui, esta
tentativa é chamada de ‘tentativa qualificada’, pois será punida nos moldes do art. 122 e não do art.
14, II do CP. Se a vítima não sofrer nada a conduta será atípica. Esta posição é isolada e é de Cezar
Roberto Bitencourt; 2ª. Posição: afirma-se que, pela leitura do tipo penal, se percebe que o crime se
consuma com o mero induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, isto é, basta o induzimento, a
instigação, e o auxílio. O preceito primário do tipo não traz nada além destas condutas, porém, a
punição está condicionada à morte ou à lesão corporal grave. É a posição, majoritária, de Nelson
Hungria e Luiz Regis Prado; 3ª. Posição: o crime se consuma com a morte ou a lesão corporal
grave. Se a vítima nada sofrer ou sofrer meramente uma lesão corporal leve, o crime não se
consuma, o fato será atípico. É a posição minoritária do Rogério Greco. Para Greco sequer há
tentativa, sendo um irrelevante penal.
Para provas objetivas: seguir posição majoritária. Cuidado, pois para provas de Banca CESPE:
seguir Cezar Roberto Bitencourt.
Este crime admite a tentativa?
Devemos sempre nos lembrar dos crimes que não admitem tentativa: regra geral, crimes culposos,
preterdolosos, contravenções penais, crimes habituais, omissivos próprios. Temos a exceção onde
devemos definir se o crime é unisubsistente ou plurisubsistente.
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Definir se o crime é unisubsistente ou plurisubsistente como sendo aquele que pode ou não ter
fracionado o seu iter criminis é errado. O iter criminis sempre pode ser fracionado (cogitação,
preparação, execução e consumação). Crime executado não é o mesmo que crime consumado, pois
entre a execução e consumação podemos ter: desistência voluntária (art. 15), arrependimento eficaz
(art. 15), crime impossível (art. 17), tentativa (art. 14, II). Se nada disso acontecer podemos ter o
crime unisubsistente, pois este é conceituado como aquele em que não podemos fracionar o
ato executório (não o iter criminis como um todo).
Cabe tentativa? Esse crime do art. 122 é um crime unisubsitente ou plurisubsistente? Duas
correntes: a 1ª posição diz que a tentativa não é admitida, porque este crime é unisubsistente. O
mero fato de induzir, de instigar ou de prestar auxílio já conduz à consumação do crime. É a posição
majoritária defendia por Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Luiz Régis Prado, Mirabete, Euclides
Custodio da Silveira, Greco. Uma 2ª corrente, isolada, diz que sim (Cezar Roberto Bitencourt): diz-
se que o crime admite tentativa porque o crime é material, de modo que o agente quer a morte da
vítima, ou seja, se a morte não ocorrer o resultado fica aquém do pretendido pelo agente, ou seja,
tentativa. Ademais, a tentativa está expressa no artigo no preceito secundário. Porém, o autor
destaca que esta tentativa só será admitida se se tratar de uma tentativa cruenta, que é aquela em que
o objeto material do crime é atingido, não cabendo na tentativa incruenta, pois a vítima nada sofre.
►Art. 122, p. único do CP:
Parágrafo único - A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Inciso I: motivo egoístico está ligado à questão individual do agente (herança, receber valor de
seguro, etc.).
Inciso II: quem é a vítima menor? É menor, para fins legais, aquele que possui abaixo de 18 e acima
de 14 anos. O menor de 14 anos não tem o necessário discernimento para compreender os atos da
vida, e nesta linha de raciocínio, ele não teria a capacidade para consentir atos de cunho sexual, por
exemplo (art. 217-A do CP). Neste sentido, se a vítima do crime em comento for menor de 14 anos,
ela não terá discernimento para cometer o suicídio, de modo que a consequência será: homicídio.
OBS.: atenção! Aqui não se fala em ausência de capacidade de resistência, e sim na redução da
capacidade de resistência. Se for ausência da capacidade de resistência, a vítima será uma pessoa
sem nenhum discernimento e assim teremos o crime de homicídio. Contudo, se a vítima tiver a sua
capacidade de resistência diminuída, ela terá muito mais propensão a praticar o ato de suicídio. Por
ex., embriaguez, vítima com enfermidade ou sob o efeito de substância entorpecente, vítima com
doenças mentais como depressão, neurose, etc. Nestes casos a pena deve ser majorada.
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E a roleta russa, configura este crime? Temos quatro pessoas brincando de roleta russa. Um morre.
Os demais respondem por induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio? Sim, os sobreviventes
respondem pelo art. 122 do CP – posição da doutrina.
Encerramos o art. 122 do CP.
INFANTICÍDIO.
►Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
pós: Pena - detenção, de dois a seis anos.
Estamos diante de um crime próprio, pois somente quem pode praticá-lo será a mãe, sob o estado
puerperal.
O sujeito passivo será o recém nascido daquele parto, pois se a mãe, influenciada sob o estado
puerperal, logo após o parto, matar filho já nascido, mia velho, estará incorrendo no crime de
homicídio e não infanticídio.
Temos duas agravantes chaves, que são: art. 61, II, “e”12 e “h”: em ambos os casos não podemos
afirmar que serão aplicadas porque descendente (“e”) e criança (“h”) já são elementos do tipo no
crime em estudo.
A partir de quando falaremos em infanticídio? Quando falamos em aborto e quando falamos em
infanticídio? O critério utilizado para distinguir será o mesmo entre aborto e homicídio, ou seja, o
marco será o início do parto.
Para falarmos em infanticídio é necessário termos a existência da vida biológica,
independentemente da capacidade de vida autônoma.
O que vem a ser o estado puerperal? Segundo a doutrina é uma perturbação fisiopsíquica que
sempre ocorre em razão do parto. Ocorre que esta alteração fisiopsíquica nem sempre perturba o
psíquico da mulher. Temos quatro hipóteses em que o estado puerperal pode ocasionar na mulher:
1. Nada. A mulher teve o parto e o estado puerperal nada influenciou o psíquico dela; 2. O estado
puerperal pode ter alterado o psíquico da mulher; 3. O estado puerperal pode gerar uma doença
mental na mulher; 4. O estado puerperal pode gerar uma diminuição da capacidade de entendimento
da mulher, ou seja, alterar o seu discernimento.
Se a mulher, após o parto, matar o recém-nascido sem que o estado puerperal tenha gerado
nenhuma consequência ela responderá por homicídio. Só falaremos em infanticídio se a mulher
matar seu recém-nascido nos casos em que restar comprovado que o estado puerperal causou uma
alteração em seu psíquico. Caso a mulher se torne doente mental em razão da influência do estado
12
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o
agente cometido o crime:
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
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puerperal em seu psíquico, ela será tratada como uma pessoa penalmente inimputável pelo critério
biopsicológico e sendo assim, incidirá o art. 26, caput13 do CP, e será isenta de pena. Teremos uma
absolvição imprópria e, se for o caso, com a imposição de medida de segurança.
Entretanto, se a mulher matar o seu próprio recém-nascido logo após o parto e verificando-se que
houve a influência do estado puerperal, causando-lhe uma diminuição da capacidade de
entendimento, teremos a sua equiparação ao semi-imputável (art. 26, p. único do CP14).
O tipo penal traz também um elemento temporal: “durante o parto” ou “logo após”. O que vem a ser
“durante o parto”? Do início ao fim. E o que vem a ser o “logo após o parto”? O Código Penal
Italiano assevera expressamente “imediatamente após o parto”. O Código Penal Chileno traz um
prazo de 48 horas.
É evidente que dependerá da mulher. A doutrina amarrou bem esta questão ao asseverar que o “logo
após o parto” deve ser vinculado à duração do estado puerperal. Assim, enquanto durar o estado
puerperal será o “logo após”. Para a Medicina, o estado puerperal dura de 6 a 8 semanas, mas o
Direito Penal não utilizou o critério da Medicina.
Questão de prova – DPRJ: Mãe que, sob influência do estado puerperal, durante o parto ou logo a
pós, mata o próprio filho de forma culposa, violando o dever objetivo de cuidado. Tipificar a
conduta. Há duas correntes: 1ª. Posição: a hipótese configura fato atípico, porque a mãe está a
reunir todos os elementos típicos do crime de infanticídio, porém a forma de conduta, culposa, não
é contemplada no tipo penal, e sendo assim, não teremos crime. É a posição isolada de Damásio de
Jesus. 2ª. Posição: entende que não se trata de infanticídio, porque a conduta foi culposa, mas como
houve a supressão de uma vida, estaremos diante de um homicídio culposo. É a posição dominante
e defendida por Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Fragoso, Cezar Roberto Bitencourt, Luiz Regis
Prado, Mirabete, Greco. A banca queria a citação das 2 posições, mas com ênfase para a 1ª, que é
mais favorável ao acusado. Ademais, a posição do homicídio culposo também não é tão ruim, pois a
pena é de 1 a três anos, sendo possível a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos.
Questão relevante sobre concurso de pessoas: já vimos que o crime do art. 122 é um crime próprio.
Mas se um terceiro matar o recém-nascido junto com a mãe, que estava sob o estado puerperal,
qual será a conduta de ambos? A mãe responderá por infanticídio. E o terceiro? Há duas correntes:
1ª. Posição: o terceiro responderá pelo crime de homicídio pela simples razão de ele não estar
influenciado pelo estado puerperal, não ter sofrido o parto e não ser a mãe da criança morta. É
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Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
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Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL.
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posição amplamente minoritária e é defendida por Fragoso, Aníbal Bruno, Nelson Hungria; 2ª.
Posição: amplamente majoritária assevera que o terceiro também responderá por infanticídio,
porque incidirá o art. 3015 do CP, ou seja, neste caso as elementares do crime se comunicarão. Esta
corrente é defendida por Magalhaes Noronha, Roberto Lira, Bento de Faria, Basileu Garcia, Luiz
Regis Prado, Cezar Roberto Bitencourt, Greco.
O art. 30 do CP nos informa que não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime. Mas para entendermos o artigo temos que saber a
diferença entre elemento do tipo e circunstância. Elemento é tudo aquilo que está contido no tipo
penal, é tudo aquilo que o tipo descreve, que se suprimido, faz desaparecer o tipo penal. Tudo
que está escrito no tipo é elemento.
A circunstância influencia a pena, enquanto o elemento influencia no tipo. Na segunda fase da pena
temos as circunstâncias legais, as atenuantes e agravantes – ver o artigo 61 (circunstâncias
agravantes) e o artigo 65 (circunstâncias atenuantes), então toda e qualquer circunstância influencia
na pena.
As circunstâncias e as condições pessoais não se comunicam com o outro concorrente para o crime.
Imaginemos: ser irmão da vítima é uma circunstância agravante (art. 61, II ‘e’ do CP), e o seu
concorrente não recebe este agravamento da pena, pois o fato de o outro consorte ser irmão da
vítima é uma circunstância pessoal e não se comunica. A reincidência é também uma circunstância
pessoal, e não se comunica.
A exceção é: pode acontecer que excepcionalmente a circunstância pessoal se comunique ao
coautor. Isso acontecerá quando a circunstância pessoal for elemento do crime (elemento do tipo).
Assim, quando o tipo penal trouxer uma circunstância pessoal como elemento do tipo ela se
comunicará com o coautor.
Ser mãe e estar sob o estado puerperal são condições pessoais e são elementos do tipo. É como se o
terceiro fosse mãe e estivesse agido sob o estado puerperal. É por isso que, se um 3° atuar em
concurso com a mãe, ele responderá por infanticídio – art. 122 c/c art. 30 do CP.
Outra situação envolvendo concurso de pessoas: e se o terceiro matar a criança e a mãe somente
auxiliar? Em tese seria homicídio. E em tese a mãe ao auxiliar praticou infanticídio. Será que a
presença da mãe na sujeição ativa do crime, apesar de ser partícipe, faz com que o crime todo seja
encarado como infanticídio. Ou podemos cindir a situação, de modo que o terceiro atue como autor
do homicídio e a mãe como partícipe do infanticídio? Poderíamos ter autoria no art. 121 e a
participação no art. 123 do CP? Já aprendemos que a participação é acessória à conduta do autor.
Como fica a situação? Temos quatro correntes:
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Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
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• 1ª. Posição: nesta hipótese a mãe responde por infanticídio e o terceiro por homicídio.
Ambos são autores. É a posição de Nelson Hungria, minoritária;
• 2ª. Posição: ambos responderão por infanticídio porque a presença da mãe na sujeição ativa
do delito faz com que a tipificação seja feita no infanticídio (majoritária). É a posição do
Damásio de Jesus, Rogério Greco e Nucci;
• 3ª. Posição: a participação é uma conduta acessória e, no caso, o fato principal foi praticado
pelo terceiro, que não é a mãe. Se o fato principal foi praticado pelo terceiro, e a
participação é sempre acessória, a princípio, o terceiro responderia por homicídio, e a mãe
seria partícipe deste homicídio praticado pelo 3°. Entretanto, a mãe atuou na forma do art.
29, § 2º16 do CP, que traz o instituto do desvio subjetivo de conduta também chamado de
cooperação dolosamente distinta. A ideia do art. 29 § 2° do CP é no sentido de que temos
dois concorrentes para o crime e o acerto inicial neste concurso de pessoas é praticar um
crime “X”, mas durante a execução deste crime “X” um deles desvia a sua conduta para
praticar um crime mais grave. O artigo em questão é direcionado ao agente que não desviou
a sua conduta, pois este responderá pelo crime inicialmente cogitado e não pelo crime mais
grave praticado pelo desvio de conduta do outro agente, que por sua vez responderá pelo
desvio. Assim, ambos responderiam por homicídio, o terceiro como autor e a mãe como
partícipe, mas mãe, por estar influenciada pelo estado puerperal, quis praticar o crime de
infanticídio, ou seja, quis concorrer com um crime menos grave, agindo desta forma de
acordo com o art. 29, § 2º do CP. O terceiro responderá por homicídio e a mãe por
infanticídio. O que tirou a mãe do homicídio e a trouxe para o infanticídio foi o art. 29, § 2º
do CP. É a posição de Cezar Roberto Bitencourt;
• 4ª. Posição: a princípio ambos respondem por homicídio porque o fato principal é do
terceiro que matou a criança e a mãe seria partícipe do homicídio praticado pelo terceiro.
Entretanto, se a participação da mãe for uma participação de menor importância (29, §1° do
CP) ela continuará a responder por participação no homicídio, só que a ela será aplicada a
diminuição de pena prevista no art. 29, §1º 17 do CP, isto é, aplicará a pena do homicídio
simples com a diminuição de 1/6 a 1/3. É uma forma de reduzir a pena da mãe, porque
sendo a mãe partícipe do homicídio não seria justo aplicar a ela uma pena mais grave do que
se ela fosse autora do infanticídio. Estar-se-ia punindo com mais gravidade a participação do
que a autoria, quando na verdade tem que ocorrer o inverso. É a posição defendida por Luiz
Regis Prado.
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Art. 29. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
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Art. 29. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
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ABORTO:
Art. 124 ao 12818 do CP.
O que é o aborto?
Conceito: o aborto consiste na interrupção da gravidez com a consequente morte do feto havendo
ou não a sua expulsão qualquer que seja o seu estado evolutivo desde a nidação até momentos antes
do parto.
O que é a nidação? Quando se inicia a vida?
Do ponto de vista biológico a vida se inicia com a fecundação. Do ponto de vista jurídico, a vida se
inicia com a nidação, ou seja, com a implantação do óvulo fecundado no útero, 14 dias após a
fecundação. Para o Direito Penal o critério adotado é o jurídico, o momento inicial do crime de
aborto é a nidação, e é só a partir daí que podemos falamos em aborto.
A pílula anticoncepcional configura um meio abortivo? A função da pílula anticoncepcional é
impedir a ovulação e se esta não ocorre não há o que ser fecundado. Se não há fecundação, não há a
nidação e por este motivo a pílula anticoncepcional não configura um meio abortivo.
E a pílula do dia seguinte? Configura um meio abortivo? Também não. Ela impede a nidação e por
isso não é meio abortivo.
O bem jurídico tutelado é a vida em formação, a vida intrauterina que está se formando até o início
do parto.
É imprescindível destacar que o único aborto que é crime é o doloso, porque é muito comum a
mulher abortar culposamente, naturalmente.
Não teremos a agravante prevista no art. 61, II, “e” e “h”, do CP.
A consumação ocorre com a morte do feto, do embrião.
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Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou
debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas,
se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
representante legal.
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Pode o aborto culposo ser praticado por omissão? O médico recomenda o uso de certa medicação
que se não for tomada, a grávida abortará. A mulher não toma a medicação por esquecimento (não
houve dolo) e aborta. No caso, não há aborto. Mas e se ela dolosamente não tomar a medicação,
sabendo que se não tomar, irá sofrer um aborto natural? Neste caso ela responderá por aborto por
omissão imprópria, por ser garantidora. É uma posição pacífica. Delmanto, Frederico Marques,
Damásio, Euclides Custódio da Silveira.
Espécies de Aborto:
• Auto-aborto: art. 124, 1ª parte, do CP.
• Aborto consentido: art. 124, 2ª parte, do CP.
• Aborto consensual: art. 126, do CP.
• Aborto sem o consentimento da gestante: art. 125, do CP.
• Aborto qualificado: art. 127, do CP.
• Aborto legal: art. 128, do CP.
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Aborto Consensual
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos,
ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência.
A figura do p. único do art. 126 é mais grave, pois as situações lá previstas levam à presunção de
que a gestante não tem capacidade para consentir. De modo que incide a pena do aborto sem o
consentimento (art. 125). No caso do consentimento obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência, o consentimento existe, mas ele é tratado como viciado e por isso a ele se aplica o art.
125.
Aborto Qualificado
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Segundo o prof. a redação está errada, pois não se trata de aborto qualificado, mas sim de aborto
com a incidência de uma majorante.
Outro ponto: pela redação do artigo só está abrangida a lesão corporal grave e não a lesão corporal
leve. Então, se pelos meios empregados para o aborto, a vítima sofrer lesões corporais leves, não
será aplicado o aumento do art. 127.
O art. 127 não é aplicado ao auto aborto pelo princípio da lesividade, pois se a mulher realiza
manobras abortivas sobre ela mesma e causa lesões nela mesma, esta auto lesão não pode ser
punida. O auto aborto é punido, mas a auto lesão não.
Os dois resultados do art. 127, lesão corporal grave ou morte, sempre decorrerão de culpa, porque
são resultados do crime. Caso o agente do crime provoque lesão corporal grave a título de dolo ou a
morte a título de dolo teríamos o concurso de crimes: aborto doloso + lesão corporal de natureza
grave ou aborto doloso + homicídio doloso.
Qual é a diferença entre o aborto qualificado pela lesão grave (art. 127 do CP) e a lesão corporal
qualificada pelo aborto (art. 129, §2º, V, do CP)? O dolo, porque no art. 127 o dolo é de aborto e
culposamente se gera uma lesão grave, e o dolo no art. 129, §2º, V é de causar lesão corporal grave
e, culposamente a lesão grave gera o aborto.
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Se dos meios empregados para o aborto o feto não morre, mas ocorre a lesão grave ou a morte da
gestante, o que teremos? Já vimos que o aborto se consuma com a morte do feto. O que ocorre no
caso? Qual a tipificação? Temos três correntes:
• 1ª. Posição: incidirá a causa de aumento normalmente. Teremos tentativa de aborto
majorado pela lesão grave ou pela morte da gestante. É a posição majoritária: Nelson
Hungria, Bitencourt, Mirabete, Frederico Marques, Fragoso;
• 2ª. Posição (isolada): o agente responderá pelo aborto consumado, qualificado pela morte ou
lesão grave. É a posição de Luis Regis Prado;
• 3ª. Posição: estamos diante de uma tentativa de aborto em concurso com lesão corporal
culposa ou homicídio culposo. Há dois crimes. É a posição de Euclides Custódio da Silveira.
Para provas objetivas, citar a 1ª posição.
Dúvidas: 1. Se a gestante apresenta uma carteira de identidade falsa e a pessoa que realiza a conduta
crê que ela possui mais de 14 anos, quando de fato não possui. Como se tipifica? Aborto com
consentimento da gestante.
Próxima aula, seguiremos no estudo do art. 128 do CP.
5ª AULA – 22.05.2013.
CONTINUAÇÃO – ABORTO – ANÁLISE DO ART. 128 DO CP.
►Art. 12819. Este dispositivo traz uma permissão legal para a prática do aborto, o qual deve ser
necessariamente realizado por médico.
No inc. I temos o aborto necessário/terapêutico/profilático e no inc. II temos o aborto
humanitário/ético/sentimental.
De início destaque-se que há uma posição específica de um constitucionalista – Vidal Serrano
Nunes Júnior – (posição isolada, mas importante), no sentido de que a norma do art. 128 do CP é
inconstitucional. Tecnicamente falando ela foi revogada pela Constituição. Diz-se que a
Constituição traz uma limitação material, uma cláusula pétrea que é o direito à vida e
independentemente de qualquer coisa, qualquer norma penal ou extrapenal é incompatível com a
Constituição... É uma posição interessante, mas minoritária. Em provas discursivas devemos
mencionar esta posição, alertando que se trata de posição minoritária, para demonstrar mais
conhecimento.
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Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
representante legal.
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Inciso I – ‘se não há outro meio de salvar a vida da gestante’. Questão de prova oral: existe causa
de exclusão da ilicitude na parte especial do CP? Sim! No art. 128, I do CP.
O que temos no estado de necessidade? A função do direito penal é proteger bens jurídicos. No
estado de necessidade temos dois bens jurídicos em conflito e numa situação de perigo. A lei
permite às pessoas, sem a intervenção estatal, sacrificar um bem para salvar o outro.
Marar alguém é permitido ou proibido? As duas coisas... É possível matar, desde que em estado de
necessidade, exercício regular do direito... Então podemos dizer que matar alguém é proibido, mas
excepcionalmente permitido.
De acordo com a teoria unitária, que ainda vigora no direito penal, só posso sacrificar um bem que
seja de valor igual ou superior ao bem sacrificado.
Voltando para o aborto, temos de um lado a vida da gestante e a vida do feto. Inexistindo outro
meio de salvar a vida da gestante, a lei permite que o médico sacrifique a vida do feto, salvando a
vida da gestante.
Então o art. 128, I do CP é um verdadeiro estado de necessidade previsto na parte especial do CP...
Mas ao fundamentar este estado de necessidade não devo fazê-lo no art. 24 do CP, mas sim no art.
128, I do CP.
Destaque-se que a gestante não pode falar para o médico: salve o feto e me deixe morrer, isto
porque a opção do legislador foi pela vida da gestante.
Também não há necessidade de consentimento da gestante, isto por dois motivos. O primeiro é
teleológico. Se há risco de morte para a gestante, o risco é para ela, não podendo a mesma avaliar a
situação. E mais, quando o legislador desejou exigir o consentimento, ele o fez expressamente,
como ocorreu no art. 128, II do CP. Com isto, o médico pode realizar o aborto com base no inc. I,
mesmo contra a vontade da gestante – primeiro porque o médico está no estrito cumprimento de um
dever legal, pois o médico figura como garantidor. Em 2° lugar: mesmo que seja feito o aborto
contra a vontade da gestante, a conduta sequer pode ser considerada um constrangimento ilegal, em
razão de existir previsão expressa no art. 146, § 3°, inc. I20 do CP.
Não havendo médico no estabelecimento a conduta, poderá a conduta ser realizada por enfermeira
ou parteira? Segundo a doutrina, é possível, pois estará esta pessoa amparada pelo estado de
necessidade, mas cuidado, o enquadramento aqui é o do art. 24 do CP e não do art. 128, I do CP,
que abrange apenas o médico.
Inciso II – aborto humanitário.
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Art. 146. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por
iminente perigo de vida;
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Aqui temos dois requisitos cumulativos: que a gravidez decorra do crime de estupro e que haja o
consentimento da gestante.
Questão interessante: no inc. I o aborto tem natureza de estado de necessidade, e aqui, no inc. II?
Aqui não há mais risco à vida, tanto é que se exige o consentimento da gestante.
Qual é a natureza jurídica? Há duas correntes: 1ª. Posição – age o médico amparado por uma causa
de exclusão de ilicitude. Em doutrina esta é a posição de Hungria, Fragoso, Bitencourt. Ocorre que
a doutrina não firma qual seria esta causa... Estrito cumprimento do dever legal? Não, pois não é
seu dever... Estado de necessidade? Não. Legítima defesa? Não. Exercício regular de um direito?
Até poderia ser, pois se a gestante consentiu, seria possível. Daí o prof. afirma que seria uma causa
de exclusão de ilicitude supralegal. É a posição majoritária; 2ª. Posição: afirma-se que o médico age
amparado por uma causa de inexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de exclusão
de culpabilidade. É a posição de Rogerio Greco.
Ponto de prova quanto ao consentimento da gestante: havendo o consentimento, é necessária a
autorização judicial? Não! Não há tal exigência legal. Não se exige também nenhum processo que
prove a ocorrência do estupro, contudo o médico deve se certificar acerca da ocorrência do crime de
estupro. Tal pode se dar via laudo pericial, representação da vítima em sede policial...
OBS.1 – ABORTO EUGÊNICO OU EUGENÉSICO. É a interrupção da gravidez, causando-se a
morte do feto, para evitar que a criança nasça com graves defeitos genéticos. São defeitos genéticos
que levariam a criança à morte após o nascimento. É permitido no Brasil? Não! Deveria ser? A
doutrina sustenta que sim, mas qual é a base de sustentação da viabilidade do aborto eugênico no
Brasil? Temos duas posições: 1ª. Posição – de fato não é permitido, mas deveria ser, estando a
pessoa amparada pela inexigibilidade de conduta diversa, causa supralegal de exclusão da
culpabilidade – posição de Bitencourt e Régis Prado. Alguns juízes autorizam, com base em tal
posição; 2ª. Posição: também argumenta a permissibilidade, com base na ideia de que o Estado e a
própria sociedade têm interesse numa qualidade de vida de seres independentes, e não na existência
da vida a qualquer custo. Aqui se entende que se trata de uma causa supralegal de exclusão da
ilicitude – é a posição de Alberto Silva Franco.
OBS.2 – ABORTO DO ANENCÉFALO. Anencéfalo é aquele que nasce sem a ‘calota craniana’ e
fatalmente vai morrer. A lei não contempla tal possibilidade, mas poderíamos permitir? Se sim, qual
é o fundamento?
A jurisprudência e a doutrina se movimentam no sentido de se autorizar este aborto. Sob qual
fundamento? Não há no anencéfalo uma vida própria. O que há é uma vida humana, mas
absolutamente vivendo ‘às custas’ do organismo maternal, eis que não há nenhuma possibilidade de
vida autônoma após o nascimento.
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LESÃO CORPORAL:
►Art. 129: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a
um ano.
Conceito de lesão corporal: É a conduta através da qual qualquer pessoa (crime comum) sem
animus necandi ofende os bens jurídicos, integridade corporal e saúde da pessoa humana (objeto
material do crime) ou agrava uma situação já existente produzindo por qualquer meio (de livre
ação) uma alteração prejudicial, anatômica ou funcional, física ou psíquica, local ou generalizada
em outrem.
A lesão à integridade corporal se liga a lesões que incidem sobre o corpo humano, fraturas,
equimoses... Visíveis ou invisíveis. Quando se fala na saúde temos a perturbação das funções
fisiológicas do organismo, inclusive a alteração do psiquismo. Uma pessoa que causa uma neurose,
uma depressão na outra. Qualquer perturbação mental também se enquadra.
As duas ofensas podem decorrer da mesma conduta? Sim, neste caso teremos um único crime.
Pode existir o consentimento do ofendido na lesão corporal? O bem jurídico protegido é disponível
ou indisponível? Temos duas posições: 1ª. Posição: majoritária (Fragoso, Nucci e Bitencourt) – é
disponível ao argumento de que existe uma lei (9.434/97, lei de transplante) que autoriza a
disponibilidade da integridade corporal, pois se a pessoa quiser, ela pode doar um órgão. Ex.:
colocação de brincos, tatuagem, participação em lutas corporais, doação de sangue. 2ª. Posição: em
sentido diverso se entende que tudo depende da classificação da lesão. A integridade física só será
disponível na hipótese de lesão corporal leve, de modo que se a lesão for de natureza grave ou
gravíssima, o bem jurídico será indisponível. É a posição de Rogerio Greco, porém minoritária.
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ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões.
Considerações.
FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA –
SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA.
Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos
artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal.
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Há hipóteses em que fica clara a exclusão do crime, ou seja, onde se verifica a ausência de lesão
corporal. Devemos ter isto como alerta, pois cai em provas! É a situação que envolve intervenções
cirúrgicas e práticas desportivas. Nestas hipóteses não se fala em lesão. Porque? Primeiramente, na
intervenção cirúrgica, com finalidade curativa, o médico age sobre a excludente de ilicitude do
exercício regular do direito. Por mais lesão que se cause ao paciente operado, há o exercício regular
de um direito (a doutrina é tranquila neste sentido). No caso de práticas desportivas temos a
necessidade de esta ocorrer dentro das regras, nesta hipótese também se estará diante de uma causa
de exclusão da ilicitude, com o argumento no exercício regular de um direito. Ex.: prática de lutas,
UFC, lesões causadas no futebol. Tudo pode ocorrer, dentro das regras do ‘jogo’. O prof. lembra do
caso de Tyson, que arrancou um pedaço da orelha do adversário com os dentes. Há lesão corporal?
Sim, pois ele extrapolou ‘as regras do jogo’.
A lesão leve é a lesão corporal que não resulta em nenhum dos resultados previstos no § §1º ou no
2º. A lesão que não resultar nenhuma das consequências destes parágrafos será uma lesão leve.
Portanto, é um critério de exclusão assim como ocorre no homicídio simples.
Destaque-se que as lesões corporais dos § § 1º e 2º são resultados qualificadores. Estes resultados
qualificadores resultarão de dolo ou culpa, ou ambos? Será que eu posso lesionar uma gestante de
forma culposa, causando-lhe aborto? Há duas posições doutrinárias.
1ª. Posição: (dominante) todos os resultados qualificadores podem decorrer tanto de dolo quanto de
culpa, com exceção de duas hipóteses – a 1ª delas é a do § 2º, II, que é a do resultado perigo de
vida, e a do § 2º, V, que traz o aborto. Tais hipóteses só poderão decorrer de culpa e nunca de dolo.
Se eu causo uma lesão corporal com o dolo de causar perigo à vida, a intenção do agente é matar, de
modo que teríamos, na verdade, uma tentativa de homicídio. A lesão corporal seria o meio para a
morte. Da mesma forma, se eu causar uma lesão corporal com o dolo de aborto, na verdade teremos
um concurso de crimes: lesão corporal + aborto, pois não há aborto culposo.
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2ª. Posição: (minoritária) assevera que todos os resultados decorrem de dolo ou culpa. É a posição
de Guilherme Souza Nucci. Esta posição é amparada pela posição de uma penalista brasileira,
Esther de Figueiredo Ferraz. Afirma-se que no que toca aos resultados qualificadores, a regra geral
é que eles decorram sempre de dolo ou de culpa, eles só não decorrerão de dolo quando a lei
expressamente excluir o dolo. Quando a lei faz isso? Nucci explica dando como ex. o art. 129, § 3º
(lesão corporal seguida de morte) – temos o resultado morte e o crime é preterdoloso por
excelência, pois a própria lei, neste caso, exclui o dolo direto e eventual. Se a lei, na lesão do caput
e dos § § 1° e 2°, não excluiu o dolo expressamente, é porque a lei não quis excluir o dolo.
Inciso I: incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias. O que significa a expressão
“ocupações habituais”? São as atividades desenvolvidas rotineiramente pelas pessoas, com fins ou
sem fins lucrativos, desde que lícitas. Trabalho, lazer, estudo, afazeres domésticos... Ir à academia,
ao parquinho, estudar... Tudo isso são ocupações habituais. A pessoa tem o habito de ir à academia
todos os dias, sofre uma lesão e fica impossibilidade de ir à academia por mais de 30 dias, incide a
qualificadora? Sim!
Isso a abrange a conduta lícita, porém imoral? Ex. a prostituta que fica impedida de “trabalhar” por
mais de 30 dias, em razão de uma lesão corporal, incide a qualificadora? A atividade profissional da
prostituta é lícita e por isso incide a qualificadora. Apesar de imoral é atividade lícita (Bitencourt,
Greco). O que é ilícito é manter a casa de prostituição, manter a prostituição.
Como se prova que a incapacidade durou mais de 30 dias? É uma questão processual – ver art. 168,
§ 2º22 do CPP – deve ser realizado o exame de corpo de delito complementar.
Como a lei exige mais de 30 dias, deve-se aferir a incapacidade no 31° dia. Com isto, pelo
mandamento processual, no 31º dia deve ser feito o exame.
22
Art. 168. § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá
ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
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Inciso II: perigo de vida. Para a doutrina majoritária é a hipótese que só pode decorrer de culpa,
como destacamos acima. Significa séria probabilidade de morte, ou seja, é a concreta probabilidade
da vítima morrer em razão das lesões sofridas.
Como se realiza esta prova? Ex.: perfuração do abdômen através de lesão penetrante, estado de
choque com hemorragia, traumatismo craniano, fratura do crânio, etc.
Inciso IV: aceleração de parto. Atenção – não estamos falando de aborto, que configura uma
qualificadora específica do § 2°, V. Trata-se de mera aceleração de parto, de modo que a criança
nasce com vida.
Nesta hipótese, quem é o sujeito passivo da lesão corporal? A mulher grávida. Sendo a gestante não
incidirá a agravante do art. 61, II, “h”, pois mulher grávida já é elemento do tipo da lesão corporal
qualificada, e acaso incidisse, consolidaria o bis in idem.
Questão de prova – e se o agente não sabia que a mulher estava grávida, incidirá a qualificadora?
Não, pois não existe dolo por ausência do elemento consciência, e nem a culpa pela ausência do
elemento previsibilidade da conduta delitiva do crime culposo.
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§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Inciso I: incapacidade permanente para o trabalho. Aqui, naturalmente, estamos diante de uma
qualificadora ligada ao sustento da vítima, ao meio de subsistência – ou seja, envolve uma atividade
profissional e deve ser remunerada. E mais uma vez: a qualificadora é duradoura, permanente e não
perpétua.
Questão de prova – a qualificadora incidirá se a vítima ficar incapacitada para qualquer trabalho ou
somente para aquele exercido por ela anteriormente? Temos duas correntes: 1ª. Posição:
(majoritária) assevera que a qualificadora incidirá se a vítima ficar incapacitada para o exercício de
qualquer trabalho (Nelson Hungria, Frederico Marques, Damásio de Jesus). 2ª. Posição:
(minoritária) assevera que a qualificadora incide bastando que a vítima fique incapacitada para
exercer o trabalho que anteriormente desempenhava especificamente porque não se pode exigir que
ela exerça atividade diversa daquela que se especializou. E em segundo lugar se destaca que se
assim não fosse, a qualificadora dificilmente incidiria, porque dificilmente não haverá um trabalho
que a pessoa não pudesse realizar, daí nunca incidiria a qualificadora (Greco e Nucci).
Inciso II: enfermidade incurável. É aquela doença com séria probabilidade de não ser curável. Há
muitas doenças no passado que eram encaradas como incuráveis e atualmente são passíveis de cura.
A questão da incurabilidade tem que ser analisada no momento da conduta.
Transmissão do vírus HIV: podemos falar em tentativa de homicídio ou será lesão corporal? Temos
quatro posições:
1ª. Posição: Esta hipótese configura homicídio tentado ou consumado, pois a AIDS é uma
doença mortal, sem cura (Greco);
2ª. Posição: Esta questão, da transmissão do vírus da AIDS, pode configurar uma das
condutas previstas nos arts. 13123, 129, §2º, II (lesão grave) e 121 (homicídio). Tudo a
depender do dolo do agente (Luiz Regis Prado);
23
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o
contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
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3ª. Posição: Depende do dolo do agente, podendo configurar o art. 131, 129, §3º (lesão
corporal seguida de morte) e 121 (homicídio) (Cezar Bitencourt);
4ª. Posição: Configura lesão corporal grave qualificada pelo perigo de vida (art. 129, §2º,
II). É a posição do Mirabete.
Há uma decisão do STJ (HC 9378 24) no sentido de que se o agente portador do vírus sabia que era
portador e tem o dolo, a conduta será configurada como tentativa de homicídio. No mesmo sentido
há um julgado o TJ/SP.
O STF no inf. 584 julgou o HC 98712 de 2010, (min. Marco Aurélio) asseverando que configuraria
a prática do art. 131 do CP.
Entendendo configurar o delito do art. 129 § 2° II do CP – STJ, HC 160982/DF25 de 2012.
Inciso III: perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Já sabemos o que é membro, sentido
ou função.
24
HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. PORTADOR VÍRUS DA AIDS.
DESCLASSIFICAÇÃO. ARTIGO 131 DO CÓDIGO PENAL.
1. Em havendo dolo de matar, a relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS é idônea para a
caracterização da tentativa de homicídio.
2. Ordem denegada.
(HC 9378/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 18/10/1999, DJ 23/10/2000,
p. 186)
25
HABEAS CORPUS. ART. 129, § 2.º, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL. PACIENTE QUE TRANSMITIU
ENFERMIDADE INCURÁVEL À OFENDIDA (SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA). VÍTIMA
CUJA MOLÉSTIA PERMANECE ASSINTOMÁTICA. DESINFLUÊNCIA PARA A CARACTERIZAÇÃO DA
CONDUTA.
PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA UM DOS CRIMES PREVISTOS NO CAPÍTULO III, TÍTULO I,
PARTE ESPECIAL, DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.
SURSIS HUMANITÁRIO. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DAS INSTÂNCIAS ANTECEDENTES NO PONTO,
E DE DEMONSTRAÇÃO SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DO PACIENTE. HABEAS CORPUS PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADO.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 98.712/RJ, Rel. Min. MARCO AURÉLIO (1.ª Turma, DJe de
17/12/2010), firmou a compreensão de que a conduta de praticar ato sexual com a finalidade de transmitir AIDS
não configura crime doloso contra a vida. Assim não há constrangimento ilegal a ser reparado de ofício, em razão de
não ter sido o caso julgado pelo Tribunal do Júri.
2. O ato de propagar síndrome da imunodeficiência adquirida não é tratado no Capítulo III, Título I, da Parte
Especial, do Código Penal (art. 130 e seguintes), onde não há menção a enfermidades sem cura. Inclusive, nos
debates havidos no julgamento do HC 98.712/RJ, o eminente Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, ao excluir a
possibilidade de a Suprema Corte, naquele caso, conferir ao delito a classificação de "Perigo de contágio de moléstia
grave" (art. 131, do Código Penal), esclareceu que, "no atual estágio da ciência, a enfermidade é incurável, quer dizer,
ela não é só grave, nos termos do art. 131".
3. Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a conduta deverá será apenada com mais rigor do que
o ato de contaminar outra pessoa com moléstia grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2.º inciso II, do
Código Penal.
4. A alegação de que a Vítima não manifestou sintomas não serve para afastar a configuração do delito previsto no art.
129, § 2, inciso II, do Código Penal. É de notória sabença que o contaminado pelo vírus do HIV necessita de constante
acompanhamento médico e de administração de remédios específicos, o que aumenta as probabilidades de que a
enfermidade permaneça assintomática. Porém, o tratamento não enseja a cura da moléstia.
5. Não pode ser conhecido o pedido de sursis humanitário se não há, nos autos, notícias de que tal pretensão foi avaliada
pelas instâncias antecedentes, nem qualquer informação acerca do estado de saúde do Paciente.
6. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado.
(HC 160.982/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2012, DJe 28/05/2012)
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Questão de prova – caso de órgãos duplos, por ex., os rins. O agente que perde um dos rins
configura perda de função? Não, é debilidade permanente, configurando a qualificadora do § 1º, III.
Outra questão: cirurgia de mudança de sexo – é crime? Configura perda ou inutilização de membro,
sentido ou função? De fato há perda da função sexual e reprodutora.
Não é crime, mas a doutrina diverge no que toca ao fundamento da perda da função sexual e
reprodutora. 1ª. Posição: a cirurgia não configurará a lesão corporal em razão do consentimento do
ofendido (causa supralegal da exclusão da ilicitude) (Luiz Regis Prado). 2ª. Posição: sustenta que
há atipicidade formal da conduta (ausência de dolo). O médico não tem o dolo de causar a lesão, de
retirar a função sexual e reprodutora (Nucci e Bitencourt). Há posição do TJ/SP neste sentido (é
atípica a conduta de médico que realiza a ablação de órgão sexual, visando curar o sujeito de
problema psíquico).
Inciso IV: deformidade permanente. Aqui trabalhamos com a deformidade física permanente e não
perpétua. É aquela que altera a forma original do corpo humano.
Temos duas questões... Deve ser a deformidade permanente estética ou visível? Duas correntes: 1ª.
Posição: sim, a deformidade deve ser estética e visível. É preciso que se cause constrangimento e
vexame à vítima. Aqui se busca a mens legislatoris, que se liga à estética da pessoa e à visibilidade
da lesão. Esta posição majoritária é protagonizada por Bitencourt e Luiz Regis Prado. 2ª. Posição:
não, não sendo necessário que haja uma alteração visível e estética na pessoa, bastando que a
deformidade cause na vítima uma alteração da forma original do corpo humano. Não precisa ser
estético e visível, até porque a noção de beleza é um critério subjetivo. Posição de Nucci.
E se esta deformidade permanente for reparada por cirurgia? Ainda assim ocorre a incidência da
qualificadora? Para a doutrina, mesmo que haja reparo por cirurgia plástica, incide a qualificadora
porque já houve a produção do resultado e a vítima não pode ser obrigada a fazer a cirurgia para
reparar a lesão.
Inciso V: aborto. É uma das exceções das quais só vai decorrer de culpa.
O sujeito passivo só pode ser mulher grávida.
Não incidirá a agravante do art. 61, II, “h”, do CP.
Se o agente não sabia que a mulher estava grávida, incidirá a qualificadora? Mesmo caso do art.
§1º, IV. Se o agente não sabia da gravidez, não incidirá a qualificadora, pois faltou ao agente a
previsibilidade objetiva com relação ao crime culposo.
Art. 129, §3º: infração penal preterdolosa – lesão corporal seguida de morte.
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6ª AULA – 22.05.2013.
Art. 129, §4º:
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço.
Redação igual ao art. 121, §1º, do CP – homicídio privilegiado. Tudo o foi explicado no art. 121,
§1º se aplica no presente estudo.
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Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
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Esta lesão corporal leve do § 9° do art. 129, inserida pela Lei 10.886/2004, cuja pena foi aumentada
pela Lei 11.340/2006, é leve, grave ou gravíssima? Para a doutrina se trata de uma lesão corporal
leve, não sendo qualificada por nenhum outro resultado.
Omissão de Socorro
O art. 135-A foi introduzido pela Lei 12.653/2012, como se fosse uma variação da omissão de
socorro. É uma novidade.
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-
hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
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Para que haja a prática da calúnia, deve haver a imputação de um fato determinado, definido, e não
genérico. Não precisa ser descrição minuciosa.
Quando se fala em “fato definido como crime” envolve a contravenção penal? Não, ao argumento
do princípio da legalidade. Uma imputação de fato contravencional não será calúnia, porém será
uma difamação.
O crime se consuma independentemente de a vítima se sentir ofendida, o que significa dizer que
estamos diante de crimes formais.
Na calúnia não se pune não só quem pratica a ação e sim quem a divulga ou a propaga.
O crime de calúnia, de difamação e injúria são delitos de tendência. O que isso significa? Temos os
delitos de intenção, também chamados de delitos de tendência interna transcendente (eles têm um
especial fim de agir). Não basta aqui o dolo do agente.
Na calúnia, o dolo do agente é de caluniar, mas o agente também possui o especial fim de agir, que
é ofender a honra da vítima. No STJ o tema já chegou algumas vezes e a Corte já asseverou que na
ausência do especial fim de agir não falamos em crime por atipicidade.
Exceção da verdade
Art. 183. § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.
Como regra geral é admitida na calúnia. A exceção é não admitir a exceção da verdade na calúnia.
A exceção da verdade é a defesa apresentada pelo ofensor para provar que o fato que ele imputou é
verdadeiro. Teremos o não cabimento nas três hipóteses do § 3° do art. 183:
Inciso I: se o crime é de ação penal privada existe o princípio da disponibilidade. A vítima
do crime de ação privada pode não concordar com a persecução penal, considerando a
preservação da vítima;
Inciso II: em razão da importância do cargo das pessoas mencionadas é que não se admite a
exceção da verdade;
Inciso III: respeito à coisa julgada. Imaginemos que o prof. impute ao Daniel o crime de
roubo. Naquele processo pelo crime de roubo Daniel foi absolvido. Isso quer dizer que o
Estado disse que Daniel não praticou o roubo. Se já houve uma coisa julgada neste sentido
eu não posso querer provar que o roubo aconteceu.
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Exceção da verdade
Art. 139. Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário
público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
Enquanto na calúnia a exceção da verdade é cabível como regra, na difamação é bem diferente, pois
o cabimento se dá de forma excepcional. Na difamação a exceção da verdade só cabe em uma única
hipótese: se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções (isso
se dá em razão do interesse público envolvido).
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A injúria protege a honra subjetiva, e é com base nisso a doutrina afirma que a criança e o doente
mental não podem ser vítimas de injúria, porque eles não têm as condições necessárias de perceber
e avaliar a conduta ofensiva perpetrada contra eles, ou seja, não têm aptidão para compreender o
caráter ofensivo da conduta injuriosa.
Não admitimos a exceção da verdade porque na injúria não há imputação de fato.
Perdão judicial.
Art. 140. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
“O juiz pode deixar de aplicar pena” = perdão judicial.
Inciso I: quando o ofendido de forma reprovável diretamente provocou a injúria. Apesar de
a injúria não precisar de ser praticada na presença da vítima, esta hipótese do inc. I deve ter
ocorrido na presença de quem realizou a injúria.
Inciso II: comum em discussões acaloradas.
Injúria real.
Art. 140. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo
meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Cuidado – aqui a injúria consiste em violência ou vias de fato, significando dizer que elas
consideram o meio empregado para a injúria. Meio aviltante = meio humilhante. O dolo final do
agente não é de molestar a vítima e nem de lesioná-la, e sim de violar a honra da vítima.
Um tapa na cara da vítima pode ser uma lesão corporal ou uma injúria real a depender do dolo do
agente. A diferença entre a injúria real e a lesão corporal será o dolo do agente.
A pena deste crime é de 3 meses a um ano além da pena correspondente a da violência. O Código
Penal esta cheio de hipóteses como esta (ex.: art. 329, §2º27).
Esta violência é a que resulta da lesão corporal. O que temos aqui? Temos concurso de crimes ou
temos mera cumulação de penas? Se dissermos que há concurso de crimes teremos dois crimes e na
sentença terá o juiz que fundamentar os dois crimes e em seu dispositivo condenará pelos dois
crimes, aplicando a pena de dois crimes, e da FAC do acusado terá dois crimes. De outro giro, se
dissermos que é uma mera cumulação de penas teremos apenas um crime praticado, o juiz
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Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo
ou a quem lhe esteja prestando auxílio: § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.
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fundamentará apenas um crime, no dispositivo será condenado por um crime, e sua FAC constará
apenas um crime. Sendo cumulação de penas o juiz, no dispositivo da sentença terá que cumular a
pena do art. 140, §2º + a pena da violência, ou seja, do art. 129 do CP. Temos na verdade uma
mera cumulação de penas. Depois que o juiz aplicar a pena da injúria real, irá aplicar também a
pena da lesão corporal, não havendo a condenação pelo crime de injúria real e lesão corporal... A
condenação é apenas pela injúria real, mas com a aplicação de pena da injúria real e da lesão
corporal. No frigir dos ovos dá no mesmo, mas a diferença é que no primeiro caso a condenação
será por dois crimes enquanto no segundo a condenação será por apenas um crime.
Disposições comuns:
Temos causas de aumento de pena. Basta leitura.
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação
ou da injúria.
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a
pena em dobro.
Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de injuriar ou difamar;
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III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que
preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.
Dispositivo que traz as imunidades:
Inciso I: estamos diante da chamada imunidade judiciária. Muito comum no juízo de
família. Atenção, pois a ofensa deve guardar relação com a causa discutida em juízo.
Inciso II: autoexplicativo.
Inciso III: autoexplicativo.
Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Fala-se em querelado, pois a regra em tais crimes é serem os mesmos de ação penal privada (art.
145 do CP).
A retratação é um instituto que detém natureza jurídica causa de extinção de punibilidade, com
fulcro no art. 107, VI, do CP. Pela leitura temos que a retratação não abrange a injúria.
Atenção – fala-se em retratação antes da sentença, ou seja, decisão de 1ª instância. com isto o
acórdão de segunda instância não está aqui abrangido, a uma porque a lei não quis assim e a duas
porque o que se deseja é o arrependimento.
7ª AULA – 29.05.2013.
►Art. 146 – Constrangimento Ilegal.
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Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou
a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
O sujeito passivo é qualquer pessoa, inclusive a pessoa deficiente mental.
É um crime que viola o princípio da legalidade, positivado no art. 5º, II, da CRFB/88. Não se trata
numa violação do princípio da legalidade previsto no CP (art. 1º). Quando o agente constrange a
vítima a fazer algo, promove ofensa ao que preconiza o art. 5° II da CF.
Através deste crime o agente anula, por meios de atos executórios, a livre manifestação de vontade
da vítima. Há uma anulação da liberdade pessoal com violência ou grave ameaça.
O que significa: “Depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio...” – aqui não temos
violência ou grave ameaça, mas sim o emprego de uma fraude. Ex.: utilização de álcool, substância
entorpecente lícita ou ilícita.
OBS.: como que iremos diferenciar o constrangimento ilegal deste artigo com o constrangimento
ilegal do art. 34528 do CP? Aqui, o autor tem uma pretensão que a vítima faça alguma coisa, e esta
pretensão sempre será uma pretensão ilegítima porque se a pretensão for legítima não será o
constrangimento ilegal do art. 146 do CP, mas sim o art. 345, do CP.
Pretensão legítima é aquela que pode ser levada ao Poder Judiciário normalmente. A partir do
momento que a pretensão for ilegítima é que estaremos diante da conduta prevista no artigo em
estudo.
Quando teremos a consumação? Seguirá a regra geral dos crimes materiais. Não basta o
constrangimento da vítima com os meios executórios, sendo necessário que a vítima faça algo ou
deixe de fazer algo.
Se olharmos para o iter criminis temos a cogitação, preparação, execução e consumação. O meio
executório no crime é o constrangimento. A consumação só se operará quando a vítima praticar ou
não a conduta. Se houver o constrangimento e a vítima deixar de praticar o ato, o crime não estará
consumado.
Por ex.: o prof. está no metrô, saca uma faca e obriga seu desafeto a mudar de vagão no metrô. O
crime apenas se consuma quando o seu desafeto efetivamente muda de vagão. Trata-se de uma
pretensão ilegítima, e o crime apenas se consuma quando a vítima praticar ou deixar de praticar a
conduta.
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Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
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Este tipo é um tipo subsidiário por excelência. É subsidiário, por exemplo ao roubo. Se houver um
constrangimento para a obtenção, mediante violência, de um celular, estaremos diante de um roubo.
Por outro lado, se o sujeito constrange para praticar ato sexual, há estupro.
Flanelinha que diz que o preço do estacionamento é 15 reais, sob pena de furar os pneus, quebrar os
vidros... Neste caso estamos diante de extorsão e não de constrangimento ilegal.
Normalmente o que diferencia o constrangimento dos outros delitos é o especial fim de agir...
Constrange alguém, com o fim de obter indevida vantagem econômica... Extorsão.
Aumento de pena
Art. 146. § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do
crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
Reunião de “mais de três pessoas”: cuidado – não pode haver a cumulação com o crime de
quadrilha!
Primeiro porque a pluralidade de pessoas já figura no próprio tipo, como causa de aumento de pena.
A quadrilha é uma associação de pessoas de forma permanente, estável que se destina a prática de
crimes, o que se jamais se confunde com a coautoria, onde nós temos a reunião de pessoas para a
prática de um único crime ou de crimes específicos.
Nesta reunião de mais de 3 pessoas se computam os inimputáveis, bastando que uma das pessoas
seja penalmente imputável.
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temos é a prática de uma conduta, que causa uma lesão ao bem jurídico tutelado de terceiro
(liberdade individual), para salvar uma vida. Qual é o instituto através do qual se sacrifica um bem
para salvar outro, desde que este seja de menor ou igual valor? Estado de necessidade... Mas se o
próprio dispositivo afirma: não se compreendem nas disposições deste artigo...: não seria causa de
excludente da tipicidade?
Temos duas posições a respeito. 1ª. Posição: defende que estamos diante de uma causa de exclusão
da ilicitude, estado de necessidade, pois a lei possibilita que se sacrifique o bem judicio liberdade
para salvar a vida. Pergunta de prova oral – Existe causa de excludente de ilicitude na parte especial
do Código Penal? Sim, estamos diante dela, além daquela prevista no art. 128, I do CP – é a posição
de Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Luiz Régis Prado, Mirabete. 2ª. Posição: estamos diante
de uma causa de exclusão da própria tipicidade porque o próprio tipo penal exclui a sua incidência
da conduta. É um pouco minoritária. É a posição de Damásio de Jesus, Cezar Bitencourt e
Delmanto.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, inclusive o doente mental, da mesma forma que o
deficiente físico. No caso de deficiente físico, que tem dificuldade de se locomover, a pena base
deve ser aumentada, em razão de a conduta ser mais reprovável.
Sequestro e cárcere privado; sequestro ou cárcere privado? Alguns afirmam que há diferenças, mas
a própria lei tratou como sinônimos.
Este crime é um crime permanente, ou seja, é o crime que uma vez consumado, a consumação se
prolongará no tempo.
Enquanto a vítima estiver com a liberdade privada o crime está se consumando.
Crime permanente é aquele que se arrasta no tempo, mas sua maior característica é que nele
o agente controla a permanência, isto é, o agente faz nascer e faz cessar a permanência.
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É por isto que temos reflexos na prescrição penal. O art. 111, III do CP dispõe que a contagem do
prazo prescricional dos crimes permanentes se dá no dia em que cessar a permanência. A lei quis
evitar que o agente manipulasse o ius puniendi estatal.
A pena máxima do art. 148 é de 3 anos que prescreve em 8 anos. Se a contagem fosse a partir do
início da privação da liberdade, num caso de privação da liberdade por 8 anos ou mais, o crime
estaria prescrito.
Esta privação da liberdade tem que ter um período relevante. Não há uma fixação pela lei, mas se
entende que a privação por 10 ou15 minutos não é um período relevante.
O crime é material, além de permanente.
Cuidado!! A privação da liberdade como meio para obtenção de dinheiro ou de vantagem indevida
faz surgir o crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) – caso haja o especial fim de agir
migramos para o art. 159.
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já for obter uma conjunção carnal, a privação da liberdade já foi um ato executório para o estupro
(princípio da consunção). Há uma absorção.
Se o dolo for tão somente obter a conjunção carnal teremos o estupro. O crime em estudo é a
privação da liberdade com fins libidinosos. O dolo aqui é privar a liberdade.
Devemos sempre olhar para o dolo do agente.
Se o agente tiver o dolo de privar a liberdade com fins libidinosos e depois, de forma autônoma,
tiver outro dolo de praticar a conjunção teremos um concurso de crimes.
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Art. 346 (exercício arbitrário das próprias razões) – “Tirar, suprimir, destruir ou danificar
coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção”.
“Coisa alheia” – O proprietário da coisa pode ser sujeito ativo no crime de furto?
Exemplo: o prof. é proprietário de um carro e celebro contrato de empréstimo do mesmo pelo prazo
de um mês. Antes do prazo avençado ele pede o carro de volta. Até aí não temos a incidência do
Direito Penal. Mas e se ele furtar o automóvel na vigência do contrato de empréstimo? Temos
furto?
Duas correntes: 1ª. Posição: sim, desde que a coisa esteja em poder de terceiro e o agente a subtraia
sem o consentimento do terceiro. É a posição de Magalhães Noronha e Bento de Faria, porém são
minoritários. Ex. do empenho. 2ª. Posição: não, porque o tipo dispõe subtrair coisa alheia, assim
não pode ser coisa própria. É uma questão de tipicidade, legalidade. É a posição majoritária e
defendida por Nelson Hungria, Greco, Fragoso, Damásio, Bitencourt, Paulo José da Costa Junior e
de Weber Martins Batista.
Mas qual crime que o proprietário pratica, portanto? Não é um ilícito civil. Há a prática do crime
previsto no art. 346 do CP: “Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção”.
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Outro exemplo a ser mencionado pode ser o caso do furto de uso de telefone celular, apenas para
realizar ligações, sem o ânimo de assenhoramento. O valor das ligações realizadas pelo agente pode
ser reclamado pelo proprietário do bem em face daquele. É um ilícito civil, e não penal.
E se coisa se perder durante o furto de uso? Em doutrina, há quem diga que há furto porque não há
como o agente restituir a coisa no estado em que ela se encontrava ao proprietário.
“Coisa alheia móvel”: a res nullius (coisa de ninguém), a res derelicta (coisa abandonada) e a res
desperdita (coisa perdida) podem ser objeto de furto?
Se o tipo dispôs “coisa alheia”, a coisa de ninguém não pode ser objeto de furto.
E a coisa abandonada? Da mesma forma não pode ser objeto de furto, pois não se configura coisa
de alguém.
E a coisa perdida? Pode ser objeto de furto? Se é perdida, é porque é de alguém... Incide o princípio
da especialidade que nos leva para o art. 169, p. único, II 29 do CP – apropriação de coisa achada. Se
não fosse este artigo seria furto. Apesar de ser coisa alheia perdida não será crime de furto. Pelo
princípio da especialidade teremos o artigo 169 do CP.
Esta coisa que é subtraída tem que ter natureza econômica, direta ou indireta? Duas correntes: 1ª.
Posição: no crime de furto é necessário que a coisa tenha natureza econômica, pois estamos diante
de um crime contra o patrimônio, e patrimônio denota valor econômico. Tem-se uma interpretação
sistêmica. É uma posição minoritária, e é a do Fragoso. 2ª. Posição: a coisa não precisa ter cunho
econômico, a uma porque a lei não exigiu expressamente e a duas porque é perfeitamente viável
que o autor do furto queira para si mesmo que ela não tenha natureza econômica. É o que ocorre,
por ex., no furto de documentos. É a posição majoritária de Hungria, Weber Martins Batista e Luis
Regis Prado.
No que toca ao elemento móvel: avião e navio podem ser objetos materiais do crime de furto? Tudo
dependerá se classificarmos tais como bens móveis ou imóveis.
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Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário
do prédio;
Apropriação de coisa achada
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.
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Se eles se movem, são bens móveis e sendo assim podem ser objetos materiais do crime de furto. O
que ocorre é que pelo seu alto valor econômico eles podem ser hipotecados, mas não perdem a
qualidade de bem móvel.
8ª AULA – 29.05.2013.
CONTINUAÇÃO – FURTO.
Art. 155. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Temos uma causa de aumento de pena.
“Repouso noturno”: diferenciar do art.150, §1º 30, do CP. A noite varia porque tem locais no Brasil
em que anoitece e amanhece em tempos distintos. Noite se configura o por ao nascer do sol para os
fins do art. 150, §1º do CP.
Já no art. 155 § 1° temos o repouso noturno, que não se vincula ao art. 150 § 1° do CP. Repouso
noturno é o período em que as pessoas estão repousando em suas residências, durante a noite. É um
conceito que será definido pelo costume local. Por ex.: o repouso noturno em Teresopólis começa
mais cedo do que na capital do Rio de Janeiro.
O costume é fonte mediata do Direito Penal, mas é uma fonte de conhecimento, de interpretação, de
hermenêutica. O que não pode ocorrer é o costume para fins de configurar crimes.
Art. 155. § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente
a pena de multa.
Trata do furto privilegiado. Se o agente for primário e a coisa furtada for de pequeno valor o juiz
tem 3 possibilidades: substituir a pena de reclusão por detenção, diminuí-la de um a dois terços ou
aplicar somente a pena de multa.
Primário é o agente que não é reincidente.
O que é coisa de pequeno valor? Não se confunde com o princípio da insignificância. Atenção, pois
as consequências são diversas...
Na coisa de pequeno valor temos uma condenação, uma pena a ser cumprida e poderá gerar
reincidência. Na insignificância, o fato é materialmente atípico, e assim não temos condenação.
Indo além – o que é coisa de pequeno valor? A jurisprudência se pacificou no sentido que é uma
coisa que não ultrapassa o valor de um salário mínimo no momento da conduta.
No momento da conduta em razão da teoria da atividade do crime.
30
Art. 150. § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma,
ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
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Qual é a diferença entre a coisa de pequeno valor do furto privilegiado e o art. 171, §1º 31 do CP? O
art. 171, §1º fala em pequeno valor do prejuízo e remete ao art. 155 § 1°.
No furto privilegiado olhamos para o valor da coisa e no art. 171, §1º olhamos para o valor do
prejuízo. No estelionato temos que olhar para a situação patrimonial/econômica da vítima e
asseveraremos se o prejuízo foi ou não alto. Isso variará de caso a caso.
Art. 155. § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.
A energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico é equiparada à coisa móvel.
Qualquer outra o que? Energia que não seja elétrica, mas que tenha valor econômico.
O que está englobado? Radioatividade (espécie de energia não elétrica, mas com valor econômico).
A exposição de motivos da parte especial do CP diz que a radioatividade é energia que pode ser
englobada no §3º (item 56). Energia eólica. Esperma de animal premiado, reconhecido. O esperma
é fonte de energia.
E o “gato de tv a cabo”? Tem valor econômico... Mas é energia ou mera captação de imagens? A
doutrina e jurisprudência debatem.
Alguns dizem que não se configura uma equiparação por se tratar uma mera captação de imagens.
Neste sentido, Bitencourt e Greco. De outro lado temos o STJ: a captação indevida da tv a cabo
configura subtração de energia. Não é energia elétrica, mas é espécie de energia que tem valor
econômico – configura o crime do art. 155, §3º.
Furto qualificado
Art. 155. § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Inciso I: “Obstáculo” – é qualquer aparato que tenha por finalidade a proteção da coisa, desde que
não a integre.
Exemplo 1:vidro do carro quebrado para o furto do carro. Estamos diante do furto simples (art. 155,
caput, do CP, com pena de 1 ano a 4 anos de reclusão) e não do furto qualificado, pois o vidro é
31
Art. 171. § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.
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parte integrante do carro. Aqui pensamos na suspensão condicional do processo em razão da pena
mínima ser de 1 ano.
Caso 2: vidro do carro quebrado para o furto de uma mochila que estava no banco de trás. Estamos
diante de um furto qualificado (art. 155, §4º, I, do CP, com pena de 2 a 8 anos de reclusão). O vidro
do carro neste exemplo não é parte integrante da mochila, muito pelo contrário, ele é obstáculo à
subtração da coisa.
Há entre estes dois casos uma flagrante desproporcionalidade, pois o agente, no primeiro caso furta
um automóvel e tem a pena de 1 ano a 4 anos, enquanto o agente no segundo caso, ao furtar a
mochila pelo arrombamento do carro terá a pena de 2 a 8 anos.
Ora, se está a punir um furto de automóvel com uma pena mais branda do que a de um furto de uma
mochila no interior de um automóvel.
O STJ reconheceu a desproporcionalidade, mas aplicou a lei, chancelando a desproporção legal.
Deve haver a perícia do rompimento do obstáculo.
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Uma pessoa vai à sua casa a pretexto de consertar um telefone. Essa pessoa vê um notebook de alto
nível no quarto. Fala com o dono da casa, fique na sala que eu vou testar a extensão do telefone no
quarto. Enquanto isto, subtraio o notebook... Furto mediante fraude.
Outro ex.: uma pessoa se passa de manobrista e o proprietário do carro entrega voluntariamente as
chaves. A pessoa induziu o proprietário do carro em erro, fazendo-o pensar que ela era manobrista.
Estelionato...
Questão da energia: a Light envia energia para a casa de Gabriel. Rafael faz um gato e desvia a
energia para sua casa... Não há contraprestação, pois a vítima não entrega o bem voluntariamente ao
agente. Com isto o gato é furto qualificado pela fraude.
Porém, há uma 2ª hipótese. A Light envia energia para a casa de Gabriel, mas ele decide promover
a alteração do relógio marcador. Há contraprestação, pois a Light continua a enviar energia
voluntariamente... Há estelionato porque continuava a existir a contraprestação.
Test drive: teve contraprestação, logo, estelionato.
OBS.: um caso chegou ao STJ e era sobre uma mulher que anunciou seu carro pra vender. Um
sujeito se interessou no automóvel e se dirigiu até a mulher. O comprador pediu para dar uma volta
no quarteirão e não voltou com o carro. Houve contraprestação, logo, estelionato. A mulher acionou
o seguro alegando furto. A seguradora investiga e constata que não há furto nem roubo e sim
estelionato e então não cobre o prejuízo. A questão chegou ao poder judiciário por impulso d
mulher. Em primeira instância o juiz julgou improcedente o pedido asseverando que a mulher tinha
sido vítima de estelionato. Em segunda instância, o TJ conheceu do recurso negando-lhe
provimento mantendo a sentença em seus próprios termos. Em REsp ao STJ, se entendeu que
quando a pessoa faz um seguro, ela pensa que diante da perda do automóvel será ressarcida.
No momento da contratação a pessoa não está preocupada com a diferença entre furto, roubo,
estelionato. O STJ entendeu que ocorreu um furto qualificado pela fraude e sendo assim o furto está
coberto pela apólice paga pela mulher. Está errado, foi estelionato. Mas parece que foi um erro de
propósito para garantir o direito da mulher, fazendo justiça. Foi uma decisão isolada, porém pode
ser passível em prova.
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Chave verdadeira furtada ou perdida é considerada chave falsa? Duas correntes: 1ª. Posição: é
chave falsa porque apesar de a chave em si ser verdadeira, o que se veda com o tipo penal é o
acesso ilícito à coisa. É a posição isolada de Magalhaes Noronha. 2ª. Posição: a chave verdadeira
ainda que furtada ou perdida não pode ser considerada como chave falsa, porque o objeto, a chave
em si é verdadeira. É a posição majoritária de Bitencourt e do Greco.
A cópia da chave verdadeira é chave falsa? A cópia é considerada chave falsa.
Art. 155. § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor
que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
O que é veiculo automotor? Qualquer veículo que se movimente por propulsão própria – carro,
moto, navio, avião...
Tais veículos devem ultrapassar a fronteira entre os Estados ou entre o Brasil e outro país. Caso não
se ultrapasse a fronteira, não incide a figura qualificada, mas sim furto simples (Bitencourt).
Consumação do furto:
Temos quatro teorias advindas do Direito Romano, que caem muito em provas:
1. Teoria da Concretatio: o furto se consuma no momento em que o agente toca a coisa alheia
móvel.
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Mas como que o STJ e STF iriam admitir a tentativa? Fica a reflexão.
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PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. FURTO. CONSUMAÇÃO. POSSE MANSA E TRANQUILA DA RES. PRECEDENTES DO
STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
- Não há ofensa ao princípio da colegialidade quando a decisão monocrática é proferida em obediência aos arts. 557,
caput e § 1º-A, do Código de Processo Civil e 3º do Código de Processo Penal, que permite ao relator dar provimento,
negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou
com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.
Precedentes.
- A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que ocorre a consumação dos delitos de roubo furto no momento
em que o agente se torna possuidor da res, ainda que não tenha tido posse tranquila, sendo desnecessário que o bem saia
da esfera da vigilância da vítima, ou mesmo que o bem seja retomado por perseguição policial.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1244411/RS, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/SE), QUINTA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 20/05/2013)
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esfera da vigilância da vítima, ou mesmo que o bem seja retomado por perseguição policial.
De 20/05/2013.
HC 19706833: o entendimento firmado pelas instâncias de origem está de acordo com o
sufragado nesta Corte Superior de Justiça, pelo qual o crime de roubo, assim como o de
furto, se consuma quando o agente obtém a posse, ainda que breve, do bem subtraído, não
sendo necessário que esta se dê de forma mansa e pacífica.
33
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL.
IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO
CONHECIMENTO.
1. Com o intuito de homenagear o sistema criado pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das decisões
judiciais, necessária a racionalização da utilização do habeas corpus, o qual não deve ser admitido para contestar
decisão contra a qual exista previsão de recurso específico no ordenamento jurídico.
2. Tendo em vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por ocasião do julgamento de apelação
criminal, contra a qual seria cabível a interposição do recurso especial, depara-se com flagrante utilização inadequada
da via eleita, circunstância que impede o seu conhecimento.
ROUBO CIRCUNSTANCIADO (ARTIGO 157, § 2º, INCISOS I E II, DO CÓDIGO PENAL). ALEGADA NÃO
APRECIAÇÃO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM DOS FATOS E FUNDAMENTOS SUSCITADOS PELA DEFESA
NA APELAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FUNDAMENTADA. MÁCULA NÃO EVIDENCIADA.
1. O julgador não está obrigado a refutar expressamente todas as teses aventadas pela defesa, desde que pela motivação
apresentada seja possível aferir as razões pelas quais acolheu ou rejeitou as pretensões da parte. Precedentes.
2. No caso dos autos, diante das conclusões exaradas no acórdão proferido, mostrou-se prescindível o pronunciamento
expresso sobre a vislumbrada ocorrência de violação ao sistema acusatório, tampouco acerca da aventada
impossibilidade de condenação dos pacientes pelo delito de roubo consumado, já que a fundamentação lançada pelo
Tribunal de origem se revelou suficiente para refutá-las como um todo.
ALEGADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. DENÚNCIA QUE TIPIFICA O CRIME IMPUTADO
AOS PACIENTES COMO TENTADO. MAGISTRADO QUE PROFERE SENTENÇA CONSIDERANDO A
PRÁTICA DO DELITO NA FORMA CONSUMADA.
POSSIBILIDADE DE DEFINIÇÃO JURÍDICA DIVERSA. EMENDATIO LIBELLI.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. ARTIGO 385
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
INCONSTITUCIONALIDADE JAMAIS RECONHECIDA PELOS TRIBUNAIS SUPERIORES.
ILEGALIDADE INEXISTENTE.
1. Na hipótese, a denúncia narrou que os pacientes lograram sair do estabelecimento com os bens roubados, tendo sido
capturados posteriormente pelos policiais militares que foram chamados pelas vítimas.
2. Não há ilegalidade no procedimento adotado pelo magistrado de origem, que condenou os pacientes pelo crime de
roubo consumado, já que, nos exatos termos do artigo 383 do Código de Processo Penal, o Juízo pode atribuir definição
jurídica diversa aos fatos contidos na inicial, desde que não os modifique, ainda que, por consequência, tenha que
aplicar pena mais grave.
3. O artigo 385 do Código de Processo Penal, que prevê que "nos crimes de ação penal pública, o juiz poderá proferir
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição", jamais teve a sua
inconstitucionalidade reconhecida pelos Tribunais Superiores, sendo reiteradamente aplicado por este Sodalício.
Precedentes.
4. Não há ilegalidade na condenação dos pacientes pelo crime de roubo consumado, quando o Ministério Público
oferece denúncia e sustenta nas alegações finais que o delito teria sido praticado na forma tentada.
5. O entendimento firmado pelas instâncias de origem está de acordo com o sufragado nesta Corte Superior de Justiça,
pelo qual o crime de roubo, assim como o de furto, se consuma quando o agente obtém a posse, ainda que breve, do
bem subtraído, não sendo necessário que esta se dê de forma mansa e pacífica.
EMPREGO DE ARMA DE FOGO. AUSÊNCIA DE APREENSÃO E DE EXAME PERICIAL.
DESNECESSIDADE. EXISTÊNCIA DE OUTROS MEIOS DE PROVA A ATESTAR O EFETIVO EMPREGO DO
ARTEFATO. SUFICIÊNCIA. PRECEDENTE DA TERCEIRA SEÇÃO. MANUTENÇÃO DO REGIME FIXADO.
EIVA NÃO CARACTERIZADA.
1. A Terceira Seção deste Tribunal Superior firmou entendimento no sentido de que, para o reconhecimento da presença
da causa de aumento de pena prevista no inciso I do § 2º do artigo 157 do Código Penal, mostra-se dispensável a
apreensão da arma de fogo e a realização de exame pericial para atestar a sua potencialidade lesiva, quando presentes
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9ª AULA – 05.06.2013.
CONTINUAÇÃO.
►Art. 155.
Furto Famélico.
O furto famélico é o furto de alimento. É o furto do alimento sendo que este é a única e última
forma de se alimentar. Este furto é exemplificado pelo furto de uma lata de leite em pó, iogurte,
pão, biscoito, carne, etc.
Qual é a Natureza Jurídica de tal espécie de furto? Estamos diante de dois bens em conflito: a
saúde/vida e o patrimônio do supermercado. Estamos diante de uma salvaguarda de um bem de
maior valor, que é a vida. Por isso estamos diante de um estado de necessidade (causa de exclusão
de ilicitude).
Qual é o critério? Não há um critério fixo... Tudo depende da casuística, eis que não há uma
definição.
Ao analisarmos o furto famélico temos que ter em mente o princípio da insignificância porque na
maioria dos casos o valor do alimento subtraído poderá chegar à insignificância, que também, por
sua vez também, não traz um valor predefinido.
A jurisprudência até hoje não conseguiu definir de forma objetiva o que culmina na incidência do
princípio da insignificância. Não há um critério, mas a jurisprudência do STF e do STJ estabelece
quatro critérios para determinar a incidência do princípio em comento ao caso concreto:
1. Mínima ofensividade da conduta;
outros elementos probatórios que atestem o seu efetivo emprego na prática delitiva (EREsp 961.863/RS).
2. Mantida a condenação dos pacientes pelo crime de roubo duplamente circunstanciado e consumado, inviável a
fixação do regime aberto para o cumprimento das reprimendas, pois acima de 4 (quatro) anos de reclusão.
3. Habeas corpus não conhecido.
(HC 197068/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 24/04/2013)
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Se o bem subtraído no furto famélico for de pequeno valor vamos solucionar a questão excluindo a
ilicitude (estado de necessidade) ou aplicaremos o princípio da insignificância?
Para que tenhamos um fato típico, de início é preciso que tenhamos uma conduta, que pode ser
dolosa ou culposa, e pode ser também comissiva ou omissiva, sendo que no caso de omissão, ela
pode ser própria ou imprópria. Essa conduta gerará um resultado, porém precisamos de uma
ligação, de um nexo entre a conduta e o resultado, trata-se do nexo de causalidade.
Essa conduta deve guardar tipicidade, a qual pode ser formal, por subordinação direta ou indireta e
também pode ser material.
Concluída a análise da tipicidade, parte-se para o estudo da ilicitude. A ilicitude sempre se fará
presente por indício, de acordo com a teoria da ratio cognoscendi, elaborada por Mayer em 1930.
Fala-se na função indiciária da ilicitude: sempre que houver um tipo legal de crime praticado há
indícios de que há ilicitude, a qual apenas é afastada se houver alguma causa de exclusão da
ilicitude. O fato típico e a ilicitude estão unidos, pertencendo ao fato. Por outro lado, a análise da
culpabilidade perpassa pelo agente, aferindo-se se o mesmo é imputável, se há potencial
consciência da ilicitude e se há exigibilidade de conduta diversa... O prof. está mencionando tudo
isso para fins de saber se o furto famélico exclui a tipicidade, a ilicitude ou a culpabilidade.
De acordo com Welzel, a culpabilidade pressupõe a ilicitude e esta pressupõe o fato típico. Se
aplicarmos o princípio da insignificância não há análise da ilicitude, pois a insignificância está
relacionada com a tipicidade material. Se aplicarmos o estado de necessidade, o fato se configurará
fato típico, porém não será dotado de ilicitude.
Luiz Flávio Gomes defende o posicionamento de que seria preferível resolver o caso logo na
tipicidade, dizendo que como incidiu o princípio da insignificância, não há tipicidade, não sendo
necessário partir para a próxima análise que é a da ilicitude. Podemos defender essa posição...
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Já vimos na aula passada que o furto tem o seguinte quadro: temos no caput o furto simples, no § 2º
o furto privilegiado e no § 4º o furto qualificado.
Pode o furto ser a um só tempo privilegiado e qualificado? A questão é controvertida. 1ª. Posição:
sim, ao argumento de que não há nenhuma incompatibilidade e assim, nada impede tal situação...
Pode ser que estejamos diante de um agente seja primário, que tenha bons antecedentes e que
subtraia um bem de pequeno valor mediante escalada, chave falsa, fraude... Esta posição sempre foi
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defenda por Cezar Roberto Bitencourt, Rogerio Greco, Nucci, Luiz Vicente Cernicchiaro (um dos
maiores autores sobre Direito Penal e ex-ministro do STJ). 2ª. Posição: a jurisprudência do STF e
do STJ sempre se posicionou no sentido de que não é possível que o furto seja ao mesmo tempo
privilegiado e qualificado ao argumento de que a posição topográfica impede, ou seja, de acordo
com a posição topográfica do CP o § só pode ser aplicado ao caput e não entre parágrafos.
Entretanto, a grande virada da jurisprudência foi quando o STF, em 2010, no informativo 580,
relator min. Carlos Ayres Brito, julgou a ordem de HC 98.265 34 e disse que nada impedia que o
furto fosse ao mesmo tempo privilegiado e qualificado.
Onde há a mesma razão incide o mesmo direito: se no homicídio existe esta possibilidade por que
não aplicar no furto?!
Depois o STJ encampou esta posição e passou a entender no mesmo sentido.
E o que é uma trombada? Uma trombada é um esbarrão. Só que se nesta trombada ocorrer a
subtração do bem... Estaria configurado o furto ou roubo? Duas correntes disputam o tema em
doutrina.
1ª. Posição: sustenta que a trombada configura crime de roubo porque o ato de trombar na vítima é
um ato de violência contra a pessoa para subtrair. É a posição de Nucci, dentre outros. 2ª. Posição:
é no sentido de que este ato de trombar na vítima não chega a configurar o crime de roubo, não
chega a consistir numa violência para subtração. A violência é exercida sobre a coisa e não contra o
agente, e assim configura-se furto. É a posição de Weber Martins Batista.
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
34
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO QUALIFICADO. INCIDÊNCIA DO PRIVILÉGIO DA
PRIMARIEDADE E DO PEQUENO VALOR DA COISA SUBTRAÍDA. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido do reconhecimento da conciliação entre homicídio
objetivamente qualificado e ao mesmo tempo subjetivamente privilegiado. Noutro dizer, tratando-se de circunstância
qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de execução do crime), é possível o reconhecimento do privilégio
(sempre de natureza subjetiva). 2. A mesma regra de interpretação é de ser aplicada no caso concreto. Caso em que a
qualificadora do rompimento de obstáculo (de natureza nitidamente objetiva - como são todas as qualificadoras do
crime de furto) em nada se mostra incompatível com o fato de ser o acusado primário; e a coisa, de pequeno valor.
Precedentes da Segunda Turma do STF. 3. Ordem concedida para reconhecer a incidência do privilégio do § 2º do art.
155 do CP e julgar extinta a punibilidade do paciente pela prescrição retroativa. (HC 98265, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Primeira Turma, julgado em 24/03/2010, DJe-086 DIVULG 13-05-2010 PUBLIC 14-05-2010 EMENT
VOL-02401-02 PP-00407)
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Pergunta simples – Qual a diferença entre o furto e o roubo? É a violência ou a grave ameaça? Sim,
mas não é só isso.
O roubo tem elementos que o furto não tem e são eles que o distinguem do furto. No roubo temos a
violência, a grave ameaça, mas também a redução da vítima à impossibilidade de resistência.
Uma pessoa está no banheiro tomando banho. O ladrão entra e a tranca, subtraindo todos os bens do
apartamento. Furto ou roubo? Houve a redução da vítima à impossibilidade de resistência = roubo.
Aquele que dá um sonífero para a vítima para pegar os seus bens = roubo.
No roubo temos a violência própria, a violência física, mas a violência que é utilizada para reduzir a
vítima à impossibilidade de resistência é chamada de violência imprópria.
Aqui temos o mesmo ponto do furto: está se protegendo a propriedade, a posse e a detenção, de
modo que ladrão que rouba ladrão responde pelo roubo.
Estamos diante de um crime complexo. O crime complexo é o crime que reúne dois ou mais tipos
penais autônomos, ou seja, temos dois tipos penais autônomos que, juntos, formam o crime de
roubo: são o furto (art. 155) + a violência (art. 129) ou o furto (art. 155) + a ameaça (art. 147).
O furto exige o animus sic habendi, e o mesmo ocorre no roubo, ou seja, se exige a intenção de ser
proprietário da coisa.
Já vimos que existe o furto de uso... Mas podemos afirmar que existe o roubo de uso? Não, pois não
se trata apenas de mera subtração, eis que há violência ou grave ameaça.
Imaginar que o agente rouba o bem para usar. Temos crime de roubo? Seria apenas um
constrangimento ilegal? Duas correntes disputam este tema em doutrina. 1ª. Posição: não. Pois se
entende que esta hipótese não é roubo, pois não temos o chamado roubo de uso. O roubo assim
como o furto exige o animus sic habendi e, portanto, nesta hipótese, estaria configurado o crime de
constrangimento ilegal pelo uso da violência ou da grave ameaça. É a posição de Rogerio Greco. 2ª.
Posição: entende que configura roubo consumado pelo fundamento de que apesar de o agente ter
subtraído para o uso, a vítima já sofrera a violência ou a grave ameaça. É a posição de Guilherme
Sousa Nucci.
Atenção, pois a violência física é a violência do art. 129, porém é a violência do art. 129, caput
(lesão corporal leve), porque se a violência empregada no roubo resultar uma lesão corporal grave
(art. 129, § § 1º e 2º) não será a capitulação pelo art. 157, caput, e sim no art. 157, § 3º do CP.
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Consumação do roubo: quando se consuma? As teorias que vimos no furto também incidem
aqui... Mas a doutrina tem outras soluções para o roubo.
O STF e o STJ entendem que basta a subtração, seguindo o mesmo entendimento que é utilizado
para o furto... Não é preciso que haja posse mansa e pacífica e não precisa que saia da esfera de
vigilância da vítima. Esta orientação, de que basta a subtração, veio a ressuscitar a antiga orientação
do STF, de mais de uma década atrás. É uma posição retratada no HC 77.710, min. Moreira Alves –
o roubo se consumava com a mera subtração. Ocorre que esta posição ficou ultrapassada por muitos
anos, mas hoje é o que prevalece.
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A doutrina sempre teve outra posição. Duas correntes sempre disputaram o tema. 1ª. Posição: o
roubo se consuma coma posse real e efetiva da coisa e o poder de dispor da mesma, transformando
a mera detenção em posse. É uma posição minoritária, mas defendida por Luiz Regis Prado e por
Álvaro Mayrink da Costa. 2ª. Posição: corrente majoritária em doutrina (mas não a do STF/STJ
hoje)– o roubo se consuma com a retirada da coisa da esfera de vigilância da vítima, tendo o
roubador a posse tranquila sobre a coisa. É a posição de Nelson Hungria, Magalhães Noronha,
Fragoso e Weber Martins Batista.
Tentativa: a tentativa, aos olhos do STF e STJ, pode ocorrer diante do emprego da violência ou da
grave ameaça e não haver a subtração, o agente não conseguir subtrair.
Para a primeira corrente a tentativa ocorreria na hipótese de o agente subtrair o bem, mas não tiver o
poder de dispor da mesma. Já para a segunda corrente, a tentativa se configuraria quando o agente
subtraísse o bem, mas não conseguisse obter a posse tranquila sobre a coisa.
OBS.: o roubo impróprio admite a figura da tentativa? Já houve a subtração do bem e depois é que
haverá a violência ou a grave ameaça. Imaginemos que o agente não empregue a violência ou a
grave ameaça por motivos alheios à sua vontade. Para respondermos a pergunta temos que saber as
duas correntes que disputam o tema em doutrina. 1ª. Posição: não, porque se o agente subtraiu o
bem, mas não empregou violência ou grave ameaça, ainda que por motivos alheios à sua vontade,
temos o furto consumado. É a posição de Luiz Regis Prado, Paulo José da Costa Junior, Mirabete,
Nelson Hungria, Damásio de Jesus, Antônio Bento de Faria e Magalhães Noronha. 2ª. Posição:
cabe tentativa... Apesar de o agente não ter empregado a violência ou a grave ameaça, por motivos
alheios à sua vontade, ele tentou empregar, isto é, o agente teve o dolo de emprego de violência ou
grave ameaça. O dolo não foi satisfeito por circunstâncias alheias à vontade do agente, mas houve o
dolo. O agente iniciou a execução da violência ou da grave ameaça, logo temos a tentativa. Não
pode ser furto, pois há dolo de emprego de violência ou grave ameaça. É a posição de Fragoso,
Nucci, Greco, Weber Martins Batista. Não temos doutrina majoritária neste caso, mas a primeira
corrente prevalece um pouco.
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explosiva – pistola, revolver, canhão) ou uma arma branca (não funciona mediante a
deflagração de uma carga explosiva – soco inglês, espada, punhal, tchaco).
Arma imprópria é qualquer artefato que não tem finalidade de atacar e defender, mas que
pode ser usado como instrumento de agressão (faca de cozinha, martelo, chave de fenda,
caco de vidro, alumínio, rolo de macarrão, cabo de vassoura).
►O agente que simula estar armado incide sobre ele a majorante? Não teve arma, mas teve uma
grave ameaça (elemento do tipo). Será roubo simples, mas não o majorado pelo §1º, I.
►A notícia de estar armado configura a majorante? É roubo simples, e não o majorado pelo §1º, I.
►Basta que o agente esteja portando a arma ou tem que empregar sobre a vítima efetivamente? O
tom ameaçador pode até ser maior, mas a eficácia é a mesma. Temos duas correntes que disputam o
tema em doutrina. 1ª. Posição: basta que o agente esteja portando a arma. O mero porte da arma, o
uso ostensivo da arma já constitui a maior ameaça, a maior probabilidade de causar lesão à vida da
vítima. É a posição majoritária de Nelson Hungria, Rogério Greco, Luiz Regis Prado, Weber
Martins Batista. 2ª. Posição: minoritária, diz não basta o porte ostensivo da arma, sendo necessário
o efetivo emprego da arma sobre a vítima. É a posição minoritária do Cezar Roberto Bitencourt.
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Temos outra decisão na ordem de HC 175495. Houve perícia e se verificou que a arma não tinha
nenhum potencial lesivo, afastando a majorante:
HABEAS CORPUS. ROUBO. CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA NO ART. 157, § 2º, I, DO CP.
LAUDO PERICIAL CONSTATANDO QUE A ARMA ENCONTRAVA-SE DESMUNICIADA.
IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA MAJORANTE. WRIT COMO SUCEDÂNEO DE REVISÃO
CRIMINAL. VIA INADEQUADA. FRAGRANTE ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. ORDEM NÃO CONHECIDA,
MAS CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do habeas corpus, a bem de se prestigiar a lógica do sistema recursal. As
hipóteses de cabimento do writ são restritas, não se admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em
substituição ao recurso cabível, vale dizer, o especial.
2. Para o enfrentamento de teses jurídicas na via restrita, imprescindível que haja ilegalidade manifesta, relativa a
matéria de direito, cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória.
3. A utilização de arma inidônea, como forma de intimidar a vítima do delito de roubo, caracteriza a elementar grave
ameaça, porém, não permite o reconhecimento da majorante de pena, o qual está vinculado ao potencial lesivo do
instrumento, pericialmente comprovado como ausente no caso, dada a sua ineficácia para a realização de disparos.
4. Constatado pelo auto de apreensão e pela perícia que a arma encontrava-se desmuniciada, verifica-se, no caso, a
ausência da potencialidade lesividade do instrumento.
5. Ordem não conhecida, mas concedida de ofício para afastar a causa de aumento de pena prevista no inciso I do § 2º
do art. 157 do Código Penal, diminuindo as penas privativas de liberdade para 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de
reclusão, e 13 (treze) dias-multa.
(HC 175495/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 20/11/2012,
DJe 27/11/2012)
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Não é necessária a realização de perícia, mas se esta comprovar que a arma embora desmuniciada
tiver inaptidão para efetuar disparos não incidirá a majorante.
STF: HC 106456.
EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SUBSTITUTIVO DO RECURSO CONSTITUCIONAL.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ROUBO QUALIFICADO. ARMA NÃO APREENDIDA E NÃO PERICIADA.
ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. CRIME ÚNICO. CONTINUIDADE DELITIVA. APLICAÇÃO
RETROATIVA DA LEI 12.015/2009. COMPETÊNCIA DO JUIZ DA EXECUÇÃO. O habeas corpus tem uma rica
história, constituindo garantia fundamental do cidadão. Ação constitucional que é, não pode ser amesquinhado, mas
também não é passível de vulgarização, sob pena de restar descaracterizado como remédio heroico. Contra a denegação
de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário.
Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter
substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional. Precedente da
Primeira Turma desta Suprema Corte. O reconhecimento da causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º, I, do
Código Penal prescinde da apreensão e da realização de perícia na arma, quando provado o seu uso no roubo por outros
meios de convicção. Inteligência dos arts. 158 e 167 do Código de Processo Penal brasileiro. Precedente do Plenário
(HC 96.099/RS). A Lei nº 12.015/2009 unificou as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor em tipo mais
abrangente, de ação múltipla, ensejador da configuração de crime único ou crime continuado, a depender das
circunstâncias concretas dos fatos. Cabe ao Juízo da Execução Penal aplicar à condenação transitada em julgado a lei
mais benigna. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito, mas com concessão de ofício, para que o juízo da
execução criminal competente proceda à aplicação retroativa da Lei 12.015/2009.
(HC 106456, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 02/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-070 DIVULG 16-04-2013 PUBLIC 17-04-2013)
STF é despicienda a comprovação da potencialidade lesiva, tendo em vista que sua utilização propiciou a subtração do
bem almejado pelos menores. 8. A medida de internação é excepcionalíssima, razão pela qual a gravidade abstrata do
ato infracional, por si só, não tem o condão de determiná-la. Precedentes. 9. O magistrado, a par da violência do ato
infracional, fundamentou a decisão com fulcro no laudo psicossocial. 10. Medida de internação adequada ao caso
concreto, pois teve como fundamento a gravidade do ato infracional praticado – análogo ao delito de roubo com
emprego de arma de fogo – somada a aspectos psicossociais desfavoráveis constantes do relatório interdisciplinar. 11.
Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.
(RHC 115077, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 06/08/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-176 DIVULG 06-09-2013 PUBLIC 09-09-2013)
Em suma, tem que haver a perícia na arma para incidir a majorante? Não, não precisa, porque se
presume o potencial ofensivo da arma. Porém, se a perícia for feita e disser que a arma estava
municiada e podia disparar, incide a majorante, contudo, se a perícia disser que a arma estava
desmuniciada ou inapta a realizar disparos, não incide.
A jurisprudência do STF é no sentido de que basta que existam outros meios para atestar o efetivo
emprego da arma.
Para o STJ, a questão da arma sem munição é um cenário que coloca a corte em divisão de
posicionamento. Não temos uma posição!
Inciso II
Concurso de pessoas. Tudo o que falamos no furto se aplica nesta situação.
Imaginemos: ‘A’ e ‘B’ roubam ‘C’. ‘B’ está armado. ‘A’ não está armado.
‘A’ fala para ‘C’ que ‘B’ está armado. A majorante incide para ambos ou só para quem está
armado? Como os dois estão em coautoria todos respondem pelo todo. O destino de um é partilhado
por todos. Com isto a majorante incidirá também para quem não está armado.
Inciso III
Vítima em serviço de transporte de valores e o agente conhece essa circunstância.
Esta majorante veio com uma lei de 1989 quando passou a ocorrer roubos a carro forte.
O que se entende por valores? Dinheiro ou tudo o que for conversível em dinheiro – joias, cheques,
ouro... Mas o CP exige outro elemento, o elemento de o agente conhecer a circunstância.
O agente tem que ter a vontade e consciência (dolo) de que está a roubar um veículo que realiza o
transporte de valores.
Inciso IV
Subtração de veículo automotor que vem a ser transportado para outro Estado ou outro país. Tudo o
que foi falado no furto se aplica aqui.
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Inciso V
Quando o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Cuidado. Não é o caso
do sequestro relâmpago (extorsão mediante sequestro). Este é o caso que o agente rouba e no ato de
roubar restringe a liberdade da vítima.
É o caso do agente roubar o carro da vítima, levá-la no interior e posteriormente abandoná-la em
outro local.
Art. 157. § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze
anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Qual é o crime previsto no art. 157, §3º? Não é o latrocínio, mas sim um crime de roubo
qualificado. Temos a previsão de dois resultados qualificadores: se da violência resultar lesão
corporal ou morte.
Como se chama o roubo qualificado pela morte? Latrocínio.
Como se chama o roubo qualificado pela lesão corporal grave? Roubo qualificado pela lesão
corporal grave.
Estes resultados qualificadores segundo a doutrina podem decorrer tanto de dolo quanto de culpa.
A célebre frase: todo roubo seguido de morte é latrocínio... Trata-se de uma inverdade, pois
podemos ter perfeitamente um concurso de crimes entre o roubo e o homicídio.
O latrocínio só existirá se o agente matar a vítima com três finalidades: para subtrair, para garantir a
subtração e para garantir a impunidade.
Se o agente matar a vítima por qualquer finalidade que não seja por nenhuma dessas finalidades não
teremos o latrocínio.
Outro ponto importante é que o roubo qualificado pela lesão corporal grave não é um crime
hediondo, mas o roubo qualificado pela morte é um crime hediondo (art. 1º, III, da Lei 8.072/1990).
Diga-se – o nome ‘latrocínio’ nunca existiu no CP... É um nome popular, que só veio com a Lei
8.072, em 1990.
Latrocínio:
O latrocínio é um crime complexo (crime que reúne em si dois ou mais tipos penais autônomos). Os
crimes que estão reunidos no latrocínio são: roubo e homicídio.
Como trabalharemos com a consumação e tentativa no crime complexo?
Se os dois tipos autônomos que formam o tipo complexo se consumarem, todo o tipo se
consumará.
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Se os dois tipos autônomos que formam o complexo ficarem pela forma tentada, todo o tipo
complexo também ficará tentado.
Quando um tipo penal autônomo se consuma e o outro não, o tipo complexo não se
consuma.
Como funciona a dogmática da tentativa e da consumação nos crimes complexos? Um dos tipos
autônomos se consuma e o outro tipo autônomo fica tentado, todo o tipo complexo fica tentado.
O roubo se consumou e o homicídio também se consumou. Logo, temos o latrocínio
consumado.
O roubo foi tentado e o homicídio também foi tentado. Logo, temos o latrocínio tentado.
O roubo se consuma, mas o homicídio foi tentado. Logo, temos o latrocínio tentado.
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Imaginemos que o agente mata 10 pessoas para roubar um bem? Quantos latrocínios temos? Temos
apenas um latrocínio. Sabemos que o sujeito que mata uma pessoa para roubar, não pode receber a
mesma pena daquele que mata dez... A pena será diversa... Como fica a pena daquele que mata 10
pessoas para roubar um bem? Ele responderá por um crime de latrocínio, porém sua pena base será
fixada de acordo com o fato de ter matado 10 pessoas (art. 59 do CP → elemento consequências ou
circunstâncias).
Imaginemos – o agente entra numa residência e diz para o morador ir ao cofre e pegar todo o
dinheiro para entregar a ele, sob grave violência ou grave ameaça. Qual é o crime? Roubo ou
extorsão?
Qual é a diferença entre o roubo e a extorsão?
Quatro correntes disputam o tema em doutrina. 1ª. Posição: no roubo a coisa é subtraída pelo
agente, sendo que na extorsão a vítima entrega a coisa ao agente. É a posição de Nelson Hungria.
2ª. Posição: no roubo a vantagem é contemporânea, sendo que na extorsão a vantagem é futura –
primeiro o agente exerce a violência ou a grave ameaça e depois obtém a vantagem. É a posição de
Weber Martins Batista. 3ª. Posição: no roubo é indiferente a vontade da vítima em entregar ou não
a coisa, sendo que na extorsão o comportamento da vitima é indispensável para a consumação do
crime, para a obtenção da vantagem indevida. É a posição da doutrina amplamente dominante. 4ª.
Posição: é de um autor isolado, Greco, que é no sentido de que no roubo é indiferente a vontade da
vítima, sendo que na extorsão há a necessidade do comportamento da vítima conjugado com o
espaço de tempo, ainda que não muito longo, para que a vítima consinta com o constrangimento e
entregue ao agente a vantagem indevida. Na prova objetiva a orientação é para seguirmos a terceira
corrente.
Na extorsão, se a vítima não contribuir, jamais teremos a consumação. É preciso que a vítima
realize a conduta de entregar a vantagem... Caso o agente pegue o bem ou o dinheiro à força, é
roubo. Por ex.: abra esse cofre! A vítima não abre... Mesmo torturada e espancada. O agente
explode o cofre e pega o dinheiro. Não há extorsão, mas roubo. Para que haja é fundamental que a
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vítima insira a senha. O mesmo se diz na hipótese de senha para saque em caixas eletrônicos. O tão
falado ‘sequestro relâmpago’... Esta conduta nunca foi roubo e o prof. critica o termo... É
imprescindível que a vítima ‘contribua’, inserindo a senha para a obtenção da vantagem indevida,
do dinheiro.
Temos o especial fim de agir: obter a indevida vantagem econômica. Este tipo é especial ao
constrangimento ilegal.
Tanto o furto quanto o roubo fazem menção a bem móvel... Para a extorsão, a indevida vantagem
econômica pode consistir num bem imóvel? Sim, pois o agente pode, mediante violência ou grave
ameaça, constranger a vítima para ela ir com ele ao RGI e lá realizar a doação de um imóvel.
Quando o crime se consuma? É um crime formal e por isso foge à regra geral. Neste sentido, não
é necessário, para termos a consumação do crime, que o agente efetivamente obtenha a indevida
vantagem econômica. Basta o constrangimento com a violência ou a grave ameaça. Ver súmula 96
do STJ. O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.
Art. 158. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.
Tudo o que foi dito sobre furto e roubo é aqui aplicado.
Art. 158. § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é
necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze)
anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)
Temos aqui o chamado “sequestro relâmpago”. O nome “sequestro relâmpago” é muito equivocado
porque sequestro é um crime permanente, e assim, não pode ser relâmpago, tem que ser duradouro.
O “sequestro relâmpago” nada mais é do que uma simples extorsão. Tal tipificação adveio em razão
da questão do caixa eletrônico. O agente tolhe a liberdade da vítima pelo tempo necessário à
obtenção da vantagem indevida.
No art. 158, § 2º o legislador previu o resultado lesão corporal grave e morte, com a aplicação dos
parágrafos do art. 159.
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Vejam o que fez o legislador: no art. 158 § 2° temos o resultado lesão corporal grave e morte, onde
se determina que se aplique a pena do art. 157 § 3° - trata-se da extorsão qualificada pela morte.
Ocorre que temos outra espécie de extorsão qualificada pela morte, que é a do sequestro relâmpago
– do art. 158 § 3° do CP. Assim, temos duas espécies de extorsão das quais resulta a lesão corporal
grave e a morte da vítima. A do caput c/c § 2° e a do §3º.
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E se o agente privar a liberdade de um cachorro, por ex., para obter a vantagem? Não temos
extorsão mediante sequestro porque o tipo penal fala em pessoa. Neste caso temos a extorsão do art.
158.
Aqui temos o especial fim de agir: obtenção de qualquer vantagem. Esta vantagem tem que ter
natureza econômica? O art. 158 fez a menção expressa à vantagem econômica, mas o art. 159 não.
Temos duas correntes disputando este tema em doutrina. 1ª. Posição: entende que é necessário que
a vantagem tenha um cunho econômico, direto ou indireto. É a posição de Nucci, Magalhaes
Noronha, Fragoso, Luiz Regis Prado e Greco. É a posição majoritária. 2ª. Posição: não precisa ter
natureza econômica. Pode ser vantagem de cunho econômico ou não. É uma posição minoritária, e
é defendida por Cezar Roberto Bitencourt e Damásio de Jesus.
Assim como o art. 158, o crime do art. 159 do CP se trata de crime formal, isto é, se consuma com a
privação da liberdade, mesmo que o agente não obtenha a indevida vantagem. Aqui podemos
aplicar o mesmo raciocínio da súmula 96 do STJ.
Como há um sequestro como meio de obter a vantagem, estamos diante de um crime permanente, e
a privação da liberdade deve durar por um tempo relevante. É óbvio que nesta quantidade de tempo
relevante não há uma matemática. A doutrina traz algumas hipóteses... 30 minutos não é tempo
relevante...
O § 1° traz três qualificadoras:
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
A partir deste §1º e de uma interpretação a contrario sensu podemos asseverar que se o crime for
praticado com a privação da liberdade da vítima por tempo inferior a 24 horas teremos a capitulação
do art. 159, caput, mas se durar mais, será a figura qualificada do § 1°.
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Cabe tentativa? Para isso temos que novamente estudar o iter criminis. Quando temos o ato
executório deste crime? A execução ocorre no momento em que o agente se apropria da coisa, com
o animus rem sibi habendi. A respeito da tentativa, temos duas correntes:
1. A primeira posição diz que este crime não admite a tentativa porque não se pode fracionar o
iter criminis, especificamente dizendo: não se pode fracionar o ato executório. É a posição
minoritária de Luiz Regis Prado;
2. A segunda posição diz que cabe tentativa ao argumento de que é perfeitamente viável que o
agente se aproprie da coisa sem externar, naquele momento, o animus rem sibi habendi. É a
posição majoritária e defendia por Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Rogério Greco,
Nucci e Fragoso.
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não têm condições de serem iludidas, logo não podem figurar como sujeito passivo do crime de
estelionato.
Temos outro ponto muito importante e debatido. Envolve a fraude nos concursos públicos. Há um
tempo, o CESPE passou uma situação difícil. Entorno de 2005, saiu uma notícia de que o CESPE
vazou gabaritos... Quem é o sujeito passivo? O ente federativo que realiza o concurso é vítima... O
próprio CESPE é também sujeito passivo prejudicado, assim como os candidatos que foram
aprovados de forma lícita. Nestas fraudes envolvendo concursos públicos, o sujeito passivo é
indeterminado e por isso não se configura estelionato. Recentemente foi criado um tipo penal para
isso, que é o art. 311-A do CP.
Este artigo só foi acrescentado pela Lei 12.550, de 15/12/2011. Até então tínhamos um fato atípico.
Apenas fatos posteriores podem ser considerados como típicos penalmente, considerando o
princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.
O dispositivo em exame menciona ainda: ‘qualquer outro meio fraudulento’... O que isso significa?
É uma interpretação extensiva, analógica. A mentira pode ser este outro meio fraudulento? E o
silêncio, também pode ser este outro meio fraudulento?
A mentira é um meio executório da fraude. O silêncio também pode ser este outro meio fraudulento.
Falso x Estelionato. O sujeito pratica um falso (falsidade ideológica ou de documento) para obter
uma vantagem indevida em prejuízo alheio. O que ocorre? Há concurso? Há absorção? Concurso
material ou formal? Temos em doutrina e jurisprudência cinco correntes:
1. O agente que pratica um falso com o estelionato responderá somente pelo falso, sendo o
estelionato um pós factum impunível. É a posição Nelson Hungria, sendo hoje
absolutamente minoritária, mas temos que saber.
2. Posição de tribunais de justiça estaduais – há o concurso material entre falso e estelionato,
pois são duas condutas diversas.
3. Posição jurisprudencial minoritária: há concurso formal entre o falso e o estelionato.
Considera-se que há apenas uma conduta, dividida entre dois atos, um de falsidade e outro
de estelionato (para o prof. é uma posição absurda).
4. Posição doutrinária: o agente responderá sempre pelo estelionato e o falso fica absorvido
como um ante factum impunível, por ter sido o meio para a prática do estelionato. É a
posição de Rogerio Greco.
5. “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva fica por este
absorvido”. Esta é a redação da Súmula 17 do STJ. É o fato de ter ou não potencialidade
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lesiva ‘a mais’ é que diferencia a súmula da posição do Greco, pois para este, em qualquer
hipótese o estelionato absorve o falso. Para a súmula não... Para a súmula, só haverá
absorção quando o falso não tiver mais nenhuma potencialidade lesiva. No caso de o falso
tiver mais potencialidade lesiva, não incide a súmula, mas teremos o concurso material de
crimes.
O prof. cita um ex.: ele falsifica a assinatura de um cheque e o emite. O falso se exaure naquela
situação... Mas se há falsificação de um cartão de crédito: várias compras... O falso não se
esgota num único estelionato. A falsidade não se esgotou no estelionato = não incide a súmula.
O que ocorre? Verificando os precedentes do STJ, verifica-se que há concurso material, o que
remonta à posição dos tribunais estaduais.
Quando o crime do art. 171 do CP se consuma? Quando estiver perfeito o binômio: vantagem ilícita
e o prejuízo alheio.
Art. 171. § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a
pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
A redação é igual ao art. 155, §1º, ver aula de furto, onde se compara o pequeno valor da coisa ao
salário mínimo. No estelionato considera-se o patrimônio da vítima para verificar o prejuízo.
Art. 171. § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Traz figuras equiparadas.
Disposição de coisa alheia como própria
35
STJ Súmula nº 24 - 04/04/1991 - DJ 10.04.1991
Estelionato - Previdência Social - Qualificadora
Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da Previdência Social, a
qualificadora do § 3º do Art. 171 do Código Penal.
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Questão da prova última prova para a Defensoria Pública/RJ: Antônio trabalhava em uma
universidade e disse a Carlos que poderia furtar os livros da biblioteca, e que não somente o não
fazia porque não tinha para quem vender os livros. Carlos que tinha uma livraria, disse para ele
furtar, pois ele colocaria a venda na sua livraria. Antônio furtou os livros.
Antônio foi denunciado por furto e Carlos por receptação qualificada. Furto tem pena de 1 a 4 anos
e a receptação qualificada tem pena de 3 a 8 anos.
Como defensor público, qual seria a fundamentação para diminuir a pena de Carlos?
Resposta: Carlos não responde por receptação. Porque?
Quem pode ser sujeito ativo da receptação? Qualquer pessoa, menos a pessoa que concorreu para o
crime antecedente. Carlos concorreu para o furto de Antônio. Carlos foi partícipe do crime de furto.
E assim, Carlos não responderia por receptação, já que esta figura como um post factum impunível.
A tese seria mudar a tipificação para partícipe de Antônio e assim teria a pena de 1 ano a 4 anos.
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Receptação Própria: adquirir significa obter, ou seja, é preciso que haja uma aquisição onerosa e
não gratuita. O verbo ‘receber’ consiste em obter a posse da coisa sem a intervenção do
proprietário. O verbo ‘conduzir’ denota um ato de dirigir. Ex.: dirigir um carro roubado.
As condutas de transportar, conduzir e ocultar configuram o crime permanente.
Como se fala em ‘coisa que sabe ser produto de crime’, o dolo que a lei exige é o dolo direto de
primeiro grau. Assim, aqui não se admite o dolo indireto eventual.
Receptação Imprópria: aqui temos a figura de um terceiro de boa fé.
Gabriel percebe que o notebook de Diego está quebrado e o sugere que compre um novo com ele,
ao argumento de que um amigo seu é representante de uma famosa marca de notebook. Mas na
verdade este amigo é contrabandista de produtos eletrônicos. Ocorre que Diego não sabe desta
prática delitiva e compra de Gabriel um notebook novo.
Diego não pratica crime algum, enquanto Gabriel pratica a receptação imprópria, pois ele influiu
para que 3° de boa-fé adquirisse produto objeto de crime.
Mas se o terceiro estiver de má fé (dolo), isto é, se o terceiro souber da prática delitiva anterior? O
terceiro responderá por receptação própria, enquanto que aquele que influiu também responderá por
receptação própria, porque será encardo como partícipe.
O agente que compra produto de crime anterior e posteriormente o vende. Pratica qual crime?
Quando ele comprou o bem, ele praticou o crime de receptação e quando o vendeu praticou o crime
de estelionato. Porém a doutrina alerta que este estelionato será um post factum impunível.
Pergunta de Nelson Hungria: É possível receptação de receptação? Você compra um IPhone que
sua tia muambeira trouxe do exterior, produto de descaminho. Daí você vende para um terceiro,
informando-o que se trata de produto de crime. Há sim esta possibilidade e configura receptação.
Consumação:
Quando se consuma a receptação própria e a receptação imprópria? A receptação própria se
consumará quando uma das condutas descritas no art. 180, caput, primeira parte ocorrer.
A consumação da receptação imprópria é um tema discutido na doutrina.
1ª. Posição: receptação imprópria se consuma com a prática de qualquer ato idôneo a influir a
terceira pessoa de boa-fé. Basta influir de acordo com esta posição. Posição de Cezar Roberto
Bitencourt e Luiz Regis Prado (majoritária). 2ª. Posição: assevera que o mero ato de influir não
apresenta nenhuma lesividade ao bem jurídico do patrimônio, pois este restará intacto. A lesão só
ocorrerá quando o terceiro de boa-fé adquirir, receber ou ocultar. É posição minoritária – de Greco.
Receptação qualificada
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Art. 180. § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de
crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Diz-se que a receptação é qualificada porque quem pratica o crime é uma pessoa ou um industrial e
isso gera consequências no mercado de consumo (tributárias, etc.).
Estamos diante de um crime comum e crime próprio.
Verbos que configuram um crime permanente: transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, expor
a venda... No § 1° o crime se consuma com a prática de todas essas condutas.
Questões que surgem daqui: por que a pena prevista no §1º é de 3 a 8 anos sendo que a pena do
caput é de 1 a 4 anos? A pena é maior por conta das consequências na ordem econômica que a
prática delitiva ocasiona. No entanto, se olharmos para o elemento subjetivo, o dolo, perceberemos
a desproporcionalidade. O dolo direto é mais grave que o dolo eventual. Temos o dolo direto no
caput do art. 180, enquanto que temos o dolo eventual no §1º.
E assim, o dolo direto esta sendo punido de forma mais leve do que o dolo eventual.
1° ponto importante... Na expressão “deve saber”, está abrangido o dolo direto ou se trata de dolo
eventual? Duas correntes disputam o tema em doutrina. 1ª. Posição: não está a abranger o dolo
direto de primeiro grau em razão da literalidade do artigo. Quisesse o legislador, no §1º, abranger o
dolo direto ele teria feito como fez no caput. Se o sujeito souber que se trata de produto objeto de
crime, vamos para o caput. É a posição de Damásio de Jesus e Alberto Sila Franco. 2ª. Posição:
para se manter a proporcionalidade, o §1º na expressão “deve saber”, estaria a abranger também o
dolo direto porque estar-se-ia equiparando as duas espécies de dolo. Entende-se que o legislador
disse menos do que queria. É uma posição um pouco majoritária e defendia por Nucci, Greco e Luiz
Regis Prado.
Não teríamos outra solução?
Poderíamos, para manter a proporcionalidade, dizer que o § 1° de fato não abrange o dolo direto...
Então se o comerciante ou industrial sabe que se trata de produto de crime, ele estaria no caput. Mas
o § 1° é específico para este sujeito... Poderíamos aplica a pena do § 1°, enquadrando o sujeito no
caput? Não!
Art. 180. § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer
forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
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Temos uma equiparação... É a situação do agente que vai para o exterior e lá compra os bens e os
vende em sua residência.
A doutrina diz que para verificarmos esta equiparação, conduta deve ser revestida de continuidade,
de habitualidade, isto é, diante de uma venda ocasional, não teremos a equiparação.
Art. 180. § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor
e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
A doutrina chama esta modalidade de receptação culposa.
A imprudência reside no fato de a pessoa adquirir uma coisa sem verificar a sua natureza, a
desproporção entre o valor e o preço cobrado, e as condições de quem a oferece. A natureza se liga
à própria coisa.
Art. 180. § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime
de que proveio a coisa.
Aqui falamos da autonomia processual.
O menor de 18 anos furta um carro e o terceiro compra, sabendo da prática delitiva. O agente é
inimputável, mas subsiste a receptação. O terceiro responde pela receptação.
Art. 180. § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração
as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do
art. 155.
Aqui temos o perdão judicial.
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Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
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Inciso II. É também desnecessário, porque estamos diante de causas pessoas, que não se comunicam
ao terceiro, estranho.
‘A’ e ‘B’ furtam ‘C’. ‘C’ é pai de ‘A’. ‘A’ será abrangido pela imunidade. ‘B’ não será abrangido e
responderá pelo crime de furto.
Inciso III. Foi inserido pelo Estatuto do Idoso.
Encerramos as questões dos crimes patrimoniais e partiremos para o estudo dos Crimes contra a
Dignidade Sexual.
ESTUPRO.
Com o advento da Lei 12.015, de 2009, tivemos várias alterações, e uma delas foi a alteração do
título de crimes contra a liberdade sexual para crimes contra a dignidade sexual.
Antes de 2009 existia o crime de atentado violento ao pudor. Atualmente o atentado violento ao
pudor está inserido na conduta descrita no art. 213 do CP.
O prof. traz uma rápida comparação para vermos o que mudou entre um crime e outro.
Antes de 2009 tínhamos o art. 213 (estupro), que previa a conduta de constranger mulher à
conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.
O art. 214 (atentado violento ao pudor) previa a conduta de constranger alguém com violência ou
grave ameaça a praticar ou permitir que se pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção
carnal.
A Lei 12.015 levou o atentado violento ao pudor para dentro do tipo do art. 213, que tem a atual
redação: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10
(dez) anos.
Desde 1940 até os dias de hoje temos o seguinte questionamento: o que é conjunção carnal? Para o
CP, de acordo com Nelson Hungria, conjunção carnal significa a introdução do pênis na cavidade
vaginal. Qualquer outro ato de libidinagem que não consista em tal conduta, como o sexo oral, o
sexo anal, a masturbação, será classificado como ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
Então a depender da espécie de ato sexual configurava estupro ou atentado violento ao pudor...
As penas eram idênticas (6 a 10 anos).
O estupro, antes da lei de 2009, era um crime próprio porque somente o homem poderia ser o
sujeito ativo do crime – para a consumação do estupro, era preciso a conjunção carnal, tendo como
vítima mulher. Só a mulher poderia ser a vítima do crime de estupro.
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Daqui decorriam algumas consequências: o homem podia ser sujeito passivo do crime de estupro?
Não, homem não tem vagina.
E se estivéssemos diante de um travesti operado? Poderia ser sujeito passivo de estupro? Igualmente
não, porque ele teria uma cavidade no corpo, produzida por uma cirurgia plástica. Ele não tem os
elementos vaginais e assim não podia ser vítima de estupro.
À época, Rogerio Greco (minoritário) defendia que o travesti operado podia ser vítima de estupro,
porque o travesti tinha uma ‘neovagina’.
Assim, o homem não era vítima do crime de estupro, porém era enquadrado como vítima de
atentado violento ao pudor.
O novel art. 213, sob o nomen iuris estupro, reuniu a conduta do anterior estupro e do anterior
atentado violento ao pudor. Hoje se fala em constranger alguém, e não apenas mulher. Um crime
que era próprio passou a ser um crime comum. Qualquer pessoa pode constranger qualquer outra à
prática de ato sexual.
Tínhamos uma questão doutrinária: pensando antes de 2009 – se tivéssemos a situação na qual uma
mulher constrangesse um homem a praticar com ela conjunção carnal... Qual era o crime? Não se
trataria de estupro, porque a mulher não podia ser sujeito ativo do crime de estupro, e não podia ser
atentado violento ao pudor porque a mulher constrangeu o homem a realizar conjunção carnal, ou
seja, não se tratava de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, mas sim de uma própria
conjunção carnal.
Portanto, qual crime teríamos? A questão era altamente controvertida. Luiz Regis Prado dizia que a
conduta configurava atentado violento ao pudor, porque se realmente o atentado ao pudor não
abrange a conjunção carnal, neste caso específico ela vai abranger, sob pena de gerar a atipicidade
da conduta. Havia uma segunda posição, defendida por Bitencourt, no sentido de não poderia ser
atentado violento ao pudor, porque este crime não previa a conjunção carnal, mas sim ato libidinoso
diverso... Como a mulher não pode ser autora de estupro este crime seria o de constrangimento
ilegal do art. 146.
Hoje o próprio legislador solucionou a situação. É crime comum – sujeito ativo e sujeito passivo
podem ser quaisquer pessoas.
Ainda há uma questão que, mesmo após de 2009, não foi resolvida: o marido pode ser autor de
estupro em relação a sua esposa? O tema é discutido em doutrina. 1ª. Posição: entende que o
marido não pode ser autor de estupro em relação a sua esposa, porque se ele obtiver a conjunção
carnal com ela mediante violência ou grave ameaça, ele estará no exercício regular do direito (causa
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Quando se consuma o estupro? De acordo com a doutrina, a consumação ocorre com a fornicatio
simplex. O estupro se consuma quando ocorre a introdução do pênis na cavidade vaginal, ainda que
parcial, com ou sem a ejaculação. Tal raciocínio deve ser feito também para o outro ato libidinoso,
como o sexo anal ou o sexo oral.
O estupro e o atentado violento ao pudor são crimes hediondos desde sempre e continuam sendo.
Atualmente, o travesti pode ser vítima de estupro? Sim. E a prostituta? Sim. Apesar de ser
prostituta, ela tem sua dignidade sexual que deve ser mantida íntegra.
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O tipo misto (tipo de conteúdo variado ou tipo plurinuclear) é o tipo que traz em si duas ou mais
condutas típicas.
Se o agente praticar as duas condutas típicas, se o for tipo for misto alternativo teremos apenas um
crime. Pense no tráfico de drogas, que traz uma série de condutas... Se o agente praticar mais de
uma conduta da descrita, temos um só crime.
Mas se o agente praticar mais de uma conduta no tipo misto cumulativo, teremos tantos crimes
quantas forem as condutas, em concurso de crimes.
Quando e como diferenciaremos um tipo misto alternativo do cumulativo?
Não há em doutrina um critério seguro... A única forma é a seguinte: no tipo misto alternativo os
verbos vêm separados por uma vírgula, já no tipo misto cumulativo os verbos são separados por
ponto e vírgula.
Ver art. 208 do CP: Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa;
impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou
objeto de culto religioso: Temos três condutas, que são separadas por ponto e vírgula... Se eu
praticar duas delas, pratico dois crimes em concurso.
O crime de estupro é um tipo misto alternativo, pois as condutas estão separadas por vírgulas.
Não há jurisprudência pacificada, pois STJ e STF ora afirmam que é um tipo misto alternativo ora
cumulativo.
O professor defende a tese de que não se trata nem de um nem de outro. O professor afirma que no
crime de estupro temos apenas a conduta de constranger, isto é, o verbo típico é constranger, e a
violência ou a grave ameaça são os meios que teremos a consumação.
É óbvio que se já o constrangimento à prática conjunta de conjunção carnal e outro ato libidinoso, a
pena deve ser maior.
Antigamente havia uma discussão se era possível se reconhecer o crime continuado entre o estupro
e o atentado violento ao pudor.
O agente que nas mesmas condições de tempo e lugar, maneiras de execução constrangia mulheres
a conjunção carnal, anal e oral, etc.
O art. 71 do CP dispões que quando o agente mais de uma ação ou omissão pratica crimes da
mesma espécie. A discussão era essa: crimes da mesma espécie. Era uma discussão que ecoava na
doutrina e na jurisprudência. Diziam uns que crimes da mesma espécie eram os crimes previstos no
mesmo tipo penal, e assim, antes de 2009, não cabia porque eram tipos penais diversos (estupro e
atentado violento ao pudor). Outros diziam que crimes da mesma espécie eram crimes que
protegiam o mesmo bem jurídico, apesar de previstos em tipos penais diversos, e assim cabia o
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reconhecimento de crime continuado entre o art. 213 e o art. 214, pois ambos protegem a dignidade
sexual.
Com o advento da lei 12.015/2009 esta discussão caiu por terra.
Seguindo no art. 213... Tal artigo, atualmente, traz uma questão interessante, que sempre caiu em
provas:
Art. 213. § 1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2° Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos .
Estes resultados qualificadores apareciam no antigo art. 223, caput e p. único.
Enquanto a lesão corporal e a morte eram qualificadoras do antigo art. 223, isso não mudou nada,
pois atualmente tais são previstos no art. 213, § §1º e 2º, com a inclusão da vítima maior de 14 e
menor de 18 anos.
Esses resultados qualificadores irão decorrer de dolo ou culpa? Duas correntes disputam o tema em
doutrina. 1ª. Posição: defendida por Greco (majoritária), e é no sentido de decorrer apenas de culpa,
pois são resultados qualificadores que decorrem de culpa do agente. Do ato de estupro, o agente,
para abafar o som dos gritos da mulher durante o estupro, a sufoca com um travesseiro e a mata. Ele
não quis mata-la, mas estupra-la. A morte decorreu de culpa. 2ª. Posição: defende que os resultados
qualificadores decorrerão de dolo ou de culpa. É a posição de Nucci (ver aula de lesão corporal no
que tange à lesão corporal seguida de morte, art. 129, §§1º e 2º).
Com a alteração da lei em 2009, houve abolitio criminis em relação ao antigo art. 214? A nova lei
revogou o art. 214.
Ocorre que não houve a abolitio criminis. A conduta típica que estava no art. 214 passou a figurar
no novo art. 213 (princípio da continuidade normativo-típica). A conduta não deixou de ser crime,
apenas passou a ser prevista em outro dispositivo do Código Penal.
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►Art. 215.
A redação original de tal artigo é a seguinte:
Art. 215 - Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude:
A nova redação assim preconiza:
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
O que diferencia o art. 213 do art. 215 do CP? Em ambas temos conjunção carnal ou ato libidinoso
qualquer, mas temos o diferencial da fraude. E aqui podemos trazer o conceito de fraude do art. 171
do CP, que é induzir ou manter alguém em erro, a fim de manter conjunção carnal ou ato libidinoso
qualquer. Além da fraude, fala-se em outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima.
Como ex. de fraude a doutrina cita as pessoas presentes num baile de máscaras, irmãos gêmeos...
Mas aqui temos uma novidade, que é o outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima... Como ex. de tais meios são remédios, narcóticos, álcool... Qualquer substância
química...
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grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4o Se da conduta resulta morte: Pena -
reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Ao tempo em que o art. 224 do CP foi revogado, todas as questões por ele mencionadas foram para
o art. 217-A do CP. A alínea ‘a’ do art. 224 do CP está no caput do art. 217-A, e as alíneas ‘b’ e ‘c’
estão no § 1° do art. 217-A do CP... Temos a incidência do princípio da continuidade normativo-
típica – as questões não deixaram de ser criminosas, pois mantidas no CP, porém em outro
dispositivo legal.
Sempre houve discussão, no sentido de que se a presunção de violência do art. 224 era absoluta ou
relativa... Se absoluta, não se poderia produzir prova em sentido contrário...
A doutrina em peso (Nelson Hungria, Luiz Regis Prado, Magalhães Noronha, Alberto Silva Franco,
Luiz Flávio Gomes, Mirabete, dentre outros) dizia que a presunção era absoluta. A jurisprudência
do STF e do STJ sempre considerou que a presunção era absoluta. Esta era a grande problemática.
A ordem de HC 8126837 foi julgada no sentido de que a presunção era relativa, porém foi uma
decisão isolada.
Após a reforma de 2009 pareceu que a discussão de ser presunção absoluta ou relativa ‘morreu’,
porque agora temos um novo tipo penal. O novo tipo penal (art. 217-A) traz a presunção como
elemento do tipo penal.
Assim, ao praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos, com quem for
enfermo ou doente mental ou que por qualquer outra causa não puder oferecer resistência é crime –
estupro de vulnerável. Não se fala mais em presunção, mas sim em um tipo penal autônomo.
O prof. realiza uma comparação da redação do art. 217-A, §1º com a do art. 215.
No art. 215 temos a fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade
da vítima, ou seja, o agente emprega a fraude, usa um meio que impede ou dificulta a livre
manifestação de vontade da vítima para obter o ato sexual... O agente coloca a vítima nesta
situação.
Já no § 1° do art. 217-A a vítima já se encontra numa situação de enfermidade, ou de doença mental
ou de qualquer outra causa que não possa oferecer resistência.
37
EMENTA: Crimes sexuais mediante violência ou grave ameaça (C. Pen., arts. 213 e 214): presunção de violência, se
a vítima não é maior de 14 anos (C. Pen., art. 224, a): caráter absoluto da presunção, que não é inconstitucional, visto
não se tratar de presunção de culpabilidade do agente, mas de afirmação da incapacidade absoluta de menor de até 14
anos para consentir na prática sexual: análise da jurisprudência do STF - após a decisão isolada do HC 73.662, em
sentido contrário - conforme julgados posteriores de ambas as Turmas (HC 74286, 1ª T., 22.10.96, Sanches, RTJ
163/291; HC 75608, 10.02.98, Jobim, DJ 27.03.98): orientação jurisprudencial, entretanto, que não elide a exigência,
nos crimes referidos, do dolo do sujeito ativo, erro justificado quanto à idade da vítima pode excluir.
(HC 81268, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 16/10/2001, DJ 16-11-2002 PP-
00008 EMENT VOL-02052-02 PP-00274)
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Souza Nucci faz a distinção no sentido do grau de vulnerabilidade, pois se gerar na vítima uma
incapacidade relativa teremos o art. 215, mas se gerar uma incapacidade absoluta teremos o art.
217-A, §1º.
O professor não enxerga esta diferença do grau de vulnerabilidade, pois no art. 215 a vítima não é
vulnerável... Mas é o que a doutrina afirma e é o que deve ser respondido em provas – grau de
vulnerabilidade.
Tudo o que se disse no art. 213 aplicaremos aos §3º e §4º do art. 217-A. Temos os meios
qualificadores.
►Art. 225.
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima
é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
Quando vigorara o art. 225 antes da alteração de 2009 tínhamos o seguinte quadro: como regra
geral a ação penal era de iniciativa privada, porém tínhamos a súmula 608 38 do STF que dizia que
do estupro com violência real a ação penal era pública incondicionada.
Hoje a regra passou a ser ação pública condicionada, e excepcionalmente, sendo a vítima menor de
18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável a ação penal será pública incondicionada.
A súmula 608 do STF é da década de 60.
Com a nova redação, dada pela Lei 12.015/2009 temos o seguinte quadro: como regra geral a ação
penal é pública é condicionada à representação. Qual a diferença entre a ação penal pública
incondicionada e a condicionada à representação. Na condicionada à representação podemos
trabalhar com a decadência enquanto na incondicionada não.
Quando a lei surgiu houve uma grande discussão na doutrina: a súmula continua em vigor?
Um estupro do art. 213 com violência real, violência física... A ação penal será pública
incondicionada por aplicação da súmula ou será pública condicionada à representação nos moldes
do novo art. 225?
Alguns autores começaram a sustentar que a ação penal deveria ser pública incondicionada por
aplicação ainda da súmula 608 do STF. O argumento não era técnico: se a vítima morresse o direito
de representação passaria para cônjuge, ascendente, descendente e irmão (CADI) (art. 24, §1º do
38
Súmula 608 do STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.
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CPP), mas caso não haja a atuação destas pessoas, o direito de representação não passaria para
ninguém, gerando a impunidade do agente. Com base neste raciocínio alguns doutrinadores
defendiam que a súmula deveria prevalecer, a fim de que não se perpetuasse a impunidade.
Na verdade tomaram como regra algo que é muito raro de acontecer (alguém não possuir mais
parentes).
Contudo, a posição de Guilherme de Sousa Nucci é no sentido de que a súmula não pode mais ser
aplicada ao argumento de que existe um conflito entre súmula e lei posterior, lei que dispôs em
sentido contrário.
Assim, prevalece a nova lei. Uma súmula não possui a mesma legitimidade que uma lei... A súmula
608 majoritariamente é vista como inaplicável.
Fazendo um paralelo, no que toca à súmula e lei, temos a questão do crime continuado. Cabe crime
continuado contra os crimes contra a vida? A súmula 605 do STF dizia que não. Com a reforma do
CP em 1984 tivemos a positivação no art. 71, p. único do crime continuado nos crimes contra a
vida.
Diante deste cenário a doutrina passou a defender que a Súmula 605 do STF não podia ser mais
aplicada. E é o que devemos aplicar aqui no que toca à Súmula 608 do STF e o art. 225 do CP.
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Qual é o bem jurídico tutelado? A paz pública. Já perigo a paz pública quando quatro pessoas ou
mais se reúnem para cometer crimes.
O art. 288-A traz uma especialidade, pois trata da associação em forma de milícia privada. A
segunda especialidade reside no art. 2º da Lei 2.889/56 que trata da associação para fins de
genocídio. A terceira especialidade reside no art. 35 da Lei 11.343/2006 que trata do crime de
associação para o tráfico de drogas. O que muda nestes artigos é a quantidade de pessoas.
Hoje temos associarem-se 3 ou mais pessoas, então com 3 pessoas já temos o crime. Aqui
computaremos os penalmente inimputáveis seja pelo critério biológico (menor de 18 anos) seja pelo
critério biopsicológico. Basta que haja 1 pessoa maior de 18 anos. Por ex., se tenho 1 com 21 anos e
os outros com 14 anos – mesmo assim temos a configuração do crime do art. 288 do CP.
Este crime é classificado como crime de concurso necessário, ou plurisubjetivo, ou seja, é aquele
que exige uma pluralidade de pessoas na sujeição ativa como elemento do tipo, senão o crime não
existe.
Fragoso destaca que este crime é um crime permanente, isto é, enquanto as pessoas estiverem
associadas, a consumação está se prolongando no tempo.
Como diferenciaremos o crime do art. 288 do CP de uma simples coautoria? O crime do art. 288 do
CP é um crime que exige uma estabilidade. Esta reunião deve se estabilizar no tempo, deve ser
duradoura, não podendo ser uma reunião eventual para a prática de um crime pontual. A reunião
tem que ser permanente, e independe da prática de crimes. A prática de crimes é meramente um
especial fim de agir.
Na coautoria a reunião é eventual.
O crime do art. 288 do CP se consuma com a mera associação de pessoas. Cezar Roberto Bitencourt
afirma que se trata de um crime formal. Não precisa que a quadrilha venha a praticas os crimes.
Basta se associarem. Pode acontecer da quadrilha não praticar crime algum.
A lei usou a expressão “crimes”, ou seja, plural. Assim, tem que ocorrer mais de um crime, pois se
ocorrer apenas um teremos a coautoria e não o tipo legal em comento. E mais: como a lei fala em
crimes, em homenagem ao princípio da reserva legal não podemos abranger a contravenção penal.
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Este crime admite tentativa? Não porque é um crime unisubsistente (não pode fracionar os atos
executórios da consumação). Ou as pessoas se reúnem e há consumação, ou não se reúnem e não há
consumação... A execução da associação leva à consumação...
Sempre que houver uma associação criminosa e a prática de outros crimes sempre teremos o
concurso material entre a associação e o outro crime praticado. Assim poderemos ter: art. 288 +
estelionato; art. 288 + extorsão.
No paragrafo único temos a menção à associação armada, lembrando que pode se tratar de arma
própria ou imprópria.
OBS.: cuidado, pois é muito comum constar nas provas a questão do tráfico, quando não temos o
art. 288 do CP, mas o art. 3539 da Lei 11.343/2006.
O que é unidade paramilitar? Milícia particular? Grupo? Esquadrão? Não há um conceito trazido
pelo legislador. O art. 5º, XVII, da CRFB/88 veda a associação para fins paramilitares. Na gíria
popular o miliciano é o militar. Organização paramilitar são organizações formadas por militares
que atuam paralelamente à organização militar lícita, só que são ilícitas. Fala-se também em
39
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime
definido no art. 36 desta Lei.
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Já na milícia particular temos milicianos que atuam de forma particular, isto é, cobrando por
serviços, etc.
Esquadrão possui um nome para identificação...
Esta milícia privada é para a prática de qualquer crime? Seria aplicável para prática de crimes
contra a honra? Não foi este o fim do legislador. Só existirá a milícia privada, nos moldes do art.
288-A, quando ela se formar para a prática de crimes violentos ou então crimes não violentos, mas
que tenham um cunho de magnitude (estelionatos, crime de incêndio etc.).
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De quem é a competência para julgar este crime? Da justiça estadual ou federal? A competência
criminal da justiça federal está no art. 109, IV da CRFB/88. Assim, a competência será da justiça
federal.
Enquanto no caput do art. 289 temos a falsificação, temos o §1º que traz condutas equiparadas. O
§1º é um tipo penal misto ou múltiplo ou plurinuclear ou de conteúdo variado. Este tipo penal é um
tipo penal misto alternativo – temos várias condutas, condutas que são praticadas posteriormente à
falsificação.
O §1º está ligado à circulação da moeda falsa. Introduzir na circulação é colocar a moeda no
mercado formal de consumo.
O §2º traz uma conduta bem menos grave. Fala-se naquele que recebeu de boa-fé moeda falsa ou
adulterada e a restitui ao mercado, após descobrir que se trata de moeda falsa. A pena é menor
porque o dolo é evitar um prejuízo patrimonial. O crime se consuma com a reinserção da moeda em
circulação.
O §3º trata de crime próprio, pois fala em funcionário público. Neste tipo penal a moeda é
verdadeira, só que o inciso I trata de moeda metálica (moedinha) com título ou peso inferior
determinado em lei. Existe uma lei que determina o peso das moedas... Então a emissão com peso
diferente ao que a lei determina é crime... E no inc. II temos a emissão de cédulas superior à
permitida.
No §4º a moeda é verdadeira, mas temos o desvio ou circulação não autorizada.
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OBS.: e quando o agente pratica a conduta de falsificação descrita no art. 289, caput e depois
pratica a conduta do §1º, introduzindo-a em circulação? Como fica? Não é uma situação rara.
Neste caso, os dois tipos penais tutelam o mesmo bem jurídico (fé pública) e sendo assim temos a
incidência do instituto do pós factum impunível.
Isto é, quando o agente pratica a primeira conduta criminosa ele já causa a lesão ao bem jurídico.
Quando o mesmo agente pratica a segunda conduta criminosa, apesar de em tese constituir um
crime autônomo, ele não está a causar uma nova lesão ao bem jurídico.
Da Falsidade Documental:
Qual é a diferença entre a falsidade material e a falsidade ideológica?
A falsidade material é uma falsidade que atinge a configuração extrínseca do documento, isto é,
forma-se um novo documento falso ou se falsifica um documento verdadeiro. Atinge-se a forma do
documento e não o seu conteúdo. Ex.: fabricar uma carteira de habilitação, rasurar uma carteira de
identidade para colocar outra foto.
A falsificação está não só na formação, mas também na atribuição para emitir o documento. O
documento em si pode até ser verdadeiro, mas se quem o emitiu não tem atribuição para tanto e
mesmo assim o fez teremos o tipo penal configurado.
A falsidade ideológica é aquela que incide sobre o conteúdo intelectual do documento. O
documento é legítimo, mas a falsificação reside no seu conteúdo. O sujeito do cartório do RCPN
emite uma certidão de nascimento absolutamente verdadeira, mas de um nascimento que não existiu
– falsidade ideológica. Por ex., o DETRAN emite o documento do veículo, mas com um endereço
falso. O documento é verdadeiro, mas o seu conteúdo é falso.
A partir disto, temos que os três artigos que veremos de falsidade tratam do seguinte: o art. 297 e
art. 298 tratam de falsidade material, enquanto que o art. 299 trata da falsidade ideológica.
A única distinção entre os artigos 297 e o art. 298 é que o primeiro trata de documento público
enquanto que o segundo trata de documento particular.
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Quando este crime estará consumado? Com a prática da conduta, com a falsificação total ou com a
alteração.
O §1º traz as causas de aumento de pena.
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Já o §2º traz as pegadinhas da prova, pois traz os documentos que são equiparados a documentos
públicos. Pegadinha: testamento particular é documento público? Não, apenas é equiparado para
efeitos penais. Assim, a falsificação ode testamento particular é tipificado no art. 297 do CP.
Título ao portador transmitido por endosso: estamos falando de títulos de crédito. OBS.: qual é a
natureza jurídica do endosso? Endosso é uma forma de transmissão do crédito. Todos estes títulos
de crédito, que são transmissíveis por endosso, são documentos equiparados a documento público.
O §3º foi inserido por uma lei posterior e esta lei inseriu algumas condutas que, na verdade, estão
no lugar errado, pois configuram falsidade ideológica e não material.
O documento que é enviado à Previdência Social é verdadeiro só que naquele documento há uma
pessoa que não é segurado obrigatório.
A carteira de trabalho é verdadeira, o que é falso é o conteúdo inserido. É comum que se lance na
CTPS um salário menor do que o real...
A diferença reside onde a falsidade é praticada... No inciso II é na CTPS e no inciso III é em
qualquer documento contábil, desde que destinado à Previdência Social.
Os três incisos se consumam quando a inserção for realmente feita. O que significa fazer inserir?
Aqui precisamos de outra pessoa.. É preciso que se determina que terceiro insira uma declaração
falsa. O terceiro insere e o agente faz inserir.
No §4º estamos diante de um crime omissivo próprio.
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Art. 348. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro, para fins
eleitorais:
Pena - reclusão de dois a seis anos e pagamento de 15 a 30 dias-multa.
§ 1º Se o agente é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada.
§ 2º Para os efeitos penais, equipara-se a documento público o emanado de entidade paraestatal inclusive Fundação
do Estado.
Ar. 349. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro, para fins
eleitorais:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa.
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No caso da conduta de inserir a consumação ocorrerá quando o agente que está inserindo a
informação falsa concluir aquele documento.
No caso da conduta de fazer inserir a consumação ocorrerá quando o terceiro concluir a inserção.
O especial fim de agir é muito importante... É preciso que o agente realize as falsidades com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante...
O p. único traz um simples aumento de pena.
Especialidades:
Art. 31541 da Lei 4.737/1965 – é um dispositivo de difícil utilização, porque hoje temos as
urnas eletrônicas, mas a votação manual ainda pode vir a ocorrer;
Artigos 9º e 1042 da Lei 7.492/1986 – importante para provas federais.
Este crime envolve várias situações... Imagine que o agente faz uso de um documento. O que
significa fazer uso?
Primeira questão: o mero porte de um documento falso não configura este crime. Portar não é usar.
41
Art. 315. Alterar nos mapas ou nos boletins de apuração a votação obtida por qualquer candidato ou lançar nesses
documentos votação que não corresponda às cédulas apuradas:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa.
42
Art. 9º Fraudar a fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de
investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele deveria constar:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de
instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
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Temos uma exceção: tem um documento público em que o portar já é usar. É o caso da carteira
nacional de habilitação. O CTB exige que o agente esteja a portar consigo a CNH para dirigir um
veículo automotor.
Atenção – o CTN exige que o agente porte a CNH para dirigir, de modo que aquele que dirige sem
portar CNH comete crime, mesmo que ele a possua.
Este crime só existirá se o agente usar o documento para a finalidade para a qual ele existe.
Normalmente isso acontece muito com carteira de identidade e a CNH. O prof. destaca que a CNH
pode ser usada como documento de identificação porque o CTB assim determina...
Neste sentido, aquele que apresentar a carteirinha do Curso Forum falsificada para fins de
identificação civil não incorre em crime.
Este crime exige a espontaneidade? O sujeito é parado numa blitz... Apresenta sua CNH e o
documento do carro, verdadeiros... O guarda solicitou o RG, e este foi apresentado, mas era falso.
Há crime? O sujeito só apresentou porque o guarda requisitou... Temos duas correntes. A primeira
corrente, majoritária, diz que não se exige a espontaneidade, isto é, mesmo que o agente entregue o
documento por requisição policial o crime existirá. É a posição do STF e na doutrina de Nucci e de
Luiz Regis Prado. A segunda corrente minoritária diz que deve ser espontâneo porque o tipo dispõe
fazer uso e nesta expressão está ínsita a espontaneidade do agente. É a posição isolada de Celso
Delmanto.
E se o agente usa reiteradamente o mesmo documento falso... Existe concurso? Sim, porque ele faz
o uso constante, diversas vezes. Estamos falando de concurso material ou crime continuado a
depender das circunstâncias fáticas.
E se o agente usar em uma mesma ocasião vários documentos falsos? A ocasião é uma só, porém é
usado mais de um documento falso. Por ex., vai adquirir um imóvel... Apresenta RG falsa, CPF
falso, comprovante de residência falso, certidão de casamento falsa... Temos crime único ou
concurso formal? A questão não é simples... O crime não é fazer uso de documentos falsos, mas sim
de documento falso. Como fica? Temos duas correntes. A primeira posição diz ser concurso formal
impróprio, pois ainda que seja o mesmo contexto, o agente está empregando vários documentos
falsos. Cada documento apresentado corresponderia a um uso autônomo, então há vários usos em
concurso formal. É a posição do Fragoso e Paulo José da Costa Júnior. Entretanto, há uma segunda
corrente que diz que tratar-se de crime único porque o tipo penal não se importou com a quantidade
de documentos, mencionando simplesmente ‘fazer uso’. A quantidade de documentos é importante
para o crime de falsificação... O tipo fala em fazer uso de qualquer dos papéis falsificados, logo não
se importou com a quantidade. É a posição de Luiz Regis Prado.
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Este crime se consuma com a efetiva utilização do documento, mas cabe tentativa? Será que o
sujeito pode tentar usar? Temos duas correntes. A primeira corrente diz que cabe tentativa, pois
nada impede que o agente seja impedido de dar prosseguimento à execução. Posição defendida por
Bitencourt e Nucci, mas são minoritários. A segunda posição é majoritária e diz que o tipo é
unisubsistente, por isso não cabe tentativa. O ato executório não pode ser fracionado. Ou o agente
faz o efetivo uso e o crime se consuma, ou o agente não faz o uso e a situação é um fato penalmente
irrelevante. É a posição de Nelson Hungria, Paulo José da Costa Júnior, Fragoso, Bento de Faria,
entre outros.
Temos uma controvérsia homérica aqui... O agente que falsifica e depois usa o documento.
Responde pelo crime de falso ou de uso? Temos três correntes.
A primeira posição diz que o agente responde por crime de uso porque o crime de falso será ante
factum impunível (princípio da consunção na vertente de crime progressivo). É a posição de Nucci e
Sylvio do Amaral.
A segunda posição diz que como são condutas diferentes, que se consumam em momentos diversos,
teremos concurso de crimes entre o falso mais o uso.
A terceira e majoritária posição diz que o agente responde pelo crime de falso e o crime de uso será
um pós factum impunível porque temos dois tipos penais que protegem o mesmo bem jurídico (fé
pública). É a posição de Nelson Hungria, Fragoso Bitencourt, Bento de Faria, Paulo José da Costa
Júnior, Damásio, Capez, Luiz Regis Prado e é a posição do STF e STJ.
No STJ ver REsp 71476943 de 09/08/2005.
Fechamos as falsidades.
43
RECURSO ESPECIAL. PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO.ABSOLVIÇÃO.
RECONHECIMENTO DE AUSÊNCIA DE LESIVIDADE A OUTREM.AFRONTA A DISPOSITIVO DE LEI
FEDERAL. CRIME QUE SE CONSUMA INDEPENDENTEMENTE DO USO DO DOCUMENTO FALSO OU DA
DEMONSTRAÇÃO DO EFETIVO PREJUÍZO A TERCEIRO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
CONFIGURADA. PREVALÊNCIA DO ACÓRDÃO PARADIGMÁTICO.
O usuário é punível apenas, nesse caso, pelo crime de falsidade, considerado como fato posterior não punível o uso.
Recurso provido.
(REsp 714769/RS, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 09/08/2005, DJ
12/09/2005, p. 361)
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Começaremos pelo artigo 327 do CP. O prof. assim faz, pois se estamos a tratar dos crimes
praticados por funcionários públicos, devemos saber quem é o funcionário público, isso porque
todos os crimes aqui previstos são próprios, também chamados de crimes funcionais.
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Como temos agentes públicos figurando como elemento do tipo por serem crimes funcionais
ocorrerá o efeito secundário da condenação odo art. 92, I, do CP (efeito da perda do cargo).
Qual é a diferença entre a apropriação indébita (art. 168) e o furto (art. 155)?
A apropriação indébita pressupõe a posse anterior, ao passo que no furto o agente não tem a posse
anterior.
Na apropriação indébita, o dolo do agente é posterior à posse da coisa, já no furto o dolo é anterior à
posse da coisa.
Se colocarmos um funcionário público neste cenário, ou seja, na apropriação indébita e no furto
teremos outra tipificação penal, isto é, teremos a figura do peculato apropriação do art. 312, caput,
1ª parte, do CP e o peculato furto do art. 312, §1º, do CP.
No peculato apropriação, o funcionário público tem a posse anterior da coisa e o seu dolo é
posterior. Aqui exigiremos o mesmo elemento específico da apropriação indébita, qual seja o
animus rem sib habendi (intenção de obter a coisa pra si definitivamente). Não existe o chamado
peculato apropriação de uso.
Analisemos o art. 312, 1ª parte: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Caso não esteja presente o animus rem sib habendi o fato é atípico...
Esta posse anterior sempre se dará em razão do cargo.
O crime se consuma quando o funcionário público se apropria da coisa com o animus rem sib
habendi.
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De forma temos no peculato furto. No peculato furto, o agente não tem a posse anterior da coisa e o
seu dolo também é anterior. O agente chega à coisa pela facilidade da condição de ser funcionário
público.
Art. 312. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do
dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
O peculato furto se consuma quando o agente tiver a posse da coisa manifestando o animus rem sib
habendi.
Temos o peculato desvio. Analisaremos o art. 312, caput, 2ª parte do CP.
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio.
O agente tem a posse anterior e o dolo é posterior. O agente não subtrai para ele. O agente dá a esta
coisa uma destinação diversa da prevista em lei. O peculato desvio se consuma no momento em que
for dada a coisa o destino diverso.
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Peculato culposo (art. 312, § 2º): “o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem”.
Neste crime, o funcionário público viola o dever objetivo de cuidado; ele age com culpa e dá
causa ao crime praticado por outrem.
É o caso do policial federal que esquece a chave da viatura na ignição, vem um 3° e furta o veículo.
O funcionário público age com culpa, dando causa ao crime de outrem...
Este “crime de outrem” deve ser também um peculato ou pode ser qualquer crime? Há duas
correntes (não há majoritária):
a) Deve ser peculato, praticado por outro funcionário público. Por interpretação sistemática,
como o § 2º está dentro do artigo 312, deve ser interpretado de acordo com ele, com o crime
do caput. É a posição de Mirabete e de Paulo José da Costa Jr.
b) Pode ser qualquer crime, praticado por qualquer pessoa. A lei não fez distinção, não exigiu
expressamente e, “onde a lei não distingue, não cabe ao intérprete distinguir”. É a posição de
Nelson Hungria e Magalhães Noronha.
Não há concurso de pessoas entre o funcionário público que age com culpa e o terceiro que pratica
o crime, pois falta o requisito do liame subjetivo (prévio ajuste entre eles). Se houver, haverá um
crime doloso em concurso de pessoas.
O peculato-culposo se consuma quando o crime de outrem também se consumar. No caso do crime
do outrem ser apenas tentado, a conduta do agente público será atípica por impossibilidade de
tentativa no crime culposo.
Reparação do dano (art. 312, § 3º) é a reposição do bem que foi subtraído por conta da conduta
culposa do funcionário público.
Art. 312. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
A lei prevê consequências diversas: a) antes da sentença, há extinção de punibilidade; b) após a
sentença, reduz pela metade a pena imposta.
A previsão do art. 312, § 3º do CP incide para o crime doloso? Não! É uma previsão específica para
o peculato culposo, que merece tratamento maios benéfico, não cabendo aplicar-lhe ao peculato
doloso.
No peculato doloso, se o agente que reparar o dano, poderá incidir o arrependimento posterior (art.
16) ou a atenuante (art. 65, III, b).
►Art. 313-A: “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
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Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano”.
Rogerio Greco chama tal de peculato eletrônico, mas a maioria da doutrina assim não denomina.
Temos a conduta de inserir ou facilitar de inserção de dados falsos, ou a exclusão de dados corretos
em banco de dados da Administração e sempre com o fim específico...
Trata-se de crime próprio, cometido por agente público que tenha atribuição para alterar (em
sentido genérico) dados nos sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública.
O agente não altera o software, mas os dados neles contidos. Há especial fim de agir, consistente em
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
Exemplo: agente público entra no sistema eletrônico do DETRAN e exclui multas de trânsito ou
insere créditos tributários. Outra situação comum é a do sujeito concessor e habilitador de
aposentadoria que insere no sistema do INSS informações falsas, concedendo benefícios
previdenciários.
O crime se consuma com a alteração dos dados no sistema ou banco de dados informatizados ou a
facilitação dessa prática (ex.: empréstimo de senha), não sendo necessário que obtenha a vantagem
indevida ou o dano. Tais configuram o especial fim de agir.
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§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena -
reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente
para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
O agente público, mesmo que de férias ou de licença pode cometer esse crime, desde que a
exigência seja em razão da função, pois as férias ou a licença não desfazem o vínculo que o sujeito
tem com a Administração Pública.
Objeto material: vantagem indevida, que é toda vantagem contrária ao Direito. Quanto à natureza da
vantagem, há duas correntes:
a) Deve ter valor econômico (minoritária). Assim se entende por interpretação sistemática,
buscando-se a mens legislatoris, vê-se que o legislador quis coibir a exigência de vantagem
financeira direta ou indireta. É posição defendida por Magalhães Noronha, Bittencourt,
Delmanto, Damásio de Jesus, Paulo José da Costa Jr.
b) Não se exige a natureza econômica da vantagem (majoritária): por interpretação literal, a lei
não exigiu o cunho econômico; por interpretação sistemática, vê-se que está nos crimes
contra a Administração Pública, não contra o patrimônio, não sendo exigida a natureza
econômica. Para essa posição, se o agente exigir favores sexuais, há o crime. Defendem essa
corrente: Nelson Hungria, Fernando Capez, Guilherme de Souza Nucci.
A doutrina e a jurisprudência exigem o nexo funcional, que é a relação entre a exigência feita pelo
agente e a sua atribuição funcional. O ato que o agente público vai praticar para o qual exige a
vantagem indevida deve ser sua função... Como é o caso do delegado de polícia que exige vantagem
para não lavrar o auto de prisão em flagrante.
Se a função não for atribuição do agente, pode haver infração funcional e até estelionato, mas não
concussão. Exemplo: enfermeiro de hospital público que cobra para dar consulta. Dar consulta não
é uma atribuição sua...
Trata-se de crime formal, que se consuma com a mera exigência da vantagem indevida. A obtenção
ou não da vantagem não interfere na consumação do crime, basta que haja a exigência. Se for obtida
a vantagem há consequências na aplicação da pena, mas não na consumação do crime.
Como o crime se consuma com a exigência da vantagem indevida, somente pode haver flagrante
neste momento, não cabendo falar em flagrante no momento do pagamento.
Quanto à possibilidade de tentativa há duas correntes:
a) Não cabe tentativa, pois o crime é unissubsistente (posição isolada de Nelson Hungria);
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b) Cabe tentativa, desde que a exigência seja feita por escrito (posição majoritária: Nucci,
Delmanto, Luiz Regis Prado, entre outros).
Um caso de prova: o agente exige uma vantagem indevida e solicita que um terceiro vá à casa da
vítima para receber a vantagem... O 3° sabia que o valor era fruto de exigência de concussão e
mesmo assim vai lá e pega o dinheiro... Esse terceiro será coautor ou partícipe da concussão? Nem
um nem outro... A coautoria e a participação são formas de concorrência para o crime, logo somente
podem ocorrer até a consumação. Assim, de acordo com a posição majoritária, a atuação posterior
não configurará concurso para a concussão. Não existe coautoria ou participação em crime já
consumado... OBS.: Nilo Batista admite tal? O prof. já destaca que isto é defendido apenas por este
autor, é uma posição isolada.
Nesse exemplo, o crime do terceiro é o de favorecimento real (art. 34944 do CP).
OBS.: Especialidade → Lei 8.137/1990, art. 3º, II 45. O elemento especializante está no especial fim
de agir, e o agente exige vantagem indevida para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente. Trata-se do crime do fiscal fazendário.
Excesso de exação (art. 316, § 1º): “o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe
ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso,
que a lei não autoriza”.
Exação significa cobrança de tributo. A lei fala em tributo ou contribuição social e foi redundante,
pois a contribuição social é espécie de tributo (lembrando que o STF adota o conceito quinquipartite
de tributo).
Há uma só conduta, exigir, mediante duas hipóteses: a) tributo indevido, por qualquer causa das
formas de extinção do art. 156 do CTN (pagamento, prescrição, decadência etc.); b) tributo devido,
empregando, na cobrança, meio vexatório ou gravoso.
Trata-se de crime formal, consumado com a mera exigência.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de
12.11.2003)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Trata-se de crime formal, com isto não é necessária a obtenção da vantagem indevida para sua
consumação.
No art. 316 também temos um crime cujo objeto é uma vantagem indevida, mas lá, na concussão,
fala-se em exigir vantagem indevida. Já aqui, no art. 317, a corrupção passiva apenas solicita a
vantagem indevida:
Ver redação da questão de prova;
Na concussão, há a exigência como condição para a prática do ato; na corrupção passiva, o
agente só solicita, sem impor como condição para a prática do ato.
Ex.: médico que diz que pode passar paciente na frente, se pagar quantia. Nesse caso, há exigência
para o atendimento, então é concussão. Se ele atender de qualquer forma, mas disser que uma
vantagem seria adequada, não há condição. Logo, é corrupção passiva.
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O crime é formal, mas se houver a prática do ato, há a “materialização” do crime, com o aumento
de pena (art. 317, § 1º).
Como ocorre na concussão, exige-se o nexo funcional. Se o ato não for de atribuição do agente, não
haverá corrupção passiva, mas poderá haver estelionato, a depender do caso concreto.
Corrupção privilegiada (art. 317, § 2º): não há vantagem indevida, mas uma amizade, pedido,
influência, troca de favores. Por isso, a pena é muito menor.
Qual é a diferença entre corrupção passiva e prevaricação (art. 319)? Na 1ª há uma vantagem
indevida, ao passo que na 2ª não há vantagem indevida, mas um sentimento ou interesse pessoal.
E na corrupção passiva x estelionato (art. 171)? Diferença está no meio pelo qual o agente obtém a
vantagem indevida. No estelionato o agente obtém a vantagem indevida através de fraude,
induzindo ou mantendo a vítima em erro. Já na corrupção passiva o sujeito obtém a vantagem em
razão da função, não há qualquer fraude.
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Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la,
mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
Diminuição de pena
§ 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
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Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra
vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
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Interesse ou sentimento pessoal: amizade, vaidade, vingança, amor, piedade etc. Não pode ser
vantagem indevida.
OBS.1: Preguiça é sentimento pessoal para fins de prevaricação.
OBS.2: Princípio da Especialidade:
a) Arts. 292, 341, 344 e 345 do Código Eleitoral;
b) Arts. 67 e 68, da Lei 9.605/1998;
c) Art. 23 da Lei 7.492/1986.
►Art. 319-A.
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com
outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
- Crime omissivo: consuma-se com a omissão e não admite tentativa;
- Crime próprio: funcionário público, especificamente direito de penitenciária e/ou agente público.
O crime é deixar de vedar, deixar de informar aos presos que a comunicação está proibida por esses
meios, e não impedir o acesso.
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Em regra, os crimes do Capítulo II somente podem ser praticados por particular. Ocorre que a
doutrina até admite que sejam praticados por funcionários públicos, desde que quando da prática da
conduta estejam agindo como particulares, fora da sua função.
Usurpar é tomar o lugar de... Com isto a lei exige que um particular exerça a função de um
funcionário público, se fazendo passar como tal.
Usurpação de função pública x art. 45 da Lei de Contravenções Penais: na Lei de Contravenções
temos a conduta em que o agente somente finge ser funcionário público, sem que haja ato típico da
função usurpada, sem que haja a prática de qualquer ato. Já na usurpação de função pública se exige
a prática de ato específico da função usurpada.
Funcionário público suspenso por decisão judicial que continua a exercer a função não pratica esse
crime, mas o do art. 359 do CP. Ele tem aquela função, então não se trata de usurpação.
O crime se consuma com a efetiva prática do ato da função usurpada.
Cabe tentativa.
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Este crime tem um pressuposto: o ato praticado pelo agente público deve ser legal, conforme a lei.
Com isso se conclui que se o ato for ilegal, o agente pode e deve resistir, mesmo se presente
violência ou ameaça, não se configura o crime de resistência. O ato é atípico.
Por ex.: diante de um mandado de prisão assinado por delegado o sujeito pode e deve resistir...
O crime estará consumado com o efetivo emprego da violência ou ameaça. Cabe tentativa.
O crime é formal. Se o ato legal for consumado apesar da violência ou ameaça, o crime resta
consumado. Se a resistência impedir o ato do agente público de ser praticado, incide a qualificadora
do § 1º.
Cumulação de penas (§ 2º): não há concurso de crimes, mas cumulação de penas. Além da pena da
resistência, aplica-se a pena da violência e da lesão corporal. Vide injúria real.
Resistência x roubo: agente pratica subtração e é flagrada pela polícia; em perseguição, para
garantir a impunidade e a detenção da coisa para si, atiram em direção aos policiais.
Trata-se de hipótese de roubo impróprio, e não de roubo seguido de resistência. O ato de resistir é
ato executório de roubo impróprio.
OBS.: Princípio da Especialidade → art. 4º, I48 da Lei 1.579/1952 (Lei da CPI).
48
Art. 4º. Constitui crime:
I - Impedir, ou tentar impedir, mediante violência, ameaça ou assuadas, o regular funcionamento de Comissão
Parlamentar de Inquérito, ou o livre exercício das atribuições de qualquer dos seus membros.
Pena - A do art. 329 do Código Penal.
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Há hipóteses que não configuram o crime em exame, eis que estão abrangidas pelo nemo tenetur se
detegere, proibição da autoincriminação:
a) Recusa em submeter-se ao teste do bafômetro;
b) Negativa em participação da reprodução simulada dos fatos.
49
Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias:
1 - impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder Judiciário;
2 - Recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que depender do exercício das funções do Poder
Executivo;
3 - deixar de atender a requisição de intervenção federal do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior
Eleitoral;
4 - Impedir ou frustrar pagamento determinado por sentença judiciária.
50
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão
ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do
art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
51
Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor
embaraços à sua execução:
Pena - detenção de três meses a um ano e pagamento de 10 a 20 dias-multa.
52
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil)
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos
indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
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Ex.: o agente vê um fiscal e diz – bandido! Qual o crime? Havendo nexo com a função, é desacato...
Mas se não houver relação, trata-se de mera injúria.
Consumação: no momento em que a ofensa for feita, ainda que o funcionário público não se sinta
ofendido. Trata-se de crime formal.
A doutrina exige que o desacato seja realizado na presença do funcionário público. Caso tal não
ocorra, não há desacato, mas injúria.
Por ex.: o sujeito entra na delegacia e começa a proferir palavras injuriosas contra a pessoa do
delegado, que não estava na delegacia. Qual é o crime? Injúria, pois as palavras foram lançadas
num momento em que o agente público não estava presente.
Admite tentativa apenas na forma escrita.
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A vantagem deve determinar o agente público à prática do ato, com isto a vantagem deve ser
oferecida ou prometida antes de o agente público praticar o seu ato, logo a vantagem oferecida ou
prometida depois que o agente praticar o ato será mero ato de gratidão.
OBS.: gratificações de pequena monta não configuram o crime de corrupção ativa porque ausente o
dolo de corromper o funcionário público, mas demonstrar gratidão.
Consumação: com o mero ato de prometer ou oferecer a vantagem indevida, sem necessidade de
aceitação por parte do funcionário público (crime formal).
Mas, se o funcionário público aceitar e for influenciado, incide o aumento de pena do parágrafo
único.
A tentativa do crime é cabível na forma escrita.
OBS.1: corrupção ativa e concussão são absolutamente incompossíveis, ou seja, não são possíveis
(doutrina e STF/STJ). Se o agente público faz uma exigência, não haverá espontaneidade na entrega
da vantagem indevida pelo particular, não havendo corrupção ativa.
OBS.: competência quanto ao local é definida por prevenção do juízo federal do lugar da apreensão
dos bens (Súmula 151 do STJ). É preciso saber onde os bens foram apreendidos.
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d) Expulsão: regra geral decorre da prática de crime no Brasil, após perpassar por um devido
processo legal, havendo uma sentença com trânsito em julgado. Quando a pessoa começa a
cumprir pena no Brasil, paralelamente, começa a correr um processo de expulsão no
Ministério da Justiça, que culminará em um decreto de expulsão. Havendo o decreto a
pessoa é expulsa para o seu país de origem. OBS.: sendo a pessoa legalmente expulsa, nunca
mais poderá voltar ao Brasil, e se voltar haverá o crime em exame.
Para que haja o delito em exame é preciso que haja um ato de expulsão legalmente válido, ou seja,
com todos os requisitos previstos em lei.
Ver artigos 65 a 7556 do Estatuto do Estrangeiro – Lei 6.815/1980.
56
Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem
política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à
conveniência e aos interesses nacionais.(Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que:
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;
b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado
para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.
Art. 66. Caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência e a oportunidade da
expulsão ou de sua revogação.(Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Parágrafo único. A medida expulsória ou a sua revogação far-se-á por decreto.
Art. 67. Desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do estrangeiro poderá efetivar-se, ainda que haja
processo ou tenha ocorrido condenação. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Art. 68. Os órgãos do Ministério Público remeterão ao Ministério da Justiça, de ofício, até trinta dias após o
trânsito em julgado, cópia da sentença condenatória de estrangeiro autor de crime doloso ou de qualquer crime contra a
segurança nacional, a ordem política ou social, a economia popular, a moralidade ou a saúde pública, assim como da
folha de antecedentes penais constantes dos autos. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Parágrafo único. O Ministro da Justiça, recebidos os documentos mencionados neste artigo, determinará a
instauração de inquérito para a expulsão do estrangeiro.
Art. 69. O Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão, por 90 (noventa) dias, do estrangeiro
submetido a processo de expulsão e, para concluir o inquérito ou assegurar a execução da medida, prorrogá-la por igual
prazo. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Parágrafo único. Em caso de medida interposta junto ao Poder Judiciário que suspenda, provisoriamente, a
efetivação do ato expulsório, o prazo de prisão de que trata a parte final do caput deste artigo ficará interrompido, até a
decisão definitiva do Tribunal a que estiver submetido o feito.
Art. 70. Compete ao Ministro da Justiça, de ofício ou acolhendo solicitação fundamentada, determinar a
instauração de inquérito para a expulsão do estrangeiro. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Art. 71. Nos casos de infração contra a segurança nacional, a ordem política ou social e a economia popular, assim
como nos casos de comércio, posse ou facilitação de uso indevido de substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica, ou de desrespeito à proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro, o inquérito
será sumário e não excederá o prazo de quinze dias, dentro do qual fica assegurado ao expulsando o direito de
defesa. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Art. 72. Salvo as hipóteses previstas no artigo anterior, caberá pedido de reconsideração no prazo de 10 (dez) dias,
a contar da publicação do decreto de expulsão, no Diário Oficial da União. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de
09/12/81)
Art. 73. O estrangeiro, cuja prisão não se torne necessária, ou que tenha o prazo desta vencido, permanecerá em
liberdade vigiada, em lugar designado pelo Ministério da Justiça, e guardará as normas de comportamento que lhe
forem estabelecidas. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Parágrafo único. Descumprida qualquer das normas fixadas de conformidade com o disposto neste artigo ou no
seguinte, o Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão administrativa do estrangeiro, cujo prazo
não excederá a 90 (noventa) dias.
Art. 74. O Ministro da Justiça poderá modificar, de ofício ou a pedido, as normas de conduta impostas ao
estrangeiro e designar outro lugar para a sua residência. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
Art. 75. Não se procederá à expulsão: (Renumerado e alterado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
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Imaginemos que o sujeito tenha contra si um decreto de expulsão, mas permaneceu no território
brasileiro, há crime? Não! O tipo é reingresso, o que pressupõe que o sujeito saia do território e
retorne... É preciso que o estrangeiro seja expulso e saia do território nacional, retornando. Se não
deixar o território apesar de expulso, não haverá crime de reingresso, mas de desobediência.
A consumação ocorre no momento em que estrangeiro penetrar no território nacional, por qualquer
via (terrestre, marítima, aérea).
Competência para processar e julgar: Justiça Federal, pois atinge a soberania brasileira e o controle
de ingresso e saída de pessoas do país, de competência da União.
Cabe tentativa.
O bem jurídico protegido é o interesse que o Estado tem de não movimentar a máquina
administrativa desnecessariamente, de forma inútil.
I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou (Incluído incisos, alíneas e §§ pela Lei nº 6.964, de
09/12/81)
II - quando o estrangeiro tiver:
a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento
tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou
b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.
§ 1º. não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao
fato que o motivar.
§ 2º. Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-
se a qualquer tempo.
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Alguém imputa um crime ou uma contravenção a outra pessoa, sabendo de sua inocência... Há uma
desnecessária movimentação da máquina administrativa, judiciaria, policial.
Qual é a diferença entre a denunciação caluniosa e o crime de calúnia? Há algumas diferenças...
Devemos olhar sempre para o bem jurídico tutelado. Na denunciação caluniosa temos um crime
contra a Administração da Justiça, ao passo que na calúnia temos um crime contra a honra. A outra
natureza se liga à natureza ação penal, pois a calúnia, em regra, demanda ação penal de iniciativa
privada, já a denunciação caluniosa é um crime de Ação Penal Pública Incondicionada. Outra
diferença é no sentido de que o crime de calúnia só admitir a imputação de crime, ao passo que a
denunciação caluniosa admite a imputação tanto de crime quanto de contravenção penal, pois o
caput menciona apenas o crime, enquanto que o § 2° menciona também a contravenção penal. Uma
enorme e grande diferença... Toda calúnia é uma denunciação caluniosa? Toda denunciação
caluniosa é uma calúnia? Na calúnia basta a imputação de um fato criminoso que seja falso, não
havendo nenhum outro requisito para a configuração do crime, consumando-se quando terceiros
tiverem conhecimento da imputação falsa. Na denunciação caluniosa não basta a imputação do fato
criminoso ou contravencional falso, sendo imprescindível que haja a instauração dos processos ou
dos procedimentos previstos no próprio artigo 339 do CP, tanto é que o tipo penal assim dispõe ‘dar
causa à instauração...’
Toda denunciação caluniosa (caput) configura calúnia, mas o inverso não é verdadeiro. A
prática de uma denunciação caluniosa sempre perpassa pela conduta de caluniar.... Ocorre que nem
toda calúnia será uma denunciação caluniosa, pois nem sempre o agente pretenderá dar causa à
instauração a inquérito, procedimento ou processo...
Mais uma diferença: já vimos que a calúnia se consuma quando o fato chega ao conhecimento de
terceiros, e a denunciação caluniosa se consuma com a instauração do processo/procedimento.
A denunciação caluniosa admite tentativa? Considerando que haja a imputação de um fato
criminoso falso e que não haja a instauração do inquérito por ex... Teríamos a denunciação
caluniosa tentada ou a calúnia consumada, considerando que houve de fato a imputação de um fato
criminoso falso que chegou ao conhecimento de terceiros? É um crime que admite tentativa, desde
que haja dolo de dar causa à instauração de processo ou procedimento. Caso não haja a instauração,
há tentativa de denunciação caluniosa. Na calúnia não há dolo de dar causa a instauração de
processo ou de procedimento. Se não houver esse dolo, a imputação falsa de crime configurará
calúnia.
Prova CESPE – após três anos de noivado, Sérgio terminou o noivado com Carla. Carla querendo se
vingar, disse ao delegado que Sérgio tentou estupra-la. No dia seguinte, Carla voltou à delegacia e
se retratou, informando que a suposta tentativa de estupro não havia ocorrido. Não houve
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instauração de inquérito... Tipifique. O dolo de Carla era na prática do art. 339 do CP. Ela cogitou,
preparou e executou (iter criminis)... O crime do art. 339 do CP não se consumou, pois não houve a
instauração do inquérito... Carla parou entre a execução e a consumação. O que podemos ter?
Poderíamos ter uma desistência voluntária? Um arrependimento eficaz? Ou uma tentativa? Ou um
crime impossível? São institutos que tem incidência e aplicabilidade no iter criminis entre a
execução e a consumação. Para que haja qualquer punição é necessário que o agente ingresse na
execução do crime.
Carla executou. No caso haverá arrependimento eficaz, respondendo Carla pelos atos já praticados
(art. 15, CP), nesse caso, a calúnia.
No art. 15 do CP temos a figura do arrependimento eficaz, onde o agente apenas responderá pelos
atos já praticados, nunca pelo crime que executou tentado.
Relembrando: iter criminis é composto por cogitação (Welzel: todo crime nasce na mente do
agente), preparação, execução e consumação. Não se pune cogitação e preparação, pois não há
violação a bem jurídico. A doutrina afirma que só se pune a preparação quando esta for prevista
como crime autônomo, ocorre que este crime autônomo não é punido como ato preparatório do
crime tentado, mas sim como ato executório do crime autônomo, como ocorre com o crime de
quadrilha ou bando, que não é um ato preparatório para o roubo, mas sim um ato executório do
crime de quadrilha (hoje é associação criminosa). Se iniciada a execução, pode haver punição, pois
já se iniciou a execução de um delito. Se chegar à consumação, pune-se pelo crime que foi
inicialmente cogitado. Contudo, se após iniciada a execução o sujeito desistir voluntariamente de
consumar aquele crime, de lesionar aquele bem jurídico, ou se o sujeito se arrepender de forma
eficaz e não causar lesão ao bem jurídico, se estende uma ‘ponte’ e o legislador assim o fez, para
que a pessoa possa ‘voltar no caminho’, não consumando o crime e não lesionando o bem jurídica...
Admite-se a punição por um crime menos grave do que o pretendido. E é aqui que se fala em Ponde
de Ouro, onde se tira o sujeito de um crime grave para um menos grave, por ex., de um homicídio
para uma lesão grave... É uma questão de política criminal. É por isto que na desistência voluntária
ou no arrependimento eficaz o sujeito nunca responderá pelo crime pretendido na forma tentada,
pois não houve tentativa, mas sim desistência de prosseguir ou arrependimento eficaz.
Ponte de ouro (Franz Von Liszt): chance dada pelo legislador ao agente que não chega à
consumação do crime cogitado (mais grave) por desistência voluntária ou arrependimento eficaz,
punindo-o pelos atos já praticados (menos graves). O agente é punido como se quisesse (tivesse
cogitado) atingir aqueles outros bens jurídicos; é como se voltasse no iter criminis.
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Princípio da Especialidade – Atenção, pois existe um tipo penal que está na Lei 8.429/1992, que é
uma espécie de improbidade. É o art. 19.
OBS.1: imputar falsamente fato que leva à instauração de sindicância configura o crime do art. 339
do CP? Não, pois o tipo penal não faz referência à sindicância.
OBS.2: a imputação de fato, acobertado por alguma causa de exclusão de ilicitude ou culpabilidade,
não configura o crime em exame. Ex.: matar em legítima defesa.
Elemento subjetivo: o agente, ao imputar um fato criminoso falso, deve ter a certeza da inocência?
Admite-se o dolo eventual? Doutrina majoritária entende que não cabe o dolo eventual
(minoritariamente, admite-o Bittencourt).
Para que o sujeito seja processado por denunciação criminosa é preciso que se aguarde o trânsito em
julgado do processo onde houve a imputação? A absolvição do que foi imputado falsamente por
crime não é questão prejudicial para a denunciação caluniosa (doutrina majoritária).
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Qual é a diferença deste crime em relação à denunciação caluniosa: aqui o agente atribui a autoria a
si mesmo, já na denunciação caluniosa o agente atribui a autoria à terceiro.
Aqui quem pode ser a “autoridade”? Pode ser a autoridade policial, judicial ou administrativa.
Apesar de o tipo mencionar que o crime seja praticado perante autoridade, a doutrina não exige que
seja praticado na presença da autoridade, basta que seja dirigido a ela.
Consumação: trata-se de crime formal, que se consuma no momento em que a autoridade toma
conhecimento da autoacusação.
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Quem pode ser sujeito ativo deste crime? É um crime de mão própria, pois é um crime que exige
atuação pessoal do agente, logo não admite autoria mediata nem coautoria, pois a coautoria se
baseia em uma divisão de tarefas.
A doutrina informa que nada impede que haja partícipe neste crime... É possível que o partícipe
induza ou instigue a falsidade, que instigue a testemunha a mentir. Entretanto, STF entende que
advogado que diz para a testemunha mentir é coautor, ou seja, o STF admite coautoria no falso
testemunho. Essa questão caiu numa prova de Delegado de Polícia Federal de 2004. É preciso
atenção, porque se a questão perguntar a posição do STF podemos dizer que o falso testemunho
admite coautoria. Isso porque a doutrina entende que não admite.
Consumação: a doutrina majoritária afirma que se trata de crime formal, consumando-se quando o
sujeito efetivamente prestar o testemunho ou a perícia falsa, independentemente de qualquer outro
resultado, ou seja, com o encerramento do depoimento o crime está consumado.
Porém temos uma questão importante aqui...
Ver art. 216 do CPP:
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas
partes. Se a testemunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por
ela, depois de lido na presença de ambos.
Feito o depoimento falso, a testemunha tem até o encerramento do depoimento para retificar o que
foi dito. Com isto entende-se que o crime de falso testemunho se consuma na assinatura do termo
do depoimento. Até esse momento, a testemunha pode retificar seu depoimento.
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O fato sobre o qual a testemunha mente deve ser um fato juridicamente relevante para o processo.
Não há falso testemunho quanto aos pontos irrelevantes para o deslinde da causa, dados
secundários. Isso deve ser aquilatado no caso concreto.
Falsos testemunhos sucessivos. Ex.: a testemunha mente tanto no inquérito e quanto em juízo. Há
concurso de crimes? Há um só crime se o falso testemunho versar sobre os mesmos fatos.
Quando se consuma a falsa perícia? Consuma-se no momento em que o perito entrega o laudo
pericial em juízo ou no inquérito policial. Já o crime de falsa interpretação ou de falsa tradução há
consumação no momento da assinatura do termo de interpretação ou tradução.
A existência do crime em exame não depende da valoração daquele testemunho pelo juiz na
sentença. Ou seja, se o juiz sequer considerar aquele testemunho para condenar ou para absolver, o
crime de falso testemunho não deixa de existir.
Majorante (§ 1º): traz a figura do suborno. Isso muda uma questão importante... Nesse caso,
testemunha responde pelo art. 342, com aumento de pena do § 1º, e quem subornou responde pelo
art. 343 do CP... Trata-se de uma exceção pluralista à teoria monista do concurso de pessoas.
Não se aplica essa majorante do § 1° ao inquérito policial, pois há menção expressa a processo, isso
em respeito ao princípio da reserva legal penal.
No § 2° temos a figura da retratação. O fato deixa de ser punível se houver retratação no processo
em que a testemunha mentiu... Até que momento pode ocorrer a retratação para que o fato deixe de
ser punível? A retratação pode ser considerada desde que ocorrida antes da sentença.
E no caso de ter ocorrido o falso testemunho na primeira fase do procedimento do tribunal do júri,
até que momento a retratação do falso testemunho pode ocorrer? Até a decisão de pronúncia ou até
à sentença final? Há duas correntes:
a) Minoritária: a retratação só é possível até a decisão de pronúncia, que encerra a 1ª fase,
levando o réu a plenário;
b) Majoritária: a retratação pode ocorrer até a sentença final, pois a decisão de pronúncia não
adentra ao mérito da causa (res in judicium deducta – relação jurídica deduzida em juízo).
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Competência para processo e julgamento: dependerá de haver ou não violação de interesse da União
Federal, empresa pública etc.
Imaginemos que haja falso testemunho ocorrido em processo trabalhista. Há interesse da União...
Competência da Justiça Federal (súmula 16557 do STJ). Aplicar também ao falso testemunho
ocorrido na justiça militar, eleitoral e federal.
Falso testemunho em carta precatória: seguir regra de competência do CPP – competência é do
local em que o crime foi praticado. Será, portanto, do juízo deprecado.
OBS.: qual é a natureza jurídica da carta precatória? É um ato de colaboração/cooperação entre
juízos de competências distintas.
57
STJ Súmula nº 165 - 14/08/1996 - DJ 23.08.1996
Competência - Falso Testemunho - Processo e Julgamento Trabalhista
Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.
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Nesse crime, o agente quer satisfazer pretensão legítima, mas utiliza via vedada pelo ordenamento.
É crime de livre execução – violência física, moral, subtração etc. Se pretensão for ilegítima, não se
configura esse crime, mas outros (ameaça, furto etc.).
O que é uma pretensão legítima? É a que pode ser levada ao Poder Judiciário. O ‘preço carnal’, por
ex., não pode...
Há uma ressalva – “Salvo quando a lei o permite”. É preciso que se observe a proporcionalidade.
Exemplo de situação permitida: legítima defesa da posse.
O tipo menciona auxiliar pessoa que é “autora de crime”, a doutrina entende que o legislador disse
menos do que queria, e a expressão abrange tanto o autor, quanto o coautor, bem como o partícipe.
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Cuidado... O auxílio deve ser prestado posteriormente à consumação do crime, pois caso seja
prestado antes da consumação, haverá participação ou coautoria naquele crime “anterior”.
Doutrina entende que não ocorre favorecimento pessoal se, em relação ao crime anterior, ocorrer:
a) Causa de exclusão de ilicitude;
b) Causa de exclusão de culpabilidade;
c) Causa de exclusão de punibilidade;
d) Escusa absolutória.
No art. 348 § 2° temos uma isenção de pena. Qual é a natureza jurídica da “isenção de pena” para
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso (§ 2º)? Há duas correntes:
a) Corrente majoritária (Damásio, Bittencourt, Nucci): trata-se de escusa absolutória, causa
pessoal de isenção de pena. Preserva-se a relação familiar em detrimento da Administração
da Justiça;
b) Corrente minoritária (Greco): inexigibilidade de conduta diversa, em razão do parentesco
próximo.
A doutrina diverge acerca da taxatividade ou não do rol do § 2º. A posição a ser adotada dependerá
do concurso prestado. Em provas para o Ministério Público devemos dizer que o rol é taxativo, em
razão do princípio da reserva legal. Para Defensoria Pública, podemos dizer que o rol é
exemplificativo.
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Art. 349 x Art. 180 do CP: no crime de receptação (art. 180), há a conduta de ocultar o produto de
um crime. Aquele que oculta produto de crime está, de certa forma, ocultando... O art. 180 do CP se
trata de um crime contra o patrimônio, onde o agente oculta o produto do crime para obter um
proveito econômico. Já no crime de favorecimento real, o agente não interesse financeiro, mas sim
o dolo de ajudar o criminoso.
O autor tem que dar o auxílio após a consumação do crime, pois se prometer o auxílio antes, será
coautoria ou participação e não favorecimento real.
Por ex.: seu amigo te liga e afirma, vou furtar um veículo agora, ainda não furtei... Posso guarda-lo
na sua casa? Caso em afirme que sim, não há favorecimento real, mas sim participação no furto.
Cuidado com isto, verificar sempre se o caso é de favorecimento real ou de concorrência para o
crime.
Haverá exclusão do crime de favorecimento real se, em relação ao crime anterior, ocorrer causa de
exclusão da ilicitude ou da culpabilidade.
Consumação: é crime formal, que se consuma com a idônea prestação do auxílio, ainda que a
pessoa beneficiada não consiga tornar seguro o proveito do crime.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo diretor do
presídio ou outro agente público.
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Admite coautoria. Imagine que um familiar ingressa com o celular e o agente penitenciário facilita a
entrada... Pela redação do tipo, é difícil ocorrer a participação, pois esta já parece estar inserida no
caput (“auxiliar, facilitar”).
O preso que utiliza o aparelho comete a falta grave do art. 50, VII, da Lei de Execução Penal, com
todas as consequências que daí advém.
Imagine que a mãe do preso leva um celular para seu filho na prisão. Qual é o crime dela? É o do
art. 349-A do CP. O agente penitenciário de certa forma facilitou... Mas se o agente público exige
vantagem financeira para permitir a entrada do celular, responderá por concussão (art. 316)... Caso
não exija, mas aceite, incorrerá em corrupção passiva (art. 317). Se esta mesma mãe oferece
vantagem econômica para agente público para poder levar o celular, seu crime será o de corrupção
ativa (art. 333).
O agente penitenciário que deixar de proibir o uso do aparelho pelo preso responderá pelo 319-A do
CP, mas se exigir vantagem para permitir que o preso fique com o aparelho, será concussão (art.
316).
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§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. (Incluído
pela Lei 12.550. de 2011)
Encerra o título X e adveio em 2011.
Trata-se de crime contra a fé pública.
Relembrando: para haver estelionato (art. 171), é preciso causar prejuízo alheio (de um sujeito
individualizável) e obter uma vantagem ilícita mediante fraude (induzindo ou mantendo alguém em
erro). Se o prejuízo for a um grupo indeterminável de pessoas, não se configura o estelionato, mas
pode se configurar outro crime.
Antes da inserção de tal tipo penal, ocorrendo fraude em concursos públicos, é prejudicado um
número indeterminável de pessoas, então não configurava estelionato, nem qualquer outro crime.
Apenas com o advento da Lei 12.550/2011 é que se pode falar em crime.
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa. Se for funcionário público (art. 327), aplica-se a
causa especial de aumento de pena (majorante) do § 3º em relação ao previsto no caput e demais
parágrafos. Nesse caso, não incidirá a agravante do art. 61, II, g (violação do dever funcional). Não
se pode escolher aplicar a agravante genérica em detrimento da causa especial de aumento de pena
prevista no próprio artigo.
Encontramos em tal artigo um rol de certames, mas tal é taxativo? O prof. destaca que a
enumeração foi desnecessária, pois o inciso fala em “exame ou processo seletivo previsto em lei”,
que é expressão genérica e abrangente. O rol, portanto, não é taxativo.
Dica do tutor: o tipo abrange também processo seletivo para ingresso em universidades e
instituições privadas, pois presente o interesse público (Cleber Masson).
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Condutas equiparadas (§ 1º): permitir (diretamente) ou facilitar o acesso. O prof. destaca que tais
situações não são raras...Na 1ª conduta o agente possibilita, pessoalmente, o acesso a informações
sigilosas. Notadamente envolve a pessoa que tem o acesso a tais informações.
Consumação: como todo crime que possui especial fim de agir, não é preciso que o beneficiado seja
aprovado. É crime formal, que se consuma com a utilização, com o conhecimento de terceiros da
informação (divulgação) ou com qualquer ato idôneo que permita ou facilite o acesso (§1º).
Atenção – mesmo que a informação não chegue ao conhecimento do beneficiado, quando há a
divulgação o crime se consuma.
Em todas as condutas a tentativa é perfeitamente cabível.
Qualificadora pelo resultado de dano (§ 2º): a única espécie de dano que pode ser causada é o
financeiro, seja pela necessidade de realização de novo concurso, seja pelo pagamento de salários
em razão da fraude.
Atenção para a pena deste crime, que é de 1 a 4 anos.... A partir da pena mínima, é possível concluir
que cabe a suspensão condicional do processo, não obstante não seja uma infração de menor
potencial ofensivo.
Na dosimetria da pena, a pena-base do caput até poderia ser aumentada em razão das consequências
do crime (art. 59, CP). Isso porque o Estado mantém um agente público, com verbas públicas, que
está perpetrando fraudes... As consequências do crime são gravosas.
Para os fins do art. 311-A, § 3°, funcionário público é o sujeito descrito no art. 327 do CP. E veja,
este § 3° pode incidir tanto para o caput do art. 311-A quanto para o § 1° ou 2°.
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Questão relevante versa sobre a possibilidade de concurso de crimes entre o art. 311-A e os delitos
de corrupção ativa e passiva.
Pergunta-se: qual seria a tipificação correta na hipótese de um particular que oferece ou promete ao
funcionário público vantagem indevida para que esse lhe forneça uma informação sigilosa sobre o
concurso público, sendo que o funcionário, por sua vez, recebe a vantagem e facilita ao particular o
acesso ao conteúdo sigiloso?
Nesta situação, Rogério Greco (2012) sustenta que o particular responde por corrupção ativa (art.
333 do CP) e fraude em certame público (art. 311-A do CP), em concurso material (art. 69). Já o
funcionário público, por corrupção passiva (art. 317 do CP) e fraude em certame público (art. 311-A
do CP), também em concurso material (art. 69 do CP). É a posição a ser seguida em concurso
público.
Professor, entretanto, discorda. O dolo era, para o particular, obter e utilizar o gabarito e, para o
funcionário público, o de fornecer, o que se dá com o emprego de vantagem indevida.
A corrupção ativa e passiva seriam absorvidas pela fraude em certame público, sendo ante factum
impunível.
O prof. destaca, primeiramente, que este artigo vem localizado no local errado, pois é um artigo que
vem logo após o crime de omissão de socorro (art. 135), mas é figura mais próxima do
constrangimento ilegal (art. 146).
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Garantia: a exigência de “qualquer garantia” configura o crime. Pode ser cheque caução, nota
promissória, um bem móvel qualquer...
É crime próprio: só pode ser praticado pela pessoa encarregada de dar ou registrar a entrada no
hospital de quem está em situação de emergência.
Aumento de pena (parágrafo único): se houver negativa, a pena é aumentada até o dobro se resultar
lesão corporal grave; até o triplo, se resultar morte. Esses resultados podem decorrer de dolo ou
culpa, pois a lei não faz distinção.
OBS. omissão própria e imprópria: O prof. destaca que o autor alemão Luden divide a omissão
em própria e imprópria. A própria é a conduta omissiva prevista em lei na qual o agente se omite,
possuindo o dever de agir. Na omissão impropria o sujeito também tem um dever de agir, mas o
este dever de agir é específico, enquanto que na omissão própria o dever de agir é genérico.
Na omissão impropria nós temos o dever de agir específico. Mas de quem seria esse dever
específico? Muito se discutiu e Johanes Nagler concluiu, cirurgicamente, que o dever de agir
específico é atribuído para uma pessoa que tem um dever previsto em lei. A lei é que trará a
obrigação de a pessoa agir. Mutatis mutandis, foi a ideia adotada pelo Brasil. Ver art. 13 § 2° do
CP...
O CP, no art. 13, § 2º 58, adotou a teoria da omissão imprópria. Será penalmente relevante a omissão
de quem tinha um dever específico de agir e podia agir para impedir o resultado, isto é, é aquele que
tem o dever previsto em lei (alínea a), aquele que assume voluntariamente a custódia (alínea b) e
aquele que pratica ingerência (alínea c).
58
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
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Enquadram-se no dever de agir da alínea ‘a’ do § 2° do art. 13 o policial, os pais em relação aos
filhos, o marido e a esposa reciprocamente em razão do vínculo do casamento, os bombeiros, o
salva vidas.
O dever de agir do médico da rede pública de saúde em relação aos pacientes está previsto em lei,
logo, tem o dever de agir (art. 13, § 2º, a).
Não há previsão legal no caso do médico particular, mas ele é garantidor em razão da alínea b –
pelo contrato de prestação de serviços com o hospital ele assume voluntariamente a custódia dos
pacientes admitidos ao hospital.
Na hipótese de negativa de atendimento, entretanto, a pessoa não esta formalmente integrada ao
hospital e, enquanto não for paciente do hospital, o médico não será garantidor. Sendo o médico
garantidor e não prestando atendimento, ele responderá pelo resultado ocorrido, seja lesão seja
morte, não respondendo pelo art. 135-A do CP.
Assim:
a) Se não houver negativa de atendimento, ou seja, ele for realizado apesar da exigência, e
sobrevier lesão corporal grave ou morte, não se configura o crime, não se aplicando o
dispositivo;
b) Se houver recusa de atendimento, o médico não será garantidor. Se o agente fosse
garantidor, ele não responderia pelo art. 135-A com o aumento do parágrafo único, mas por
lesão corporal grave (art. 129, §§ 1º e 2º) ou homicídio (art. 121), pois o garantidor responde
pelo resultado ocorrido.
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Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores,
mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir
dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou
programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,
segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle
remoto não autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação,
comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: (Incluído pela
Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
I - Presidente da República, governadores e prefeitos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou (Incluído
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do
Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
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Qual é o modus operandi? É crime de livre execução, admite qualquer forma de violação de
mecanismo de segurança. Essa violação deve ser não autorizada, indevida (elemento normativo do
tipo).
Objeto material: “dispositivo informático alheio”. Trata-se de qualquer dispositivo que armazene
informações: computadores em geral, smartphone, tablet. Pode estar ou não conectado à internet. O
que se protege não é a rede mundial de computadores, mas a privacidade.
Consumação: é crime formal (no caput), que se consuma com a invasão, independentemente de se
alcançar ou não o fim.
“Crime vinculado” (expressão de Bitencourt) (art. 154-A, § 1º): é um delito vinculado à conduta
originária do caput. A figura do § 1° constitui o meio para a prática do caput do art. 154-A do CP. É
dispositivo que trata das condutas que permitem a obtenção do software (meio executório) para a
prática da conduta do caput.
Cuidado, pois o art. 154-A caput tem apenas uma conduta, ao passo que no § 1° há mais de uma
conduta, enquadrando-se como um tipo penal misto ou plurinuclear... Mas é um tipo misto
cumulativo ou alternativo? Lembrando que quando as condutas são separadas por ponto e vírgula, o
tipo é misto cumulativo, mas sendo separadas por vírgula, o tipo é alternativo. No caso em exame é
um tipo misto alternativo.
Causa de aumento de pena (§ 2º) – diz-se que a pena é aumentada quando há prejuízo econômico.
Ex.: documentos que são importantes economicamente, como a quitação de uma dívida, que é
apagada do computador.
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A pena cominada no § 3° do art. 154-A traz uma subsidiariedade expressa: “se a conduta não
constitui crime mais grave”.
Aumento de pena do § 4º: incide caso sejam divulgadas as informações obtidas no parágrafo
anterior.
Ação penal:
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo
se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes
da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços
públicos.
Em regra, a ação penal é pública condicionada a representação. Temos uma ressalva em que será
pública incondicionada a ação penal, em relação à “administração pública direta ou indireta de
qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos”.
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Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de
crédito ou débito.” (NR)
O art. 266 ganhou um novo título e ganhou um § 1° e um § 2°, que traz uma equiparação e um
aumento de pena. Isto não é tão relevante... O que é relevante é a alteração do art. 298 do CP.
Já vimos que o art. 298 do CP era uma espécie de falsidade de documento particular. No p. único
temos uma equiparação a documento particular o cartão de crédito ou de débito.
FIM.
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