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Direito Penal IV – 2017.

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Profª.: Thais Bandeira
Melanie Borges Valgueiro

CADERNO
DIGITADO
DIREITO PENAL IV
Caderno digitado pela discente Melanie Valgueiro, das
aulas ministradas pela professora Thais Bandeira,
durante o semestre letivo de 2017.1, relativo à
disciplina DIR195 – Direito Penal IV.

2017

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Direito Penal IV – 2017.1
Profª.: Thais Bandeira
Melanie Borges Valgueiro

TEORIA GERAL DA PARTE ESPECIAL

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES:


I. Quanto ao sujeito ativo
a. Crime comum: que pode ser praticado por qualquer pessoa, ou seja, não exige nenhuma
qualidade do sujeito ativo. Ex.: Homicídio
b. Crime próprio: é aquele que exige do sujeito ativo uma qualidade especial. Ex.: Peculato, exige
do agente a qualidade de funcionário público.
c. Crime de mão própria: além de exigir uma qualidade especial do sujeito ativo, o crime de mão
própria só pode ser praticado por um único agente nominalmente. Ou seja, não admite a coautoria,
admitindo, no máximo, a participação. A exemplo do art. 338.

OBS.: existem crimes que vão exigir essa qualidade tanto do sujeito ativo, quanto no sujeito passivo, são os
crimes bi próprios. Ex.: Infanticídio.

OBS2.: admite a possibilidade tanto de coautoria quanto a participação.

II. Quanto à exteriorização do resultado:


a. Material: é aquele que se consuma produzindo um resultado no mundo exterior e é daí que
vem o termo materialidade delitiva. O mundo exterior é chamado de natural, chamando o resultado
de naturalístico.
b. Formal: ele possui dois momentos descritos pelo legislador e o crime se consuma de forma
antecipada, com a prática da primeira conduta. Ex. Art. 159, extorsão mediante sequestro (aqui, se vai
chegar ao segundo momento, tanto faz, é mero exaurimento)
c. Mera conduta: enquanto o sujeito executa o núcleo do tipo, ele já esta, simultaneamente,
consumando a infração. Ex. Art.330. O resultado é aquilo que se chama de jurídico.
III. Quanto ao momento do resultado:
a. Instantâneo: é aquele que produz o seu resultado imediatamente após a execução.
b. Permanente: é aquele que se consuma de maneira prolongada ao longo do tempo. Exemplo.:
art. 148 (sequestro e cárcere privado). Importante lembrar que se uma lei penal nova aparece durante

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o curso da permanência, ela poderá sim ser aplicada ao caso concreto. E que a prescrição só começa
a contar quando cessar essa permanência.
c. Habitual1: raríssimo no código. É aquele que só se consuma se houver reiteração de condutas.
A doutrina indica, pelo menos, três condutas (cond 1 + cond 2 + cond 3 = crime). O crime só se consuma
se houver as três tentativas, pelo menos. Exemplo art 284, curandeirismo.
IV. Quanto ao cabimento de tentativa:
a. Plurissubsistentes: é possível fracionar o iter criminis, portanto admite a tentativa.
b. Unissubsistente: não é possível fracionar o iter criminis, não sendo possível a tentativa. A mera
conduta, é um exemplo.
V. Quanto ao número de agentes:
a. Unissubjetivo: é um crime que pode ser praticado por um único agente. Esse crime admite o
que se chama de concurso eventual de pessoas.
b. Plurissubjetivo: é aquele chamado de crime de concurso necessário de pessoas. Ou seja, só
pode ser praticado por mais de um sujeito. Exemplo do art. 288 - associação criminosa.
VI. Quanto à conduta:
a. Comissivo: praticado através de uma ação
b. Omissivo:
b.1. Próprio: o legislador narra um deixar de agir – “deixar de”
b.2. Impróprio: é a omissão do garantidor, penalmente relevante.

DOS CRIMES CONTRA À VIDA


São quatro os crimes contra vida:

1. Homicídio;
2. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio;
3. Infanticídio;
4. Aborto;
De quem é a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida? A
Constituição Federal reconheceu a instituição do Tribunal do Júri, art. 5º, XXXVIII, d.

1 Delito por acumulação não se confunde com crime habitual!


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Art. 5º:

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Se faz necessária uma análise do conceito de início e fim da vida: o conceito de


início de vida, quando iniciado o estudo do crime de aborto, terão outras definições, mas o início da vida, para
a tutela penal, se dá com a chamada nidação2. Já o fim da vida, para a tutela penal, utiliza-se como fundamento
a Lei de transplantes, nº 9.434/97, atribuindo o fim da vida com a morte encefálica.

Art. 121 – HOMICÍDIO

HOMICÍDIO SIMPLES: matar alguém, com pena de reclusão de seis a vinte anos

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Sujeitos: o homicídio simples é considerado crime comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo,
assim como qualquer pessoa pode ser vítima.

 Questões controvertidas:
a. Gêmeos xifópagos – concurso formal imperfeito3
b. Art. 20, §3º - erro sobre a pessoa: aqui as qualificadoras/causas de aumento não são da vítima
real e sim da vítima fictícia, a pessoa responde como se tivesse atingido a vítima pretendida.
c. Art. 20, caput – erro de tipo essencial: erra sobre o elemento que constitui o homicídio. As
consequências é o afastamento do dolo, surgindo a forma culposa, analisando os elementos
da culpa.

2
Quando o zigoto é implantado no útero, aderindo ao endométrio.
3
Há concurso formal imperfeito, segundo Capez, quando “aparentemente, há uma só ação, mas o agente intimamente deseja
os outros resultados ou aceita os riscos de produzi-los”
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d. Art. 20, §2º - erro causado por terceiro: responde pelo crime o terceiro que provocou o erro.
e. Art. 17 – crime impossível: objeto absolutamente impróprio4, não se pune essa tentativa, e a
tentativa inidônea; meio absolutamente ineficaz5.

Consumação: é um crime material, que exige perícia (exame de corpo de delito6). Ele é instantâneo.7

 Hediondez? Lei de crimes hediondos nº8.072/90, vai dizer que o homicídio simples será hediondo
quando for praticado por grupo de extermínio8. O §2º traz o homicídio qualificado.

§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)

HOMICÍDIO “PRIVILEGIADO”: tecnicamente não há um privilégio. Quanto a natureza jurídica, apesar de ser
uma nomenclatura consagrada, esse parágrafo representa uma causa de diminuição de pena, aplicada na
terceira fase da dosimetria da pena. Logo, poderemos ter um crime de homicídio com uma pena menor que
6 anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.

O que gera essa diminuição? Quais são as circunstâncias? Existem três. A primeira situação é o motivo
de relevante valor social, que é uma motivação importante para uma coletividade. O exemplo clássico é
alguém que mata um ditador que oprime uma comunidade. A segunda situação é o relevante valor moral,
que é uma motivação importante para o sujeito que pratica o crime. E a terceira situação é o crime praticado
sob domínio de violenta emoção9, logo em seguida a injusta provocação da vítima

4
Tentar matar alguém que já está morto
5
Exemplo do veneno substituído pela agua de coco
6
Sem a prova física, poderá ser feita a prova indireta, através do exame de corpo de delito indireto através de prova testemunhal.
7
Alguns autores fazem um adendo, dizendo que o homicídio é instantâneo de efeitos permanentes, por eles serem irreversíveis.
8
Thais disse que não conhece nenhum caso de homicídio praticado por grupo de extermínio que seja simples.
9
Atenuante ao art. 65, diz que o sujeito está sob a influência. Segundo a doutrina, temos uma gradação de sentimento. O
domínio é estar domado pelo sentimento, a influência é algo mais brando.
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EUTANÁSIA: hoje, no Brasil, configuraria o relevante valor moral, no homicídio privilegiado, já que a vida é um
bem indisponível. Eutanásia vem de “eu thanatos” que significa boa morte, a morte indolor.

Espécies: são três as espécies trazidas pela doutrina.

 Distanásia: é um distanciamento do momento da morte por força do emprego de tratamentos inúteis


ao paciente. É chamada também de obstinação terapêutica, esses tratamentos não vão reverter o
quadro, nem aplacar a dor. Esses tratamentos só estão distanciando o processo de morte.
 Mistanásia: é a morte de pessoas por conta do seu estado de miserabilidade social – nas filas de
hospitais públicos, que morrem antes da data prevista para o tratamento, tratamento negado por
plano de saúde.
 Ortotanásia: orto vem de certo/correto, então essa espécie é a morte ao seu tempo certo, sem o
emprego do prolongamento artificial da vida. O que se discute é a possibilidade do paciente, com
explicações e orientações médicas, escolher quais tratamentos ele quer ou não quer se submeter em
determinadas situações. Por exemplo, questionar as consequências de três paradas cardíacas e, ao
saber, o indivíduo nega a RCP a partir da terceira parada.

GRANDE PROBLEMA: e em casos de situação terminal? Um paciente em coma?


Temos a Resolução 1.995/2012 CFM para resolver a questão. O Conselho Federal de Medicina, publicou essa
resolução que tratou de um tema chamado “testamento vital”, também chamado de “diretriz/diretiva
antecipada de vontade”. O CFM fez uma pesquisa perguntando entre os médicos os que eles achavam a
respeito desse procedimento, dentre os médicos, a nota em favor da Ortotanásia foi bastante alta. Para tentar
regulamentar isso, essa resolução saiu. Logo, o que seria esse testamento vital? Seria um documento assinado
por médico e paciente, com orientações sobre procedimentos e com a opção do paciente a respeito daquilo
que ele deseja, ou não deseja, se submeter. Esse testamento é feito sem estar em uma situação grave, precisa
de plena organização da faculdade mental.

Qual é a validade desse testamento vital, no Brasil? Portugal regulamentou o testamento vital. O plano de
saúde pode dar um “desconto” em quem tem testamento vital? Lá, não pode ser objeto de negociação.

Onde fica esse documento? Não tem valor para o Direito Penal. É uma regulamentação do CFM. Logo, só
tem função administrativa, só valendo perante o CREMEB, podendo responder criminalmente sim.

OBS.: Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – autorizado em vários lugares do mundo é o chamado
suicídio assistido. No Brasil, configuraria auxílio ao suicídio, Art. 122, CP. Em que consiste? É a entrega ao

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paciente de um conjunto de medicamentos que possibilitam sua morte, mas o paciente os ingere sozinho.
Isso é muito comum, na Bélgica e na Suíça.

HOMICÍDIO QUALIFICADO (§2º): Presença de mais de uma qualificadora: para aumentar o patamar de pena
de 6 a 20 anos, para 12 a 30 anos, basta a utilização de apenas uma qualificadora, as demais serão usadas em
outras fases da dosimetria da pena.

Homicídio qualificado
§ 2° 10Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum;11
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Análise do §2º:

Inciso I – Ela é válida para o “contratante”, “executor” ou para ambos? Ela servirá para ambos, tanto
para quem paga, quanto para quem executa o homicídio de forma mercenária. Qualifica para quem paga pelo
motivo da torpeza e por ser uma circunstância objetiva (que vale para todos os codelinquentes). Ex: Dorothy
Stein

Outro motivo torpe – o que é o motivo torpe? A doutrina usa como sinônimo o motivo vil, ou seja, é um
motivo egoístico.

Inciso II – É um motivo desproporcional, irrazoável. Quando consegue reconhecer no caso a pequenez


do motivo – DICA: matou “só” por isso?

Inciso III – o que é veneno para o Direito Penal? O veneno é analisado subjetivamente, ou seja, de
acordo com as condições especiais da vítima. Para se matar alguém envenenado e a qualificadora incidir não

10 Temos duas qualificadoras novas, recentes, muito relevantes. A primeira é o inciso VI, inserido em 2015, o feminicídio. E
o inciso VII, que é a morte de agentes policiais.
11 Um meio de abertura que o legislador coloca para caso de analogia. A analogia ela só pode ser utilizada a favor do réu.

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necessariamente precisa ser um veneno “tradicional”, glúten pode ser veneno para quem tenha doença
celíaca. Logo, veneno é toda substancia biológica ou química que, introduzida no organismo, pode produzir
lesões ou causar morte. O que é meio insidioso? Insidioso é algo que é introduzido no organismo da pessoa
sem ela perceber. O veneno, então, para ser considerado meio insidioso precisa ser inserido no organismo
sem que a vítima perceba, de forma sub-reptícia/silenciosa. No caso de emprego de veneno, é necessária a
prova pericial toxicológica (art. 158 e seguintes CPP).

Meio cruel: norma de abertura em que se encaixa os paradigmas da tortura, asfixia, fogo, dentre outros, meio
brutal que revela sadismo, fora do comum, que causa sofrimento da vítima de modo exacerbado e
desnecessária a morte. Tortura é o meio que causa sofrimento prolongado, atroz e desnecessário até o
padecimento da vítima. Asfixia é o impedimento da função respiratória que gera falta de oxigênio no sangue
do indivíduo. Poderá ser de dois tipos, segundo a doutrina, mecânica (enforcamento, estrangulamento,
sufocação, etc.) e tóxica (gases asfixiantes).

Diferenciar duas hipóteses que parecem ser semelhantes: homicídio qualificado pela tortura da tortura que
gera o homicídio. A tortura é um meio qualificador, mas a lei de tortura lei 9.455/97, traz a hipótese de tortura
seguida de morte. E aí, qual a diferença? No homicídio qualificado pela tortura o dolo é de matar (animus
necandi) e a tortura é o meio utilizado para isso. Já na tortura seguida de morte, o animus é de torturar e a
vítima acaba morrendo culposamente.

Perigo comum: é aquele que pode atingir um número indefinido ou indeterminado de pessoas. É possível
existir concurso formal do homicídio com o crime de perigo comum.

Inciso IV – os paradigmas são a traição (ataque sorrateiro, inesperado, que viola a confiança da vítima
– confiança não se presume, se comprova para fins de prática. Não se configura a traição se houver tempo
para a vítima fugir), emboscada (é um crime de engenho, planejado, é sempre premeditado; o sujeito ativo
examina o local projeta os próximos passos e se esconde à espera da vítima, para abatê-la com segurança) e
dissimulação (quando o agente esconde sua real vontade, o sujeito ativo dissimula, mostra o que não é
surpreendendo a vítima, podendo até tornar-se amigo para ganhar a sua confiança).

Inciso V – é chamada de qualificadora da conexão, porque existe o crime que quer ser praticado e,
para isso, precisa praticar outro. Então ele precisa assegurar a execução, ocultação ou impunidade, ou
vantagem que englobe os outros. Caso o crime cuja execução ou ocultação ou impunidade ou vantagem se
quer assegurar tenha sua punibilidade extinta, isso não faz a qualificadora cair, não desnatura a qualificadora
(art. 108, segunda parte, CP).
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IMPORTANTE: esse crime que se busca assegurar não precisa vir a ocorrer, para que o homicídio se qualifique.

Homicídio “qualificado-privilegiado” – é possível haver desde que a qualificadora não seja pelos motivos,
porque o privilégio tem razões subjetivas e os motivos também (incisos I e II). O erro de tipo pode incidir sobre
as qualificadoras. No júri o quesito do privilegio antecede o quesito das qualificadoras. Daí porque se for
acolhida a tese do privilégio, fica prejudicada qualquer qualificadora por motivos.

Hediondez - Para a doutrina majoritária o homicídio qualificado-privilegiado não é crime hediondo,


pelos Tribunais Superiores (analogia in bonan partem, art. 67, CP). Os motivos relevantes, §1º, eles vão se
sobrepor às qualificadoras, §2º, quebrando a hediondez.

FEMINICÍDIO (§2º, VI): inserido com a lei 13.104/15. Toda vez que existe uma lei penal nova, o primeiro
pensamento do penalista é o pensamento de criticar. Quando surgiu essa lei, entenderam que se tratava de
um Direito Penal Emergencial, na corrente do Direito Penal Simbólico.

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142,
de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Disseram que matar uma mulher por conta do sexo feminino, já existia uma qualificadora no tipo penal
torpeza (art. 121, ª2º, I). Entretanto, não foi um Direito Penal Emergencial, essa lei surge por conta de uma
CPMI (comissão parlamentar mista de inquérito) que durou 10 anos, foi uma pesquisa de violência doméstica
e domiciliar contra a mulher, coletando dados e, a partir do relatório, o Brasil ficou em 7º lugar em homicídio
contra mulheres.

Quando se fala em Direito Penal simbólico, o simbolismo do direito penal deve estar presente. Então,
a ideia da lei é sim simbólica, no sentido de ter uma proteção diferenciada para uma mulher vítima de violência
doméstica e domiciliar, que vai chegar à concretização da morte, após passar por todo o ciclo.

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Paralelo com a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06): quando ela surgiu, existiam várias situações e foi proposta
uma ADC nº 19, exatamente questionando que era possível sim se fazer um recorte de proteção doméstica e
familiar, falando especificamente da política para a mulher – situação de hipossuficiência da mulher, política
afirmativa. Proteção de natureza ampla. Violência doméstica, familiar e relacionamentos íntimos.

Diferença em relação ao femicídio: sempre que se mata uma mulher é feminicídio? Não. Matar uma mulher é
femicídio. Femicídio é a morte de uma mulher e o feminicídio é a morte da mulher pelo menosprezo desta
condição.

Gênero ou sexo feminino? O texto original trazia o termo gênero, porém houve uma alteração do legislador
para o termo “sexo”. E ai? Abarca a mulher trans? Ainda não temos uma jurisprudência sobre isso.

Conceito legal: nosso legislador trouxe um conceito do que é feminicídio, §2º-A, que vai explicar o que é a
morte em razão do sexo feminino.

§ 2o-A 12Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

A regra é que esses incisos são alternativos entre si, entretanto poderá ter o II sem o I, mas o II sem o II é
impossível. Existem três correntes que vão classificar quanto a objetividade e subjetividade:

 Qualificadoras de natureza subjetiva: porque envolvem o motivo do crime, não se comunicam aos
codelinquentes.
 Qualificadoras de natureza objetiva: 13porque envolve a vítima mulher e, sendo objetiva, se
comunicam aos codelinquentes.
 Qualificadora objetiva para o inciso I e o inciso II uma subjetiva.

Causas de aumento de pena: §7º que vai determinar um aumento de +⅓ a ½. Teremos como possíveis causas
a morte de uma mulher durante a gestação ou 3 meses após o parto14; menor de 14, maior de 60 ou
portadora de deficiência15; praticado na presença de ascendente ou descendente da vítima.

12
Conceito de feminicídio. Porque que a morte da mulher tem uma valorização diferente da do homem? Vem trazer o que é
essa expressão nova.
13
TJDF: já existe um transito em julgado que decidiu por essa corrente.
14
NÃO vai corresponder ao tempo de licença maternidade, apesar de coincidir. Aqui, nesse caso, a mulher tem que
NECESSARIAMENTE ter parido, é o período puerpério.
15
Tanto física quanto mental
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§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)

Obs.: o que seria, aqui o termo presença? Tem que ser presença física ou pode ser virtual? Teremos duas
correntes de pensamento. A primeira, de Sanches, acompanha a evolução social, envolvendo também a
presença virtual. Já para Bitencourt não, a presença tem que ser física.

Obs2.: E se o descendente for um bebê? Para a grande maioria da doutrina entende-se que
independentemente da idade, deve ser aplicado o aumento de pena.

AGENTES POLICIAIS (§2º, VII): inserido com a Lei 13.142/15. Esse inciso é classificado como uma norma penal
em branco constitucional, pois precisará do complemento dos art. 142 e 144, CF, para que seja entendido.
Aqui há uma proteção ampla, já que abarcara a vítima que estiver no exercício da sua função ou em razão
dela.

Alcance: também faz parte dessa proteção o cônjuge ou companheiro e parentes consanguíneos até 3º grau.
Isso recebe uma grande crítica, mas não sabemos como a doutrina vai desenvolver esse problema.

HOMICÍDIO CULPOSO: pena de 1 a 3 anos – em caso de crime no trânsito, aplica-se o CTB (2 a 4 anos).

Consciente

CULPA Imprudência

Inconsciente Negligência Não ter técnica

Imperícia

Ter a técnica, mas não aplica-la

Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
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evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º 16- Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

§4º - causas de aumento de pena:

+ ⅓ culposo – inobservância de regra técnica 17(arte, ofício ou profissão)

+ ⅓ doloso –

ART.122 – INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO

A CONDUTA DO SUICÍDIO – a conduta do suicida não é punida por si só, então condutas que seriam meramente
acessórias passam a ser a conduta principal. Ou seja, “induzir, instigar e auxiliar” que seriam atitudes do
partícipe passam a ser as condutas principais.

A AUTOLESÃO E O DIREITO PENAL – Nenhuma forma de autolesão é punida pelo direito penal por conta do
princípio da humanidade das penas, do princípio da alteridade, da desnecessidade de intervenção do direito
penal. As condutas de punir o suicida por porte ilegal de arma ou por disparo de arma de fogo são aberrações
penais apesar de ainda acontecerem.

Obs.: A única maneira de se punir a autolesão será nos casos de tentativa de fraudar uma seguradora, pois se
trata de uma forma de ESTELIONATO.

NÚCLEOS DO TIPO:

 Induzir: criar a ideia do suicídio


 Instigar: reforçar uma ideia já existente
 Auxiliar: oferecer meios para o suicídio. No Brasil, o suicídio assistido entraria nesse núcleo do tipo.

16Hipótese de perdão judicial.


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Vai trazer aqui uma observação quanto ao entendimento que a pessoa tiver em relação a imperícia, pois poderá se tratar de
um bis in idem, ou não.
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Obs.: a prática de um ou mais núcleos influenciará apenas na dosimetria da pena, no item culpabilidade (grau
de reprovação). NÃO FOI PRATICADO MAIS DE UM CRIME!

CRIME CONDICIONADO AO RESULTADO: está condicionado ao resultado, ou seja, quem pratique os núcleos
do tipo só será punido se o suicida morre ou, pelo menos, sofre lesões graves.

 Resultado morte – pena de 2 a 6 anos


 Resultado lesão grave – pena de 1 a 3 anos

SUJEITOS DO CRIME: Nem todos podem ser vítimas desse crime, apesar de ser crime comum quanto ao sujeito
ativo. Para ser vítima a pessoa TEM QUE TER capacidade de DISCERNIMENTO (entender a consequência da
conduta). A pessoa com doença mental, por exemplo, implicaria no cometimento de HOMICÍDIO.

 Quanto à idade: há divergência na doutrina, parte usam o ECA (menor de 12 anos) e parte usa o
próprio CP (menor de 14 anos) (maior parte da doutrina).

CAUSAS DE AUMENTO:

 §único – A pena é duplicada

I – quando motivado por motivo egoístico (torpe)

II – se a vítima é menor (menor de 18 e maior de 14/12 a depender da tese que você defenda quanto
à capacidade de discernimento) ou tenha a capacidade de resistência 18diminuída.

PACTO DE SUICÍDIO: roleta russa, todo mundo que participa está incluso na instigação ao suicídio, e quem
fornece a arma também pode responder pelo auxílio. Qualquer pacto de suicídio terá para quem participou a
instigação.

 Pacto onde ambos apontam a arma para a própria cabeça, mas apenas um tem a coragem de se matar,
o que não atirou responde por instigação.
 Pacto onde cada um aponta a arma pro outro, mas um atira mais rápido e somente um morre, o
sobrevivente (quem atirou) responde por homicídio. Vida é bem indisponível então não cabe
consentimento do ofendido.
 “Baleia azul”: observar que a instigação deve ser direcionada, ainda que para um grupo de pessoas,
mas que deve haver a intenção de instigar um determinado grupo.

18
Sem capacidade de resistência, novamente trata-se do HOMICÍDIO
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ART. 123 – INFANTICÍDIO


Matar – “animus necandi”

 Material – tem resultado naturalístico, deixa vestígios, precisa de perícia.


 Instantâneo de efeitos permanentes – se consuma de maneira imediata, mas tem efeitos irreversíveis.
 Plurissubsistente – possível fracionar o iter criminis, ou seja, há possibilidade de tentativa.

DIFERENÇA EM RELAÇÃO AO ABORTO – o infanticídio é tutela da vida extrauterina, diferente do aborto. E,


portanto, só pode ser considerada após o nascimento com vida. A partir do momento que existe respiração
pulmonar já existe vida extrauterina e considera-se infanticídio.

 Caso onde a mãe toma remédio abortivo, mas a criança nasce com vida e morre logo após, direito
penal no tempo, momento da ação ou omissão, então crime de aborto.
 Caso Silvano Sales, tentativa de aborto (malformação como resultado).

ELEMENTARES DO TIPO – Crime considerado bi próprio, porque exige uma qualidade especial tanto do sujeito
ativo (mãe em estado puerperal) quanto do sujeito passivo (próprio filho).

Sujeito do crime – matar o próprio filho.19

Estado puerperal – em estado puerperal. Conjunto de transformações físicas e/ou psicológicas pelas quais
passa a mulher por força do parto. Conceito técnico, e nem mesmo na doutrina médica se sabe a origem do
estado puerperal.

Nos livros mais antigos tratava-se das dores e esforço físico ao parir, mas e a
cesárea? Segunda teoria diz que é um resultado de oscilação hormonal e existem relatos na medicina de
mulheres que adotaram crianças entram estado puerperal e de homens que ao terem filhos entram estado
puerperal. A terceira corrente trata do senso de responsabilidade.

Esse estado puerperal pode ir para um estado mais grave, o da psicose


puerperal, e a mulher será vista como inimputável não respondendo nem por infanticídio. Nosso CP é

19
Caso da mãe que tenta matar seu próprio filho no berçário, mas acaba matando uma criança diferente acreditando ser o próprio
filho, erro da pessoa, nosso CP defende a teoria da ficção, onde a pessoa responde como se tivesse conseguido matar quem queria,
caracterizando o infanticídio, pois ela acreditava estar matando o próprio filho. Outro caso é o da mãe que dá mamadeira com
veneno para a enfermeira, mas a enfermeira sem saber resolve dar a mamadeira para outro bebê, matando-o. Erro de execução,
aberratio ictus, responde como infanticídio também.

14
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biopsicológico, ou seja, a doença tem que tirar a capacidade de discernimento ao momento do crime. E para
isso é necessária perícia para avaliar se a mulher estava em estado puerperal ou psicose puerperal.

Requisito temporal – durante o parto ou logo após. O logo após talvez seja tão aberto/generalizado porque
não se sabe ao menos definir precisamente o estado puerperal, quanto mais a sua duração. Existem casos de
mulheres que mesmo meses após o parto demonstravam sinais de que estavam em estado puerperal.

CONCURSO DE AGENTES – ART. 30 – Não se comunicam as circunstâncias de caráter pessoal a menos que
sejam elementares do tipo. Portanto, as características da mãe se estendem à pessoa que praticar o crime no
lugar dela. Sendo coautora. Mãe tem domínio do fato (mandante) e a enfermeira executa.

 Nelson Hungria – Defende a ideia de que a elementar (mãe matar) é de caráter personalíssimo,
descaracterizando o Art. 30, CP. Ninguém usa essa teoria salvo o próprio autor.

CRIME PRÓPRIO OU DE MÃO PRÓPRIA? Próprio. O próprio admite coautoria, o de mão própria não.

ART. 124 a 128 – ABORTO


FORMAS DE ABORTO

I. Natural ou espontâneo: temos a expulsão do feto pelo próprio corpo da gestante.


II. Culposo: pode ser proveniente, por exemplo, de algum trauma sofrido pela gestante. Uma queda de
uma escada, a colisão de um veículo. Ou alguma conduta imprudente da gestante que desconhece a
gestação. Esse aborto culposo tem previsão legal? NÃO!
III. Doloso: aquele feito com a intenção de retirar a vida intrauterina. É a única forma que possui previsão
legal.

ELEMENTO SUBJETIVO: é apenas, e tão somente, o dolo.

BEM JURÍDICO TUTELADO: é o único tipo penal que vai proteger a vida intrauterina. Apenas um único tipo
penal relacionado com o aborto, tutela não só a vida intrauterina, ele tutela também a autonomia da gestante.
É o art. 125, que é o aborto sem o consentimento da gestante. É a pena mais grave do aborto.

OBS.: ADPF ao aborto de anencefalo – questão de instrumentalização do corpo feminino, a autonomia da


gestante em uma situação que, em quase todos os casos, não existe a sobrevida. Existe um questionamento
dessa tutela do direito penal, sem instrumentalizar o corpo da mulher, sendo ela apenas um hospedeiro? E o
conceito da dignidade da pessoa humana e a autonomia da vontade da mulher? Discussão do conceito de
15
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vida, quando a vida encerra, sustentação de quando se inicia a vida também (formação do tubo neural),
questões religiosas interferindo também.

OBS2.: projeto de reforma do CP e existe a possibilidade de o aborto ser realizado até a 10ª semana.

ANÁLISE DOS TIPOS PENAIS

I. Art. 124 – crime unicamente da gestante (de mão própria). Duas condutas criminosas: autoaborto
(cabe tentativa) e consentir que um terceiro lho provoque. A pena é de 1 a 3 anos.
II. Art. 125 – crime do terceiro que realiza o aborto sem o consentimento da gestante. É a pena mais
grave do aborto, de 3 a 10 anos.
III. Art. 126 – crime do terceiro com o consentimento da gestante. Pena de 1 a 4 anos.
IV. Art. 127 – vai trazer um aborto que provoca na gestante lesão grave ou a morte da gestante. São causas
de aumento de pena.
V. Art. 128 – vai tratar das hipóteses em que não se pune o aborto.

AUTOABORTO – art. 124: a primeira conduta criminosa é a de praticar aborto em si mesma e a segunda é a de
consentir com a prática realizada por um terceiro. Este crime é considerado um crime de mão própria. 20 Por
que?

Concurso de agentes: Ele exige uma condição especial do sujeito ativo (ser mulher e estar grávida) e
não admite coautoria. Entretanto, permite a figura da participação (induzir, instigar, auxiliar o autoaborto).

ABORTO SEM CONSENTIMENTO – art. 125: é a pena mais elevada (3 a 10 anos), porque vai envolver mais de
um bem jurídico tutelado. O bem jurídico é a vida intrauterina é o primeiro bem jurídico envolvido nesse tipo
penal. Mas, em segundo lugar, autonomia da gestante sobre levar ou não adiante a gestação.

ABORTO COM CONSENTIMENTO – art. 126: esse aborto, a doutrina vai dizer que ele representa uma exceção
à teoria monista (unitária), já que são dois tipos penais distintos, já que a gestante responde pelo art. 124 e o
terceiro pelo art. 126, com penas diferentes.

20
Exemplo: gestante resolver fazer um aborto em si mesma e o remédio é caríssimo, ao falar para o namorado, ele diz que dará
sim o dinheiro a ela. Esse namorado que empresta dinheiro para um autoaborto? Responde como partícipe.

 Instigação
 Auxilio
 Induzimento
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Art. 2921, diz que todos que participam de um crime respondem pelo mesmo tipo penal. Por isso esse tipo
penal é uma quebra à teoria monista.

Consentimento “inválido”: o parágrafo único vai trazer algumas hipóteses em que a gestante consente
com a prática, mas ele será invalido. Quando se fala sobre as penas do artigo anterior, são as penas do art.
125.

 Se a gestante for menos de 14 anos


 Se a gestante é alienada ou alguma debilidade mental
 Se o consentimento for obtido mediante fraude (consentiu com um outro
procedimento médico)
 Violência ou grave ameaça

FORMAS QUALIFICADAS – art. 127: está escrito no código “formas qualificadas”, mas NÃO É QUALIFICADORA!
É CAUSA DE AUMENTO DE PENA, por ser uma hipótese de preter dolo (crime qualificado pelo resultado22).

Ex.: Crime do Padre Amaro – o dolo era o de praticar o aborto, mas culposamente pode acontecer dois
resultados a lesão grave ou morte. Como assim? Se os métodos abortivos levam a gestante a sofrer uma lesão
corporal grave as penas serão aumentadas em 1/3 e se sobrevém a morte da gestante a pena será duplicada.

Esses aumentos de pena servem apenas para o art. 125 e art. 125. O participe do art. 124 NÃO SOFRE
esse aumento. No caso de dolo eventual da manobra abortiva, teremos dois tipos penais diferentes: o dolo
do aborto e o dolo da lesão grave ou homicídio, a depender do resultado.

OBS.: caso a mãe tome remédio abortivo no final da gestação e o filho venha a nascer com alguns problemas
e, após um tempo, falecer o crime será de aborto!

HIPÓTESES PERMITIDAS NO ORDENAMENTO – art. 128: a grande maioria da doutrina entende que essas
hipóteses possuem a natureza jurídica de excludentes de ilicitude, já que o fato típico existiu, porém é
justificado por uma norma permissiva. Porém, existe uma doutrina minoritária que considera uma forma de
extinção de punibilidade.

Duas hipóteses de aborto são permitidos no Brasil:

21
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
22
Poderá ser de quatro formas. Dolo – dolo: um sujeito que está tentando roubar um notebook e a vítima resiste. E, assim, mata
a vítima. Existe o dolo de roubar e dolo de matar. Dolo – culpa (preter dolo). Culpa – culpa: colisão culposa no trânsito pode
gerar um homicídio culposo. Culpa – dolo: atropelar culposamente alguém e dolosamente omite socorro.

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o Aborto legal: é aquele praticado por médico quando não há outro meio para salvar a vida da gestante.
Nesse caso é necessário o consentimento da gestante? Em regra, não23, mas se houver a possibilidade de se
ter esse consentimento, o médico deve busca-lo. É o exemplo da gravidez ectópica. Outro questionamento
que se faz é se há a necessidade de uma autorização judicial. A resposta, aqui, também é não.
o Aborto humanitário: é aquele realizado por médico, com consentimento da gestante, em caso de
gravidez resultante de estupro. Para a jurisprudência, há uma tendência de se exigir um B.O, mas uma parte
da doutrina, principalmente Paulo Queiroz, diz que o laudo médico é válido como meio de prova, já que se
trata de uma ação penal pública condicionada à representação.
 Estupro de vulnerável (< 14 anos): em regra, o consentimento é dado pelos representantes
legais. Alguns juízes ouvem a menor para verificar uma convergência de pensamentos, e, se
esses forem colidentes, escuta-se o MP24 na qualidade de custas legis. E, no caso, de o
representante legal ser o autor do crime? O MP é chamado para consentir.

OBS.: Vitimização – é um processo que possui três fases. A fase primária é o contato da vítima com o autor. A
secundária é da vítima com as instâncias formais de controle. A terciaria é da vítima com a sociedade. Alguns
professores abordam uma quarta fase que é a de auto vitimização, onde a vítima procura em seu
comportamento o que contribuiu para que o fato típico acontecesse.

OBS.: ADPF Nº 54 – Dentro das hipóteses de aborto permitidas em lei, começou-se a questionar a questão do
anencefalo. Quando o CP foi criado, não tinha como se falar sobre isso, em 84 também não. Hoje tem exame
e a precisão de diagnóstico é de 100%. É detectado por volta de 12 semanas (3 meses), se feito o aborto de
forma clandestina, nesse período gestacional, tem chance de óbito muito grande além da possibilidade de
perda de órgãos.

Conceito de vida. Por que ADPF e não ADIN? É um artigo que não foi recepcionado pela CF. Por que não estaria
abarcado?

a) Conceito de vida: a morte é detectada pela morte encefálica. Se um feto não tem cérebro,
como pode haver vida? Existe bem jurídico a ser tutelado? A ser protegido pelo Direito Penal?

23
Estado de necessidade
24
A doutrina tem criticado bastante esse chamado do MP, porque o Direito Penal está coisificando o delito (reificação), ao invés
de solucionar o conflito. OBS.: se a menor tomar inciativa, o procedimento continua o mesmo em relação ao aborto!

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b) Há no código penal um aborto sentimental ou humanitário, em que efetivamente há vida. Se


nesse existindo vida autoriza a interrupção de uma gravidez, por que seria obrigada a levar a gravidez
sabendo que o feto morreria ao nascer?
o O legislador apenas não fez porque na época não tinha como ser determinado. Se não
fosse assim certamente haveria a previsão. Ainda que se entenda que há vida, não é obrigada
a levar uma gestação sabendo que não existe sobrevida.
c) Autonomia da mulher em escolher se vai ou não levar a gestação. Não se obriga a proceder
dessa forma, apenas dá a autonomia.
d) Argumento de ordem social – evitar a mortalidade, fazer de forma segura, sobretudo de
mulheres negras e pobres que vão realizar esse aborto de forma insegura. Ninguém está defendendo um
“matador de criancinhas”, apenas evitar o transtorno da mulher de ter um filho que morrerá.

DAS LESÕES CORPORAIS

ART. 129 – LESÕES CORPORAIS

BEM JURÍDICO TUTELADO: esse é um artigo longo, tão grande quanto o homicídio. Foram inseridos três
parágrafos referentes a violência doméstica. O bem jurídico tutelado é a integridade física e a saúde corporal
de outrem, a princípio. Só que alguns autores começam a questionar acerca da saúde mental. Por exemplo:
uma das hipóteses de violência doméstica e familiar é a violência psicológica, de natureza moral. Uma mulher
que é vítima de violência psíquica pode ser enquadrada como lesão corporal? Uma doutrina mais moderna
defende que sim, que a saúde mental também está tutelada enquanto bem jurídico do art. 129.

Ex.: o caso do BBB de Emily; Sanches entende que estaria abarcado no art. 129, não sendo necessário que
exista marca física, porque a lesão mental estaria abarcada.

Essa doutrina, entretanto, vai de encontro a orientação que existe sobre contravenção chamada “vias
de fato”. Para a doutrina clássica, a lesão corporal sempre deixa marca, enquanto as “vias de fato” chegariam
ao aspecto físico, mas sem deixar marcas (puxão de cabelo).

Há uma crítica, de Zaffaroni, que o direito penal deveria ser uma forma de prevenção de crimes, mas
que na prática ninguém teme, é uma proteção tardia. Quase todos os casos os bens jurídicos já foram violados.

19
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O problema é que não há algo melhor para pôr no lugar. Entre não ter limite algum e ter o do bem jurídico,
Obs.: a gradação da lesão corporal só
antes esse. Esse bem jurídico levou à gradação das lesões. vale para as lesões dolosas. As culposas
não entram nessa gradação.
GRADAÇÃO DAS LESÕES: para as lesões corporais dolosas há uma gradação. No caput do 129 tem a leve, no §
1º há a grave e no § 2º a gravíssima. Para a culposa não existe gradação. Não tem gradação na lesão culposa!

ATENÇÃO!!!!! Pegadinha de prova. Acontecendo a lesão por negligencia, imprudência ou


imperícia, responde apenas pela lesão culposa.

LESÕES LEVES: caput do art. 129. Para graduar uma lesão em leve:

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Conceito: feito por exclusão. É a lesão que não consegue ser classificada como grave nem gravíssima. Não
conceitua lesão leve, somente será sabido se testadas as hipóteses da grave e da gravíssima e não for possível
classificar. É necessário realizar a perícia para saber o grau da lesão. Se após a pericia não for constatada lesão grave ou gravissa se
enquadra na lesão leve. Lesão corporal leve é diferente de vias de fato, pois nesta não há comprovação de marcas físicas.

Pena/competência: a pena para esse crime é de 3 meses a 1 ano. Todos os crimes com pena máxima menor
ou igual a dois anos quem julga são os juizados especiais criminais, porque é de menor potencial ofensivo
(pequenas causas) – JeCrim.

Ação penal: quando analisado o art. 89 da lei 9099/95 há uma previsão de ação penal diferenciada para esses
casos. A ação penal dos crimes de lesão corporal leve e culposa ela vai ser pública, mas condicionada à
representação (quem oferece a denúncia é o MP, mas para que inicie precisa da representação da vítima, da
autorização, se manifeste – qualquer manifestação de vontade da vítima na persecução penal).
Mesmo em caso lesão leve, quando for violência doméstica e familiar contra a mulher a ação penal vai ser pública incondicionada.

LESÕES GRAVES: alguns autores vão dizer que envolvem tanto o §1º quanto o §2º, porque o termo
“gravíssima” foi criado pela doutrina.

Lesão corporal de natureza grave


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

20
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Natureza jurídica: o que representa esse §1º primeiro? No caput do 129, vamos encontrar a pena de 3 meses
a 1 ano, enquanto no §1º a lesão considerada grave tem pena de 1 a 5 anos. Logo, ele representa uma
qualificadora para as lesões corporais.

Análise do §1º: essas hipóteses são taxativas, ou seja, não pode caracterizar como grave quando estiver fora
dessas hipóteses.

Inciso I: quando a vítima fica impossibilitada de realizar suas ocupações habituais por mais de 30 dias.
Precisam ser ocupações laborativas? Não. Se trata de qualquer atividade realizada pela vítima. Como é que
prova? Para essa hipótese temos que fazer duas perícias, uma perícia inicial e a segunda contando 30 dias da
data da lesão (laudo complementar).

ATENÇÃO!!! A contagem se faz incluindo a data inicial. Ex.: lesão no dia 18/01/17, laudo
inicial. No dia 18/02/17, laudo complementar. Mais de 30 dias, logo é uma lesão grave.

Inciso II: lesão grave que resulta em perigo de vida. Essa lesão necessariamente tem que ser de
natureza preter dolosa, porque se o sujeito tem o dolo de ofender a vida de alguém deixa de ser lesão corporal
e passa a ser tentativa de homicídio. Existe o animus laetendi e a figura do perigo de vida vai aparecer SEMPRE
de maneira culposa.

E se a vítima morrer? A lesão grave se transforma na lesão do §3º, que é a lesão seguida
de morte.

Inciso III: vai ocorrer uma debilidade permanente de membro, sentido ou função. O que se considera
como permanente? Significa que a situação vai ser analisada no estágio atual da medicina, os avanços médicos
até o momento do processo. Mas o que é um membro, sentido, função?

 Membros são os braços e pernas. Para maioria da doutrina mãos e pés são considerados
membros, logo, se houver a amputação de algum deles teremos a situação de uma lesão corporal
gravíssima.
 Sentidos – visão, audição, paladar, olfato, tato. Uma lesão corporal que deixa o sujeito cego de
um olho ou surdo de um ouvido, é de natureza grave ou gravíssima? Teremos aqui a situação de uma
debilidade. Para os sentidos que existem por conta de dois órgãos considera-se assim, como uma
debilidade do sentido.

21
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 Função – é exercida por um conjunto de órgãos. Uma lesão respiratória, ao perder um pulmão
é uma debilidade. Entretanto, na perda de dentição, a doutra entende como uma debilidade da
função mastigatória.

Inciso IV: aceleração de parto, a criança vai nascer com vida.

ATENÇÃO!!!! Ação necessariamente dolosa! O agente precisa saber que a mulher está
grávida. Vale também para a situação da lesão gravíssima.
ATENÇÃO 2!!! É considerado próprio em relação à vítima, já que se exige da vítima a
qualidade de ser mulher e estar grávida.

Distinções em relação às lesões gravíssimas: na lesão corporal gravíssima vamos falar na palavra perda,
enquanto na grave falamos de debilidade. Outro caso que existe uma distinção é que na lesão gravíssima, o
feto morre, já na grave a criança vai nascer com vida.

LESÕES GRAVÍSSIMAS

§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Nomenclatura/natureza jurídica: não aparece no código penal, não está no texto da lei. É uma nomenclatura
dada pela doutrina para diferenciar os §§ 1º e 2º.

Pena: uma lesão pode ser grave e gravíssima ao mesmo tempo? Pode. Exemplo a aceleração do parto e, em
decorrência disso, a mulher ficou estéril (perdeu a capacidade reprodutiva). O que se faz quando tiver as duas
qualificadoras? Pega-se a qualificadora mais gravosa, e a outra será utilizada em outra fase da dosimetria da
pena. Tecnicamente permite-se uma só.

Representa uma outra qualificadora para esse crime. Pena de 2 a 8 anos.

Análise do §2º:

Inciso I: incapacidade permanente para o trabalho, no estágio atual da medicina. Essa incapacidade
para o trabalho é o trabalho que a vítima desempenhava ou qualquer outro tipo de trabalho? A doutrina

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majoritária significa qualquer trabalho e que o CP se refere ao mercado de trabalho, já que ele pode ser
absorvido em outras funções.

Inciso II: lesão que provoca uma enfermidade incurável. O que se encaixa nesse conceito? A grande
maioria da doutrina dá por exemplo o Mal de Parkinson, porque essa enfermidade pode ser desenvolvida por
conta de uma lesão na cabeça. Um erro médico pode gerar em alguém uma enfermidade incurável, em um
tratamento experimental, por exemplo.

Se a gente tem a situação de uma pessoa que tem uma moléstia venérea ou uma enfermidade incurável e
transmite isso dolosamente a alguém. Isso é lesão corporal? O crime não é o de lesão corporal. Temos tipos
penais específicos, art. 130 25(perigo de contagio venéreo – expor alguém, por meio de relação sexual, ao
perigo de contágio de uma moléstia venérea, que você sabe ou deveria saber 26que está infectado) e art. 131
(perigo de contagio de moléstia grave. Uma tuberculose, lepra, H1N1. O código dessa vez é bem mais amplo,
por falar em praticar um ato capaz de transmitir essa moléstia grave.)

OBS.: um sujeito tem HIV e dolosamente infecta outra pessoa com a doença. Que tipo penal é esse? O HIV
não se encaixa no art. 130 e 131, porque o HVI em si ainda não é a doença, a moléstia, porque em ambos a
expressão usada é moléstia venérea e moléstia grave. Por ser um vírus. A primeira possibilidade é que seria
uma lesão corporal gravíssima (art. 129, §2º, II) por transmitir uma enfermidade e a segunda possibilidade é
que seria a tentativa de homicídio (art. 121 c/c 14, II).

OBS2.: Aqui no Brasil, mesmo que haja o consentimento do ofendido, a auto colocação sabidamente em risco,
vai ser uma lesão corporal gravíssima. Temos no Brasil, a aplicação do consentimento do ofendido até as
lesões leves.

OBS3.: Teoria da imputação objetiva

OBS4.: No caso do MMA, não entra o consentimento, vamos trabalhar com o exercício regular do direito,
dentro do direito desportivo.

Inciso III: perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Sentindo e função, que são
desempenhadas por órgãos duplos não é perda é debilidade, logo será uma lesão grave.

25
E se o sujeito não sabe que está infectado ou não tem como saber? Não existe crime! Aqui tem de ser de maneira dolosa! E se
não for uma doença venérea? Não for uma DST. Art. 131.
26
Quando o código diz isso é o dolo eventual. O indivíduo apresenta todos os sintomas de uma doença, mas nunca fez nenhum
exame para descobrir.
23
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No caso de uma pessoa que usa uma prótese de vidro, uma lesão corporal no olho que ainda exerce a função,
será uma lesão gravíssima porque vai perder completamente a função.

Inciso IV: deformidade permanente. Essa deformidade é algo que cause vexame e humilhação para a
vítima. Só que aí vem a doutrina dizendo que essa deformidade permanente tem que ser uma deformidade
aparente, porque é só assim que a vítima, ou o corpo da vítima, vai causar repugnância em terceiros. E o que
seria uma lesão aparente? Teria de ser algo como perder uma orelha, um braço, etc para a doutrina
majoritária, tem de ser algo público.

É um inciso que, toda vez que se tem um crime, é uma das situações em que o juiz faz o arbítrio da lesão
observando a vítima, as situações em que ela se insere, trabalha, etc. Logo, a doutrina é muito atrasada nesse
aspecto de a lesão ser algo que seja público.

Inciso V: vai tratar da lesão corporal que causa aborto. Qual é a diferença entre aborto que causa lesão
para lesão que causa aborto? Tudo vai passar pela tipicidade subjetiva, dentro do art. 127, o dolo do agente
é provocar o aborto e, ai, acontece um resultado mais gravoso que é a lesão. Diferente do art. 129, §2º, V,
onde o dolo do sujeito é provocar a lesão, mas acaba provocando na gestante o aborto. 27O agente precisa
saber ou ter meios de saber que a mulher está grávida.

Ex.: Dois colegas de trabalho discutindo, sem saber que a mulher está grávida a derruba pela escada e ela rala
o joelho. Mas, por estar gravida no início da gestação, ele vai responder por apenas pela lesão provocada na
gestante (as escoriações).

OBS2.: A questão da transgenitalização – art. 129, §2º, III. Resolução 1.955/2010 CFM. Infelizmente para tirar
a tipificação da cirurgia para remoção de órgãos reprodutores (pênis, ovário e até seios) para adequação,
decidiram por considerar a transexualidade uma patologia.

LESÃO SEGUIDA DE MORTE (§3º): é uma conduta unicamente preter dolosa, ou seja, existe dolo de lesionar e
de maneira culposa acaba havendo a provocação da morte. A pena para esse crime é de 4 a 12 anos. Detalhe
importante, se a situação de morte é completamente imprevisível, o agente não vai responder pelo resultado
mais gravoso.

Lesão corporal seguida de morte


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

27
Pra se considerar aborto a morte tem que ocorrer dentro do útero, SEMPRE!
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Ex.: Dois sujeitos jogando capoeira, um deles com a intenção de lesionar e humilhar o seu adversário, dá um
rasteira e ele cai, bate a cabeça e vem a falecer. Lesão corporal seguida de morte.

CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA (§4º): de 1/6 a 1/3. Cópia literal do crime de homicídio privilegiado, vai
aparecer aqui a lesão corporal privilegiada. E quais são as situações? Se ela for praticada por relevante valor
moral, social ou se ela é praticada sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
da vítima.

Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.

Para essa situação a gente tem uma possibilidade no §5º de substituição da pena de detenção pela pena de
multa. Atentar para a redação do §! Ele vai dizer que nãos seno graves as lesões o juiz poderá substituir, ou
seja, só cabe para lesão leve. Quando isso pode ocorrer? Nas hipóteses do §4º e quando as lesões leves forem
recíprocas.

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

Obs.: multa fixada em valores, desconsidera-se o valor expresso e faz o sistema do dias-multa. Essa multa vai
para a vítima? Não! É destinado para o FUPEN (fundo penitenciário nacional).

ART. 129, §6º - LESÃO CORPORAL DE NATUREZA CULPOSA: A pena é de 2 meses a 1 ano. Quem tem
competência para julgar? Os Juizados Especiais Criminais (JeCrim). A ação penal é pública e é condicionada à
representação.

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Para essa situação é cabível, exatamente igual ao homicídio, a figura do perdão judicial.

PERDÃO JUDICIAL (§8º): causa de extinção da punibilidade. Tem cabimento quando a dor do crime torna
desnecessária a sanção penal. Ex.: pai que, ao jogar o filho para cima, o filho veio a cair e ficou com uma
deficiência.

25
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§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069,
de 1990)

DEMAIS DISPOSIÇÕES (§7º): vai tratar de causas de aumento de pena. Esse § diz que se aplica aos crimes de
lesão corporal as mesmas causas de aumento do art. 121, §4º.

Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4 o e
6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)

 +1/3 – culposa (inobservância de regra técnica, não presta imediato socorro à vítima ou quando o
sujeito foge para evitar prisão em flagrante; dolosa (vítima <14 ou >60).
 +1/3 a ½ - quando a lesão for praticada por milícia privada ou grupo de extermínio.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (§9 ao 11)

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)


§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340,
de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas
no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois
terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

§9º: traz uma figura cujo nomen iuris é violência doméstica. Esse parágrafo foi inserido pela Lei
10.886/04. Logo, a violência doméstica não foi incluída pela Lei “Maria da Penha” (Lei 11.340/06), como
muitos imaginam. Ela, porém, alterou o §9º. A pena estabelecida pela Lei 10.886, era de 6 meses a 1 ano e
com a Lei “Maria da Penha” foi para 3 meses a 3 anos, fruto do desenvolvimento feminista, que sempre estava
com essa pauta em questão.

O que é a violência doméstica para fins do Direito Penal? A violência doméstica é uma modalidade especial de
lesão corporal leve dolosa. Por que é uma modalidade especial? Se não fosse pelo nomen iuris, poderia se
dizer que era uma lesão corporal qualificada, já que a lesão leve tem uma pena de 3 meses a 1 ano, mas a
pena é diferente em abstrato porque vai de 3 meses a 3 anos, não se pode dizer tecnicamente que seja uma
lesão corporal leve qualificada por conta das circunstancias peculiares que circundam ela.

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E qual o fundamento dessa majoração de pena? Os dois fundamentos que justificam a maior gravidade da
pena na violência doméstica é a relação do agente com os sujeitos passivos e, em segundo lugar, a relação
doméstica de convivência ou coabitação. Os bens jurídicos protegidos pelo tipo de violência doméstica são a
integridade física e a harmonia ou solidariedade familiar. Então essa é a justificativa para que se tenha esse
aumento de pena.

OBS.: Bitencourt vai falar em um problema na palavra que é utilizada, muito embora seja violência doméstica,
o verbo não é violentar e sim se a lesão for praticada contra ascendente, descendente etc. Isso tem relevância,
porque a lesão corporal é um universo de coisas, um ato que um indivíduo pratica com o intuito de lesionar.
E violência é algo genérico e que abarca a lesão corporal, violência é algo mais amplo, porque teremos dentro
desse gênero as vias de fato, a violência moral, etc. O legislador escolheu o termo lesão, eliminando, portanto,
as vias de fato, violência moral. Logo, o nomen iuris escolhido pelo legislador é, segundo Bittencourt,
impróprio tecnicamente, pois ao escolher o termo lesão (apenas uma das espécies de violência) o legislador
deixou de fora outras formas de violência como as vias de fato e a violência moral.

IMPORTANTE!!!! O sujeito passivo de violência doméstica pode ser tanto a mulher quanto o homem. Ao
contrário do que poderia se pensar, por se discutir se a Lei “Maria da Penha” pode ser aplicada ao homem
também. Mas o tipo de violência doméstica é indiscutível pois o título não discrimina.

Existem dois universos de sujeitos passivos para esse crime: existem os sujeitos passivos mencionados e
determinados no artigo, mas também abre o tipo para incluir outros sujeitos que não possuam esse vínculo
familiar. No caso de a violência doméstica ser praticada contra os sujeitos passivos mencionados na primeira
parte do §9º, é dispensável a existência de coabitação ou relação doméstica entre o agente e a vítima. Caso
a violência doméstica seja praticada com prevalecimento pelo agente de relações domésticas de coabitação
ou hospitalidade, é necessário que o agente e a vítima coabitem, tenham relação doméstica e, segundo
Bittencourt, que o crime seja praticado nos limites territoriais da coabitação.

Ex.: Babá que pratica violência sobre uma criança que está sob os cuidados dela – não possui vínculo familiar,
mas ao se prevalecer da relação que tem com a criança naquele espaço doméstico, vai responder por violência
doméstica.

ATENÇÃO! NÃO SE CONFUNDE RELAÇÃO DOMÉSTICA COM RELAÇÃO EMPREGATÍCIA, muito embora seja
possível existir entre agente e vítima a relação empregatícia. Logo, uma coisa não exclui a outra. Há a
possibilidade de um sujeito, por exemplo, que se prevalecendo daquela relação doméstica, pratica violência
contra uma empregada doméstica.
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Outra crítica feita é que, muito embora a previsão seja fruto de luta dos movimentos feministas, a mulher e
os filhos podem ser sujeitos ativos do crime, não foi restringido ao homem.

§10: A Lei 10.886/04 incluiu, também, esse §. Então, qual é a situação? Nas hipóteses de lesão grave,
gravíssima e lesão seguida de morte (§§ 1º a 3º) praticadas nas circunstâncias trazidas pelo §9º, o contexto
da violência doméstica provoca majoração da pena em +1/3.

§11: foi incluído pela Lei 11.340/06, que é vulgarmente chamada de Lei Maria da Penha, e prevê a
violência doméstica praticada contra portador de deficiência. Muito importante porque é atual e recente. É
uma norma penal em branco28, porque o conceito de portador de deficiência não é dado a priori pelo próprio
título e precisa ser complementado por outra norma, que será a Lei 13.146/15, no art. 2º (Estatuto da Pessoa
com Deficiência).

O que acontece? No caso da violência praticada contra portador de deficiência a pena será aumentada em
+1/3 (majorante). A doutrina fala, nesses casos, que é necessária a comprovação médico legal da deficiência,
bem como o conhecimento da deficiência pelo agente.

OBS.: Nos casos de violência doméstica contra cônjuge a violência existirá ainda que os sujeitos estejam
separados judicialmente ou de fato. É um entendimento que Rogério Sanches traz, incidindo nessas situações.
No caso de violência contra irmão/filho, pode ser adotivo, não necessariamente necessita do vínculo
sanguíneo. E o legislador contemplou a figura do companheiro (união estável).

OBS.: Qual é a natureza da ação penal dos crimes de violência doméstica? Com relação a violência doméstica
praticada contra o homem, nos casos dos §§9º e 11, é pública condicionada, já no caso do §10 é pública
incondicionada. A grande problemática, na verdade, é quando a vítima é mulher, embora haja essa discussão
se a Maria da Penha afastou a 9.099 ou não, nos casos dos §§ 9º a 11, o STF na ADIN 4424, decidiu que a ação
penal seria incondicionada. Logo, excluiu a aplicação da 9.099 nesses casos. E o STJ, sumulou o entendimento,
na súmula 542, prevendo que a ação penal no caso de violência doméstica contra a mulher e de natureza
pública incondicionada.

AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA (§12): esse parágrafo prevê uma majorante em razão da especialidade do
sujeito passivo, que são agentes da segurança pública ou seus familiares. A pena é aumentada de 1/3 a 2/3.

28
Homogênea (quando a norma que complementa é emitida por uma autoridade de mesma hierarquia) e heterovitelina (não
está no mesmo diploma)
28
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Essa lesão já não é mais relacionada à violência doméstica. Foi incluído pela Lei 13.142/15. Na hipótese desse
§, se a lesão é gravíssima ou seguida de morte o crime será hediondo (art. 1º, I,a – Lei. 8.072/90 “Lei de Crimes
Hediondos”).

OBS.: O Código Penal militar prevê expressamente o crime de lesão corporal em seus artigos 209 e 210.

OBS.: O CTB prevê a figura da lesão culposa de trânsito, com pena de 6 meses a 2 anos, no art. 303. O que
ocasiona um problema técnico de proporcionalidade e lesividade das penas, em razão da lesão corporal
dolosa leve do Código Penal ter uma pena de 3 meses a 1 ano.

DOS CRIMES CONTRA HONRA

ESPÉCIES DE HONRA: a doutrina distingue duas espécies de honra. Teremos a tutela, portanto, a honra
objetiva, que é a imagem social do indivíduo. Ou seja, o que a sociedade pensa desse indivíduo, o seu conceito
de reputação. A segunda espécie de honra, que é a honra subjetiva, é a autoimagem, ou seja, a ideia que o
sujeito faz de si próprio.

CRIMES EM QUESTÃO: vão ser trabalhados três crimes contra a honra.

 Art. 138. Calúnia


 Art. 139. Difamação
 Art. 140. Injúria

Os dois primeiros, calúnia e difamação, tutelam a honra objetiva. Enquanto a injúria protege a honra subjetiva.

PENA/COMPETÊNCIA: vamos ter uma ordem decrescente em questão de pena. O crime de calúnia vai ser uma
pena de 6 meses a 2 anos. No art. 139, crime de difamação, teremos a pena de 3 meses a 1 ano. E a injúria29,
pena de 1 a 6 meses.

Quem julga? Em regra, a competência é dos JeCrim’s. Podemos ter uma qualificadora, um aumento de pena
e pode ser mudado isso.

29
Possui qualificadoras, a pena apresentada é para injúria simples. Inclusive, o crime mais gravoso está no §3º do art. 140
(injúria racial).

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CONCURSO DE CRIMES: é possível? Para se falar em concurso de crimes, em mais de um crime dentro de uma
situação, temos que ter fatos distintos. Logo, é possível sim, mas só é possível através de fatos distintos, senão
gera um bis in idem.

Ex.: Postagem no Facebook com três crimes contra a honra – concurso formal

ART. 138 – CALÚNIA

Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

ELEMENTARES DO TIPO: Caluniar alguém é imputar falsamente fato definido como crime. É um crime de dolo
específico, ou seja, o sujeito sabe que a imputação é falsa. O sujeito tem que possuir animus calumniandi30.

Protege uma honra denominada de honra objetiva, que é a imagem que a sociedade faz do indivíduo.
Se fala que a calunia protege a honra objetiva, a pergunta é: quando é que existe a consumação desse crime?
Basta que a imputação chega à própria vítima? Não. É necessário que a imputação chegue a conhecimento
de terceiros, que não sejam a própria vítima.

Ex.: Dois moradores descendo um elevador, que tem câmera no elevador, e o morador diz que o síndico está
roubando dinheiro do condomínio. Houve consumação? Haverá se o porteiro assistiu ao momento da
imputação.

Alguns exemplos:

I. Se um sujeito chamar alguém de ladrão, golpista, etc. Isso é calúnia? NÃO! Para ser calúnia tem
que imputar um fato, não de adjetivos. Ex.: você roubou um celular; sonegou tributos. A imputação
de adjetivos caracteriza a injúria.
II. Se Thais olhar para um <18 e falsamente disser que foi ele quem roubou bolsa a bolsa. Isso é
calúnia? Quando diz fato definido como crime não é necessário existir os três elementos (Típico-

30
A intenção de macular a honra objetiva
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Ilícito-Culpável). Logo, tanto o menor de 18 quanto o doente mental praticam fatos definidos como
crime. Então, seria sim uma vítima de calúnia.

SUJEITOS DO CRIME:

Menor de 18 anos e doente mental: a discussão toda é que para ser calunia tem que ser um fato definido
como crime. E aí? E o menor de 18 e um doente mental que não praticam crime? Eles podem ser sim vítimas
de calúnia, porque o legislador usou a expressão “fato definido como crime”, que é diferente do conceito de
crime. Logo, o fato definido como crime é um fato típico, está definido em lei, por mais que não estejam
presentes ou outros elementos (ilícito e culpável).

Pessoa jurídica: se imputar a uma PJ um fato definido como crime, a PJ está sendo vítima de calúnia? Vamos
ter uma discussão da doutrina com a jurisprudência. Para a doutrina, a PJ pode ser vítima de calunia? Sim, se
se tratar da imputação de um crime ambiental, por ser no Brasil a única possibilidade de responsabilidade
penal da PJ. Só que para a jurisprudência, o que eles vão entender? A pessoa jurídica tem uma imagem a zelar
e tudo que você imputa a uma PJ, seja crime ou ato ofensivo, gera difamação. E a jurisprudência tira esse
entendimento da súmula 227 do STJ.

Súmula 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

DICA! Dentro da difamação as imputações verdadeiras ou falsas caracterizam crime. Ex.: uma barata no prato
de um restaurante.

Calúnia contra os mortos: se imputar a alguém que já morreu, falsamente a pratica de um crime, isso gera
calúnia? Sim. Existe uma previsão expressa no art. 138, §2º do CP. Como se defenderia o sujeito para essa
imputação de calúnia? Art. 17, CP, o meio é absolutamente ineficaz, é um exemplo de crime impossível.

IMPUTAÇÃO DE CONTRAVENÇÕES: Se Thais disser falsamente que o professor Bernardo tem uma banca de
jogo do bicho no vale do Canela. O jogo do bicho não é fato definido como crime, é uma contravenção penal.
Isso é calúnia? NÃO! Isso vai caracterizar o delito de difamação (art. 139, CP).

PROPALAÇÃO INDEVIDA: Para a pessoa que simplesmente se limita a espalhar a notícia de maneira indevida,
responde pela calúnia? Sim. Responde com concurso de agentes, previsto no §1º do art. 138, CP. A
responsabilidade de quem propagou essa notícia independe da de quem criou a calúnia.

Ex.: Thais recebe no WhatsApp uma notícia de que um aluno furtou o celular de outro e sabia que isso era
falso porque o aluno estava na aula dela, espalha essa mensagem com o intuito de causar a discórdia.

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EXCEÇÃO DA VERDADE: é uma comprovação de que o fato imputado é verdadeiro. Qual é o feito prático disso?
Se o crime é imputar falsamente um fato definido como crime, comprovar que essa imputação é verdadeira
é quebrar com uma das elementares do tipo, tornando o fato atípico. Processualmente falando a exceção da
verdade é uma ação autônoma.

No crime de calúnia a regra é o cabimento da exceção da verdade, só que o código faz o seguinte, no art. 138,
§3º, apresenta três situações:

Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível

I. Um crime de ação penal privada não cabe exceção da verdade, enquanto não há condenação com
transito em julgado – a ação penal privada ela é infinitamente mais frágil do que uma ação penal
pública para se iniciar. Então, por essa fragilidade, para que se prove a verdade daqueles fatos, é
preciso da condenação com transito em julgado. Ex.: Lei da ficha limpa – condenação em primeiro
grau.
II. Quando o crime for de ação penal pública não cabe prova da verdade, se já houve sentença
absolutória com trânsito em julgado.
III. Crime imputado a presidente da república ou a chefe de governo estrangeiro: a ideia desse inciso
é a de blindar os chefes do poder executivo porque eles representam nações. Não é uma pessoa
qualquer sem procedimento algum que vai fazer a exceção da verdade nesses casos.

Exceção de notoriedade: e os fatos públicos e notórios? A exceção de notoriedade, apesar de não ter previsão
no Código Penal, tem sido aceita na Jurisprudência para excluir o crime de calúnia.

ART. 139 – DIFAMAÇÃO


ELEMENTOS DO CRIME - Imputar fato ofensivo à reputação.

Pela leitura do tipo penal, esse fato ofensivo tem que ser verdadeiro ou falso? Ou tanto faz? O delito de
difamação não tem como elementar a falsidade das imputações, vai ser crime independentemente da
imputação ser verdadeira ou falsa.

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Ex.: Um aluno diz que tirou foto do professor Bernardo saindo de um motel com outro homem. Não importa,
sendo verdadeiro ou falso, a princípio, ofende a reputação do professor.

Difamação

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

 Veracidade das imputações? Ainda que seja verdadeiro, será crime contra a honra, porque o que
importa é a imputação de um fato ofensivo à reputação.

OBS.: Sensor da moralidade alheia – então a ideia da imputação é que mesmo que o fato seja verdadeiro
existe crime.

Exceção da verdade – Se não é elementar que o fato seja falso, caberá exceção de verdade? Em regra, não é
cabível a exceção da verdade, porque mesmo o fato sendo verdadeiro há crime. Mas, no art. 139, § único, há
a única exceção onde caberá à exceção da verdade. A exceção é quando a imputação é direcionada a um
funcionário público e relacionada ao exercício de suas funções.

Exceção da verdade

Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário


público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

Ex.: Um aluno chega ao chefe de departamento e diz que um professor só vem dar aula bêbado; isso é ofensivo
à reputação do professor? É. Mas é muito mais preocupante a função dele como professor da UFBA do que a
sua a honra especificamente. Então, esse art. 139, § único, está preocupado não com a pessoa em si, mas
com o papel que ele exerce, com o fato dele ser funcionário público e com o fato está relacionado com o
exercício de suas funções. Prezando pelo bom andamento do funcionalismo público. Se isso fosse numa
faculdade particular e os alunos comentassem entre si, poderíamos dizer que isso é difamação. Na
Universidade pública em hipótese alguma seria, e porquê? Porque o professor é funcionário público e o fato
imputado tem a ver com o exercício da função.

E se for verdadeiro, mesmo o fato? Ainda assim existe difamação? Não! Para o
funcionário público, sendo verdadeiro o fato se falará em atipicidade da conduta., não haverá difamação.

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SUJEITOS DO CRIME:

Quem pode ser sujeito passivo do crime de difamação? Quem pode ser vítima?
Qualquer pessoa física ou jurídica. Uma vez que as pessoas jurídicas têm o direito à imagem, marca,
respeitabilidade no mercado, reputação, e aí a gente invoca uma Súmula 227 STJ, a qual reconhece o direito
à imagem das PJ.

Ex.: Caso do carro Honda, que o sujeito pichou todo o carro e o colocou estacionado em frente a
concessionária dizendo “quer dor de cabeça? Compre um Honda”. Isso se caracteriza difamação.

OBS.: Caso de professora primária dançando pagode – Quando a pessoa “se coloca” na situação, ela ainda é
vítima? Sim, porque a atitude da pessoa não era para ter sido divulgado por terceiro, é direito dela. A partir
do momento em que alguém filma e divulga, com intenção de difamar (não necessariamente de forma
escancarada), está cometendo crime de difamação.

OBS.: Lei Carolina Dieckmann – é um tipo de difamação? Não. Criou um tipo novo, 154-A, que diz que é crime
você invadir o aparelho de computador de alguém. No caso, invadiram o computador dela e criaram tipo uma
extorsão, foi um sequestro de dados.

ESPÉCIE DE HONRA: Qual a espécie de honra protegida nesse tipo penal? O crime imputar fato ofensivo à
reputação. É honra subjetiva, autoimagem, ou a imagem social do sujeito? Está em jogo a honra objetiva, a
imagem social do indivíduo.

Ex.: Com a divulgação com a imagem de Loreto, por exemplo, a reputação passou a ser melhor vista, inclusive,
pelo público feminino. Continua a ser difamação? Continuará sim. A honra é um conceito íntimo, mesmo
tendo uma repercussão positiva como homem, ator, etc.

É um crime de ação penal privada.

Consumação: Tutela à honra objetiva pressupõe a consumação no momento em que uma 3ª pessoa, que não
a própria vítima, toma ciência das imputações. Para que isso? Se é a vítima que vai escolher? A consumação
do crime é importante para a prescrição, sendo necessário saber quando um terceiro tomou ciência daquela
imputação.

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ART. 140 – INJÚRIA


ELEMENTOS DO CRIME: Injuriar alguém, ofendendo sua dignidade ou decoro.

Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Pela forma de redigir o tipo, os conceitos íntimos de dignidade, decoro, são uma forma de proteção à honra
subjetiva, a autoimagem. Temos algumas observações sobre isso.

 PJ pode ser vítima? Tem autoimagem? Pessoa Jurídica não tem autoimagem, então somente pessoas
físicas podem ser vítimas de injúria.
 Uma doutrina, com a qual Thais não concorda, vai defender que crianças de pouca idade também
não podem ser vítimas de injúria. Por que não? Porque não teriam o senso de dignidade e de
autoimagem. Mas é importante lembrar que a injuria não precisa ser praticada no sentido literal,
pois até a forma de olhar para o outro pode causar um desconforto.

Consumação se dará quando o próprio ofendido tomar ciência da imputação,


uma vez que a honra subjetiva é o bem tutelado. Exige o “animus injuriandi”, o dolo específico. Mas em
algumas situações haverá o “animus jocandi” (de brincar, escárnio), dentro do limite haverá ausência de
dolo.

Veracidade das imputações? É necessário que seja verdade? Independentemente de serem verdadeiras ou
falsas as afirmações haverá injúria.

Exceção da verdade: Logo, por lógica, não cabe exceção da verdade, em nenhuma hipótese.

FORMAS DE PRATICAR O CRIME: o crime de injuria é, dos crimes contra a honra, o que tem as formas mais
variáveis de ser praticado. Podemos encontrar a injúria pela forma escrita, pode ser feito na forma verbal. A
gente tem a injuria, tambem, que pode ser praticada através de uma imagem (Ex.: Caceta e Planeta –
Rubinho Barrichello com a imagem de uma tartaruga na cabeça dele). Outra forma muito comum é a forma
gestual (Ex.: Um colega apresentando o trabalho e um colega gesticula para outro insinuando que ela é
louca). Podemos ter injuria com argumentos à contrário (Ex.: Chamar um obeso de “fininho”). Existe também
os argumentos excludentes (ex.: dizer que todos os alunos são inteligentes, citando os nomes, menos um
em específico).

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PERDÃO JUDICIAL (§1º):

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata31, que consista em outra injúria.

INJÚRIA REAL (§2º):

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo
meio empregado, se considerem aviltantes:32

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à


violência.

O que é essa injuria real? Vai envolver o aspecto físico, mas o objetivo não é
causar a lesão corporal e sim macular a honra. A exemplo de um sujeito que, ao discutir com outro, cospe
na cara. É uma qualificadora da injúria. O sujeito também vai responder pela lesão corporal provocada
(concurso formal – uma conduta, dois resultados).

Obs.: A lesão corporal de natureza neve se considera englobada no crime de injuria real, o que vai ensejar
responder por dois crimes será a lesão corporal grave ou gravíssima.

INJÚRIA PRECONCEITUOSA (§3º):

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,


religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

Das formas de injuria preconceituosa desse §3º temos uma muito famosa, que
é a injuria racial, que vai envolver elementos da raça, cor e etnia. Só que essa não é a única forma
preconceituosa de atuar. A gente tem, também, a injúria por conta de religião, por força da origem (Ex.: Em
SP falar que “tinha que ser um baiano”). Além disso, temos a situação da injúria preconceituosa em relação

31
É muito mais um caso de excludente de ilicitude, uma legitima defesa da honra subjetiva. Seria uma “troca” de injúrias.
32
Humilhantes
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a pessoas idosas e, por fim, a injúria por conta da pessoa ser portadora de deficiência, seja ela física ou
mental.

Obs.: Questões de gênero e orientação sexual são englobadas no caput do artigo.

I. PENA/COMPETÊNCIA: de todos os crimes contra a honra, a injuria preconceituosa é a única que


extrapola os limites do juizado, pois teremos uma pena de 1 a 3 anos, retirando do autor do fato
uma série de benefícios (transação penal, etc).

DISPOSIÇÕES GERAIS (Art. 141 a 145)


CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (majorante)
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se
qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro.

I – Contra presidente da república ou chefe de governo estrangeiro. É preciso se lembrar da Lei


de Segurança Nacional, difamação, calunia ou segurança nacional será aplicada. Em caso de injuria, aplica-
se o código penal. Falando-se em chefe de governo estrangeiro aplica-se o CP no caso dos três crimes contra
honra.

II – Contra funcionário público em razão de suas funções. Tem que ser no exercício da função do
funcionário público. Quando a ofensa for nesses critérios haverá uma legitimidade concorrente. O que seria
essa legitimidade concorrente? Significa dizer que, uma pessoa, como funcionário publica ofendida pode
entrar com uma queixa crime (ação penal privada) ou através do MP quando for representar (ação penal
pública condicionada a representação). SUMULA 714 STF.

Quando se fala de crimes contra funcionário público logo vem à mente o crime de desacato, o art.
331, CP e um crime contra a administração da justiça. Praticar um crime contra funcionário público, comete

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desacato. Muitas vezes foram questionados e em Dez de 2016, o STJ chegou a seguinte decisão: a 5ª turma
decidiu que pelo fato do Brasil ser signatário do Pacto de São Jose da Costa Rica, o crime de desacato não
seria mais compatível com a CF e o PACTO, extirpando o art. 331. Esse ano a 6ª turma decidiu que forma
diferente, entendendo que o crime não seria extirpado.

Desacato – precisa de presença do sujeito contra o funcionário público, menosprezando a função que
ele exerce. Fere a administração da justiça, não necessariamente a pessoa em si.

III – Na presença de várias pessoas ou por meio que facilite. Quando o código foi escrito em 41,
não existia a internet, hoje o maior veículo que propagação. Quando fala de crimes contra a honra, o
aumento de pena justamente acontece porque há uma propagação muito maior do que aquilo que
aconteceu com a vítima, portanto várias pessoas no contexto que saibam daquilo que foi dito sobre a vítima.
Não significa dizer que tem que ter 3 pessoas no mínimo.

IV – De forma clara excepciona o crime de injuria, por um motivo simples: existe um parágrafo
especifico que se a injuria for na modalidade de pessoas com deficiência ou maior de 60 anos, haverá uma
injuria qualificada (bis in idem).

Art. 142: há uma ausência de querer injuriar, difamar, caluniar, não há o animus de ofender.

“IMUNIDADES” (art. 142): Exclusão do crime

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando


inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou


informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação
quem lhe dá publicidade.

E a calúnia? Pelo texto da lei, pelo art. 142, traz a imunidade em relação à
injúria e em relação ao crime de difamação. Mas e em uma situação em que se imputa alguém um fato
definido como crime? Queremos saber se isso está ou não abarcado pela imunidade do advogado, da parte?
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Um advogado que imputa ao colega um fato definido como crime, em um processo, por exemplo. Em que
pese o texto da lei falar só em injuria e difamação, a jurisprudência vai muito no sentido de incluir a
imunidade em relação à calunia, sobretudo para o primeiro inciso que inclui os advogados, porque se faz
necessário em alguns momentos do processo imputar a alguém um fato definido como crime. São três
situações:

 Imunidade Parte/advogados: não abarca a imunidade pelo desacato ao juiz! Juiz não é parte do
processo. No âmbito da discussão da causa. E o MP? Depende do papel que o MP exerça no processo,
ele tambem é parte. Se ele for dominus litis, ele é parte. Mas quando for custus legis (palpiteiro), não.
No processo penal, numa ação penal pública, o MP é parte!
 Imunidade artística/científica/literária:
 Conceito desfavorável, emitido por funcionário público, no exercício de suas funções: exemplo de
um professor que falta muito e um aluno entra com uma representação em face desse professor X,
o professor Y tem que fazer um comentário desfavorável.

Natureza Jurídica: acima do caput tem exclusão do crime, no texto começa dizendo que não constituem
injuria e difamação puníveis. O que isso representa? Exclui o que? Se for pelo que está escrito pela lei, vamos
para doutrina minoritária, seria a exclusão da punibilidade. A doutrina majoritária não vai por esse caminho.
Por exemplo, quando um funcionário público precisa invadir um domicilio porque tem uma vítima
sequestrada, porque ele não responde? Porque é uma situação que exclui a ilicitude. Logo para a maioria da
doutrina, seria uma exclusão da ilicitude porque essas situações (que estão apresentadas nos incisos)
representam espécies de exercício regular de direito ou estrito cumprimento de dever legal.

Qual a diferença de excluir a ilicitude ou punibilidade? É importante por conta


de efeitos extrapenais. Quando se exclui a ilicitude, exclui a responsabilidade civil administrativa, penal,
exclui tudo. Agora, se exclui a punibilidade, reconhece que houve um ato ilícito, tendo responsabilidade civil
e administrativa.

RETRATAÇÃO (art. 143)

Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da


difamação, fica isento de pena.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a


difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
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A primeira coisa que é importante saber é que a retratação não é pedido de desculpas, porque as
vezes a parte, por exemplo, está na audiência se retratou, mas a vítima não se sentiu reparado porque a
pessoa não pedir “desculpas”. Se retratar é se desdizer, voltar atrás na afirmação, e se desculpar não é isso.
O código penal não exige pedido de desculpas, exige retratação.

Por que que a retratação só cabe na calúnia e na difamação? Por que não cabe na injúria? Nos dois
primeiros, fala-se da honra objetiva e na injúria a honra subjetiva. A espécie de honra que está sendo
tutelada. A calúnia e difamação são a imputação de um fato, você se retrata de fatos, não de características.

Formato: tem que ser na mesma proporção? Cuidado! Foi inserido, recentemente, um parágrafo único no
art. 143, dizendo que se o ofendido desejar a retratação deve se dar nos mesmos moldes da ofensa. Como
assim?

Ex.: Alguém ofende Thais no fantástico domingo à noite. Não adianta se retratar em um outro jornal com
uma veiculação menor.

Às vezes para a vítima é muito pior a retratação, porque traz à tona novamente aquela situação. Se
o indivíduo ofendido quiser que a retração seja feita numa mesa de audiência e a ata bastar, será dessa
forma. Qual o efeito prático? Causa de extinção de punibilidade.

INTERPELAÇÃO JUDICIAL (art. 144):

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou


injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

Conceito: é um pedido de explicações feito em juízo, quando alguém se julga ofendido pois as
palavras/expressões equívoco, dúbio.

Ex.: Jornal A Tarde recebeu uma interpelação por conta de uma foto veiculada de um jogador dando um
carrinho, tirando a bola do gol. Acima da foto estava escrito “João, moleque! ”

Formato: Por ser uma expressão de duplo sentido, para não iniciar um processo direto, faz um pedido de
explicações por escrito, protocoliza, o juiz intima a outra parte, para que se explique o sentido que a
expressão foi utilizada.

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AÇÃO PENAL (art. 145):

Pública – incondicionada ou condicionada (à requisição do Ministro da Justiça ou à


representação da vítima)

Ação Penal

Privada

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do


inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no
caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código

Regra geral: em regra, é mediante queixa. A queixa ou queixa crime é, via de regra, da ação penal privada.
Tecnicamente é uma petição inicial que inicia uma ação penal de natureza privada, ajuizada por um
advogado ou defensor público (capacidade postulatória).

Exceções: o 140, §2º é a injuria real, aquela que chega até o aspecto físico, mas a intenção é humilhar.
Quando for o caso de lesões graves ou gravíssimas, a ação penal é publica incondicionada.

§ único: ação penal pública

 Condicionada à requisição do Ministro da Justiça: quando for o caso de crime contra a honra do
Presidente da Justiça ou chefe de governo estrangeiro (art. 141, I).
 Mediante representação do ofendido: nos casos de injúria preconceituosa (art. 140, §3º) e nos casos
de crime contra honra do funcionário público* em razão do exercício de suas funções (art. 141, II).

*Nos crimes contra a honra do funcionário público, foi criada uma Sumula, a 714 do STF, que diz o seguinte:
criou a chamada legitimidade concorrente. Como assim? Se um funcionário público se sente ofendido ele
tem duas opções: ou ele representa e a ação penal será pública ou ele mesmo promove uma ação penal de
natureza privada. É uma opção, não pode ocorrer as duas ações ao mesmo tempo! Por que trazer essa
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segunda opção? Imagine que Thais como funcionária pública é ofendida por outro professor da UFBa que é
membro do Ministério Público. Se ela perceber que, por uma questão de corporativismo, perceber que pode
não ter um andamento correto, ela pode ir pela via da ação penal privada.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

BEM JURÍDICO: quando se fala em crimes contra patrimônio, o patrimônio vai atingir propriedade ou
também vai atingir posse/detenção? Para doutrina clássica minoritária, só se protegeria a propriedade, só é
vítima quem é o dono, o proprietário da coisa. Só que, hoje, o conceito de patrimônio é mais amplo. A gente
vai dizer que patrimônio é tanto propriedade quanto posse/detenção, e é esse o entendimento da doutrina
majoritária.

ART. 155 – FURTO


Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

ELEMENTOS DO TIPO: subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.

Coisa alheia:

Ex.: Um sujeito entra numa loja de joias para comprar um relógio, retira o seu do pulso e coloca em cima do
balcão. Entretanto, ao mesmo tempo, um terceiro retira o seu relógio, idêntico ao do primeiro sujeito para
também experimentar um relógio, e também coloca em cima do balcão. O primeiro sujeito, se confunde na
hora de recolocar o seu relógio e acaba pegando o relógio errado – Que situação está configurada aqui? A
do art. 20, caput: erro de tipo essencial. Ele erra sobre o elemento que constitui o tipo penal do crime de
furto, ele erra sobre a coisa alheia. Qual a consequência? No erro de tipo essencial sempre está afastado o
dolo, só que o crime de furto não prevê a forma culposa. Se não houve dolo, e não há previsão culposa, logo,
a fato é atípico.

 O que não entra nesse conceito? Primeira situação que não entra nesse conceito é a chamada res
derelicta, é a coisa abandonada, jogada fora. Vai se perder, aqui, a noção de propriedade. Ex.: um
sapato jogado no lixo. A outra situação que não se encaixa na coisa alheia é a res nullius, que é a coisa

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sem dono, a coisa de ninguém. Ex.: Imagine Thais passando por um matagal, um terreno abandonado
e retira uma flor.
 Coisa própria em poder de 3º: exemplo de um carro emprestado e a pessoa sumiu com o carro, foi
com a chave reserva e pegou de volta o carro/ joias penhoradas na caixa e não tem dinheiro para
pegar de volta as joias e arma uma situação para pegar de volta. As duas situações estão no código
penal, art. 345 e 346, situações de exercício arbitrário das próprias razões (burla a ação do judiciário,
fazendo “justiça com as próprias mãos”).
 Coisa comum: Thais encontra um vaso de flores na portaria, pega e leva para casa. Isso é furto? Sim.
Existe um crime especifico que está no art. 156. Vale para condôminos, sócios, coerdeiros.
 Coisa pública: se alguém resolver levar o computador da sala dos professores, ou o retroprojetor. A
subtração de coisas públicas é furto? Não. É considerado dano ao patrimônio público, art. 163, §
único, III.

E as coisas achadas?

Thais está andando e encontra um brinco no chão, não sabe de quem é o dono e fica com o brinco para
si. Isso é crime de furto? Não. Existe um tipo penal especifico, art. 169, II, CP, esse crime é a apropriação de
coisas achadas.

 Esse tipo penal é chamado de crime comissivo e omissivo ao mesmo tempo. Por que? Ele traz
condutas ativas e passivas na sua redação. Percebe-se que as duas primeiras condutas, são condutas
comissivas. E a segunda parte do tipo penal, estamos falando de condutas omissivas.

Art. 169, II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

 Esse crime é chamado, na doutrina, de crime a prazo. E por que isso? Porque o legislador confere ao
sujeito um prazo de 15 dias para restituir essa coisa ao proprietário/possuidor ou entregar a uma
autoridade competente. O delito só se consuma depois de ultrapassado esses 15 dias.

NÚCLEO DO TIPO: dentro desse verbo, subtrair, que significa tomar para si. E porque é importante falar da
questão do verbo?

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Elemento subjetivo: esse crime é um crime unicamente doloso, não prevê a modalidade culposa. Dentro
dessa ideia de dolo, a doutrina vai indicar que o crime de fruto apresenta o animus furandi – a intenção de
se assenhorar da coisa, tomar a coisa para si.

E por que a importância da discussão dentro do animus furandi? É a figura do furto de uso. Esse furto é uma
figura atípica, porque não existe a intenção de se assenhorar da coisa. Vai acontecer o furto de uso desde
que a coisa seja devolvida tal qual encontrada e a vítima não perceba que a coisa saiu da sua esfera de
disponibilidade.

Ex.: Notebook de Jean – Vamos supor que Jean saia da sala e deixe o seu notebook aberto e Thais esqueceu
de abrir o CP em seu celular e utiliza o notebook de Jean para acessar o código, sem a autorização do mesmo.
Ela lê o artigo que gostaria no momento e coloca o notebook no mesmo lugar, sem que Jean perceba que
ele foi retirado do lugar.

Ex.: Art. 311-A – Esse exemplo entrou em sala quando um colega questionou se, por exemplo um aluno
acessasse o computador de Thais para pegar a prova. Por sermos alunos de uma Universidade Federal, Thais
entende que essa situação em específico se enquadraria no tipo desse artigo.

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou


de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550.
de 2011)

I - concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

II - avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

Diferença em relação ao crime do art. 168 CP: ao invés de falar no verbo subtrair, do art. 155, o crime de
apropriação indébita vai usar o verbo apropriar-se. Qual a diferença entre subtrair e apropriar-se? O sujeito,
no 168, já tem a posse dos bens e o que ocorre é a inversão do animus da posse. O que isso significa? Um
indivíduo tem a posse a um título e começa a usar a coisa como se dono fosse.

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa

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COISA MÓVEL: o que é coisa móvel para o direito penal? É aquilo que pode ser deslocado de uma localidade
para outra. Por que a discussão do conceito ganhou algum tipo de relevo? Iniciaram a pratica de um crime,
em várias capitais, que alguns caixas rápidos eram dinamitados na base e arrancava o caixa rápido e levava
embora.

Semoventes? A bancada ruralista com a questão dos semoventes, se encaixa nesse conceito de furto? Para
ser muito especifico, o legislador trouxe o §6º no art. 155.

§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente


domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330/2016)

É, portanto, uma qualificadora dentro do crime de furto. Nova pena mínima e máxima. A bancada ruralista
fez isso com um motivo muito específico. Aqueles assentamentos sem-terra que chega numa fazenda fazem
o que? Matar um boi, dividi-lo no local, justamente configurando o §6º.

Observações que justificam, teoricamente, o §6º:

 Todo crime que a pena mínima é menor ou igual a 1 ano, tem direito ao benefício da suspensão
condicional do processo. Cabe isso para o furto de semovente? NÃO.

Obs.: Furto famélico: corre quando alguém furta para saciar uma necessidade urgente e relevante.

 No furto simples, temos um crime sem violência, sem grave ameaça, com pena menor ou igual a 4
anos. O que é que cabe? Pena restritiva de direitos. No furto de semoventes a pena máxima é 5 anos.
O regime semi-aberto continua, mas não aplica-se mais a pena restritiva de direitos.

FURTO DURANTE O REPOUSO NOTURNO (§1º):

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso


noturno.

O que é repouso noturno? Para ser repouso noturno, primeiro o furto tem que ser praticado no período
compreendido como noite. E quando é esse período? Esse conceito é variável a depender da localidade, não
existe um marco inicial. Noite é o período de ausência de luz solar. É necessário também uma menor
vigilância exercida sobre os bens, além de ser noite.

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Ex.: Levar uma garrafa de whisky do Caminho de Casa em horário movimentado – nessa situação em
específico não configuraria o §1º.

 Um sujeito chega em uma casa durante a noite para subtrair um bem e não há na casa algum
morador. Está, portanto, excluída a causa de aumento de pena? Não tem nada a ver o fato estar ou
não habitada, para interferir na causa de aumento de pena.
 Um sujeito trabalha durante o dia e estuda para concurso durante a madrugada. O sujeito não está
repousando, está a todo vapor quando o meliante chega. Continua a ter a causa de aumento de
pena? Pouco importa se a vítima está repousando ou não, estamos falando sim do parágrafo
primeiro.

CONSUMAÇÃO: A teoria “concretacio” fala que com o simples toque no bem alheio se consumaria o fato. A
teoria “amotio”, que foi a adotada pelo STJ/STF, diz que o furto é consumado com a mera inversão da posse
do bem, sendo desnecessária a posse mansa e pacífica por parte do agente ativo, entendimento da súmula
582/STJ.

Furto privilegiado ou mínimo (§2º): se o réu é primário e o objeto do furto é de pequeno valor o magistrado
pode aplicar a pena de detenção, diminuída de um a dois terços. Primariedade para fins de caracterização
do furto privilegiado é a circunstância de nunca ter sido condenado em sentença condenatória irrecorrível
ou, se tiver sido, que já se tenha passados cinco anos desde o cumprimento da pena ou da extinção da
punibilidade. A doutrina e a jurisprudência entendem que o pequeno valor é igual a um salário mínimo. Se
o objeto tiver valor insignificante a tipicidade material restará excluída desqualificando o tipo. A recuperação
da coisa subtraída não descaracteriza o furto. Pequeno valor não se confunde com pequeno prejuízo. Esse
pequeno valor é aferido no momento da subtração. É plenamente possível a figura do crime qualificado
privilegiado sendo que o STJ ressalva a hipótese do abuso de confiança segundo o enunciado 511.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode


substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.

Enunciado 511: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155


do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente,
o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”.

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Cláusula de equiparação (§3º): Energia elétrica e qualquer outra energia economicamente utilizável se
enquadra no § 3º. O STJ já admitiu a extinção da punibilidade caso o agente promova o reestabelecimento
do status quo antes da denúncia (HC 252.802/SE). No caso de furto de tv a cabo o STF no HC 97.261/RS
afirmou a atipicidade de sinal de tv à cabo pela impossibilidade na analogia em mala partem, uma vez que o
sinal de tv à cabo não é energia. Atenção para não confundir o furto de energia elétrica (gato/ligação
clandestina na fonte de outrem) com estelionato, que ocorre quando há a adulteração do medidor de
energia para se pagar a menor.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico

Furto qualificado (§§ 4º e 5º): São furtos que são qualificados pois a lesividade é maior pelos modos de
execução. A pena dobra nesses casos.

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo


automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

Analise do §4º:

I – A primeira qualificadora é o furto por destruição ou rompimento de obstáculo que dificulta


a subtração da coisa desejada pelo agente. A simples remoção de telhas de uma casa sem danifica-las não
faz incidir a qualificadora. Destruir parte da própria coisa não faz incidir a qualificadora. Por exemplo,
quebrar vidro de carro para subtrair o veículo, por outro lado quebrar o vidro para roubar o aparelho de som
do carro faz incidir a qualificadora (HC 20.5967/SP).

A violência empregada para romper obstáculo deve ser empreendida antes da consumação do
furto sob pena de o agente responder por furto simples ou com outra qualificadora mais dano. A ligação
direta do veículo tem sido considerada pela jurisprudência para fazer incidir essa qualificadora.

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Com relação a incidência ao princípio da insignificância temos decisões em ambos os sentidos,


tanto entendendo a possibilidade da aplicação quanto decisões afirmando a total inaplicabilidade da
hipótese.

II – O inciso segundo traz a hipótese do abuso de confiança que para incidir é necessário que
exista um especial vínculo de lealdade entre o agente e a vítima, a doutrina fala que não basta que exista
mera hospitalidade nem relação de emprego. Não confunda o furto com o abuso de confiança em que se
consegue contato com a coisa em razão da confiança e em que se tem dolo desde o início com a apropriação
indébita em que se tema posse da coisa sendo o dolo posterior a essa posse. A segunda hipótese do inciso
segundo traz a qualificadora da fraude, que é qualquer meio enganoso utilizado para iludir a vigilância da
vítima. Não confundir o furto mediante fraude, em que a vontade de alterar a posse é unilateral (apenas do
agente), com o estelionato em que a vontade de alterar a posse é bilateral, em razão do erro em que se
encontra a vítima. A terceira hipótese é a escalada que é qualquer meio incomum utilizado para ingressar
no local do crime, não necessariamente pular o muro. A quarta hipótese é a destreza que se caracteriza pela
excepcional habilidade de subtrair a coisa alheia que jaz junto ao corpo da vítima de modo que a mesma não
perceba a subtração.

III – O inciso três traz a hipóteses da chave falsa que é todo instrumento, com ou sem formato
de chave, destinado a abrir fechaduras.

IV – O inciso IV traz a hipótese do concurso de pessoas que pode se dar mediante autoria ou
participação, comissiva ou omissiva (no caso do comparsa inimputável não desqualifica a qualificadora).
Bitencourt, entretanto, não admite a qualificadora nos casos de autoria mediata. O STJ admite a punição por
associação criminosa somada a qualificadora do concurso de pessoas no furto qualificado não considerando
bis in idem. É inadmissível a aplicação da majorante do roubo no caso do furto em concurso de pessoas
(Súmula 442 STJ + decisões do STF).

Dentro do crime de furto temos a pena do CAPUT de 1 a 4 anos e o §4º é uma


qualificadora que traz uma pena de 2 a 8 anos. Nesse inciso, temos o concurso de duas ou mais pessoas. A
mesma situação aparece no crime de roubo, no art. 157, só que aqui a pena de 4 a 10 anos, o concurso de
pessoas não é uma qualificadora, n 4º a pena é aumentada de 1/3 a ½. A jurisprudência entende que se o
furto duplica a pena por conta de concurso de pessoas, fica desproporcional em relação ao crime de roubo.
TJ-RS, um furto com concurso de pessoas, passou a desconsidera a qualificadora e a usar o aumento de pena

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do roubo. Então, o furto com concurso de pessoas, segundo o TJ/RS, usa a pena do caput, com a majorante
descrita no roubo.

OBS: É possível que o juiz cri essa tecia legis em favor do réu? Não pode porque o juiz não tem função de
legislador. Foi editada a sumula 442 do STJ para derrubar essa jurisprudência do TJ/RS.

Súmula 442: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de


agentes, a majorante do roubo.

Analise do §5º: O § traz a hipótese de furto de veículo automotor e tem uma pena de três a oito anos, se a
subtração for de veículo automotor que vai ser transportado para outro estado ou para o exterior. O sujeito
que transporta o veículo automotor sem ter participado do furto responde apenas por favorecimento real
ou facilitação.

Se o agente é detido antes de chegar em outro estado responde por furto


simples. Caso o carro seja levado para o DF parte da doutrina entende que este ente federativo está implícito,
o STJ, entretanto, julgando um caso de dano entendeu não está implícito o DF. E, por fim, caso incida essa
qualificadora havendo outras qualificadoras (§ 4º) essas serão levadas em consideração nas circunstancias
judiciais

A gente tem no §4º as qualificadoras que tiravam a pena e 1 a 4 e jogavam a


pena de 2 a 8 e no §5º temos outra qualificadora que faz a pena de 3 a 8 anos. É o furto de veículo automotor,
que é transportado para outro estado ou para o exterior. O que é que justifica essa qualificadora? Tem a ver
com as policias, que não são integradas para a persecução penal, dificultando essa persecução.

Pode ser que o sujeito esteja em curso entre as duas qualificadoras? Um cara
faz uma ligação direta e faz um carro para o outro estado (destreza e levada do carro para outro estado). Se
o sujeito estiver em curso em mais de uma qualificadora, uma delas qualifica e o restante nas outras fases
da dosimetria da pena (agravante ou circunstância judiciaria).

ART. 157 – ROUBO


NUCLEO DO TIPO: temos o mesmo núcleo do tipo de furto, que é o verbo subtrair.

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

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Consumação: a discussão dos tribunais superiores, decidem sempre de forma diferente, as duas
jurisprudências que se alternam são a que se faz necessário a posse pacifica da coisa para se falar em
consumação e a segunda jurisprudência, que hoje é abordada, e a teoria da amotio. Hoje, os tribunais
decidem que o mero arrebatamento da coisa, mesmo sem posse pacifica, já consuma os delitos de furto e
roubo.

Se o crime tem o mesmo núcleo de furto, o que diferencia ele do roubo? Porque a pena é tão mais gravosa?

Obs.: Tem uma situação que o STF – furto em loja de departamento. Uma parte da jurisprudência vai dizer
que é crime impossível, porque ou tem câmera de segurança, segurança ou baia magnetizada e diz que em
algum momento o indivíduo será interceptado. Fica a discussão se seria um crime impossível ou tentado. A
última que saiu disse que seria um crime impossível.

Formas de praticar o crime: para diferenciar o roubo do furto.

 Primeira forma: através da violência (vis absoluta) – vai envolver o aspecto físico
 Segunda forma: grave ameaça (vis compulsiva) – vai envolver o aspecto psicológico, moral.
 Terceira forma: reduzindo à impossibilidade de resistência da vítima (violência imprópria)

Ex.: Carol conhece uma pessoa numa festa e a convida para ir a sua residência. Acorda no outro dia toda
enjoada e quando percebe tudo foi levado, vítima do golpe do boa noite cinderela. É um crime de roubo! O
sujeito impossibilita a defesa da vítima através de outros mecanismos, como a combinação de drogas que
dopou Carol.

ROUBO IMPROPRIO: acontece quando o sujeito primeiro pratica a subtração e, para garantir a subtração,
ele tem de usar da violência ou da grave ameaça. Corre na mesma pena do caput.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega


violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro

Consumação: vai consumar quando ocorrer a violência ou a grave ameaça.

Tentativa? No roubo próprio é possível a tentativa. E no improprio? Não tem como haver tentativa, porque
já existiu o roubo.

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CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (§2º)

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:

I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece


tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado


para outro Estado ou para o exterior;

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

I – Roubo com emprego de arma: essa arma é só a arma propriamente dita ou outros objetos
que podem ser usados como arma? A maioria da doutrina e jurisprudência entende que vai envolver tanto
as armas próprias (revolver, pistola) quanto as armas improprias.

 Arma de brinquedo: entra como aumento de pena para o roubo? Tínhamos uma súmula, 174 STJ,
que dizia que sim. Ela hoje está cancelada. Hoje, como é a situação? Gera a grave ameaça do caput,
mas não enseja o aumento de pena do §2º.
 A simulação da arma: não gera o aumento de pena. Vai gerar a grave ameaça do caput, mas não
enseja o aumento de pena do §2º.
 Uma arma impropria para o tiro, pericialmente inapta para o tiro, enseja esse aumento de pena?
Para a Jurisprudência dominante ela não tem potencialidade lesiva, segue o mesmo raciocínio,
gerando a grave ameaça do caput.
 Arma desmuniciada: é a única que vai gerar o aumento de pena do §2º. A jurisprudência vai dizer
que o fato de estar sem munição é algo circunstancial, mas ela tem potencialidade lesiva.

II – Concurso de duas ou mais pessoas: lembrar da discussão feita sobre a jurisprudência que
estava aplicando esse aumento de pena para o furto. A sumula 442 diz que não pode ser aplicada (#TJRS)

III – Vítima em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância: essa
majorante foi criada especificamente para os assaltos a carro forte, mas existem outras formas de
transportar valores que não seja assim.

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Ex.: Thais vai fazer uma viagem internacional e leva 10k para uma casa de câmbio e um sujeito rouba esse
valor dela. Entra nessa causa de aumento? NÃO.

Esse valor em transporte tem de ser, necessariamente, de terceiro, se for valores próprios não será
essa majorante. Esses valores não precisam, necessariamente ser dinheiro, qualquer valor entra aqui. Ex.:
Gasolina, produtos químicos, etc.

IV – Subtração de veículo automotor, levado a outro Estado ou ao exterior: no furto, entra como
uma qualificadora. Aqui, vai ser uma majorante.

V – Roubo com privação de liberdade da vítima: isso é sequestro relâmpago? Não. Sequestro
relâmpago é outro tipo penal, art. 158, §3º (copiar artigo). Aqui a privação de liberdade da vítima é a
condição para conseguir a vontade econômica. O que seria então, a majorante? Imagine um ladrão que
entra numa casa, que tem 6 pessoas, e tranca todos na dispensa para poder roubar a casa. A privação de
liberdade é um facilitador para que o roubo ocorra.

ROUBO QUALIFICADO (§3º)

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete


a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
anos, sem prejuízo da multa.

Latrocínio: é o roubo que resulta em morte. É considerado crime hediondo (Lei. 8.072/90).

QUESTÃO DE PROVA: temos uma subtração + morte = Latrocínio.

SUBTRAÇÃO MORTE LATROCINIO


Consumado Consumado Consumado
Tentado Tentado Tentado
Consumado Tentado Tentado
Tentado Consumado CONSUMADO

Súmula 610, STF: há crime de latrocínio, ou seja, consumado, se o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração dos bens da vítima.

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Onde é julgado? Em júri popular? Não, é o juiz singular que tem competência. O questionamento que fica é
qual é o bem jurídico que se sobrepõe para o STF, já que para saber se houve ou não consumação do
latrocínio temos que observar se houve a consumação da morte? Incongruência entre as súmulas 610 e 608,
do STF.

Art. 158 – Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos
de réis.

ELEMENTOS DO TIPO: o núcleo do crime é obter uma vantagem indevida, pressupõe a existência da fraude
como modus operandi para praticar o crime. E como vai se dar essa fraude? Existem duas formas. Ou o
sujeito induz a vítima em erro (cria a fraude para que a vítima se engane) ou o sujeito vai manter a vítima
em erro (a vítima se engana sozinha).

Ex.: Caso da concessionária – Uma mulher chega numa concessionaria, na área em que ficam os carros
seminovos e aborda um rapaz, que está ali à paisana questionando o valor de determinado carro. Esse
indivíduo, percebendo que a mulher em questão está em erro quanto a sua função, aproveita-se do
momento para obter uma vantagem e “vende” o carro para mulher, recebendo um cheque com um
determinado valor.

 Muitas vezes a vítima também está em situação de torpeza: exemplo de abadás no carnaval, que são
vendidos em sites com valores mais baratos e, algumas vezes, é um golpe sendo aplicado no
consumidor.

O fato de um sujeito criar uma página falsa e, na hora de pagar, a vítima percebe que há algo de errado e
não paga. Estamos, aqui, diante de um crime tentado, já que o estelionato é um crime material.

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Emprego de cheque (§2º, VI):

§2º, VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.

O grande problema desses cheques são os cheques pré-datados. A devolução do cheque pré-datado,
configura o crime de estelionato por meio de cheque? Como a princípio ele era um pagamento a vista, para
se dizer que há estelionato tem que se provar que, na hora da emissão do cheque existia o dolo para frustrar
o pagamento. Como assim? Dar um cheque de uma conta encerrada ou uma conta negativada há anos.

Súmula 554, STF: vai discutir a questão do pagamento desse cheque, porque, na verdade, a vítima quer que
o pagamento seja feito. Se o cheque for compensado, continua ou não a ação penal? Não vai obstar o
prosseguimento da ação penal. Entretanto, vai gerar uma atenuante no CP. Agora, se o pagamento for antes
do recebimento da denúncia? Para o STF, vai extinguir a punibilidade.

Aumento de pena (§3º): traz um aumento de pena de 1/3, quando o estelionato é realizado contra entidades
de direito público. Esse § serve basicamente para o que se conhece como estelionato previdenciário.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (Art. 159)

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide
Lei nº 10.446, de 2002)

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)

Elemento subjetivo: especifico, ou dolo especifico. Por que isso? Porque além de descrever a privação de
liberdade da vítima, vamos ter, também, a finalidade do recebimento do resgate. O que é importante
lembrar desse tipo penal? Esse crime é um dos poucos do CP que vai trazer a dupla sujeição passiva. Por que

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isso? Vamos ter, necessariamente, duas vítimas (a que foi vítima da privação de liberdade e a que foi vítima
do crime patrimonial).

O crime está consumado no momento em eu existe a privação de liberdade da vítima, ainda que o
sequestrador não receba o valor do resgate.

Distinção com outros tipos penais:

 Art. 148 – sequestro e cárcere privado. É diferente porque aqui, não tem uma finalidade econômica.
Temos a privação de liberdade da pessoa para tolher o direito de ir e vir, mas sem interesse
patrimonial. É um crime contra a liberdade individual. Em regra, tem pena de 1 a 3 anos. Ex.: Caso
Eloá

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere


privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002)

Pena - reclusão, de um a três anos.

 Art. 158 – Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar de fazer alguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Qualificadoras: maiores penas do código penal. As duas situações, necessariamente, são situações de preter
dolo. Por que? Se o sequestrador descobrir que não vai receber o resgate e mata a vítima, por exemplo, o
crime não é o do §3º, vai concorrer com o homicídio.

Essa lesão grave ou morte tem que vir por força do cativeiro. Ex.: Pegou alguma doença e morreu.

§2º - resulta em lesão grave ou gravíssima: 16 a 24 anos

§3º - resulta em morte: 24 a 30 anos – maior pena do ordenamento jurídico.

OBS.: Esse artigo 159, foi um dos primeiros tipos penais do ordenamento a trazer a situação da delação
premiada, em seu §4º. Em que consiste a delação? O sujeito deve confessar a prática criminosa, depois deve
apontar os demais codelinquentes, favorecendo a liberação do sequestrado. O que ele ganha em troca? Uma
diminuição de pena de 1/3 a 2/3. Se algumas das situações não forem atendidas, não vai ser desconsidera a
delação premiada, aplica-se proporcionalmente a dosimetria da pena.
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RECEPTAÇÃO – Art. 180

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou


alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426,
de 1996)

Condutas criminosas: teremos vários núcleos do tipo. Quais são esses núcleos? Adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar. Além disso, ainda temos, dentro desse tipo penal, a mediação criminosa –
influir para que terceiro, de boa-fé, A/R/T/C/O.

Detalhe: “coisa que saber ser produto de crime” – e se ficar na dúvida? Cabe essa conduta do caput? Não.
Ela é uma conduta unicamente dolosa.

Ex.: Caminhoneiro contratado para levar uma carga que ele não sabe o que é. Não se pode dizer que ele
comete receptação, porque ele não sabe. Tecnicamente, ele está em erro de tipo.

Tem de ser crime patrimonial ou qualquer crime? Qualquer crime. DVD pirata é receptação? Sim.

Receptação culposa: e quando desconfia? Tenta ignorar? Existe a receptação culposa, §3º, com pena de 1
m a 1 ano. Ela é culposa porque pode desconfiar que é produto de crime por conta, primeiro, da
desproporção entre valor e preço. Um iPhone que custa 3k, comprado por R$ 300,00. A segunda é pela
natureza da coisa que está sendo oferecida, a exemplo de um colar de diamantes sendo vendido numa feira
hippie. A terceira, é a condição de quem oferece (completa estigmatização do direito penal). Na receptação
culposa, §5º, cabem todos os benefícios do furto mínimo (mudar a pena de reclusão para detenção, aplicar
pena de multa ou diminuição de pena de 1/3 a 2/3).

Obs.: expor os produtos à venda, tem pena de 3 a 8 anos, mesmo que seja informal.

Obs2.: O crime, aqui é contra o patrimônio, mas de quem? Da mesma pessoa que foi vítima do crime
anterior. Quem comete o crime antecedente, não responde por receptação.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

NOÇÕES GERAIS: os crimes contra administração pública são todos crimes próprios, porque exigem uma
condição especial do sujeito ativo. O sujeito ativo deve ser funcionário público. Não é tão somente um crime
próprio, é um crime funcional. Logo, todos os crimes contra a administração pública têm como subjetividade
passiva primaria a administração publica. Há, também, o sujeito passivo secundário, que é o particular (pode
acontecer ou não, por sofrer as consequências)

O CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA PARA O CÓDIGO PENAL: É um conceito lato, amplo, que engloba
não apenas o poder executivo, envolve bem como o poder legislativo, judiciário ou até empresas privadas
que prestem serviços públicos.

EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA: Os crimes contra a administração pública, por força do art. 7, I,


c está submetido a extraterritorialidade incondicionada. Onde quer que tenha ocorrido o crime contra a
administração pública, será julgado no Brasil. Ainda que esse crime seja julgado no exterior, pode vir a ser
julgado no Brasil também.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de


Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

ESPÉCIES:

a. Funcionais próprios: se retirada a qualidade do sujeito ativo de funcionário público, o crime


desaparece. Torna-se um indiferente penal, podendo ter ainda uma relevância administrativa e cível.
Também chamados de crimes funcionais puros ou propriamente ditos. Ex.: Prevaricação

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b. Funcionais impróprios: são aqueles que, a qualidade de funcionário público é apenas um adendo.
Retirando a qualidade de funcionário público do sujeito, será enquadrada em outro tipo penal
(desclassificação). Também chamados de impuros ou impropriamente ditos. Ex.: Peculato

PECULATO - art. 312

ESPÉCIES:

a. Apropriação: art 312, caput, 1 parte


b. Desvio: art 312, caput, 2 parte
c. Furto: art 312, paragf 1
d. Culposo: art 312, paragf 2
e. Mediante erro de outrem: art 313
f. Eletrônico: art 313-A e 313-B

PECULATO PRÓPRIO: previsto no caput do art 312. Todos os benefícios do Juizado (Lei. 9.099) são afastados
por ter uma pena máxima de 12 anos.

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Sujeitos do crime: quem é o sujeito ativo do crime? O funcionário público é o sujeito ativo primário, já que
condição de ser funcionário público é exigência do código penal. E se esse funcionário estiver aposentado?
Se o indivíduo se apropriou do bem, em razão da função que exercia, ele continua praticando o crime de
peculato. E se o funcionário público, valendo de suas facilidades permitidas pelo cargo, apropria-se do bem
público e entrega a um particular que passa a esconder esse bem? O que acontece? O particular vai cometer
o crime de peculato na modalidade de apropriação ou apropriação indébita?

O art. 30, CP vai responder essa pergunta. A qualidade de funcionário público é uma
circunstância de caráter pessoal? Sim. É uma elementar do delito? Sim. E condição que sendo excluída da

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narração típica deixa de ser um delito e passa a ser outro. Logo, no caso do particular, vai comunicar e, por
isso, o partícipe cometerá também o crime de peculato. Se o particular não souber da qualidade de
funcionário público, apesar do funcionário responder pelo peculato, responderá pela apropriação indébita
ou receptação a depender da narrativa fática.

Obs.: Extraneus, o particular que pratica o crime em coautoria com o funcionário público e que tenha ciência
dessa condição. Intraneus, funcionário público que pratica o delito funcional. Pode o particular responder
por peculato independentemente da presença simultânea de um funcionário público? Não.

Sujeito passivo: será primariamente a administração pública, mas pode ser o particular. Um policial
apreende na casa de uma pessoa computadores e dinheiro e, nesse caminho entre a casa da pessoa e a
delegacia alguns bens foram apropriados indebitamente no meio do caminho. Eram bens particulares que
estavam em posse do policial, mas ainda assim será crime de peculato.

Conduta:

a. Peculato Apropriação: posse legitima do bem em razão do cargo. Não é por ocasião do cargo. É
necessário um determinado animus do agente, o animus rem sibi habendi, que é a intenção de apropriar-se
da coisa como sua, não transitoriamente. Para que o delito de peculato seja consumado, tem de praticar um
ato que demonstre claramente o animus de inverter a posse e tratar a coisa como sua, não mais como mera
posse. A exemplo da venda de um bem público que um funcionário tem a posse em razão do cargo. Essa
posse não pode ser confundida com a mera detenção do bem, se faz necessária a posse legitima do bem.
b. Peculato Desvio: precisamos diferenciar o crime de peculato desvio, do crime previsto no ar. 315,
que fala traz na sua redação em “dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei”.
Esse crime é do gestor que tira o dinheiro da educação e bota na saúde e afins dentro do âmbito público. É
o crime do gestor que dá uma destinação alheia. No crime de peculato desvio a destinação das verbas/bem
é privado. Qual o dolo do agente? O animus é no sentido de desviar a coisa da destinação original

Voluntariedade: peculato de uso, a pessoa pega o bem e usa com a intenção de devolver para a
administração pública. A natureza da coisa vai ser importante porque, se o objeto for consumível (exaure a
substancia do bem após o uso) haverá crime.

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Consumação e tentativa:

a. Peculato Apropriação: quando o agente pratica um ato de disposição da coisa, com a intenção de
inverter o animus da posse. Ele trata a coisa como se fosse sua e não mais de propriedade da administração
pública.
b. Peculato Desvio: trata-se de crime material ou formal? É um crime formal, não é necessário o lucro
do agente, é necessária apenas a intenção no momento da pratica de conduta do desvio.

Obs.: É um crime plurissubsistente. Admite, portanto, a tentativa. A execução do delito pode ser
tranquilamente fracionada.

PECULATO IMPRÓPRIO (Peculato furto): o funcionário público não tem a posse legitima do bem, mas ele,
valendo-se da facilidade que a função pública lhe proporciona subtrai aquele bem. Por exemplo, o crime do
funcionário que espera o colega de repartição sair e entra na sala para furtar o notebook dele. A diferença
conceitual básica é essa, relativa à modalidade de apropriação. Depende da natureza do bem, se é fungível
ou não.

Precisa do animus furandi e do animus rem sibi habendi. Funciona da mesma forma que o furto, aplica-se a
teoria da amotio. Só precisa inverter a posse, sem a necessidade da posse mansa e pacifica do bem.

PECULATO CULPOSO: o funcionário tem que agir com negligencia, imperícia ou imprudência, promovendo
uma facilidade para que outra pessoa subtraia ou se aproprie do bem. Ele facilita o crime de outrem, sem
querer. Vai infringir um dever funcional de cuidado, permitindo que aquele bem fique desvigiado e vem um
terceiro e cometa um peculato

Há uma polemica doutrinaria que diz que o agente tem que facilitar a prática
de um crime de peculato ou de furto comum? Qual a diferença no desvalor da ação se essa conduta facilitou
o crime de peculato ou de furto? A doutrina diz que o tipo é bastante claro, o crime de outrem a que se
refere só pode ser o crime de peculato. Mas outra parte da doutrina entende que pode ser o crime de furto
comum.

Tem que haver um nexo de causalidade entre a conduta consectária e a conduta antecedente, a qual
proporcionou a pratica da conduta seguinte. Não há a possibilidade de tentativa e, pela pena ser muito baixa,
vai caber a aplicação tanto da transação penal quanto da suspensão condicional do processo (Lei. 9.099).

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Reparação do dano: §3º o agente que promover a reparação do dano, vai ter extinta a sua punibilidade.
APENAS para o peculato culposo.

PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM: o desvalor da conduta é diminuído. Nos outros tipos, a ideia nasce
do funcionário público. Aqui, não. O funcionário publico recebeu o dinheiro, ou qualquer outra utilidade, por
erro de outrem. O dolo do funcionário é superveniente ao recebimento do bem.

OBS.: Art 169 – não confundir! É crime contra patrimônio.

Se o erro foi causado pelo funcionário, não vai ser peculato nem de um nem de
outro. A conduta vai ser aquela prevista no art. 171 (estelionato). O dolo dessa conduta é superveniente.

PECULATO ELETRÔNICO: a lei 9.983/00, inseriu no 313 esse tipo de peculato. São delitos que envolvem
modificações dedados, no âmbito da administração pública. Existem dois tipos de sistemática de dados na
administração. Uma coisa é o sistema de dados, que pode ser o PJE, E-PROC, PROJUDI, E-SAJ, WINDOWS.
Outra coisa são os próprios dados do sistema. O 313-A e B se distinguem em função desses conceitos.

313-A: são quatro condutas. Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados verdadeiros. Perceba, não é qualquer funcionário público, mas o funcionário
autorizado. O sujeito tem que tirar vantagem do seu privilégio de acesso aos dados é mais que o dolo normal,
é especifico ( causar dano ou tirar vantagem ilícita para si ou para outrem) é crime formal. A vantagem não
precisa se dar para a consumação, a mera pratica já consuma. Há previsão de conduta eleitoral parecida,
dolo de alterar a contagem de votos, qualquer alteração do resultado ( 5 a 10 anos)

313-B: modificar ou alterar, sem autorização ou solicitação de autoridade competente, sistema


de informações ou programa de informática, qualquer funcionário. Mudança de sistema que impossibilita o
uso ou serviço, como no exemplo do Siac e as notas. P.u: aumento de pena, se da modificação resulta dano
ou prejuízo.

ESPÉCIES DE CRIMES CONTRA ADM PUBLICA:


1. Funcionários públicos
2. Particular
3. Particular contra adm estrangeira
4. Adm justiça
5. Finanças publicas
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CONCUSSÃO – art. 316

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Aqui o verbo é exigir e esse crime aparece na prova fazendo confusão com o crime de corrupção
passiva, que o verbo é solicitar. A conduta da concussão é exigir para si ou para outrem, não necessariamente
a exigência será em benefício do funcionário público, pode ser de terceiro (não é um crime patrimonial),
direta ou indiretamente porque essa exigência poderá vir por uma interposta pessoa.

Ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela. O funcionário público não
precisa estar no exercício da função, mas em razão dela para promover alguma vantagem pessoal. O código
fala em vantagem indevida, logo qualquer natureza de vantagem cabe no art. 316.

E a questão de cometer o crime antes de assumir a função? Nomeou e não tomou posse, ou não assumiu a
função. Comete crime da mesma forma.

Ex.: Amigo de Thais, PF. Fabio roque (segundo Thais, com sua beleza peculiar inerente a ele) paquerando,
apresentando carteira de juiz para cinema grátis.

CORRUPÇÃO PASSIVA – art. 317

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela


Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem


ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício
ou o pratica infringindo dever funcional.

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§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,


com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Na primeira parte do caput teremos três condutas: solicitar, receber e aceitar promessa de
vantagem indevida. Todas as considerações da concussão vão entrar aqui.

Ex. Fabio Roque receber uma vantagem na qualidade de juiz.

E se o funcionário público, por conta da vantagem indevida, deixar de realizar um ato? O ato
posterior vai aparecer no § 1º, que é a corrupção exaurida. O funcionário público deixa de praticar seus atos
de oficio, pratica infringido a lei ou retarda seus atos de oficio em função da vantagem. Teremos um aumento
de pena de 1/3.

Ex.: Thais parada em blitz com a carteira vencida, oferece 50 reais ao funcionário público e ele a libera. Mas
ainda assim, ele anota a placa de Thais e multa o carro dela (CAPUT).

Ex.: Cliente de Thais, mandado expedido (paragf 1)

CORRUPÇÃO ATIVA – art. 333


Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela


Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da


vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o
pratica infringindo dever funcional.

São dois verbos apenas. Temos o verbo oferecer e o verbo prometer vantagem indevida para o funcionário
público (qualquer uma) para determina-lo a: deixar de praticar, retardar ou praticar infringindo a lei. Aqui,
nesse tipo, o particular tem que oferecer ou prometer a vantagem indevida.

Ex.: Thais parou numa blitz e a carteira dela está vencida. O policial solicita o valor de R$100,00 para libera-
la. Se Thais pagar, ela comete algum crime? Não. Ela é vítima do crime de corrupção passiva.

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Imagine que um oficial de justiça tenha feito alguma proeza no processo de Thais.
Depois do ato já realizado ela pede pra ele passar no escritório, para receber uma recompensa. Para o oficial
só dele ir ao escritório, já é crime. Para Thais? Não é crime por motivo de a oferta/promessa tem de vir antes.
O prêmio pago posteriormente, para o particular, não é nada.

OBS IMPORTANTE: no § 2º, temos a corrupção privilegiada. Dentro desse parágrafo, o funcionário não ganha
nenhuma vantagem. O que ele faz é que ele deixa de praticar seus atos de oficio, retarda seus atos de oficio
ou pratica infringindo a lei porque está atendendo a um pedido ou influência de um terceiro. A pena é de 3
meses a 1 ano.

Ex.: Filipe está conduzindo um automóvel sem portar a CNH, ao ser parado numa blitz, fala com o agente
que mora no prédio ali na frente e pede “na moral” para ele liberá-lo para buscar a sua CNH.

PREVARICAÇÃO – art. 319

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Vai trazer os mesmos elementos da corrupção privilegiada. Aqui o funcionário público faz isso
para atender a interesse ou sentimento pessoal.

Ex.: Thais está dirigindo após ingerir bebidas alcoólicas e é parada numa blitz da “Lei Seca”. Entretanto, por
ser professora do curso de formação de policiais e agentes, é reconhecida por um ex aluno que a libera por
ela ser uma “pró” muito legal.

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