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PENAL IV – UFBA

Dos crimes contra a vida (primeira parte “Dos crimes contra a pessoa”)

1. Bem jurídico:

1.1. Início e fim da vida

O conceito de vida tutelado pelo Direito Penal será tanto a extrauterina quanto a expectativa de vida, a intrauterina.

Quando percebemos esse conceito surge a dúvida de a partir de qual momento se inicia e termina a tutela pelo DP, ou
seja, a partir de que momento se fala em começo e fim da vida?

Na doutrina médica existe vários conceitos de início e fim da vida, e o DP pinçou uma dessas teorias. Sobre o início da
vida, a doutrina clássica diz que ela se dá com a nidação, que é quando o ovo fecundado se fixa na parede uterina.

Esse conceito já começou a ser revisitado no DP, por conta do marco eleito para definir o fim da vida, em que se toma
como base a Lei 9.434/97, A Lei de Transplantes. Para essa lei, se definiu que o fim da vida se dá com a morte
encefálica, ou seja, se atrela o final da tutela penal à uma morte encefálica, à presença do encéfalo.

Então, qual o sentido de não se olhar para o início da vida através do encéfalo, também? Por isso, há uma doutrina
que diz que o início da vida não pode ser olhada pela nidação, onde não há nenhuma formação encefálica. Por isso,
esse grupo diz que a tutela penal só poderia se iniciar a partir da 12ª semana de gestação, que é o marco para a
formação encefálica. No mesmo sentido, o STF permite o aborto de anencéfalos (ADPF 54), seguindo a ideia de
centralizar o encéfalo.

Legislação comparada: em diversos países em que o aborto é permitido, ele se dá até a 12ª semana, no mesmo
sentido das novas teorias penais.

2. Competência constitucional

Competência para o julgamento desses casos: no art. 5º, XXXVIII da CF há o reconhecimento de uma competência
constitucional para julgar os crimes dolosos contra a vida, sendo ela do Tribunal do Júri. O processo do Júri não é só a
plenária, mas é bifásico, antecedido por uma fase sumariante, que é igual a um processo singular (testemunhas, juiz,
etc.) – nessa fase que se analisa se há fato típico, antijurídico e culpável, para enviar ao Júri, que é um Plenário com 7
jurados, e aqui se inicia a competência constitucional – pela existência da fase anterior, com presença do contraditório
e ampla defesa na fase sumariante, que muitos advogados levam ao Júri recortes dessa fase.

Sejam eles consumados ou tentados, os crimes dolosos contra a vida também vão à Júri – os jurados dão ao juiz as
circunstâncias e é este quem dosa a pena, reconhecendo, por exemplo, uma diminuição de 1 a 2/3.

Pegadinha: assertiva indicando que os crimes contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri é FALSA! Deve ser crime
doloso contra a vida.

3. Código Penal

Dolosos ou culposos, são 4 crimes contra a vida: art. 121 (homicídio), art. 122 (induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio), art. 123 (infanticídio), arts. 124 a 128 (aborto – todas as disposições, inclusive as que o permitem).

De todos esses, apenas o homicídio possui forma culposa (competência do juízo singular)! Ou seja, só temos que nos
preocupar com a competência do julgamento com o homicídio, pois os outros são sempre dolosos, sempre indo para
o Tribunal do Júri.
Art. 121 – Homicídio

1. Topografia do artigo:

Tivemos alteração nesse tipo penal em 2018 – cuidado com livros e Código!

No caput, encontramos o homicídio simples. No par. 1º, temos o homicídio “privilegiado”, que inclui o praticado com
relevante valor moral (discussão sobre a Eutanásia).

No par. 2º temos o homicídio qualificado (duas qualificadoras novas, trazidas em 2015: feminicídio [par. 2º, a – traz
conceitos sobre o feminicídio] e morte de agentes policiais).

No par. 3º temos o homicídio culposo.

No par. 4º temos causas de aumento de pena para o homicídio culposo e outras para o doloso, devendo ser analisado
repartido ao meio.

No par. 5º, que era onde terminava o homicídio originalmente, traz a hipótese do perdão judicial.

Par. 6º traz causas de aumento de pena referentes ao homicídio praticado por milícia privada ou grupo de extermínio.

Par. 7º traz causas de aumento de pena para o feminicídio.

2. Homicídio simples:

Formado pelo preceito primário, que é a descrição da conduta, como sendo “matar alguém”, e um preceito
secundário, que é a pena de reclusão de 6 a 20 anos. A partir do caput que temos os tipos penais derivados, ex.
“matar alguém por motivo torpe” = qualificadora.

2.1. Classificação doutrinária:

Elemento subjetivo do tipo: apesar de não estar escrito, se pressupõe que os tipos penais são dolosos, portanto, o
homicídio do caput é doloso, comportando o dolo direto e o eventual (assumir o risco de produzir o resultado – roleta
russa).

Com relação ao sujeito ativo, em regra, é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O mesmo se
aplica ao sujeito passivo. Fala-se em via de regra porque existem situações de feminicídio, cuja vítima só pode ser
mulher, ou na morte de agentes policiais, etc.

Ainda sobre os sujeitos do crime, falamos que ele é unissubjetivo, ou seja, em regra, pode ser praticado por um único
agente, portanto, nada impedindo que haja um concurso eventual de pessoas. **Plurissubjetivos o concurso é
obrigatório.

Com relação ao resultado, é um crime material, que deixa vestígios, de resultado naturalístico. Por ser um crime
material, é preciso exame de corpo delito para comprová-lo. Além de ser material, é um crime instantâneo, ainda
quanto ao resultado, pois, após a fase de execução (iter criminis), advém imediatamente um resultado; ou seja,
termina de deflagrar 3 tiros contra alguém, sendo que imediatamente advirá um resultado, sendo consumado ou
tentado.

É um crime plurissubsistente, ou seja, seu iter criminis é fracionável, por isso se admite tentativa no homicídio.

2.2. Correlação com a Parte Geral:


Erro de tipo essencial: exemplo do caçador que atira em uma pessoa achando ser um bicho (erro no elemento
“alguém” do art. 121) – nesse erro (art. 20, caput), o sujeito erra sobre um dos elementos que compõem o tipo penal.
O Código nos dá a solução/consequência: afasta o dolo, permitindo a punição pela forma culposa.

Erro de tipo provocado por terceiros (art. 20, par. 2º): exemplo de alguém trocar uma bala de festim por uma normal,
e verdadeiramente um sujeito matar o outro. O CP diz que responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

Tentativa inidônea ou crime impossível (art. 17) por absoluta impropriedade do objeto: exemplo do sujeito que atira
em outro, para matar, mas esse outro já estava morto. O CP diz que o sujeito não responderá por crime algum, por
ineficácia absoluta do bem.

**Também não pode responder por vilipêndio a cadáver, pois não sabia que era um cadáver! No máximo um porte
ilegal de arma.

3. Homicídio “privilegiado”:

Elencado no parágrafo 1º do artigo, onde temos uma redução de pena, de 1/6 a 1/3 em três situações.

3.1. Natureza jurídica:

Tecnicamente não há privilégio! O parágrafo primeiro representa uma causa de diminuição de pena, se utilizando do
mesmo patamar do tipo/forma simples, de 6 a 20 anos.

**Em que fase da dosimetria entram essas causas de diminuição de pena? Na terceira! Nessa fase não é preciso
respeitar os limites da pena cominada, ou seja, a pena pode ser conduzida aquém do mínimo legal, podendo ser
menos do que 6 anos – aquém por ser causa de diminuição; se fosse de aumento, poderia ser além do máximo legal.

3.2. Causas em espécie (o que gera essa redução de pena):

a. Homicídio praticado com RELEVANTE VALOR SOCIAL: deve ser uma motivação importante para toda uma
coletividade, para um grupo de pessoas. Ex. a morte de um ditador.

b. Homicídio praticado com RELEVANTE VALOR MORAL: deve ser um motivo relevante individualmente, para o agente
que pratique o crime. Ex. um pai que, no meio de uma audiência, houve o relato do réu sobre o estupro de sua filha e
ele, munido de uma faca, tenta mata-lo.

c. Homicídio praticado sob o DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, logo em seguida, INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA:
ou seja, antes da violenta emoção deve existir um ato injusto da vítima.

3.3. Natureza das circunstâncias:

São de cunho objetivou ou subjetivo/pessoal? O que interfere na comunicabilidade dos codeliquentes, em concurso
de agentes.

Elas possuem natureza SUBJETIVA, pessoal, ou seja, não se comunicam! Lembrar do art. 30 do CP, que diz que não se
comunicam as circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

Ex. pai e advogado matam estuprador da filha/cliente – o pai é acobertado pelo relevante valor moral, mas o
advogado não.

3.4. Eutanásia
É uma das situações do homicídio praticado com relevante valor moral. Vem do latim “boa morte”, mas nem todas as
espécies que a doutrina divide tem esse significado.

No DP brasileiro representa homicídio/auxílio ao suicídio, e o médico, como garantidor, tem sua omissão como
penalmente relevante a efeito de sanções. Trata do bem jurídico VIDA, que não pode ser relativizado ou disposto, pelo
menos não no Brasil, por nenhum tipo de manifestação de vontade, sendo, em seu máximo e literalidade, tutelado
pelo Direito brasileiro.

 Espécies:

a. Distanásia: é o mesmo que “obstinação terapêutica”, ou seja, é a realização de uma série de


procedimentos que visam prolongar o estado de morte (não a vida!). Esses procedimentos são todos inúteis e
ineficazes, pelo estado de morte já estar instalado, sendo um quadro irreversível, sendo apenas instrumentos para
DIStanciar o momento da morte.

b. Mistanásia: “mys” significa pobreza, sujeira. Esta é a morte de pessoas pela precarização da saúde, sendo
um fenômeno típico de países periféricos, com uma baixa qualidade na saúde. Falta de estruturas, aparelhos,
profissionais, etc.

c. Ortotanásia: “morte no tempo certo”. Significa não se utilizar de tratamentos e procedimentos que visem
apenas prolongar um estado de morte, e deixar que a vida/morte curse o plano natural. Em alguns países ela já está
regulamentava através do chamado testamento vital, também chamado de diretriz antecipada de vontades, sendo um
acordo feito entre uma equipe médica e um paciente – antecipadamente a uma doença, e por escrito –, para que este
último, sobre a orientação médica, defina quais tratamentos ele deseja e os que não deseja submeter.

Resolução CFM 1-995 autorizando os médicos a realizarem a ortotanásia – devem dar alta hospitalar e manter apenas
os remédios/cuidados paliativos. Essa resolução, do Conselho Federal, não tem repercussão na esfera penal, ainda –
ou seja, no Brasil ainda não existe essa regulamentação, tampouco sobre o testamento vital.

d. Suicídio assistido: no Brasil ele não é tipificado como homicídio, mas entra no art. 122, especificamente
como o auxílio ao suicídio. Nos países em que é permitido, ele é realizado através de uma equipe multidisciplinar, pois
o primeiro passo para que ele ocorra é a formação de vontade do indivíduo, daí a necessidade de uma equipe
biopsicossocial. Após a formação dessa vontade, é fornecido pela equipe médica um coquetel de medicamentos a fim
de que a morte seja supostamente indolor. Ocorre, inclusive, em situações em que os sujeitos não estão em estágios
terminais.

 Testamento vital

4. Homicídio qualificado:

Temos uma pena no caput do homicídio de 6 a 20 anos – no par. 2º temos uma nova pena cominada, de 12 a 30 anos.
Portanto, o homicídio qualificado é uma nova pena cominada, maior do que o caput, sendo um novo mínimo e um
novo máximo – o juiz não olha o caput, já se direciona ao par. 2º.

Só é preciso a presença de uma única qualificadora – torpe, asfixia, emboscada, feminicídio, etc. – para retirar a pena
de 6 a 20 e jogar para 12 a 30.

E se não tiver no rol das agravantes, sendo elas taxativas? Deve-se voltar ao art. 59, que traz o termo genérico
“circunstâncias/motivos do crime”.

Primeiro usa como qualificadora, parte do tipo penal. Segundo, vai para o rol das agravantes. Terceiro, usa como
circunstância judicial (primeira fase – vai voltando nas etapas da dosimetria) presente no art. 59.
4.1. Presença de mais de uma qualificadora:

Na presença de mais de uma qualificadora, no homicídio qualificado, apenas uma funciona efetivamente como tal,
mudando a pena para a do par. 2º.

“Homicídio triplamente qualificado” = apenas uma é qualificadora, sendo as outras ou agravantes ou circunstâncias
judiciais.

As outras não usadas funcionarão apenas na segunda fase como agravantes.

4.2. Hediondez:

Lei 8.072/90, de Crimes Hediondos – o homicídio está previsto nessa lei, como hediondo, em duas situações,
presentes no art. 1º, I:

 Homicídio simples: quando praticado por atividade típica de grupo de extermínio.


 Homicídio qualificado: em todas as suas modalidades, em todas as suas qualificadoras, incisos, será sempre hediondo.

O critério de hediondez é unicamente legal, ou seja, os será simplesmente quando a lei o disser.

**Crimes equiparados a hediondos: 3T = tráfico, terrorismo e tortura.

Exemplo: homicídio qualificado e privilegiado ao mesmo tempo; par. 1º + par. 2º; pai que mata estuprador da filha
mediante tortura; os motivos são relevantes (valores morais, sociais) e as qualificadoras são objetivas (fogo, tortura,
asfixia, etc. – tem algumas qualificadoras subjetivas, mas são poucas). Portanto será qualificado de 12 a 30, diminuído,
na terceira fase, de 1/6 a 1/3.

4.3. Homicídio qualificado-privilegiado?

4.3.1. Hediondez?

No exemplo anterior, quando envolve motivos relevantes, mantém a hediondez? Pois o crime não só é qualificado,
mas possuem os motivos relevantes.

Os Tribunais Superiores seguem a linha de que os relevantes valores romperão/quebrarão a hediondez do crime. O
critério de crime hediondo é legal, não o que a sociedade pensa ser inaceitável – aqui há uma quebra desse critério
legal pela jurisprudência que, no futuro, pode mudar.

4.4. Análise das qualificadoras

 Revisão de conceitos
 Análise do par. 2º:

I – Homicídio praticado mediante paga, promessa de recompensa ou outro motivo torpe:

Paga ou promessa de recompensa: chamado de crime mercenário ou crime praticado por cupidez, que é o interesse
financeiro. Existe uma discussão na doutrina a respeito dessa paga ou promessa de recompensa: é circunstância de
natureza subjetiva ou objetiva? Se dissermos que é subjetiva, ou seja, tem caráter pessoal, será aplicável –
qualificando a pena – apenas para o executor, não se comunicando para o mandante (art. 30 do CP). Por outro lado,
se for entendida sua natureza objetiva, que se relaciona com o modus operandi do crime, ela atingirá tanto o executor
quanto o mandante, se comunicando para todos os codelinquentes. A jurisprudência majoritária acompanha a
segunda ideia.

Motivo torpe: a motivação torpe tem natureza subjetiva, não se comunicando aos codelinquentes. Essa qualificadora
significa motivo vil, motivo egoístico. Muita gente atrela o motivo torpe a dinheiro, por estar no mesmo inciso que a
paga ou promessa de recompensa, entretanto, ele não se restringe a dinheiro, podendo sê-lo ou não – ex. sujeito que
mata concorrente para ocupar seu lugar, sem nenhum dinheiro envolvido. Lembrar que motivação é completamente
diferente de modus operandi – ex. não importa se o comportamento foi cruel, tem que haver um elemento
psicológico/subjetivo por trás.

II – Motivo fútil:

É o motivo desproporcional, insignificante, que demonstra um desvalor em relação à vida humana. Ex. briga no ônibus
por janela aberta/fechada = um sujeito mata o outro. Pode-se ter dúvida quando ao mesmo motivo ser fútil ou torpe,
mas é uma coisa ou outra, a evitar o bis in idem, pois não se pode colocar, para a mesma circunstância, duas
qualificadoras.

Cuidado com os próximos (III e IV): legislador trouxe, nos dois incisos, um rol exemplificativo e, no final, admite um rol
aberto, uma amplificação do rol para além do que está aqui, sem ser exaustivo.

III – Emprego de veneno; fogo; explosivo; asfixia; tortura; ou outro meio insidioso ou cruel ou que possa resultar em
perigo comum:

Veneno: o veneno deve ser utilizado de maneira oculta, sem que a vítima saiba que o está ingerindo. Bittencourt dá o
seguinte exemplo: vítima que é coagida a beber veneno ou morrer por arma de fogo – aqui o veneno não entra como
qualificadora, pelo veneno dever ser meio insidioso, oculto, em que a vítima desconheça sua presença. Veneno
também pode ser uma substância nociva para a vítima, mesmo aparentemente não sendo tóxica, a exemplo de
alergias alimentares. Cuidado: essas qualificadoras estão dentro do homicídio doloso, ou seja, deve-se ter o
conhecimento da alergia do sujeito, empregando o uso da substância com a intenção de matar (animus necandi).

Fogo e explosivo: para que funcionem como qualificadoras devem ser utilizadas como modus operandi para matar, do
contrário, podem caracterizar um outro tipo penal. Ex. sujeito coloca a vítima dentro de pneus, dá dois tiros na vítima
e, para que não a reconheçam, taca fogo – aqui não se fala de homicídio com emprego de fogo, e sim homicídio +
ocultação de cadáver (outro tipo penal). O explosivo pode ser fabricado, o que o qualifica como tal é o sujeito usá-lo
sabendo que causa uma combustão.

Asfixia: ela pode aparecer nas provas em diversos formatos, podendo se falar de asfixia manual (boca, pescoço,
travesseiro), tóxica (câmaras de gás) e mecânica (utilizar de algum instrumento que impeça o movimento de expansão
pulmonar – ex. enterrar sujeito vivo, morte por soterramento, crucificação das pessoas – posição com braços abertos
dificulta o movimento dos pulmões).

Tortura: cuidado para não confundir o crime de tortura (lei especial, 9.455/97) com o homicídio mediante tortura – o
que muda de um para o outro é o dolo, a intenção do agente, sendo que no segundo caso, existe animus necandi (a
tortura serve para prolongar o sofrimento da vítima, mas sua morte é um fato, sendo este o objetivo), já no crime de
tortura o objetivo não é matar (a lei de tortura traz várias condutas, sendo o dolo específico – ex. tortura prova, em
que o sujeito quer obter algum tipo de informação, mas não matar – ex. tortura maus-tratos, em que alguém maltrata
crianças e idosos, mas também sem o objetivo de matar).

Outro meio insidioso ou cruel ou que possa resultar em perigo comum: com esse fechamento, percebe-se que, na
verdade, os anteriores são apenas exemplos de meios insidiosos (veneno é exemplo claro – meio insidioso é a
sabotagem, é algo escamoteado, é quando a vítima não sabe que está sendo alvo de um crime – ex. alguém corta
freios do carro de outrem – ex. deixar gás da casa de um fumante aberto), cruéis, ou que resultam em perigo comum.
Perigo comum, ex. atirar em pessoa num estádio de futebol lotado.

IV – Traição; emboscada; mediante dissimulação; ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido (todos aqui visam derrubar as defesas da vítima para ataca-la):
Traição: a doutrina separa esse conceito em dois formatos = uma traição de natureza física (ex. atacar alguém pelas
costas), e traição de natureza moral (pressupõe relação entre autor e vítima; ex. alguém quer tomar lugar do outro e
se passa por seu amigo para se aproximar e mata-lo).

Emboscada: ou tocaia. Ligação com o elemento surpresa, em que a vítima é surpreendida com um ataque inesperado.

Dissimulação: o agente esconde sua verdadeira intenção. Ex. alguém se aproxima de outro no shopping pedindo
informação e, quando a pessoa se distrai, a mata. Diferentemente da traição de natureza moral, aqui não há nenhuma
relação estreita entre os envolvidos.

Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: ex. matar alguém que está dormindo.

V – (para garantir a) Execução; impunidade; ocultação; vantagem de outro crime.

Nesse inciso teremos o homicídio sempre conexo ou relacionado com outro crime; chamado, em processo penal, de
conexão. Além disso, quando o homicídio está ligado a esses outros crimes, o júri vai julgar todos, por haver essa
conexão, que reforça sua competência julgadora constitucional.

Execução:

Impunidade: ex. sujeito que mata juiz para garantir a impunidade dos seus atos de corrupção passiva.

Ocultação: ex. sujeito estupra vítima, que o desmascara e acaba morta, pois o agressor visa garantir a ocultação do
crime anterior.

Vantagem de outro crime: ex. sujeito furta, foge e alguém o vislumbra – ele vai e mata o sujeito, para acobertar o
roubo.

Antes de começar outro inciso, aparece um título, dentro do homicídio, não sendo crime autônomo: FEMINICÍDIO.
Que apareceu na nossa legislação com a lei 13.104/15.

VI – Morte de mulher, em razão da condição do sexo feminino:

Na América latina, dois termos apareceram para tratar da morte de mulheres: feminicídio e femicídio. O segundo
termo indica a morte de uma mulher, indo nosso Código Penal além, qualificando que, além de ser um SUJEITO
PASSIVO PRÓPRIO (vítima ser mulher), haver um PRECONCEITO EM RELAÇÃO A MULHER (morrer em razão desse
preconceito contra a condição do sexo feminino), sendo isto o feminicídio.

ATENÇÃO: A morte da mulher, simplesmente, não passou a ser punida de forma mais gravosa em 2015, e sim, além de
ser morte de mulher, ela ter sido morta em razão da condição do sexo feminino, sendo a motivação a existência de
um preconceito contra ela.

FEMINICÍDIO:

Recorte de gênero em razão a uma violência específica contra a mulher – se o legislador não fizesse o recorte
do preconceito, seria, inclusive, inconstitucional se colocar um agravante/causa de aumento pela simples morte de
um sujeito do gênero feminino.

Origem na lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha, que simboliza a questão da violência contra a mulher no Brasil.
Maria ficou 19 anos aguardando que seu companheiro, à época, fosse levado ao tribunal do Júri – 2006 foi o ano em
que houve tal Júri. Essa lei não traz tipos penal, sendo um único: descumprimento das medidas protetivas. Esta é uma
lei de procedimentos, não de tipos penais, trazendo os mesmos, inclusive, do Código Penal: homicídio, lesão corporal,
injúria, etc.
1.1. Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:

Essa lei tem um ponto importante, que é a definição das formas de violência doméstica. O art. 7º define
diversas formas:

 Violência de natureza MORAL: consiste em crimes contra a honra, sendo a injúria, calúnia e difamação – diminuição da
autoestima da mulher, inclusive, através de crimes contra a honra, o que destaca a abusividade desses
relacionamentos.

 Violência PSICOLÓGICA: atrela-se aos crimes de ameaça (art. 147) e constrangimento ilegal (art. 146). Como não é
uma lei que traz tipos penais, essa modalidade de violência pode ser muito mais ampla, inclusive, que o abarcado
pelos próprios tipos do CP, ex. do marido que encara a mulher no trabalho, não sendo, tipificadamente uma ameaça;
ex. 2. falar mais alto para silenciar a vítima, ou ordenar que ela se cale. Ambos os exemplos não são tipos penais, mas
podem ensejar uma medida protetiva, tendo esta uma natureza híbrida (não tem natureza penal – para se recorrer
dela, por exemplo, se interpõe agravo, que é cível).

 Violência patrimonial: pode-se atrelar à apropriação indébita – controlar os gastos da mulher mesmo que ela tenha
renda/patrimônio. Uma conta conjunta, por exemplo, em que um dos companheiros se apropria dos valores
pertencentes, inclusive, ao cônjuge.

 Violência sexual: é também uma situação que se enquadra com crimes contra a dignidade sexual, se correlacionando
com estupro, importunação ao pudor, relação sexual mediante fraude – ex. manipular a mulher para que ela aceite
algumas práticas sexuais que ela não deseja, não sendo este um exemplo tipificado, mas que caracteriza um formato
de violência.

 Violência física: formato tipificado evidente, bem como ressaltam a abusividade do relacionamento – fala-se em
materialização da violência – delitos de lesão corporal, feminicídio.

Fala-se também num ciclo da violência no relacionamento, composto por fases: fase da lua de mel; fase da tensão;
fase da explosão (quando a violência física se manifesta).

1.2. CPMI da violência (2002/2012):

Essa comissão foi feita para destacar o motivo pelo qual se deveria criar o tipo penal do feminicídio, inclusive,
porque muitos alegavam que já se poderia qualificar o crime como motivo torpe/egoístico.

Segundo a professora, o Direito Penal deveria se atualizar, deveria especificar o objeto ao qual precisa tutelar.
Ressalta-se também que, com a criação da Lei Maria, das delegacias especializadas, o que mudou não foi o aumento
do índice de crimes, e sim as cifras ocultas que começaram a diminuir.

O relatório final da CPMI diz que “importa considerar ainda, no tocante ao feminicídio, a existência de
recomendações internacionais para sua tipificação”. Vários autores também falaram da legislação simbólica, como
fundamentação.

1.3. Conceitos legais

Houve uma mudança na lei: alteraram a expressão “gênero feminino”, que atrela o aspecto social, de como o sujeito
se identifica, independentemente do biológico, para “sexo feminino”, sendo uma alteração impulsionada pela
bancada evangélica. O legislador optou por não entrar nessa discussão, trazendo apenas o sexo feminino.

“Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino” – alguns juízes consideram apenas o “contra a mulher”,
para acobertar pessoas vulneráveis socialmente que se identificam como mulheres, a exemplo das travestis.
O parágrafo 2º-A do art. 121 do CP traz o que são razões de condição de sexo feminino, estendendo, por exemplo, a
violência doméstica e familiar relações entre pai e filha, irmão e irmã, filho e mãe.

Par. 2º-A. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e
familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

1.3.1. Natureza das circunstâncias

Há uma discussão doutrinária sobre a natureza dos incisos anteriores, se são objetivos ou subjetivos/pessoais, o que
interfere diretamente no codelinquente, ex. de um sujeito que chama o vizinho para matar a esposa.

Se entender-se que o inciso tem natureza objetiva, esse vizinho responde – todos os participantes na infração, autor
ou partícipe, responde com a qualificadora; se entender que é subjetiva, é pessoal e não se estende ao vizinho –
subjetivos não se comunicam, não se estendendo aos codelinquentes. Existe também uma corrente medial que
acredita que o inciso I tem natureza objetiva, e o II tem natureza pessoal (segundo essa corrente, o II inciso se
relaciona mais com os motivos, por isso teria natureza pessoal).

1.4. Causas de aumento de pena (lei 13.771/2018) – específicas do feminicídio:

O parágrafo 7º traz causas de aumento de pena, inclusive com alterações feitas em 2018!

Par. 7º. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 a metade se o crime for praticado:

I – durante a gestação ou no período puerperal (3 meses posteriores ao parto) = o sujeito precisa saber que a mulher
está gestante e/ou nesse período pós-parto, pois estamos falando de homicídio doloso!

II – contra menos de 14 anos, maios de 60, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;

III – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;

IV – em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da lei n.
11.340/2006.

Reflexões:

Crimes “passionais” e a antiga tese da legítima defesa da honra (nunca existiu no nosso ordenamento – usada por
advogados frente aos Tribunais do Júri).

Amoladores de faca como um texto muito usado em aulas de ética, pela tese anteriormente citada ter sido criada por
advogados.

Hoje essa tese é disfarçada em argumentos diluídos, a fim de macular, por exemplo, a honra, dignidade e imagem da
vítima.

Lei 13.142/15 o inseriu no CP, e ele faz remissão expressa a dois artigos da CF, referindo-se à morte dos agentes
descritos nos arts. 142 e 144 da Carta Magna – esses artigos descrevem as polícias existentes no Brasil (civil, militar,
rodoviária, rodoviária federal...). No par. 8º do 142 fala-se da Guarda Municipal, que se enquadra sim no inciso abaixo,
também fazendo parte do rol de vítimas desse inciso.

Esses agentes precisam estar no exercício da função para serem vítimas dessa qualificadora? NÃO, além de estarem
no exercício, basta ser morto em razão das suas funções.
VII – Agentes policiais descritos no art. 142 e 144 da CF; agentes do sistema prisional; agentes da Força Nacional de
Segurança; morte praticada contra cônjuges ou companheirxs desses agentes ou parentes consanguíneos até 3º grau
(em linha reta não conta grau, englobando filhos, netos, bisnetos, pai, avô, tataravô... Em linhas colaterais que se
conta: englobando tios, irmãos e sobrinhos, sendo estes últimos os de terceiro grau. Primos não entram, por serem
parentes de 4º grau).

Ex. um policial à paisana, num roubo a ônibus pegam sua carteira e veem que é policial – por terem visto, o matam.

5. Homicídio culposo

5.1. Perdão judicial:

Presente no par. 5º, que traz uma causa de extinção da punibilidade, ou seja, o crime não deixa de existir,
enquanto fato típico, antijurídico e culpável, o que não vai existir é o efeito da aplicação* da pena. Esse parágrafo traz
o perdão judicial, sempre aparecendo no Código com o mesmo formato “o juiz, pode deixar de aplicar a pena...” +
circunstância que justifica a extinção de punibilidade. O “pode”, se o sujeito cumpre os requisitos, se transforma em
“deve”, sendo direito subjetivo.

O perdão judicial no homicídio só existe para o culposo, quando as consequências do crime são tão drásticas
para o agente que a sanção penal se torna desnecessária. Ex. pai que esquece o filho dentro do carro e este morre
asfixiado. Ex. pai que joga o bebê para cima, este cai e morre. Ex. caso de Cristiane Torloni.

6. Causas de aumento de pena – gerais:

Par. 4º: ele traz alguns aumentos de pena, de 1/3, quando o homicídio é culposo. O mesmo parágrafo traz também
um aumento de pena de 1/3 quando for doloso.

Se for homicídio doloso (o agente precisa conhecer a idade das vítimas!), são apenas duas causas de aumento de
pena: vítima menor de 14 anos ou vítima maior de 60. Causa de aumento de pena, 3ª fase da dosimetria, portanto,
não precisa respeitar a pena cominada, ex. homicídio simples com pena de 6 a 20, com esse aumento a pena pode
ficar mais do que 20.

Se for homicídio culposo:

 Inobservância de regra técnica inerente à arte, ofício ou profissão (este conceito é dado pela doutrina majoritária, pois
a minoritária elenca esse aumento como imperícia – para a majoritária, esse aumento se justifica quando o sujeito
tem a técnica para a prática do ato, mas deixa de utilizá-la no caso concreto, ele é perito, mas deixa escapar a regra
técnica – ex. cirurgião plástico de grande referência que é negligente e deixa o fato acontecer);

 Quando o sujeito não presta imediato socorro à vítima (ex. sujeito está limpando uma arma carregada, de forma
imprudente, ela dispara e acerta alguém – o aumento de pena se justifica se ele não prestar esse socorro – e se
houver morte imediata da vítima? Segue a segunda parte) OU não tenta minorar as consequências do seu crime
(responde à última pergunta, ex. se a vítima morre de imediato, mas o sujeito entra em contato com as autoridades –
deve-se considerar que o imediato socorro às vezes não PODE ser prestado, a exemplo de ameaças de linchamento);

 Foge para evitar a prisão em flagrante (esse aumento é discutido na doutrina, pois alguns autores dizem que não foi
recepcionado pela CF/88 – CP é anterior –, pois esta veda a necessidade da autoincriminação, e, às vezes, permanecer
no local do crime é produzir prova contra si).

Par. 6º: inserido no CP em 2012 (Lei 12.720), ele traz um aumento de pena de 1/3 a ½ se o crime de homicídio for
praticado por milícia privada, a pretexto de exercício de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Não se
deve, aqui, pensar na situação da polícia regular, pois pode ser legítima defesa própria ou de terceiro, e sim de grupos
ilegais, que atuam à margem dessa legalidade.
Por sua vez, o art. 288-A traz o crime de constituição de polícia privada, que é um crime contra a paz pública, de mera
conduta. O crime de homicídio deve ter resultado naturalístico, não sendo de mera conduta, pois este último deve ser
a simples constituição, organização ou simples fato de se integrar um grupo paramilitar, formado com o intuito de
praticar crimes, sempre com a imagem fictícia de prestar um serviço de segurança.

Se o sujeito se enquadra no art. 288-A (integra milícia privada) e comete um homicídio com aumento de pena do par.
6º, ele responde pelos dois. Art. 288-A c/c art. 121, par. 6º – sendo que o primeiro tutela a paz pública e o segundo o
bem jurídico vida. A doutrina fala do bis in idem.

Art. 122 – Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio

1. O suicida:

Qual o motivo dos verbos do 122 não é verbo de partícipe (já que participe é justamente aquele que induz ou
instiga), e sim de autoria, sendo os verbos principais/núcleos do tipo?

Pois no Brasil, o cometimento de suicídio não é punível, tratando-se daquele que se autolesa (lei penal
brasileira não pune autolesão, a não ser que ela tenha uma intenção de fraude, a exemplo de seguradoras e
previdência).

Há casos em que o suicida não morre, mas é punido por porte ilegal de arma ou disparo em via pública.

2. Núcleos do tipo:

Induzir significa criar uma ideia, plantá-la, sendo esta ainda não existente.

Instigar significa reforçar uma ideia já existente. Ex. sujeito na iminência de se atirar de uma ponte, e alguns
indivíduos indicando que ele pule.

Auxílio é a instrumentalização ao suicídio, é fornecer meios à sua realização. Ex. emprestar dinheiro para o
sujeito comprar uma arma; fazer pesquisa na internet, com nome de venenos, e enviar ao sujeito; ensinar a fazer nó
de forca com cinto. O suicídio assistido, no Brasil, é uma forma de auxílio ao suicídio, no que tange à punibilidade.

3. Crime condicionado ao resultado:

O CP condicionou a punição daquele que induz, instiga ou auxilia ao resultado. Assim, a pena do art. 122, sendo
de 2 a 6 anos se o suicida morre; ou uma pena de 1 a 3 anos se da tentativa de suicídio a vítima sofre lesão grave.

Imagine-se que o sujeito dê à vítima a ideia do suicídio = induz; uma semana depois, encontra a vítima viva e a
instiga à morte; mais uma semana passa, e ele o entregue uma arma. Quando a vítima tenta se matar com um tiro, a
arma falha e o sujeito sofre apenas um arranhão. Como consequência, o sujeito que induziu/instigou/auxiliou NÃO
RESPONDE, pois o que ocorreu foi uma lesão leve, caracterizando uma figura atípica, pois o crime é condicionado aos
resultados.

4. Sujeitos do crime:

Esse é um crime comum (sujeito ativo comum), em que qualquer pessoa pode praticar, mas para alguém ser
vítima do art. 122, é necessário ter CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO, de saber que se, por exemplo, ela se atirar uma
ponte, vai morrer.

O que retira a capacidade de discernimento de alguém são doenças mentais graves e a questão da idade. Qual
é a idade para que se diga que o sujeito tem essa capacidade? Uma corrente adota a idade prevista no ECA, de que
para alguém vítima do 122 deva ter no mínimo 12 anos (adolescente). Outra corrente diz que se deve usar o próprio
CP, que diz que vulnerável é abaixo de 14 anos, ou seja, para alguém ser vítima do art. 122 deve ter 14 anos ou menos.

Além disso, a questão da idade faz com que o fato de um adulto indicar que uma criança pule da janela para
“voar” configure homicídio, não os crimes do art. 122.

5. Causas de aumento de pena:

Parágrafo único do art. 122 – diz que a pena se aplica no dobro, e traz dois incisos:

I – Quando o crime é praticado por motivo egoístico: ex. descobre-se que a avó fez uma apólice do seguro no nome do
sujeito, e este começa a induzi-la ao suicídio para receber o valor.

II –

 Vítima menor de 18 (lembrar que pode adotar os preceitos do ECA [menor de 18 e maior de 12 anos] ou do CP [menor
de 18 e maior de 14] – marcos temporais mínimos do discernimento);
 Se por qualquer motivo tem a sua capacidade de resistência diminuída – não é vítima incapaz de resistir, pois se assim
o for, será homicídio – aqui se enquadram os exemplos dos sujeitos em depressão, sobre o efeito de álcool ou sob
efeito de drogas ilícitas.

6. Pacto de suicídio:

Ou suicídio coletivo – ex. roleta russa: A, B, C e D resolvem praticar a brincadeira; eles atiram contra a própria cabeça;
D morre, e como os demais sujeitos respondem? Eles respondem? Imaginando todos eles com capacidade de
discernimento. Pelo simples fato de participar e aceitar o fato de que alguém pode se suicidar, todos os demais
entram na modalidade de INSTIGAÇÃO, ou seja, ao participar, se reforça nos demais a ideia suicida. Além de instigar,
alguém que providenciou a arma entraria também no AUXILIAR (não influencia na tipicidade, sendo o mesmo tipo, e
sim na dosimetria da pena).

Num outro exemplo, se dois sujeitos, cada um com uma arma, resolve brincar de roleta russa, mas um apontando o
revólver para o outro – se um dos sujeitos, de fato, vir a morrer, o outro que atirou nele responderá por homicídio,
segundo o art. 121 – se os dois ficarem vivos serão duas tentativas de homicídio (tentativa branca ou incruenta – seria
crime impossível se fossem duas armas inaptas)!

Art. 123 – Infanticídio

1. Bem jurídico:

Aqui ainda se fala em vida, e vida extrauterina. Entretanto, há uma passagem do art. 123 que causa dúvida.
Segue o tipo penal: “Matar, sobre a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”.

1.1. Diferença em relação ao aborto:

Vê-se que o Código considera como infanticídio uma prática ocorrida durante o parto. Como saber se está
diante de um aborto ou de um infanticídio? O que vai separar esses momentos?

Para a doutrina majoritária, para se falar em infanticídio, mesmo que durante o parto, é preciso a presença de
vida extrauterina, sendo esta indicada pelo corte do cordão umbilical, significando que o bebê já respira de forma
autônoma em relação do corpo da mãe – aqui se considera a respiração autônoma por parte do bebê, mesmo que
com o cordão preso, já se tendo vida extrauterina. Se houver dúvida em relação ao momento, se faz a perícia,
identificando se os pulmões inflaram ou não.

Doutrina minoritária diz que esse “durante o parto” pode ser em momento anterior à respiração pulmonar,
comprovando a vida através de batimentos cardíacos (não é requisito temporal seguro, pois batimentos o feto
também tem).

A professora diz que esse artigo não é nada mais que uma forma especial de matar alguém, sendo diferente,
inclusive, em relação à pena, sendo esta de detenção de 2 a 6 anos, infinitamente mais branda que o homicídio – o
legislador escolheu detenção, teoricamente, por ter como regimes iniciais apenas o semiaberto e o aberto, sendo os
mais brandos. Ele deu essa reprimenda por conta das elementares desse tipo, sendo mais brandas também que as do
homicídio.

2. Elementares do tipo

2.1. Sujeitos do crime:

Esse tipo é considerado na doutrina como bipróprio, por exigir qualidade especial do sujeito ativo e do passivo.
O sujeito ativo deve ser a mãe em estado puerperal, enquanto o passivo deve ser seu próprio filho.

Caso em que a mãe confunde o filho com o de outra, ou confunde o seu filho recém-nascido com o de 1 ano –
art. 20, par. 3º do CP = erro sobre a pessoa – a mãe responde como se tivesse logrado o êxito de matar o próprio filho,
praticando infanticídio – nessa situação se adota a Teoria da Ficção.

Mae entrega mamadeira com veneno para a enfermeira dar para seu filho – esta última, vê outro bebê
chorando muito e dá preferência a amamenta-lo – a mãe usa a enfermeira como instrumento, e o meio de execução
da mãe falou – art. 73 = aberratio ictus, erro na execução – a enfermeira não responde, mas a mãe responderia por
infanticídio.

2.2. Requisito temporal:

Trabalha-se com o crime praticado durante o parto (doutrina majoritária = já ter respiração pulmonar) ou logo
após.

O CP não definiu com precisão quando é que termina a situação do infanticídio, não havendo critério objetivo
para tal. Via de regra, o puerpério dura em torno de 120 dias, equivalendo, em média, a 4 meses – período de
recuperação do organismo após o parto – não é requisito absoluto, devendo estar inserido no contexto de outros
elementos do tipo, ou seja, a mulher pode estar no estado puerperal após 5 meses.

A professora diz que essa é a chave comprobatória da situação, a identificação da duração do estado puerperal.

2.3. Estado puerperal:

Não é um conceito jurídico, sendo traduzido assim para se caracterizar o tipo. É um conjunto de alterações
físicas e psíquicas que acometem algumas mulheres no período do pós-parto. Como não é um conceito jurídico, é
preciso uma perícia técnica para avaliar sua existência ou não.

Alguns autores tentam definir o motivo do seu surgimento, sendo três fatores que se atribuem ao seu
surgimento, um não excluindo os demais: o esforço físico que a mulher realiza durante o parto (aqui se excluiria a
possibilidade de uma mulher que pariu em cesárea de ter o estado puerperal – não pode ser, então, um fator, pelo
menos não visto sozinho); a brusca oscilação hormonal do corpo da mulher no pós-parto (mas toda mulher tem essa
oscilação, e nem toda está no estado puerperal); senso elevado de responsabilidade com o nascimento da criança (o
famoso “cair a ficha” – o único, dos três, que não é biológico – nesse sentido há relatos de homens que passaram por
mudanças psíquicas com o nascimento dos filhos).

Existe uma gradação: depressão pós-parto – estado puerperal – psicose puerperal. No primeiro caso, a mulher
é completamente imputável e responde por homicídio pelo CP. O segundo trouxe para essa mulher um tipo penal
específico, mais brando, em analogia a uma pessoa semi-imputável, em que há um transtorno que afeta seu
entendimento. No último caso a mulher e inimputável para o DP, e tem altos índices de irreversibilidade, em que
mulheres não recuperam a sanidade.

3. Revisar elementares do tipo:

Diferencial em relação ao homicídio justamente por suas elementares, que são obrigatórias em conjunto para se
configurar tal delito.

a. Sujeitos do crime: bipróprio

b. Tempo: praticado durante o parto ou logo após

c. Estado puerperal

4. Diferença em relação ao art. 134

Bem jurídico do 134 é a periclitação da vida e da saúde – perigo à vida e à saúde de outrem, como tipos penais não de
resultado, e sim de perigo.

Esse tipo penal diz que “Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria”. No pa. 2º tem-se o
resultado morte como qualificadora. Ex. uma mãe, logo após o parto, pega o bebê e o joga na lata do lixo, vindo ele a
falecer. É preciso avaliar as elementares do tipo para se saber qual tipo penal se vislumbra: estado puerperal, desonra
(esse especial fim de agir deve estar comprovado no caso concreto) ou, se nada disso estiver presente, será homicídio.

5. Concurso de agentes:

Exige do sujeito ativo qualidade especial = ser mãe e em estado puerperal. Mas imagine que a mãe atue junto a
terceiro – a mulher preenche os requisitos do infanticídio, não havendo dúvida de como irá responder = infanticídio.

Mas e o terceiro? Deve-se lembrar do art. 30 do CP, que trata das circunstâncias que se comunicam e das que não se
comunicam para os codelinquentes = não se comunicam as circunstâncias pessoais, salvo quando elementares do
tipo. Ou seja, no art. 123, todas as 3 elementares do tipo se comunicam ao terceiro – no caso do infanticídio esse
terceiro vai se beneficiar, visto que a pena é infinitamente mais branda que de um homicídio.

Os livros citam Nelson Hungria, que tinha uma opinião bem particular sobre o infanticídio, dizendo que esse terceiro
não poderia responder pelo art. 123 segundo as regras do art. 30, não sendo circunstâncias que se comunicam, por
não serem pessoais, e sim personalíssimas.

ABORTO

1. Bem jurídico:

1.1. Início da tutela penal


O que se tutela no delito de aborto? A vida intrauterina. O problema é a partir de quando o DP intervém,
passando realmente a tutelar essa vida intrauterina.

Corrente 1: diz que o início da vida, que coincidiria com o início da tutela penal, se daria a partir da fecundação.
Essa teoria não pode, no Brasil, ser a dominante, porque existem métodos contraceptivos que trabalham após esse
momento, a exemplo do DIU.

Corrente 2: é a maioria da doutrina, que acredita que o início da vida se dá com a nidação, que é a aderência do
ovo fecundado na parede uterina.

Como falar do início da vida sem tratar do final, que é estabelecido juridicamente pela Lei de Transplantes,
sendo dado com a morte encefálica, mesmo que algumas funções vitais continuem sendo exercidas. Nesse sentido,
como dizer que na nidação já há vida, sem nenhuma formação encefálica, sendo que esta começa a ocorrer a partir da
12ª semana de gestação.

Os países que permitem o aborto não o fazem de forma indistinta, limitando-o à 12ª semana de gestação.

ADPF do aborto do anencefálico e a ADPF 442, proposta pelo PSOL para que, até a 12ª semana, os tipos penais
que estão no CP (art. 124 ao 126) sejam reconhecidos como não recepcionados pela CF.

2. Espécies de aborto:

2.1. Aborto espontâneo ou natural: é a interrupção da gravidez de forma realizada pelo próprio organismo da
mulher, por alguma questão patológica – o organismo expulsa o feto de maneira natural ou espontânea. Este aborto
não é considerado criminoso.

2.2. Aborto acidental: é oriundo de traumas, choques, quedas, pancadas, e este aborto também não é
considerado criminoso.

2.3. Aborto doloso: existe uma interrupção voluntária e dolosa da gravidez – este é o considerado crime no
Brasil, compondo os tipos penais estudados.

2.4. Aborto permitido: este envolve as situações descritas no art. 128 do CP, sendo: aborto necessário, aborto
sentimental ou humanitário e o aborto do feto anencefálico (embora não previsto em lei, o art. 128 indica a consulta à
ADPF 54).

2.5. Aborto eugênico: é defendido em algumas situações de sérias deformações genéticas do feto, a exemplo
de algumas situações de microcefalia – está em discussão no STF, ainda não sendo pacífico.

3. Tipos penais:

Art. 124 ao 126: aqui estão os crimes de aborto.

Art. 127: aborto com resultado morte ou lesão grave para a gestante.

Art. 128: hipóteses do aborto legal.

3.1. Condutas criminosas:

Art. 124 – conduta praticada unicamente pela gestante – crime de mão própria, que só pode ser praticado por um
agente único e específico, não admitindo coautoria – admite a figura do partícipe, entretanto.

 Conduta 1: praticar aborto em si mesma (auto aborto)


 Conduta 2: consentir que um terceiro lho pratique
Mulher que pede dinheiro a terceiro para comprar remédio abortivo – se não disser que é para o auto aborto,
o sujeito incorre em erro de tipo e não responde por nada. A mulher incorre em auto aborto, mas o sujeito
responderá por auxílio (admitida a figura do partícipe) – alguém pode induzir, instigar ou auxiliar a mulher na
realização do auto aborto.

Mulher que consente que sua irmã raspe seu útero com uma colher – a mulher pratica a conduta 2, de
consentir – para essa irmã teremos a conduta criminosa do artigo 126, de praticá-lo com o consentimento da
gestante. Na situação do aborto não se aplica a teoria monista, pois o legislador escolheu elencar condutas e penas
distintas ao crime de aborto, ou seja, existem crimes diferentes, não um único.

Para o 124 a pena é de detenção (semiaberto e aberto) de 1 a 3 anos, e a do 126 é reclusão (aberto,
semiaberto e fechado) de 1 a 4 anos.

Art. 125 – no 124 e 126 existe uma comunhão de vontades entre a gestante e o terceiro, havendo aí um vínculo
subjetivo à realização do aborto. Entretanto, este não é o caso do art. 125, sendo este o mais grave dos crimes quando
se fala em aborto.

Conduta: aborto praticado por terceiro sem o consentimento da gestante – pena de 3 a 10 anos, por se
entender que aqui há uma dupla sujeição passiva: o feto (tutelando-se a vida intrauterina) e a liberdade reprodutiva
da mulher (necessidade da mulher se manter grávida, aqui não é liberdade reprodutiva quando há imposição de pena
quando se opta por abortar). Este dolo aqui não é o de lesionar a mulher e sim de abortar, mesmo que este dolo
resulte em lesão.

Art. 126 – crime comum, qualquer pessoa pode praticar. Conduta: terceiro que pratica o aborto com o consentimento
da gestante

*Quando o feto nasce com algum tipo de deformidade decorrente de uma tentativa de aborto, por exemplo, tomando
remédio, se comete o crime de tentativa de aborto, pois se considera o momento do crime no momento em que há o
dolo de abortar, que não ocorreu por circunstâncias alheias à sua vontade. Se o bebê nasce ileso, é mais difícil de
comprovar a tentativa, mas sim a cabe pelo fato de ser um crime material.

3.2. Sujeitos do crime

4. Consentimento inválido:

Situações em que existe o consentimento, mas este é inválido, o que faz com que o sujeito responda com as
penas do aborto sem consentimento.

O art. 126, par. único traz essas hipóteses:

 Quando a mulher grávida é menor de 14 anos – ela não tem capacidade para consentir com o aborto;
 Se a gestante apresenta problemas mentais que a impeçam de consentir;
 Se o consentimento é obtido mediante coação, sendo esta física ou psicológica;
 Se o consentimento é obtido mediante fraude – ex. médico diz que está fazendo uma ultrassonografia e está
realizando um aborto – aqui a mulher consente pela ultra, não pelo aborto.

5. Crime qualificado pelo resultado:


Não é uma qualificadora, e sim um agravamento qualificado pelo resultado, por força desse resultado – um
desses exemplos é o preterdolo.

Art. 127 – o sujeito tem o dolo de provocar o aborto, com ou sem o consentimento da gestante, mas provoca
um resultado além do esperado. Ex. mulher vai na casa de irmã dizendo que quer realizar um aborto – a irmã vê o
método da colher de raspagem do útero e se coloca a fazer – há uma perfuração do útero, e, socorrida às pressas, vê-
se a necessidade de se realizar uma histerectomia = resultado de lesão grave, que aumenta a pena da irmã que
realizou o aborto em 1/3 – gestante não sofre esse acréscimo para evitar que seja penalizada por lesão que ela mesma
sofreu.

Outro exemplo é o do aborto que provoca na gestante a sua morte – seguindo o exemplo anterior, a pena da
irmã, sendo o aborto com o sem o consentimento da gestante, é duplicada.

6. Aborto previsto em lei

Art. 128 do CP – originalmente tem dois incisos previstos, com um terceiro acrescentado pela ADPF 54.

I – aborto legal ou necessário: é aquele praticado por médico, quando não há outro meio de salvar a vida da
gestante. Se for possível a gestante consentir, seu consentimento deve ser perquerido, mas, seu consentimento não é
necessário dessas situações. Ex. gravidez tubária ou ectópica não pode ocorrer sob o risco de vida para a gestante –
nessas situações dá tempo de pedir o consentimento e explicar à gestante o estado clínico. Neste inciso não é
necessário a autorização judicial para sua realização. PRESCINDÍVEL CONSENTIMENTO OU AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.

II – aborto sentimental ou humanitário: é aquele realizado por médico/profissional de saúde (este último
apenas por uma questão de segurança da gestante), com o sentimento da gestante, quando a gravidez resulta de
estupro. Aqui, pelo fato de ser uma gravidez fruto de estupro, é preciso haver uma perícia oficial para este
comprovação (não autoria, mas minimamente que houve violência sexual), ou pode ser um outro exame clínico
realizado, por exemplo, por um médico de confiança – a doutrina tende à primeira situação – exigir da mulher a
primeira providência é praticamente inviabilizar a realização desse direito que é o aborto sentimental – aqui não se
fala em que qualquer exame clínico condene o homem pelo estupro, mas sim para que a mulher possa realizar o
aborto. IMPRESCINDÍVEL A AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.

ART. 129 – LESÕES CORPORAIS

1. Caput:

Traz as lesões leves – frisa-se que o consentimento do ofendido exclui a ilicitude apenas nas lesões leves, como
uma causa supralegal de exclusão.

Requisitos para tal exclusão:

 Bem jurídico disponível: apenas no que tange às lesões leves


 Capacidade: maior ou igual a 14
 Consentimento livre: não pode ser mediante fraude
 Consentimento prévio

As lesões graves estão definidas no parágrafo primeiro, e as gravíssimas no segundo. Lembrar que nas lesões
graves e gravíssimas o rol é taxativo.
2. Parágrafo primeiro:

Estabelece a pena de 1 a 5 anos, e este parágrafo tem natureza de qualificadora, sendo de médio potencial
ofensivo.

Frisa-se que todos os crimes com a pena menor ou igual a 1 ano tem a suspensão condicional do processo, ou
seja, o MP vai oferecer a denúncia, marcar uma audiência e o sujeito acusado aceita ou não as condições, assim, o
processo é suspenso e ele fica condicionado ao estabelecido e aceito. ???

Como lesão grave tem pena mínima cominada em 1 ano, é possível tal suspensão?

I. Tem como consequência uma incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias:

Ocupações habituais são aquelas que fazem parte da rotina da vítima, independentemente de serem
remuneradas ou não – como consequência, não precisa estar relacionada a atividade laborativa. Além disso, esses
dados são objetivos, os subjetivas inerentes à vítima, como a vergonha de aparecer na rua ou ir ao trabalho, não estão
incluídos.

Como prova os 30 dias: esse crime é chamado de crime a prazo, pois só se constata que essa lesão ocorreu
após os 30 dias, necessitando de laudo pericial complementar – se refaz a perícia que o lapso de 30 dias foi
ultrapassado e a pena continua sem realizar suas atividades habituais, pois a lesão persistia ????

Como contar esse prazo: 23/09/2019 – inclui o próprio dia 23, então os 30 dias culminariam em 22/10/2019.

II. Perigo de vida:

Tem que ser necessariamente preterdoloso, ou seja, existe a intenção/dolo de lesionar, e culposamente exite o
perigo de vida. Aqui fala-se em “animus laedendi”.

O risco aqui, sobretudo, tem que ser concreto, realmente havendo um risco – ex. briga com alguém perto de
uma escada não é um provável risco de vida.

Por exemplo: dois rapazes brigando e um furou a perna do outro (intenção de ferir), e a vítima teve
hemorragia, caiu na ???? e quase morre – destaca-se o dolo de ferir e a culpa na quase morte.

Cuidado para não confundir o dolo de lesar e culposamente ??? com o dolo de matar e por questões alheias à
sua vontade a vítima não morrer. Perigo de vida é distinto de tentativa de homicídio.

III. Debilidade permanente de membro, sentido ou função:

Permanente é um conceito que significa, no estágio atual da medicina, ??? o que temos hoje na doutrina
médica

Debilidade: comparativo com o par. 2º do art. 129, III, de perda ou inutilização ...

Membro: considerar membro inferior as pernas e pés, e superior os braços e mãos – ou seja, só é lesão
corporal gravíssima se perder um deles – a perda de um dedo é lesão grave, pois seria uma debilidade do membro. Ex.
o braço foi machucado e a pessoa não consegue pegar muitas, sendo isto lesão grave, debilidade, e apenas se não
conseguir pegar nada seria inutilidade, a configurar a lesão gravíssima.

Sentidos: formas através das quais o corpo consegue sentir o mundo, sendo o olfato, visão, paladar e tato. Ex.
perder ????? sentidos duplos, como visão, só se forem os dois – se for uma só é debilidade.
Função: é desempenhada por um conjunto de órgãos – ex. função renal é desempenhada pelos dois rins –
sempre que perder apenas a função de um dos órgãos é lesão grave, mas se perder de ambos, do geral, a exemplo dos
rins, a necessitar de diálise, é gravíssima.

IV. Aceleração de parto:

Lembrar que estamos tratando de crime preterdoloso, então a intenção é lesionar a mulher e, por
consequência, se fere o feto.

Atenção: o sujeito deve saber, ou dever a possibilidade de saber, que a mulher está grávida – ex. empurrar uma
mulher grávida sem ter conhecimento disso, e o bebê nasce vivo, mas prematuro ??? Se não souber, não há como
aplicar tal qualificadora. Também não se pode confundir com o art. 129, par. 2º, V, que é o aborto. Na aceleração do
parto o bebê nasce com vida, no aborto não – lembrar do critério da respiração.

3. Parágrafo segundo:

Estabelece uma pena de 2 a 5 anos.

Frisa-se que se houver uma hipótese do parágrafo 1º e outra do 2º, a qualificadora será a do 2º, e a outra
poderá ser utilizada como causa de aumento.

Será gravíssima quando:

I. Gerar incapacidade permanente ao trabalho:

A doutrina se divide, mas prevalece a que diz que o sujeito fica com incapacidade para qualquer espécie.
Conceito de trabalho de forma absoluta ???

A doutrina minoritária diz que a incapacidade permanente o trabalho da última (???)

II. Enfermidade incurável:

A doutrina sempre traz dois exemplos: enfermidade no ??? que desenvolve mal de Parkinson; transmissão
dolosa do HIV, pois gera uma enfermidade incurável.

O art. 130 poderia ser uma estratégia de defesa para o casado, pois a pena é mais branda.

III. Perda ou inutilização de membro, sentido ou função:

É diferente de debilidade, pois esta indica uma lesão grave, remetendo a perda de dedos, a um olho só, um
órgão só – se a pessoa não tinha a visão de um olho e perde a outra, desde que o réu saiba que a vítima se encontrava
nesta condição, cabe a lesão gravíssima.

IV. Deformidade permanente:

Frisar que a colocação de uma prótese não exclui essa qualificadora – aqui se enquadram as lesões
visivelmente repugnantes, ex. perda da orelha.
E se não for visivelmente repugnante? A jurisprudência entende que nas partes não visíveis pode sim se
encaixar a qualificadora, podendo-se argumentar, por exemplo, sobre o impacto da falta de um seio para a
sexualidade da mulher ???

V. Aborto:

Caos distintos: o bebê nascer morto de haver a aceleração do parto, sendo que o bebê nasce com vida.

Observação: o agente precisa conhecer essa circunstância, caso contrário, responderá pelo que, de fato,
causou na gestante, e não responde pelo ocorrido com o feto, nem na forma culposa, pois ele não pode responder por
algo que não era minimamente previsível (a culpa).

4. Lesão seguida de morte:

Estabelecida no parágrafo 3º, que trata-se de crime preterdoloso, havendo o dolo de lesionar e, na forma
culposa, ocorre o resultado morte.

Se diferencia do homicídio primeiro pela pena (4 a 12 anos), além de não ser crime contra a vida, e sim contra a
integridade, não indo, portanto, a júri, e sim tendo competência para seu julgamento o juiz singular.

5. Causas de diminuição de pena:

Trazidas pelo parágrafo 4º, que elenca as frações de diminuição de 1/6 a 1/3, valendo para todos os tipos de
lesões, e são as mesmas causas do homicídio: relevante valor moral, social e sob domínio de violenta emoção.

6. Substituição da pena:

Hipótese trazida pelo parágrafo 5º, e permite a substituição apenas para as hipóteses em que a lesão não é de
natureza grave, se aplicando para os casos de lesões leves ou culposas, podendo-se, assim, substituir a pena de prisão
por multa.

I – se aplica sob os motivos do parágrafo anterior, de relevante valor moral, social e sob domínio de violência
emoção.

II – se aplica para lesões recíprocas, a exemplo de dois ciclistas que se chocam mutuamente e se ferem sem
intenção.

7. Lesões culposas:

§6º – nessas lesões, falamos de uma situação em que não se faz a gradação das consequências da lesão, ou
seja, não há grave, gravíssima, seguida de morte, enfim.

Além disso, no mesmo sentido da lesão leve, o par. 6º tem pena de 2 meses a um ano, assim, sendo a pena
máxima menor ou igual a dois anos, chama-se de crime de menor potencial ofensivo, portanto, a competência para
processá-lo e julgá-lo é dos Juizados Especiais Criminais.

Segundo a lei dos Juizados, a 9.099/95, a ação penal, nos crimes de ação leve e culposa, é pública e
condicionada à representação da vítima, que não precisa ter formato, apenas demonstrar o interesse na persecução
penal, comparecendo na delegacia, juizado, no MP – é a vítima dando um pontapé inicial.
§8º – como no homicídio, trata da hipótese de perdão judicial, sendo também tão somente às lesões culposas. Só
cabe nas culposas quando a consequência da infração é tão gravosa para o sujeito que a sanção penal é desnecessária
– ex. pai vendo o filho se lesionar por culpa daquele.

A natureza jurídica do perdão judicial: o fato é típico, ilícito, culpável, mas o perdão extingue a punibilidade,
não afastando o cometimento do crime, apenas o juiz deixa de aplicar a pena.

O CTB é especial quanto aos crimes e sanções, mas, em caso de omissão deste, o CP é aplicado
subsidiariamente – o CTB é mais “duro” quanto ao cometimento de tais crimes, do que o CP. Além disso, ele é omisso
quanto ao perdão judicial.

§7º manda que leia-se o homicídio, o art. 121, para utilizar para lesão corporal as mesmas causas de aumento do par.
4º e 6º do homicídio, ex. praticado por milícia privada a pretexto de segurança, praticado com inobservância de regras
técnicas, etc.

1. Violência doméstica e familiar: par; 9º ao 11 do CP = QUALIFICADORA

Não podemos confundir essa situação com a violência doméstica e familiar contra a mulher, pois nesse caso
não há essa circunstância especial – Lei 10.886/04, que é, inclusive, anterior à Maria da Penha – a lei sofreu alterações
desta última, mas a antecede.

Se for situação de violência doméstica e familiar e contra a mulher (já tem muitos julgados que falam em
gênero feminino), além de usar esses parágrafos, os combinam com a Maria da Penha, que traz apenas um crime
(descumprimento de medida protetiva), sendo uma lei procedimental.

Nem toda violência no âmbito familiar é doméstica, e nem o oposto, bastando a presença de um desses
elementos – leia-se violência doméstica (relação de coabitação) OU familiar (laços de consanguinidade ou por
afinidade). Se a babá de uma criança, que mora na casa, for agredida pela mãe das crianças, é violência de natureza
doméstica, apesar de não ter com a mãe uma relação familiar – o mesmo sentido segue se um pai, que não vive na
mesma casa, agride a filha.

1.1. Sujeitos do crime:

Crime bipróprio, pois vai exigir qualidades especiais entre sujeito ativo e passivo. Por sua vez, considera-se
violência doméstica ou familiar, a praticada entre ascendentes e descendentes, entre irmãos, entre cônjuges,
companheiros, conviventes ou ex-conviventes (com quem tenha convivido), ou prevalecendo-se da coabitação, ou da
hospitalidade (relação transitória).

1.2. Pena e competência:

Lesão leve:

 “comum”: sujeito ativo e passivo sem relação entre si – caput do art. 129 = pena de 3 meses a 1
ano – competência dos Juizados;
 doméstica/familiar: enquadrada no par. 9º = pena de 3 meses a 3 anos – competência das Varas
Comuns.

1.3. Institutos despenalizadores da Lei dos Juizados:

Não se aplicam nos casos das lesões domésticas e familiares, mesmo que leves, pois o legislador puxou essa
pena de 3 anos justamente para exceder o limite de 2 anos dos Juizados = Vara Comum. Grande sacada do legislador
no parágrafo 9º, justamente para a não aplicação desses institutos.
Institutos: audiência prévia de conciliação, transação, etc.

1.4. Lesão grave, gravíssima, seguida de morte:

Vítima Violência
Natureza da Lesão
comum doméstica/familiar
Leve 3m-1ano 3m-3anos +1/3
Grave 1a5 1 a 5 +1/3 +1/3
Gravíssima 2a8 2 a 8 +1/3 +1/3
Seguida de morte 4 a 12 4 a 12 +1/3 +1/3

*Aumento de 1/3 estabelecido pelo par. 10.

*Qualquer caso que se enquadre na violência familiar: ação penal pública incondicionada, não dependendo de
nenhuma atuação da vítima, sendo algo maior do que as vítimas, envolvendo o próprio ente familiar

1.5. Aumento da pena – §11:

Esse parágrafo manda que a pena seja aumentada em 1/3 se os crimes forem praticados contra uma vítima
portadora de deficiência.

Ex. lesão leve dentro do âmbito doméstico e familiar: 3m a 3 anos + 1/3. Se for gravíssima, incidirão 2
aumentos de 1/3, um para demonstrar que se está diante de uma relação doméstica/familiar, e o segundo para
mostrar um outro aumento se a vítima for deficiente = sistema de “juros compostos”, em que incide aumento sobre
fração já aumentada.

8. Lesão funcional – §12:

Aumento de 1 a 2/3 quando se tem tanto um homicídio quanto uma lesão corporal praticados contra os
agentes descritos no arts. 142 e 144 da CF (descrevem as polícias), além dos agentes do sistema prisional e os agentes
da Força Nacional de Segurança.

Não precisam estar no exercício da função, mas precisam ser vítimas dos crimes EM RAZÃO DA FUNÇÃO, ex. de
férias, de folga, voltando do serviço, etc.

Essa violência pode ocorrer também contra seus familiares, sendo eles cônjuges ou companheiros, e parentes
até 3º grau.

Dos Crimes contra a Honra

1. Constituição Federal

Proteção da honra na seara constitucional, com previsão no art. 5º, X da CF – esse artigo diz que “é inviolável a
intimidade, a vida privada, a HONRA e a imagem dos indivíduos”.
O único problema da tutela de honra é que estamos falando de uma tutela que não necessariamente precisa
ser penal – muitos doutrinadores minimalistas dizem que para tutelar a honra era necessária apenas a seara cível, não
necessitando da penal – será que a reparação pecuniária cível já não seria suficiente? Muitos questionam se este é
realmente um bem jurídico de natureza penal.

2. Espécies de honra

São duas: honra objetiva (é a imagem social do indivíduo, é a respeitabilidade social dele, é o que os outros
pensam sobre ele) e honra subjetiva (é a autoimagem, sendo esta feita pelo próprio sujeito, é o que ele pensa sobre si
mesmo).

3. Tipos penais

Dois tipos penais tutelam a honra objetiva:

 Art. 138 = calúnia


 Art. 139 = difamação

Um único tipo penal tutela a honra subjetiva:

 Art. 140 = injúria

4. Consumação

As espécies de honra influenciam na consumação, dependendo esta última daquela.

A honra objetiva é a imagem do sujeito na sociedade, portanto, os crimes que a tutelam se consumam quando
uma terceira pessoa tiver ciência da imputação – ou seja, o crime de calúnia só se consuma se um terceiro, para além
da discussão entre o ofensor e o ofendido, tomar ciência da imputação.

A honra subjetiva é violada quando o próprio ofendido toma ciência da imputação.

ART. 138 – CALÚNIA

1. Elementares do tipo

Art. 138 = Caluniar alguém significa imputar falsamente fato definido como crime.

1.1. Características

É preciso que sejam imputadas características depreciativas alusivas a crime – se pode simplesmente imputar
uma característica depreciativa a alguém, entretanto, é necessário que esta aluda a crime: maconheiro, ladrão,
estuprador, batedor de carteiras.

Se essas situações forem meramente falsas, isto é calúnia? Por exemplo, falando que alguém é um traficante,
nunca tendo este cometido tal crime. NÃO. Essas características depreciativas, mesmo quando se faz alusão a crime,
não caracterizam calúnia, sendo preciso, para tanto, imputar um FATO – tais características: gordo, feio, palito,
maconheiro, ladrão, são sempre injúrias, pois, para ser calúnia, é preciso descrever um fato. Ex. professor X tem uma
banca de tráfico de drogas em frente à Universidade.

1.2. Sujeitos

O sujeito ativo na calúnia é comum, pois qualquer pessoa pode praticá-la.

Entretanto, sobre o sujeito passivo, a vítima, há uma discussão: imagine que se olhe para um menino de 16
anos na rua, aponte o dedo para ele e diga, falsamente, que foi ele quem furtou a bolsa do sujeito ativo – esse menor
de 16, tecnicamente não pratica crime, mas pode ser vítima de uma calúnia? O mesmo para o doente mental. O
código não diz imputar falsamente crime, e sim FATO DEFINIDO COMO CRIME, pois crime é típico, ilícito e culpável, e
fato definido como crime é apenas típico. Assim, os menores de 16 e deficientes mentais podem sim ser vítimas de
calúnia, pois estes praticam sim fato típico, inclusive antijurídicos, apenas não culpáveis.

Outra discussão em relação à vítima: se alguém disser que, Michael Jackson, enquanto vivo, estuprou uma
amiga dessa pessoa, sendo este fato falso – o artista pode ser vítima de uma calúnia, mesmo tendo morrido? Pode!
Art. 138, par. 2º permite a punição da calúnia contra os mortos, pois o que está em jogo é a imagem social do
indivíduo.

Terceira discussão sobre a vítima: a pessoa jurídica pode ser vítima de uma calúnia? Ex. foi a Petrobrás quem
derramou o óleo que assola o Nordeste. Posicionamento doutrinário: ela diz que a PJ pode sim ser vítima de calúnia,
tratando-se de crime ambiental, pois esta é a única espécie de crime que a PJ pode praticar. O STF, por sua vez, diz
que quando alguém fala mal de uma PJ, independentemente do que a pessoa fale, é para atacar/macular a imagem da
empresa, ex. dizendo que a empresa x sonega imposto, ou que colocou um osso na bebida por ela vendida e este
derreteu, etc. tudo sempre, segundo o STF, sendo crime de DIFAMAÇÃO, pois o objetivo é sempre macular a sua
imagem, no sentido comercial mesmo, pouco importando a natureza da imputação, sendo fato definido como crime
ou não – o STF cria essa jurisprudência seguindo a súmula 127 do STJ, que diz que a PJ sofre dano à imagem (apesar de
ser de natureza cível, serve de fundamento).

1.3. Contravenções

Se alguém disser que um sujeito tem uma banca de jogo do bicho, em determinado local, sendo uma
imputação falsa, é calúnia? Ou seja, a imputação de contravenções penais caracteriza calúnia? NÃO, pois é preciso que
seja fato definido como crime, sendo esta modalidade de imputação uma DIFAMAÇÃO.

1.4. Elemento subjetivo

Para se falar em calúnia (saber que se sabia que era falso, que o falado não era verdadeiro), o sujeito precisa
praticar o crime DOLOSAMENTE, ou seja, o sujeito sabe se tratar de imputação falsa, e mesmo assim a realiza.

O crime é imputar FALSAMENTE FATO definido como crime – portanto, diz-se que no crime de calúnia se exige
o “animus calumniandi”, ou seja, intenção/dolo de caluniar.

Questão das imunidades parlamentares.

Dolo eventual: não tem certeza que o fato é criminoso, mas também não tem certeza da inocência.

Situações em que o sujeito recebe a notícia por redes sociais, não tendo sido ele quem escreveu, e mesmo
tendo um mínimo de dúvidas quanto a veracidade, a compartilha – o par. 1º do 138 diz que “responde por calúnia
quem, sabendo falta a imputação, a propala ou divulga”.

E quando se imputa fato VERDADEIRO definido como crime? Se há como comprovar a veracidade dos fatos,
fazendo-a através da chamada exceção da verdade (é a comprovação que os fatos imputados não são falsos), não há,
portanto, calúnia. Na prática, os sujeitos estão lá respondendo ação penal como calúnia – como linha de defesa,
pedem para suspender o processo de calúnia e julgar uma exceção da verdade (mecanismo usado para julgar uma
coisa antes do principal – ex. através de comprovantes, de testemunhas, etc. – em regra, o crime de calúnia admite
exceção da verdade. Porém, há situações em que a exceção não cabe.

Há três situações que não se admite exceção da verdade: art. 138, par. 3º:

a) se as imputações forem ao Presidente da República e Chefe de governo estrangeiro: isto ocorre pois estes
representantes de Estados passam por um rito para serem processados, tendo imunidades formais e não cabendo ao
particular provar a verdade.

b) se o crime for de ação pública e já tiver ocorrido a absolvição por trânsito em julgado: ex. de uma pessoa que
foi processada por homicídio e foi absolvida por trânsito em julgado da sentença, e anos depois a mãe da vítima
acusa-la, processando-a por calúnia, para ela não caberá a prova da verdade.

c) nos crimes de ação privada, enquanto não existir condenação por trânsito em julgado: uma pessoa não pode
usar uma ação penal privada em curso como prova da verdade.

Denunciação caluniosa – art. 339:

Não é um crime contra a honra, e sim contra a administração da Justiça, e dá causa a instauração de uma ação
penal, um inquérito, de um processo administrativo disciplinar, sabendo que a pessoa é inocente.

Observe que este crime é maior do que calúnia, tendo em visto que você além de feria a honra move todo o
aparato judicial sem necessidade, representando toda uma movimentação da justiça em vão – este crime abarca a
calúnia.

ART. 139 – DIFAMAÇÃO

A difamação tutela a honra objetiva, ou seja, a imagem social do indivíduo.

1. Elementares do tipo:

Difamar alguém é imputar fato ofensivo à reputação, e ainda que exista o fato, ou seja, que seja verdadeiro o
fato, o crime existe.

2. Sujeitos do crime:

Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo ou ativo.

Em regra, não cabe a exceção da verdade, havendo uma única hipótese de cabimento, que é disciplinada pelo par.
único: se a ofensa for a um funcionário público e for direcionada ao exercício de suas funções – aqui o que está em
voga não é a honra desse sujeito, mas a moralidade administrativa concretizada na pessoa do funcionário da
administração.
A jurisprudência entende que cabe a exceção da notoriedade: ex. uma pessoa famosa fez algo, por exemplo, nadou
pelada – se uma pessoa compartilha, não caracteriza difamação, pois a notícia já estava em todos os blogs e sites de
fofoca.

ART. 140 – INJÚRIA

1. Elementares do tipo:

Injuriar alguém é ofender a dignidade ou decoro.

2. Espécie de honra:

A partir da leitura das palavras destacadas (dignidade e decoro), percebe-se que a espécie de honra tutelada é
a subjetiva, sendo a autoimagem do sujeito, a ideia que ele faz de si próprio – é o único dos crimes contra a honra que
tutela a sua espécie subjetiva.

A primeira conclusão é: para falar-se em consumação, é necessário que a imputação chegue ao conhecimento
do próprio ofendido – na calúnia e difamação há a necessidade de chegar ao conhecimento de um terceiro, pela honra
ser objetiva.

A segunda conclusão: o delito de injuria consiste numa imputação de características negativas/depreciativas =


feio, corno, magro, gordo, puta.

2.1. Sujeitos do crime:

O sujeito ativo é o comum, sendo que qualquer pessoa pode praticá-la.

A partir do conceito de honra subjetiva, há uma discussão na doutrina sobre a vítima do crime:

 Pode uma PJ ser vítima de uma injúria? Ex. a faculdade é uma merda. NÃO, segundo o STF, a PJ é
sempre vítima de difamação, pois, no caso da injúria, não tem sendo de autoimagem, apenas de
imagem mercadológica, sendo esta perante terceiros.
 Crianças de pouquíssima idade e portadores de doenças mentais mais severas podem ser vítimas de
injúria? Ou seja, esses sujeitos têm senso de autoimagem? A doutrina faz esse questionamento,
entretanto, para a jurisprudência essas pessoas podem sim ser vítimas de injúria, pelo peso
psicológico das palavras, gestos relacionados, etc.

3. Exceção da verdade:

Cabe exceção da verdade nos crimes de injúria? NÃO, em hipótese alguma! Mesmo que of ato seja verdadeiro,
isso fere a imagem, o decoro e a dignidade. Ex. Filha de Débora Secco ser bochechuda e filha do diabo – o réu não
pode apresentar uma foto da criança nos autos alegando que ela é sim ser bochechuda.

**Difamação só cabe se for funcionário público e no exercício das suas funções – calúnia o comum é caber –
injúria não cabe em hipótese alguma.

4. Formas de praticar o delito:


O mais diverso/fácil de se mostrar formas distintas de praticá-lo.

a. Direito: você é feio/corno/gordo/magro, atribuindo à pessoa características depreciativas.

b. Argumentos inversos: ou características inversas – ex. chamar um colega bem pequeno de gigante.

c. Gestos: sinal de loucura, de corno, de ladrão.

d. Imagens: memes? Stand up? Os delitos contra a honra são todos dolosos, então, as questões humorísticas
caracterizam o animus jocandi (em regra! Há momentos que a liberdade de expressão invade a honra) – intenção de
fazer uma piada – portanto, excluem os crimes contra a honra.

e. Argumentos por exclusão: ex. professor entrega provas dizendo que vai chamar apenas os inteligentes,
deixando alunos de fora desse rol = injúria por exclusão.

f. Argumentação em contrário/contrario sensu: ex. centro acadêmico chama um colega para integrar a chapa, e
ele se nega, alegando não ser um “vagabundo”.

5. Perdão judicial:

Figura do parágrafo 1º – identifica-se o perdão judicial sempre com a mesma expressão “o juiz poderá deixar
de aplicar a pena” = causa de extinção da punibilidade, que é o perdão judicial = existe o crime como fato típico, ilícito
e culpável.

O CP traz duas situações de perdão na injúria:

a. O ofendido, de forma reprovável, provocou a injúria: ex. encher o saco e ser chamado de idiota/débil.

b. Retorsão imediata que consista em outra injúria: “chumbo trocado não dói”, “troca de farpas” – é a retorsão
imediata, desde que seja uma outra injúria – não pode ser seguida de calúnia, ex. sujeito chama um de feio e o outro
diz “pior é você que estuprou fulana”.

6. Injúria real:

Figura do parágrafo 2º – a injúria real consiste em violência ou vias de fato que, pela sua natureza, ou pela
forma como são empregadas, se consideram humilhantes, aviltantes. O CP usa “violência ou vias de fato” por a
violência dizer respeito ao delito de lesões corporais, ou seja, deve deixar marcas físicas na vítima, mas nem sempre
essa violência deixa marcas, que é o caso das vias de fato, como um puxão de cabelo, por exemplo.

Injúria real é a que chega ao aspecto físico, deixando ou não marcas, ex. cuspir, jogar tomate podre – no fundo,
a intenção é de humilhar.

O art. 140, caput – injúria simples ou comum – tem pena de 1 a 6 meses. A injúria real representa uma
qualificadora, tendo pena de 3 meses a 1 ano, trazendo um novo mínimo e um novo máximo – continua no âmbito do
juizado, sendo crime de menor potencial ofensivo. A única observação é: o crime de injúria real não impede que o
sujeito responda pelas lesões corporais provocadas, ou seja, se pode ter os delitos em concurso formal de infrações,
com uma única conduta provocando dois resultados (art. 140, par. 2º + art. 129), um sendo um crime contra a honra –
injúria real – e outro contra a integridade – sendo a lesão corporal –. Ex. sujeito joga ovo podre num outro, e este
último fica cego. Ex. quem bate no outro com um chicote, a intenção, o objetivo é humilhar, podendo também ser
associado em concurso formal com uma lesão corporal.

7. Injúria preconceituosa:

Presente no parágrafo 3º – pena de 1 a 3 anos = ÚNICO dos crimes contra a honra que, isoladamente
considerado, ULTRAPASSA O LIMITE DO JUIZADO, sendo a competência para processar e julgar a da Vara Crime
comum.
Esses preconceitos abarcam várias circunstâncias: se a injúria diz respeito a elementos da raça, da cor, da etnia,
da religião, da origem, condição de pessoa idosa ou de portadores de deficiência. NÃO SE PODE CRIAR ANALOGIA
PARA PREJUDICAR O RÉU, por exemplo, o fato de um sujeito cometer uma injúria aparente, alegando ser mulher, não
é injúria preconceituosa, podendo ser simplesmente injúria, mas não abarcando na qualificadora.

Um dos formatos da injúria preconceituosa é a injúria racial (abarca raça, cor e etnia). Um grande problema é
separá-la do delito, na Lei Especial 7716/89, que é o crime de racismo. A injúria racial é uma forma de abrandar o que,
de fato, é um racismo – a justificativa para existirem dois conceitos diferentes é que a injúria racial seria uma ofensa
individual, a honra singular de uma pessoa certa e determinada, enquanto que o racismo, por mais que se tenha
alguém que personifique a ofensa, ele é direcionado a toda uma coletividade.

DISPOSIÇÕES GERAIS

Do 141 ao 145, em regra, se aplicando a todos os crimes contra a honra.

1. Causas de aumento de pena:

Art. 141 – aplicado aos três crimes

Aumento de pena de 1/3 (caput):

 I – praticado contra o Presidente da República ou o Chefe de Governo Estrangeiro: nesses casos, o que está
em jogo não é a honra individual, e sim a imagem do que esses sujeitos representam, por isso se justifica o
aumento de pena, uma reprimenda maior – Ação penal pública condicionada a requisição (Min. da Justiça);
 II – praticado contra o funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções;
Diferenciar o delito de desacato (crime contra a administração pública, art. 331 do CP) e o contra a
honra do funcionário público – quando se ofende alguém, sendo este um funcionário público, se pode fazê-lo
na presença do próprio sujeito ou falar mal dele perante terceiro – considerando a sua presença, o sujeito
pode estar em exercício ou fora de suas funções – quando o funcionário público está em exercício (usar a
farda é indicativo – ex. policial fardado, juiz togado, chamando-os de ladrões ou de gordos, sem distinção), se
fizer para ele uma ofensa funcional ou de ordem pessoal, não importando a natureza da imputação, será
SEMPRE DESACATO (crime contra a administração pública – art. 331 do CP) – supondo que este sujeito esteja
fora das suas funções, se pode fazer uma ofensa funcional ou uma pessoal, ex. chamando o juiz de ladrão,
neste caso, mesmo que fora da função se usa a função para ofender = DESACATO, entretanto, se o sujeito
estiver fora das funções e for proferida contra ele uma ofensa pessoal, será um crime CONTRA A HONRA
(uma das modalidades), e aqui não cabe o aumento de pena, sendo um crime contra a honra qualquer, sendo
o sujeito um particular qualquer. DESACATO SEMPRE DEVE SER DIANTE DO SUJEITO.
Outro exemplo é falar do sujeito perante terceiros, ou algo relativo a suas funções (crime CONTRA A
HONRA, e é esse que justifica o aumento de pena do art. 141, II do CP), ou algo de natureza pessoal (crime
CONTRA A HONRA, mas sem o aumento de pena, pois não há referência ao exercício das funções do sujeito).

DESACATO X CRIME CONTRA A HONRA


Presenç funciona
em exercício
a l desacato
    pessoal
funciona
  fora das funções desacato
l
    pessoal crime contra a honra
funciona crime contra a honra
Por trás  
l + aumento de pena

    pessoal crime contra a honra

 III – na presença de várias pessoas (doutrina indica que são no mínimo 3) OU por meio que facilite a
divulgação do crime contra a honra (redes sociais, imprensa, cartazes, etc.);
 IV – se a vítima é maior de 60 ou portadora de deficiência, salvo no caso da injúria (já temos uma
qualificadora da injúria preconceituosa, que é o art. 140, par. 3º, englobando a condição de pessoa idosa e
deficiente, evitando um possível bis in idem).

Pena aplicada no dobro (par. único):

 Crime praticado mediante paga ou promessa de recompensa (motivação mercenária/financeira) – ex. sujeito
paga a outro para injuriar alguém – pega a pena de 1 a 6 meses e dobra, valendo, esse aumento de pana,
tanto para quem paga quanto para quem executa.

2. Exclusão do crime:

Várias pessoas discutem o que representa esse art. 142 do CP – são situações que não vão gerar punição para
dois crimes contra a honra, se aplicando, em regra, para a injúria e para a difamação – tem jurisprudência aplicando
esse artigo também para a calúnia, mas, a princípio, segue-se a legislação.

I – trata da ofensa irrogada, em juízo, na discussão da causa pela parte ou por seus procuradores (dá uma
espécie de imunidade, permitindo que a discussão dentro da causa seja mais calorosa – cuidado: isso não se aplica ao
magistrado! Não há imunidade para o crime de desacato – parte pode chamar a outra de mentirosa, dentro da
discussão da causa, fazendo isto parte da sua defesa);

II – críticas artísticas, literárias e científicas (há imunidade para tais críticas, SALVO inequívoca intenção de
ofender – esse último caso traz uma ressalva no sentido de que a crítica se limite à obra, não atingindo o sujeito,
tampouco através de palavras de baixo calão – stand up comedy entra na questão do dolo = animus jocandi, portanto,
não praticam crimes contra a honra – cuidado com excessos);

III – para o funcionário público que emite um conceito desfavorável dentro do exercício das suas funções
(imagine um oficial de justiça, já tentando citar o réu 6x – ao alegar, nos autos, que o sujeito está se esquivando da
citação por comportamento reprovável, não pode a ele ser imputado um crime contra a honra, sendo seu
comportamento de proferir conceito desfavorável inerente à sua função).

3. Retratação:

Art. 143 do CP

Lembrar os crimes contra a honra: calúnia é imputação falsa de fato definido como crime, difamação é
qualquer fato verdadeiro ou fato mas que ofende a reputação, e injúria é uma ofensa à dignidade e ao decoro – duas
primeiras tutelam honra objetiva, e a última, subjetiva.

Só pode haver retratação na calúnia e na difamação, por se tratarem de fatos (desdizendo-os), por se reparar a
honra objetiva, a imagem do sujeito, não tendo como se recompor a honra subjetiva com a retratação. Ou seja, a
retratação se vincula à espécie de honra tutelada, só sendo possível desdizer fatos. Ex. é possível desdizer que um
sujeito estava fumando maconha – não é possível desdizer que o sujeito é careca.

Retratação é desdizer um fato, NÃO É pedido de desculpas, é reafirmar um fato de forma distinta.

Par. único – a depender do interesse do ofendido, a retratação pode se dar nos mesmos moldes da ofensa, por
ex., se a calúnia foi feita em determinado meio de comunicação e determinado horário, a retratação deve ser feita nos
mesmos moldes, para que o alcance seja o mesmo – mas o ofendido que vai determinar, por exemplo, querendo a
retratação, mas não permitindo que saia na mídia, por representar, para ele, um ônus, um novo prejuízo, preferindo
retratação em ata de audiência, ou em rodapé de jornal, sendo ele quem faz esse juízo de conveniência.

4. Interpelação judicial:

Art. 144 do CP.

Essa interpelação judicial é um pedido de explicações em juízo, quando das palavras ou expressões pode se
inferir um crime contra a honra. Situações em que não se tem a certeza se a palavra foi pejorativa ou não, se fazendo,
em juízo, um pedido de explicação. Não processa diretamente a pessoa, solicitando a prévia explicação, por exemplo,
de se associar determinada expressão (advogados de peso) à imagem (foto de um dos advogados, sendo este gordo).

5. Ação penal:

Art. 145 do CP – tipos de ação penal nos crimes contra a honra.

* Súm 714 do STF – legitimidade concorrente, ou sujeito representa para o MP atuar, ou, se preferir, contrata
advogado e ele mesmo entra com a queixa-crime. “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
MP, condicionada a representação, para ação penal de crimes contra honra do servidor público no exercício das
funções”.

incondicionada
(art. 140, par. 2º -
    injúria real em  
lesão grave ou
gravíssima)
a representação do
ofendido (art. 140,
par. 3º = injúria
preconceituosa; art.
  pública condicionada
141, II = crime
praticado contra
funcionário público) –
Súm. 714 do STF
a requisição do Min.
da Justiça (art. 141, I -
AÇÃO PENAL
Presidente ou Chefe
de Gov. estrangeiro)
privada
  (REGRA    
GERAL)

Dos Crimes Contra o Patrimônio

ART. 155 – FURTO


1. Bem jurídico:

É o patrimônio – o que se entende por ele? Patrimônio são bens, objetos ou valores com relevância econômica.

O DP tutela objetos sem valor econômico, apenas com valor sentimental? Em regra, não – o DP não tutela
objetos cujo valor é meramente sentimental. Excepcionalmente encontra-se jurisprudência no sentido de haver a
tutela – via de regra, nesses casos está em jogo o princípio da insignificância, sendo um bem jurídico disponível e
crime cometido sem violência ou grave ameaça.

1.1. Propriedade ou posse?

O que está abarcado pelo patrimônio é apenas a propriedade ou também a posse? Quem é vítima do furto é
apenas o proprietário ou também o possuidor? Para a doutrina clássica, só se defende a propriedade. Entretanto, a
doutrina moderna reconhece a tutela do furto, reconhecendo o possuidor também como vítima do crime. No direito
processual penal não tem diferença prática, por ser crime de ação penal pública incondicionada, a vítima não faz
diferença – há efeitos apenas de indenização civil.

1.2. Coisa alheia:

Qual o objeto material sobre o qual recai a tutela do furto? É a coisa alheia móvel – separaremos a análise de
coisa alheia e de coisa móvel.

Pegadinha: sujeitos que acreditam ter levado a coisa própria, mas levam a coisa alheia, ou seja, ele confunde
seu objeto com o do outro = art. 20, caput, que trata do erro de tipo essencial, em vista que o sujeito erra o ALHEIO
como elementar do tipo – o erro de tipo essencial sempre afasta o dolo, entretanto, no furto não há forma culposa
prevista em lei, portanto, exclui-se a tipicidade do crime = fato atípico, portanto, não há configuração de crime, e o
sujeito não responde por nada.

1.2.1. Coisa própria em poder de terceiros:

Ex. de sujeito que aluga carro para terceiro, vai, pega a chave reserva, e toma de volta – isso é furto? Entra no
conceito de subtrair coisa alheia móvel? Não, aqui não se fala em crime de furto, e sim no crime previsto no art. 346
do CP, sendo um formato de exercício arbitrário das próprias razões, não sendo crime patrimonial, e sim contra a
administração da Justiça (você tem o direito sobre a coisa, mas burla o sistema legal para reavê-la). A pretensão é
legítima, o problema é o formato como se a exerce.

1.2.2. Coisa pública:

Ex. sujeito que pega coisa pública e leva para sua casa, a exemplo de um banquinho de praça. Isto não é furto,
pois a coisa pública não é objeto de furto, sendo um crime patrimonial de dano (art. 163 do CP), par. único, III = dano
(qualificado) contra o patrimônio público.

1.2.3. Coisas descartadas:

Coisas abandonadas, descartadas, etc. são objetos materiais de furto, coisas alheias móveis? – civilmente é a
res derelicta, perdendo o conceito de propriedade, portanto, não há o que se falar em furto. Ex. cigarros descartados
pegos para exame de DNA são válidos por serem res derelicta também.

1.2.4. Coisas comuns:


Ex. dos objetos pertencentes ao condomínio, como o fato de alguém pegar uma árvore do condomínio e levar
para dentro de casa – a coisa também é de quem a pegou, entretanto, aqui há um crime específico, tipificado no art.
156 do CP, sendo o furto de coisa comum = esse crime tem lugar quando se fala em condôminos, sócios, coerdeiros...
O art. 156 traz, no p. único, que só cabe ação penal mediante representação (por isso não há sentido em falar-se em
crime quando apenas um sujeito compõe a sociedade).

1.2.5. Coisas achadas:

Para coisas achadas, como não se sabe quem é o proprietário ou possuidor, mesmo sendo coisa alheia móvel,
não se fala em furto, e sim no crime de apropriação de coisas achadas (art. 169, II) – achado não é roubado, mas é
apropriado, configurando crime. A doutrina fala em crime a prazo, pois, assim que se acha a coisa, o sujeito tem o
prazo de 15 dias para devolver ao proprietário ou possuidor, caso impossível, entregar a autoridade pública. O crime
também engloba valores, portanto dinheiro também representa objeto tutelado. Por ser crime a prazo, ele só se
configura passados os 15 dias.

1.2.6. Coisas sem dono:

Ex. flores que brotam de mato na rua – coisa sem dono civilmente é res nullius. Também não caracteriza crime,
por não ser abarcada pela noção de patrimônio.

1.3. Coisas móveis:

E se for um imóvel? Ex. sujeito que entra num apartamento de outrem (esbulho possessório); ex. sujeito que
empurra cerca do outro e se apropria de um pedaço de terra... aqui não há a caracterização como furto, e sim no
crime do art. 161 do CP, com pena de 1 a 6 meses, englobando ambos os exemplos.

Roubo de informação também há crime específico = art. 154-A, com influência do caso de Carolina Dieckman.

1.3.1. Furto de caixas eletrônicos:

Coisa móvel é aquela que pode ser deslocada de um local para outro, ainda que pregada no solo – se é possível
de desparafusar e levar, é móvel. Furtos em caixas eletrônicos: a pena do crime de furto é de 1 a 4 anos, e, como em
muitas situações, para tornar móvel o que é imóvel, passaram a usar artefatos explosivos, o CP criou um par. 4º-A,
com base na Lei 13.654/18 – esse parágrafo é uma qualificadora do crime de furto, trazendo uma pena de 4 a 10 anos
quando, para a subtração, foram usados explosivos ou artefatos de efeitos análogos.

1.3.2. Semoventes:

São os seres/animais que se movem por conta própria – par. 5º da lei 13.330/16 traz a subtração desses seres
domesticados ou domesticáveis, ex. gato, cachorro, boi, cabra, etc. A doutrina fala no crime de abigeato (furto de
gado), sendo o parágrafo uma qualificadora do crime de furto, com pena de 2 a 5 anos = bancada ruralista. Entra
como furto os animais ainda que abatidos ou consumidos no local (para criminalizar sem terras, por exemplo).

Todo crime cuja pena mínima é menor ou igual a 1 ano tem direito a suspensão condicional do PROCESSO (não
da pena), ou seja, furto, em regra, cabe, entretanto, o furto de semoventes não cabe, pela pena mínima ser de 2 anos.

2. Núcleo do tipo: é o verbo subtrair

2.1. Elemento subjetivo:


Crime que admite apenas a modalidade dolosa, com intenção de se apropriar. Na doutrina, o dolo é o animus
furandi ou animus rem sibi habendi = intenção de tomar a coisa para si.

2.2. “Furto de uso”:

Sujeito que se utiliza do objeto, não o desnaturando nem estragando, e deixa no mesmo local. Para haver furto,
é necessário o dolo de se assenhorar da coisa, não o de usar = o furto de uso não é figura típica pois, para tal, é
necessário este dolo especial.

Para se falar em furto de uso como figura atípica é necessário: a coisa ser devolvida tal qual encontrada + a
coisa deve ser devolvida num lapso temporal em que a vítima não perceba que a coisa saiu da sua esfera patrimonial.
Outra coisa: itens consumíveis não é furto de uso, é furto mesmo, ex. usar perfume escondido, cosméticos, carro
(gastando gasolina), a não ser que o sujeito consiga repor o que gastou.

2.3. Apropriação:

Delito previsto no art. 168 do CP, também é patrimonial = “apropriação da coisa alheia móvel”, pena de 1 a 4 –
furto é “subtrair coisa alheia móvel”, também de 1 a 4. Qual a diferença de subtrair para se apropriar? A apropriação
indébita pressupõe que o agente já tenha a posse da coisa, invertendo o animus da posse, tendo a posse sabendo que
não é dele, mas começando a atuar como se fosse, invertendo o dolo de ter a coisa apenas como empréstimo para a
atuação como se dono fosse. Ex. livro emprestado que vai ficando e o sujeito se considera dono automaticamente
com o decorrer do tempo = inversão do animus da posse para se falar em apropriação indébita.

2.4. Consumação:

Polêmica nos Tribunais Superiores, havendo teorias sobre:

 Concretatio: para esta teoria, para que um furto esteja consumado, basta apenas que o agente venha a tocar
na coisa que pretende subtrair.

 Apprehensio: para esta, é preciso carregar a coisa que se pretende subtrair (apreendê-la, tirá-la do lugar).

 Amotio: efetivamente relevante, pois são as que os tribunais se alternam sobre a argumentação sobre a
consumação do furto e do roubo – o sujeito, nesta teoria, para consumar o delito de furto o sujeito precisa
tirá-la da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que, por breve espaço de tempo e, ainda que não consiga
levá-la a um local seguro, ou seja, ainda que a posse não se dê de uma forma segura. Ex. sujeito que toma o
objeto, corre, mas a vítima grita “pega ladrão” e alguém, de fato, o detém = mesmo assim, o furto está
consumado.

 Ablatio: efetivamente relevante, pois são as que os tribunais se alternam sobre a argumentação sobre a
consumação do furto e do roubo – o furto está consumado quando o sujeito tem a posse mansa e pacífica do
bem, ou seja, quando ele consegue tornar a sua posse sobre o bem segura. Ex. roubou carro e dirigiu pela
cidade nem ninguém o perseguir, mesmo que saibam que ele cometeu o crime, é consumado – enquanto
houver perseguição, é tentado.

Para as duas teorias a questão gira em ter ou não a posse pacífica – para a teoria da ablatio, o exemplo
dado como consumação para a teoria da amotio é apenas uma tentativa.
Para o furto há uma tendência maior da jurisprudência a adotar a teoria da ablatio = posse mansa e
pacífica. Aqui surgem as discussões sobre o shoplifting.
No crime de ROUBO, existe uma jurisprudência firmada no STJ, súmula 582, que diz “consuma-se o
crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda
quem por breve tempo e em seguida... sendo PRESCINDÍVEL a posse mansa, pacífica ou desvigiada”. Ou seja,
para o roubo é firme a teoria da AMOTIO. Ex. se na esquina, a polícia tomar o bem de volta, o roubo
permanece como consumado.

2.5. Shoplifting:

São furtos ou tentativas em centros comerciais. A discussão a respeito dele surge pois nesses centros existe
uma vigilância muito grande sobre os bens, através de seguranças, câmeras de segurança e até por magnetização dos
itens.

Se dissermos que o furto só de consuma com a posse mansa e pacífica (ablatio) e, nesses centros, um dos
sistemas acima atua todo o tempo, o que tornaria impossível a prática do crime, se questiona se não seria uma
hipótese de CRIME IMPOSSÍVEL POR MEIO ABSOLUTAMENTE EFICAZ.

Essa tese chegou aos Tribunais Superiores e o STJ sumulou o assunto na súm. 567 = “o sistema de vigilância
realizado por monitoramento eletrônico, ou por seguranças, por si só não torna impossível a configuração do crime de
furto”, ou seja, dificulta a subtração, mas não torna o meio absolutamente ineficaz.

3. Repouso noturno:

Par. 1º do artigo. Sobre o repouso noturno: “A pena aumenta-se de 1/3 se o crime é praticado durante o
repouso noturno” = causa de aumento de pena. Essa causa se aplica ao caput (furto simples com pena de 1 a 4 – pode
elevar o patamar da pena de 4 anos), não às qualificadoras.

Para tal, é preciso que o furto seja praticado no período compreendido como noite (não há horário fixo – noite
como ausência de luz solar) + haver menor vigilância exercida sobre os bens (ex. eclipse durante o dia, com pessoas
nas ruas trabalhando, policiais pelas ruas, etc., não pode incidir o aumento, pois a vigilância não é a menor – ex. shows
durante à noite também não pode ser alegada menor vigilância, pois as pessoas estão praticando suas atividades, há
policiamento, etc. – ex. furto na Faculdade de Direito, que tem curso noturno, com alta circulação de pessoas, etc.).

E se for local não habitado, ex. numa casa de praia durante o inverso = não deixa de haver o aumento de pena,
pois não se exige que o local esteja habitado ou o sujeito esteja dormindo (ex. de um vigilante em trabalho, ou sujeito
que estuda pela madrugada), efetivamente repousando – o que se avalia é a vizinhança mais vazia.

4. Furto mínimo:

Se o criminoso é primário (oposto de reincidência – o fato de o sujeito responder a vários processos não é
reincidência, que é cometer crime depois de sentença transitada em julgado), e é de pequeno valor (dado objetivo,
não tendo relação com a vítima – ex. um vale transporte é objetivo para um assalariado ou um milionário – não se tem
um teto do que seria um pequeno valor – o CP não faz essa distinção no furto, mas faz no estelionato, dizendo que há
um pequeno prejuízo = prejuízo envolve critério subjetivo da vítima) a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão por detenção (influência no regime inicial de cumprimento de pena) OU diminuir a pena de 1 a 2/3, OU
aplicar apenas pena de multa.

2 requisitos – 3 consequências.

Esse parágrafo 2º é a mesma coisa que o princípio da insignificância? Não, pois, o tal princípio descarta a
tipicidade, em especial, a material = ou seja, avalia que não há relevância para aquela lesão, consequentemente, o
fato seria atípico. Enquanto que o par. 2º influencia na aplicação da pena, sendo posterior à avaliação da conduta
como fato criminoso (típico, ilícito e culpável).
5. Furto de energia:

No par. 3º – o legislador equipara a coisa alheia móvel à energia, que é tudo aquilo que tem apreciação
econômica e o seu consumo gera custos a quem utiliza. Quando falamos de furto de energia, as pessoas remetem ao
gato de luz, mas é necessário considerar que é um conceito mais amplo que luz, ex. gato de internet, ligação
clandestina de água.

Sinal das TV’s por assinatura: os tribunais superiores entenderam que isso não é furto de energia, pois quando
faz o “gato” de luz, agua, internet do vizinho (consequência: diminuir seus dados), ele arca financeiramente com isso
(pagando a mais ou tendo seus dados reduzidos), mas em relação ao sinal dessas TV’s o sujeito não paga a mais nem
tem diminuído seus “dados” – o que ocorre é um estelionato mediante fraude, contra a empresa que presta o serviço.

Diferente do furto simples, este aqui é considerado um delito permanente, ou seja, enquanto houver essa
ligação clandestina, o delito está se consumando. É importante pois, para contar a prescrição do crime, é a partir de
quando cessa a ligação, por exemplo, ou seja, de quando se tem ciência dele – o delito permanente só tem sua
prescrição contada quando encerra sua permanência. Sendo um delito que se protrai no tempo, se surge uma novatio
legis enquanto ele está na fase de consumação – delito permanente – se a novatio, mesmo que aumente a pena, será
aplicada, ainda que prejudique o agente. Ex. antes a pena era de 1-4, quando o crime iniciou, entretanto, ao longo da
consumação, veio uma novatio com 1-6 anos – valerá a novatio, que é a lei que vigorará ao tempo da consumação
final do crime.

6. Qualificadoras

6.1. Análise dos parágrafos:

Par. 4º = qualificadora com pena de 2 a 8 anos.

 Inciso I = furto qualificado pelo rompimento de obstáculo – esse rompimento não pode ser feito
utilizando explosivo! Caso for, entra no 4ª-A. Portanto, esse rompimento pode ser arrombamento de
uma porta, uso de pé de cabra...

 Inciso II =
 Furto com abuso de confiança: esse abuso pressupõe uma relação mínima entre autor e
vítima, ex. colega de sala furta computador do outro, que o deixou simplesmente para ir ao
sanitário – questão que aparece muito envolvendo empregados domésticos, ou caixas de
supermercado – as questões objetivas, ás vezes, mostram uma quebra da relação de
confiança, ex. da patroa que sai e tranca seus itens num armário; se a empregada levar um
objeto deste armário, não entra o abuso de confiança, pois já não havia uma relação mínima
de confiança;

 Escalada: rompendo com a rota natural de acesso aos bens – ex. sujeito que pula muro para
roubar uma bicicleta no jardim, responde por invasão de domicílio e furto? A invasão é
considerada como crime meio, absorvido pelo crime fim, que é o furto = o máximo que
ocorre é a qualificadora da escalada, mas não dois crimes.

 Destreza: é uma habilidade diferenciada para a subtração da coisa – ex. sujeito que atravessa
grade minúscula de uma casa, mergulhar em janelas ou espaços pequenos, etc. – figura do
punguista, que é o sujeito que tem uma habilidade com as mãos tanta que a vítima não
percebe que está sendo alvo de uma subtração, sendo o famoso “mão leve”.

 Mediante fraude: qual a diferença dele para o estelionato (art. 171)? O verbo do art. 171 não
é subtrair, e sim obter uma vantagem indevida mediante fraude. Subtrair X obter declara que,
no furto com fraude, a vítima tem papel meramente passivo, sendo a fraude utilizada para
que o sujeito consiga se aproximar do bem com mais facilidade – no estelionato, como o
verbo é obter, a vítima necessariamente tem papel ativo, mesmo que seja enganada, tendo
papel ativo por estar sendo induzida ou mantida em erro, ex. sujeito que diz que, por fora da
autorizada, pode levar e consertar o ar condicionado do sujeito; ambos retiram o objeto da
parede, e a vítima entrega o bem ao agente, achando que vai ganhar alguma vantagem = o
agente toma o bem.

 Inciso III = furto com emprego de chave falsa (ou micha) – na verdade, essa chave é qualquer
simulacro de chave, sendo qualquer objeto como se chave fosse, mesmo que por mecanismos
eletrônicos de desabilitação de sistema. O que não entra no conceito de chave falsa é uma cópia de
chave – pode entrar em outra qualificadora, mas não como chave falsa.

 Inciso IV = furto praticado em concurso de 2 ou mais pessoas – se, no furto, tiver alguém maior de
idade e outro menor, entra a qualificadora para o maior? Entra sim, pois o menor de idade é
computado como pessoa, apesar de não responder pelo crime, nesse concurso do inciso IV – a pessoa
não precisa responder pelo delito, apenas estar presente ao lado do agente na execução.

Par. 4º-A = qualificadora de 4 a 10 anos, se o furto é praticado mediante o emprego de substâncias explosivas.

Par. 5º = qualificadora de 3 a 8 anos, se houver a subtração de veículo automotor (rodoviário, aquaviário ou


aeroviário – base no Código de Trânsito Brasileiro), que venha a ser transportado para outro Estado ou outro país.
Cuidado: questões de prova trazem CIDADES, sendo preciso avaliar se elas estão ou não no mesmo Estado – ex.
Juazeiro e Petrolina são cidades distintas. O veículo precisa efetivamente cruzar a fronteira para que a qualificadora
seja aplicada? Para os Tribunais Superiores pode sim, tendo outras provas, ex. troca de mensagens entre o motorista e
um receptador localizado em outro Estado; contexto de provas demonstrando inequivocamente o dolo do agente em
levar o carro para o exterior, em transpor a fronteira do Estado/país = seria tentativa, entretanto, dentro desta pena
qualificada.

Par. 6º = pena de 2 a 5 anos quando há subtração de semoventes, sendo domesticados ou domesticáveis.


Parágrafo do abigeato.

Par. 7º = pena de 4 a 10 anos, quando há o furto de substâncias explosivas. Cuidado para não confundir com o
par. 4º-A, que determina que os explosivos são o MEIO perante os quais o furto é praticado, já no 7º, diferentemente
de ser o modus operandi, é o OBJETO do furto.

6.2. Presença de mais de uma qualificadora:

No furto temos qualificadoras com pesos diferentes, em oposição ao que ocorre no homicídio, em que se aplica
qualquer qualificadora, e a outra entre em outra fase da dosimetria.

No furto, por sua vez, vai prevalecer a qualificadora mais gravosa, e as outras qualificadoras seguem a regra
geral (agravantes, se previstas em lei, ou como circunstância judicial do art. 59).

ART. 157 – ROUBO

1. Bem jurídico tutelado


É um crime considerado complexo pela doutrina, pois tutela mais de um bem jurídico: o patrimônio, a
integridade física e psíquica do agente. Aqui o furto já se diferencia do furto, pois no roubo a subtração envolve uma
ofensa também à integridade física e psíquica.

2. Formas de praticar o delito:

a) Mediante o emprego de violência: violência envolvendo o aspecto físico, sendo chamada de vis absoluta –
essa violência não é direcionada à coisa e sim à vítima – se alguém puxa um colar e o quebra, não viola o sujeito, a
vítima, e sim a coisa, não sendo um roubo, e sim um furto – ex. do roubo por arrebatamento, em que o sujeito ao
mesmo tempo em que puxa o objeto, empurra o sujeito.

b) Emprego de grave ameaça: envolve o aspecto psíquico, moral da vítima – chamada de vis compulsiva.

c) Reduzindo a vítima à impossibilidade de resistência: chamada de violência imprópria – pensar na redução


física do sujeito pois, segundo a professora, se for algo moral, envolvendo uma criança, por exemplo, remete à grave
ameaça – ex. golpe do boa noite Cinderela. Se alguém gerar uma overdose no outro, com o intuito de roubar, é
latrocínio!!, sendo uma morte com intuito do roubo.

3.Núcleo do tipo:

É o subtrair (com três modalidades, em sequência), sendo o mesmo do furto, tendo o sujeito a intenção de se
assenhorar a coisa “animus rem sibi habendi”. Há um crime no CP, inclusive com a mesma pena do roubo, de 4 a 10
anos, que é o de extorsão (constranger alguém, com violência ou grave ameaça, no intuito de obter vantagem
econômica... Crime do art. 158).

Na extorsão temos um constrangimento, com violência ou grave ameaça para, através dele, o sujeito obter
vantagem econômica – qual a diferença entre subtrair e constranger para obter o proveito? Quando falamos em
subtrair, a vítima do roubo tem papel puramente passivo, já na extorsão, a vítima constrangida tem papel ativo,
cooperando, fazendo ou deixando de fazer algo, tendo papel ativo.

Uma segunda forma da diferença é o momento em que se direciona a violência ou grave ameaça: no roubo é o
momento imediato (ex. sujeito aqui, com revólver diante de você, pedindo seu relógio); na extorsão, a vítima é
constrangida com violência ou grave ameaça para um momento futuro/mediato (ex. Cigano ameaçando o sujeito,
dizendo que tem até o dia X para pagar o empréstimo, caso contrário, matará o cônjuge – esperar da vítima papel
ativo, esperar que ela ceda ao constrangimento).

3.1. Consumação:

Além disso, a extorsão é um crime de natureza formal, que se consuma no momento do constrangimento da
vítima, ainda que os agentes não consigam obter o proveito desejado. Súmula 582 do STJ diz que o delito de roubo
está consumado quando o sujeito inverte a posse da coisa, ainda que, por um breve espaço de tempo, e ainda que a
coisa seja recuperada ao final, sendo prescindível a posse pacífica = teoria da amotio.

3.2. Concurso de crime:

Via de regra, acontece no delito de roubo. Ex. única conduta o sujeito rouba três vítimas distintas, provocando
três resultados distintos = concurso formal, caracterizado pela presença de mais de uma vítima – comum em
transportes coletivos, pontos de ônibus, etc. Se for subtração de vários itens de uma mesma vítima, num mesmo
momento, não é concurso, é crime único! Pode influenciar na dosimetria na parte das CJ, como consequências do
crime, dizendo, por exemplo, que a vítima sofreu com grave perda patrimonial.
4. Roubo impróprio: PROVA

Previsto no par. 1º do art. 157 – ele é punido com a mesma pena do caput, do roubo próprio (4 a 10 anos e
multa) – normalmente num crime de roubo propriamente dito, o sujeito emprega a violência, a grave ameaça, para,
em seguida, conseguir fazer a subtração – no impróprio, inverte-se a ordem, primeiro ocorrendo a subtração, mas,
para garanti-la, o sujeito precisa usar de violência/grave ameaça, ex. senhora pela rua, no celular e muito distraída; o
sujeito o subtrai e sai correndo; a vítima grita e, quando o sujeito se vê acuado pelas pessoas na rua, vira para trás e
dispara. Por isso que no latrocínio não importa a sequência, no mesmo raciocínio de que a violência/grave ameaça são
formas de se garantir a subtração, não importando quem vem primeiro.

4.1. Consumação e tentativa:

O roubo impróprio só ocorre no segundo momento, quando se emprega a violência/grave ameaça.

Sobre a tentativa: no roubo próprio, não há dúvidas = sujeito emprega violência/grave ameaça, e não consegue
subtrair a coisa, por circunstâncias alheias à sua vontade, será um roubo tentado.

Já no impróprio, se não chegar no segundo momento, não havendo violência/ameaça, se fala em furto, se
tratando só da fase da subtração, e não roubo – ou seja, para a maioria da doutrina, no roubo impróprio não cabe
tentativa! Há doutrinadores que usam o exemplo de um sujeito que subtrair o celular de alguém, a vítima o segura
pela camisa, o agente tenta bater na vítima, mas essa se esquiva, levando a uma “tentativa de violência” = nesse
exemplo, ocorrendo a subtração, mas não a violência, é roubo impróprio tentado.

5. Causas de aumento de pena:

Par. 2º, I = tínhamos o roubo com aumento de pena de 1/3 a 1/2, se houvesse emprego de arma – foi um inciso
revogado pela Lei 13.654/18, indo para o par. 2º-A.

Par. 2º, II = concurso de duas ou mais pessoas (para o furto e para o roubo) – no art. 155, no furto, a pena é de
1 a 4 anos, e no par. 4º, a pena dobra diante do concurso de 2 ou mais pessoas; então o crime que teoricamente é
mais leve, que é o furto, o concurso dobra a pena; no roubo, sendo crime mais grave, de pena de 4 a 10, o concurso
geral o aumento de pena de 1/3 a 1/2; o que a jurisprudência começou a fazer: requerimentos pedindo que se
desconsiderasse o par. 4º do furto, aplicando o par. 2º do roubo; no furto seria qualificadora, de forma descartada, e
se consideraria a fração do roubo como aumento de pena; pode o juiz, no caso concreto, fazer uma “tertia legis”,
misturando uma e outra criando uma nova lei = não!, mesmo que benéfica ao réu. Súmula 442, STJ: “É inadmissível
aplicar no furto qualificado pelo concurso de agentes a majorante do roubo”.

Par. 2º, III = aumento de pena se a vítima estava em serviço de transporte de valores e o agente conhecia tal
circunstância – inciso criado com um objetivo específico, para roubos a carros forte, mas passou a ser aplicado de
forma mais ampla, a exemplo dos casos de office boy saindo com valor, e o agente tem conhecimento (não engloba
saidinha bancária, pois neste caso o sujeito é pego e fornece a senha). Ex. sujeito saca 3 mil reais em dinheiro, saindo
do banco, tendo visto o saque, aborda, anuncia o assalto e leva o dinheiro; mesmo havendo transporte de valores, é
preciso que o sujeito esteja EM SERVIÇO de transporte, ou seja, os valores são de terceiros, não entrando no aumento
quando a vítima transporta recursos/valores próprios.

Par. 2º, IV = também visto no furto, sendo o aumento se pena se existe a subtração de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou País.

Par. 2º, V = fala do roubo com restrição de liberdade da vítima – diferença para saidinha, para extorsão
mediante sequestro, etc.

Par. 2º, VI = subtração de substâncias explosivas ou de artefatos que possam produzir explosivos – este par. 2º
tem aumento de pena de 1/3 a 1/2.
5.1. Roubo x Saidinha bancária:

No roubo com restrição de liberdade da vítima, o sujeito rouba, mas para garanti-lo, restringe a liberdade da
vítima – indica que a vítima tem papel completamente passivo, tendo na sua restrição de liberdade apenas um
facilitador para que o agente acesse os bens, se aproxime deles = meio para facilitar a subtração. Ex. enquanto um
capta os bens, o outro mantém os moradores da casa na cozinha – vítimas com papel meramente passivo.

Situações em que a pessoa é vítima da saidinha bancária, o sujeito a coloca dentro do carro e a leva para que a
própria vítima faça os saques, forneça as vantagens indevidas – este delito é diferente do roubo com restrição de
liberdade pois, neste último, a vítima tem papel passivo, enquanto que na saidinha a vítima é ativa, colocando o dedo
no sistema, colocando a senha = modalidade de extorsão, presente no art. 158, par. 3º, em que a privação de
liberdade da vítima é condição para que o sujeito obtenha a vantagem pois a vítima tem papel ativo. O formato do
par. 3º não se confunde com a extorsão, pois, apesar da vítima ter papel ativo, na saidinha ela tem a privação de
liberdade.

Roubo e extorsão tem pena de 4 a 10 anos, enquanto que a extorsão com privação de liberdade da vítima
(saidinha) tem pena de 6 a 12 anos, sendo mais grave, portanto.

5.2. Sequestro x Extorsão mediante sequestro:

Dois crimes que também envolvem a privação de liberdade da vítima. O crime de sequestro está previsto no
art. 148 do CP – o bem jurídico é a liberdade individual, não havendo, neste crime, finalidade econômica, como ocorre
na extorsão mediante sequestro. No crime de sequestro existem diversas finalidades, a ex. do caso de Eloá.

Na extorsão mediante sequestro, presente no art. 159 do CP, há o envolvimento SEMPRE de uma dupla
sujeição passiva, ou seja, existem, no mínimo, duas vítimas, pois há aquele que está, de fato, sendo privado de
liberdade, e aquele que vai fornecer a vantagem indevida ao autor. Crime definido em dois momentos: privação de
liberdade de um + extorsão de outrem, que entrega ao sujeito o preço/vantagem indevida como condição ao resgate.

O crime se consuma se o agente libera a vítima antes de receber o resgate? Sim, pois é um crime formal, se
consumando com a privação de liberdade da vítima e o dolo patrimonial, mesmo que não tenha recebido, de fato, o
dinheiro (recebimento do resgate é mero exaurimento), bastando ter coagido a família para tal. Privação de liberdade
+ intenção do recebimento patrimonial.

Esse crime do art. 159, quando resulta em morte, tem a pena mais elevada do Código, de 24 a 30 anos.

6. Causas de aumento do par. 2º-A:

Traz um aumento de pena de 2/3, para seus dois incisos – parágrafo criado com a Lei 13.654/18. Estava no CP
um aumento de pena de 1/3 a 1/2 se houvesse emprego de arma, mas agora apareceu neste parágrafo com nova
descrição:

Par. 2º-A, I = aumento com emprego de ARMA DE FOGO. Como o Código agora exigiu que a arma seja de fogo,
as chamadas armas brancas e as impróprias (garrafa de cerveja quebrada, por ex.) NÃO TÊM AUMENTO DE PENA, são
roubo e grave ameaça, do mesmo modo. Essa novatio legis veio a beneficiar, tirando o aumento de pena dos sujeitos
condenados por uso de arma branca e imprópria.

Se essa arma de fogo estiver desmuniciada, deixa de haver o aumento de pena? Não, pois ela não está apta
para atirar naquele caso, mas tem aptidão para, de fato, dar tiro, sendo um meio relativamente incapaz.

E a arma quebrada? Aqui, de fato, não incide o aumento de pena, por ser considerada um meio absolutamente
ineficaz para o tiro, não tendo a potencialidade lesiva para tal.

E a arma de brinquedo (simulacro)? Também não enseja o aumento de pena, por não ter também
potencialidade lesiva, não sendo arma de fogo, tampouco.
É preciso apreender a arma para gerar o aumento de pena? Imagine situação em que o sujeito comete o crime
de roubo na Barra, com inúmeras testemunhas para além da vítima – durante a perseguição, ele jogou-a no mar,
impedindo que a arma fosse apreendida para perícia. A prova testemunhal supre a perícia da arma? A maioria da
jurisprudência diz que sim, indicando que a existência da arma pode ser comprovada por outros meios, a exemplo
pela prova testemunhal. Mas e se fosse uma arma de brinquedo ou uma quebrada? Se autoriza aumentar a pena de
alguém por uma arma que não se apreendeu.

Pode o agente que comete roubo com emprego de arma de fogo, além de receber pelo roubo majorado, pelo
porte ilegal de armas pelo Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03) – a princípio sim, a jurisprudência elenca dois
bens jurídicos distintos, um sendo o do roubo, patrimonial, sendo este último o bem jurídico, e o outro é a paz pública,
relacionada ao Estatuto.

Cumplicidade através das ações neutras: ladrão procurando advogado para técnicas de roubo – há a
participação do advogado no roubo, ele responde por tal durante uma consultoria?

Par. 2º-A, II = traz o roubo praticado mediante o emprego de substâncias explosivas ou artefatos que possam
causar explosão – os explosivos são meio para que o roubo aconteça.

7. Roubo qualificado: PROVA

Também sofreu alteração em 2018: par. 3º do CP traz dois incisos:

I – resulta em lesão grave da vítima = sujeito, para roubar a bolsa da vítima, dá um murro em seu rosto e
quebra 5 dentes, causando nela uma lesão grave – roubo que normalmente tem pena de 4 a 10, terá a de 7 a 18 anos.

II – roubo com resultado morte = pena de 20 a 30 anos – este roubo é o chamado LATROCÍNIO. Lembrar que
não é um roubo seguido de morte, não existindo este tipo penal, pouco importando se a morte vem antes ou depois,
ela é utilizada para garantir a subtração. No latrocínio há um somatório de condutas: uma subtração de um item da
vítima + uma morte – frisar isso para saber quando ele se consuma e quando é tentado.

Subtração consumada + morte consumada = latrocínio consumado. Subtração tentada + morte tentada
= latrocínio tentado (pena com a diminuição da tentativa, de 1 a 2/3). O problema é nos casos em que há
mistura:

Subtração consumada + morte tentada OU subtração tentada + morte consumada (sujeito que toma um
tiro mas cai por cima da mochila que seria o objeto do roubo) = súmula 610 do STF: diz que o latrocínio está
consumado quando a morte se consuma, ainda que o agente não subtraia os bens da vítima.

Se o STF considera a morte na consumação, não o patrimônio, o que efetivamente se tutela no


latrocínio? Não seria um crime contra a vida, não deveria ir a Júri?

Crimes Contra a Dignidade Sexual

1. Bem jurídico tutelado:

Até 2009, esses crimes eram chamados de Crimes contra os Costumes – quando falamos em dignidade sexual o
que muda? Contra os costumes era uma expressão que atrelava a tipificação a conceitos morais e, sobretudo,
patriarcais, que julgavam muito o comportamento feminino.
A lei 12.015/09 foi a lei que alterou o título deste capítulo, além de uma série de outras alterações nesses
crimes. Ao mudar o título, se está, na verdade, abarcando uma das vertentes da dignidade da pessoa humana, em
especial no sentido de liberdade da expressão sexual.

2. Lei 11.106/05:

Essa lei já veio trazendo algumas mudanças extremamente relevantes nesses crimes que ainda eram chamados
de “conta os costumes”. Dentre as mudanças, temos três principais:

 Rapto e rapto consensual (o crime de rapto trazia, textualmente, que a conduta criminosa era raptar mulher
honesta para fins libidinosos – existia, até 2005, no CP, o conceito de mulher honesta, como se a “desonesta”
não merecesse a tutela penal – art. 219 e 220);
 Retirou-se também o delito do art. 240, o de adultério (apenas os homens não eram condenados por
adultério, mas as mulheres sim – homens frequentando casas de prostituição era um mero costume,
afastando a tipicidade à época);
 Art. 107 do CP haviam duas causas de extinção da punibilidade (casamento da mulher vítima de estupro com
o estuprador, e outra que era se a mulher contraísse casamento com terceiro, devendo, neste último caso, a
mulher manifestar interesse expresso em dar continuidade a ação penal – ambos incisos revogados).

ART. 213 – ESTUPRO

1. Tipos penais anteriores:

Antes de 2009, haviam dois crimes que tutelavam o que hoje está inserido no estupro atual: o estupro era
constranger (um homem), mediante violência ou grave ameaça, uma mulher a ter conjunção carnal (penetração do
pênis da vagina), no art. 213; os outros atos libidinosos estavam no art. 214, do CP, e se inseriam no crime de atentado
violento ao puder (constranger uma vítima, homem ou mulher, mediante violência ou grave ameaça a praticar, ou
permitir que com ela fosse praticado, atos libidinosos diversos da conjunção carnal).

Depois da lei 12.015/2009: teoricamente, quando se abre o CP, encontra-se o art. 214 como revogado, mas não
quer dizer que a conduta criminosa contida nele desapareceu, pois esta continua no código = continuidade normativa
do tipo/típica, em que o CP revoga o artigo, mas a conduta continua a ser proibida. Hoje o que é o art. 213 (estupro):
fusão dos dois artigos anteriores, “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, para que a vítima
pratique a conjunção carnal, para que pratique o ato libidinoso, ou para que permita que com ela se pratique o ato
libidinoso”.

2. Hediondez:

Nas formas simples ou qualificadas, é um crime hediondo, previsto na lei 8.072/90. Pena do caput, que é a da
forma simples, é de 6 a 10 anos.

3. Qualificadoras:

Dois parágrafos, mas três qualificadoras:

 Par. 1º: pena de 8 a 12 anos, se esse estupro resulta em lesão grave, ou se a vítima era menos de 18 e maior
de 14;
 Par. 2º: pena de 12 a 30 anos, se, em consequência do crime de estupro, houver resultado morte (mesma
pena do homicídio qualificado); situação preterdolosa, ex. sujeito com medo de ser reconhecido pela vítima é
concurso de crimes, em que ele comete dois crimes, um para ocultar o outro.

3.1. Vítima menor de 14 (art. 217-A):

Se a vítima é menor de 14, aparece a figura da pessoa vulnerável – esse conceito de pessoa vulnerável substitui
um conceito anterior de “presunção de violência”, mas não se pode haver presunção contra o réu, o que abria espaço
para inúmeras outras discussões. Vulnerável é a pessoa menor de 14, até a véspera do aniversário, tendo 14, não o é.

Dentro do art. 217-A temos um estupro específico para esta vítima: estupro de pessoa vulnerável, com uma
pena diferenciada em relação ao estupro do art. 213, sendo aquela de 8 a 15 anos.

Entretanto, existem outras espécies de vulnerabilidade, sendo previstas no par. 1º deste art. 217-A, e indo
além do critério etário, sendo uma ampliação feita pelo Código: vítima com enfermidade ou doença mental, sem
discernimento para a prática do ato (o conceito do menor é absoluto, mas o do doente mental é relativo, pois existem
inúmeros sujeitos com doenças mentais que possuem capacidade de discernimento, e se casam, por exemplo) OU
alguém que, por qualquer outra razão, não possa oferecer resistência.

3.2. Consentimento ou relações anteriores:

Par. 5º (mudança com a lei 13.718/28): as penas previstas no caput e parágrafos aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ter mantido relações sexuais anteriores = não exclui o
crime, continua sendo estupro de vulnerável – peremptório – independente dessas situações, essas pessoas não
podem, não tem capacidade alguma de consentir.

Novos Tipos Penais

1. Importunação sexual (art. 215-A – Lei 13.718/2018):

Esse artigo diz que, praticar contra alguém, e sem sua anuência, ato libidinoso, com objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro, é crime de importunação sexual – aqui não existe o elemento violência ou grave
ameaça. A pena para este artigo é de 1 a 5 anos, se o fato não passar a constituir crime mais grave (estupro).

2. Pornografia da vingança (art. 216-B e 218-C – Leis 13.772/18 e ... respectivamente):

A conduta do 216-B é de filmar, fotografar, gravar, um ato sexual ou cena de nudez sem a anuência da outra
parte – captação de imagem não autorizada.

A conduta da divulgação das imagens faz parte do art. 218-C, sendo este um crime bem amplo: “oferecer,
trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor a venda, distribuir ou divulgar por qualquer meio, fotografia, vídeo
ou outro registro audiovisual que contenha cena...” – distribuição de estupro, de vulnerável ou mesmo de sexo. Par.
1º com aumento de pena de 1 a 2/3 se o crime é praticado por agente com fim de vingança ou humilhação OU
existindo entre autor e vítima uma relação íntima ou de afeto. Ex. ex do rapaz, que não teve relação íntima com a
moça, por vingança, divulga vídeo = cabe sim o aumento, pelo OU.

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