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MATERIAL DE APOIO – AULA 01
Nas próximas aulas, examinaremos os tipos penais, espero que, após a leitura do
material, todos considerem a parte especial fácil de entender e, quem sabe, até uma
leitura agradável. O material é longo, mas completo.
Reitero: se vocês estiverem afiados na parte geral, tudo aqui ficará muito simples e lógico.
Bons estudos,
Como preambulo do estudo da Parte Especial do Código Penal, vamos observar que a
preocupação do legislador consiste na proteção de diversos bens jurídicos.
São 11 os títulos existentes que traduzem os bens que foram objeto de tutela pela lei
penal, títulos esses que, por sua vez, foram subdivididos em capítulos, individualizando,
ainda mais, os bens juridicamente protegidos pelos tipos penais incriminadores.
Tal divisão não é aleatória, por óbvio, obedecendo uma classificação sistemática, de
modo a aglutinar crimes de acordo, principalmente, com os bens jurídicos afetados. Por
exemplo, o primeiro Título contém os crimes contra as pessoas; este subdivide-se em
capítulos, sendo o primeiro de crimes contra a vida, passando-se pelo de crimes contra
a honra, até chegar ao de crimes contra a liberdade individual.
No Título I, é relativo aos Crimes contra a Pessoa, que é composto pelos seguintes
capítulos e seções:
Tipo penal - Para atender ao princípio da legalidade, a lei cria o tipo, que contém todos
os elementos descritivos de um crime. É a descrição abstrata de um crime, “o conjunto
dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal”.
O ponto de partida do aplicador da lei penal é o tipo, pois é ele que descreve a conduta
proibida, que nega valores jurídico-penais. O juiz não poderá criar tais valores, para não
usurpar função que compete ao legislador, como representante da vontade geral. O
legislador define as condutas lesivas a certos valores jurídico-penais e ao juiz compete a
verificação da adequação (tipicidade) entre uma conduta concreta e aquela descrita pela
lei (tipo).
2.1. HOMICÍDIO
Homicídio é a injusta morte de uma pessoa praticada por outrem. Nosso CP prevê várias
modalidades do crime:
- Homicídio doloso simples;
- Homicídio doloso privilegiado;
- Homicídio doloso qualificado;
- Homicídio culposo;
- Homicídio culposo majorado;
- Homicídio doloso majorado
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Objeto jurídico – O que se busca proteger é a vida humana extrauterina, que é marcada
pelo início do parto. A doutrina diverge quanto ao momento do começo do parto, mas
prevalece ter como limite mínimo o instante marcado pelas dores das contrações
expulsivas, com o rompimento do saco amniótico.
Sujeito passivo – Qualquer pessoa com vida. Não é possível o homicídio de pessoa já
morta (configura crime impossível, por impropriedade absoluta do objeto material - art.
17 do CP).
Competência – como regra, é aplicado o art. 70 do CPP, que indica que a competência é
determinada pelo lugar em que se consumou o crime. Ocorre que tal entendimento é
mitigado na hipótese em que a morte ocorre em lugar diverso daquele onde se iniciaram
os atos executórios, determinando-se a competência no local de início da execução. Tal
mitigação visa a aplicação da verdade real e a facilitação da coleta de provas.
O delito previsto no caput do art. 121 do CP é uma categoria residual, na medida em que
o homicídio será considerado simples quando não for privilegiado (§1º), qualificado (§2º,
I a VIII) ou culposo (§3º). Além disso, cabe destacar que o homicídio simples não é
considerado hediondo, salvo quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente e quando o crime é qualificado (art.
121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII).
Relevante valor social ou moral - Embora o homicídio seja um crime bastante grave, em
tais casos é possível dizer que há certa “nobreza” na motivação do agente. Isso não afasta
o delito, mas permite a redução da pena. Diferenciam-se porque o valor social se refere
a interesses da coletividade (ex.: matar o traidor da pátria, matar um traficante que
prejudica a comunidade etc.), enquanto o valor moral diz respeito a interesses individuais
(ex.: matar o estuprador da filha; matar um parente gravemente enfermo, atendendo seu
pedido, para abreviar um sofrimento insuportável – eutanásia etc.).
O motivo de valor social ou moral deve ser relevante, ou seja, expressivo, importante,
notável e configura atenuante genérica (art. 65, III, a, do CP). Entretanto, reconhecida a
minorante do homicídio, a atenuante não será aplicada para evitar o bis in idem.
A provocação justa não permite diminuição da pena (ex.: terceiro guincha o veículo do
agente parado em local proibido). Por fim, o crime deve ser praticado logo em seguida à
provocação (impulso imediato), isto é, deve haver uma relação de imediatidade (não é
um critério com precisão matemática). Em consequência, a minorante é incompatível
com a premeditação.
Nos termos do artigo 65, III, “c”, última parte, do Código Penal, é circunstância atenuante
o fato de ter o agente cometido o crime “sob a influência de violenta emoção, provocada
por ato injusto da vítima”. Para configuração da atenuante, basta que a infração tenha
sido praticada sob a influência da violenta emoção, não sendo preciso o domínio da
emoção violenta. Além disso, a relação de imediatidade entre a provocação da vítima e
a reação do agente, exigida na causa de diminuição de pena, não aparece na atenuante.
QUESTÃO DE FIXAÇÃO
2ª) Em determinado set de filmagens, Hades, produtor técnico, entrega arma de fogo
verdadeira, devidamente municiada, para o ator Ares, fazendo-o acreditar que se trata
de arma cenográfica, sem potencial de efetuar disparos. Já tendo lido o script e
presenciado os ensaios, Hades sabia previamente que, nas cenas que seriam filmadas,
Ares deveria apontar a arma para Atena e, após breve diálogo, efetuar o disparo para a
cena fatal. Querendo a morte de Atena, em razão de desavenças pretéritas, Hades faz a
substituição da arma, fornecendo-a diretamente a Ares, irrogando o famoso “quebre a
perna”. Ares efetua o disparo e ceifa a vida de Atena. Do ponto de vista jurídico-penal:
a) Ares e Hades responderão por homicídio doloso, o primeiro como autor e o segundo
como partícipe;
b) Ares e Hades responderão por homicídio doloso, o primeiro como partícipe e o segundo
como autor;
c) Ares e Hades responderão por homicídio doloso, como coautores;
d) Ares não responderá por crime e Hades responderá por homicídio doloso.