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6. ABORTO
Conceito de aborto – É a interrupção prematura da gravidez, causando a morte do
embrião ou do feto. Aqui, há proteção da vida intrauterina.
6.1 Espécies de aborto:
a) espontâneo ou natural – ocorre em razão de alguma patologia no organismo
materno ou no desenvolvimento do feto. É involuntário e, obviamente, não
constitui crime;
b) acidental – resulta de causa não prevista ou desejada, como trauma decorrente
de uma queda ou ingestão de fármaco que produz inesperado efeito abortivo.
Também não constitui crime, pelo fato de não se punir o aborto culposo;
c) intencional ou provocado – interrupção deliberada da gravidez, por ato da
gestante ou de terceiros, resultando na morte do embrião ou do feto. O aborto
intencional pode ser:
c.1) criminoso – interrupção forçada da gravidez sem qualquer permissivo
legal. Está tipificado nos artigos 124 a 126 do Código Penal. No Brasil, é
criminoso o denominado aborto social ou econômico, praticado por razões
financeiras ou sociais (ex.: gestante em situação de miséria) e o aborto
honoris causa, praticado para ocultar situação desonrosa (ex.: filho fora do
casamento).
c.2) legal ou permitido – admitido pela legislação nas hipóteses em que não
houver outro meio de salvar a vida da gestante (aborto necessário ou
terapêutico) ou se a gravidez resultar de crime sexual e for precedido de
consentimento da gestante ou de seu representante legal (aborto
humanitário ou sentimental). Está previsto no artigo 128 do Código Penal.
Tem-se entendido que o aborto eugênico ou eugenésico não configura
crime desde que inviável a vida extrauterina do feto (voltaremos ao tema
mais à frente).
Sujeito ativo – Trata-se de crime de mão própria, de modo que apenas a própria
gestante pode praticar as condutas descritas no tipo penal. Não admite coautoria,
mas admite a participação, caso terceiro preste auxílio moral ou material (ex.:
induzir a gestante a provocar aborto e/ou lhe fornece o medicamento abortivo).
Contudo, se o terceiro praticar ato executório do aborto, responderá pelo crime do
art. 126 (“praticar aborto com o consentimento da gestante”).
Se, em razão das manobras abortivas, o feto for expulso com vida e o agente
praticar nova conduta visando à sua morte, prevalece que haverá dois crimes:
tentativa de aborto + homicídio (ou tentativa de aborto + infanticídio, se presentes
os requisitos deste), vez que a conduta criminosa recaiu sobre a vida extrauterina.
6.1.2 - Provocar aborto sem o consentimento da gestante (Art. 125 e 126-CP)
OBSERVAÇÃO: Matar uma mulher que sabe estar grávida configura também o
crime de aborto. Há, no mínimo, dolo eventual. O agente responderá pelo
homicídio em concurso formal com o crime de aborto.
Nos termos do art. 127, as penas cominadas nos dois artigos anteriores são:
De fato, não teria cabimento sua aplicação à gestante, pois não se pune a autolesão.
Todavia, a restrição beneficiou o terceiro que auxilia a gestante a praticar o
autoaborto, pois, ainda que esta sofra lesão grave ou venha a falecer, responderá
como partícipe do art. 124 (1ª parte), na forma simples. Há posição no sentido de
que o terceiro, nesse caso, responderia também pelo crime de lesão culposa ou
homicídio culposo (Masson, por exemplo).
Pessoa que pode praticar o aborto – A lei restringiu a aplicação do artigo 128 aos
casos de aborto praticado por médico. Buscou-se maior controle e segurança na
realização deste tipo de procedimento.
Entende-se majoritariamente que o art. 128 traz duas causas especiais de exclusão
de ilicitude. São elas:
a) Aborto necessário ou terapêutico – É a interrupção lícita da gestação, realizada
por recomendação médica quando há risco para a vida da gestante. Não se exige
que o perigo para a paciente seja atual, diferentemente da excludente prevista no
artigo 24 (estado de necessidade). No entanto, não há outro meio capaz de salvar a
vida da mulher grávida.
O STF, na ADPF 54/DF. Rel Marco Aurélio. j. 11 e 12.04.2012, decidiu que não é crime.
O aborto de feto anencéfalo é fato atípico. Segundo o STF, os anencéfalos são
natimortos cerebrais. Há certeza científica de que a vida extrauterina é inviável. A
Lei de Transplantes (Lei nº 9.434/97) estabelece como marco final da vida, o
momento em que se dá a morte encefálica. Logo, a contrário sensu, a atividade
cerebral é um pressuposto para a existência de vida. Outros argumentos
invocados: dignidade da pessoa humana e liberdade de autodeterminação.
ATIVIDADE DE FIXAÇÃO
1ª) Segundo o Código Penal Brasileiro, logo em seu art. 1º, “Não há crime sem lei anterior
que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. A partir dessa determinação e
considerando o definido para os Crimes Contra a Vida (Capítulo I, do Título I, do Código
Penal Brasileiro), analise as afirmativas abaixo.
I. O crime de homicídio, definido pelo tipo penal “matar alguém”, será sempre majorado
(terá causa de aumento de pena) nas hipóteses de ter sido praticado por milícia privada ou
grupo de extermínio.
II. Quando alguém, possuindo vontade de tirar sua própria vida, realiza tal conduta,
consubstanciando sua vontade inicial por palavras de outra pessoa, não haverá fato
criminoso a ser punido.
III. Acerca das condutas que configuram o Crime de Aborto, é preciso destacar que o
Código Penal, expressamente, determina não ser típico o aborto necessário, o aborto no
caso de gravidez resultante de estupro e, por fim, o aborto nos casos de fetos anencéfalos.
a) I apenas;
b) I e II apenas;
c) II e III apenas;
d) III apenas;
2ª) Com referência aos crimes contra a vida, sabe-se que alguns são tipificações do
descrito como homicídio, no artigo 121 do Código Penal, e que outros estão descritos em
artigos próprios, também nesse ordenamento jurídico. O aborto sentimental pode ser
realizado quando o concepto for fruto de estupro, desde que exista ocorrência policial e
autorização judicial.
( ) CERTO
( ) ERRADO
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