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REVISÃO ABORTO

O bem jurídico tutelado é a vida, ainda que intrauterina. A doutrina penal brasileira
entende que é considerado vida desde a fecundação. E que se encerra a tutela desse
bem jurídico nessas circunstâncias a partir da primeira contração expulsiva ou da
primeira incisão do médico no caso de cesárea.
E o aborto nada mais é que a ocisão da vida intrauterina, isto é a interrupção da
gravidez com a consequente morte do feto. As decisões judiciais relacionadas ao tema
guardam relação com o princípio da dignidade da pessoa humana a partir do
nascimento, se houver a morte da criança, naquele mesmo momento pode ser
enquadrado em infanticídio (art. 123) ou homicídio (art. 121).
Pílula do dia seguinte é aborto? Não é, pois tem o caráter impeditivo.
O supremo tribunal federal pacificou a questão no julgamento da ADPF 54, ao
considerar inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez
de feto anencefálico tipifica os arts. 124, 126 e 128, I e II, do cp. A decisão da mãe em
abortar não está vinculada a obtenção de anuência judicial.
O aborto ele pode ser espontâneo ou criminoso. Não se pune aborto espontâneo,
culposo, pois se trata de aborto natural. Porém, se pune o aborto criminoso, doloso, e
também tem o legal. Nos casos em que a figura é agravada pelo resultado, constitui
crime praeterdoloso art. 129, § 2º, v, do CP, dolo na conduta antecedente e culpa na
conduta consequente. No caso de alguém lesionar a gestante e provocar o aborto.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.

1ª parte, autoaborto: a gestante, por qualquer meio (crime de forma livre), provocou
ou deu causa ao aborto. Se encaixa nesse tipo penal.
2ª parte, consentir: um terceiro com o consentimento valido da gestante, prática o
fato.
Sujeito ativo: crime próprio, apenas a gestante pode cometê-lo, admite a participação
de terceiros a que se comunicam a condição da autora por força do art. 30, CP.
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de
caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
EXEMPLO: JOÃO, ANTONIO e JOSÉ combinam a prática de um roubo, sendo que JOÃO
o faz ostentando arma de fogo, com a concordância dos demais. Neste caso, todos
responderão por roubo majorado pelo emprego da arma, mesmo que apenas um deles
a tenha utilizado.
Ou seja, se auxiliar a gestante, responde pelo art. 124, combinado com o art. 29 caput.
No caso participe dos atos executórios, responderá pelo art. 126.
Como corresponde a exceção a teoria monista, quando a gestante consente que
outrem pratique nela o aborto, ela é enquadrada no art. 124 e o outro, no art. 126 do
CP
Sujeito passivo: embrião

Admite tentativa, pois se trata de crime material e plurissubistente (No crime


plurissubsistente, a conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a
consumação)

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

Parecido com o art. 124, mas nesse caso há vícios no consentimento, seja sem ele ou
com o consentimento inválido. Considera-se consentimento inválido se não é maior
de 14 anos, é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência. Possui elevado valor ofensivo, não cabe os
institutos da 9099/95.
O tipo subjetivo também é o dolo, nenhum terceiro aborta sem querer, nos casos é
claro de crime praeterdoloso.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, crime comum.
Sujeito passivo: a gestante e o feto.
Admite-se tentativa, nos mesmos moldes do artigo anterior

 Motivo torpe, aquele que executar o procedimento com o intuito de lucrar


responderá também por uma circunstância agravante. Cuida-se do motivo
torpe (CP, art. 61, II, a), no caso, a cupidez
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime
I - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
a) por motivo fútil ou torpe;
Exemplo de trigêmeos: Se o terceiro, sujeito ativo, não sabe que a mulher está
grávida responde por 1 crime. Se, no entanto, conhece a situação gravídica, responde
em concurso formal impróprio, de acordo com o art. 70. No caso 3 abortos somados.
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a
mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação
ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de
desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:


(Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a
gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência
Nesse caso se exige o consentimento da gestante. Sem que haja vicio. No caso em
que ela desista, até que não seja mais possível evitar o aborto, o agente responderá
pelo crime do art. 125.
O tipo subjetivo é o dolo, os sujeitos são os mesmo do artigo anterior e admite forma
tentada.
Os tipos do art. 125 e art. 126, são agravados pelo resultado no caso de morte e
lesão. Na hipótese de o aborto não se consumar, mas produzir-se na gestante a lesão
grave ou o óbito, deve o agente responder pelas formas agravadas do art. 127.
O médico que praticar o aborto também pode responder por associação criminosa.
Art. 126 + art. 288.
1ª situação: namorado compra abortivo pra namorada ministrar nela mesma.
2ª situação: namorado compra pra enfermeira ministrar na namorada CIENTE.
Gestante (art. 124)
(art. 124)
Namorado Gestante (art. 124)
(art. 126, partícipe)
Enfermeira (art. 126)
3ª situação: se a namorada não estava ciente, o namorado responde pelo art. 125 e a
enfermeira também.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou
dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte
Causas de aumento de pena aplicadas na terceira fase da dosimetria no caso de lesão
aumenta-se 1/3 no caso de morte na consequente há a duplicação, 2X. não há dolo, é
como se fosse uma consequência, trata-se de crime praeterdoloso.
Em consequência do aborto (houve aborto): responde pelo art. 125 ou art. 126 + art.
127.
Em consequência dos meios (não houve aborto): responde pelo art. 125 + art. 127.
Atenção: o art. 127 só pode funcionar com os arts. 125 e 126.
Aborto e homicídio: Se uma pessoa tendo conhecimento do estado gravídico desfere
golpes de faca na barriga, ou efetua disparo de arma de fogo. Responde por dois
crimes em concurso forma impróprio. O aborto e o Homicídio, na forma do art. 70.
Trata-se de dois crimes dolosos em que a morte da gestante reputa-se em 1º grau e o
do feto em 2º grau.
Aborto e lesão corporal: inconfundível pois o que difere um do outro é o dolo, no caso
da lesão corporal a intenção não é suprimir a vida do nascente e sim de ferir a mulher.

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a
mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação
ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de
desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide


ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
representante legal.
O art. 128 é uma excludente de ilicitude e abre a possibilidade de existir 3 hipóteses
que são: o aborto necessário, sentimental e de feto anencefálico (ADPF 54).
O aborto necessário é o praticado por médico para salvar a gestante de perigo atual
ou eminente. Não é necessário o seu consentimento nem de seus familiares, nesse
caso se protege a vida da gestante. A excludente também abarca a parteira que está
realizando o ato, com vistas para o estado de necessidade do momento. (CP, art. 24)
O aborto sentimental trata dos casos de estupro, não há necessidade de autorização
judicial, mas a parte se vincula a ela uma vez pedida a autorização. É imprescindível a
autorização da gestante. Pode ser comprovado por qualquer meio e o sujeito ativo
pode responder pelo art. 217-A, como estupro de vulnerável, se menor de 14 anos.

Situações especiais
Anencefalia: ADPF 54
Crime impossível:
1. Se a gestante decidida a pôr termo a gravidez decidi ir a uma benzedeira ou
achando-se em estado gravídico (gravidez psicológica) toma remédios
abortivos.
2. Nos casos de anencefalia, se não encéfalo, muito menos caixa craniana, a vida é
impossível. Logo o aborto, não é necessariamente um crime, não dá pra matar
o que não tem vida.
Aborto miserável: não admitido no Brasil, questão de política pública.
Microcefalia: Não pode, ainda. Ver ADI 5581.

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