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FACULDADE DOM ALBERTO

DISCIPLINA: Direito Penal IV


PROF(a): Prof. Silvio Erasmo Souza da Silva
Trabalho Acadêmico – T1.

Trabalho I

Crime de aborto

Santa Cruz do Sul, Abril de 2022.


FACULDADE DOM ALBERTO
DISCIPLINA: Direito Penal IV
PROF(a): Prof. Silvio Erasmo Souza da Silva
Trabalho Acadêmico – T1.

Como conceito geral, tem-se que o aborto é uma conduta típica, ilícita e
culpável e, portanto, considerado crime no direito brasileiro. Este caracteriza-se como
um crime doloso contra a vida intrauterina, ou seja, do feto ainda na barriga de sua
genitora, podendo ocorrer desde a concepção até o nascimento. Neste sentido, segue
acórdão do TJ/MG

MANDADO DE SEGURANÇA - CRIME DE ABORTO


- EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA - COMPETÊNCIA
TERRITORIAL - ART. 70 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL - CONSUMAÇÃO DO CRIME
DE ABORTO - MORTE EFETIVA DO FETO -
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE ARAGUARI -
PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO - AUSÊNCIA DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO - SEGURANÇA
DENEGADA. 01. Para a concessão da Segurança,
hão de se encontrar presentes os pressupostos que a
autorizam, sendo mister a presença de violação de
direito líquido e certo. 02. A competência será
determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, conforme disposto no art. 70 do CPP. 03. O
delito de aborto se consuma com a efetiva morte
do produto da concepção. (TJMG, MS
10000150541340000 MG, Rel. Des. FORTUNA
GRION, Julg. 06.10.2015, DJe 16.10.2015) (grifo
nosso)

De ponto de vista biológico, o aborto poderá ocorrer a partir da fecundação,


porém para o ponto de vista jurídico antes da nidação não haverá aborto. Portanto,
ressalta-se que haverá aborto somente após a nidação (implantação do óvulo na
parede do útero), assim, pode-se dizer que o limite mínimo para o aborto é a nidação
(PRADO, 214, P. 666, 667).

O aborto é a exceção à teoria monista, pois no âmbito jurídico brasileiro


para o crime de aborto é aplicada a teorista pluralista, ou seja, o legislador, visando
punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou o artigo 126, do CP,
aplicando a teorista dualista (pluralista) do concurso de pessoas, assim veremos no
decorrer do trabalho.

O aborto possui formas de acontecer e algumas destas estão tipificadas no


Código Penal, sendo que destes o aborto realizado por terceiro, com ou sem
consentimento, é passível de penalização por meio da norma penal e o aborto
realizado por médico, em caso de necessidade e/ou no caso de gravidez resultante
de estupro não é punível.
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Vejamos as espécies de aborto de forma mais detalhada:

1. Aborto natural: ocorre por questão biológica, como por exemplo o corpo
da genitora não consegue manter a gestação e não há punição;
2. Aborto acidental: ocorre por acidente, como por exemplo após uma
queda, trombada, fratura. Neste caso, não há dolo e por isso não haverá crime, nem
tão pouco punição;
3. Aborto criminoso: qualquer forma de realização, interrupção forçada e
voluntária da gravidez, provocando a morte do feto.
3.a) Auto-aborto: concretiza-se quando provocado pela própria gestante, seja por
meio de medicamentos e/ou outras formas, há punição por meio do art. 124, do CP, e
possui pena prevista de detenção de um a três anos.
3.b) Provocado por terceiro sem o consentimento da gestante: O não consentimento
constitui elementar do tipo penal, sendo que este é tipificado no artigo 125 e é
considerado a forma mais gravosa do delito de aborto. Possui pena de reclusão de
três a dez anos.
3.c) Aborto consentido: a gestante concorda com a realização do aborto e a execução
material é realizada por outra pessoa. Neste caso a gestante e o terceiro não
respondem pelo mesmo crime, visto que a tipificação é diferente, assim a gestante
responde pelo artigo 124 e o terceiro responde pelo artigo 126, o mesmo ocorre em
casos em que o terceiro faz atos de provocação e/ou instigação ao aborto. Para
enquadrar-se neste tipo penal, o terceiro pode fazer o aborto em si ou até ajudar na
compra do remédio ou outras formas indiretas. Possui pena de reclusão de um a
quatro anos.
3.d) Consentimento inválido: ocorre quando a gestante não é maior que 14 anos, é
alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência, nos termos do art. 126, PU. Para estes casos, a pena aplicada
será a do artigo 126, ou seja, reclusão de um a quatro anos.
4. Aborto por omissão: ocorre quando o médico deixa de receitar
medicamentos que podem prevenir um aborto, desde que este tenha consciência da
possibilidade. b) gestante, para a qual é receitado medicamento absolutamente
necessário para evitar o aborto, que, querendo a superveniência do resultado, não o
ingere.
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5. Aborto legal ou permitido: este acontecerá tão somente nos casos em


que for admitido por lei, este será realizado por médico e não será aplicada punição,
pois causas especiais de exclusão da ilicitude.
5.a) Necessário: caracterizado pelo estado de necessidade, ou seja, quando for
necessário para salvar a vida da gestante, e está tipificado no art. 128, I, do CP. Para
tal modalidade há necessidade da presença de dois requisitos, quais sejam: 1) Que
não haja outro meio senão o aborto para salvar a vida da gestante; 2) Que seja
realizado por médico;
5.b) Sentimental: ocorrerá em casos em que a gestação advir de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal. Está legitimado no artigo 128, II, do CP. Para tal modalidade é necessária a
presença de três requisitos: 1) Que a gravidez seja resultado de estupro; 2) Que haja
consentimento da gestante ou do representante legal desta; 3) Que seja realizado por
médico;
5.c) De anencéfalo: Não está legitimado na norma penal, porém possui legitimação
pelo STF através da ADPF nº 54, na qual foi declarada a constitucionalidade da
interrupção da gravidez nos casos de gestação de feto anencéfalo. Tal conduta,
portanto, foi considerada atípica e independe de autorização judicial, bastando a
concordância da gestante.
O crime de aborto possui sua forma qualificada determinada através do
artigo 127, do CP, o qual determina que as penas cominadas nos artigos 125 e 126
são aumentadas de um terço, se “em consequência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.”
A consumação do crime de aborto se dará no momento da morte do feto,
portanto trata-se de crime material. Mesmo quando houver consentimento da
gestante, a consumação se dará tão somente no instante em que o terceiro nela
realizar a manobra abortiva. Ademais, a comprovação do crime de aborto se dará com
a demonstração de que a mulher estava grávida, através de prova pericial ou, na
ausência desta, testemunhal.
Para todas as modalidades de aborto criminoso, haverá a possibilidade de
crime tentado, basta que para configuração deste seja realizado um ato capaz de
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provocar aborto e que a morte do feto não ocorra por circunstâncias alheias à vontade
do(s) envolvido(s). Porém o fato será atípico se não houver sido iniciada a execução.
Ademais, importante ressaltar que, ainda que o aborto seja tentado, é
possível que o feto permaneça vivo, ou ainda, que seja expulso com vida do útero,
neste caso, caso sobrevenha a morte posteriormente em decorrência da tentativa,
será considerado o aborto consumado, com base no artigo 4º, do CP. Ainda há a
possibilidade de cumulação da tentativa de aborto com o homicídio ou infanticídio,
este caso ocorrerá quando, por exemplo, tentou-se o aborto e o feto foi expulso do
útero e sobreviveu, mas houve nova agressão a este e tal agressão resultou sua
morte.
Haverá também o crime impossível por: a) impropriedade absoluta do
objeto: este ocorrerá quando o feto já está morto ou quando inexiste a gravidez. b)
absoluta ineficácia do meio: quando o agente quer provocar o aborto, mas escolhe um
meio de execução absolutamente incapaz de gerar morte do produto da concepção.
Conclui-se com isso que, o crime de aborto enquadra-se no conceito de
ação livre, uma vez que admite qualquer forma de execução, desde que aptos a
causar o resultado. Poderá este ser provocado pela própria gestante ou por terceiro,
e para ambos os casos teremos penalidades diferentes para quem o cometer.
Ademais, há modalidades de aborto em que não há penalização, desde que não haja
dolo, pois não aceita-se a forma culposa no crime de aborto, ou que seja legitimado
através da norma penal ou de declaração de constitucionalidade através do STF.
Ainda, aceita-se a forma tentada e o crime impossível, além de termos concreto de
que a consumação se dará no momento da morte do feto e não é punível pelo simples
consentimento da gestante e nem tão pouco pelos atos preparatórios.
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REFERÊNCIAS

SILVA, Silvio Erasmo Souza da. Plano de aula integral, 2022.1. Faculdade Dom
Alberto. Disponível em
<https://docs.google.com/document/d/1tBWu6AeOSJdgqAhg5BDv-
KEURKJGeMebOhq3WvPXMx4/edit>, acesso em 06/04/2022.

DECRETO LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal. Disponível


em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>, acesso
em 09/03/2022.

Zoroastro C. Teixeira Advogados Associados, disponível em


<http://zoroastroteixeira.adv.br/artigo/o-crime-de-
aborto/124#:~:text=o%20aborto)%3A-
,Art.,126%2C%20par%C3%A1grafo%20%C3%BAnico).>, acesso em 06/04/2022.

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