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ABORTO

Art. 124 a 128 do CP


PROF. MARCOS TÚLIO
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas,
lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
INTRODUÇÃO
“Segundo se admite geralmente, provocar aborto é interromper o
processo fisiológico da gestação, com a consequente morte do feto. Tem-se
admitido muitas vezes o aborto ou como a expulsão prematura do feto, ou como a
interrupção do processo de gestação. Mas nem um nem outro desses fatos bastará
isoladamente para caracterizá-lo.” (BRUNO, Aníbal)

Ou, ainda, na definição proposta por Frederico Marques:

“Para o Direito Penal e do ponto de vista médico-legal, o aborto é a


interrupção voluntária da gravidez, com a morte do produto da concepção”
(MARQUES, José Frederico)
QUESTÕES CONTROVERTIDAS
O problema no delito de aborto é que não percebemos a dor sofrida pelo óvulo,
pelo embrião ou mesmo pelo feto. Como não presenciamos, não enxergamos, não ouvimos o seu
sofrimento, aceitamos a morte dele com tranquilidade.

Para o legislador, a vida, independentemente do seu tempo, deve ser protegida.


Não há diferença entre causar a morte de um ser que possui apenas 10 dias de vida, mesmo que
no útero materno, e matar outro que já conta com 10 anos de idade.

Nosso ordenamento jurídico encara vida, mesmo que embrionária, é vida, não
importando sua quantidade de tempo.
O Código Penal pune, de forma diversa, dois personagens que estão
envolvidos diretamente no aborto, vale dizer:
1) a gestante, praticando o autoaborto e, caso atue na prática;
2) o terceiro que nela realiza as manobras abortivas, com as ressalvas de sua atuação
ter sido com ou sem o consentimento da gestante.

Ao contrário do que muita gente pensa, o aborto é legalizado no Brasil,


mas não com a natureza de controle pós-contraceptivos, mas com o fim de proteger
a vida, a incolumidade física e mental da gestante
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
1) Crime de mão própria, quando realizado pela própria gestante (autoaborto);

2) Crime comum nas demais hipóteses quanto ao sujeito ativo,podendo ser praticado por
qualquer pessoa;

3) Crime próprio quanto ao sujeito passivo, pois somente o feto e a mulher grávida podem
figurar nessa condição (ambos são vítimas);

4) Crime comissivo ou omissivo, ou seja, pode ser praticado através de ações e omissões por
parte do agente, desde que a omissão seja imprópria, ou seja, aquele que tem o dever de agir
para evitar o resultado concreto. Ex: enfermeiro que, em trabalho de parto, percebe a tática
abortiva do médico e nada faz para evitar a consumação do crime; o médico que assiste à gestante
realizar o autoaborto e nada faz.
ABORTO É CRIME CONTRA A VIDA. QUANDO SE INICIA A
VIDA PARA A PROTEÇÃO LEGAL?
A vida tem início a partir da concepção ou fecundação, isto é, desde o
momento em que o óvulo feminino é fecundado pelo espermatozoide masculino.
CONTUDO!!!!!
Para fins de proteção por intermédio da lei penal, a vida só terá relevância
após a nidação, que diz respeito à implantação do óvulo já fecundado no útero
materno, o que ocorre 14 (catorze) dias após a fecundação.
Logo, enquanto não houver a nidação não haverá possibilidade de
proteção a ser realizada por meio da lei penal. Ex: a pílula do “dia seguinte”
“O aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do feto. Pressupõe, portanto, a gravidez,
isto é o estado de gestação, que, para efeitos legais, inicia-se com a implantação do ovo na cavidade uterina.
Do ponto de vista médico, a gestação se inicia com a fecundação, ou seja, quando o ovo se forma
na trompa, pela união dos gametas masculino e feminino. Inicia-se então a marcha do óvulo fecundado para o útero,
com a duração média de três a seis dias, dando-se a implantação no endométrio. Daí por diante é possível o aborto.
A matéria tem sido objeto de debate em face dos efeitos dos anovulatórios orais ou ‘pílulas
anticoncepcionais’, bem como do dispositivo intrauterino (DIU). Certas pílulas impedem a ovulação ou o acesso do
espermatozoide ao óvulo, pelas transformações que causam no muco cervical. Em tal caso, impede-se a concepção.
Outras pílulas, no entanto, atuam após a concepção, impedindo a implantação do ovo no endométrio. O mesmo
ocorre com os dispositivos intrauterinos, cuja ação, para muitos, ainda não está perfeitamente explicada: é certo, no
entanto, que não impedem a concepção, mas sim a implantação do ovo ou o seu desenvolvimento, provocando a sua
expulsão precoce. É fácil compreender que as pílulas da segunda espécie e os DIU, que não impedem a concepção,
seriam abortivos (e não anticoncepcionais), se por aborto se entende a interrupção da gravidez e esta se inicia com a
concepção.
Todavia, a lei não especifica o que se deva entender por aborto, que deve ser definido com critérios
normativos, tendo-se presente a valoração social que recai sobre o fato e que conduz a restringir o crime ao período
da gravidez que se segue à nidação. Aborto é, pois, a interrupção do processo fisiológico da gravidez desde a
implantação do ovo no útero materno até o início do parto”. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal, p.
115-116.
LOGO, ABORTO É ...

Dessa forma, temos a nidação como termo inicial para a


proteção da vida, por intermédio do tipo penal do aborto.

Portanto, uma vez implantado o ovo no útero materno,


qualquer comportamento dirigido finalisticamente no sentido de
interromper a gravidez, pelo menos à primeira vista, será considerado
aborto (consumado ou tentado).
GRAVIDEZ ECTÓPICA
De acordo com o conceito de gestação (vide slide 8), podemos seguir o seguinte
raciocínio: Suponhamos que o óvulo já fecundado não consiga chegar ao útero, mas se
desenvolva fora dele.
Temos aqui o que a medicina denomina gravidez ectópica que, segundo a
definição contida no Manual Merck de Medicina (p. 1.850), seria a “gestação na qual a
implantação ocorre em outro local que não o endométrio ou a cavidade endometrial; isto é,
na cérvix, no tubo uterino, no ovário, nas cavidades abdominais ou pélvica.”
Ou, ainda, na definição de Jorge de Rezende, “é a prenhez ectópica (PE) quando o
ovo se aninha fora do útero. Assim conceituada é sinônimo de prenhez extrauterina [...]
(REZENDE, Jorge de. Prenhez ectópica. In: REZENDE, Jorge de et al. (Coord.). Obstetrícia, p. 717).

É a chamada PRENHEZ ou GRAVIDEZ TUBÁRIA!


HÁ ABORTO NO CADO DE GRAVIDEZ TUBÁRIA?

RESPOSTA: Não! Para a lei, somente nas hipóteses de gravidez intrauterina é


que se pode configurar o delito em estudo!!!!
FUNDAMENTO:
“A interrupção de gravidez desenvolvida fora do útero, ovárica ou
tubárica, quando o óvulo se instala na parede das trompas, onde passa a
desenvolver-se, e a da gravidez molar, com a formação degenerativa do óvulo
fecundado, não constitui aborto.
A falta de espaço impede que o feto cresça normalmente e a gravidez é
interrompida. Quando o óvulo se aloja em outros órgãos, como nas trompas de
Falópio, ovários e até no abdome, a gravidez é caracterizada como ectópica.”
(TELES, Ney Moura; Direito penal, v. 2, p. 174).
LIMITES TEMPORAIS PARA O DELITO DE
O RACIOCÍNIO DEVEABORTO
SER LÓGICO!!!A vida tem início tem início a partir
da nidação, o termo final (ad queml) para essa específica proteção se encerra com o início do
parto.
Portanto, o início do parto faz com que seja encerrada a possibilidade de realização
do aborto, passando a morte do nascente a ser considerada homicídio ou infanticídio, dependendo
do caso concreto. O parto, como já dissemos, tem início com:
a) dilatação do colo do útero;
b) com o rompimento da membrana amniótica; ou,
c) ) tratando-se de parto cesariana, com a incisão das camadas abdominais.
Lembre-se: a vida intrauterina é protegida pelo art. 124/127 do CP, logo, o
início do parto se trata de proteção à vida extrauterina (infanticídio – art. 123 ou homicídio
- art. 121, ambos do CP)
LEI N° 11.105/05. Trata de normas de segurança e mecanismos de fiscalização
de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e
seus derivados, etc...
Trata da utilização de embrião em desacordo com o disposto no seu art. 5º, bem como a prática de
engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião humano e a liberação e o
descarte de organismos geneticamente modificados no meio ambiente, em desacordo com as normas
estabelecidas pela CTN-Bio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização.
Nesses casos não haverá aborto, se houver manipulação do ovo já fecundado antes de sua
nidação, mas aplicação da Lei n° 11.105/05
“O Código, ao incriminar o aborto, não distingue entre óvulo fecundado, embrião ou feto:
interrompida a gravidez antes do seu termo normal, há crime de aborto. Qualquer que seja a fase da
gravidez (desde a concepção128 até o início do parto, isto é, o rompimento da membrana amniótica),
provocar sua interrupção é cometer o crime de aborto. A ocisão do feto (alheio à sua imaturidade ou ao
emprego dos meios abortivos), depois de iniciado o processo do parto, é infanticídio, e não aborto
criminoso.” (HUNGRIA, Nélson. Comentários ao código penal, v. V, p. 281)
ESPÉCIES DE ABORTO
São de duas espécies:
1) aborto natural ou espontâneo quando o próprio organismo materno se encarrega de expulsar o produto
da concepção. De modo que os abortos “espontâneos são atribuídos a causas mórbidas de várias categorias,
que provocam a morte fetal e expulsão do produto da concepção.” (MARANHÃO, Odon Ramos; Curso
básico de medicina legal, p. 187).
2) aborto provocado, sendo esta provocação subdividida em: dolosa e culposa, também reconhecida como
acidental. Assim, as modalidades dolosas estão identificadas:
2.1) autoaborto ou aborto provocado com o consentimento da gestante (art. 124);
2.2) aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125);
2.3) aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126).

NÃO HÁ MODALIDADE DE ABORTO CULPOSO, sendo o caso de prática de outro crime


(homicídio) ou de fato atípico.
SUJEITOS DO DELITO
1) No caso do art. 124 do CP:
1.1) no caso do autoaborto:
a) sujeito ativo: é a própria gestante, admitindo a participação (art. 29). Ex: o noivo que auxilia a
gestante a realizar o aborto passando-lhe substâncias abortivas.
b) sujeito passivo: o ovo, o embrião, o feto.

1.2) no aborto praticado por terceiros com o consentimento da gestante:


a) sujeito ativo: é a própria gestante e terceiros como coautor (art. 30), admitindo a participação
(art. 29). Ex: o médico que realiza o aborto na gestante por seu consentimento (autor), sendo
auxiliado por uma enfermeira (partícipe)
b) Sujeito passivo: ovo, o embrião, o feto
ATENÇÃO PARA A TEORIA MONISTA E SUA
EXCEÇÃO!!!!
O art. 29 do CP adotou a TEORIA MONISTA que dispõe que todos os que
colaboram para determinado resultado criminoso incorrem no mesmo crime. Há uma única
tipificação para autores, coautores e partícipes.
Assim dispõe o caput do art. 29 do CP: “Quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.
A figura típica do “ABORTO” constitui exceção pluralista à teoria monista ou
unitária, prevista no art. 29 do CP (seria: “todo aquele que concorre para o crime incide nas
penas a este cominadas”). Há, aqui, a aplicação da teoria pluralista ou da cumplicidade do
delito distinto.

Logo, ao consentir que outrem pratique em si o aborto, a gestante é


enquadrada no art. 124 e o outro, no art. 126 do CP.
2) No caso do art. 125 do CP – aborto provocado por terceiros e sem o consentimento da
gestante.
a) Sujeito ativo: qualquer pessoa;
b) Sujeito passivo: o ovo, o embrião, o feto e a gestante (dupla subjetividade passiva).

AT E N Ç Ã O E C U I DAD O ! ! ! !
A ocisão de “gravidez gemelar” (de gêmeos), com o conhecimento do agente,
caracteriza concurso formal impróprio (CP, art. 70, caput, segunda parte), de modo que o agente
responde por tantos delitos quantos forem os fetos existentes, sendo as penas correspondentes
somadas.

Art. 70 do CP, segunda parte: “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O aborto, em quaisquer de suas formas, consubstancia-se em


crime material, consumando-se com a morte cerebral do nascituro.
Admite-se, ademais, a tentativa, porquanto se trata de delito
plurissubsistente (praticado por um ou mais atos).
INCIDÊNCIA DA LEI 9.099/90
A pena do art. 124 do CP (detenção de um a três anos) é de incidência do art.
89 da Lei 9.099/90 (Juizado Especial).Trata-se da suspensão condicional do
processo.

OBS: a competência para a apuração do crime do aborto é do Tribunal do Júri (art.


5°, XXXVIII, ‘d’, da CF.

Entretanto, poderá haver a suspensão condicional do processo nos termos do


art. 89 da Lei 9.099/90. De modo que só haverá a continuidade do processo (rito do
júri) se não houver aceitação da proposta pelo Réu, feita pelo Ministério Público.
BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO: OBJETO
O crime de ABORTO seMATERIAL
insere no Capítulo I do Título I do Código Penal, aqueles
“CONTRA A VIDA”, razão pela qual, o bem juridicamente protegido é a vida humana em
desenvolvimento.
O objeto material do delito de aborto pode ser:
1) o óvulo fecundado, ovular, se cometido até os dois primeiros meses da gravidez;
2) o embrião, embrionário, se praticado no terceiro ou quarto mês de gravidez;
3) ou o feto, fetal, quando o produto da concepção já atingiu os cinco meses de vida intrauterina e daí em
diante.

OBS: A importância do nascituro se consubstancia com os alimentos gravídicos (Lei n. 11.804/2008) que é
para auxiliar diretamente a gestante, mas, por via oblíqua ao nascituro, inclusive, com seu nascimento,
convertendo tais alimentos em pensão alimentícia (princípio da dignidade humana) (STJ; REsp 1629423 /
SP RECURSO ESPECIAL
2016/0185652-7
ELEMENTO SUBJETIVO NO ABORTO
Não há aborto culposo, visto que não há previsão da culpa nos crimes
dos art. 124/126.

Logo, se alguém lesionar a gestante e, culposamente, provocar o aborto,


haverá crime preterdoloso (lesão corporal grave – art. 129, § 2º, V, do CP).

Trata-se, portanto, de dolo direto (intenção direcionada com o fim de causar


o aborto) ou o dolo eventual (aquele em que o agente assume o risco de causar o
aborto). Tudo com o fim de praticar ato de modo consciente e voluntário,
tendente à ocisão da vida humana intrauterina.
ATENÇÃO PARA O CRIME REALMENTE PRATICADO
Homem que agride a mulher sabidamente grávida, provocando o aborto e a consequente morte do
feto. Saber-se-á o crime identificando o dolo (seu elemento subjetivo) e, consequentemente, o resultado. Se
agiu:
1) com dolo de causar lesão na gestante, agredindo-a no rosto, se esta vier a abortar em virtude desta
ação, o agente estará incurso na lesão corporal qualificada pelo resultado aborto (art. 129, § 2º, V, do CP).
Haverá dolo quanto às lesões corporais, e culpa no que diz respeito ao resultado agravador (aborto),
caracterizando-se um delito nitidamente preterdoloso.
2) Com dolo a produzir o aborto na gestante, sem o consentimento desta, razão pela qual responderá
pelo delito de aborto, tipificado no art. 125 do CP, agindo, outrossim, com dolo direto.
3) com dolo eventual, ao agredir uma mulher sabidamente grávida, não se importou que esta viesse a
abortar, o que realmente aconteceu. O agente responderá por lesões corporais produzidas na gestante (art.
129) em concurso formal impróprio com o delito de aborto (art. , pois agia com desígnios autônomos,
aplicando, no caso em exame, a regra do cúmulo material de penas (art. 70, segunda parte
FIGURAS AGRAVADAS PELO RESULTADO
Os crimes dos arts. 125 e 126 podem ter sua pena especialmente
agravada quando da manobra abortiva resultar morte ou lesão grave na gestante.

Cuida-se de crimes preterdolosos, isto é, o sujeito atua com dolo de


suprimir a vida do nascituro e, por imprudência, negligência ou imperícia, dá causa
a lesão grave ou à morte da mulher.

Interessante questão consiste em saber se, na hipótese de o aborto


não se consumar, mas produzir-se na gestante a lesão grave ou o óbito, deve o
agente responder pelas formas agravadas do art. 127.
CRIME IMPOSSÍVEL (art.17 do CP)
Dispõe o art. 17 do CP: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio
ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.
EXEMPLOS:

Uma mulher engravida e, desejando pôr termo à gestação com a morte do nascituro,
procura uma “benzedeira”, suas “rezas” ou “despachos” configuram meio absolutamente
ineficaz. Não se punirá a tentativa de aborto, por se tratar de delito impossível.

Do mesmo modo, se uma mulher, achando-se (erroneamente) grávida (por exemplo,


gravidez psicológica), ingerir medicamento abortivo, não haverá crime algum, por absoluta
impropriedade do objeto (material).
ABORTO PERMITIDO
NATUREZA JURÍDICA: São causas especiais de exclusão da
ilicitude! (isso não cai em prova; D E S P E N C A ! ! !
São duas as hipóteses e se encontram previstos no art. 128, incisos I e
II do CP:
1) aborto necessário (inciso I); que pode ser:
1.1) terapêutico: o risco de vida é atual;
1.2) profilático: o risco de vida é iminente, de modo que a ação do
médico é preventiva;

2) aborto sentimental
ANOTAÇÕES SOBRE O ABORTO NECESSÁRIO
Praticado por médicos com o fim de interromper a gravidez (art. 125
ou 126 do CP). Há, todavia, decisões judiciais admitindo a possibilidade de
concessão de alvarás autorizando o ato, em semelhantes situações.
O consentimento da gestante é prescindível e não há incursão do
médico em constrangimento ilegal (art. 146, § 3°, I do CP). Da mesma forma,
os auxiliares do médico(a) são alcançados pela exclusão do crime direcionado ao
médico.
Se o autor do fato não for médico (por exemplo, uma parteira ou a
própria gestante), também não há crime, mas pela incidência da excludente de
ilicitude do estado de necessidade (CP, art. 24), desde que, obviamente, todos os
seus requisitos estejam preenchidos.
ANOTAÇÃO SOBRE O ABORTO SENTIMENTAL
Previsto no inciso II, do art. 128 do CP, também conhecido como
sentimental, ético ou humanitário sentimental
Também se autoriza o aborto quando a gravidez resulta de estupro,
sempre que houver, nesse caso, o consentimento da gestante ou de seu
representante legal, quando civilmente incapaz.
É de se ponderar que, com o advento da Lei n. 12.015/2009, dá-se
referido delito contra a dignidade sexual quando se praticar qualquer ato libidinoso,
não só a conjunção carnal (introdução do pênis na vagina).
Ex: a ejaculação na vagina sem o necessário coito (penetração). Era
considerado atentado violento ao pudor que não existe mais em nosso ordenamento
jurídico (Lei n. 12.015/2009).
ABORTO PERMITIDO PELA JURISPRUDÊNCIA
1) De feto anencefálico (STF no julgamento da ADPF 54/DF): Trata-se da interrupção
da gravidez de feto anencéfalo, por força de interpretação jurisprudencial, uma vez confirmado o
diagnóstico, bem como a irreversibilidade da situação. Não é necessária a prévia autorização
judicial para a interrupção voluntária da gravidez.

Isto porque inexiste atividade cerebral com nenhuma possibilidade de sobrevida do


embrião!

A T E N Ç Ã O “ZÉS MANÉS”: a decisão tomada na ADPF 54/DF restringe-se aos casos de


anencefalia. Caso haja outras anomalias em que haja interesse da gestante em realizar o aborto,
terá de promover ação correspondente com o fim de conseguir a autorização.
2) HC 124;306/RJ11; 1ª Turma do STF; HC 124.306/RJ11: decidiu-se pela liberdade provisória
de dois médicos presos em flagrante pela realização de aborto com consentimento da gestante, sendo que não
haveria crime quando a interrupção voluntária da gravidez ocorresse no primeiro trimestre de gestação.
F U N D A M E N T O:
Estudos científicos apontam que nessa fase inicial da gestação, o córtex cerebral, responsável pelo
desenvolvimento de sentimentos e racionalidade, ainda não foi formado, nem há qualquer potencialidade de vida fora
do útero materno. Assim, não há qualquer possibilidade do embrião subsistir fora do corpo da mãe antes de
completado o primeiro trimestre de sua formação. É o caso da Alemanha, Bélgica, França e Uruguai.
A T E N Ç Ã O “ZÉS MANÉS”:
Essa decisão não tem efeito erga omnes, já que tomada em análise de habeas corpus, pela 1ª Turma
do STF.
DE MODO QUE:
A discussão sobre a criminalização ou não do aborto nos três primeiros meses da gestação foi feita
com o escopo de se analisar se seria cabível a manutenção da prisão preventiva dos médicos. O STF não determinou
o trancamento da ação penal. O habeas corpus foi concedido apenas para que fosse afastada a prisão preventiva dos
acusados.
CONFLITO DE NORMA
Quem se limita a anunciar a existência de processo, substância ou objeto destinado
a provocar aborto, subsume-se no art. 20 da LCP – Contravenção Penal. O ato é punido com
multa. Trata-se de “dar notícia”, “fizer conhecer” ou “puser anúncio” com esse conteúdo.
A T E N Ç Ã O ! Se o agente, além de anunciar, pratica a venda da substância ou
objeto, tendo o conhecimento de que o consumidor o usará com a intenção de praticar o aborto,
tornar-se-á partícipe do crime do art. 125 ou 126 do CP.
Óbvio, tais casos, ao menos, precisarão ser tentados – art. 31 do CP. Neste caso,
não fica absorvida a contravenção penal, posto que sua potencialidade lesiva não se exaure no
crime contra a vida cometido.
Não há crime, obviamente, quando a conduta é praticada no contexto do art. 128
do CP, isto é, quando o processo abortivo, por exemplo, é anunciado a médicos incumbidos de
realizar, em hospitais, o aborto necessário ou humanitário.
INCITAÇÃO (art. 286) OU APOLOGIA (art. 287) AO
CRIME: HAVERÁ OU NÃO?
Se alguém, publicamente, manifesta-se em favor da legalização do aborto, não há
crime, pois o ato é protegido pelo exercício regular do direito de expressão,
constitucionalmente assegurado.
Não há, portanto, incitação (art. 286 do CP) ou apologia (art. 287 do CP) ao crime
e, menos ainda, participação em aborto (até porque a conduta não se dirige a pessoas
determinadas).

Ex: ADPF 187 determina que o artigo o 287 do CP deve ser interpretado conforme a
Constituição de forma a não impedir manifestações públicas em defesa da legalização de drogas.
O dispositivo tipifica como crime fazer apologia de "fato criminoso" ou de "autor do crime".
Fonte; https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=182124&ori=1

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