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Nosso ordenamento jurídico encara vida, mesmo que embrionária, é vida, não
importando sua quantidade de tempo.
O Código Penal pune, de forma diversa, dois personagens que estão
envolvidos diretamente no aborto, vale dizer:
1) a gestante, praticando o autoaborto e, caso atue na prática;
2) o terceiro que nela realiza as manobras abortivas, com as ressalvas de sua atuação
ter sido com ou sem o consentimento da gestante.
2) Crime comum nas demais hipóteses quanto ao sujeito ativo,podendo ser praticado por
qualquer pessoa;
3) Crime próprio quanto ao sujeito passivo, pois somente o feto e a mulher grávida podem
figurar nessa condição (ambos são vítimas);
4) Crime comissivo ou omissivo, ou seja, pode ser praticado através de ações e omissões por
parte do agente, desde que a omissão seja imprópria, ou seja, aquele que tem o dever de agir
para evitar o resultado concreto. Ex: enfermeiro que, em trabalho de parto, percebe a tática
abortiva do médico e nada faz para evitar a consumação do crime; o médico que assiste à gestante
realizar o autoaborto e nada faz.
ABORTO É CRIME CONTRA A VIDA. QUANDO SE INICIA A
VIDA PARA A PROTEÇÃO LEGAL?
A vida tem início a partir da concepção ou fecundação, isto é, desde o
momento em que o óvulo feminino é fecundado pelo espermatozoide masculino.
CONTUDO!!!!!
Para fins de proteção por intermédio da lei penal, a vida só terá relevância
após a nidação, que diz respeito à implantação do óvulo já fecundado no útero
materno, o que ocorre 14 (catorze) dias após a fecundação.
Logo, enquanto não houver a nidação não haverá possibilidade de
proteção a ser realizada por meio da lei penal. Ex: a pílula do “dia seguinte”
“O aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do feto. Pressupõe, portanto, a gravidez,
isto é o estado de gestação, que, para efeitos legais, inicia-se com a implantação do ovo na cavidade uterina.
Do ponto de vista médico, a gestação se inicia com a fecundação, ou seja, quando o ovo se forma
na trompa, pela união dos gametas masculino e feminino. Inicia-se então a marcha do óvulo fecundado para o útero,
com a duração média de três a seis dias, dando-se a implantação no endométrio. Daí por diante é possível o aborto.
A matéria tem sido objeto de debate em face dos efeitos dos anovulatórios orais ou ‘pílulas
anticoncepcionais’, bem como do dispositivo intrauterino (DIU). Certas pílulas impedem a ovulação ou o acesso do
espermatozoide ao óvulo, pelas transformações que causam no muco cervical. Em tal caso, impede-se a concepção.
Outras pílulas, no entanto, atuam após a concepção, impedindo a implantação do ovo no endométrio. O mesmo
ocorre com os dispositivos intrauterinos, cuja ação, para muitos, ainda não está perfeitamente explicada: é certo, no
entanto, que não impedem a concepção, mas sim a implantação do ovo ou o seu desenvolvimento, provocando a sua
expulsão precoce. É fácil compreender que as pílulas da segunda espécie e os DIU, que não impedem a concepção,
seriam abortivos (e não anticoncepcionais), se por aborto se entende a interrupção da gravidez e esta se inicia com a
concepção.
Todavia, a lei não especifica o que se deva entender por aborto, que deve ser definido com critérios
normativos, tendo-se presente a valoração social que recai sobre o fato e que conduz a restringir o crime ao período
da gravidez que se segue à nidação. Aborto é, pois, a interrupção do processo fisiológico da gravidez desde a
implantação do ovo no útero materno até o início do parto”. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal, p.
115-116.
LOGO, ABORTO É ...
AT E N Ç Ã O E C U I DAD O ! ! ! !
A ocisão de “gravidez gemelar” (de gêmeos), com o conhecimento do agente,
caracteriza concurso formal impróprio (CP, art. 70, caput, segunda parte), de modo que o agente
responde por tantos delitos quantos forem os fetos existentes, sendo as penas correspondentes
somadas.
Art. 70 do CP, segunda parte: “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
OBS: A importância do nascituro se consubstancia com os alimentos gravídicos (Lei n. 11.804/2008) que é
para auxiliar diretamente a gestante, mas, por via oblíqua ao nascituro, inclusive, com seu nascimento,
convertendo tais alimentos em pensão alimentícia (princípio da dignidade humana) (STJ; REsp 1629423 /
SP RECURSO ESPECIAL
2016/0185652-7
ELEMENTO SUBJETIVO NO ABORTO
Não há aborto culposo, visto que não há previsão da culpa nos crimes
dos art. 124/126.
Uma mulher engravida e, desejando pôr termo à gestação com a morte do nascituro,
procura uma “benzedeira”, suas “rezas” ou “despachos” configuram meio absolutamente
ineficaz. Não se punirá a tentativa de aborto, por se tratar de delito impossível.
2) aborto sentimental
ANOTAÇÕES SOBRE O ABORTO NECESSÁRIO
Praticado por médicos com o fim de interromper a gravidez (art. 125
ou 126 do CP). Há, todavia, decisões judiciais admitindo a possibilidade de
concessão de alvarás autorizando o ato, em semelhantes situações.
O consentimento da gestante é prescindível e não há incursão do
médico em constrangimento ilegal (art. 146, § 3°, I do CP). Da mesma forma,
os auxiliares do médico(a) são alcançados pela exclusão do crime direcionado ao
médico.
Se o autor do fato não for médico (por exemplo, uma parteira ou a
própria gestante), também não há crime, mas pela incidência da excludente de
ilicitude do estado de necessidade (CP, art. 24), desde que, obviamente, todos os
seus requisitos estejam preenchidos.
ANOTAÇÃO SOBRE O ABORTO SENTIMENTAL
Previsto no inciso II, do art. 128 do CP, também conhecido como
sentimental, ético ou humanitário sentimental
Também se autoriza o aborto quando a gravidez resulta de estupro,
sempre que houver, nesse caso, o consentimento da gestante ou de seu
representante legal, quando civilmente incapaz.
É de se ponderar que, com o advento da Lei n. 12.015/2009, dá-se
referido delito contra a dignidade sexual quando se praticar qualquer ato libidinoso,
não só a conjunção carnal (introdução do pênis na vagina).
Ex: a ejaculação na vagina sem o necessário coito (penetração). Era
considerado atentado violento ao pudor que não existe mais em nosso ordenamento
jurídico (Lei n. 12.015/2009).
ABORTO PERMITIDO PELA JURISPRUDÊNCIA
1) De feto anencefálico (STF no julgamento da ADPF 54/DF): Trata-se da interrupção
da gravidez de feto anencéfalo, por força de interpretação jurisprudencial, uma vez confirmado o
diagnóstico, bem como a irreversibilidade da situação. Não é necessária a prévia autorização
judicial para a interrupção voluntária da gravidez.
Ex: ADPF 187 determina que o artigo o 287 do CP deve ser interpretado conforme a
Constituição de forma a não impedir manifestações públicas em defesa da legalização de drogas.
O dispositivo tipifica como crime fazer apologia de "fato criminoso" ou de "autor do crime".
Fonte; https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=182124&ori=1