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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR

ABORTO

Prof. Me. Alessandro Dorigon


CONCEITO E
CONSIDERAÇÕES GERAIS
 Aborto é a interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto
da concepção (Masson).
 É a eliminação da vida intrauterina.
 Histórico:
 No Brasil, Código Criminal 1830, somente previa o aborto provocado por terceiro.
Já o CP 1890 veio com a previsão do aborto provocado pela própria gestante.
DISCUSSÕES
 O feto é parte da mulher e ela pode dispor;
 A vida do feto não é um bem jurídico individual;
 A pena não logra evitar as práticas abortivas;
 Só atinge as classes sociais mais pobres;
 Deve-se proteger as mulheres que recorrem ao aborto clandestino.
DECISÃO DO STF
HC 124.306/2016
 Decisão descriminalizou o aborto no primeiro trimestre da gravidez. Seguindo
voto do ministro Luís Roberto Barroso, o colegiado entendeu que são inconstitucionais
os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto. O entendimento, no entanto, vale
apenas para um caso concreto julgado pelo grupo;
 No voto, Barroso entendeu que a criminalização do aborto nos três primeiros meses da
gestação viola os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, o direito à autonomia de
fazer suas escolhas e o direito à integridade física e psíquica. Ressaltou também que a
criminalização do aborto não é aplicada em países democráticos e desenvolvidos, como
os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Holanda, entre outros.
DECISÃO DO STF
HC 124.306/2016
 “Em verdade, a criminalização confere uma proteção deficiente aos
direitos sexuais e reprodutivos, à autonomia, à integridade psíquica e
física, e à saúde da mulher, com reflexos sobre a igualdade de gênero e
impacto desproporcional sobre as mulheres mais pobres. Além disso,
criminalizar a mulher que deseja abortar gera custos sociais e para o
sistema de saúde, que decorrem da necessidade de a mulher se submeter a
procedimentos inseguros, com aumento da morbidade e da letalidade”,
decidiu Barroso.
 “A interrupção voluntária da gestação não deve ser criminalizada, pelo
menos, durante o primeiro trimestre da gestação. Durante esse período, o
córtex cerebral – que permite que o feto desenvolva sentimentos e
racionalidade – ainda não foi formado, nem há qualquer potencialidade
de vida fora do útero materno. Por tudo isso, é preciso conferir
interpretação conforme a Constituição aos Artigos 124 e 126 do Código
Penal, para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária
da gestação efetivada no primeiro trimestre”, disse Barroso.
ESPÉCIES DE ABORTO
 Natural:
 Acidental:
 Criminoso:
 Legal ou permitido
 Econômico ou social:
 “Honoris Causa”:
 Eugênico ou eugenésico:
 Feto Anencéfalo?? Aborto??
 ADPF 54/DF – Confederação Nacional dos Trabalhadores na saúde
 Artigo 3º da Lei nº 9.434/97, fala que o ser humano está morto com a morte encefálica.
 Assim, não se trata de aborto, mas uma antecipação terapêutica de parto em razão de
anencefalia.
 Caso da menina Marcela de Jesus Ferreira, nascida com anencefalia em Patrocínio Paulista-
SP, que viveu 01 ano, 08 meses e 12 dias. Mas é uma exceção e o direito deve se amparar na
normalidade.
ESTRUTURA DO CRIME DE ABORTO
 BEM JURÍDICO
 Vida do feto no 124 e 126
 Vida do feto e integridade física e psíquica da gestante no 125.

 OBJETO MATERIAL
 Óvulo fecundado - 3 primeiras semanas;
 Embrião - 3 primeiros meses;
 Feto - a partir de 3 meses;

 A partir de quando começa a gravidez??


 Fecundação?
 Nidação?
ESTRUTURA DO CRIME
 SUJEITOS
 Ativo
 124 – Só a gestante – Crime de mão própria
 125 e 126 – Qq. pessoa, sendo crime comum.

 PASSIVO
 124 E 126 é só o feto
 125 é o feto e a gestante.

 TIPO OBJETIVO
 NÚCLEO: 124 – Provocar e consentir; 125 e 125 – Provocar
 Forma livre
 Conduta:
 Meios de execução eficaz
ESTRUTURA DO CRIME

 TIPO SUBJETIVO
 Dolo, direto ou eventual
 Culpa

 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
 Crime material e de resultado
 É necessária a gravidez e a morte do feto
 Não é necessária a expulsão do feto

 AÇÃO PENAL E PROCEDIMENTO


CONCURSO DE CRIMES
 Homicídio e Aborto:
 Aborto e constrangimento ilegal (art. 146): Marido constrange
mediante ameaça ou violência a abortar. Aborto do 125 e 146 em
concurso formal próprio.
 Aborto de gêmeos: Se souber dos gêmeos, concurso formal
impróprio. Se não souber é crime único (resp. objetiva).
 Aborto e comunicação falsa de crime (art. 340):
 No caso de associação criminosa (art. 288).
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

 Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
 Pena - detenção, de um a três anos.
 Pena baixa de detenção e admite o Sursis processual.

 1 - A primeira parte do artigo é o autoaborto:


 É compatível com a participação somente e não com coautoria (mão própria). Ex: se o
namorado compra o remédio. É partícipe e a mulher autora do art. 124.
 2 - A segunda parte é consentir, outro tipo objetivo, que cuida somente do consentimento
para o aborto. O que fez, responde pelo artigo 126 e não em coautoria. Tem a participação neste
caso uma pessoa induz a grávida a consentir que um médico provoque o aborto.
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto provocado por terceiro sem consentimento

 Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
 Pena - reclusão, de três a dez anos.

 É a forma mais gravosa do delito de aborto e tem pena de reclusão. Não há o


consentimento da gestante.
 Há duas vítimas, o feto e a gestante.
 Tem dois tipos, ela não prestou consentimento (violência, agressões) e o caso do
consentimento dela ser inválido por previsão legal (PU do 126).
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto provocado por terceiro com consentimento

 Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
 Pena - reclusão, de um a quatro anos.

 Neste caso se vê que a gestante tem que consentir.


 Pena de reclusão, mas tem Sursis Processual.
 O partícipe responde da seguinte forma. Se vinculado ao consentimento da gestante é 124
(pessoas que incentiva ou paga pelo aborto). E se vinculado ao terceiro é 126 (enfermeira que auxilia
o médico).
 O consentimento deve perdurar durante todo o procedimento. Se ela, durante a prática
abortiva muda de ideia, ele é 125 e ela não responde por nada.
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 DISSENTIMENTO
 Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência.

 Dissentimento presumido:
 1ª parte do PU. Menor de 14 anos ou alienada ou debil mental.

 - Dissentimento Real:
 fraude:
 grave ameaça
 violência
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Forma qualificada – “é uma causa de aumento de pena”
 Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.

 É uma causa de aumento de pena e só pode ser aplicada


nos artigos 125 e 126 (terceiro). E o 124??
 Por qual crime responde o partícipe do 124?
 “Resultado lesão grave ou morte” – é um preterdolo, isto é, dolo no aborto e culpa na lesão ou
morte, se agir com dolo no aborto e na lesão ou morte deverá haver cumulação de crimes (material
ou formal imperfeito, dependendo do caso).
 Para incidir no art. 127, CP tem que interromper a gravidez ou basta a lesão grave ou morte? O art.
fala “dos meios provocados” – assim o aborto é dispensável, basta a lesão grave ou morte.
 Tem que ser lesão grave, se for leve não aumenta, respondendo só pelo aborto.
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto legal ou permitido
 Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
 Aborto necessário
 I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
 II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

 Natureza jurídica e fundamentos constitucionais:
 Hipóteses legais
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto necessário ou terapêutico:
 I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

 Depende de dois requisitos:
 vida da gestante corre perigo;
 não existe outro meio de salvar a vida da gestante.

 Neste caso, não precisa de consentimento da gestante e não são puníveis as lesões corporais
decorrentes do procedimento cirúrgico, a não ser que haja excessos.
 Não precisa de autorização judicial.
 Se for realizado por outro profissional que não é o médico, daí tem duas situações:
 se presente o perito atual de morte para a gestante, o fato será lícito pelo estado de necessidade
(art. 24 CP).
 ausente o perigo atual (pode ser feito após algum tempo), é aborto 125/126, tendo em vista que
não é estado de necessidade e somente o médico poderia realiza-lo, pois é o profissional mais
qualificado.
CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE
 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
 Também chamado de aborto sentimental, humanitário ético ou piedoso:
 II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.
 Depende de 03 requisitos:
 ser praticado por médico;
 consentimento da gestante ou de seu responsável legal;
 gravidez resultante de estupro;
 Neste caso tem que ser o médico, pois se for outro é aborto, por previsão legal. Se a enfermeira
auxiliar, não é crime, uma vez que a conduta do médico não é ilícita - Acessório.
 Será 124 se for autoaborto. Assim, somente o médico mesmo.
 E tem que ter o consentimento, igual no caso do art. 126.
 Procedimento.
ABORTO

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