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Direito Penal – Dos Crimes em Espécie

Dos crimes contra a pessoa


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Nesta webaula, abordaremos os seguintes temas: dos crimes contra a pessoa; induzimento, instigação e auxílio ao
suicídio ou a automutilação; infanticídio; aborto, e, das lesões corporais.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação


Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para
que o faça:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos
termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Redação dada pela Lei nº 13.968 de 26 de dezembro de 2019

Hipóteses de participação
Induzimento: o agente faz nascer na vítima a ideia e a vontade mórbida. O sujeito passivo não cogitava
eliminar a própria vida.
Instigação: reforça a vontade preexistente na vítima. Aqui o sujeito passivo já pensava em se suicidar, sendo
tal propósito reforçado pelo agente.
Auxílio: presta assistência material. Exemplo: emprestando instrumentos letais.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação


Não se pune o agente que pratica o suicídio e a automutilação, mas a conduta do terceiro que participa do
evento.
Antes da Lei 13.968/2019, o crime do artigo 122 era condicionado à morte ou à lesão corporal grave da vítima
para a sua consumação.
Com a nova lei o crime deixou de ser condicionado ao resultado e passou a admitir a tentativa, pois a
consumação não depende mais da morte ou da lesão grave, estas agora são quali cadoras do crime.
Passou a ser um crime formal.

Majorantes da pena
122 (...) § 3º A pena é duplicada:

I. se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil. (Exemplo: instiga outrem a suicidar-se para receber
a herança).
II. se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. (Exemplo: ébrio,
enfermo).

/
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social
ou transmitida em tempo real.

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.

Crime quali cado pelo resultado


§6.º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima e for
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou de ciência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato responde pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código
(Pena, reclusão 2 a 8 anos).

§7.º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte e for cometido contra menor de 14 (quatorze)
anos ou contra quem, por enfermidade ou de ciência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato responde pelo crime descrito no art. 121 deste Código.

Caso prático

Maria quer se matar e solicita ajuda para João que, de boa vontade, injeta uma substância na veia da vítima
provocando-lhe a morte.

Pergunta-se: qual o crime praticado?

Infanticídio
Art. 123 - matar, sob a in uência do estado puerperal, o próprio lho, durante o parto ou logo após. Pena -
detenção, de dois a seis anos.

Homicídio praticado pela genitora contra o próprio lho, in uenciada pelo estado puerperal (forma
privilegiada de homicídio).
Somente se caracteriza na forma dolosa princípio da especialidade.

Estado puerperal
Estado puerperal: o estado físico e psíquico da mulher pode ser prejudicado em razão das modi cações
hormonais que esse período provoca (psicose/neurose/inquietações/confusão mental).
A depender do grau do estado puerperal pode conduzir à inimputabilidade.
Durante o parto: apenas após o início do parto.
Logo após: enquanto durar o estado puerperal.
Crime próprio.
Admite concurso de pessoas?

Caso prático
Exemplo 1: mãe, em estado puerperal, que dorme com recém-nascido e, durante o sono, rola para cima e
acaba por mata-lo por as xia. Pergunta-se: por qual crime responde?
Exemplo 2: pai que auxilia a mãe com um travesseiro para que ela, sob a in uência do estado puerperal,
mate o lho recém nascido. Pergunta-se: o pai responde por qual crime?

Aborto
Conceito
Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção (MIRABETE, Manual de Direito
Penal. Parte Especial. V. 2. p. 62) – protege-se a vida intrauterina.

Início da gravidez: a. fecundação; b. nidação.


/
Espécies de aborto
a. Aborto natural: indiferente penal.
b. Aborto acidental: fato atípico.
c. Aborto criminoso: art. 124 a 127 do CP.
d. Aborto legal (permitido): art. 128.
e. Aborto eugênico: proibido.
f. Aborto de feto anencéfalo: ADPF 54.

Aborto criminoso – espécies


Podemos considerar como espécies de aborto criminoso:

ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO 

Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: pena - detenção, de um a três
anos.

ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE 

Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: pena - reclusão, de três a dez anos.

ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE 

Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Questões especí cas


Exceção pluralista à teoria monista: consentimento para o aborto + aborto consensual.
Crimes de mão-própria: autoaborto e consentimento para o aborto (só admitem participação).
Consentimento não é válido: gestante menor de 14 anos; alienada ou débil mental; se obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência.

Aborto majorado pelo resultado


Art. 127 - as penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Aborto legal
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário/terapêutico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante.


Aborto sentimental/humanitário: se a gravidez resulta de estupro.

Questões
Qual crime pratica o sujeito que mata mulher, sabendo que ela estava grávida?
Qual crime pratica o namorado que paga para que o médico realize o aborto com o consentimento da
namorada?

Das leões corporais /


Lesão corporal leve
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena - detenção, de três meses a um ano.

Bem jurídico integridade física e a saúde mental do indivíduo.


Crime subsidiário: conceito residual.
Infração de menor potencial ofensivo (Lei 9.099/95).
Vias de fato (LCP, art. 21).
Autolesão?

Consentimento do ofendido
O consentimento do ofendido exclui a ilicitude da lesão corporal?

a. A lesão seja de natureza leve.


b. A lesão não contrarie a moral e os bons costumes.

Lesão corporal grave


Art. 129 (...) § 1º Se resulta:

I. Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.


II. Perigo de vida.
III. Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
IV. Aceleração de parto: pena - reclusão, de um a cinco anos.

I. Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.


Ocupação: não precisa ser trabalho.
Pode se originar tanto do dolo quanto da culpa do agente.
Prova: exame de corpo de delito + exame complementar.
Incapacidade não está relacionada ao sentimento de vergonha.

Lesão corporal grave – exame complementar

CPP Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a
exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do
Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. (...)

§ 2.º Se o exame tiver por m precisar a classi cação do delito no art. 129, § 1.º, I, do Código Penal, deverá ser
feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

II. Perigo de vida


Probabilidade séria, concreta e imediata da morte, devidamente comprovado por perícia.
Esse resultado quali cador é necessariamente culposo.
Se o sujeito assume o risco de causar perigo de vida à vítima, trata-se de tentativa de homicídio.

III. Debilidade permanente de membro, sentido ou função


Debilidade: enfraquecimento ou diminuição da capacidade funcional.
Permanente: duradoura, sem prazo determinado de recuperação. Não deve ser entendida no sentido de
perpetuidade.
Membros: braços, antebraços e mãos; Coxas, pernas e pés.
Sentidos: visão, audição, olfato, gosto e tato.
Função: ação desenvolvida pelo órgão.
/
IV. Aceleração do parto
Antecipação do parto: expulsão do feto com vida
É imprescindível que o agressor soubesse ou pudesse saber que a vítima era mulher grávida, evitando-se
assim responsabilidade penal objetiva.

Lesão corporal gravíssima


Art. 129 (...). § 2° Se resulta:

I. Incapacidade permanente para o trabalho.


II. Enfermidade incurável.
III. Perda ou inutilização do membro, sentido ou função.
IV. Deformidade permanente.
V. Aborto: pena - reclusão, de dois a oito anos.

Veremos mais sobre esses tópicos a seguir.

I. Incapacidade permanente para o trabalho


Permanente: duradoura no tempo e sem previsibilidade de cessação. Não necessariamente perpétua.
Não se trata mais de ocupações habituais, mas de trabalho remunerado.
Prevalece que para incidir essa quali cadora, o sujeito deve car incapacitado para todo o tipo de trabalho e
não apenas para aquele realizado antes do fato.
Resultado quali cador pode ser produzido tanto dolosa quanto culposamente.

II. Enfermidade incurável


Incurável: inexistência de cura pela Medicina.
A vítima não é obrigada a submeter-se a cirurgia arriscada.
Resultado quali cador pode ser doloso ou culposo.

A transmissão do vírus da AIDS se enquadra na quali cadora acima?

STJ: “A transmissão consciente do vírus HIV, causador da Aids, con gura lesão corporal grave, delito previsto
no artigo 129, parágrafo 2º, do Código Penal (CP).” (HC 160.982).

Doutrina: gravita entre Tentativa de Homicídio e Lesão Corporal Gravíssima por Enfermidade Incurável
(GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Volume II. 8ª. Ed. Niterói: Impetus, 2011 e MIRABETE, Julio Fabbrini,
FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal. Volume II. 28ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2011).

III. Perda ou inutilização de membro, sentido ou função


Perda: mutilação ou amputação.
Inutilização: perda de capacidade funcional. Inoperância.
Resultado quali cador pode ser doloso ou culposo.

Caso prático

Perda de dedo con gura lesão gravíssima? Não. Trata-se de debilidade permanente de membro
(braço/mão) e não perda do membro propriamente dito.
Perda de um rim con gura lesão gravíssima? Não. Tratando-se de órgãos duplos, para a lesão ser
gravíssima deve atingir os dois. Do contrário, gera ‘mera’ debilidade de função, produzindo uma lesão de
natureza grave.

/
IV. Deformidade permanente
Dano estético, aparente, considerável, irreparável capaz de provocar impressão vexatória para a vítima
(Desconforto para quem olha; humilhação para a vítima).
Atenção: A idade, o sexo e a condição social podem ser determinantes para a conclusão dessa quali cadora.
Resultado quali cador pode ser doloso ou culposo.

Cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima é capaz de afastar a
quali cadora?

STJ: “A realização de cirurgia estética posteriormente à prática do delito não afeta a caracterização, no
momento do crime constatada, de lesão geradora de deformidade permanente, seja porque providência não
usual (tratamento cirúrgico custoso e de risco), seja porque ao critério exclusivo da vítima.” (HC 306.677/RJ,
julgado em 19/05/2015, DJe 28/05/2015).

A perda de um dente gera lesão corporal de natureza grave (debilidade permanente) ou gravíssima
(deformidade permanente)?

STJ: “A perda da dentição pode implicar redução da capacidade mastigatória e até, eventualmente, dano
estético, o qual, apesar de manter o seu caráter de nitivo – se não reparado em procedimento interventivo -,
não pode ser, na hipótese, de tal monta a quali car a vítima como uma pessoa deformada”. A lesão causada
à vítima (perda de dois dentes) con gura lesão corporal grave, e não gravíssima. REsp 1.220.094-MG, Quinta
Turma, DJe 9/3/2011. REsp 1.620.158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016, DJe 20/9/2016.

V. Aborto
Esse resultado quali cador é necessariamente culposo. Do contrário (dolo de abortamento), o agente
responde pelo crime de aborto.
Ressalte-se que a gravidez deve ser de conhecimento do agente (ou pelo menos de possível conhecimento),
sob pena de incorrer-se em responsabilidade penal objetiva.

Lesão corporal seguida de morte


Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o
risco de produzi-lo: pena - reclusão, de quatro a doze anos. A morte é sempre culposa (preterdoloso).

Lesão corporal: diminuição de pena


Art. 129, §4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.

Lesão corporal: substituição da pena


Art. 129, §5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis:

I. Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;


II. Se as lesões são recíprocas.

A substituição aplica-se exclusivamente à lesão corporal leve, e mesmo assim somente se a lesão for privilegiada
ou se tratar-se de lesão recíproca.

Lesão corporal culposa


Art. 129, §6° Se a lesão é culposa: pena - detenção, de dois meses a um ano.

/
Não importa se a lesão for LEVE, GRAVE OU GRAVÍSSIMA para a tipi cação do delito culposo. Entretanto, o juiz
poderá considerar a natureza da lesão na xação da pena.
Causa de aumento de pena 1/3: se o crime resulta de inobservância de regra técnica de pro ssão; deixe de
prestar socorro; não procura diminuir as consequências do ato; foge para evitar prisão.

Perdão judicial
Assim como no homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Lesão corporal com violência doméstica


Art. 129, §9.º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade: pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Acrescido pela Lei Maria da Penha.


Casos de lesão corporal leve.

Vítimas:

a. Ascendente/descendente/irmão/Cônjuge/companheiro;
b. Com quem conviva ou tenha convivido: não se exige a coabitação presente;
c. Prevalecendo-se o agente das relações domésticas de coabitação ou hospitalidade: esse terceiro grupo de
vítimas se refere às visitas, hóspedes, empregados domésticos, etc.

STJ: a quali cadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões corporais cometidas contra
homem no âmbito das relações domésticas.

Art. 129, § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º (lesão grave, gravíssima e seguida de morte) deste artigo, se as
circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

Causas especiais de aumento de pena às lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte praticadas no
ambiente doméstico ou familiar.
Exemplo, o art. 129, §1º (lesão grave), que tem pena prevista de 01 a 05 anos, terá a pena majorada de 1/3, se
o crime for cometido em ambiente doméstico ou familiar.

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