Você está na página 1de 53

DIREITO PENAL

Faculdade Estácio do Recife


DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
▪HOMICÍDIO (121, CP)
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

OBS: Matar quem já está morto? (art. 212, CP)

▪Homicídio privilegiado (§1º)


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
OBS 1: Influência vs. Domínio de violenta emoção
OBS 2: Homicídio híbrido e hediondez
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe
OBS : Mediante paga ou promessa de recompensa (mandante vs. executor)

II - por motivo fútil;


OBS 1: Ciúme e motivo fútil
OBS 2 Embriaguez e motivo fútil
OBS 3: Ausência de motivo

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
OBS 1: Emprego de veneno como meio insidioso
OBS 2: Asfixia tóxica e mecânica
OBS 3: Homicídio qualificado por tortura vs. Tortura qualificada pela morte
OBS 4: Crueldade após a morte
OBS 5: Reiteração de golpes e meio cruel
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
§ 2° Se o homicídio é cometido:
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
OBS 1: Traição e previsibilidade do ataque
OBS 2: Recurso que dificulta/impossibilita defesa e a necessidade de surpresa da
vítima

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime:
OBS 1: Conexão (art. 78, CPP)
OBS 2: Crime cometido para assegurar contravenção

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

OBS 1: Hediondez (art. 1º, I, Lei 8072/90)


OBS 2: Dolo eventual e sua (in)compatibilidade com algumas qualificadoras
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
FEMINICÍDIO
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
§ 2º-A: Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

OBS 1: Discriminação e o conceito de gênero


OBS 2: Princípio da igualdade material (ADC nº 19,STF) – Proibição da
proteção deficiente
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
FEMINICÍDIO
OBS 3: Critérios para definição de quem é mulher:
Psicológico – biológico – jurídico

OBS 4: Natureza (objetiva vs. subjetiva) da qualificadora e o bis in idem


CRIMES CONTRA A PESSOA
FEMINICÍDIO
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. DECISÃO DE PRONÚNCIA ALTERADA PELO TRIBUNAL
DE ORIGEM. INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO.
ALEGADO BIS IN IDEM COM O MOTIVO TORPE. AUSENTE.
QUALIFICADORAS COM NATUREZAS DIVERSAS. SUBJETIVA E
OBJETIVA. POSSIBILIDADE. EXCLUSÃO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL
DO JÚRI. ORDEM DENEGADA. 1. Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP,
é devida a incidência da qualificadora do feminicídio nos casos em que o
delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e
familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a
análise do animus do agente. Assim, não há se falar em ocorrência de
bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e
do feminicídio, porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a
segunda objetiva 3. Habeas corpus denegado. (STJ - HC: 433898 RS
2018/0012637-0, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
24/04/2018, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2018)
FEMINICÍDIO
§ 7º: A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se
o crime for praticado:

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto


OBS 1: Conhecimento da circunstância
OBS 2: Aborto e bis in idem: O crime de aborto provocado por terceiro visa à
proteção da vida do feto, enquanto a majorante do feminicídio contra grávida
protege quem está mais vulnerável. (REsp 1.860.829, 6ª Turma)

OBS 3: Contagem dos 3 meses conforme art. 4ª do CP

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos,


com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
OBS 1: Tese de erro de tipo
CRIMES CONTRA A PESSOA
FEMINICÍDIO

§ 7º: A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade


se o crime for praticado:

III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da


vítima;
OBS 1: Ciência da presença e prova do parentesco

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas


nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340/ 2006.
OBS 1: Crime do art. 24 da Maria da Penha
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Homicídio qualificado (§2º)
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:

Sujeitos passivos:
Membros da policia rodoviária federal, policia civil e militar, bombeiros,
guardas municipais e da força nacional de segurança pública.

Parentes consanguíneos: Pai, mãe e filhos (em primeiro grau), irmãos, avós
e netos (em segundo grau), e tios, sobrinhos, bisavós e bisnetos (em
terceiro grau).
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Homicídio qualificado (§2º)

VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019

OBS 1: Derrubada de veto presidencial


OBS 2: Crime de porte ilegal de arma de fogo e princípio da consunção
CRIMES CONTRA A PESSOA
MUTIPLICIDADE DE QUALIFICADORAS E DOSIMETRIA

Conforme orientação jurisprudencial desta Corte, havendo mais de uma


circunstância qualificadora reconhecida no decreto condenatório, apenas
uma deve formar o tipo qualificado, enquanto as outras devem ser
consideradas circunstâncias agravantes, quando expressamente previstas
como tais, ou como circunstâncias judiciais desfavoráveis, de forma residual
(STJ, HC 143.149/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª T., Dje 09/06/2015)..).
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Homicídio culposo (§3º)

OBS 1: Culpa consciente vs. dolo eventual


OBS 2: Art. 302, CTB e embriaguez ao volante
OBS 3: Perdão judicial (§5º - na hipótese de homicídio culposo, o juiz
poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem
o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária)
OBS 4: Aumento de pena (§4º - No homicídio culposo, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos).
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO, AUXÍLIO AO SUICIDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO (ART. 122, CP):

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação


ou prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal


de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129
deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos
ANTES DA LEI 13.968/2019 DEPOIS DA LEI 13.968/2019

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar- Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-
se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se auxílio material para que o faça:
o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta anos.
lesão corporal de natureza grave.
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de
Parágrafo único. A pena é duplicada: suicídio resulta lesão corporal de natureza
I – se o crime é praticado por motivo egoístico; grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por do art. 129 deste Código: Pena - reclusão, de 1
qualquer causa, a capacidade de resistência. (um) a 3 (três) anos.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da
automutilação resulta morte: Pena - reclusão,
de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 3º A pena é duplicada
I - se o crime é praticado por motivo egoístico,
torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por
qualquer causa, a capacidade de resistência.
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO, AUXÍLIO AO SUICIDIO OU


AUTOMUTILAÇÃO (ART. 122, CP):

Elementos Objetivos:
OBS 1: Tipo misto alternativo ou princípio da alternatividade
OBS 2: Limite do auxílio e a prática de atos de execução
OBS 3: Inserção da automutilação – alteração legal
OBS 4: Admissibilidade de tentativa - alteração legal

Elemento subjetivo:
OBS 1: Ausência de modalidade culposa
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO, AUXÍLIO AO SUICIDIO OU AUTOMUTILAÇÃO
(ART. 122, CP):

Sujeitos:
Ativo: qualquer pessoa
Passivo: qualquer pessoa com capacidade de discernimento
OBS 1: Pessoa vulnerável

Lesão gravíssima e vitima vulnerável


§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de
natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
Código.

Morte e vitima vulnerável


§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO, AUXÍLIO AO SUICIDIO OU AUTOMUTILAÇÃO
(ART. 122, CP):

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:

ANTES DA LEI 13.968/2019 DEPOIS DA LEI 13.968/2019

Se a vítima sofrer lesão leve: Se a vítima sofrer lesão leve:


Atípico CAPUT

Se a vítima sofrer lesão G ou GG: Se a vítima sofrer lesão G ou GG:


1 – 3 anos (caput) § 1º

Se a vítima morrer: 2 – 6 anos Se a vítima morrer: § 2º


(caput)
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO, AUXÍLIO AO SUICIDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO (ART. 122, CP):

Aumento de pena:
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência.
OBS 1: Vítima entre 14-18 anos)

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da


rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de


grupo ou de rede virtual.
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

INFANTICÍDIO (ART. 123, CP)


Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

OBS 1: Estado puerperal – presunção de forte perturbação psíquica e


hormonal.
OBS 2: Erro sobre a pessoa no infanticídio
OBS 3: Homem pode praticar infanticídio?
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ABORTO (124 -128, CP):

▪Marco inicial:
Fase de nidação (implantação do óvulo já fecundado no útero materno, o
que ocorre 14dias após a fecundação)
OBS: Objeto jurídico: vida humana intrauterina VS. produto da concepção
OBS: Legalidade de métodos anticonceptivos (atipicidade VS. exercício
regular de um direito)

▪Marco final:
Início do parto (rompimento da bolsa amniótica)
OBS: aborto vs. homicídio vs. infanticídio

▪Crime de forma livre

▪Impropriedade absoluta do objeto


DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ABORTO

▪Aspectos históricos:

(1)Código Penal do Império(1830):


Não punia autoaborto, mas tão somente aquele praticado por terceiro ou
quem incentivasse/proporcionasse os meios para a prática do crime.

(2) Código Penal (1890)


Passa a punir o autoaborto, mas diminui a pena quando o crime ocorre para
esconder desonra própria.

(3) Código Penal (1940)


Redação atual.
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ABORTO (124 -128, CP):
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.
OBS: Crime de mão própria que permite participação

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF


54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é
maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ABORTO (124 -128, CP):

Forma qualificada preterdolosa


Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ABORTO (124 -128, CP):

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário ou terapêutico


I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto humanitário
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

OBS : Anencefalia
- ADPF nº 54/STF
- Resolução CFM nº 1989/2012
1ª Turma do STF descriminaliza aborto até o 3º mês de gestação
(HC 124.306/ STF)

Argumentos:
A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais:

(1) os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada
pelo Estado a manter uma gestação indesejada;
(2) a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas
escolhas existenciais;
(3) a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu
corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez;
(4) a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a
equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher
nessa matéria.
1ª Turma do STF descriminaliza aborto até o 3º mês de gestação
(HC 124.306/ STF)

Argumentos:
O tratamento como crime, dado pela lei penal brasileira, impede que
mulheres pobres, que não têm acesso a médicos e clínicas privadas,
recorram ao sistema público de saúde para se submeterem aos
procedimentos cabíveis. Como consequência, multiplicam-se os casos de
automutilação, lesões graves e óbitos.
1ª Turma do STF descriminaliza aborto até o 3º mês de gestação
(HC 124.306/ STF)

Argumentos:
A criminalização viola o princípio da proporcionalidade por motivos que se
cumulam:

(1) constitui medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico


que pretende tutelar (vida do nascituro), por não produzir impacto relevante
sobre o número de abortos praticados no país, apenas impedindo que
sejam feitos de modo seguro;
É possível que o Estado evite a ocorrência de abortos por meios mais
eficazes e menos lesivos do que a criminalização, tais como educação
sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o
filho, mas se encontra em condições adversas.

(2) a medida é desproporcional em sentido estrito, por gerar custos sociais


(problemas de saúde pública e mortes) superiores aos seus benefícios.
1ª Turma do STF descriminaliza aborto até o 3º mês de gestação
(HC 124.306/ STF)

Argumentos:
Nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da
gestação durante o primeiro trimestre como crime, aí incluídos:
- Estados Unidos
- Alemanha
- Reino Unido
- Canadá
- França
- Itália
- Espanha
- Portugal
- Holanda
- Austrália.

É certo o Estado Laico ter uma lei penal (que criminaliza pessoas)
baseada em dogmas religiosos de algumas religiões específicas?
Argumentos contrários à descriminalização:

- Feto é um ser humano e não apêndice do corpo da mulher (a partir da


fecundação/nidação deveria ser considerar o feto como um ser humano
em formação e a vida dele deve valer mais que a dignidade humana da
mulher).

- A marginalização de crianças se dá pela desigualdade social e não pela


criminalização do aborto (problema de cunho politico e não jurídico)

- Aborto clandestino ainda existe em países em que o aborto é permitido

- Métodos contraceptivos são politicas públicas mais baratas


Estatísticas sociais (Data Folha, 2019):

- O aborto deve ser totalmente proibido: 41%

- Continuar como hoje: 34%

- Ser permitido em mais situações: 16%

- Permitido em qualquer situação: 6%

- Não sabe: 2%

- Outras respostas: 1%
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO CONTRA GESTANTE. ABORTO.
OCULTAÇÃO DE CADÁVER PARA ASSEGURAR A IMPUNIDADE DE OUTRO CRIME. PENA-
BASE. AGRAVANTES. ART. 61, II, "B" E "H", DO CÓDIGO PENAL. BIS IN IDEM. NÃO
OCORRÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. CONFISSÃO ESPONTÂNEA
CONFIGURADA. ATENUANTE DA MENORIDADE. VIOLAÇÃO AO MÉTODO TRIFÁSICO.
NOVA DOSIMETRIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. 2. Não há bis in idem quanto à incidência da agravante do art. 61, II, "h", do
Código Penal no crime de homicídio contra gestante e a condenação pelo crime de
aborto, porquanto as duas normas visam tutelar bens jurídicos diferentes: a agravante
tutela pessoas em maior grau de vulnerabilidade e o aborto diz respeito ao feto.
3. A jurisprudência desta Corte já decidiu que é inviável a análise de elemento subjetivo do
crime na via estreita do habeas corpus, por demandar acurado exame probatório. Assim,
inviável o conhecimento do writ com relação ao alegado bis in idem quanto à incidência da
agravante do art. 61, II, "b", no crime de ocultação de cadáver.
4. Este Tribunal tem entendido que a confissão espontânea, ainda que parcial ou
qualificada, deve ser reconhecida, de modo a ensejar a atenuação da pena.
5. O Código Penal estabeleceu o método trifásico para aplicação da pena, de modo que as
atenuantes devem ser analisadas juntamente com as agravantes, na segunda fase da
dosimetria. Evidente o constrangimento ilegal quando o Tribunal aplica a atenuante da
menoridade penal após o estabelecimento da pena total definitiva.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para reduzir a pena imposta ao
paciente. (HC 141.701/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 01/12/2016, DJe 13/12/2016)
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

LESÃO CORPORAL
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

▪ Espécies de lesão

▪ Bem jurídico: integridade física ou a saúde (fisiológica ou mental) de


outrem.

▪ Ação penal
OBS 1: Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.
OBS 2: Lesão corporal no trânsito
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL

Art. 291. § 1º: Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o
disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995,
exceto se o agente estiver:
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de
veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em
50 km/h (cinqüenta quilômetros por hora).
CRIMES CONTRA A PESSOA

LESÃO CORPORAL GRAVE (§ 1º)

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

OBS 1: Atividade laborativa vs. atividade lucrativa

OBS 2: Laudo pericial complementar


A ausência do laudo complementar gera a desclassificação do crime
de lesão corporal de natureza grave para o de natureza leve (art. 129,
caput, do CP), mister quando ausente qualquer prova que justifique a
qualificação do delito (TJPR, 1ª Câm. Crim. AC 0341963-4/Campina da
Lagoa, Rel. Juiz Conv. Mário Helton Jorge, un. j. 14/6/2007).
CRIMES CONTRA A PESSOA

LESÃO CORPORAL GRAVE (§ 1º)

OBS 2: Laudo pericial complementar

O prazo de trinta dias previsto no inc. I do § 1º do art. 129 do Estatuto


Repressivo deve ser contado da data do fato, e não da lavratura do
primeiro exame de corpo de delito, como dispõe o § 2º do art. 168 do
Código de Processo Penal. Assim, como o fato ocorreu em 9/10/2003 e o
laudo complementar é datado de 10/11/2003, não há falar em qualquer
irregularidade (TJRS, AC 70022182083, 1ª Câm. Crim., Rel. Des. Marco
Antônio Ribeiro de Oliveira, DJ 29/1/2008).
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL GRAVE (§ 1º)
II - perigo de vida;
OBS 1: Preterdolo vs. dolo eventual
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL GRAVE (§ 1º)

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;


OBS 1: Permanência: sentido eterno vs. sentido duradouro
OBS 2: Membros: inferiores e superiores
OBS 3: Sentidos: visão, olfato, audição, tato e paladar.
OBS 4: Debilidade de sentido vs. perda de sentido
OBS 5: Funções: digestiva, respiratória, circulatória, secretora, reprodutora,
sensitiva e locomotora.

IV - aceleração de parto:
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (§ 2º)

I - Incapacidade permanente para o trabalho;


OBS : Trabalho em sentido genérico vs. trabalho a que a vitima se dedicava

II - enfermidade incurável;
OBS: Transmissão dolosa de HIV

Doutrina: o fato deverá se amoldar ao tipo do art. 121 do CP consumado (se


a vítima vier a falecer como consequência da síndrome adquirida) ou
tentado (se, mesmo depois de contaminada, ainda não tiver morrido).
Jurisprudência: Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a
conduta deverá será apenada com mais rigor do que o ato de contaminar
outra pessoa com moléstia grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2º,
inciso II, do Código Penal.
OBS: TRANSMISSÃO DE DOENÇA

▪ A(s) pessoa(s) determinada(s)

Perigo de contágio de moléstia grave


Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime
mais grave.
OBS: TRANSMISSÃO DE DOENÇA

▪ Vítimas gerais e abstratas (incolumidade pública)

Epidemia
Art. 267. Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos.

Infração de medida sanitária preventiva


Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir
introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é
funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico,
farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (§ 2º)

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente;
OBS 1: Alcance da visibilidade do dano
A deformidade permanente prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal é,
segundo a doutrina, aquela irreparável, indelével. Assim, a perda de dois
dentes, muito embora possa reduzir a capacidade funcional da
mastigação, não enseja a deformidade permanente prevista no
referido tipo penal, mas sim, a debilidade permanente de membro,
sentido ou função, prevista no art. 129, § 1º, III, do Código Penal (STJ,
Resp 1.620.158/RJ, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 6ª T., DJe 20/09/2016).
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (§ 2º)
IV - deformidade permanente;
A perda de um dos olhos, como na espécie, não caracteriza ‘a perda ou
inutilização de membro, sentido ou função’, hipótese de lesão corporal de
natureza gravíssima prevista no inc. III do § 2º do art. 129 do Código Penal,
em decorrência de a vítima continuar enxergando com o olho esquerdo,
ainda que com diminuição do sentido da visão, mas que não equivale à
perda ou inutilização do sentido da visão.II. Embora a perda de um dos
olhos constitua ‘debilidade permanente do sentido’ (III, § 1º, art. 129, do
Código Penal) da visão, conforme alegado pelo apelante, além da
debilidade do sentido, a lesão que a vítima sofreu resultou em ‘deformidade
permanente’ (III, § 2º do art. 129 do CP) que é facilmente constatada pela
observação das fotografias da vítima, que está com um orifício resultante da
extirpação cirúrgica do que restou do globo ocular (TJPR, 2ª Câm. Crim. AC
0185563-8/Ponta Grossa, Rel. Juiz Conv. Antônio Loyola Vieira, un., j.
30/5/2007).
V – aborto
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o
resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção
pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
OBS 1:Violência de gênero e art. 17 da Lei nº 11.340/06
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL CULPOSA
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
OBS 1: Elementos da culpa
OBS 2: Independência da gravidade da lesão e art. 303 do CTB
OBS 3: § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121, CP
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (§ 9º)
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação
ou de hospitalidade:

OBS 1: Abrangência e inserção pela Lei Maria da Penha


OBS 2: Ação Penal e Art. 41, Lei 11.340/06

OBS 3: Qualificação da lesão leve com aumento de pena:


§ 10º. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias
são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um
terço).
CRIMES CONTRA A PESSOA
LESÃO CORPORAL COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (§ 9º)

OBS 4: Aumento de pena:

§ 11º. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço


se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.

OBS 5: Qualificadora
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).
(Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
AUMENTO GERAL DE PENA
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se:
-o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
- se o crime culposo resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante ou
se o crime é doloso e praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de
60 (sessenta) anos.

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

OBS 1: Criança: 12 anos incompletos


OBS 2: Agentes garantidores e a omissão imprópria
OBS 3: Crime de perigo concreto
OBS 4: Ausência de modalidade culposa
OBS 5: Agente que imagina que corre risco inexistente
OBS 6: Obrigação solidária de prestar socorro
OBS 7: Evitabilidade do resultado

Você também pode gostar