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Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Prevalece que o motivo não pode ser fútil e torpe ao mesmo tempo.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído
pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças
degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº
13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de
ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de
2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº
11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771,
de 2018)
Questões
Gabarito: 1- C
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (Redação dada
pela Lei nº 13.968, de 2019)
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
1- B
Lesão Corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
-Perigo de vida: Aqui não se exige nenhum transcurso de tempo, nem tão
pouco se houve tratamento para a melhora. Será uma figura preterdolosa,
onde o agente quis lesionar e acabou gerando um perigo de vida. O perigo de
vida deverá ser constatado pela perícia.
Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as
disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.
§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Mas essa incapacidade deve ser para qualquer trabalho ou só para o que era
desempenhado pela vítima? Por exemplo a perda de um dedo impossibilita a
trabalho como músico, mas não outro labor.
•Majoritariamente se diz que tem que ser para qualquer atividade laboral.
•A capacidade deve ser referir a atividade que a vítima desempenhava antes.
-Enfermidade incurável: É moléstia que não pode ser curada pelos recursos da medicina.
Se o tratamento for arriscado, muito penoso ou ainda for fora dos padrões normais da
medicina (tratamentos alternativos ou experimentais sem comprovação científica)
também incidirá a qualificadora. Fora destes casos, havendo recusa em procurar o
tratamento, não incidirá essa figura típica. O resultado pode ocorrer por dolo ou culpa.
Lei 9263/96 rt. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10 desta Lei. (Artigo
vetado e mantido pelo Congresso Nacional) Mensagem nº 928, de 19.8.1997
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime mais grave.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for praticada:[...]
II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de alterações na capacidade
de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental
temporária ou permanente; [...]
IV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial;[...]
- Deformidade permanente: É a alteração morfológica de alguma parte externa
do corpo com consequência de dano estética. Permanente é a que não tem
capacidade de se regenerar sozinha.
Prevalece na doutrina que esta deve ser de tal monta que acarrete algum
transtorno ou vergonha para a vítima e, portanto, deve ser visível. Nucci
entende que não precisa ser visível, por exemplo nas nádegas.
É figura preterdolosa.
Não existe responsabilidade objetiva no direito penal, assim o agente tem que ter
previsibilidade para que o resultado mais gravoso se configure a título de culpa
(ex. dá um soco e a pessoa cai e bate a cabeça na quina do meio fio, vindo a
falecer), se ocorrer por motivo de força maior não haverá a qualificadora.
Exemplo: caso dos PMs que atiraram na perna de uma pessoa com trombose que
veio a morrer.
Crimes preterdolosos, em regra, não admitem tentativa. Assim se morrer incide a
qualificadora, se não morrer não incide, será a lesão corporal do “caput” ou outra
qualificadora que eventualmente se encaixar no resultado.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
A doutrina diz que são formas privilegiadas: valor social, moral e domínio de
violenta emoção seguida de injusta provocação. (tudo igual ao homicídio). Vale
ressaltar que nas lesões leves e privilegiadas o juiz pode substituir a pena por
multa.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de
detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Neste caso a lei não faz distinção entre leves, graves e gravíssimas. Assim todas
terão a mesma pena que é de detenção de 2 meses a 1 anos e então vão para o
juizado especial. Aqui também a ação será pública condicionada a representação
da vítima. A menos que envolva violência doméstica pratica contra mulher.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de
2012)
§4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. [...]
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Causas de aumento de pena nos casos de violência doméstica: o § 10º diz que nos
casos de lesão no âmbito doméstico será aumentada a pena em 1/3 se a lesão
ainda se enquadrar em grave, gravíssima ou seguida de morte. Assim, a lesão leve
no âmbito doméstico já dão ensejo a qualificadora do §9º; porém caso as lesões
se enquadrem nas hipóteses acima ainda haverá o aumento de pena.
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino,
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
1 – (FGV, OAB, 2017) Pedro, quando limpava sua arma de fogo, devidamente
registrada em seu nome, que mantinha no interior da residência sem adotar os
cuidados necessários, inclusive o de desmuniciá-la, acaba, acidentalmente, por
dispará-la, vindo a atingir seu vizinho Júlio e a esposa deste, Maria. Júlio faleceu
em razão da lesão causada pelo projétil e Maria sofreu lesão corporal e debilidade
permanente de membro.
Gabarito: 1-D
CRIMES CONTRA A HONRA
Art. 5º […]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
HONRA OBJETIVA X HONRA SUBJETIVA
Não há exigência de que o autor tenha certeza que a imputação é falsa, bastando
que ele tenha dúvida sobre o que diz. Se houver erro ou fundada suspeita sob a
veracidade do fato afastar-se-á o dolo.
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível: Nos crimes de ação privada cabe exclusivamente à vítima do crime o
direito de interpor a ação. Assim não pode o autor da calúnia se sobrepor a esta vontade e
interpor a exceção da verdade e impedir o julgamento. Deverá ele esperar a sentença transitar
em julgado com relação ao crime que ele acusou a suposta vítima da calúnia para depois
entrar com a exceção.
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível: Se a pessoa já foi julgada e absolvida por algum crime, não caberá a exceção da
verdade, pois seria uma ofensa a coisa julgada (art. 5, XXXVI da CF).
Existe posição minoritária negando a recepção destas causa pela constituição de 1988. Assim,
a "exceção da verdade" essencialmente meio de defesa e, sendo sua garantia cerceada, há
ofensa direta ao princípio constitucional da Ampla Defesa.
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém,
imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação:
Pena - detenção, de três
meses a um ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção
da verdade somente se admite se o
ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de
suas funções.
Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
Obs: O STF já decidiu que configura difamação o ato de editar áudio ou vídeo de
pessoa com o objetivo de levar terceiros a crer que ela fala mal de negros ou
pobres, pois isso irá ferir sua reputação. Será punível mesmo o deputado federal
que praticar tal ato, não se aplicando a imunidade parlamentar neste caso.
Mas e se a pessoa difamada não é mais funcionário público, ainda assim seria
possível ao autor opor a exceção da verdade?
A Lei de Imprensa (Lei 5250/67) ainda prevê mais duas possibilidade de exceção
da verdade: Art. 21, parágrafo 1, alínea a que dispõe: se o crime é cometido contra
órgão ou entidade que exerça funções de autoridade pública. Art. 21, parágrafo 1,
alínea b: se o ofendido permite a prova.
Figura qualificada § 2º, injúria real: Com o fim de atingir a honra da pessoa o
agente lhe pratica violência ou vias de fato. Aqui a tutela será da honra e da
incolumidade física do indivíduo. É preciso que o ato seja humilhante, por
exemplo, um tapa. Se houver violência a pena será da injuria real somada com
a do outro crime, por exemplo, lesão corporal. Mas se o segundo fato for vias
de fato será absorvido pela injuria.
Na injuria não há imputação de fatos precisos e determinados como na calunia e
difamação.
• mediata – feita pelo agente, mas valendo-se de meio interposto, como inimputável (ex.:
criança) ou animal (ex.: papagaio);
• oblíqua – atinge uma pessoa estimada pela vítima (ex.: “seus pais são desonestos”);
• reflexa, indireta ou em ricochete – ofende a vítima e também uma terceira pessoa (ex.:
ao afirmar que a esposa é adúltera, está-se agredindo a honra também do marido);
• implícita – quando for proferida de modo a se presumir a ofensa (ex.: “não trabalharei
com vocês pois não sou um incompetente”);
• equívoca – quando é praticada com expressões ambíguas, deixando dúvida sobre a sua
existência. Ex. seria uma ironia “fulano é muito macho” (se referindo a sua sexualidade).
Raça: O STF rechaçou o conceito biológico de raça entendo que todos os seres
humanos, independentemente dos aspectos somáticos (cor, formato dos olhos...)
integram uma mesma raça: a humana. Assim adotou o conceito político-social de
racismo, ou seja, a definição de raça seria uma construção social.
.
Mas qual a diferença entre injúria qualificada por preconceito e racismo?
Se for apenas ofensa será o “caput” do artigo 140 do CP, mas se for efetiva
segregação será o artigo 1º da Lei 12.984/14 com pena de 1(um) a 4 (quatro)
anos.
O STJ admitiu a existência dos três delitos numa única carta sem que haja “bis in
idem”, pois protegem bens jurídicos diversos.
Crime cometido na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a sua
divulgação: Exige-se que o crime seja praticado na presença de no mínimo 3
pessoas, sem contar autor e vítima ou eventuais inimputáveis. A segunda parte diz
respeito aos meios que atingem várias pessoas como panfletos, jornais ou a
internet por exemplo.
A pena deve ser praticada em dobro se o crime for cometido mediante paga ou
promessa de recompensa.
.
Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou
científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou
difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
em apreciação ou informação que preste no cumprimento de
dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela
injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata
cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha
praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de
comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido,
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído
pela Lei nº 13.188, de 2015)
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador; (imunidade judiciária): Tem como base a os ânimos exaltados
durante uma audiência. Ademais, o animus do ofensor aqui não é ferir a honra,
mas provar seu direito em juízo.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação: art. 143 do CP É o ato de desmentir algo alegado, sendo considerada
causa de extinção de punibilidade de acordo com o artigo 107, VI do CP. Não
dependerá de aceitação do ofendido, não se comunica a eventuais co-autores e não
afasta eventual ação cível por danos morais. Deve ser feita até a prolação da
sentença condenatória.
Será aceita apenas nos crimes de ação privada, pois nos de ação pública feriria o
princípio da indisponibilidade. Veja que o artigo fala “querelado”.
Não abrange o crime de injuria porque este fere a honra subjetiva e não a imagem
no meio social sendo irrelevante a ato de se retratar para a vítima.
Pedido de explicações: art. 144 do CP: É medida preparatória para a ação penal no
caso de injuria, difamação ou calúnia ambígua. Exemplo: Novo diretor diz que em
sua gestão não serão mais aceitas propinas. O antigo diretor fica sem entender se
ele esta dizendo que na sua época ele aceitava propinas e pede explicação.
Tal pedido não suspende o prazo decadencial para a queixa. Tão pouco há obrigação
da pessoa acionada comparecer a juízo e prestar esclarecimentos. Esta recusa será
entregue ao autor da ação no final do prazo que poderá utiliza-la para a propositura
da ação penal, pois no pedido de explicações não se analisa o mérito da questão.
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se
infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que
se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo
somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão
corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição
do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do
art. 141 deste Código, e mediante representação do
ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem
como no caso do § 3o do art. 140 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033. de 2009)
Por via de regra, as ações nos crimes acima será de iniciativa privada, exceto:
a) nos casos de injuria real se a lesão praticada for grave ou gravíssima, sendo
leve será pública condicionada a representação. No caso de vias de fato será
ação privada.
Gabarito: 1- B
Crimes contra liberdade individual
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que
a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um
ano, ou multa.
A liberdade é protegida no artigo 5º, inciso II, da CF: “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”
Núcleo do tipo: constranger que significa forçar, compelir alguém a fazer ou deixar de
fazer algo. O que o autor exige que seja ou não seja feito deve ser ilegítimo, caso o
contrário será exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP).
A ilegitimidade pode ser:
a) absoluta: quando o agente não tem qualquer direito de fazer tal exigência. Por exemplo, exigir
que a vítima ingira bebida alcoólica .
b) relativa: quando o direito existe, mas agente não poderia obrigar a vítima a cumpri-lo de
maneira legal. Por exemplo, exigir que a vítima pague uma dívida de jogo de azar.
Formas de coação:
1- Violência: é a violência corporal, ou própria que pode ser direta quando empregada contra a
própria pessoa ou indireta quando empregada contra terceiro que a vítima possui laço de
afinidade.Também pode ser praticada por omissão impedindo alguém de beber água ou comer, por
exemplo.
2- Grave ameaça: é a violência moral, chamada também de “vis compulsiva”. O mal não precisa ser
injusto como ocorre no crime de ameaça (art. 147 do CP). Embora possa ser justo, o fundamento
que leva o agente a prometê-lo ou o método utilizado não podem ser. Se, no entanto, a coação foi
resistível e a conduta praticada pelo coagido for crime, este responderá por ele nos termos do art.
22 do CP, embora com a pena atenuada em virtude do artigo 65, III, “c” também do CP.
3- Por qualquer meio reduzir a capacidade de resistência: O “qualquer outro meio” é hipótese de
interpretação analógica que abre espaço para o interpretador enquadrar várias hipóteses. É a
chamada violência imprópria que consiste num meio de minimizar a reação da vítima a fim de
conseguir a prática do ato ou sua abstenção. Por exemplo, através da ingestão de remédios ou
álcool.
Elemento subjetivo: É o dolo acrescido da finalidade específica de coagir alguém a fazer ou
deixar de fazer algo que a lei não obriga.
Consumação e tentativa: o crime se consuma quando a vítima faz ou deixa de fazer algo que
a lei não determina. Trata-se de crime instantâneo e material que admite tentativa quando a
vítima, apesar de coagida, não cede à pretensão do autor.
Aumento de pena
Aqui a pena de detenção será aplicada cumulativamente com a de multa e não de forma
alternada como ocorre no “caput”. Na segundo hipótese, o magistrado irá multiplicar a pena
por 2 na terceira fase da dosimetria da pena.
Na segunda hipótese estão incluídas as armas próprias que são construídas para o fim de
atacar como um revólver ou impróprias que são aquelas improvisadas como uma faca.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que
haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-
se primeiro aquela.
Na essa seria uma hipótese de cumulação de penas seria uma aplicação do sistema cúmulo
material usada também na parte geral do código ou seria uma nova definição de concurso
material?
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou
multa.
Núcleo: Ameaçar que significa amedrontar, intimidar. Aqui o mal prometido deve ser
injusto e grave.
Injusto: Não deve ser protegido pela Justiça. Então ameaçar de levar o pai que não
contribui com o sustento dos filhos na Justiça para pedir sua prisão por pensão
alimentícia não é crime.
Grave: deve ser forte o suficiente para que a pessoa se sinta ameaçada. Também deve
ser verossímil, não constitui ameaça dizer que matará alguém com a força do
pensamento. Não é necessária a real intenção de praticar o ato descrito na ameaça,
basta o caráter intimidatório.
É crime formal que se consuma ainda que pessoa não tenha se sentido ameaçada.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A ameaça é crime subsidiário desta forma se ela for elemento constitutivo para a prática
de outro crime como no caso do estupro ou do roubo, aplicar-se-á apenas este último.
Perseguição
Até a criação deste crime, a maior parte dos atos de perseguição se inseriam no
art. 65 do Decreto-lei 3.688/41 (perturbação da tranquilidade), cuja pena de prisão
simples variando de quinze dias a dois meses era considerada insuficiente. Tal
contravenção foi agora revogada.
Art. 65. Molestar alguem ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovavel: (Revogado pela Lei nº 14.132, de 2021)
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis.
O verbo perseguir não tem apenas a conotação de ir freneticamente no
encalço de alguém. Há também um sentido de importunar, transtornar, provocar
incômodo e tormento, inclusive com violência ou ameaça. Essa conduta se
assemelha ao termo inglês stalking, sendo que essa conduta já era criminalizada
em alguns outros países.
Pela pena o delito de perseguição será abrangido pela Lei 9099/95, com todos
os benefícios advindos desta, a menos que se trate de crime praticado contra a
mulher em razão desta condição, conforme o inciso II e virtude da vedação inserta
na Lei Maria da Penha.
Mas esse crime não se restringe a relações domésticas ou possui como vítima
exclusiva as mulheres. Podemos citar como exemplo, um patrão ou outro
funcionário que persegue o empregado provocando sua demissão ou impedindo
que ele arrume outro emprego.
O tipo penal é estruturado com uma ação nuclear (perturbar), que pode atingir a
vítima de três formas:
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
(Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de um a três anos.
Núcleo: privar que significa tolher, tirar algo se referindo à liberdade da pessoa. O
crime pode ser praticado na forma comissiva (valendo-se o agente de violência física,
moral ou outro meio para reduzir a capacidade de resistência da vítima), ou omissiva
(mantendo alguém preso dentro de um cômodo que só pode ser aberto do lado de
fora).
Pode ainda ocorrer por detenção que existe quando o agente arrebata, leva, a vítima
para outro local (o cativeiro) ou por retenção quando se retira a capacidade de
locomoção da vítima, prendendo-a em algum lugar, por exemplo dentro de casa.
Percebe-se, assim, ser desnecessário levar a vítima para outro local.
Art. 239- “Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais”.
Exemplos: em local sem higiene básica ou sem ventilação, por privação de alimentos
ou medicamentos, em virtude dos meios utilizados que são aflitivos como as
algemas, venda nos olhos, métodos que dificultem o pedido de socorro ou que
sejam humilhantes.
§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2 o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei
nº 10.803, de 11.12.2003)
Frustração de direito assegurado por lei trabalhista – O art. 203, § 1º, I, do Código Penal,
pune quem “obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado
estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida” (I);
ou “impede de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por
meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais”. A diferença básica entre
o art. 149 e o art. 203, § 1º, I, é que naquele existe restrição física à liberdade de
locomoção do trabalhador, enquanto neste a vítima é compelida moralmente a
permanecer vinculada ao trabalho, sem cerceamento do seu direito de ir e vir. O art. 203,
§ 1º, I, convém anotar, é subsidiário em relação ao art. 149.
Estatuto do Idoso – O crime do art. 99 da Lei 10.741/2003. É crime mais brando, aplicável
quando não há relação de trabalho entre autor e a vítima. Prescinde de restrição à
liberdade. Existindo o vínculo de trabalho, poderá haver o crime do art. 149 do CP.
Tráfico de pessoas:
A este crime foi atribuído um tempo maior de cumprimento de pena para que se
conceda a liberdade condicional, ou seja, superior a 2/3 como nos crimes hediondos,
tráfico de drogas, tortura e terrorismo. A regra geral é o artigo 83 do CP dispõe como
regra geral 1/3 ou metade seu o réu for reincidente em crime doloso.
Núcleo: São 08 verbos: agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar
ou acolher; sendo crime misto alternativo (o preenchimento de mais de uma conduta
no mesmo contexto configura um só crime). Qualquer destas condutas deve ser
praticada mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.
Elemento subjetivo: Dolo, sendo que em cada inciso haverá um especial fim de agir
(elemento subjetivo específico), por exemplo, remover órgãos, tecidos ou partes do
corpo, submeter a trabalho em condições análogas à de escravo...
Sujeito ativo: qualquer pessoa Sujeito passivo: qualquer pessoa que pode ser o dono
do dispositivo violado ou quem tem informações suas devassadas.
Deve haver violação indevida do dispositivo que é aquela realizada sem justa causa e
desautorizada. Se a violação for devida, não há o crime (ex.: perito, devidamente
autorizado, inspeciona informações contidas em computador apreendido em operação
policial).
Seu sujeito ativo deste § 1º será qualquer pessoa, mas não há um sujeito passivo
determinado. Porém, tais crimes são de ação pública condicionada a representação.
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o
crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta
prejuízo econômico. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
O § 3o são hipóteses que qualificam o crime, sendo hipótese de crime subsidiário (se a
conduta não constitui crime mais grave) conforme disposto no preceito secundário.
Gabarito: 1-C
Título II: Dos Crimes contra o Patrimônio
Capítulo I: Do Furto
Furto
Objeto jurídico: Tutela-se o patrimônio. Mas com relação à amplitude desta tutela existem
várias opiniões: a) Para alguns tutela apenas a propriedade (Nelson Hungria); b) Tutela a
posse e a propriedade (Magalhães Noronha e Nucci); c) Tutela posse, propriedade e
detenção ( Bittencourt- Majoritária).
1- A propriedade é um direito real preestabelecido em lei que confere plenos poderes sobre
a coisa e não sofre qualquer limitação a não ser que seja pelo interesse público.
A coisa própria não pode ser furtada, pois a lei fala em alheia. Também não
podem ser furtados bens imóveis por não se encaixarem no tipo penal. Bens
móveis equiparados a imóveis pela lei civil (por exemplo, os navios) podem ser
furtados.
Existe controvérsia se o objeto a ser subtraído teria que ter valor econômico. O
STF afirma que tem valor para um indivíduo é o que ele considera útil. Assim, por
exemplo, a subtração de uma carta da pessoa amada constituiria furto.
Os animais podem ser objeto de furto. O sêmem, se tiver valor econômico como
o de um boi premiado, pode ser objeto de furto por ser considerado energia
genética.
O furto de uso é fato atípico. Porém para que este se caracterize é necessário o
preenchimento de alguns requisitos:
Sim. Porque inexiste qualquer vedação legal para tanto. (STF e STJ)
Não. Em virtude da posição topográfica se aplica apenas o fruto simples.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.
Como consequência destes dois requisitos o juiz poderá substituir a pena de reclusão
pela detenção, cuja maior diferença consistirá no início do cumprimento da pena em
regime semiaberto e não fechado. Também poderá diminuir a pena em 2/3 ou
aplicar somente a pena de multa.
E o furto de TV a cabo?
Furto qualificado
O obstáculo rompido deve ser estranho à coisa subtraída ou pode ser inerente a ela?
Esta hipótese se difere da apropriação indébita (art.168 do CP) porque nesta a vítima
entrega o objeto de boa-fé para o autor e na primeira e o agente se vale da confiança
para que haja uma redução na vigilância que facilita a subtração.
Mediante fraude. Aqui o autor se vale de um meio ardil para ludibriar a vítima e
perpetrar a subtração. Essa fraude pode ser material (através de algum objeto ou
instrumento) ou moral (através da conversa enganosa).
Escalada: consiste na via anormal para ter acesso à coisa. Exige-se um esforço
incomum. Existem julgados no sentido de que subir em poste para furtar fios não
qualifica o crime porque não é uma via anormal para ter acesso à coisa. Por fim, o autor
não precisa necessariamente passar por cima do obstáculo, um túnel, por exemplo,
configura esta hipótese.
Destreza: É uma habilidade especial do autor que lhe permite o furto. Ex. os batedores
de carteira.
O autor deve usar tal habilidade para configurar a qualificadora. Se a vítima perceber o
furto não haverá a hipótese, mas se apenas terceiro ver restará configurado o inciso.
Ligação direta não configura esta qualificadora segundo a jurisprudência. Nem o uso
da chave verdadeira subtraída do dono.
Súmula 500 do STJ: A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova
da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.
Aqui o agente subtrai coisa alheia móvel por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de
mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro
meio fraudulento análogo. É o caso do agente (hacker) que, aproveitando a
vulnerabilidade de pessoas que utilizam uma rede pública de internet, intercepta a
conexão e obtém dados de acesso a contas bancárias. Com esses dados à disposição,
acessa as contas e transfere quantias em dinheiro para outra conta da qual efetua
saques.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
O conceito de veículo esta no anexo I do CTB que assim dispõe: “todo veículo a motor
de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o
transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para
o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma
linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”.
Neste caso o sujeito ativo será próprio uma vez que o crime deve ser praticado por
condômino, co-herdeiro ou sócio.
1- (FGV, OAB, 2020) Inconformado por estar desempregado, Lúcio resolve se embriagar. Quando se
encontrava no interior do coletivo retornando para casa, ele verifica que o passageiro sentado à sua
frente estava dormindo, e o telefone celular deste estava solto em seu bolso. Aproveitando-se da
situação, Lúcio subtrai o aparelho sem ser notado pelo lesado, que continuava dormindo
profundamente. Ao tentar sair do coletivo, Lúcio foi interpelado por outro passageiro, que assistiu ao
ocorrido, iniciando-se uma grande confusão, que fez com que o lesado acordasse e verificasse que
seu aparelho fora subtraído.
Após denúncia pelo crime de furto qualificado pela destreza e regular processamento do feito, Lúcio
foi condenado nos termos da denúncia, sendo, ainda, aplicada a agravante da embriaguez
preordenada, já que Lúcio teria se embriagado dolosamente.
Considerando apenas as informações expostas e que os fatos foram confirmados, o(a) advogado(a)
de Lúcio, no momento da apresentação de recurso de apelação, poderá requerer
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Consumação e tentativa: STF e STJ entendem que a consumação ocorre com mera
inversão da posse, ainda que por um breve espaço de tempo e sem sair da esfera de
proteção e vigilância da vítima (“Amotio”). Mas existem outros que dizem que a
consumação ocorre quando o autor subtrai a coisa e retira da esfera de proteção e
vigilância da vítima (“Ablatio”).
Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
- Se a violência é empregada contra uma pessoa e subtrai o objeto de uma pessoa. Haverá
um roubo.
- Se a violência é empregada contra duas pessoas e se subtrai o objeto de uma pessoa.
Haverá um roubo.
- Se a violência é empregada contra uma pessoa e se subtrai objetos de várias pessoas.
Haverá um roubo.
Obs: Há jurisprudência que define como concurso formal, porém deve se ter a prévia e
deliberada intenção de subtrair bens distintos.
Não existe a figura do roubo privilegiado como no caso do furto. Também não existe um
tipo definindo roubo de coisa comum, assim o coherdeiro que roubar o outro responde
pelo artigo 157 do CP.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou
a detenção da coisa para si ou para terceiro. (roubo impróprio)
O parágrafo 1º não repete o trecho do “caput” que diz “depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência” então essa figura não pode ser
praticada por violência imprópria.
“Logo depois de subtraída a coisa” é uma expressão que significa que a violência ou
grave ameaça deve ocorrer dentro do mesmo contexto fático, ou seja, deve haver
ocorrer imediatamente após a subtração. Se ocorrer antes ou durante a subtração
haverá roubo próprio.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº
13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
O STJ tem decisões que tal causa não abrange empresas que realizam este tipo de serviço
eventualmente.
Engloba dinheiro e outros objetos com valor econômico que estejam sendo transportado
para terceiro.
Deve existir o dolo direto, ou seja, o autor deve saber que rouba empresa de transportes.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela
Lei nº 13.654, de 2018)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma
branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
O inciso VII merece ser estudado a luz do § 2º-A, por ser decorrente das alterações
provocadas por esse.
A Lei 13.654/18 também acrescentou o § 2º-A que atribui uma causa de aumento de pena
maior do que a do § 2º. Aqui a pena aumenta em 2/3 se o crime for praticado:
Agora e quem praticou o crime com uma arma imprópria (aquela que não foi construída para
esse fim como uma barra de ferro) como fica?
Por isso, tal modificação foi criticada pela doutrina, pois o aumento de pena do uso de arma
se justifica por dois motivos: (a) maior risco à integridade física e à vida do ofendido e de
outras pessoas; e (b) facilitação na execução do crime, uma vez que o emprego de arma
acarreta maior temor à vítima, reduzindo ou eliminando sua possibilidade de defesa. Motivos
válidos para quem se vale de qualquer tipo de arma e não apenas as de fogo para praticar o
roubo.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
Outras observações sobre este tema: Tal causa de aumento de pena se comunica aos co-
autores que não estavam portando a arma de fogo.
Quem simula estar armado (arma de fogo) responde pelo roubo simples. Mas e o uso de
simulacro (arma de fogo de brinquedo) configura a causa de aumento?
Para a incidência desta causa de aumento serão necessários os dois requisitos: 1) que para o
roubo exista destruição de obstáculo. 2) que seja provocado por explosivo ou outro meio
que gere perigo comum.
Caso exista mais de uma causa de aumento de pena, como se portar? Existem dois critérios:
a) Critério qualitativo (STJ) que considera a reprovabilidade da conduta. Assim, mesmo com
uma única causa de aumento poder-se-ia incidir a causa de aumento acima do mínimo. Por
exemplo, existem potenciais lesivos diferentes em quem porta um revólver e quem porta um
fuzil, portanto haveriam penas diferentes para ambos. b) Critério quantitativo que leva em
conta o número de causas de aumento no mesmo crime para majorar a pena. Desta forma
criou-se uma tabela.
Número de causas de aumento Percentual de aumento
1 1/3
2 3/8
3 5/12
4 11/24
5 1/2
Súmula 443, STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua
exasperação a mera indicação do número de majorantes”.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Caso incidam as qualificadoras, não será possível inserir também as majorantes porque
estas, em razão da topográfica, dizem respeito apenas as figuras do roubo próprio e
impróprio (STJ). Contudo estas podem ser usadas como circunstâncias desfavoráveis na
primeira fase da dosimetria da pena.
Como neste parágrafo a lei não utiliza a grave ameaça ou a violência imprópria
prevalece que tais hipóteses persistem apenas como resultado da violência própria.
Para a consumação do roubo qualificado com a lesão grave basta que esta seja
efetivada, ainda que não ocorra a subtração. Admite tentativa.
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não se realize o agente a subtração de bens da vítima.
Disto decorre que se a subtração e a morte forem tentadas haverá latrocínio tentado. Se
a subtração se consuma, mas a morte não há também latrocínio tentado (embora o STF
tenha julgado em contrário se houver o dolo de matar. Assim seria roubo consumado em
concurso material com tentativa de homicídio). Por fim, se houver subtração tentada e
morte consumada ou subtração e morte consumadas haverá o latrocínio consumado.
Não é possível a continuidade delitiva entre os crimes de latrocínio e roubo, pois ambos
são delitos que tutelam bens jurídicos distintos (STJ).
Extorsão
Núcleo: Constranger que significa compelir, forçar alguém a fazer algo. Pode ocorrer
por violência ou grave ameaça, pois o artigo não cita a violência imprópria.
A ameaça pode ser dirigida a pessoa ou a algum patrimônio como, por exemplo, dizer
que vai destruir seu veículo que havia sido dela subtraído.
Vantagem indevida: será de cunho material, mas aqui abrange bens móveis e imóveis.
Se a vantagem for outra como, por exemplo, manter conjunção carnal haverá outro
crime como, no caso, o estupro (art. 213 do CP).
Consumação: É crime formal que se consuma quando a vítima faz, tolera ou deixa de
fazer algo. O recebimento de vantagem econômica é exaurimento do crime pode ser
usado na dosimetria da pena.
A tentativa ocorre quando a vítima constrangida não faz ou deixa fazer algo (por ex., é
impedida por terceiro).
Com relação à restrição de liberdade, esta foi alteração para tipificar a conduta do
sequestro relâmpago com simples especificação da conduta a ser praticada pelo autor
do crime. Ex. o autor restringe a liberdade da vítima para que esta o acompanhe até o
banco e saque o dinheiro.
Qual a distinção entre roubo com restrição de liberdade e extorsão com restrição da
liberdade?
Extorsão mediante seqüestro
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei
nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
Como o artigo 159 do CP fala “pessoa”, caso se sequestre animal de estimação ocorrerá a
incidência do artigo 158 do CP.
Núcleo: Sequestrar, ou seja, privar da liberdade. Ocorre normalmente pelo cárcere, sendo
desnecessário que a vítima seja conduzida a outro lugar. Aqui cabe violência, grave ameaça e
violência imprópria.
É crime complexo em sentido estrito porque resulta da junção do artigo 148 (sequestro e
cárcere privado) com o delito do artigo 158 (extorsão).
Qual crime comete o agente que simula o próprio sequestro para receber dinheiro dos
familiares?
A vantagem a ser almejada deve ser econômica, pois o delito esta dentro dos crimes contra
o patrimônio. Bitencourt e STJ entendem que a vantagem não precisa ser financeira.
Condição do resgate – É qualquer comportamento do sujeito passivo que proporcione
vantagem econômica ao agente. Ex.: assinar um cheque, elaborar nota promissória etc.
Preço do resgate – Dinheiro em espécie ou outro bem (ex.: pedras preciosas etc.).
Consumação: É crime formal que se consuma com a privação de liberdade (STJ). Deve-
se demonstrar que o agente almejava vantagem econômica ou haverá o artigo 148 do
CP que é crime subsidiário.
Para alguns esses resultado deveriam ocorrer com a pessoa que esta em cativeiro. Se
atingir terceiro, por exemplo, o policial haveria concurso material entre extorsão
mediante sequestro e homicídio (julgados pelo júri). Para outro pode acontecer a
qualquer pessoa e seria de competência do juiz singular.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um
a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)
Pratica o crime de extorsão indireta (art. 160) o agente que exige ou recebe, como
garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro. É o caso, por exemplo, de
induzir o necessitado cliente a assinar um contrato simulado de depósito ou a forjar no
título de dívida a firma de algum parente abastado, de modo que, não resgatada a dívida
no vencimento, ficará o mutuário sob a pressão da ameaça de um processo por
apropriação indébita ou falsidade.
O documento – objeto – pode ser uma confissão de um crime; tendo sido este crime
(anterior) cometido ou não pela vítima.
A pena é menor porque aqui não se exige violência ou grave ameaça. É processado por
ação pública incondicionada.
Questões
1 (FGV, OAB, 2019) Em 05/10/2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adquirir uma moto
em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 09/10/2018, sequestra
Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No mesmo dia, a dupla entra em contato
com a família da vítima, exigindo o pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)
para sua liberação. Duas semanas após a restrição da liberdade da vítima, período durante o qual os
autores permaneceram em constante contato com a família da vítima exigindo o pagamento do
resgate, a polícia encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de
imediato, Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família.
Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e reservada,
deverá esclarecer que sua conduta
A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal adota a
Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para fins penais.
B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão ministerial, pois o Código Penal adota a
Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza formal, sua
consumação se deu em 05/10/2018.
C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de
imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma consumada.
D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de
imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma tentada, já que o crime
não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois não houve obtenção da vantagem
indevida.
Gabarito: 1- C
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Núcleo: São três verbos: Destruir (ou seja, derrubar), inutilizar (tornar sem serventia) ou
deteriorar (significa por em pior estado).
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
O inciso I descreve crime pluriofensivo, pois haverá violação da dois bens jurídicos (patrimônio
e incolumidade física). Se da violência ocorrer lesão corporal o autor responderá pelo crime
de dano qualificado em concurso material com o artigo 129 do CP conforme se observa do
preceito secundário:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Veja que não fala em grave ameaça que então fica absorvida pelo art. 163, parágrafo único)”.
Tanto a violência quanto a grave ameaça devem ser empregadas para a prática do dano. Se
forem empregadas depois deste haverá concurso material do art. 163 com o art. 129 ou
147 do CP.
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de
serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
O inciso IV pune mais severamente o dano provocado por motivo egoístico que seria aquele
extremamente individualista e desmedido (ex. o flanelinha que risca o carro de quem não
queria lhe pagar) ou o que cause prejuízo considerável à vítima analisado no caso concreto
de acordo com a situação financeira desta.
Ação penal
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.
Assim, serão crimes de ação penal privada apenas a figura do “caput” do artigo 163 e de
seu parágrafo único IV (“por motivo egoístico e ou prejuízo considerável à vítima”). As
demais hipóteses serão de ação pública incondicionada.
Apropriação Indébita:
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa que tenha a posse ou detenção legítima da coisa alheia
móvel. Por esta razão Guilherme de Souza Nucci entende que seria crime próprio, porém
majoritariamente classifica-se como crime comum.
Sujeito passivo: É o proprietário ou possuidor que entrega o bem para o sujeito ativo.
Núcleo: Apropriar-se que significa assenhorar, apossar da coisa que pertence a outrem.
STF e STJ entendem que a coisa, objeto da conduta deste crime, pode ser inclusive coisa
fungível. Porém, o tema não é pacífico. Guilherme de Souza Nucci afirma que o depósito ou
empréstimo de coisa fungível, com a obrigação de restituição de outra de mesma espécie,
quantidade e qualidade, encerra uma transferência de domínio (arts. 645 e 586 do CC).
Assim não caberia o crime se outra coisa com estas especificações fosse restituída no lugar.
Por fim, a posse também deverá ser desvigiada, senão ocorrerá o furto quando se espera a
distração da vítima para subtrair a coisa.
Com relação à tentativa existe divergência na doutrina. Parte defende a possibilidade, parte
diz ser impossível e alguns afirmam que pode ocorrer apenas no caso de apropriação
propriamente dita, ou seja, quando a pessoa pretende vender a coisa emprestada.
Na prática é difícil de ocorrer. Guilherme de Souza Nucci traz o seguinte exemplo: o agente
“possuía um quadro, que lhe fora confiado; quando solicitado a instado a devolver, levou ao
ofendido uma cópia. A vítima logo percebeu e exigiu o original, momento em que o agente
desistiu de prosseguir e entregou-lhe o original”.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
O depósito necessário legal pode ser resolvido com outras figuras criminais como o
peculato (Art. 312) se o agente for funcionário público ou a apropriação indébita
qualificada em razão de ofício, emprego ou profissão.
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
Estelionato:
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Vide
Lei nº 7.209, de 1984)
o estelionato se caracteriza pelo emprego de uma fraude com o intuito de enganar a vítima e
fazer com que esta entregue ao autor espontaneamente alguma vantagem. Aqui não há
ameaça, violência ou coação.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, tanto a que é enganada quanto a que sofre o prejuízo no
patrimônio. É crime bicomum.
Núcleo: Os verbos são induzir ou manter. Induzimento significa persuadir, provocar o engano.
Por exemplo, a pessoa se passa por parente da vítima e liga para ela dizendo que seu carro
quebrou precisa de dinheiro para o mecânico.
Manter significa conservar, permanecer. Aqui o agente faz com que a vítima perdure numa
situação de engano na qual ela já se encontrava. Por exemplo, a vítima se confunde com
relação à pessoa com quem tem uma dívida. O autor, percebendo o engano, finge ser o
credor e assim recebe o dinheiro.
A expressão “vantagem ilícita” é mais abrangente do que a do crime de furto que diz “coisa
alheia móvel”. Destarte, alcança qualquer benefício desde que seja patrimonial.
Perceba que o resultado no artigo 171 será sempre duplo. Haverá o prejuízo alheio em
conjunto com a vantagem ilícita.
- Artifício é a fraude material que pressupõe o uso de algum instrumento ou vestimenta para
enganar a vítima como um uniforme falso.
- Ardil é a fraude moral ou intelectual. Nesta o agente usa uma conversa enganosa para a
prática do crime.
Consumação: Como se trata de crime com resultado duplo sua consumação dependerá dos
dois resultado: vantagem ilícita associada ao prejuízo alheio.
A tentativa será possível quando o agente induzir a vítima ao erro, mas não conseguir a
vantagem ilícita e/ou a vítima não sofrer prejuízo.
A torpeza bilateral, ou seja, aquela situação em que ambas as partes tentam levar vantagem
se enganando, afasta o crime de estelionato?
Abrange coisa móvel e imóvel. Para consumação é imprescindível que o agente receba a
vantagem indevida em prejuízo alheio (crime material). O STJ também tem algumas decisões
no sentido de que o contrato de compra e venda realizado com pagamento, mas sem a
inversão da posse já seria o estelionato consumado.
Súmula 246 do STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão
de cheque sem fundos.
Se o agente falsifica documento e o utiliza para enganar alguém trazendo a esta prejuízo
praticará o crime de estelionato ou de falsificação documental? Quatro correntes:
O crime de falsificação documental absorve o estelionato, pois o primeiro é crime formal que
se consuma com a mera falsificação sendo a obtenção de vantagem indevida pelo autor
mero exaurimento deste. (Nelson Hungria)
O estelionato absorva a falsidade, pois este último é mero instrumento para a prática
daquele. Aplica-se assim o princípio da consunção para resolver o impasse. (Majoritaria)
São duas condutas e dois crimes, assim aplica-se o concurso material nos moldes do art. 69
do CP.
Concurso formal (art. 70 do CP), pois são dois crimes praticados numa sucessão de atos que
compõe uma única conduta.
Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é
cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei
nº 14.155, de 2021)
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de
entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.
Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade
autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º, do art. 171 do Código Penal.
Súmula 107 do STJ: Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições
previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal.
Questiona-se se a fraude contra a previdência social para ensejar o recebimento de
benefício indevido configura crime instantâneo, permanente ou continuado. A questão
ganha relevância sobretudo porque, a depender da posição adotada, haverá diferentes
reflexos no cálculo da prescrição.
Essa regra não se aplica ao caso de estelionato praticado por meio de cheque falso (aqui
o juiz competente é o do lugar da obtenção da vantagem indevida). Porém, aplica-se ao
estelionato praticado com cheque sem fundo, no qual antes era competente o da
agencia bancária, onde o título estava vinculado e que se recusava a efetuar o
pagamento (Súmulas 224 do STJ e 521 do STF). Agora a competência passou a ser do
domicílio da vítima. Assim as duas súmulas estão revogadas!
E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?
A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todas as
condutas o juízo do domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou
medida relativa a este, nos termos do art. 83 do CPP.
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
1- Receptação dolosa própria (art. 180, “caput”, 1º parte do CP): “Adquirir, receber, transportar,
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime”.
É modalidade de tipo misto alternativo, ou seja, ainda que praticado mais de verbo dentro do
mesmo contexto fático haverá um único crime.
A receptação é denominada crime parasitário, acessório ou de fusão porque depende da
existência de um crime anterior.
Perceba que o artigo diz “produto de crime”, assim se for produto de contravenção não haverá
receptação. Noronha diz que abrange o produto de ato infracional, Fragoso por outro lado diz
que não engloba.
Não há necessidade que o crime anterior seja um crime contra o patrimônio. Pode haver
inclusive receptação de receptação também chamada de receptação em cadeia.
O dolo deve ser atual, ou seja, aferido no momento da conduta. Não há receptação se a
pessoa recebe de boa-fé a coisa e depois descobre ser produto de crime. Porém, Nelson
Hungria discorda disto.
2- Receptação dolosa imprópria (art. 180, “caput”, 2º parte):
Núcleo: Se refere à expressão “influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte” a coisa produto de crime.
Aqui o agente tenta induzir pessoa honesta a ficar ou ocultar produto de crime. Se o terceiro
cv souber da procedência ilícita (tiver má-fé) será ele o receptador nos moldes da 1º parte e o
“atravessador”será partícipe neste crime.
Consumação: É crime formal que se consuma com o ato de influir, ainda que o terceiro não
aceite o produto do crime. Mas então admite tentativa? Majoritariamente se diz que não por
ser crime unissubsistente. Mas existe controvérsia; Guilherme de Souza Nucci a tentativa de
influenciação. Por exemplo, a polícia chega no momento em que o agente tenta vender o
celular para a pessoa.
Aqui a lei ofereceu parâmetro que deve ser observados na tipificação do crime. É hipótese
rara de um tipo culposo fechado.
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Disposições gerais:
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça
ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Questões
1 (OAB, CESP, 2008) Viviane esteve em uma locadora de filmes e, fazendo uso de
documento falso, preencheu o cadastro e locou vários DVD’s, já com a intenção de
não devolvê-los.
Nessa situação hipotética, por ter causado à casa comercial prejuízo equivalente ao
valor dos DVDs, Viviane praticou, segundo o CP, o delito de
B ) estelionato.
D ) apropriação indébita.
Gabarito: 1- B