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Crimes contra a vida

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Verbo: Matar- crime de forma livre que pode


ser comissivo ou omissivo impróprio. No
primeiro caso os meios de execução podem ser
a violência física, meios morais ou por palavras.
Sujeito ativo e passivo: é crime bicomum. No que tange ao
sujeito passivo a vida deve ser extrauterina ou será
considerado aborto.
É crime unissubjetivo, admitindo co-autoria ou
participação.

A pessoa deve estar viva ou será considerado crime


impossível (art. 17 do CP).

Crime material: exige resultado naturalístico.

Crime de dano: provoca efetiva lesão no bem jurídico vida.

Crime instantâneo de efeitos permanentes: Se consuma


com a morte cerebral (Lei 9434/97, art.3º)
Comprovado através de perícia médica (artigo 158, CPP),
exceção (art. 167, CPP).

Objeto jurídico: como dito antes é a vida humana


extraulterina,

Objeto material: a pessoa sobre a qual recaí a conduta

Elemento subjetivo: é o animus necandi = dolo. Não se


exigem qualquer elemento subjetivo específico
(finalidade especial), embora este possam ser usado
para qualificar o delito (ex.: quando praticado com o
especial fim de assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime, incide a
qualificadora descrita no inciso V do § 2°).
Gemeos xipófagos ou siameses: Se você matar um dos
irmãos o outro irá morrer. Você tem o dolo direto de
primeiro grau contra quem você quer matar, mas com
relação ao outro irá responder por dolo direto de segundo,
ao escolher os meios para praticar o crime você aceitou
como desejada a morte do outro.

Caso de diminuição de pena


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Essas causas não se comunicam aos co-autores e partícipes


pois tem natureza subjetiva (ar. 30 do CP).
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
outro motivo torpe (repulsivo);
II - por motivo futil (desproporcional);

Prevalece que o motivo não pode ser fútil e torpe ao mesmo tempo.

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura


ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do
ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Circunstâncias de ordem objetiva segundo o STJ.


É possível o homicídio qualificado-privilegiado?

É possível em determinadas situações: Exige-se alguma destas 3


qualificadoras; III emprego de veneno..., IV traição..., VI contra
mulher...
A causa de privilégio pode ser qualquer uma.

O homicídio simples é crime hediondo? Será crime hediondo


desde que praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que praticado por um só agente. O qualificado sempre será
hediondo e o qualificado -privilegiado ou só privilegiado nunca
será.

Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído
pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças
degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº
13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de
ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de
2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº
11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771,
de 2018)
Questões

1 (FGV, OAB, 2018) Márcia e Plínio se encontraram em um quarto de hotel e, após


discutirem o relacionamento por várias horas, acabaram por se ofender
reciprocamente. Márcia, então, querendo dar fim à vida de ambos, ingressa no
banheiro do quarto e liga o gás, aproveitando-se do fato de que Plínio estava
dormindo.
Em razão do forte cheiro exalado, quando ambos já estavam desmaiados, os
seguranças do hotel invadem o quarto e resgatam o casal, que foi levado para o
hospital. Tanto Plínio quanto Márcia acabaram sofrendo lesões corporais graves.
Registrado o fato na delegacia, Plínio, revoltado com o comportamento de Márcia,
procura seu advogado e pergunta se a conduta dela configuraria crime.

Considerando as informações narradas, o advogado de Plínio deverá esclarecer que


a conduta de Márcia configura crime de

A) lesão corporal grave, apenas.


B )tentativa de homicídio qualificado e tentativa de suicídio.
C )tentativa de homicídio qualificado, apenas.
D)tentativa de suicídio, por duas vezes.

Gabarito: 1- C
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (Redação dada
pela Lei nº 13.968, de 2019)

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou


prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de
2019)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei nº
13.968, de 2019)
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela
Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; (Incluído pela Lei nº
13.968, de 2019)
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
nº 13.968, de 2019)
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por
meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em
tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou
coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº
13.968, de 2019)
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão
corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste
Código. (Incluído pela Leinº 13.968, de 2019)
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide
ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante
não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são


aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém
a morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)

Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal.
Questões

1- (FGV, OAB, 2023)Maria, adolescente de 13 anos, procura seu tio Roberto e


informa que está grávida, mas que não deseja ter o filho, motivo pelo qual pede
sua ajuda para interromper a gravidez. Roberto, diante da solicitação de sua
sobrinha, resolve ajudá-la e realiza a manobra abortiva, vindo a causar a morte do
feto, chegando Maria a expelir o produto da concepção de seu corpo.
Acerca da responsabilização penal de Roberto e Maria, assinale a afirmativa
correta.

A) Maria responderá pelo ato infracional análogo ao crime de aborto praticado


pela gestante e Roberto será responsabilizado como partícipe do crime de aborto
praticado pela gestante, previsto no Art. 124 do CP.
B) Maria não será responsabilizada penalmente e Roberto responderá pelo crime
de aborto sem o consentimento da gestante, previsto no Art. 125 do CP.
C) Maria será responsabilizada por ato infracional análogo ao crime de aborto
praticado pela gestante e Roberto será responsabilizado pelo crime de aborto com
o consentimento da gestante, previsto no Art. 126 do CP.
D) Maria não será responsabilizada penalmente e Roberto será responsabilizado
pelo crime de aborto com o consentimento da gestante, previsto no Art. 126 do
CP.

1- B
Lesão Corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém,


sem animus necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela
abrange qualquer ofensa à normalidade funcional do organismo
humano tanto do ponto de vista anatômico quanto do fisiológico ou
psíquico. Na verdade é impossível uma perturbação mental sem um
dano a saúde, ou um dano à saúde sem uma ofensa corpórea. O objeto
da proteção legal é a integridade física e a saúde do ser humano.
(BITENCOURT, 2012, p. 186)

É necessário ressaltar que a lesão corporal é uma ofensa física voltadas a


causar danos a integridade física ou a saúde da pessoa, não se
admitindo qualquer forma de ofensa moral.
Elemento subjetivo: é o dolo direto ou eventual sem finalidade específica,
denominado animus laedendi.
Se o agente não atua com o dolo de lesionar a integridade física, mas apenas de
expor a perigo esta responde pelo art. 132 do CP. O mesmo ocorre com
diferenciação da tentativa de lesão corporal e a contravenção de vias de fato (art.
21 da LCP).

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de
outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de
qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:


Pena - prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o
fato não constitue crime.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60
(sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

E o corte de cabelo ou barba sem autorização?


Consuma-se com a lesão a integridade física ou à saúde de outrem (crime
material). Cabe tentativa.

A pena cominada à lesão corporal leve é condicionada à representação da vítima


e se enquadra na Lei 9099/95 (Juizados Especiais).

Apesar de a incolumidade física ser bem indisponível, cresce a posição de que é


viável a excludente supralegal de antijuridicidade do “consentimento do
ofendido” que ocorre por exemplo quando se coloca um piercing na pessoa.

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Todas as lesões corporais qualificadas são de ação pública incondicionada.


-Incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias: Aqui diz respeito
a todas as atividades lícitas praticadas pela vítima ( ex. frequentar academia) e
não apenas as laborais. A análise feita neste caso será objetiva, assim se o
lesionado não fizer suas atividades por um motivo subjetivo como, por
exemplo, vergonha da lesão não incidirá a qualificadora.

-Perigo de vida: Aqui não se exige nenhum transcurso de tempo, nem tão
pouco se houve tratamento para a melhora. Será uma figura preterdolosa,
onde o agente quis lesionar e acabou gerando um perigo de vida. O perigo de
vida deverá ser constatado pela perícia.

-Debilidade permanente: redução de alguma funcionalidade do corpo


humano. Não pode ser transitória, porém não tem que ser irreversível. Caso
haja algum tratamento que cure a vítima ainda persiste a qualificadora. Pode
atingir um membro (ex. perder um dedo), um sentido (ex. redução da audição)
ou função (ex. digestiva, respiratória, circulatória...)
E se a lesão consistir em retirada de órgãos ou tecidos? Nesse caso aplica-se a
Lei 9434/97, com pena de reclusão de dois a seis anos e multa. Nela existem
várias qualificadoras como o motivo torpe ou quando a retirada ocorre em
pessoa viva.

Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as
disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.
§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa

- Aceleração de parto: apesar de nascer antes da hora, o feto deverá sobreviver. Se


houver um aborto será lesão gravíssima. O agente deve saber que vítima esta
grávida, pois no direito penal não há responsabilidade objetiva.
Se o agente agir com dolo (ainda que eventual) sobre a morte do feto responderá
em concurso formal imperfeito pela lesão corporal grave e tentativa de aborto.
Lesão corporal gravíssima

§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

- Incapacidade permanente para o trabalho; Aqui a capacidade diz respeito


especificamente ao trabalho. Também não se exige que seja irreversível, mas não
pode ser transitória. Esse resultado pode ocorrer por dolo ou culpa e mesmo assim
incidirá a qualificadora.

Mas essa incapacidade deve ser para qualquer trabalho ou só para o que era
desempenhado pela vítima? Por exemplo a perda de um dedo impossibilita a
trabalho como músico, mas não outro labor.
•Majoritariamente se diz que tem que ser para qualquer atividade laboral.
•A capacidade deve ser referir a atividade que a vítima desempenhava antes.
-Enfermidade incurável: É moléstia que não pode ser curada pelos recursos da medicina.
Se o tratamento for arriscado, muito penoso ou ainda for fora dos padrões normais da
medicina (tratamentos alternativos ou experimentais sem comprovação científica)
também incidirá a qualificadora. Fora destes casos, havendo recusa em procurar o
tratamento, não incidirá essa figura típica. O resultado pode ocorrer por dolo ou culpa.

Se o agente transmite deliberadamente o vírus HIV por qual crime responderá?

-Perda ou inutilização do membro, sentido ou função: Diferente da lesão grave que


menciona a redução da funcionalidade aqui se faz referência a eliminação da
funcionalidade. Por exemplo, a perda de um braço ou da visão, perda dos dentes
ceifando a função mastigatória ou do ovário eliminando a função reprodutiva. Pode
ocorrer por dolo ou culpa.

A cirurgia para esterilização ou mudança de sexo se enquadra neste inciso?

Lei 9263/96 rt. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10 desta Lei. (Artigo
vetado e mantido pelo Congresso Nacional) Mensagem nº 928, de 19.8.1997
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime mais grave.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for praticada:[...]
II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de alterações na capacidade
de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental
temporária ou permanente; [...]
IV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial;[...]
- Deformidade permanente: É a alteração morfológica de alguma parte externa
do corpo com consequência de dano estética. Permanente é a que não tem
capacidade de se regenerar sozinha.
Prevalece na doutrina que esta deve ser de tal monta que acarrete algum
transtorno ou vergonha para a vítima e, portanto, deve ser visível. Nucci
entende que não precisa ser visível, por exemplo nas nádegas.

- Aborto: Consuma-se com a morte do feto, independente de sua expulsão pelo


corpo da mãe. Para maioria é conduta preterdolosa e portanto não aceita
tentativa. É necessária a ciência da gravidez pelo autor.
Se houver o dolo, ainda que eventual, de praticar o aborto. O autor responderá
em concurso formal pela lesão corporal simples e pelo aborto sem
consentimento da vítima.

E se estiver presente mais de uma qualificadora? Ex.: deformidade


permanente + aceleração de parto + incapacidade para ocupação habitual por
mais de 30 dias. Aplica-se a hipótese mais gravosa para tipificar o crime (no
exemplo, deve ser reconhecida a lesão gravíssima), podendo o juiz utilizar as
demais na primeira fase da dosimetria.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado,
nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

É figura preterdolosa.
Não existe responsabilidade objetiva no direito penal, assim o agente tem que ter
previsibilidade para que o resultado mais gravoso se configure a título de culpa
(ex. dá um soco e a pessoa cai e bate a cabeça na quina do meio fio, vindo a
falecer), se ocorrer por motivo de força maior não haverá a qualificadora.
Exemplo: caso dos PMs que atiraram na perna de uma pessoa com trombose que
veio a morrer.
Crimes preterdolosos, em regra, não admitem tentativa. Assim se morrer incide a
qualificadora, se não morrer não incide, será a lesão corporal do “caput” ou outra
qualificadora que eventualmente se encaixar no resultado.

Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
A doutrina diz que são formas privilegiadas: valor social, moral e domínio de
violenta emoção seguida de injusta provocação. (tudo igual ao homicídio). Vale
ressaltar que nas lesões leves e privilegiadas o juiz pode substituir a pena por
multa.

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de
detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Neste caso a lei não faz distinção entre leves, graves e gravíssimas. Assim todas
terão a mesma pena que é de detenção de 2 meses a 1 anos e então vão para o
juizado especial. Aqui também a ação será pública condicionada a representação
da vítima. A menos que envolva violência doméstica pratica contra mulher.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de
2012)

Art. 121 [...]

§4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. [...]

§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art.


121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)

Art. 121, CP [...]

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da


infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
(Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se
o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação
dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº
11.340, de 2006)

Violência Doméstica:É qualificadora aplicável nas hipóteses de lesão leve.


ATENÇÃO! O sujeito passivo do crime previsto no § 9º pode ser homem ou mulher.
Se a violência for praticada contra mulher, incidirão as regras da Lei 11.343/2006.

Hipóteses que ensejam a aplicação da qualificadora:


a) contra Cônjuge ou Companheiro, Ascendente, Descendente ou Irmão (CCADI)
b) Com quem o agente conviva ou tenha convivido
c) Prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.

Aplica-se a qualificadora para conjuge, companheiro, ascendente, descendente ou


irmão com o qual o autor não esteja convivendo, nem tenha convivido?
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as
indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído
pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se
o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº
11.340, de 2006)

Causas de aumento de pena nos casos de violência doméstica: o § 10º diz que nos
casos de lesão no âmbito doméstico será aumentada a pena em 1/3 se a lesão
ainda se enquadrar em grave, gravíssima ou seguida de morte. Assim, a lesão leve
no âmbito doméstico já dão ensejo a qualificadora do §9º; porém caso as lesões
se enquadrem nas hipóteses acima ainda haverá o aumento de pena.

Já o § 11º aumenta em 1/3 a pena se o crime for cometido contra pessoa


portadora de deficiência. Esta causa de aumento aplica-se exclusivamente ao § 9º
que diz respeito a lesões leves e portanto não incide nos casos de lesão grave,
gravíssima ou seguida de morte.

Súmula 589 do STJ: Inaplicável o princípio da insignificância nos crimes e contravenções


envolvendo violência doméstica. (2017)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de
2015)

Lembrar também que desde 2015 todas as hipóteses de homicídio qualificado se


tornaram crime hediondo. Já no que diz respeito apenas às lesões corporais dolosas
gravíssimas e seguidas de morte quando praticadas contra os agentes descritos no §12º
do artigo 129 do CP.

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino,
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)

Obs: Se a lesão corporal culposa for praticada na condução de veículo automotor


aplicar-se-á o art, 303 do CTB e neste caso a ação será pública condicionada à
representação. Porém a ação será pública incondicionada quando:

-O condutor estiver embriagado ou sob efeito de substâncias entorpecentes;


-O condutor estiver participando de competição ou exibição não autorizadas;
-O condutor transitar em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km.
Questões

1 – (FGV, OAB, 2017) Pedro, quando limpava sua arma de fogo, devidamente
registrada em seu nome, que mantinha no interior da residência sem adotar os
cuidados necessários, inclusive o de desmuniciá-la, acaba, acidentalmente, por
dispará-la, vindo a atingir seu vizinho Júlio e a esposa deste, Maria. Júlio faleceu
em razão da lesão causada pelo projétil e Maria sofreu lesão corporal e debilidade
permanente de membro.

Preocupado com sua situação jurídica, Pedro o procura para, na condição de


advogado, orientá-lo acerca das consequências do seu comportamento.

Na oportunidade, considerando a situação narrada, você deverá esclarecer, sob o


ponto de vista técnico, que ele poderá vir a ser responsabilizado pelos crimes de

A) homicídio culposo, lesão corporal culposa e disparo de de arma de fogo, em


concurso formal.
B) homicídio culposo e lesão corporal grave, em concurso formal.
C) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso material.
D) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso formal.

Gabarito: 1-D
CRIMES CONTRA A HONRA

Honra é um conjunto de atributos inerentes à


personalidade, relacionados a aspectos de valor
individual e social, tanto de ordem moral, quanto
intelectual e física.
É um bem jurídico protegido pela constituição
federal em seu artigo 5, inc. X, portanto cláusula
pétrea.

Art. 5º […]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
HONRA OBJETIVA X HONRA SUBJETIVA

HONRA OBJETIVA HONRA SUBJETIVA


• Diz respeito a reputação, • Diz respeito a imagem que
imagem que a pessoa tem a pessoa tem de si mesma,
perante a sociedade. sua autoestima.

• Se consuma quando • Se consuma quando a


terceiro toma ciência do própria pessoa toma
fato. conhecimento do fato.

• Aceita retratação. • Não aceita retratação.


CALUNIA- DIFAMAÇÃO- INJURIA

- Calúnia: imputação falsamente à pessoa um fato


definido como crime.

- Difamação: imputação de fato desonroso, mas


não criminoso, à pessoa que pode ser verdadeiro
ou falso.

- Injúria: consiste em se atribuir qualidade


negativa sobre alguém. Esta qualidade negativa
por ser de um aspecto físico ou moral. É a única
que fere a honra subjetiva.
Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe
falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo
falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de
ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação
pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.
Núcleo do tipo: caluniar. Imputar falsamente crime a outrem. A vítima pode estar
presente ou não. Pode ser feito por diversas formas (gestos, palavras, desenho).
Pode ser referir a um crime que não existiu ou que existiu, mas foi praticado por
outrem. Também ocorrerá caso se impute a alguém crime diferente do que
cometeu. Ex. a pessoa furta algo e você diz que ela praticou latrocínio.

Não há exigência de que o autor tenha certeza que a imputação é falsa, bastando
que ele tenha dúvida sobre o que diz. Se houver erro ou fundada suspeita sob a
veracidade do fato afastar-se-á o dolo.

Elemento subjetivo: dolo direto ou indireto (direto de 2 grau). Exige-se, ainda, o


elemento subjetivo específico, consistente na intenção de denegrir a honra do
ofendido (animus calumniandi).

Consentimento do ofendido (controverso): É excludente supralegal, ou seja aquelas


que são aceitas pela sociedade em razão de alterações comportamentais ocorridas
ao longo do tempo.

Assim, o consentimento excluirá a ilicitude da calúnia, difamação e injuria. Deve ser


dado antes ou momento da prática do crime ou na verdade será caso de perdão ou
renúncia ao direito de queixa, uma vez que se trata de ação pública condicionada
(posição majoritária).
A calúnia pode ser:
a) explícita – atribuição clara e direta a alguém da prática
de fato previsto como crime (ex.: agente afirma para
terceiros que o ofendido é o autor de determinado crime
ocorrido na região).
b) implícita – a acusação é feita de forma indireta (ex.:
afirmar perante terceiros que é o único funcionário da
repartição que não participa de determinado esquema de
corrupção).
c) reflexa – imputar a alguém fato que abrange um terceiro
(ex.: alegar que um funcionário aceitou propina de um
empresário para favorecê-lo num determinado negócio).
Exceção da verdade(§ 3º): Como a calúnia pressupõe uma notícia falsa deve ser dada a
oportunidade ao autor de demonstrar que sua divulgação foi verdadeira e assim excluir o
crime. A exceção da verdade é um incidente processual envolvendo questão (questão
prejudicial) a ser resolvida antes da causa principal, ou seja, o julgamento do crime de calúnia.
Porém, existem três hipóteses em que a “exceptio veritatis” não é admitida:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível: Nos crimes de ação privada cabe exclusivamente à vítima do crime o
direito de interpor a ação. Assim não pode o autor da calúnia se sobrepor a esta vontade e
interpor a exceção da verdade e impedir o julgamento. Deverá ele esperar a sentença transitar
em julgado com relação ao crime que ele acusou a suposta vítima da calúnia para depois
entrar com a exceção.

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 (Presidente da


República ou a chefe de governo estrangeiro): Em virtude da relevância do cargo ocupado por
estas pessoas, não se permite que a utilização da exceção da verdade que irá denegrir mais
sua imagem demonstrando em juízo o crime praticado por elas.

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível: Se a pessoa já foi julgada e absolvida por algum crime, não caberá a exceção da
verdade, pois seria uma ofensa a coisa julgada (art. 5, XXXVI da CF).
Existe posição minoritária negando a recepção destas causa pela constituição de 1988. Assim,
a "exceção da verdade" essencialmente meio de defesa e, sendo sua garantia cerceada, há
ofensa direta ao princípio constitucional da Ampla Defesa.
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém,
imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação:
Pena - detenção, de três
meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção
da verdade somente se admite se o
ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de
suas funções.
Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”

É punível quem divulga a difamação?

Elemento subjetivo – É o dolo. Prevalece que é necessário o elemento subjetivo


específico, consistente na intenção de denegrir a honra do ofendido (animus
diffamandi). Ao contrário da calúnia, é desnecessária a consciência da falsidade
da afirmação, pois mesmo a imputação verdadeira configura crime.

Obs: O STF já decidiu que configura difamação o ato de editar áudio ou vídeo de
pessoa com o objetivo de levar terceiros a crer que ela fala mal de negros ou
pobres, pois isso irá ferir sua reputação. Será punível mesmo o deputado federal
que praticar tal ato, não se aplicando a imunidade parlamentar neste caso.

A exceção da verdade só será aplicada quando disser respeito a funcionário


público no exercício de suas funções. Ela só caberá neste caso porque é interesse
do Estado ter conhecimento de eventuais desvios funcionais.

Mas e se a pessoa difamada não é mais funcionário público, ainda assim seria
possível ao autor opor a exceção da verdade?
A Lei de Imprensa (Lei 5250/67) ainda prevê mais duas possibilidade de exceção
da verdade: Art. 21, parágrafo 1, alínea a que dispõe: se o crime é cometido contra
órgão ou entidade que exerça funções de autoridade pública. Art. 21, parágrafo 1,
alínea b: se o ofendido permite a prova.

Exceção de notoriedade: Parte da doutrina defende como forma de defesa para a


difamação o fato da vítima ser pessoa pública e do fato ser de conhecimento geral
assim não haveria dano a sua imagem (Tourinho). Porém, para outros mesmo as
pessoas desonradas possuem parcela de sua imagem intacta e então restaria
configurado o crime a menos que a notoriedade do fato seja tão intensa que
tornaria tal conduta insignificante. (César Bittencourt).

Se a pessoa me deve e não paga eu posso divulgar isso em redes sociais ou de


outra forma?

"Art. 71 do CDC: Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação,


constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de
qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a
ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena: detenção de três meses a um ano e multa.
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável,
provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em
outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de
fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado,
se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e
multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a religião ou à condição de
pessoa idosa ou com deficiência:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.”
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa ainda que
desonrada. Mas não pode ser inimputável que não tenha capacidade de
entender a injúria. Pessoa jurídica não tem amor próprio. Os mortos também
não tem personalidade; podem, contudo, ser usados para ofender os
familiares.

O perdão judicial se dá quando: a) o agente foi injustamente provocado (por


qualquer meio, menos por outra injuria). Deve ser imediata, para alguns tem
que ser na presença do ofendido. b) Retorsão imediata: e a resposta com uma
injuria a quem acabou de injuriar. Deve ser feita imediatamente, se passado
um lapso temporal razoável cada um responderá por um crime de forma
autônoma.

Figura qualificada § 2º, injúria real: Com o fim de atingir a honra da pessoa o
agente lhe pratica violência ou vias de fato. Aqui a tutela será da honra e da
incolumidade física do indivíduo. É preciso que o ato seja humilhante, por
exemplo, um tapa. Se houver violência a pena será da injuria real somada com
a do outro crime, por exemplo, lesão corporal. Mas se o segundo fato for vias
de fato será absorvido pela injuria.
Na injuria não há imputação de fatos precisos e determinados como na calunia e
difamação.

A injúria pode ser:

• imediata – feita pelo próprio agente;

• mediata – feita pelo agente, mas valendo-se de meio interposto, como inimputável (ex.:
criança) ou animal (ex.: papagaio);

• oblíqua – atinge uma pessoa estimada pela vítima (ex.: “seus pais são desonestos”);

• reflexa, indireta ou em ricochete – ofende a vítima e também uma terceira pessoa (ex.:
ao afirmar que a esposa é adúltera, está-se agredindo a honra também do marido);

• explícita – quando não há dúvidas sobre a ofensa;

• implícita – quando for proferida de modo a se presumir a ofensa (ex.: “não trabalharei
com vocês pois não sou um incompetente”);

• equívoca – quando é praticada com expressões ambíguas, deixando dúvida sobre a sua
existência. Ex. seria uma ironia “fulano é muito macho” (se referindo a sua sexualidade).
Raça: O STF rechaçou o conceito biológico de raça entendo que todos os seres
humanos, independentemente dos aspectos somáticos (cor, formato dos olhos...)
integram uma mesma raça: a humana. Assim adotou o conceito político-social de
racismo, ou seja, a definição de raça seria uma construção social.
.
Mas qual a diferença entre injúria qualificada por preconceito e racismo?

Antes de 2023 se a intenção do agente é ferir a honra alheia, ofendendo uma ou


mais vítimas específicas, tem-se o crime de injúria qualificada (ex.: achincalhar
alguém em razão de sua cor). Era crime de ação pública condicionada a
representação.

Por outro lado, tratando-se de discriminação ou incentivo a discriminação


generalizada, contra todos de determinada cor, etnia etc., atingindo um número
indeterminado de pessoas, há o crime da Lei 7.716/1989 (ex.: impedir pessoas de
determinada cor de ingressarem em estabelecimento). Este último é crime ação
pública incondicionada.

O STF já havia equiparado a injuria racial ao crime de racismo e nos termos da CF


disse que tal conduta seria imprescritível. Apesar de não ter se manifestado sob a
impossibilidade de fiança se entendia-se que a injuria racial também possuia tal
efeito.
Porém, a Lei 14.532/2023 alterou a Lei 7.716/89 (Lei de crimes raciais)
equiparando a injúria racial ao crime de racismo. Com isso, a pena tornou-se
mais severa com reclusão de dois a cinco anos, além de multa, não cabe mais
fiança e o crime é imprescritível. Tal crime também era processado por ação
pública condicionada a representação e agora se tornou de ação pública
incondicionada.

No que tange à ação penal, tem-se novatio legis in pejus e, portanto,


irretroativa: não se aplica a fatos anteriores à entrada em vigor da nova lei (CF,
artigo 5°, XL, e CP, artigo 2°). A imprescritibilidade e inafianciabilidade já eram
entendimento dos tribunais antes da lei.

Então hoje temos na Lei 7.716/89:


“Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão
de raça, cor, etnia ou procedência nacional.
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido
mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.”
Então os elementos para os quais o CP protege a honra no artigo 140,
parágrafo 3º serão:
Religião: protegida pela Constituição no seu artigo 5, incisos VI e VIII. A Lei
7716/89 também tipificou a descriminação por religião de igual forma a lei de
racismo (dirigindo-se a pessoas indeterminadas). O CP irá punir a ofensa pela
religião, mas se for segregação aí ser a Lei 7716/89.

Pessoa idosa ou deficiente: Acréscimo de 2015. Pessoa idosa é aquela a partir


de 60 anos. O CP irá punir a ofensa pela idade (por exemplo, “seu velho
babão), mas se for segregação aí ser a Lei 10.741/03 (Estatuto de Idoso),
artigo 96.

Deficiência: A Lei 13.146/15 também protege pessoas deficientes, mas dirigi-


se a pessoas indeterminadas. O CP irá punir a ofensa pela deficiência, mas se
for segregação aí ser a Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa Deficiente ), artigo
88 ou pela Lei 7853/89, artigo 8 que é especial em relação a primeira.
No racismo impróprio não cabe perdão judicial ou exceção da verdade.

Se você descriminar alguém portador do vírus HIV?

Se for apenas ofensa será o “caput” do artigo 140 do CP, mas se for efetiva
segregação será o artigo 1º da Lei 12.984/14 com pena de 1(um) a 4 (quatro)
anos.

O STJ admitiu a existência dos três delitos numa única carta sem que haja “bis in
idem”, pois protegem bens jurídicos diversos.

Revenge Porn (Pornografia da vingança): Enviar fotos nuas da ex-namorada


como forma de vingança. Se o objetivo for macular a honra da vítima será
enquadrado em injúria. Mas se vir acompanhado de algum relato desonroso
pode ser enquadrado em difamação.

Se a vítima for criança ou adolescente, pode-se configurar o delito previsto no


artigo 241-A do ECA (“Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir,
publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de
informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente).
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra
chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas
funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio
que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos
ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou
promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
Crime cometido contra Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro:
Protege a honra da maior autoridade do Brasil.

Crime cometido contra funcionário público, em razão de suas funções: O motivo


para tanto é porque ao se difamar ou caluniar o funcionário estar-se-á por via
reflexa deslegitimando a própria administração pública. Por isso tem que ser em
razão de suas funções e não por aspectos pessoais. Difere do desacato.

Crime cometido na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a sua
divulgação: Exige-se que o crime seja praticado na presença de no mínimo 3
pessoas, sem contar autor e vítima ou eventuais inimputáveis. A segunda parte diz
respeito aos meios que atingem várias pessoas como panfletos, jornais ou a
internet por exemplo.

Crime cometido contra idoso ou deficiente: Acrescentado pelo Estatuto do Idoso.

A pena deve ser praticada em dobro se o crime for cometido mediante paga ou
promessa de recompensa.
.
Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou
científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou
difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
em apreciação ou informação que preste no cumprimento de
dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela
injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata
cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha
praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de
comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido,
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído
pela Lei nº 13.188, de 2015)
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador; (imunidade judiciária): Tem como base a os ânimos exaltados
durante uma audiência. Ademais, o animus do ofensor aqui não é ferir a honra,
mas provar seu direito em juízo.

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo


quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; (imunidade literária,
artística e científica): Tal liberdade tem sede constitucional no artigo 5, incisos
IV e IX. A opinião desfavorável deve se referir ao trabalho literário, artístico ou
científico; caso o intuito seja o de difamar ou injuriar a honra de seu autor
incidirá o crime.

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou


informação que preste no cumprimento de dever do ofício. (imunidade
funcional): Uma vez que tal conceito as vezes é inerente a sua função, mas deve
estar dentro dos limites legais desta.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação: art. 143 do CP É o ato de desmentir algo alegado, sendo considerada
causa de extinção de punibilidade de acordo com o artigo 107, VI do CP. Não
dependerá de aceitação do ofendido, não se comunica a eventuais co-autores e não
afasta eventual ação cível por danos morais. Deve ser feita até a prolação da
sentença condenatória.

Será aceita apenas nos crimes de ação privada, pois nos de ação pública feriria o
princípio da indisponibilidade. Veja que o artigo fala “querelado”.
Não abrange o crime de injuria porque este fere a honra subjetiva e não a imagem
no meio social sendo irrelevante a ato de se retratar para a vítima.

Pedido de explicações: art. 144 do CP: É medida preparatória para a ação penal no
caso de injuria, difamação ou calúnia ambígua. Exemplo: Novo diretor diz que em
sua gestão não serão mais aceitas propinas. O antigo diretor fica sem entender se
ele esta dizendo que na sua época ele aceitava propinas e pede explicação.

Tal pedido não suspende o prazo decadencial para a queixa. Tão pouco há obrigação
da pessoa acionada comparecer a juízo e prestar esclarecimentos. Esta recusa será
entregue ao autor da ação no final do prazo que poderá utiliza-la para a propositura
da ação penal, pois no pedido de explicações não se analisa o mérito da questão.
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se
infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que
se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo
somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão
corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição
do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do
art. 141 deste Código, e mediante representação do
ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem
como no caso do § 3o do art. 140 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033. de 2009)
Por via de regra, as ações nos crimes acima será de iniciativa privada, exceto:

a) nos casos de injuria real se a lesão praticada for grave ou gravíssima, sendo
leve será pública condicionada a representação. No caso de vias de fato será
ação privada.

b) Se praticada contra presidente da república ou chefe de governo estrangeiro.


Aqui o Ministro da Justiça deverá verificar a conveniência política de se
processar o autor.

c) Funcionário público no exercício de suas funções. Aqui caberá ao ministério


público (ação incondicionada) ou ao ofendido (ação privada) oferecer a queixa.
(Sumula 714-STF: Legitimidade concorrente).

d) injuria qualificada por preconceito. A ação será pública condicionada a


representação neste caso em virtude da Lei 12033/09.
Questões

1- (FGV, OAB, 2017) Roberta, enquanto conversava com Robson, afirmou


categoricamente que presenciou quando Caio explorava jogo do bicho, no
dia 03/03/2017. No dia seguinte, Roberta contou para João que Caio era um
“furtador”.
Caio toma conhecimento dos fatos, procura você na condição de
advogado(a) e nega tudo o que foi dito por Roberta, ressaltando que ela só
queria atingir sua honra.
Nesse caso, deverá ser proposta queixa-crime, imputando a Roberta a
prática de

A ) 1 crime de difamação e 1 crime de calúnia.


B )1 crime de difamação e 1 crime de injúria.
C) 2 crimes de calúnia.
D) 1 crime de calúnia e 1 crime de injúria.

Gabarito: 1- B
Crimes contra liberdade individual
Constrangimento ilegal

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que
a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um
ano, ou multa.

Objeto jurídico: é a liberdade física e psíquica da pessoa, ou seja, sua liberdade de


autodeterminação.

A liberdade é protegida no artigo 5º, inciso II, da CF: “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”

É crime subsidiário, somente se configura se a finalidade do agente não configurar


outro crime mais grave.

Núcleo do tipo: constranger que significa forçar, compelir alguém a fazer ou deixar de
fazer algo. O que o autor exige que seja ou não seja feito deve ser ilegítimo, caso o
contrário será exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP).
A ilegitimidade pode ser:

a) absoluta: quando o agente não tem qualquer direito de fazer tal exigência. Por exemplo, exigir
que a vítima ingira bebida alcoólica .
b) relativa: quando o direito existe, mas agente não poderia obrigar a vítima a cumpri-lo de
maneira legal. Por exemplo, exigir que a vítima pague uma dívida de jogo de azar.

Formas de coação:

1- Violência: é a violência corporal, ou própria que pode ser direta quando empregada contra a
própria pessoa ou indireta quando empregada contra terceiro que a vítima possui laço de
afinidade.Também pode ser praticada por omissão impedindo alguém de beber água ou comer, por
exemplo.

2- Grave ameaça: é a violência moral, chamada também de “vis compulsiva”. O mal não precisa ser
injusto como ocorre no crime de ameaça (art. 147 do CP). Embora possa ser justo, o fundamento
que leva o agente a prometê-lo ou o método utilizado não podem ser. Se, no entanto, a coação foi
resistível e a conduta praticada pelo coagido for crime, este responderá por ele nos termos do art.
22 do CP, embora com a pena atenuada em virtude do artigo 65, III, “c” também do CP.

3- Por qualquer meio reduzir a capacidade de resistência: O “qualquer outro meio” é hipótese de
interpretação analógica que abre espaço para o interpretador enquadrar várias hipóteses. É a
chamada violência imprópria que consiste num meio de minimizar a reação da vítima a fim de
conseguir a prática do ato ou sua abstenção. Por exemplo, através da ingestão de remédios ou
álcool.
Elemento subjetivo: É o dolo acrescido da finalidade específica de coagir alguém a fazer ou
deixar de fazer algo que a lei não obriga.

Consumação e tentativa: o crime se consuma quando a vítima faz ou deixa de fazer algo que
a lei não determina. Trata-se de crime instantâneo e material que admite tentativa quando a
vítima, apesar de coagida, não cede à pretensão do autor.

Aumento de pena

§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do


crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.

Aqui a pena de detenção será aplicada cumulativamente com a de multa e não de forma
alternada como ocorre no “caput”. Na segundo hipótese, o magistrado irá multiplicar a pena
por 2 na terceira fase da dosimetria da pena.

No somatório da primeira hipótese não computam incapazes e menores (modalidade de


crime plurissubjetivo). Se, todavia, a união de quatro ou mais pessoas para a prática de
crimes específicos for estável e permanente, haverá concurso material entre o
constrangimento ilegal simples e a associação criminosa (CP, art. 288).

Na segunda hipótese estão incluídas as armas próprias que são construídas para o fim de
atacar como um revólver ou impróprias que são aquelas improvisadas como uma faca.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.

Aqui aplica-se o cumulo material do delito de constragimento com eventual violência.

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que
haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-
se primeiro aquela.

Na essa seria uma hipótese de cumulação de penas seria uma aplicação do sistema cúmulo
material usada também na parte geral do código ou seria uma nova definição de concurso
material?

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:


I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.

O § 3º dispõe sobre as causas de exclusão do crime que ocorrerá na intervenção médica ou


cirúrgica sem o consentimento da vítima ou de seu representante quando houver perigo de
vida (requisito indispensável) ou quando a coação for para impedir suicídio (pois a vida é bem
indisponível). Para a maioria é causa excludente de antijuridicidade, mas existem os que
entendem ser excludente de tipicidade.
Ameaça:

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou
multa.

Objeto jurídico: é a tranquilidade do indivíduo, essencial para o exercício de sua


liberdade.

Núcleo: Ameaçar que significa amedrontar, intimidar. Aqui o mal prometido deve ser
injusto e grave.

Injusto: Não deve ser protegido pela Justiça. Então ameaçar de levar o pai que não
contribui com o sustento dos filhos na Justiça para pedir sua prisão por pensão
alimentícia não é crime.

Grave: deve ser forte o suficiente para que a pessoa se sinta ameaçada. Também deve
ser verossímil, não constitui ameaça dizer que matará alguém com a força do
pensamento. Não é necessária a real intenção de praticar o ato descrito na ameaça,
basta o caráter intimidatório.
É crime formal que se consuma ainda que pessoa não tenha se sentido ameaçada.

Agora o mal prometido deve ser atual ou futuro?


Pode ser dirigir a própria pessoa (direta) ou a terceiro com o qual ela tenha vínculo
afetivo (indireta). Pode ainda ser incondicional quando não depender de qualquer ou
evento ou condicional quando depende de um evento como “se eu te ver novamente eu
te mato”. Esta última modalidade se diferencia do constrangimento ilegal porque aqui a
ameaça não é um meio para alcançar ou fim (fazer ou deixar de fazer algo que a lei não
obriga), mas tem a finalidade apenas de colocar medo na pessoa (Nelson Hungria).

Para configuração da ameaça é necessário o ânimo calmo e refletido?

E se quem proferiu a ameaça estava embriagado?

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:


I - a emoção ou a paixão;
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

A ameaça é crime subsidiário desta forma se ela for elemento constitutivo para a prática
de outro crime como no caso do estupro ou do roubo, aplicar-se-á apenas este último.
Perseguição

Art. 147-A Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a


integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art.
121 deste Código;
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
§ 3º Somente se procede mediante representação.

Até a criação deste crime, a maior parte dos atos de perseguição se inseriam no
art. 65 do Decreto-lei 3.688/41 (perturbação da tranquilidade), cuja pena de prisão
simples variando de quinze dias a dois meses era considerada insuficiente. Tal
contravenção foi agora revogada.
Art. 65. Molestar alguem ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovavel: (Revogado pela Lei nº 14.132, de 2021)
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis.
O verbo perseguir não tem apenas a conotação de ir freneticamente no
encalço de alguém. Há também um sentido de importunar, transtornar, provocar
incômodo e tormento, inclusive com violência ou ameaça. Essa conduta se
assemelha ao termo inglês stalking, sendo que essa conduta já era criminalizada
em alguns outros países.

Pela pena o delito de perseguição será abrangido pela Lei 9099/95, com todos
os benefícios advindos desta, a menos que se trate de crime praticado contra a
mulher em razão desta condição, conforme o inciso II e virtude da vedação inserta
na Lei Maria da Penha.

Art. 121 [...]


§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime
envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)

Mas esse crime não se restringe a relações domésticas ou possui como vítima
exclusiva as mulheres. Podemos citar como exemplo, um patrão ou outro
funcionário que persegue o empregado provocando sua demissão ou impedindo
que ele arrume outro emprego.
O tipo penal é estruturado com uma ação nuclear (perturbar), que pode atingir a
vítima de três formas:

a) ameaçando a integridade física ou psicológica;

b) restringindo a capacidade de locomoção;

c) invadindo ou perturbando a esfera de liberdade ou privacidade.

O agente pode se valer de ligações telefônicas, de mensagens por meios variados


(SMS, WhatsApp, Telegram, Skype etc.), de e-mails (os chamados cyberstalking),
pode se dirigir e permanecer nos arredores da residência da vítima ou de locais
que ela frequenta. A conduta pode consistir até mesmo no envio insistente de
presentes ou de mensagens aparentemente afetuosas como subterfúgio para na
verdade intimidar o destinatário e lhe provocar a sensação de que está sendo
espreitado.

E a contratação de detetive particular seria a suficiente para caracterizar esse


delito?

E os fotógrafos chamados de paparazzi?


Sequestro e cárcere privado

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
(Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de um a três anos.

Núcleo: privar que significa tolher, tirar algo se referindo à liberdade da pessoa. O
crime pode ser praticado na forma comissiva (valendo-se o agente de violência física,
moral ou outro meio para reduzir a capacidade de resistência da vítima), ou omissiva
(mantendo alguém preso dentro de um cômodo que só pode ser aberto do lado de
fora).

Pode ainda ocorrer por detenção que existe quando o agente arrebata, leva, a vítima
para outro local (o cativeiro) ou por retenção quando se retira a capacidade de
locomoção da vítima, prendendo-a em algum lugar, por exemplo dentro de casa.
Percebe-se, assim, ser desnecessário levar a vítima para outro local.

Qual a diferença entre sequestro e cárcere privado?

É possível o reconhecimento do erro, afastando-se o crime. Ex.: responsável por


estabelecimento de saúde realiza internação de paciente com base em laudo
médico, sem saber que o documento foi forjado pelo cônjuge da vítima.
O consentimento da vítima, se feito por pessoa capaz, a princípio exclui o crime como no caso
daquele que fica preso numa sala por um tempo mínimo quando vai prestar concurso público.

Consumação e tentativa: O crime se consuma com a privação de liberdade por um tempo


juridicamente relevante. Minoritariamente se diz que o lapso temporal é irrelevante para
configuração do crime. É crime permanente. Admite tentativa.

§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:


I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
(sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de
2005)
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)

O que diferencia o caso do inciso III do artigo 239 do ECA?

Art. 239- “Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais”.

O inciso V revogou o delito de rapto, porém em virtude do princípio da continuidade típico-


normativa não houve abolitio criminis.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção,
grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Exemplos: em local sem higiene básica ou sem ventilação, por privação de alimentos
ou medicamentos, em virtude dos meios utilizados que são aflitivos como as
algemas, venda nos olhos, métodos que dificultem o pedido de socorro ou que
sejam humilhantes.

Existe ainda uma diferença entre o crime de sequestro e o de roubo na modalidade


descrita no art. 157, 2, IV do CP. Neste o termo usado é “restrição a liberdade” e no
artigo 148 fala “privação de liberdade” que pressupõe um lapso temporal maior. Por
isso se o tempo em que a vítima do roubo ficar detida for muito grande ou superior
ao necessário para subtrair seus objetos não haverá a qualificadora do artigo 157 e
sim concurso material de roubo com sequestro (por exemplo, a pessoa rouba o carro
da vítima e a obriga a permanecer dentro dele enquanto comete nos crimes). Não
existe aqui “bis in idem”, pois os elementos subjetivos são distintos. Satisfeita a
subtração do objeto, caso a vítima permaneça em poder dos autores, o fato
continuará orientado por um novo dolo agora: o de mantê-la em cativeiro.
Redução a condição análoga a de escravo:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a


trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Objeto jurídico: Aqui se tutela a dignidade da pessoa humana, a liberdade de


autodeterminação, a vida e saúde do trabalhador. Protege-se ainda a organização do
trabalho, pois a OIT (Organização Internacional do Trabalho) fez diversas convenções
sobre o assunto durante o século XX com o fim de erradicar a escravidão, sendo este
artigo fruto de uma tentativa brasileira de alcançar tal objetivo. Por ser uma
preocupação que atinge o país como um todo o STF já entendeu que a competência
para julgar tal crime é federal.

Núcleo: Reduzir que significa submeter, subjulgar alguém as situações indignas


descritas no artigo. Não se exige a escravidão no sentido histórico da palavra
(acorrentado, nas senzalas).
É crime vinculado que exige para sua configuração que o agente pratique uma das
condutas nele definidas, a citar:

• Submeter a vítima a trabalhos forçados.


• Submeter a vítima a jornada exaustiva.
• Submeter a vítima a condições degradantes de trabalho.
• Restringir, por qualquer meio, sua locomoção em razão
de dívida contraída com o empregador ou preposto.

§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2 o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei
nº 10.803, de 11.12.2003)

E o § 1º traz as seguintes condutas equiparadas. O consentimento da vítima não exclui


o crime.
Elemento subjetivo: dolo simples no “caput”, já na figura do §1º exige-se o elemento
específico de reter a vítima no local de trabalho. Aliás, no §1º, ao contrário do “caput”,
existe uma modalidade de crime formal que se consuma independentemente da efetiva
retenção da vítima no local do trabalho.

Consumação e tentativa: É crime material que se consuma com a redução a condição


análoga a de escravo que deve ser por tempo juridicamente relevante. Trata-se de crime
permanente, protraindo-se a consumação até quando cessada a conduta. A tentativa é
admissível se a sujeição for apenas momentânea.

Frustração de direito assegurado por lei trabalhista – O art. 203, § 1º, I, do Código Penal,
pune quem “obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado
estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida” (I);
ou “impede de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por
meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais”. A diferença básica entre
o art. 149 e o art. 203, § 1º, I, é que naquele existe restrição física à liberdade de
locomoção do trabalhador, enquanto neste a vítima é compelida moralmente a
permanecer vinculada ao trabalho, sem cerceamento do seu direito de ir e vir. O art. 203,
§ 1º, I, convém anotar, é subsidiário em relação ao art. 149.

Estatuto do Idoso – O crime do art. 99 da Lei 10.741/2003. É crime mais brando, aplicável
quando não há relação de trabalho entre autor e a vítima. Prescinde de restrição à
liberdade. Existindo o vínculo de trabalho, poderá haver o crime do art. 149 do CP.
Tráfico de pessoas:

Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou


acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
finalidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016) (Vigência)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016) (Vigência)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
(Vigência)
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016) (Vigência)

A este crime foi atribuído um tempo maior de cumprimento de pena para que se
conceda a liberdade condicional, ou seja, superior a 2/3 como nos crimes hediondos,
tráfico de drogas, tortura e terrorismo. A regra geral é o artigo 83 do CP dispõe como
regra geral 1/3 ou metade seu o réu for reincidente em crime doloso.
Núcleo: São 08 verbos: agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar
ou acolher; sendo crime misto alternativo (o preenchimento de mais de uma conduta
no mesmo contexto configura um só crime). Qualquer destas condutas deve ser
praticada mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.

Elemento subjetivo: Dolo, sendo que em cada inciso haverá um especial fim de agir
(elemento subjetivo específico), por exemplo, remover órgãos, tecidos ou partes do
corpo, submeter a trabalho em condições análogas à de escravo...

Consumação e tentativa – O crime se consuma quando o agente pratica qualquer um


dos verbos descritos mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. Não
é necessário que o agente atinja a finalidade pretendida. É crime formal. A tentativa é
admissível.

É crime instantâneo nas modalidades agenciar, aliciar, recrutar e comprar e


permanente (a consumação se prolonga no tempo) nas modalidades transportar,
transferir, alojar e acolher.

Concurso de crimes: O tráfico de pessoas é punido independentemente do crime


posteriormente praticado. Assim, o agente será punido pelo tráfico de pessoas e
também por eventual crime de remoção de órgãos, redução da vítima a condição
análoga a de escravo etc.
§ 1 o A pena é aumentada de um terço até a metade se: (Incluído pela Lei nº 13.344,
de 2016) (Vigência)
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de
hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade
hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016) (Vigência)
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. (Incluído pela Lei
nº 13.344, de 2016) (Vigência)

§ 2 o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar


organização criminosa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

No caso do parágrafo 2, os requisitos para redução da pena são cumulativo.


Invasão de dispositivo informático:

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Objeto jurídico: a liberdade individual

Sujeito ativo: qualquer pessoa Sujeito passivo: qualquer pessoa que pode ser o dono
do dispositivo violado ou quem tem informações suas devassadas.

Deve haver violação indevida do dispositivo que é aquela realizada sem justa causa e
desautorizada. Se a violação for devida, não há o crime (ex.: perito, devidamente
autorizado, inspeciona informações contidas em computador apreendido em operação
policial).

Mecanismo de segurança será qualquer equipamento utilizado para proteger os dados


como senha, firewall... Se não houver qualquer destes equipamentos não haverá o
preenchimento do tipo.
Elemento subjetivo: Dolo acompanhado de uma das seguintes finalidades especiais:
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. Caso não
haja tais finalidades a figura será atípica como no caso do hacker que invade sistema
apenas para mostrar sua capacidade.

Consumação e tentativa: É crime formal. O delito se consuma com a simples invasão do


dispositivo informático alheio, mediante a violação do dispositivo de segurança, com
algumas das finalidades descritas. A tentativa é admissível.

§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde


dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta
definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)

O § 1º é figura equiparada que busca evitar a distribuição de mecanismos utilizados para


vulnerabilizar os dispositivos eletrônicos.

Seu sujeito ativo deste § 1º será qualquer pessoa, mas não há um sujeito passivo
determinado. Porém, tais crimes são de ação pública condicionada a representação.

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o
crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta
prejuízo econômico. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

Em virtude de sua posição topográfica, aplica-se apenas ao “caput”e ao § 1º. Aumentar-


se-á a pena se, por exemplo, houver perda dos dados devassados causando prejuízo
econômico à vítima.

§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas


privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em
lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui
crime mais grave.

O § 3o são hipóteses que qualificam o crime, sendo hipótese de crime subsidiário (se a
conduta não constitui crime mais grave) conforme disposto no preceito secundário.

§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação,


comercialização ou transmissão a terceiro a qualquer título, dos dados ou informações
obtidos.

O § 4o são hipóteses de aumento de pena que se aplicam exclusivamente para a figura


qualificada.
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia
Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Municipal; ou
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal
ou do Distrito Federal.

0 § 5o são hipóteses de aumento de pena em razão do sujeito passivo.


Questões

1- (FGV, OAB, 2012) Ares, objetivando passear com a bicicleta de Ártemis,


desfere contra esta um soco. Ártemis cai, Ares pega a bicicleta e a utiliza
durante todo o resto do dia, devolvendo-a ao anoitecer. Considerando os
dados acima descritos, assinale a alternativa correta.

A) Ares praticou crime de roubo com a causa de diminuição de pena do


arrependimento posterior.

B) Ares praticou atípico penal.

C) Ares praticou constrangimento ilegal.

D) Ares praticou constrangimento legal com a causa de diminuição de pena


do arrependimento posterior.

Gabarito: 1-C
Título II: Dos Crimes contra o Patrimônio
Capítulo I: Do Furto
Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Objeto jurídico: Tutela-se o patrimônio. Mas com relação à amplitude desta tutela existem
várias opiniões: a) Para alguns tutela apenas a propriedade (Nelson Hungria); b) Tutela a
posse e a propriedade (Magalhães Noronha e Nucci); c) Tutela posse, propriedade e
detenção ( Bittencourt- Majoritária).

Mas quais os conceitos de propriedade, posse e detenção?

1- A propriedade é um direito real preestabelecido em lei que confere plenos poderes sobre
a coisa e não sofre qualquer limitação a não ser que seja pelo interesse público.

2- A posse é o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.


Exemplo: o locatário e o comodatário exercem posse sobre o bem.

3- A detenção é aquela situação em que alguém conserva a posse em nome de outro e em


cumprimento às suas ordens e instruções.
A palavra “móvel alheia”, consiste no bem corpóreo que pode ser deslocado de
um local para o outro, por si só ou por força humana, pertencente a outrem.

Então o que pode ser furtado?

A coisa própria não pode ser furtada, pois a lei fala em alheia. Também não
podem ser furtados bens imóveis por não se encaixarem no tipo penal. Bens
móveis equiparados a imóveis pela lei civil (por exemplo, os navios) podem ser
furtados.

Existe controvérsia se o objeto a ser subtraído teria que ter valor econômico. O
STF afirma que tem valor para um indivíduo é o que ele considera útil. Assim, por
exemplo, a subtração de uma carta da pessoa amada constituiria furto.

Os animais podem ser objeto de furto. O sêmem, se tiver valor econômico como
o de um boi premiado, pode ser objeto de furto por ser considerado energia
genética.

Elemento subjetivo: Dolo (“animus furandi”) como o elemento subjetivo


específico de assenhorear definitivo da coisa para si ou para outrem. A finalidade
de lucro é dispensável.
Consumação e tentativa: Existem quatro teorias a respeito do tema:

Concrectacio: a consumação se dá com o simples contato do agente com a coisa alheia.


Amotio: a consumação ocorre quando a coisa passa para o poder do agente, ainda que
por breve espaço de tempo e sem retira-la da esfera de proteção da vítima. (STJ e STF)
Ablatio: a consumação ocorre quando a coisa é levada para outro local e sai da esfera
de proteção da vítima.
Ilatio: a consumação ocorre quando a coisa é levada para outro local seguro fora da
esfera de proteção da vítima.

O furto de uso é fato atípico. Porém para que este se caracterize é necessário o
preenchimento de alguns requisitos:

Intenção de utilizar momentaneamente a coisa;


Restituição Rápida da coisa - Se o agente ficar com a coisa por longo período, ou se a
vítima perceber a subtração, há crime);
Restituição da coisa em seu Estado original - Se o agente abandonar a coisa em lugar
distante ou deteriorada, há crime. Há posição no sentido de que, caso o agente devolva
o veículo com gasolina faltando, responde pelo crime (Hungria). Contudo, a doutrina
em geral vem entendendo que tal circunstância não impede o furto de uso;
O furto de coisa Infungível (se for fungível como, por exemplo, o dinheiro haverá o
crime).
O furto famélico é considerado crime?

A existência de sistema de vigilância por câmeras torna o furto no local crime


impossível? Não! Pois, a prova disso é que mesmo em estabelecimentos vigiados furtos
acontecem. Neste sentido súmula 567 do STJ:

“Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de


segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a
configuração do crime de furto.”

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso


noturno.

O que seria o repouso noturno?

O STJ já decidiu que a referida majorante abrange residências, estabelecimentos


comerciais e veículos, mesmo que residência desabitada ou vítima acordada. Cesar
Bittencourt defende que deve ocorrer em casas habitadas.

Incide a causa de aumento do repouso noturno nas hipóteses de furto qualificado?

Sim. Porque inexiste qualquer vedação legal para tanto. (STF e STJ)
Não. Em virtude da posição topográfica se aplica apenas o fruto simples.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.

Porém, embora o parágrafo 2º fale em primário existem julgados que levam em


consideração também os maus antecedentes para nega-lo.

Pequeno valor da coisa subtraída, segundo jurisprudência majoritária seria aquela


coisa que não supera o valor de 01 (um) salário mínimo ao tempo do crime. Porém,
não se trata de um critério aritmético de valor absoluto, podendo o juiz considerar o
pequeno valor no caso concreto.

Como consequência destes dois requisitos o juiz poderá substituir a pena de reclusão
pela detenção, cuja maior diferença consistirá no início do cumprimento da pena em
regime semiaberto e não fechado. Também poderá diminuir a pena em 2/3 ou
aplicar somente a pena de multa.

Tal causa de diminuição é aplicável ao furto cometido durante o repouso noturno?


§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

E o furto de TV a cabo?
Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

O obstáculo rompido deve ser estranho à coisa subtraída ou pode ser inerente a ela?

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; (Famulato)

Esta hipótese se difere da apropriação indébita (art.168 do CP) porque nesta a vítima
entrega o objeto de boa-fé para o autor e na primeira e o agente se vale da confiança
para que haja uma redução na vigilância que facilita a subtração.

Mediante fraude. Aqui o autor se vale de um meio ardil para ludibriar a vítima e
perpetrar a subtração. Essa fraude pode ser material (através de algum objeto ou
instrumento) ou moral (através da conversa enganosa).

Escalada: consiste na via anormal para ter acesso à coisa. Exige-se um esforço
incomum. Existem julgados no sentido de que subir em poste para furtar fios não
qualifica o crime porque não é uma via anormal para ter acesso à coisa. Por fim, o autor
não precisa necessariamente passar por cima do obstáculo, um túnel, por exemplo,
configura esta hipótese.
Destreza: É uma habilidade especial do autor que lhe permite o furto. Ex. os batedores
de carteira.
O autor deve usar tal habilidade para configurar a qualificadora. Se a vítima perceber o
furto não haverá a hipótese, mas se apenas terceiro ver restará configurado o inciso.

III - com emprego de chave falsa;

Ligação direta não configura esta qualificadora segundo a jurisprudência. Nem o uso
da chave verdadeira subtraída do dono.

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas

Computam-se neste número os menores envolvidos. Incidindo neste caso o artigo


244-B do ECA (corrupção de menores que não precisa ser sequer comprovada, pois é
crime formal).

Súmula 500 do STJ: A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova
da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego


de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela
Lei nº 13.654, de 2018)
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante
fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
(Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de
2021)
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou
vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

Aqui o agente subtrai coisa alheia móvel por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de
mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro
meio fraudulento análogo. É o caso do agente (hacker) que, aproveitando a
vulnerabilidade de pessoas que utilizam uma rede pública de internet, intercepta a
conexão e obtém dados de acesso a contas bancárias. Com esses dados à disposição,
acessa as contas e transfere quantias em dinheiro para outra conta da qual efetua
saques.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

O conceito de veículo esta no anexo I do CTB que assim dispõe: “todo veículo a motor
de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o
transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para
o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma
linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”.

Para a consumação da qualificadora se exige que o veículo seja efetivamente levado


para outro estado ou para o exterior. Então caberia tentativa? Duas correntes: a) Não,
pois ou o agente leva o veículo para outro estado ou exterior e existe a consumação ou
não leva e persiste apenas o furto simples. b) Sim. Quando o agente subtrai o veículo
para leva-lo a outro estado ou exterior, mas é perseguido e detido logo após conseguir
seu intento. Por exemplo, o autor furta um veículo em Minas Gerais sendo perseguido
pela polícia e detido logo após ultrapassar a fronteira com São Paulo. Deve-se usar aqui
a teoria da Ilatio.

§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de


semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local
da subtração. (Abigeato) (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

Substância explosiva “é aquela capaz de provocar detonação, estrondo, em razão da


decomposição química associada ao violento deslocamento de gases.” (Cleber
Masson).

É possível a existência da figura privilegiada-qualificada no furto? Sim.

Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º. do art.


155 do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do
agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

Da mesma forma que no homicídio haverá compatibilidade de ordem subjetiva com


objetiva. As qualificadoras são todas objetivas, com exceção do abuso de confiança que
é subjetiva. No caso do furto privilegiado-qualificado caberá a suspensão condicional
do processo porque a pena mínima cominada não ultrapassa 1 ano. (art. 89 da Lei
9099/95).
Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a


quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a
quota a que tem direito o agente.

Neste caso o sujeito ativo será próprio uma vez que o crime deve ser praticado por
condômino, co-herdeiro ou sócio.

Obs: Com relação ao sócio existe divergência. a) O dispositivo compreende apenas a


sociedade despersonalizada (sociedade de fato), na qual o patrimônio é dos sócios.
Havendo personalidade jurídica, os bens são da sociedade. O sócio que subtrai tais
bens pratica o crime do art. 155 do CP. b) O artigo fala sócio então abrange tanto a
sociedade despersonalizada quanto a sociedade com personalidade jurídica.

Sujeito passivo:condômino, co-herdeiro ou sócio.

Aqui a ação será pública condicionada à representação. Diferente do artigo 155 do CP


onde é pública incondicionada.
Questões

1- (FGV, OAB, 2020) Inconformado por estar desempregado, Lúcio resolve se embriagar. Quando se
encontrava no interior do coletivo retornando para casa, ele verifica que o passageiro sentado à sua
frente estava dormindo, e o telefone celular deste estava solto em seu bolso. Aproveitando-se da
situação, Lúcio subtrai o aparelho sem ser notado pelo lesado, que continuava dormindo
profundamente. Ao tentar sair do coletivo, Lúcio foi interpelado por outro passageiro, que assistiu ao
ocorrido, iniciando-se uma grande confusão, que fez com que o lesado acordasse e verificasse que
seu aparelho fora subtraído.

Após denúncia pelo crime de furto qualificado pela destreza e regular processamento do feito, Lúcio
foi condenado nos termos da denúncia, sendo, ainda, aplicada a agravante da embriaguez
preordenada, já que Lúcio teria se embriagado dolosamente.

Considerando apenas as informações expostas e que os fatos foram confirmados, o(a) advogado(a)
de Lúcio, no momento da apresentação de recurso de apelação, poderá requerer

A) o reconhecimento de causa de diminuição de pena diante da redução da capacidade em razão da


sua embriaguez, mas não o afastamento da qualificadora da destreza.
B) a desclassificação para o crime de furto simples, mas não o afastamento da agravante da
embriaguez preordenada.
C) a desclassificação para o crime de furto simples e o afastamento da agravante, não devendo a
embriaguez do autor do fato interferir na tipificação da conduta ou na dosimetria da pena.
D) a absolvição, diante da ausência de culpabilidade, em razão da embriaguez completa.
Gabarito: 1- C
Capítulo II: Do roubo e da extorsão
Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Consumação e tentativa: STF e STJ entendem que a consumação ocorre com mera
inversão da posse, ainda que por um breve espaço de tempo e sem sair da esfera de
proteção e vigilância da vítima (“Amotio”). Mas existem outros que dizem que a
consumação ocorre quando o autor subtrai a coisa e retira da esfera de proteção e
vigilância da vítima (“Ablatio”).

Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

A tentativa é admissível. Exemplo: a polícia chega após o autor fazer a ameaça e o


detém antes que ele subtraia a coisa.
Concurso de crimes:

- Se a violência é empregada contra uma pessoa e subtrai o objeto de uma pessoa. Haverá
um roubo.
- Se a violência é empregada contra duas pessoas e se subtrai o objeto de uma pessoa.
Haverá um roubo.
- Se a violência é empregada contra uma pessoa e se subtrai objetos de várias pessoas.
Haverá um roubo.

Obs: Há jurisprudência que define como concurso formal, porém deve se ter a prévia e
deliberada intenção de subtrair bens distintos.

- Se a violência é empregada contra várias pessoas e se subtrai os objetos de várias pessoas.


Haverá concurso formal de roubo, pois há mais de um patrimônio lesado.

No roubo é possível o reconhecimento de crime impossível?

Existe a possibilidade de configuração do “roubo de uso”? Por exemplo, o agente utiliza de


grave ameaça para levar um veículo e depois o devolve.

Não existe a figura do roubo privilegiado como no caso do furto. Também não existe um
tipo definindo roubo de coisa comum, assim o coherdeiro que roubar o outro responde
pelo artigo 157 do CP.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou
a detenção da coisa para si ou para terceiro. (roubo impróprio)

O parágrafo 1º não repete o trecho do “caput” que diz “depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência” então essa figura não pode ser
praticada por violência imprópria.

“Logo depois de subtraída a coisa” é uma expressão que significa que a violência ou
grave ameaça deve ocorrer dentro do mesmo contexto fático, ou seja, deve haver
ocorrer imediatamente após a subtração. Se ocorrer antes ou durante a subtração
haverá roubo próprio.

Consumação e tentativa: A consumação ocorre com a agressão ou ameaça, ainda que o


autor não consiga seu objetivo de assegurar a detenção da coisa ou garantir sua
impunidade.

Mas existe possibilidade de tentativa em roubo impróprio?


Causas de aumento de pena:

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº
13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.

O STJ tem decisões que tal causa não abrange empresas que realizam este tipo de serviço
eventualmente.

Engloba dinheiro e outros objetos com valor econômico que estejam sendo transportado
para terceiro.

Deve existir o dolo direto, ou seja, o autor deve saber que rouba empresa de transportes.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela
Lei nº 13.654, de 2018)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma
branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O inciso VII merece ser estudado a luz do § 2º-A, por ser decorrente das alterações
provocadas por esse.

A Lei 13.654/18 também acrescentou o § 2º-A que atribui uma causa de aumento de pena
maior do que a do § 2º. Aqui a pena aumenta em 2/3 se o crime for praticado:

Com emprego de arma de fogo. É um caso em que se aplica o princípio da continuidade


típico-normativa, pois antes essa era a causa de aumento do inciso I do § 2º. Assim quem
praticou tal crime com arma de fogo antes de 2018 responde pela causa de aumento com a
pena menor (pois não há “reformatio in pejus”). Inexiste assim “abolitio criminis”. Quem
praticou depois de 2018 responderá com a causa de aumento maior no valor 2/3 até metade.

Agora e quem praticou o crime com uma arma imprópria (aquela que não foi construída para
esse fim como uma barra de ferro) como fica?

Por isso, tal modificação foi criticada pela doutrina, pois o aumento de pena do uso de arma
se justifica por dois motivos: (a) maior risco à integridade física e à vida do ofendido e de
outras pessoas; e (b) facilitação na execução do crime, uma vez que o emprego de arma
acarreta maior temor à vítima, reduzindo ou eliminando sua possibilidade de defesa. Motivos
válidos para quem se vale de qualquer tipo de arma e não apenas as de fogo para praticar o
roubo.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)

Outras observações sobre este tema: Tal causa de aumento de pena se comunica aos co-
autores que não estavam portando a arma de fogo.

Quem simula estar armado (arma de fogo) responde pelo roubo simples. Mas e o uso de
simulacro (arma de fogo de brinquedo) configura a causa de aumento?

II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

Para a incidência desta causa de aumento serão necessários os dois requisitos: 1) que para o
roubo exista destruição de obstáculo. 2) que seja provocado por explosivo ou outro meio
que gere perigo comum.

Caso exista mais de uma causa de aumento de pena, como se portar? Existem dois critérios:
a) Critério qualitativo (STJ) que considera a reprovabilidade da conduta. Assim, mesmo com
uma única causa de aumento poder-se-ia incidir a causa de aumento acima do mínimo. Por
exemplo, existem potenciais lesivos diferentes em quem porta um revólver e quem porta um
fuzil, portanto haveriam penas diferentes para ambos. b) Critério quantitativo que leva em
conta o número de causas de aumento no mesmo crime para majorar a pena. Desta forma
criou-se uma tabela.
Número de causas de aumento Percentual de aumento

1 1/3

2 3/8

3 5/12

4 11/24

5 1/2

Súmula 443, STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua
exasperação a mera indicação do número de majorantes”.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)


I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e
multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Caso incidam as qualificadoras, não será possível inserir também as majorantes porque
estas, em razão da topográfica, dizem respeito apenas as figuras do roubo próprio e
impróprio (STJ). Contudo estas podem ser usadas como circunstâncias desfavoráveis na
primeira fase da dosimetria da pena.

Como neste parágrafo a lei não utiliza a grave ameaça ou a violência imprópria
prevalece que tais hipóteses persistem apenas como resultado da violência própria.

Para a consumação do roubo qualificado com a lesão grave basta que esta seja
efetivada, ainda que não ocorra a subtração. Admite tentativa.

O roubo qualificado pela morte, ou latrocínio, é crime hediondo sendo também


considerando crime complexo no sentido estrito (aquele que se forma por duas
condutas típicas: roubo, como crime fim, somado ao homicídio, como crime meio).
Súmula 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz
singular e não do Tribunal do Júri.

Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não se realize o agente a subtração de bens da vítima.

Disto decorre que se a subtração e a morte forem tentadas haverá latrocínio tentado. Se
a subtração se consuma, mas a morte não há também latrocínio tentado (embora o STF
tenha julgado em contrário se houver o dolo de matar. Assim seria roubo consumado em
concurso material com tentativa de homicídio). Por fim, se houver subtração tentada e
morte consumada ou subtração e morte consumadas haverá o latrocínio consumado.

A tentativa de latrocínio é possível apenas se houver dolo quanto ao resultado morte. Se


houver culpa (resultado agravador involuntário), não é possível.

E se o agente subtrair o patrimônio de uma pessoa, mas matar esta e outras?

Não é possível a continuidade delitiva entre os crimes de latrocínio e roubo, pois ambos
são delitos que tutelam bens jurídicos distintos (STJ).
Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o


intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Núcleo: Constranger que significa compelir, forçar alguém a fazer algo. Pode ocorrer
por violência ou grave ameaça, pois o artigo não cita a violência imprópria.

A ameaça pode ser dirigida a pessoa ou a algum patrimônio como, por exemplo, dizer
que vai destruir seu veículo que havia sido dela subtraído.

O constrangimento é praticado de modo a compelir a vítima a fazer (ex.: transferir


dinheiro para a conta do agente), tolerar que se faça (ex.: aceitar que o agente utilize
imóvel da vítima sem pagar) ou deixar de fazer alguma coisa (ex.: deixar de ajuizar uma
ação de execução).

Vantagem indevida: será de cunho material, mas aqui abrange bens móveis e imóveis.
Se a vantagem for outra como, por exemplo, manter conjunção carnal haverá outro
crime como, no caso, o estupro (art. 213 do CP).
Consumação: É crime formal que se consuma quando a vítima faz, tolera ou deixa de
fazer algo. O recebimento de vantagem econômica é exaurimento do crime pode ser
usado na dosimetria da pena.

Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da


vantagem indevida.

A tentativa ocorre quando a vítima constrangida não faz ou deixa fazer algo (por ex., é
impedida por terceiro).

Qual a diferença entre roubo e extorsão?

O STJ entendem a inviabilidade da continuidade delitiva com os crimes roubo e


extorsão, pois, embora do mesmo gênero, são de espécies distintas.
Então se os delitos de roubo e extorsão forem cometidos pela mesma vítima e no
mesmo contexto criminoso? Por exemplo, o autor subtrai um objeto da vítima e exige a
senha do banco desta. Responderá pelos dois crimes em concurso material (STJ). Existe
um julgado do STF que fala em concurso formal.

Sextorsão: é a utilização de fotos, vídeos ou outro conteúdo de natureza sexual para


chantagear a vítima.Por ex.: namorado utiliza nudes da ex-namorada para forçá-la a
algum comportamento.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo


anterior. (qualificadoras do roubo)

§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa


condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

A extorsão com resultado morte é crime hediondo.

Com relação à restrição de liberdade, esta foi alteração para tipificar a conduta do
sequestro relâmpago com simples especificação da conduta a ser praticada pelo autor
do crime. Ex. o autor restringe a liberdade da vítima para que esta o acompanhe até o
banco e saque o dinheiro.

Qual a distinção entre roubo com restrição de liberdade e extorsão com restrição da
liberdade?
Extorsão mediante seqüestro

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei
nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)

Como o artigo 159 do CP fala “pessoa”, caso se sequestre animal de estimação ocorrerá a
incidência do artigo 158 do CP.

Núcleo: Sequestrar, ou seja, privar da liberdade. Ocorre normalmente pelo cárcere, sendo
desnecessário que a vítima seja conduzida a outro lugar. Aqui cabe violência, grave ameaça e
violência imprópria.

É crime complexo em sentido estrito porque resulta da junção do artigo 148 (sequestro e
cárcere privado) com o delito do artigo 158 (extorsão).

Qual crime comete o agente que simula o próprio sequestro para receber dinheiro dos
familiares?

A vantagem a ser almejada deve ser econômica, pois o delito esta dentro dos crimes contra
o patrimônio. Bitencourt e STJ entendem que a vantagem não precisa ser financeira.
Condição do resgate – É qualquer comportamento do sujeito passivo que proporcione
vantagem econômica ao agente. Ex.: assinar um cheque, elaborar nota promissória etc.

Preço do resgate – Dinheiro em espécie ou outro bem (ex.: pedras preciosas etc.).

Consumação: É crime formal que se consuma com a privação de liberdade (STJ). Deve-
se demonstrar que o agente almejava vantagem econômica ou haverá o artigo 148 do
CP que é crime subsidiário.

A tentativa ocorre se o autor não conseguir sequestrar a vítima por circunstâncias


alheias a sua vontade.

O recebimento do resgate (exaurimento do crime) pode ser usado na dosimetria da


pena.

É crime permanente e hediondo em todas as modalidades (simples e qualificada)

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor


de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou
quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação dada pela Lei nº
10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Vide Lei nº 8.072, de
25.7.90
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. (Redação dada pela Lei
nº 8.072, de 25.7.1990)

§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90


Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei nº
8.072, de 25.7.1990)

Tais resultados podem ocorrer por dolo ou culpa.

No roubo qualificado, o legislador utilizou a expressão “se da violência” resulta lesão


grave ou morte. Aqui, foi empregada expressão mais ampla: “Se do fato” resulta lesão
grave ou morte. Logo, incidirá a qualificadora se tais resultados decorrerem não apenas
de violência, mas de grave ameaça ou de violência imprópria. Exemplos: pessoa
mantida em cativeiro não faz uso do medicamento e morre; no curso do sequestro,
pessoa tem síncope cardíaca e morre; polícia descobre o cativeiro e, ao ingressar,
sequestrador atira e mata a vítima.

Para alguns esses resultado deveriam ocorrer com a pessoa que esta em cativeiro. Se
atingir terceiro, por exemplo, o policial haveria concurso material entre extorsão
mediante sequestro e homicídio (julgados pelo júri). Para outro pode acontecer a
qualquer pessoa e seria de competência do juiz singular.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um
a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)

É causa de diminuição de pena. É uma forma de delação premiada exclusiva para


este artigo. Seus requisitos são: concurso de agentes, feita a autoridade e que
facilite a libertação da vítima. A redução da pena será maior em conformidade
com a ajuda da colaboração.
Extorsão indireta

Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de


alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou
contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Pratica o crime de extorsão indireta (art. 160) o agente que exige ou recebe, como
garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro. É o caso, por exemplo, de
induzir o necessitado cliente a assinar um contrato simulado de depósito ou a forjar no
título de dívida a firma de algum parente abastado, de modo que, não resgatada a dívida
no vencimento, ficará o mutuário sob a pressão da ameaça de um processo por
apropriação indébita ou falsidade.

O documento – objeto – pode ser uma confissão de um crime; tendo sido este crime
(anterior) cometido ou não pela vítima.

A pena é menor porque aqui não se exige violência ou grave ameaça. É processado por
ação pública incondicionada.
Questões

1 (FGV, OAB, 2019) Em 05/10/2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adquirir uma moto
em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 09/10/2018, sequestra
Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No mesmo dia, a dupla entra em contato
com a família da vítima, exigindo o pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)
para sua liberação. Duas semanas após a restrição da liberdade da vítima, período durante o qual os
autores permaneceram em constante contato com a família da vítima exigindo o pagamento do
resgate, a polícia encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de
imediato, Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família.
Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e reservada,
deverá esclarecer que sua conduta

A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal adota a
Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para fins penais.
B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão ministerial, pois o Código Penal adota a
Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza formal, sua
consumação se deu em 05/10/2018.
C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de
imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma consumada.
D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de
imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma tentada, já que o crime
não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois não houve obtenção da vantagem
indevida.

Gabarito: 1- C
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Núcleo: São três verbos: Destruir (ou seja, derrubar), inutilizar (tornar sem serventia) ou
deteriorar (significa por em pior estado).

Elemento subjetivo: Apenas o dolo. Não se pune criminalmente o dano culposo.


Existe divergência se haveria necessidade do elemento subjetivo específico “vontade de
danificar patrimônio alheio”. O STJ possui decisões neste sentido, mas o STF diz ser
desnecessário (por exemplo, o preso que danifica a cela ou viatura para tentar fugir responde
por dano qualificado).

Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

O inciso I descreve crime pluriofensivo, pois haverá violação da dois bens jurídicos (patrimônio
e incolumidade física). Se da violência ocorrer lesão corporal o autor responderá pelo crime
de dano qualificado em concurso material com o artigo 129 do CP conforme se observa do
preceito secundário:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Veja que não fala em grave ameaça que então fica absorvida pelo art. 163, parágrafo único)”.
Tanto a violência quanto a grave ameaça devem ser empregadas para a prática do dano. Se
forem empregadas depois deste haverá concurso material do art. 163 com o art. 129 ou
147 do CP.

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de
serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

O inciso IV pune mais severamente o dano provocado por motivo egoístico que seria aquele
extremamente individualista e desmedido (ex. o flanelinha que risca o carro de quem não
queria lhe pagar) ou o que cause prejuízo considerável à vítima analisado no caso concreto
de acordo com a situação financeira desta.

Ação penal

Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

Assim, serão crimes de ação penal privada apenas a figura do “caput” do artigo 163 e de
seu parágrafo único IV (“por motivo egoístico e ou prejuízo considerável à vítima”). As
demais hipóteses serão de ação pública incondicionada.
Apropriação Indébita:

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa que tenha a posse ou detenção legítima da coisa alheia
móvel. Por esta razão Guilherme de Souza Nucci entende que seria crime próprio, porém
majoritariamente classifica-se como crime comum.
Sujeito passivo: É o proprietário ou possuidor que entrega o bem para o sujeito ativo.

Núcleo: Apropriar-se que significa assenhorar, apossar da coisa que pertence a outrem.

STF e STJ entendem que a coisa, objeto da conduta deste crime, pode ser inclusive coisa
fungível. Porém, o tema não é pacífico. Guilherme de Souza Nucci afirma que o depósito ou
empréstimo de coisa fungível, com a obrigação de restituição de outra de mesma espécie,
quantidade e qualidade, encerra uma transferência de domínio (arts. 645 e 586 do CC).
Assim não caberia o crime se outra coisa com estas especificações fosse restituída no lugar.

Na apropriação indébita, o agente recebe a coisa legitimamente e, em momento posterior,


começa a se comportar como dono desta, praticando atos de disposição ou se recusando a
devolvê-la. No primeiro caso temos a apropriação indébita propriamente dita (ex. Cássio
recebe um celular emprestado de Lúcio e quando este pede de volta descobre que ele foi
vendido). Já no segundo caso, uma pessoa empresta o outra o telefone e depois quando
pede de volta recebe a reposta de que esse não será devolvido.
É necessário que a pessoa que recebe a coisa, o faça de boa-fé num primeiro momento, caso
assim não fosse configuraria estelionato (pena maior).
Havendo dúvida se houve boa-fé ou má-fé do autor, deverá se concluir pela primeira.

Apenas em um segundo momento haverá a inversão do ânimo de posse em domínio da coisa


emprestada.

Por fim, a posse também deverá ser desvigiada, senão ocorrerá o furto quando se espera a
distração da vítima para subtrair a coisa.

Consumação: É crime material que se consuma no momento em que o agente converte o


ânimo de posse em domínio da coisa. Ocorre com qualquer ato que demonstre a vontade do
autor em não lhe dar o destino certo ou a recusar em devolvê-la.

Com relação à tentativa existe divergência na doutrina. Parte defende a possibilidade, parte
diz ser impossível e alguns afirmam que pode ocorrer apenas no caso de apropriação
propriamente dita, ou seja, quando a pessoa pretende vender a coisa emprestada.

Na prática é difícil de ocorrer. Guilherme de Souza Nucci traz o seguinte exemplo: o agente
“possuía um quadro, que lhe fora confiado; quando solicitado a instado a devolver, levou ao
ofendido uma cópia. A vítima logo percebeu e exigiu o original, momento em que o agente
desistiu de prosseguir e entregou-lhe o original”.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;

Quando a única alternativa da vítima era confiar no agente do crime. O conceito de


depósito necessário esta no artigo 647 do Código Civil que estabelece ser o feito em
desempenho de obrigação legal ou aquele efetuado em razão de alguma calamidade
como inundação, naufrágio, incêndio ou saque. Majoritariamente defende-se que apenas
neste último caso (chamado depósito necessário miserável) haverá a incidência da causa
de aumento de pena.

O depósito necessário legal pode ser resolvido com outras figuras criminais como o
peculato (Art. 312) se o agente for funcionário público ou a apropriação indébita
qualificada em razão de ofício, emprego ou profissão.

II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou


depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Apropriação indébita privilegiada:

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
Estelionato:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Vide
Lei nº 7.209, de 1984)

o estelionato se caracteriza pelo emprego de uma fraude com o intuito de enganar a vítima e
fazer com que esta entregue ao autor espontaneamente alguma vantagem. Aqui não há
ameaça, violência ou coação.

Sujeito passivo: qualquer pessoa, tanto a que é enganada quanto a que sofre o prejuízo no
patrimônio. É crime bicomum.

Núcleo: Os verbos são induzir ou manter. Induzimento significa persuadir, provocar o engano.
Por exemplo, a pessoa se passa por parente da vítima e liga para ela dizendo que seu carro
quebrou precisa de dinheiro para o mecânico.
Manter significa conservar, permanecer. Aqui o agente faz com que a vítima perdure numa
situação de engano na qual ela já se encontrava. Por exemplo, a vítima se confunde com
relação à pessoa com quem tem uma dívida. O autor, percebendo o engano, finge ser o
credor e assim recebe o dinheiro.

A expressão “vantagem ilícita” é mais abrangente do que a do crime de furto que diz “coisa
alheia móvel”. Destarte, alcança qualquer benefício desde que seja patrimonial.
Perceba que o resultado no artigo 171 será sempre duplo. Haverá o prejuízo alheio em
conjunto com a vantagem ilícita.

“Mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”.

- Artifício é a fraude material que pressupõe o uso de algum instrumento ou vestimenta para
enganar a vítima como um uniforme falso.

- Ardil é a fraude moral ou intelectual. Nesta o agente usa uma conversa enganosa para a
prática do crime.

- Outro meio fraudulento é técnica de interpretação analógica que abrange inclusive o


silêncio.

Consumação: Como se trata de crime com resultado duplo sua consumação dependerá dos
dois resultado: vantagem ilícita associada ao prejuízo alheio.

A tentativa será possível quando o agente induzir a vítima ao erro, mas não conseguir a
vantagem ilícita e/ou a vítima não sofrer prejuízo.

A torpeza bilateral, ou seja, aquela situação em que ambas as partes tentam levar vantagem
se enganando, afasta o crime de estelionato?

E o “estelionato judiciário” configura crime?


O terceiro beneficiário da vantagem indevida que não participou do estelionato ou auxiliou o
autor responde pelo crime?

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena


conforme o disposto no art. 155, § 2º. (estelionato privilegiado)

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:


Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria;

Abrange coisa móvel e imóvel. Para consumação é imprescindível que o agente receba a
vantagem indevida em prejuízo alheio (crime material). O STJ também tem algumas decisões
no sentido de que o contrato de compra e venda realizado com pagamento, mas sem a
inversão da posse já seria o estelionato consumado.

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria


II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de
ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a
saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra
o pagamento.

Súmula 246 do STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão
de cheque sem fundos.

Se o agente falsifica documento e o utiliza para enganar alguém trazendo a esta prejuízo
praticará o crime de estelionato ou de falsificação documental? Quatro correntes:
O crime de falsificação documental absorve o estelionato, pois o primeiro é crime formal que
se consuma com a mera falsificação sendo a obtenção de vantagem indevida pelo autor
mero exaurimento deste. (Nelson Hungria)
O estelionato absorva a falsidade, pois este último é mero instrumento para a prática
daquele. Aplica-se assim o princípio da consunção para resolver o impasse. (Majoritaria)
São duas condutas e dois crimes, assim aplica-se o concurso material nos moldes do art. 69
do CP.
Concurso formal (art. 70 do CP), pois são dois crimes praticados numa sucessão de atos que
compõe uma única conduta.
Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é
cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei
nº 14.155, de 2021)
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de
entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade
autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º, do art. 171 do Código Penal.

O pagamento posterior não extingue o crime.

Súmula 107 do STJ: Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições
previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal.
Questiona-se se a fraude contra a previdência social para ensejar o recebimento de
benefício indevido configura crime instantâneo, permanente ou continuado. A questão
ganha relevância sobretudo porque, a depender da posição adotada, haverá diferentes
reflexos no cálculo da prescrição.

O STF e o STJ afirmam a natureza binária da infração, devendo-se distinguir duas


situações:

Se o próprio favorecido frauda a previdência para receber indevidamente o benefício


será crime permanente e o termo inicial da prescrição será o último recebimento
indevido.
Se terceiro (por exemplo, o funcionário do INSS) comete a fraude para que outrem
receba o benefício indevido haverá crime permanente de efeitos instantâneos. O
agente pratica uma única conduta, mas o beneficiário continua recebendo as vantagens
indevidas por meses. Aqui o termo inicial da prescrição será a data da consumação, ou
seja, o recebimento da primeira prestação indevida.
Agora se o agente continua recebendo benefício que inicialmente era devido, mas já
deveria ter cessado o STJ tem entendido ser crime continuado porque as prestações
são recebidas em mesmas circunstancia de tempo e lugar. Aqui o termo inicial será o
recebimento da última parcela.
Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso
ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela Lei nº
14.155, de 2021)

Foi inserido no artigo 70 do CPP em 2021 um alteração no que diz respeito à


competência do crime de estelionato quando a conduta ilícita é praticada num lugar e o
prejuízo ocorre em outro. Vejamos:

Art. 70. (...)


§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado
ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.

Essa regra não se aplica ao caso de estelionato praticado por meio de cheque falso (aqui
o juiz competente é o do lugar da obtenção da vantagem indevida). Porém, aplica-se ao
estelionato praticado com cheque sem fundo, no qual antes era competente o da
agencia bancária, onde o título estava vinculado e que se recusava a efetuar o
pagamento (Súmulas 224 do STJ e 521 do STF). Agora a competência passou a ser do
domicílio da vítima. Assim as duas súmulas estão revogadas!
E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?
A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todas as
condutas o juízo do domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou
medida relativa a este, nos termos do art. 83 do CPP.

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:


I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Receptação:

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Núcleo: com relação ao “caput” o crime de receptação se divide em duas formas:

1- Receptação dolosa própria (art. 180, “caput”, 1º parte do CP): “Adquirir, receber, transportar,
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime”.
É modalidade de tipo misto alternativo, ou seja, ainda que praticado mais de verbo dentro do
mesmo contexto fático haverá um único crime.
A receptação é denominada crime parasitário, acessório ou de fusão porque depende da
existência de um crime anterior.
Perceba que o artigo diz “produto de crime”, assim se for produto de contravenção não haverá
receptação. Noronha diz que abrange o produto de ato infracional, Fragoso por outro lado diz
que não engloba.
Não há necessidade que o crime anterior seja um crime contra o patrimônio. Pode haver
inclusive receptação de receptação também chamada de receptação em cadeia.

O dolo deve ser atual, ou seja, aferido no momento da conduta. Não há receptação se a
pessoa recebe de boa-fé a coisa e depois descobre ser produto de crime. Porém, Nelson
Hungria discorda disto.
2- Receptação dolosa imprópria (art. 180, “caput”, 2º parte):

Núcleo: Se refere à expressão “influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte” a coisa produto de crime.
Aqui o agente tenta induzir pessoa honesta a ficar ou ocultar produto de crime. Se o terceiro
cv souber da procedência ilícita (tiver má-fé) será ele o receptador nos moldes da 1º parte e o
“atravessador”será partícipe neste crime.

Consumação: É crime formal que se consuma com o ato de influir, ainda que o terceiro não
aceite o produto do crime. Mas então admite tentativa? Majoritariamente se diz que não por
ser crime unissubsistente. Mas existe controvérsia; Guilherme de Souza Nucci a tentativa de
influenciação. Por exemplo, a polícia chega no momento em que o agente tenta vender o
celular para a pessoa.

Receptação qualificada (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)


§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de
crime:(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. (Redação dada pela Lei
nº 9.426, de 1996)
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela Lei
nº 9.426, de 1996).

Aqui a lei ofereceu parâmetro que deve ser observados na tipificação do crime. É hipótese
rara de um tipo culposo fechado.

1) por sua natureza. Exemplo: comprar um veículo usado sem peças.


2) pela desproporção entre valor e preço. Exemplo: um celular que na loja vale R$1000,00 e
você compra por R$200,00.
3) pela condição de quem oferece. Exemplo: um indivíduo com aspecto de usuário de drogas
e morador de rua com um telefone que custa muito caro.

§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de


que proveio a coisa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do
art. 155. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 6 o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de
Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista
ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput
deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
Receptação de animal

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Disposições gerais:

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça
ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Questões

1 (OAB, CESP, 2008) Viviane esteve em uma locadora de filmes e, fazendo uso de
documento falso, preencheu o cadastro e locou vários DVD’s, já com a intenção de
não devolvê-los.

Nessa situação hipotética, por ter causado à casa comercial prejuízo equivalente ao
valor dos DVDs, Viviane praticou, segundo o CP, o delito de

A ) uso de documento falso.

B ) estelionato.

C ) furto mediante fraude.

D ) apropriação indébita.

Gabarito: 1- B

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