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Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

ou a automutilação
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Suicídio no ordenamento jurídico brasileiro
 O suicídio, em si, tentado ou consumado, em virtude da política criminal, não é compreendido como crime no ordenamento jurídico
brasileiro.
 Uma punição ao suicida não se justificaria, ao passo em que impossível.
 Concepção introduzida no campo jurídico somente após o século XVIII
 Beccaria (1764) descreve a ausência de finalidade crível na aplicação da pena para um delito de suicídio, ao passo em que não
pode ser o seu agente submetido a nenhuma pena propriamente dita, uma vez que essa somente recairia sobre um corpo
desprovido de sentimento e vida. Pior ainda, sobre terceiros inocentes, a exemplo da família do suicida.

 Quanto à modalidade tentada do suicídio, apesar de que nesse caso o suicida ainda compreenderia um indivíduo passível de
sofrer as sanções do Estado, essa concepção se mostra um tanto questionável à medida que as reprimendas por meio de
sanções penais não teriam o âmago de conter ou ressocializar o indivíduo que pratica tal ato. “Se se obedece às leis pelo temor
de um suplício doloroso, aquele que se mata nada tem que temer, pois a morte destrói toda sensibilidade. Não é, pois, esse
motivo que poderá deter a mão desesperada do suicida.” (BECCARIA, 1764)

• Ofensa ao princípio da alteridade - punir alguém que não lesou bens alheios.

• Apesar do suicídio não ser um ato passível de punição ao seu agente, é compreendido como um ato típico.
• Guilherme de Souza Nucci: o suicídio é ato ilícito, “tanto que a coação exercida para impedi-lo é atípico”, fato que afasta a
hipótese de constrangimento ilegal (ofensa à liberdade do indivíduo) – previsão do art. 146, §3º do Código Penal Brasileiro.
• O desejo de morrer do suicida não legitima atentar contra a própria vida.
• A lei, embora não possa impedir a pessoa de dispor sobre sua vida, não reconhece esse ato como um direito.
Art. 122; VALORES PROTEGIDOS
 Originalmente, a concepção do tipo penal do art. 122 prestava-se à tutela da vida humana extrauterina
 Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta
lesão corporal de natureza grave.

 Alterações da lei n. 13.968/2019


 Ampliação da esfera de proteção
 Inclusão da integridade corporal e a saúde humana
 Propósito central
 incluir no dispositivo o induzimento, instigação ou auxílio à automutilação
 Consequência de reformulação de toda estrutura do tipo penal

 Todas as modificações = normas penais gravosas


 Exacerbamento da punição anteriormente imposta (novatio legis in pejus)
 Criminalização de comportamentos anteriormente atípicos (novatio legis incriminadora)

 Obs: Não operam retroativamente – aplicação a fatos cometidos a partir do dia 27 de dezembro de 2019
Art. 122; VALORES PROTEGIDOS
 Principais alterações da lei n. 13.968/2019

I. Inclusão no dispositivo do auxílio (moral ou material) à automutilação.

II. Punição, até então inexistente, da conduta do sujeito que pratica o auxílio ao suicídio sem que este produza morte ou lesão
grave
 Antes, sem esses resultados, o fato era atípico

III. Introdução de novas causas de aumento de pena


 praticar o fato por motivo fútil ou torpe (§ 3º)
 por meio da internet, rede social ou transmitido em tempo real (§ 4º)
 liderar ou coordenar grupo ou rede virtual responsável pelo auxílio (§ 5º)

IV. Inserção de normas explicativas


 Desclassificação para o crime de lesão corporal gravíssima ou homicídio, quando a vítima é pessoa menor de 14 anos ou
sem o discernimento necessário para o ato ou incapaz de oferecer resistência (§§ 6º e 7º).
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

 Punição criminal a quem presta auxílio, moral ou material, a que alguém pratique suicídio ou
automutilação.

 Diferentes graus punitivos, conforme o resultado da conduta:


a) se a vítima não sofre lesão alguma ou somente lesão de natureza leve, aplica-se a pena do caput (reclusão, de seis
meses a dois anos);
b) se do fato resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, incide o § 1º (reclusão, de um a três anos);
c) se o fato provocar a morte, aplica-se o § 2º (reclusão, de dois a seis anos).
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

Tipo objetivo
Conduta nuclear:
 induzir (implantar na mente do sujeito ideia que não existia)
 instigar (fomentar um plano preexistente, encorajando, ou incentivando a pessoa)
 auxiliar materialmente (fornecer colaboração material, favorecendo mediante a concessão de meios ou instrumentos)

 Caput:
 Crime de mera conduta ou simples atividade (independe o resultado provocado sobre o sujeito passivo)
 Obs.: há doutrina que classifica o delito como formal
 Crime de ação múltipla/conteúdo variado (diversos núcleos)

 O autor do fato não deve praticar atos materiais ligados diretamente à provocação da morte
 Ex.: puxar a corda da forca; provocar a emissão de gás venenoso
 Idem para a situações de automutilação
 Controvérsia doutrinária: autoria por omissão imprópria
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Autolesão x Automutilação
Automutilação:
 Qualquer comportamento intencional implicando agressão ao próprio corpo, sem o propósito suicida e
não aceita social e culturalmente
 Não inclui tatuagem, piercing (plenamente aceitas no campo social)
 Princípio da adequação social

Autolesão
 Além da inflição de agressões no corpo, quaisquer atitudes que impliquem o adoecimento da pessoa,
contraindo doenças em detrimento da própria saúde;
 Condutas que prejudiquem o normal funcionamento das funções corporais, produzindo ou agravando
algum estado patológico
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Sujeitos do delito
Sujeito ativo:
 Qualquer pessoa (crime comum)
 Obs.: autoria mediata - quando alguém, embora sem realizar a conduta típica, se vale de um terceiro como
mero instrumento de sua vontade = responderá por homicídio

Sujeito passivo
 Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo capaz (possui capacidade de compreensão acerca das
consequências do ato do sujeito ativo)
 Vítimas menores de 14 anos; que não têm discernimento para compreender o fato; incapacitadas de
oferecer resistência
 Homicídio – art. 121 do CP (se houver morte)
 Lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, do CP (se tal resultado ocorrer)
 Deve se tratar de sujeito determinado (não se aplica se a conduta for propagada de caráter geral)
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

Tipo subjetivo
Elemento subjetivo do tipo = Dolo
1. animus necandi (intenção de auxiliar alguém a ceifar a própria vida)
2. animus occidendi (intenção de ver o outro lesionado)

 Não há previsão de modalidade culposa


Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

Consumação e tentativa
Caput
 Trata-se de crime mera conduta
 Basta que o ato de induzir/instigar chega ao conhecimento da vítima ou que esta receba auxílio
material
 §1º e §2º (qualificadoras)
 Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resultar lesão grave/gravíssima ou morte
 Modalidade compreenderia um delito material

Tentativa
 Antes da lei 13.968/2019 – Apesar de inicialmente ter existido divergência doutrinária acerca da
possibilidade de tal modalidade, predominava-se o entendimento negativo
 Após a lei 13 968/2019 – a incriminação não é mais condicionada ao resultado, logo, admite-se a tentativa
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

Causas especiais de aumento de pena


Motivo fútil, torpe ou egoístico (§3º, I)
 a pena da participação em suicídio ou automutilação será duplicada

Vítima menor ou com capacidade de resistência diminuída ( §3º, II)


 Impõe aumento de pena, ao dobro
 Obs.: com relação à idade da vítima, deve ser ela menor de 18 anos e com idade igual ou maior a 14 anos
 Vítima menor de 14 anos = desclassificação do fato para homicídio ou lesão grave (§§ 6º e 7º)
Rede mundial de computadores (§4º)
 a pena será aumentada até o dobro
 Conduta realizada por meio da internet, de rede social ou transmitida em tempo real
 Influências de casos descritos como “baleia azul” ou shocking game
Líder ou coordenador de grupo ou rede virtual (§5º)
 aumento de pena pela metade
 Agente auxilia/induz/instiga automutilação ou suicídio estando na condição de líder ou coordenador de grupo ou rede
virtual
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO

Ação Penal; Tribunal do Júri

Todas as formas do delito compreenderão ação penal pública incondicionada

Obs.: Somente será de competência do júri caso o sujeito ativo atue com o dolo de matar

Obs. 2: Caso ocorra a indução ou instigação à automutilação, não haverá o animus necandi, não sendo, portanto, de
competência do Tribunal do Júri
Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do


estado puerperal, o próprio filho, durante
o parto ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.


Infanticídio – Art. 123
O bem jurídico tutelado é a vida humana.
 do feto ou recém-nascido (durante o parto ou logo após)
 supressão resultante de ato cometido pela mãe, estando ela influenciada pelo estado puerperal

Infanticídio x homicídio
 Primeira contração expulsiva do feto/ primeira incisão no ventre materno (parto cesáreo)
 Parto
 Momentos que sucedem o parto

Razões que postulam por um tratamento penal mais benévolo ao infanticídio, como crime autônomo (delictum exceptum),
podem ser reunidas em duas vertentes distintas:
 critério psicológico
 motivo de honra, nas hipóteses em que a gravidez resulta de relações extramatrimoniais
 A culpabilidade é atenuada pelo temor da própria desonra
 critério fisiopsíquico (critério adotado pelo Dir. Penal Brasileiro)
 abandona qualquer consideração acerca da legitimidade da gravidez
 Não cabe perquirir o motivo determinante da prática delituosa
 Exame da perturbação fisiopsíquica produzida pelo fenômeno do parto
 O privilégio só é concedido se a morte dada ao filho ocorre sob a influência do estado puerperal
Infanticídio – Art. 123
CONDUTA NUCLEAR

Verbo nuclear semelhante ao do homicídio = matar (suprimir a vida)

Subentende-se uma conduta comissiva


 Souza Lima elenca como meios mais comuns de execução “os traumatismos da cabeça e asfixia, com
particularidade, e a sufocação e estrangulação”.

Admite-se a forma omissiva


 A mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e vigilância com relação ao filho
 Ex.: “se a mãe, como garante da vida do seu filho, omite os preparativos devidos do parto e do
nascimento ou se não socorre do auxílio do médico quando este se revela previsivelmente
indispensável”

OBJETO MATERIAL
 O filho da autora, ainda em seu ventre ou recém-nascido (nascente ou neonato).
Infanticídio – Art. 123
ELEMENTARES DO TIPO

TEMPORAL
 pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo após”
 Parto:
 Início: primeiras contrações expulsórias/ primeira incisão efetuada pelo médico (cesariana)
 Fim: com a expulsão do feto e saída da placenta.
 Ainda depois desse período, incide a figura penal (“logo após”)
 deve ser medido pela duração do estado puerperal; enquanto a mãe encontrar-se sob a influência do
estado puerperal
 Em regra: o parâmetro máximo apontado costuma ser de 7 dias

FISIOPSÍQUICO
 Trata-se do estado puerperal
 acomete toda a gestante durante o parto
 Perturbação mental transitória
 Excitação ou delírio na parturiente
 Obs.: não confundir com psicoses puerperais
 Podem surgir dias após o parto em mulheres predispostas a certas anormalidades psíquicas, que se
agravam com o puerpério (confusão alucinatória)
 Demanda perícia (intensidade do puerpério e o quanto este contribuiu para o comportamento da autora)
Infanticídio – Art. 123

TIPO SUBJETIVO

DOLO – vontade de concretizar os elementos do tipo

Não há previsão de modalidade culposa


 Questão de discussão doutrinária – mãe responderia por homicídio culposo?
Infanticídio – Art. 123
SUJEITO DO CRIME

ATIVO
 Somente a mãe pode cometê-lo (crime próprio)

PASSIVO
 O infante, recém-nascido (neonato) ou que está nascendo (nascente)

Participação de terceiros (concurso de agentes)


 Divergência doutrinária: É admissível o concurso? concorrência para o mesmo tipo penal (infanticídio) ou
homicídio?
 Art. 30, CP – comunicabilidade das elementares do crime
 Estado puerperal = condição de cunho pessoal e elementar do tipo previsto no art. 122

 Hipóteses:
1. a mãe e o terceiro realizam dolosamente o núcleo do tipo (matar/coautoria)
2. a mãe mata o nascente ou recém-nascido e é ajudada pelo terceiro (autora – infanticídio/partícipe)
3. o terceiro mata a criança, com a participação da mãe (autor – homicídio/partícipe)
Infanticídio – Art. 123

CONSUMAÇÃO
Se dá com a morte cerebral da vítima

TENTATIVA
Admite-se a modalidade tentada; trata-se de crime plurissubsistente
 Ex.: se a mulher toma o próprio filho em seus braços e violentamente começa a agredi-lo, sendo impedida
pela equipe médica, há infanticídio tentado (desde que encontre-se sob a influência do estado puerperal)
Infanticídio – Art. 123

Conflito aparente de normas penais


Não se deve confundir o delito de infanticídio do delito de exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134, CP).

No caso do art. 134, há o abandono ou a exposição da criança – ainda que sob a influência do estado puerperal ou
não – com o fim de ocultar desonra própria.
Se do fato resultar lesão corporal de natureza grave ou morte
Incidirá as penas previstas nos §§1.º e 2.º (delito qualificado pelo resultado)

Já no crime de infanticídio o sujeito ativo visa precisamente à morte do recém-nascido, por meios comissivos ou
omissivos – inclusive pelo abandono, que é absorvido por aquele crime (critério de consunção).
Aborto provocado pela gestante ou com o
seu consentimento

Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou


consentir que outrem lho provoque:
Aborto
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento
da gestante:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.

Art. 126. Provocar aborto com o consentimento


da gestante:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo


anterior, se a gestante não é maior de 14
(quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou
se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência.
Forma qualificada Aborto
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos
anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por


médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.
Aborto – art. 124 a
Bem jurídico tutelado
128
O bem jurídico tutelado pelos artigos 124, 125 e 126 do Código Penal é
a vida do ser humano dependente, em formação – embrião ou feto

Protege-se a vida intrauterina, para que possa o ser humano


desenvolver-se normalmente e nascer
 Início – nidação
 Fim – início do parto

O objeto material/da conduta


 Embrião ou o feto humano vivo presente no útero da
mulher
 Regis Prado: o embrião e o feto não são considerados
pessoa, tampouco são titulares de direitos, mas não são
coisa, ou algo intermédio, mas deve ser-lhes reconhecido
uma condição própria e independente
Aborto – art. 124 a
128
Ministro Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC
124.306, em 9 de agosto de 2016:

“é preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a


126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu
âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro
trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais
da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. A criminalização é
incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e
reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma
gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de
fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é
quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade
da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de
gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria”.
Espécies de aborto

1. Aborto espontâneo
a) Autoaborto Natural
b) Aborto Acidental

2. Aborto provocado
a) Aborto Criminoso
b) Aborto Legal
i. Terapêutico/necessário
ii. Sentimental/Humanitário
c) Aborto Eugênico (eugenésico)
Aborto provocado
Aborto Criminoso
1. Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)
2. Aborto sofrito ou praticado por terceiro sem o consentimento
da gestante (art. 125)
3. Aborto praticado por terceiro com o consentimento da
gestante (art. 126)

Tipo subjetivo:
Somente se pune o aborto como crime doloso – consciência e vontade de produzir a morte do feto
• Dolo direto – quando a vontade do agente é diretamente conduzida à interrupção da gravidez e, de
conseguinte, à provocação da morte do produto da concepção
• Dolo eventual – se o sujeito ativo, embora não queira o resultado morte do feto como fim específico
de sua conduta, o aceita como possível ou provável

Nas figuras agravadas pelo resultado (art. 127)


Trata-se de crime preterdoloso

Crime não transeunte:


A prova do fato há de ser feita mediante exame de corpo de delito (direto ou indireto) (CPP, art. 158)
Admite-se que sua falta seja suprida, em casos excepcionais, pela prova testemunhal (CPP, art. 167).
Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)

Tipo objetivo:
• Pode ser cometido por qualquer meio (crime de forma livre)
Podem ser reunidos em 3 grupos principais:
a) químicos: emprego de fósforo, mercúrio, arsênico, quinina...
b) físicos (mecânicos, térmicos ou elétricos): punção, curetagem...
c) psíquicos: sustos, sugestões, choques morais, provocação de terror...

• O crime pode ser cometido por omissão


Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)

Sujeitos do crime:
• Ativo: somente a gestante pode cometê-los (crime próprio)
• No autoaborto é necessário que a gestante provoque em si própria (dê causa, produza, realize) a
morte do produto do nascituro
• No aborto consentido, um terceiro, com o consentimento válido da gestante, pratica o fato

Obs: Admite-se a participação de terceiros


• Ocorrerá a comunicação das condições da autora – elementar do crime (art. 30, CP)
• A conduta deverá ater-se ao mero auxílio do ato da gestante e não daquele que realiza o aborto
• Jurisprudência:
• Tribunal de Justiça de São Paulo: “Incide nas sanções do art. 126 do CP e não nas do art. 124 aquele que,
além de ter empregado, pessoalmente, meios abortivos na gestante, consistentes em injeções e
comprimidos, com seu consentimento, a conduz à parteira, remunerando esta para que provocasse o
aborto”

Coautoria: não é admitida no autoaborto


Exceção pluralista à teoria monista (art. 29, CP): Quando a gestante consente que outrem pratique nela o
aborto, ela é enquadrada no art. 124 e o outro, no art. 126 do CP.
Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)

Sujeitos do crime:
• Passivo:
• Primário – ovo, embrião ou feto
Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)

Consumação:
• Crime material – consumando-se com a morte cerebral do nascituro

Tentativa:
• Admite-se a tentativa – delito plurissubsistente.
Aborto sofrido – provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125)

Tipo objetivo:
• Conduta típica semelhante ao art. 124, porém sem o consentimento da mulher ou mediante
consentimento inválido
• Haverá consentimento inválido (art. 126, parágrafo único)
• Gestante menor de 14
• Alienada ou débil mental
• Se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

Tipo subjetivo:
• Prática dolosa – consciente e voluntário, tendente à matar a vida humana intrauterina

• Não há modalidade culposa


• Caso o sujeito lesione a gestante e, culposamente, provocar o aborto, haverá crime preterdoloso
(art. 129, §2º, V, do CP)
Aborto sofrido – provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125)

Sujeitos:
• Ativo: qualquer pessoa (crime comum)

• Passivo: o nascituro e a gestante


Aborto sofrido – provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126)

Tipo objetivo:
• Conduta típica semelhante ao art. 124 e 125
• Exige-se o consentimento da gestante
• O consentimento prestado pode ser revogado pela gestante (até o momento em que não seja mais
possível evitar o aborto)
• Se o consentimento for revogado, o agente responderá pelo crime do art. 125 do CP

• Sancionado de forma menos severa: o terceiro que realiza as manobras abortivas responde pelo art. 126,
enquanto que a gestante responde pelo art. 124

Tipo subjetivo:
• Idem arts. 124 e 125 do CP
Aborto sofrido – provocado por terceiro (arts. 125 e 126)

Figuras agravadas pelo resultado (formas qualificadas): art. 127

Haverá agravamento especial de pena aos crimes dos arts. 125 e 126
• quando da manobra abortiva resultar morte ou lesão grave na gestante.

Tratam-se de crimes preterdolosos


• O sujeito atua com dolo de suprimir a vida do nascituro e, por imprudência, negligência ou imperícia,
dá causa a lesão grave ou à morte da mulher.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto Legal - Terapêutico/necessário

Ato praticado por médico


• Verificada a inexistência de outro meio de
salvar a vida da gestante
• Interrupção artificial da gravidez para pôr
fim a perigo certo, e inevitável por outro
modo, à vida da gestante

• Terapêutico: o risco à vida é atual,


• Profilático: o risco à vida é iminente (age-se
preventivamente)
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto Legal - Terapêutico/necessário

• A lei penal não exige, em quaisquer dos casos, que o aborto


seja precedido de autorização judicial.
• O consentimento da gestante (ou de seus familiares) é
desnecessário, em razão do perigo à sua vida.
• Lógica similar: Art. 146, §3º, I, do CP
• “intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por
iminente perigo de vida”

Mediante certeza do diagnóstico, podem os médicos


interromper a gravidez

Não incorrem na incriminação (art. 125 ou 126 do CP)


Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
Aborto Legal - Sentimental/Humanitário precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

É autorizado o aborto quando a gravidez resulta de estupro


• Necessário consentimento da gestante ou de seu
representante legal, quando civilmente incapaz.

Política legislativa:
• não se pode obrigar uma mulher a levar até o final uma
gravidez que a fará recordar, diária e perenemente, de uma
odiosa violência a que fora submetida
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
Aborto Legal - Sentimental/Humanitário precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

Apesar da desnecessidade de autorização judicial


• O médico deve proceder com cautela
• A lei não requer a condenação do agente pelo estupro
• Recomenda prova convincente da existência do crime
sexual

• Se o médico agir enganado, não cometerá crime (erro de


tipo – art. 20, §2º do CP – erro determinado por terceiro)

• A mulher responderá pelo aborto (CP, art. 124)


Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
Aborto Legal - Sentimental/Humanitário precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

Enfermeira:
• Haverá crime se o aborto for praticado por não médico
• Somente na hipótese de aborto necessário pode se
considerar lícita a interrupção da gravidez efetuada por
não médico
• Incidência da excludente de antijuridicidade (art. 24
do CP – estado de necessidade).
Aborto provocado
Aborto de anencefálico

A Medicina a considera uma patologia letal, isto é, que leva


invariavelmente à morte do recém-nascido, dada a absoluta
impossibilidade de vida independente sem o encéfalo e a
calota craniana.
• Inexiste atividade cerebral
• Critério da morte neocortical (não há vida no objeto)
• Questão pacificada (ADPF 54)
• STF: Não constitui crime de aborto a interrupção da
gestação em tais casos

• Trata-se, portanto, de fato atípico, visto que falta o


desvalor da ação.
Aborto Eugênico (eugenésico)

A indicação eugenésica ou eugênica não é agasalhada pela legislação


penal brasileira. Essa indicação permite o aborto quando há risco
fundado de que o embrião ou o feto sejam portadores de graves
anomalias genéticas de qualquer natureza ou de outros defeitos físicos
ou psíquicos decorrentes da gravidez.
Em princípio, trata-se de causa de exclusão da culpabilidade, pela
inexigibilidade de conduta diversa. Demais disso, argumenta-se que não
se pode exigir que a mãe dedique sua própria vida a cuidar de alguém
portador de graves anomalias.

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