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ou a automutilação
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Suicídio no ordenamento jurídico brasileiro
O suicídio, em si, tentado ou consumado, em virtude da política criminal, não é compreendido como crime no ordenamento jurídico
brasileiro.
Uma punição ao suicida não se justificaria, ao passo em que impossível.
Concepção introduzida no campo jurídico somente após o século XVIII
Beccaria (1764) descreve a ausência de finalidade crível na aplicação da pena para um delito de suicídio, ao passo em que não
pode ser o seu agente submetido a nenhuma pena propriamente dita, uma vez que essa somente recairia sobre um corpo
desprovido de sentimento e vida. Pior ainda, sobre terceiros inocentes, a exemplo da família do suicida.
Quanto à modalidade tentada do suicídio, apesar de que nesse caso o suicida ainda compreenderia um indivíduo passível de
sofrer as sanções do Estado, essa concepção se mostra um tanto questionável à medida que as reprimendas por meio de
sanções penais não teriam o âmago de conter ou ressocializar o indivíduo que pratica tal ato. “Se se obedece às leis pelo temor
de um suplício doloroso, aquele que se mata nada tem que temer, pois a morte destrói toda sensibilidade. Não é, pois, esse
motivo que poderá deter a mão desesperada do suicida.” (BECCARIA, 1764)
• Ofensa ao princípio da alteridade - punir alguém que não lesou bens alheios.
• Apesar do suicídio não ser um ato passível de punição ao seu agente, é compreendido como um ato típico.
• Guilherme de Souza Nucci: o suicídio é ato ilícito, “tanto que a coação exercida para impedi-lo é atípico”, fato que afasta a
hipótese de constrangimento ilegal (ofensa à liberdade do indivíduo) – previsão do art. 146, §3º do Código Penal Brasileiro.
• O desejo de morrer do suicida não legitima atentar contra a própria vida.
• A lei, embora não possa impedir a pessoa de dispor sobre sua vida, não reconhece esse ato como um direito.
Art. 122; VALORES PROTEGIDOS
Originalmente, a concepção do tipo penal do art. 122 prestava-se à tutela da vida humana extrauterina
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta
lesão corporal de natureza grave.
Obs: Não operam retroativamente – aplicação a fatos cometidos a partir do dia 27 de dezembro de 2019
Art. 122; VALORES PROTEGIDOS
Principais alterações da lei n. 13.968/2019
II. Punição, até então inexistente, da conduta do sujeito que pratica o auxílio ao suicídio sem que este produza morte ou lesão
grave
Antes, sem esses resultados, o fato era atípico
Punição criminal a quem presta auxílio, moral ou material, a que alguém pratique suicídio ou
automutilação.
Tipo objetivo
Conduta nuclear:
induzir (implantar na mente do sujeito ideia que não existia)
instigar (fomentar um plano preexistente, encorajando, ou incentivando a pessoa)
auxiliar materialmente (fornecer colaboração material, favorecendo mediante a concessão de meios ou instrumentos)
Caput:
Crime de mera conduta ou simples atividade (independe o resultado provocado sobre o sujeito passivo)
Obs.: há doutrina que classifica o delito como formal
Crime de ação múltipla/conteúdo variado (diversos núcleos)
O autor do fato não deve praticar atos materiais ligados diretamente à provocação da morte
Ex.: puxar a corda da forca; provocar a emissão de gás venenoso
Idem para a situações de automutilação
Controvérsia doutrinária: autoria por omissão imprópria
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Autolesão x Automutilação
Automutilação:
Qualquer comportamento intencional implicando agressão ao próprio corpo, sem o propósito suicida e
não aceita social e culturalmente
Não inclui tatuagem, piercing (plenamente aceitas no campo social)
Princípio da adequação social
Autolesão
Além da inflição de agressões no corpo, quaisquer atitudes que impliquem o adoecimento da pessoa,
contraindo doenças em detrimento da própria saúde;
Condutas que prejudiquem o normal funcionamento das funções corporais, produzindo ou agravando
algum estado patológico
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Sujeitos do delito
Sujeito ativo:
Qualquer pessoa (crime comum)
Obs.: autoria mediata - quando alguém, embora sem realizar a conduta típica, se vale de um terceiro como
mero instrumento de sua vontade = responderá por homicídio
Sujeito passivo
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo capaz (possui capacidade de compreensão acerca das
consequências do ato do sujeito ativo)
Vítimas menores de 14 anos; que não têm discernimento para compreender o fato; incapacitadas de
oferecer resistência
Homicídio – art. 121 do CP (se houver morte)
Lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, do CP (se tal resultado ocorrer)
Deve se tratar de sujeito determinado (não se aplica se a conduta for propagada de caráter geral)
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Tipo subjetivo
Elemento subjetivo do tipo = Dolo
1. animus necandi (intenção de auxiliar alguém a ceifar a própria vida)
2. animus occidendi (intenção de ver o outro lesionado)
Consumação e tentativa
Caput
Trata-se de crime mera conduta
Basta que o ato de induzir/instigar chega ao conhecimento da vítima ou que esta receba auxílio
material
§1º e §2º (qualificadoras)
Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resultar lesão grave/gravíssima ou morte
Modalidade compreenderia um delito material
Tentativa
Antes da lei 13.968/2019 – Apesar de inicialmente ter existido divergência doutrinária acerca da
possibilidade de tal modalidade, predominava-se o entendimento negativo
Após a lei 13 968/2019 – a incriminação não é mais condicionada ao resultado, logo, admite-se a tentativa
Art. 122; PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO OU
AUTOMUTILAÇÃO
Obs.: Somente será de competência do júri caso o sujeito ativo atue com o dolo de matar
Obs. 2: Caso ocorra a indução ou instigação à automutilação, não haverá o animus necandi, não sendo, portanto, de
competência do Tribunal do Júri
Infanticídio
Infanticídio x homicídio
Primeira contração expulsiva do feto/ primeira incisão no ventre materno (parto cesáreo)
Parto
Momentos que sucedem o parto
Razões que postulam por um tratamento penal mais benévolo ao infanticídio, como crime autônomo (delictum exceptum),
podem ser reunidas em duas vertentes distintas:
critério psicológico
motivo de honra, nas hipóteses em que a gravidez resulta de relações extramatrimoniais
A culpabilidade é atenuada pelo temor da própria desonra
critério fisiopsíquico (critério adotado pelo Dir. Penal Brasileiro)
abandona qualquer consideração acerca da legitimidade da gravidez
Não cabe perquirir o motivo determinante da prática delituosa
Exame da perturbação fisiopsíquica produzida pelo fenômeno do parto
O privilégio só é concedido se a morte dada ao filho ocorre sob a influência do estado puerperal
Infanticídio – Art. 123
CONDUTA NUCLEAR
OBJETO MATERIAL
O filho da autora, ainda em seu ventre ou recém-nascido (nascente ou neonato).
Infanticídio – Art. 123
ELEMENTARES DO TIPO
TEMPORAL
pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo após”
Parto:
Início: primeiras contrações expulsórias/ primeira incisão efetuada pelo médico (cesariana)
Fim: com a expulsão do feto e saída da placenta.
Ainda depois desse período, incide a figura penal (“logo após”)
deve ser medido pela duração do estado puerperal; enquanto a mãe encontrar-se sob a influência do
estado puerperal
Em regra: o parâmetro máximo apontado costuma ser de 7 dias
FISIOPSÍQUICO
Trata-se do estado puerperal
acomete toda a gestante durante o parto
Perturbação mental transitória
Excitação ou delírio na parturiente
Obs.: não confundir com psicoses puerperais
Podem surgir dias após o parto em mulheres predispostas a certas anormalidades psíquicas, que se
agravam com o puerpério (confusão alucinatória)
Demanda perícia (intensidade do puerpério e o quanto este contribuiu para o comportamento da autora)
Infanticídio – Art. 123
TIPO SUBJETIVO
ATIVO
Somente a mãe pode cometê-lo (crime próprio)
PASSIVO
O infante, recém-nascido (neonato) ou que está nascendo (nascente)
Hipóteses:
1. a mãe e o terceiro realizam dolosamente o núcleo do tipo (matar/coautoria)
2. a mãe mata o nascente ou recém-nascido e é ajudada pelo terceiro (autora – infanticídio/partícipe)
3. o terceiro mata a criança, com a participação da mãe (autor – homicídio/partícipe)
Infanticídio – Art. 123
CONSUMAÇÃO
Se dá com a morte cerebral da vítima
TENTATIVA
Admite-se a modalidade tentada; trata-se de crime plurissubsistente
Ex.: se a mulher toma o próprio filho em seus braços e violentamente começa a agredi-lo, sendo impedida
pela equipe médica, há infanticídio tentado (desde que encontre-se sob a influência do estado puerperal)
Infanticídio – Art. 123
No caso do art. 134, há o abandono ou a exposição da criança – ainda que sob a influência do estado puerperal ou
não – com o fim de ocultar desonra própria.
Se do fato resultar lesão corporal de natureza grave ou morte
Incidirá as penas previstas nos §§1.º e 2.º (delito qualificado pelo resultado)
Já no crime de infanticídio o sujeito ativo visa precisamente à morte do recém-nascido, por meios comissivos ou
omissivos – inclusive pelo abandono, que é absorvido por aquele crime (critério de consunção).
Aborto provocado pela gestante ou com o
seu consentimento
1. Aborto espontâneo
a) Autoaborto Natural
b) Aborto Acidental
2. Aborto provocado
a) Aborto Criminoso
b) Aborto Legal
i. Terapêutico/necessário
ii. Sentimental/Humanitário
c) Aborto Eugênico (eugenésico)
Aborto provocado
Aborto Criminoso
1. Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)
2. Aborto sofrito ou praticado por terceiro sem o consentimento
da gestante (art. 125)
3. Aborto praticado por terceiro com o consentimento da
gestante (art. 126)
Tipo subjetivo:
Somente se pune o aborto como crime doloso – consciência e vontade de produzir a morte do feto
• Dolo direto – quando a vontade do agente é diretamente conduzida à interrupção da gravidez e, de
conseguinte, à provocação da morte do produto da concepção
• Dolo eventual – se o sujeito ativo, embora não queira o resultado morte do feto como fim específico
de sua conduta, o aceita como possível ou provável
Tipo objetivo:
• Pode ser cometido por qualquer meio (crime de forma livre)
Podem ser reunidos em 3 grupos principais:
a) químicos: emprego de fósforo, mercúrio, arsênico, quinina...
b) físicos (mecânicos, térmicos ou elétricos): punção, curetagem...
c) psíquicos: sustos, sugestões, choques morais, provocação de terror...
Sujeitos do crime:
• Ativo: somente a gestante pode cometê-los (crime próprio)
• No autoaborto é necessário que a gestante provoque em si própria (dê causa, produza, realize) a
morte do produto do nascituro
• No aborto consentido, um terceiro, com o consentimento válido da gestante, pratica o fato
Sujeitos do crime:
• Passivo:
• Primário – ovo, embrião ou feto
Autoaborto ou aborto consentido (art. 124)
Consumação:
• Crime material – consumando-se com a morte cerebral do nascituro
Tentativa:
• Admite-se a tentativa – delito plurissubsistente.
Aborto sofrido – provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125)
Tipo objetivo:
• Conduta típica semelhante ao art. 124, porém sem o consentimento da mulher ou mediante
consentimento inválido
• Haverá consentimento inválido (art. 126, parágrafo único)
• Gestante menor de 14
• Alienada ou débil mental
• Se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Tipo subjetivo:
• Prática dolosa – consciente e voluntário, tendente à matar a vida humana intrauterina
Sujeitos:
• Ativo: qualquer pessoa (crime comum)
Tipo objetivo:
• Conduta típica semelhante ao art. 124 e 125
• Exige-se o consentimento da gestante
• O consentimento prestado pode ser revogado pela gestante (até o momento em que não seja mais
possível evitar o aborto)
• Se o consentimento for revogado, o agente responderá pelo crime do art. 125 do CP
• Sancionado de forma menos severa: o terceiro que realiza as manobras abortivas responde pelo art. 126,
enquanto que a gestante responde pelo art. 124
Tipo subjetivo:
• Idem arts. 124 e 125 do CP
Aborto sofrido – provocado por terceiro (arts. 125 e 126)
Haverá agravamento especial de pena aos crimes dos arts. 125 e 126
• quando da manobra abortiva resultar morte ou lesão grave na gestante.
Política legislativa:
• não se pode obrigar uma mulher a levar até o final uma
gravidez que a fará recordar, diária e perenemente, de uma
odiosa violência a que fora submetida
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico: (Vide ADPF 54)
Aborto provocado II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
Aborto Legal - Sentimental/Humanitário precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.
Enfermeira:
• Haverá crime se o aborto for praticado por não médico
• Somente na hipótese de aborto necessário pode se
considerar lícita a interrupção da gravidez efetuada por
não médico
• Incidência da excludente de antijuridicidade (art. 24
do CP – estado de necessidade).
Aborto provocado
Aborto de anencefálico