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PÓS-GRADUAÇÃO

Disciplina: Direito Penal II


Professora: Camila Virissimo R. da Silva
PÓS-GRADUAÇÃO

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a


praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material
para que o faça:
Pena — reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio


resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,
nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena — reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação


resulta morte:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
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§ 3º A pena é duplicada:
I — se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
ou fútil;
II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por
qualquer causa, a capacidade de resistência.

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é


realizada por meio da rede de computadores, de rede
social ou transmitida em tempo real.

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder


ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
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§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta


em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, responde o agente pelo crime descrito no §
2º do art. 129 deste Código.
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§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é


cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou
contra quem não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência, responde o agente pelo
crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste
Código.”

Obs.: Texto com redação integral da Lei n. 13.968, de


26 de dezembro de 2019.
Obs.: Lei 13.819/2019 – política Nacional de Prevenção
da Automutilação e do Suicídio, foi instituída por essa
Lei.
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- No Brasil, a conduta suicida não é criminosa.


- O Direito Penal só autoriza a punir os
comportamentos que transcendem a figura do seu
autor. Não são puníveis as condutas que lesionam ou
expõem a perigo bens jurídicos pertencentes
exclusivamente a quem a praticou.
- O Estado não poderia punir o suicida, pois com sua
morte estaria extinta sua punibilidade, nos termos do
art. 107, inciso l, CP.
- O legislador não tipificou essa conduta por questões
humanitárias. Quem tentou suicidar-se não merece
castigo, mas sim tratamento, amparo e proteção.
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- É crime, no Brasil, o induzimento, a instigação ou


auxílio a suicídio, ou, como prefere a doutrina, a
participação em suicídio. Este delito é mais conhecido
pela nomenclatura “participação em suicídio” porque
pune quem colabora com o suicídio alheio
- O suicídio é ilícito, embora não seja criminoso.
- A destruição da vida humana por seu titular deve ser
voluntária.
- Se alguém elimina sua própria vida
inconscientemente, por manipulação de outra pessoa
(fraude), ou em consequência de violência ou grave
ameaça, será tipificado o crime de homicídio.
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Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar –se(...) ou


prestar-lhe auxílio material para que o faça:

1. Bem Jurídico:

- A vida humana, direito fundamental(art. 5º , caput


CF).

2. Objeto material:

- É o ser humano que suporta a conduta criminosa, isto


é, aquele contra quem se dirige o induzimento, a
instigação ou o auxílio ao suicídio.
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3. Sujeito Ativo e Passivo:

- A participação em suicídio é crime comum.

- Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.

- Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, salvo nas hipóteses


dos §§ 6º e 7º do art. 122 CP.

Obs: a vítima for forçada a suicidar-se ou automutilar-


se, ou não tiver condições de oferecer resistência
alguma (§ 7º), haverá, inequivocamente, homicídio, e
não participação em suicídio.
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3. TIPO OBJETIVO:

• Conceito de suicídio:

- Suicídio é a destruição deliberada da própria vida.


Suicidar significa eliminar de forma voluntária e direta a
própria vida. A própria vítima realiza o ato material.

- É um tipo misto alternativo, o agente pratica uma das


condutas típicas. Podendo praticar duas ou mais
condutas (ex.: induz e auxilia), responderá apenas por
um crime.
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- Induzir: (suscitar, fazer surgir uma ideia inexistente)


inspirar, incutir na vítima a vontade não preconcebida
de suicidar-se. Significa incutir na mente alheia a ideia
do suicídio, até então inexistente.

Ex.: "A" pede ajuda para "B", perguntando-lhe como


solucionar seus problemas financeiros, no que obtém a
seguinte resposta: "Suicide-se e tudo estará resolvido”.

Obs.: O induzimento deve se dirigir a pessoa


determinada.

Ex.: não comete o crime o escritor de um livro que


induz os leitores ao suicídio.
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- Instigar: reforçar ou estimular a vontade já existente


de suicidar-se; animar, estimular. A vontade suicida,
que estava na mente da vítima, é estimulada pelo
agente.
A instigação deve se dirigir a pessoa determinada.
Deve existir um tom de seriedade na conduta do
agente. Se for esse tom de brincadeira, a conduta será
atípica, por ausência de dolo.

Ex.: "A" diz à "B" que, em face de problemas conjugais,


pretende suicidar-se. Este, por sua vez, incentiva
aquele a assim agir.
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Ex.: determinada pessoa está no terraço de um prédio


pensando em se lançar. O agente que esta em via
pública vê a cena e começa a gritar: "pule e acabe logo
com isso". A pessoa, ao escutar, se convence e pula,
tirando a própria vida.

- Auxiliar: ajudar a vítima a suicidar-se. Concorrer


materialmente para a prática do suicídio.
Ex.: empréstimo da arma.
Ex.: Consciente de que "A" deseja suicidar-se, e
querendo que isso se ocorra, "B" lhe empresta uma
arma de fogo municiada.
Obs.: Contudo, se o agente cooperar diretamente para
matar responderá por homicídio.
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Obs.: O auxilio é uma atividade acessória, secundária.


No suicídio, a própria vítima voluntariamente elimina a
sua vida.
Ex.: aquele que empurra a cadeira para que a vítima se
enforque não está auxiliando, mas sim executando um
ato de matar.

Obs.: O auxilio deve ser eficaz, deve realmente


contribuir para o suicídio.
Ex.:"A" empresta a "B" um revólver, mas ela se mata
fazendo uso de veneno, àquele não será imputado o
crime previsto no art. 122 CP.
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Obs.: o induzimento e a instigação são espécies de


“participação moral” em que o sujeito ativo age sobre a
vontade do autor, quer provocando para que surja nele
a vontade de cometer o crime (induzimento), quer
estimulando a ideia existente (instigação), mas, de
qualquer modo, influindo moralmente para a prática do
crime, no caso, na prática de um ato imoral e ilícito.

Obs.: O auxílio pode ocorrer desde a fase da


preparação até a fase executória do crime, ou seja,
pode ocorrer antes ou durante o suicídio ou a
automutilação, desde que não haja intervenção nos
atos executórios.
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Art. 122. Induzir ou instigar alguém(...)a praticar


automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que
o faça.

- Automutilação: não é suicida. É um ato utoinfligido


que causa dor ou dano superficial, mas não pretende
causar a morte.

Ex,: cortar, perfurar a pele com objetos pontiagudo,


faca, navalha, agulha, queimar a pele.
Obs.: pune-se o agente que induz ou instiga a vítima a
praticar automutilação ou lhe prestar auxilio material
para que o faça.
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4. Tipo Subjetivo:

- Dolo (direto ou eventual).


- Não há previsão de elemento subjetivo especial.
- Não há previsão de modalidade culposa.

Exemplo de dolo eventual:


o pai que expulsa de casa a “filha desonrada”, havendo
fortes razões para acreditar que ela se suicidará;
o marido que sevicia(castigo corporal, crueldade) a
esposa, conhecendo a intenção desta de vir a suicidar-
se, reitera as agressões.
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5. Consumação e Tentativa:

-Consuma-se a participação em suicídio com a morte


da vítima e a participação na automutilação com a sua
execução material pela própria vítima. Consuma-se a
ação criminosa quando o tipo penal está inteiramente
realizado, isto é, quando o fato concreto se integra no
tipo abstrato da lei penal.

Para que o crime se consuma é necessário a prática de


uma das condutas típicas, independentemente de a
vítima vir cometer o suicídio ou a automutilação.
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Obs.: Sem a eliminação da vida da vítima não se pode


falar em suicídio consumado, mesmo que a ação
produza lesão corporal grave, posto que a ela o
preceito primário não se refere.

Obs.: sem a efetiva mutilação do próprio corpo pela


vítima, seja decepando seus membros, superiores ou
inferiores, inteiros ou parte deles, seja deformando seu
rosto ou o próprio corpo tampouco se pode falar em
automutilação consumada.
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Obs.: é possível a tentativa na hipótese do art. 122


caput CP;
Na hipótese do §§1º e 2º não é permitido a tentativa.
A regra geral é que se puna a tentativa com a mesma
pena do crime consumado, reduzida de um a dois
terços.

Ex.: a tentativa aparece evidente na carta


interceptada.(tanto no suicídio e na automutilação)
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• CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

Crime comum (praticado por qualquer pessoa


independentemente de condição ou qualidade
especial); formal, (nova previsão do caput,
determinada pela Lei 13.968/19); material, (somente se
consuma com a ocorrência do resultado), simples
(protege somente um bem jurídico: a vida humana);
crime de dano, (elemento subjetivo da conduta visa
ofender o bem jurídico tutelado); crime de conteúdo
variado (o agente realize as três condutas, ainda assim
cometerá crime único); instantâneo; unissubjetivo;
plurissubsistente.
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5. Forma Majorada:

A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo


egoístico, bem como se a vítima é menor ou tem
diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.
- Motivo egoístico: o agente tem em vista alguma
vantagem pessoal. O agente almeja alcançar algum
proveito.
Ex.: recebimento de herança ou ver-se livre do marido
da mulher amada.
Ex.: O sujeito estimula um colega de trabalho que
enfrenta problemas depressivos a suicidar-se, e assim
ficar com seu cargo na empresa.
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- Motivo fútil = quando o motivo apresenta real


desproporção entre o delito e sua causa moral. É o
motivo insignificante, banal, desproporcional à reação
criminosa.

- Motivo torpe = é o motivo que atinge mais


profundamente o sentimento ético-social da
coletividade, é o motivo repugnante, abjeto, vil,
indigno, que repugna à consciência média. O motivo
não pode ser ao mesmo tempo torpe e fútil.
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- Vítima for menor: o menor é o que tem entre 14 a 18


anos.

Obs.: o sujeito ativo responderá:


* por homicídio quando a vítima não for maior de
quatorze anos;
* por participação em suicídio, com pena duplicada,
quando a vítima tiver entre quatorze e dezoito anos (§
3º);
* por participação em suicídio ou automutilação com a
pena normal, quando a vítima tiver dezoito anos
completados.
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Obs.: o menor, para ser vítima de suicídio ou


automutilação, precisa dispor de certa capacidade de
discernimento e de ação. Nesse crime, a vítima se
autoexecuta, é indispensável que tenha essa
capacidade de entender e deliberar, bem como
capacidade de se autoexecutar, caso contrário,
estaremos diante de um homicídio praticado por meio
de autoria mediata, § 7º deste artigo.
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- Capacidade de resistência diminuída: a vítima não possui


plena capacidade de autodeterminação. Essa menor
resistência pode ser provocada por enfermidade física ou
mental, e também por efeitos do álcool ou de drogas.
Ex.: ofendido relativamente embriagado ou com
enfermidade.

Obs.: Se o bêbado (ébrio) estiver completamente


inconsciente, o crime será de homicídio.
Obs.: O agente responderá por homicídio se a vítima for
forçada, por meio de violência ou grave ameaça, a suicidar-
se, ou se não tiver nenhuma capacidade de resistência,
como no caso de certos doentes mentais e crianças.
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Além das majorantes do § 3º ,outras foram


introduzidas pela Lei n. 13.968/19:

a) se a conduta é realizada por meio da rede de


computadores, de rede social ou transmitida em tempo
real (aumenta-se a pena até o dobro) – art. 122, § 4º;

b) se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de


rede virtual (eleva-se a pena em metade) – art. 122, §
5º.
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• Auxílio por omissão:

- Polêmicas: possibilidade de ser o auxílio prestado por


omissão.
- Entendimento majoritário é no sentido positivo,
porém, apenas nas hipóteses em que o agente tem o
dever jurídico de evitar o resultado (suicídio) e,
intencionalmente, não o faz.
- O art. 13, § 2º CP, que adotou a teoria da equivalência
dos antecedentes causais e estabelece que responde
pelo resultado quem tem o dever jurídico de evitá-lo e,
podendo fazê-lo, se omite.
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Ex.: um bombeiro é chamado para tentar salvar um


homem que está no alto de um prédio bradando que
irá pular e simplesmente vai embora sem sequer
procurar contato com o suicida, responde pelo crime
do art. 122 CP.

Ex.: o diretor da prisão deliberadamente não impede


que o sentenciado morra pela greve de fome;

Ex.: o enfermeiro que, percebendo o desespero do


doente e seu propósito de suicídio, não lhe toma a
arma ofensiva de que está munido e com que vem,
realmente, a matar-se.
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Obs.: Não há crime em forçar alguém que está em


greve de fome, correndo risco de vida, a se alimentar;
ou em efetuar transfusão de sangue em pessoa que se
recusa a receber sangue alheio; ou em amarrar alguém
para que não tome um veneno.

Ação penal:
- É Pública incondicionada, de competência do Tribunal
do Júri.
Obs.: De notar que, no caso de induzimento, instigação
ou auxílio material à automutilação que resulta morte,
a figura é preterdolosa e, portanto, não é de
competência do Tribunal do Júri.
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Obs.: Roleta russa: a arma de fogo é municiada com


um único projétil, e deve ser acionado o gatilho pelos
participantes cada um em sua vez, rolando o tambor
que estava vazio, sendo que o acionamento é revezado
pelos participantes. Os sobreviventes responderão pelo
crime do art. 122 CP.
Ressalte-se que se apenas um dos agentes acionar o
gatilho na direção do outro, deverá responder por
homicídio consumado ou tentado (dolo eventual).
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Obs.: Duelo à americana: existem duas armas de fogo,


uma municiada e outra desmuniciada, e os
participantes devem escolher uma delas para
posteriormente apertarem o gatilho contra eles
mesmos. Cada duelista atira na sua própria cabeça. O
sobrevivente responde pelo art. 122 CP.
- Nos duelos vistos nos filmes de faroeste, em que um
duelista atira no outro, haverá homicídio.
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- Pacto de morte (suicídio a dois ou ambicídio):


Ex.: A e B acertam de se matar mediante respiração de
gás carbônico em sala fechada. Hipóteses:

I. ‘A’ abre a torneira de gás. ‘A’ e ‘B’ sobrevivem: ‘A’


responde por tentativa de homicídio, pois praticou o
ato executório de matar. ‘B’ responderá pelo art. 122,
desde que resulte em ‘A’ lesão corporal de natureza
grave.

II. ‘A’ abre a torneira de gás. ‘A’ morre e ‘B’ sobrevive:


‘B’ responderá pelo art. 122.
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III. ‘A’ abre a torneira de gás. ‘A’ sobrevive e ‘B’ morre:


A responde por homicídio consumado, pois praticou o
ato executório de matar.

IV. ‘A’ e ‘B’ abrem a torneira de gás: responderão por


homicídio ou tentativa de homicídio, dependendo do
resultado, tendo em vista que praticaram ato
executório de matar.

V. Um terceiro abre a torneira de gás: o terceiro


responderá por homicídio ou tentativa de homicídio,
dependendo do resultado, tendo em vista que praticou
ato executório de matar.

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