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1.1) Introdução
Já o objeto material é a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo agente, que a induz,
instiga ou auxilia materialmente ao suicídio.
Para Bitencourt, a morte e as lesões corporais não se tratam de condições objetivas de punibilidade
do crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Como a morte e as lesões integram a definição legal do crime de induzimento, instigação e auxílio
ao suicídio, as mesmas devem se apresentar abrangidas pelo dolo do agente.
São a morte e as lesões corporais a própria essência da instigação, do induzimento e da
participação, cuidando-se, portanto, do resultado naturalístico do crime.
Para Nelson Hungria e Rogério Greco, porém, a morte e as lesões graves são condições objetivas
de punibilidade.
Pode ser qualquer pessoa, excluindo-se aquele que suicida ou tenta se matar, que se cuida da
própria vítima.
Não se exige qualquer característica especial, tratando-se, pois de crime comum.
É necessário, porém, que o agente seja capaz de induzir, instigar ou auxiliar a colocação em prática
da vontade de alguém de suicidar-se.
1.7.1) Alguém
O crime se trata de um tipo penal de conteúdo variado ou de ação múltipla, significando que, mesmo
que o agente pratique, cumulativamente, todas as condutas descritas nos verbos nucleares (instigar,
induzir e auxiliar) em relação a mesma vítima, responderá por um único crime.
1.7.3) Induzimento
Induzir significa suscitar o surgimento de uma ideia; fazer nascer no pensamento de alguém a ideia
suicida até então inexistente.
Por meio da indução, agente anula a vontade da vítima, que, ao final, acaba por suicidar-se.
A intervenção do agente que induz é que decide o resultado final, sendo pois sua conduta mais
censurável do que a daquele que simplesmente instiga.
No induzimento a conduta é comissiva.
1.7.4) Instigação
1.7.5) Auxílio
Auxiliar significa prestar contribuição material ao sujeito passivo, que pode ser exteriorizada por meio
de um comportamento, de um auxílio físico.
Tal ocorre quando, por exemplo, o agente empresta a vítima a corda, com a qual esta irá se
enforcar.
Rogério Greco entende que se o agente empresta a corda, mas a vítima suicida-se com outro meio
(p. ex.: revólver), não haverá o crime.
Para Greco, o auxílio deve contribuir decisivamente para a prática do suicídio.
No auxílio, a vítima também já apresenta o desejo de suicidar-se.
O auxílio pode ocorre por meio de conduta comissiva ou omissiva.
Segundo a doutrina majoritária, admite-se que a prestação de auxílio também ocorra sob a forma de
omissão, quando o sujeito ativo tem o dever jurídico de evitar o resultado morte, encontrando-se,
nos termos do artigo 13, § 2º, do CP, na condição de garantidor.
Tal se verifica, por exemplo, quando o carcereiro, propositalmente, deixa o preso em poder do cinto,
a fim de facilitar-lhe o enforcamento, tendo conhecimento da intenção suicida.
José Frederico Marques, em posição minoritária, entende não haver auxílio por omissão, visto que,
para o mesmo, prestar auxílio é sempre uma conduta comissiva.
Qualquer que seja a forma de “participação”, moral ou material, é necessária para a configuração do
crime a presença de dois requisitos:
a) a eficácia causal (o induzimento, a instigação ou auxílio tenham contribuído de forma decisiva
para o suicídio); e
b) a consciência de contribuir para a ação voluntária de outrem de suicidar-se.
Assim, é insuficiente apenas a exteriorização da vontade de contribuir. Não haverá contribuição
relevante se o suicídio não for, pelo menos, tentado.
O elemento subjetivo do crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio é o dolo, que pode
ser direto ou eventual.
Havendo dolo direto o agente atua com consciência e vontade de provocar a morte da vítima através
do suicídio (resultado).
No caso do dolo eventual a sujeito ativo age, no mínimo, com consciência e vontade de assumir o
risco de levar a vítima ao suicídio (resultado).
O agente, no dolo eventual, representa a possibilidade de levar a vítima ao suicídio e aceita a sua
ocorrência, assumindo o risco de produzí-lo.
Tem-se como exemplos de dolo eventual:
a) o pai expulsa de casa a filha desonrada, havendo fortes indicativos de que ela irá suicidar-se;
b) O marido que agride a esposa, conhecendo a intenção suicida desta
O dolo deve, ainda, abranger a ação, o resultado e o nexo causal, o que significa que o agente deve
ter
a) vontade e consciência do fato; e
b) vontade de alcançar o resultado morte, não mediante ação própria, mas pelo autoextermínio da
vítima.
No crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio, não há previsão da figura culposa.
Assim, se o agente atua culposamente, participando em suicídio, sua conduta será atípica.
Para tais autores, a consumação do delito de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio ocorre
quando do comportamento humano resulta a morte do sujeito passivo.
Assim, o crime se consuma quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, quando o fato
concreto se subsume ao tipo abstrato da lei penal.
Desta forma, sem a eliminação da vida da vítima, não se pode falar em suicídio consumado.
Porém, o crime se trata de uma figura complexa, a qual prevê, no próprio tipo, a forma tentada.
Esta forma tentada pode ser chamada de tentativa qualificada, pois o agente é punido se de seu
comportamento resultar lesão de natureza grave (artigo 129, §§ 1º e 2º, do CP).
Somente a tentativa cruenta, com lesão grave, é punível.
Não se pune a tentativa branca.
Assim, a simples conduta de induzir, instigar ou prestar auxílio para que alguém se suicide, sem que
haja o advento do resultado morte ou lesões graves, não constitui o delito.
A produção de lesões corporais graves não consuma o tipo penal descrito no preceito primário, visto
que este não se refere a tal resultado, mas somente ao suicídio.
As lesões corporais de natureza grave, como caracterizadoras da tentativa perfeita, somente
aparecem no preceito secundário.
Segundo tais autores, o crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio se consuma quando
ocorre, primeiramente, a morte da vítima, ou, ainda, quando esta, mesmo sobrevivendo, sofre lesões
corporais de natureza grave.
Assim, o crime se consuma com a morte da vítima se esta sofre lesões corporais.
Se a vítima, induzida, instigada ou auxiliada, tentar contra a própria vida e não produzir qualquer
dano à sua saúde ou integridade física ou sofrer apenas lesão leve, o agente não será
responsabilizado pela tentativa de suicídio.
Deste modo, a forma tentada, nos termos do artigo 14, parágrafo único, do CP, não é admitida pelos
referidos autores.
O delito de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio é crime comum; simples; de forma livre;
doloso; comissivo, podendo ser, excepcionalmente omissivo (no auxílio e na omissão imprópria -
garantidor); de dano; material; instantâneo de efeitos permanentes; não transeunte; monossubjetivo;
plurissubisistente; e de conteúdo variado.
Conforme o disposto no parágrafo único do artigo 122, do CP, a pena cominada ao crime de
induzimento, instigação e auxílio ao suicídio será duplicada:
a) se o delito for praticado por motivo egoístico;
b) se a vítima for menor; ou
c) se a vítima tiver capacidade de resistência diminuída.
O dispositivo consagra, assim, três, causas especiais de aumento de pena, que são consideradas,
conforme o critério trifásico (artigo 68 do CP), na terceira etapa do cálculo da sanção.
Não se tratam, pois, de qualificadoras.
A ação tipificada será mais desvaliosa em razão do motivo que a impulsiona ou em virtude das
condições pessoais da vítima.
Entende-se como motivo egoístico o motivo mesquinho, torpe, repugnante, em que há uma
vantagem pessoal para o agente, a qual constitui elemento subjetivo do tipo.
A maior punição decorre da insensibilidade revelada pelo sujeito ativo.
Ex.: o sujeito ativo induz o irmão ao suicídio para receber sozinho a herança.
Ao mencionar vítima menor, a lei penal se refere aqui à pessoa menor de 18 anos e maior 14 anos.
O menor, para que possa ser vítima do crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio, deve
dispor de certa capacidade de discernimento.
Caso a vítima seja menor de 14 anos, haverá uma presunção relativa no sentido de sua
incapacidade de discernimento, tipificando eventual instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio o
crime de homicídio.
1.11.3) Vítima que tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência
Há o pacto de morte ou o suicídio conjunto quando duas pessoas combinam, por qualquer razão, o
duplo suicídio (p. ex.: casal de namorados contrariados pelo fato de as famílias não permitirem o
relacionamento).
Se o sobrevivente tiver praticado o ato executório, responderá por homicídio (ex.: o namorado abriu
a válvula do botijão de gás no quarto fechado).
Se o sobrevivente somente tiver induzido, instigado ou auxiliado o seu parceiro, responderá por
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Se nenhum morrer, aquele que realizou a atividade executória contra o parceiro responderá por
tentativa de homicídio, e aquele que somente contribuiu responderá pelo induzimento, instigação e
auxílio ao suicídio, se houver ao menos lesão corporal, na forma tentada, para Bitencourt, ou
consumada, para Greco.
Se nenhum morrer e ambos realizaram atividades executórias, responderão por tentativa de
homicídio.
O sobrevivente responderá pelo induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, pois, com tal prática,
no mínimo, induziu a vítima ao suicídio.
Se, porém, algum dos contendores for coagido a participar da roleta russa, sobrevivendo o coautor,
este responderá por homicídio doloso.
A transfusão de sangue determinada pelo médico, quando não houver outra forma de salvar o
paciente, está amparada pelo disposto no art. 146, § 3º do CP, não configurando constrangimento
ilegal. Eventual violação da liberdade de consciência ou da liberdade religiosa cede ante o bem
jurídico vida, conforme o juízo de proporcionalidade.
O médico, no caso de greve de fome de prisioneiros, tem o dever de velar pela saúde e pelo vida
dos grevistas. Em determinado momento, se não houver a intervenção, com a alimentação, os
grevistas sofrerão lesões irreversíveis. Nesta situação, a intervenção do médico também está
amparada pelo art. 146, § 3º, do CP. Além disso, o médico está na posição de garantidor (art. 13, §
2º).