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Restaurativa
Aula 4 - Da Vitimologia
INTRODUÇÃO
Nesta aula, será tratado o comportamento da vítima em relação ao crime sofrido, pois há casos em que a participação
da vítima é fundamental para a existência do crime.
Diante de um crime, a análise do comportamento da vítima é muito importante para que a aplicação da pena seja justa.
Além da abordagem acerca do comportamento da vítima, teremos uma noção sobre o conceito de Vitimologia, como
ciência que estuda a vítima. Faremos uma breve análise sobre a influência da vítima nos crimes contidos na Parte
Especial do Código Penal.
OBJETIVOS
Reconhecer o conceito de Vitimologia dentro da Criminologia, analisando o comportamento das vítimas em relação ao
delito.
Compreender a classificação das vítimas, bem como sua importância no momento em que o magistrado analisa a
aplicação da pena ao criminoso.
Compreender que a vítima possui influência em alguns crimes previstos no Código Penal, tais como homicídio, aborto
consensual e rixa.
A Vitimologia
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, vieram à tona as atrocidades cometidas sob o comando de Adolf Hitler que ordenou o
assassinato de milhares de judeus.
Esta triste situação serviu de base para o nascimento da Vitimologia. A partir daí, o estudo da vítima começa a ganhar relevância
no âmbito do Direito Penal.
No ano de 1947
Em uma conferência realizada na Universidade de Bucareste (Romênia), pelo advogado israelita Benjamin Mendelsohn, com o
tema “Um horizonte novo na Ciência Biopsicossocial: a Vitimologia”, passou-se a estudar o conceito de vítima, sua contribuição
para a ocorrência delituosa, as formas de prevenção, os tipos de vítimas entre outros.
Dessa forma, a Vitimologia estuda a relação da vítima com o delinquente e o sistema, também chamada de dupla
penal, que são circunstâncias que demonstram o papel da vítima, ou seja, a Vitimologia está focada na vítima do
evento típico e também no contexto do fato delituoso.
A VÍTIMA
O Código Penal e o Código de Processo Penal em suas tipificações pouco utilizam a terminologia vítima, empregando
os termos ofendido e lesado na maioria de seus artigos.
Utiliza-se a expressão:
O que vemos nas nossas legislações é que o Estado se preocupa muito com a pessoa do ofensor no intuito de puni-lo,
mas deixa a vítima desamparada, muitas vezes, com danos não só físico, mas também psíquico, o que agrava ainda
mais sua situação, que se encontra fragilizada perante o fato delituoso.
Na Constituição da República, encontramos diversos direitos dispensados para aqueles que praticaram crimes, mas,
em relação às vítimas desses crimes, elas não recebem do Estado o amparo necessário.
A lei disporá sobre as hipóteses e condições em que o Poder Público dará assistência aos
herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da
responsabilidade civil do autor do ilícito.” (grifado).
A busca da proteção da vítima criminal no âmbito de Direito Constitucional Fundamental se reveste da maior
importância no plano da atual política criminal e na proteção dos direitos humanos.
O interesse pelo comportamento da vítima, em relação a sua influência na ocorrência do crime, passou a importância
para o Direito Penal com o surgimento da Lei nº 7.209 de 11.07.1984, alterando o artigo 59 do Código Penal:
Dessa forma, pela leitura do artigo 59, do Código Penal, extrai-se que o comportamento da vítima deve ser considerado
no momento em que o magistrado for fixar a pena.
Também no CP, pelo artigo 65, inciso III, alínea "c" estabelece como causa para diminuição da pena em razão da
provocação de ato injusto da vítima:
Art. 65
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a
influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima." (grifado)
É aquela que nada fez ou nada provocou para desencadear a situação criminal. É uma
pessoa totalmente desconhecida da ação do criminoso, onde não participa nem colabora
para a execução do delito.
Ex.: incêndio.
Quando há um impulso involuntário para que o delito se consuma, porém essa vítima possui
uma parcela de culpa. O sujeito, por certo grau de culpa ou por meio de um ato pouco
reflexivo, causa sua própria vitimização.
Ex.: Mulher que provoca um aborto por meios impróprios pagando com sua vida.
Provocadora: aquela que por sua própria conduta incita o infrator a cometer a infração;
Infratora: ao cometer uma infração, o agressor torna-se vítima. Ex.: legítima defesa;
Simuladora: usa uma premeditação irresponsável que induz um indivíduo a responder por
um crime que sequer fez.
Para análise acerca da aplicação da pena ao infrator, partindo da classificação das vítimas em três grupos, em que são
diferenciadas conforme graus de influência de seus comportamentos para a ocorrência do crime:
Vítimas que
contribuíram Existe uma culpabilidade recíproca, pela qual a pena deve
na ação ser menor para o agente do delito (vítima provocadora).
nociva
Vítimas que
cometem
E o não culpado que deve ser excluído de toda pena.
por si a
ação nociva
ondemand_videoVídeo.
Art. 121
1º§ Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio
qualificado. (grifado)
No parágrafo 1ª, que é considerado homicídio privilegiado, temos um exemplo de como o comportamento de vítima
pode contribuir diretamente para ocorrência do crime.
Exemplo: Ao se deparar com o estuprador de sua filha, um pai sobre forte emoção, diante da provocação do criminoso
ao zombar do triste episódio, acaba cometendo crime ao matá-lo.
O legislador entende que, neste caso, o comportamento da vítima foi determinante para que o crime ocorresse, pois a
conduta inadequada da vítima perante ao agente contribuiu para fato delituoso, pois foi considerada provocante.
Por esta razão, está prevista uma forma privilegiada na pena do autor do delito, ou seja, o agente responderá pelo crime
de homicídio na forma privilegiada.
Também integra o rol de crimes que contam com a contribuição da vítima, o crime de aborto consensual, previsto no
artigo 126 do Código Penal:
Art. 126
Neste crime, a vítima por livre e espontânea vontade vai atrás de alguma clínica ou de alguém que utilize métodos
abortivos. Não havendo indução ou procura por parte de ninguém, apenas a realização do que a vítima tanto desejava.
Neste caso, não se pode aplicar a pena igual a quem induz ou procura a vítima a praticar o aborto, pois há uma
diferença crucial nesses casos, a vítima provocou e contribuiu de forma absoluta para a ocorrência do crime.
Aqui que a vítima é tão culpada quanto o criminoso, pois quem incentivou o crime foi a própria vítima ao procurar
alguém que realizasse os procedimentos abortivos. Ela se torna tão culpada quanto o criminoso.
Outro exemplo de contribuição da vítima é no crime de rixa, previsto no artigo 137 do Código Penal:
Art. 137
Parágrafo único — Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a
pena de detenção, de 6 meses a 2 anos.
A principal característica, neste crime, é justamente a indefinição das pessoas participantes do delito, pois assim,
impede determinar quem é o autor e quem é a vítima, com isso todos os envolvidos são considerados culpados.
É o crime onde a vítima é tão culpada quanto o agente, pois ambos estão praticando o delito da mesma maneira.
Nesse crime, a vítima é tão culpada quanto o agente, pois ambos estão praticando o delito da mesma maneira, ou seja,
agressão é mútua e, dessa forma, torna-se impossível identificar quem é o culpado, portanto, ambos cometem
agressão.
Por fim, há muitos casos de crimes sexuais em que o criminoso, em sua defesa, alega que a vítima o provocou. O mais
polêmico é o estupro previsto no artigo 213, do Código Penal, que dispõe o seguinte:
Art. 213
"Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele
se pratique outro ato libidinoso:
Nos casos de estupro, a vítima não contribui de forma alguma para que ocorra o crime, sendo totalmente inocente,
denominando-se como vítima acidental, sem responsabilidade e muito menos culpa por se tornar vítima desse crime.
O agente, na tentativa de justificar seu ato reprovável e totalmente injustificável, usa, muitas vezes, a desculpa que as
roupas curtas são provocadoras na tentativa de que a culpa do crime ocorrido também possa cair na vítima.
É de consenso geral, doutrinário e jurisprudencial, que este comportamento passivo da vítima, de culpa nada tem, nem
ao menos contribui para o ato aferido pelo estuprador.
ATIVIDADE
A fim de contextualizar a matéria, leia o artigo e reflita:
MARINHO, Juliana Costa Tavares. A importância da análise do comportamento da vítima no direito penal. Disponível
em: https://goo.gl/dTMEzn (glossário). Acesso em 30 out. 2017
Resposta Correta
EXERCÍCIOS
Questão 1: VUNESP 2013 - Assinale a alternativa correta a respeito da Vitimologia.
A Vitimologia estuda o papel da vítima no episódio danoso, o modo pelo qual participa, bem como sua contribuição na
ocorrência do delito.
A Vitimologia nasceu como ramo das Ciências Jurídicas, por conta das observações feitas pelos estudiosos a respeito do
comportamento da vítima perante o ordenamento jurídico em vigor.
A Vitimologia surgiu, como ramo da Criminologia, em 1876, por meio da obra O homem delinquente”de Cesare Lombroso.
Justificativa
Questão 2: VUNESP 2013 – Quem é considerado o pai da Vitimologia?
Cesare Lombroso
Raffaele Garofalo
Émile Durkheim
Benjamin Mendelsohn
Cesare Bonesana
Justificativa
Questão 3: VUNESP 2013 - O estudo da Vitimologia atual, baseada numa tendência política criminal eficiente, privilegia:
Uma punição exemplar para o delinquente, de forma que se cumpra a função retributiva da pena.
Justificativa
Glossário