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2022/2023
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 2
Conclusão ....................................................................................................................... 12
Referências ..................................................................................................................... 14
Legislação ....................................................................................................................... 15
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Introdução
Passou-se por explicar como o papel da vítima mudou ao longo do tempo para se
chegar ao Estatuto da Vítima. Quanto a este Estatuto referiu-se os princípios e direitos a
ele inerente.
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Definição de violência doméstica
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Segundo a APAV, a violência doméstica funciona como um sistema circular,
chamado de Ciclo da Violência Doméstica e que se apresenta em três fases, regra geral.
A primeira fase é o aumento da tensão, onde o agressor cria na vítima uma sensação de
perigo iminente, com as tensões que são acumuladas no quotidiano através de injúrias e
ameaças. Na fase número dois, chamada de ataque violento, o agressor maltrata a vítima
física e psicologicamente, com tendência a serem maltratos cada vez mais frequentes e
intensos. Por fim, a fase da lua de mel, onde o agressor envolve a vítima em atenção e
carinho, desculpabiliza-se pelo que ocorreu e promete que irá mudar. “Este ciclo
caracteriza-se pela sua continuidade no tempo, isto é, pela sua repetição sucessiva ao
longo de meses ou anos, podendo ser cada vez menores as fases da tensão e de
apaziguamento e cada vez mais intensa a fase do ataque violento. Usualmente este padrão
de interação termina onde antes começou. Em situações limite, o culminar destes
episódios poderá ser o homicídio.” (APAV)
Inicialmente havia a ideia de que a resposta para certo crime devia ser
proporcional ao crime cometido. Fala-se aqui na Lei de Talião (“olho por olho, dente por
dente”). A considerada “idade do ouro da vítima” uma vez que esta tinha todo o
protagonismo na justiça penal e poderia então recuperar os danos sofridos por meio de
vingança privada, sem intervenção do Estado.
Posteriormente, com a Lei das XII Tábuas substituiu-se a vingança privada por
uma recuperação pecuniária do lesado pelo crime de que foi vítima.
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A partir do Iluminismo e das Escolas Positivistas surge o respeito pelo agente do
crime e pelos seus direitos, fazendo com que o Estado e o acusado se tornassem os
protagonistas do processo penal.
O interesse pela vítima ressurgiu após a Segunda Guerra Mundial, com os horrores
do holocausto procurou-se, a nível internacional e já na segunda metade do século XX,
encontrar “maior sentido de justiça para os direitos fundamentais e para a proteção de
todos aqueles que sofrem as consequências de atos criminosos” (cit.)
A Vitimologia como ciência que estuda a vítima, associada a este fator provocou
o ressurgimento da preocupação com as vítimas de crime. Também a descoberta da
percentagem de cifras negras através de inquéritos de vitimação e a ideia de que o Estado
tem de ser promotor de mecanismos indemnizatórios permitiu o maior contato das vítimas
de crime com o sistema de justiça.
Em 2015, a Lei n.º 130/2015 de 4 de setembro veio consagrar pela primeira vez o
“Estatuto da Vítima” para todas as vítimas de crimes no direito interno português. A Lei
n.º 130/2015, de 4 de setembro alterou o CPP, nomeadamente através do aditamento do
artigo 67.º-A que passa a definir “vítima”, e que também aprova o novo “Estatuto da
Vítima”. Esta lei transpôs para a ordem jurídica interna a Diretiva 2012/29/UE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro de 2012 e contém um conjunto de
medidas que visam assegurar a proteção e a promoção dos direitos das vítimas de crime.
Em primeiro lugar, importa referir que o Estatuto da Vítima não gerou uma
mudança estrutural nem uma alteração qualitativa da posição da vítima no processo penal
português, mas antes uma mudança de perspetiva.
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O primeiro princípio consagrado no Estatuto da Vítima é o Princípio da igualdade
(de oportunidades) e, segundo Pinto (2001) citado por Santos e Cerqueira (2017),
encontra-se decalcado do artigo 5º da Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro (Regime
jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica e à proteção e à assistência às suas
vítimas), com exceção da utilização de “saúde psíquica” em vez de “saúde mental” da
vítima para ser assim, mais abrangente.
O que este primeiro princípio implica é, por parte do sistema de justiça e das
instâncias formais de controlo, um tratamento sem discriminação para com as vítimas,
seja pela ascendência, nacionalidade, condição social, sexo, etnia, raça, língua, idade,
religião, deficiência, convicções políticas ou ideológicas, orientação sexual, cultura e
nível educacional da vítima.
O direito à proteção (integridade física), respeito pela sua vida privada (sigilo de
informação) e acesso equitativo aos cuidados de saúde é também explanado no Estatuto
da Vítima. No art. 6.º do Estatuto é consagrado o princípio da confidencialidade, sendo
uma cópia do art. 8.º da Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro e que estipula que os serviços
de apoio à vítima asseguram o respeito pela sua vida privada.
“O Estatuto consagra, nos artigos 15º a 25º e 27º, medidas concretas para proteção
física das vítimas de crime, como a garantia da sua segurança em caso de ameaça séria de
represálias e situações de revitimização ou indícios fortes de que a sua privacidade possa
ser perturbada. Tal proteção física também é assegurada aos seus familiares – artigo 67º-
A, n.º 1, al. c), do CPP.” (Santos e Cerqueira, 2017)
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Em fase de inquérito, o juiz ou o Ministério Público pode determinar que seja
prestado apoio psicossocial à vítima desde que seja respeitada a autonomia da sua
vontade.
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incapacidade temporária e absoluta para o trabalho de, pelo menos, trinta dias, ou a morte;
o facto tenha provocado uma perturbação considerável ao nível da qualidade de vida da
vítima ou, no caso de morte, do requerente; e não tenha sido obtida efetiva reparação do
dano em execução de sentença condenatória relativa a pedido deduzido nos termos dos
artigos 71º a 84º do Código de Processo Penal, ou, se for razoavelmente de prever que o
delinquente e responsáveis civis não venham a reparar o dano, sem que seja possível obter
de outra fonte uma reparação efetiva e suficiente.” (Santos e Cerqueira, 2017)
Neste diploma, está previsto uma norma excecional para as vítimas de violência
doméstica, no que diz respeito ao adiantamento da indemnização pelo Estado apenas com
os seguintes requisitos: estar em causa um crime de violência doméstica praticado em
território nacional, previsto no artigo 152º, n.º1, do Código Penal e a vítima incorrer em
situação de grave carência económica em consequência do mesmo.
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O direito a assistência gratuita é assegurado à vítima, logo no momento de
apresentação de denúncia e ainda, o direito à tradução da confirmação da denúncia por
escrito.
A assistência gratuita é assegurada pelo Estatuto nos casos das vítimas que
preencham os requisitos da Lei n.º 34/2004, de 29 de julho, para beneficiar de apoio
judiciário, para terem acesso a consulta jurídica e o subsequente apoio judiciário e esta
medida encontra-se prevista no artigo 13º do Estatuto. De igual forma, no artigo 14º do
Estatuto da Vítima prevê-se o reembolso das despesas efetuadas pela vítima em resultado
da sua intervenção no processo penal, pelo arguido condenado, em função da posição
processual que ocupe no processo.
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2011/99/EU do Parlamento Europeu e do Conselho, que estabelece medidas europeias de
proteção, permite assegurar a proteção das vítimas de crime no espaço da União Europeia
de 13 de dezembro de 2011, e a Diretiva 2012/29/UE do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 25 de outubro de 2012, referida anteriormente.
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“No seguimento da denúncia das forças de segurança os superiores hierárquicos
elaboram Despacho com medidas a adotar para proteção da vítima. As medidas a adotar
podem ser as seguintes:
f) Encaminhar a vítima para uma estrutura de apoio que diligencie no sentido dela
ser acolhida numa casa abrigo;
Em casos mais complexos podem ser aplicados planos de segurança. Estes planos
consistem num conjunto de orientações e estratégias que visam a promoção da segurança
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de determinadas vítimas de violência e das suas crianças, devido à sua especial
vulnerabilidade e de acordo com a avaliação de risco e são aplicados pelas polícias,
Nos casos de crime em flagrante delito, por crime de violência doméstica, os OPC
procedem à detenção do suspeito, constituindo-o arguido para ser apresentado a audiência
de julgamento sob a forma sumária ou a primeiro interrogatório judicial para aplicação
de medida de coação ou de garantia patrimonial. No sentido de reforçar a proteção
imediata das vítimas, o legislador preceitua que para além dos casos de flagrante delito
previsto no n.º 1 do artigo 257.º do Código de Processo Penal, a detenção fora de flagrante
delito pelo crime de violência doméstica pode ser efetuada por mandado do juiz ou do
Ministério Público, se houver perigo de continuação da atividade criminosa ou se tal se
mostrar imprescindível à proteção da vítima.
Conclusão
Para vítima que continua a não ter poder verdadeiro de conformação processual,
passa a existir uma série de princípios e direitos importantes como o direito de ser ouvida
enquanto vítima sempre que o requeira, no n.º 5 do Estatuto de Vítima, que prevê o direito
a colaborar com as autoridades policiais ou judiciárias, prestando informações e
facultando provas, os princípios de igualdade de oportunidades para viver sem violência,
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do respeito pela dignidade pessoal e autonomia da vontade da vítima, e da informação.
Para além da homogeneização estabelecida para todas as vítimas de crimes, sem colocar
em causa os direitos concedidos para particulares tipos de vítimas, reforçando a proteção
de toda e qualquer vítima de criminalidade, entre outros.
Também realça o autor que as vítimas de violência doméstica não têm por muitas
vezes o atendimento especializado que está previsto, por falta de recursos humanos nas
instituições.
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Referências
Associação Para Apoio à Vítima. 25 medidas da APAV para um Plano dos Direitos das
Vítimas de Crime em Portugal.
https://apav.pt/apav_v3/images/pdf/25_medidas_plano_apoio_vitima.pdf
Cruz, A. N., Brandão, A. P., Conceição, A. R., Gonçalves, F. da C., Martins F., et. al.
(2022) Prevenção, Policiamento e Segurança - Implicações nos Direitos Humanos I
Congresso Internacional JusCrim. Escola de Direito da Universidade do Minho; Centro
de Investigação em Justiça e Governação - JusCrim (Justiça Criminal e Criminologia)
https://www.jusgov.uminho.pt/pt-pt/publicacoes/prevencao-policiamento-e-seguranca-
implicacoes-nos-direitos-humanos/
Fonseca, F., Gonçalves, F. C., Monteiro, L. V., Cerqueira, M., Santos, M., Esteves, M.
L., Mendes M., Santiago, N., Guerra, P., Santos, M. (Coord.), & Grangeia H. (Coord.).
(2017) Novos desafios em torno da proteção da vítima: uma perspetiva multidisciplinar.
Centro de Investigação Interdisciplinar em Direitos Humanos – DH-CII.
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/50675/1/EBOOK_Novos_desafios
_em_torno_da_protecao_da_vitima_2017.pdf
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Guarda Nacional Republicana (2021) Violência Doméstica
https://www.gnr.pt/Cons_VilolenciaDomestica.aspx
Rodrigues, A. M. (2005) Política criminal: novos desafios, velhos rumos. Repositório das
Universidades Lusíadas. http://hdl.handle.net/11067/5407
Vieira, P. M., (2016) Vítima Enquanto Sujeito Processual e à Luz das Recentes Alterações
Legislativas. Revista Julgar; Coimbra Editora. http://julgar.pt/wp-
content/uploads/2016/01/08-V%C3%ADtima-enquanto-sujeito-processual-Pedro-M-
Vieira.pdf
Legislação
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Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro (Regime Jurídico Aplicável à Prevenção da Violência
Doméstica e à Proteção e Assistência suas Vítimas)
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