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CRIMINOLOGIA

Prof. Ewerton Duarte1

1 Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Docência do Ensino Superior pela
Universidade Federal de Campina Grande. Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela Faculdade São
Francisco da Paraíba. Especialista em Direito Constitucional pela Faculdade Futura-São Paulo. Especialista em
Direito Público pela Faculdade Legale-São Paulo. Bacharel em Direito pela Faculdade São Francisco da
Paraíba. Professor de Direito Penal do Centro Universitário Vale do Salgado e da Universidade Federal de
Campina Grande. Aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil e Servidor Público.
A palavra
Criminologia deriva
do latim “crimen”
(delito) e do grego
“logos” (tratado). Em
resumo, seria o
“Tratado do Crime”.
É uma ciência
multifatorial.
Idealizador do termo “Criminologia”? Paul Topinard (1830-1911).

Quem difundiu internacionalmente o termo? Raffaelle Garofalo (1885).

Marco científico (Corrente Majoritária)? O Homem Delinquente (1876) de Cesare


Lombroso (1º autor da Escola Criminológica em seus moldes científicos, ou seja, da
Escola Positivista).

Marco científico (Corrente Minoritária)? Dos Delitos e das Penas (1764) de Cesare
Beccaria (Autor da Escola Clássica). Não é considerada pela maioria o marco científico
pois, no momento em que essa obra foi escrita, a criminologia não possuía status de
ciência.

Objetos de estudo até o século XX? Delito e Delinquente.

Após a segunda metade do século XX? Delito, Delinquente, Vítima e Controle social.
Controle
Social...
Quando o controle informal falha, entram em ação
as entidades do controle formal.

Quanto mais fortes os controles sociais informais,


menor a criminalidade.

Tanto o controle social formal quanto o informal


possuem três elementos característicos: norma,
processo e sanção (são divergentes no caráter de
coercibilidade).
A principal função da Criminologia é explicar e prevenir o crime (diagnóstico da
criminalidade para evitar que o crime aconteça) e intervir positivamente na pessoa
do infrator e no atendimento às vítimas, buscando uma sociedade pacificada, pois o
crime é um problema social.

A prevenção primária atua nas raízes do problema/conflito criminal (medidas a


médio e longo prazo). Ex.: Investimentos em saúde, educação, lazer, bem-estar,
acompanhamento de grávidas... políticas públicas. Não existem resultados dentro dos 4
ou 8 anos de mandatos.

A prevenção secundária age onde o crime se manifesta (se exterioriza). “Zonas


quentes” de criminalidade. Ordenação urbana. “Altos níveis de criminalidade”. Uma
cidade feia, suja, mal cuidada contribui para a alta criminalidade. Ex.: Atuação policial;
Melhorias do aspecto visual de obras (ordenação urbana); Controle dos meios de
comunicação.

A prevenção terciária somente age no presos/apenados/ reclusos. Ressocialização


para evitar a reincidência
Na concepção da criminologia, o crime é um problema
multifatorial com os seguintes requisitos:

Incidência massiva na população: O crime não pode ser um


fato isolado. A conduta, para ser considerada criminosa, deve
acontecer com certa regularidade.

Incidência aflitiva: O crime é algo ruim, que traz prejuízo e


aflição. Dor física ou emocional/psicológica.

Persistência espaço-temporal: Deve ser fato com certa


regularidade. Não pode ser sazonal.
MODELOS DE RESPOSTAS AO CRIME
(Atualmente, o modelo brasileiro é misto dos 3 abaixo).

1º - Clássico/Retributivo/Dissuasório: Caráter retributivo da pena –


“castigo”. A pena tem função intimidatória. 2 atores: Estado (pune/monopólio
do poder punitivo) e criminoso (punido). Não importam a vítima e a sociedade.

2º - Ressocializador: O foco é a reinserção social do delinquente. 3 atores:


Estado, criminoso e sociedade.

3º - Restaurador/Integrador/Justiça Restaurativa: Retornar o status


quo para a vítima, que tem papel protagonista. O objetivo é minimizar o
sofrimento da vítima. Reparar os danos causados às vítimas. Acolhimento
estatal. Adoção de meios alternativos de solução de conflitos. Composição
civil dos danos, especialmente na Lei 9.099/95.
Resumindo...

Para a Escola Clássica, o delinquente era o pecador que optou pelo mal. O homem
tem livre-arbítrio, vontade racional. Rompimento do pacto social.

Para a Escola Positivista, o delinquente era um homem anormal, clinicamente


observável. “Prisioneiro de sua própria patologia ou de processos causais alheios”.

Para Escola Correicionalista (sem muita influência no Brasil), o delinquente era


um ser débil, inferior. Diante dessa realidade, o Estado deve orientar e proteger
o criminoso, para dar condições para a vida em sociedade. No Brasil, assemelha-
se ao tratamento dado ao adolescente infrator.

Para o Marxismo (criminologia crítica), a própria sociedade era a culpada pelo


crime pela adoção do modo de produção capitalista.
Aprofundando....

A Escola Clássica
representa a etapa pré-
científica da
criminologia, enquanto a
Escola Positivista
representa a etapa
científica.
A vítima, na criminologia, passou a ter um papel de maior destaque,
sobretudo, no pós-segunda guerra mundial. O estudo das vítimas tiveram
início em 1901 na figura de Hans Gross, todavia somente na década de 1940,
que o estudo passou a ganhar uma sistemática com Von Henting e Benjamim
Mendelsohn.

I – Protagonismo da vítima: até o fim da Idade Média – Lei de Talião (olho


por olho, dente por dente) – vingança privada – a pretensão punitiva pertencia
à própria vítima.

II – Neutralização ou Esquecimento: Estado assume o monopólio da punição


estatal. O problema do crime é resolvido entre Estado (pune) e criminoso
(punido). Do fim da alta Idade Média até o Liberalismo Moderno.

III – Redescobrimento ou Revalorização: Estado passa a considerar a


importância da vítima. Reparação dos danos, medidas indenizatórias, por
exemplo, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95.
Vitimização Primária: Efeitos diretos e indiretos da conduta
criminal.

Vitimização Secundária ou Sobrevitimização: Efeitos suportados


pela vítima em razão da burocratização estatal. Ocorre nas fases de
inquérito e processo.

Vitimização Terciária: Omissão do Estado em dar um tratamento


prolongado à vítima e estigmatização pela sociedade.

Vitimização Quaternária: É, em síntese, o medo de se converter em


vítima de crimes – manifestação da vitimização subjetiva – que se
internaliza pela falsa percepção da realidade a partir das informações
levantadas pela mídia.
Vitimização Indireta: Trata-se do sofrimento das pessoas que
estão relacionadas intimamente à vítima de um delito, e que sofrem
juntamente com ela.

Heterovitimização ou Vitimização Heterogênea: Corresponde à


“autorrecriminação da vítima” diante de um crime cometido, por
meio da busca pelas razões que a tornaram, de modo provável,
responsável pela prática delitiva.

Vitimização Difusa: Não há vítima determinada. Nessa hipótese


compreende-se que a coletividade é a vítima, como nos crimes
econômicos e ambientais.
Classificação das Vítimas
(Benjamin Meldelsohn)

Vítima completamente inocente (vítima ideal): Vítima


completamente estranha à ação do criminoso, não provocando e
nem colaborando. Não concorda com o ato criminoso. Ex.: senhora
que tem a bolsa arrancada pelo criminoso na rua ou a vítima de um
incêndio acidental.

Vítima de culpabilidade menor ou vítima por ignorância: neste


caso se dá um certo impulso involuntário ao delito. O sujeito por
certo grau de culpa ou por meio de uma ato pouco reflexivo causa
sua própria vitimização. Ex. Mulher que provoca um aborto por
meios impróprios pagando com sua vida, sua ignorância.
Vítima tão culpável como o infrator ou vítima voluntária:
Aquelas que cometem suicídio jogando com a sorte. Ex. roleta
russa, suicídio por adesão vítima que sofre de enfermidade
incurável e que pede que a matem, não podendo mais suportar a
dor (eutanásia) a companheira(o) que pactua um suicídio; os
amantes desesperados; o esposo que mata a mulher doente e se
suicida.

Vítima mais culpada que o infrator: - Vítimas provocadoras


(aquela que por sua própria conduta incita o infrator a cometer a
infração. Tal incitação cria e favorece a explosão prévia à
descarga que significa o crime) e Vítimas por imprudência (que
ocasionam o crime por acidente, por não se controlar, ainda que
haja culpa do autor).
Vítima unicamente culpada - Vítima infratora
(na prática de um crime, acaba se tornando
vítima de outro crime). Ex.: homicídio em
legítima defesa; - Vítima simuladora (o
acusador que premedita e irresponsavelmente
joga a culpa ao acusado, recorrendo a qualquer
manobra com a intenção de fazer justiça num
erro); - Vítima imaginária (leva o judiciário a
erro. A pessoa é portadora de grave
transtorno mental. Pode se passar por vítima
ou acusar outra pessoa de ser autor).
Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em 3
grandes grupos para efeitos de aplicação da pena ao infrator:

1 – Primeiro grupo (vítima inocente): Não há provocação nem


outra forma de participação no delito, mas sim puramente
vítima.
2 – Segundo grupo (vítima provocadora): Estas vítimas
colaboraram na ação nociva e existe uma culpabilidade
recíproca, pela qual a pena deve ser menor para o agente do
delito.
3 – Terceiro grupo (vítima unicamente culpada): Nestes
casos são as vítimas as que cometem por si a ação nociva e o não
culpado deve ser excluído de toda pena.
Classificação das Vítimas
(Hans Von Henting)

1. Vítima isolada: A vítima neste caso vive na solidão, não se relacionando


com outras pessoas. Em decorrência desse meio de vida ela se coloca em
situações de risco.

2. Vítima por proximidade: Este grupo de vítimas subdivide-se em:


a) Vítima por proximidade espacial, que se torna vítima pelo fato de
estar em proximidade excessiva do autor do delito em um determinado
local, como ocorre nos casos de furto no interior de um ônibus; b) Vítima
por proximidade familiar, a qual ocorre no núcleo familiar, como pode ser
visto no caso do parricídio, em que o filho mata seu próprio genitor;
c) Vítima por proximidade profissional, que geralmente ocorre no caso de
atividades profissionais que requerem um estreitamento maior no
relacionamento profissional, como no caso do Médico.
3. Vítima com ânimo de lucro: São taxadas dessa forma as
vítimas que pela cobiça, pelo anseio de se enriquecer de maneira
rápida ou fácil, acaba sendo ludibriada pelos estelionatários ou
vigaristas.
4. Vítima com ânsia de viver: Ocorre com o indivíduo que, com
o fundamento de não ter aproveitado sua vida até o presente
momento de uma forma mais eficaz, passa a experimentar
situações de aventuras até então não vividas que o colocam em
situações de risco ou perigo.
5. Vítima agressiva: Neste caso a vítima se torna agressiva em
decorrência da agressão que sofre do autor da violência, pois
chega um momento que por não suportar mais a agressão sofrida,
ela irá rebater tal ato de modo hostil.
6. Vítima sem valor: Trata-se da vítima que em decorrência de
seus atos não recomendáveis praticados perante a sociedade,
acaba sendo indesejada ou repudiada no meio social em que vive.
Por praticar certos atos não aceitos pela sociedade, este indivíduo
vem a sofrer agressões físicas, verbais, ou até mesmo podendo ser
morto. Um exemplo clássico desse tipo de vítima é o caso do
estuprador ou assassino que é morto pela sociedade, pela polícia, ou
por sua própria vítima.
7. Vítima pelo estado emocional: Essas vítimas são qualificadas
desta forma em decorrência de seus sentimentos de obcecação,
medo, ódio ou vingança que vem a sentir por outras pessoas.
8. Vítima por mudança da fase de existência: O indivíduo passa
por várias fases em sua vida, sendo que ao mudar para certa fase
de sua existência, poderá se tornar vítima em consequência de
alguma mudança comportamental relacionada com alguma das fases.
9. Vítima perversa: Enquadram-se nesta modalidade de vítimas
os psicopatas, pessoas que não possuem limite algum de respeito
em relação às outras, tratando-as de um modo como se fossem
objetos que podem ser manipulados.
10. Vítima alcoólatra: O uso de bebidas alcoólicas é um dos
fatores que mais levam as pessoas a se tornarem vítimas, sendo
que na maioria dos casos acabam resultando em homicídios.
11. Vítima Depressiva: Ao atingir um determinado nível, a
depressão poderá ocasionar a vitimização do indivíduo, pois
poderá levar a pessoa à sua autodestruição.
12. Vítima voluntária: São as pessoas que por não oporem
resistência à violência sofrida, acabam permitindo que o autor do
delito o realize sem qualquer tipo de obstáculo. Casos que
exemplificam esse tipo de vítima são os crimes sexuais ocorridos
sem a utilização de violência.
13. Vítima indefesa: Denominam-se vítimas indefesas as que, sob o pretexto
de que a persecução judicial lhes causaria maiores danos do que o próprio
sofrimento resultante da ação criminosa, acabam deixando de processar o
autor do delito. São vistos tais comportamentos geralmente nos roubos
ocorridos nas ruas, nos crimes sexuais e nas chantagens.

14. Vítima falsa: São taxadas de falsas vítimas as pessoas que, por sua livre
e espontânea vontade se autovitimizam para que possam se valer de benefícios.

15. Vítima imune: São consideradas dessa forma as pessoas que, em


decorrência de seu cargo, função, ou algum tipo de prestígio na sociedade em
que vive acham que não estão sujeitas a qualquer tipo de ação delituosa que
possa transformá-las em vítimas. Um exemplo é o padre.

16. Vítima reincidente: Neste caso a pessoa já foi vítima de um determinado


delito, mas mesmo após ter passado por tal episódio, não passa a tomar
qualquer tipo de precaução para que não volte a ser vitimizada.
17. Vítima que se converte em autor: Nesta hipótese ocorre a mudança de polo
da violência. A vítima que era atacada pelo autor da agressão se prepara para o
contra-ataque. Um exemplo clássico é o crime de guerra.

18. Vítima propensa: Ocorre com as pessoas que possuem uma tendência natural
de se tornarem vítimas. Isso pode decorrer da personalidade deprimida,
desenfreada, libertina ou aflita da pessoa, sendo que esses tipos de personalidade
podem de algum modo contribuir com o criminoso.

19. Vítima resistente: Por não aceitar ser agredida pelo autor, a vítima reage e
passa a agredi-lo da mesma forma, sempre em sua defesa ou em defesa de outrem,
ou também no caso de cumprimento do dever. Neste caso há sempre a disposição da
vítima em lutar com o autor.

20. Vítima da natureza: São pessoas que se tornam vítimas em decorrência de


fenômenos da natureza, como no caso de uma enchente, um terremoto, etc.
CIFRAS E O CRIME
Cifra negra: São os crimes desconhecidos formalmente pelo controle
social formal.
Cifra cinza: São os crimes que não prosperam na fase processual.
Cifra dourada: São os crimes de “colarinho branco”.
Cifra verde: São os crimes ambientais.
Cifra amarela: São os crimes cometidos por funcionários públicos.
Cifra rosa: São os crimes com viés homofóbicos.
Cifra azul: São os crimes cometidos por pessoas menos afortunadas.
Cifra lilás: São os crimes de violência doméstica contra a mulher que
não chegam ao conhecimento do Estado.
SÍNDROMES E A
CRIMINOLOGIA

Síndrome da mulher de Potifar – Falsos relatos de violência


contra a mulher...

Síndrome de Estocolmo – Vinculação afetiva traumática com


o sequestrador, até pelo próprio instinto de sobrevivência...

Síndrome de Londres – Atritos entre reféns e


sequestradores, seja por antipatia, seja por discordância.

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