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Vitimação

O termo vitimologia aparece pela primeira vez apenas em 1949, sendo que a sua definição não se torna
consensual, estando dependente da forma como a vítima é classificada, isto é, se é restrita ou alargada. A vítima
é uma das vertentes da criminologia, sendo o seu objeto de estudo, as características, o comportamento da
vítima e as suas interacções para com o ofensor. Interessa, portanto, à vitimologia estudar as características
psicológicas, biológicas, o contexto sociocultural e o papel da vítima na ocorrência do crime. Todo este estudo
sobre a vítima inicia-se depois de, durante muito tempo, a centralidade do estudo estar virada para o ofensor.
Então surge, inicialmente, o estudo da vítima apenas como auxílio para o estudo do crime. No meio destes
estudos, percebe-se que o estudo das características da vítima servia como explicação para a ocorrência do
crime. A maior parte dos crimes inscreve-se numa relação agressor-agredido, predador-presa. É necessário que a
vítima esteja na presença do seu homicida para que o projeto se concretize; e é necessário que alguém possua um
bem para que o furto seja cometido. Deste ponto de vista, a vítima é uma condição necessária dos delitos contra
as pessoas e contra os bens. Excetuando os tráficos (prostituição, droga), delitos sem vítima direta, a infracção
pode ser concebida como uma relação entre um delinquente e uma vítima. Trata-se, muitas vezes, de uma
relação que nasce da proximidade entre ambos, por vezes da sua intimidade, como no caso da violência conjugal.
Temos tendência a conceber a vítima como uma pessoa com azar que sofreu um evento funesto porque, por
acaso, estava no sítio errado à hora errada. Sem dúvida que isto é verdade na maior parte dos casos, no entanto,
uma minoria que não é insignificante contribui de algum modo para a existência de vitimação, ou porque se
expõe mais do que os outros, ou porque provoca o agressor. Podemos ter a vítima nata, onde explicando o crime
a partir das características (personalidade, idade, sexo, factores ambientais) da vítima, podemos compreender que
existe um conjunto de atitudes da vítima que seriam determinantes do acto criminal. Considerando o grau de
culpa podemos então ter: vítimas inocentes, as crianças são mais, frequentemente, vítimas inocentes, pois o seu
comportamento não provocou, de maneira nenhuma, o acto criminal; vítimas cúmplices, estas vítimas são
comuns nos casos de violência doméstica, nos quais as vítimas não apresentam queixa, pelo que têm alguma
culpa pela reincidência; vítimas provocadoras, isto é, vítimas que provocaram o acto criminal, seja pelo seu
comportamento, postura, entre outros; vítimas totalmente culpadas, como é o caso, por exemplo, das prostitutas
violadas pelo seu cliente. No entanto esta abordagem tem as suas Críticas, sendo que padece de uma excessiva
culpabilização da vítima; a responsabilização da vítima desencadeia uma desresponsabilização do ofensor pelo
acto transgressor que comete e sublinha um preconceito associado à conduta da vítima. É, ainda feita uma crítica
aos pressupostos teóricos, sendo que são considerados frágeis e, portanto, discutíveis, relativamente, ao elemento
moral, à causalidade linear e às características da vítima como elemento de controlo do comportamento do
agressor. Novas abordagens sobre a vitimação referem que há sujeitos mais vulneráveis por determinantes
estruturais e comportamentais, onde a vulnerabilidade não deve ser confundida com o conceito jurídico de culpa.
Ou seja, os jovens estarão mais expostos ao fator criminal do que os idosos, tendo em conta os locais que
frequentam, as saídas noturnas, etc. Assim, a vulnerabilidade reenvia uma outra noção que é fundamental para
explicar a vitimação. Os criminosos são atraídos por pessoas desprotegidas, como o lobo pelo cordeiro. Ora, a
vulnerabilidade está no nosso estilo de vida, daí que os jovens são mais propensos a sofrer vitimação, uma vez
que frequentam locais de maior exposição ao risco; as crianças, as mulheres e os idosos, por sua vez, têm menos
força física para se defenderem. O estilo de vida pode, então, proporcionar-nos uma maior exposição ao risco.
Em suma, tudo concorre para fazer do delinquente habitual uma vítima, nomeadamente, a proximidade, a
vulnerabilidade e os conflitos. A partir dos anos 70 surgiram os inquéritos de vitimação, sendo que foram
quantificados alguns fenómenos; presença de maior conhecimento sobre a criminalidade; desmistificação de
elementos sublinhados pelas teorias anteriores; e o surgimento de outras linhas de investigação.
A Experiência de Vitimação
A vitimação é um fenómeno tão generalizado que pode atingir qualquer um; é muito mais frequente em
certas categorias sociais, o que significa que não se distribui ao acaso na população. A vitimação atinge
duramente jovens celibatários pertencentes a minorias étnicas, sendo que os jovens são mais vitimados do que os
idosos.
Teoria do Estilo de Vida
A explicação dominante para estas variações tem sido formulada em termos de estilo de vida. Aqui,
entra em vigor a Teoria do estilo de vida que aparece na consequência dos inquéritos de vitimação, sendo as
principais questões levantadas, relativas à semelhança de perfil da vítima e agressor e à incidência do fenómeno
criminal em grupos não expectáveis. Assim, segundo esta teoria, o estilo de vida pode diminuir ou aumentar a
exposição ao risco: o homem e jovem estariam mais expostos ao risco que uma mulher de meia-idade, devido ao
contexto de rua, socialização violenta e associação a pares desviantes; a vítima e o ofensor teriam características
comuns; as circunstâncias estão relacionadas com o comportamento, sendo que varia de acordo com quem é a
vítima e ofensor; o estilo de vida poderá criar oportunidade para o crime. Os jovens celibatários têm maior
probabilidade de serem vitimados porque frequentam lugares públicos durante a noite, passam pouco tempo em
família e estão em contacto com pessoas perigosas, em lugares e momentos de risco. As ocasiões de contacto
entre delinquentes potenciais e vítimas potenciais são condicionadas pelo modo de vida de uns e de outros. A

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probabilidade de um delito varia em função do encontro, no tempo e no espaço, de um delinquente motivado e
de um alvo que possa interessá-lo, na ausência de uma pessoa capaz de impedir a passagem ao acto. Por
potencial delinquente entende-se todo o indivíduo com motivação suficiente para passar ao acto, podendo ser
aquele que sede a uma tentação particularmente forte, como o delinquente crónico. O alvo será interessante para
um delinquente se o seu valor for elevado, se estiver visível e acessível. A necessária convergência entre
delinquentes e alvos confere à noção de proximidade um grande valor explicativo. Tudo o que aproxime o
delinquente da potencial vítima aumenta o risco de vitimação. As vítimas prováveis serão aquelas que trarão
mais benefício ao ofensor, pessoas pouco protegidas e que estão mais expostas ao contacto com ofensores.
Contributos do Feminismo para a Criminologia
Ora, as críticas feministas à família tradicional são recorrentes e abundantes. Estudos recentes postulam
que, se as famílias não são hoje estritamente patriarcas, elas são ainda, em muitos casos, transmissoras de
desigualdades sexuais. Tal enfatiza a necessidade de se reconcetualizar, quer o lugar da mulher na família, por
exemplo, promovendo práticas de complementaridade, quer o seu lugar na sociedade (igualdade de acesso aos
recursos, estatuto profissional). Para as feministas, os maus tratos conjugais continuam a ser, largamente,
ignorados pelo sistema de justiça criminal e social, em si mesmo dominado pelo sexo masculino, pelo que
concluem que o género masculino se apoia na violência para preservar o status quo e para exercer as suas
posições de poder ou controlo. Em suma, para as feministas, a perspetiva de que “entre marido e mulher
ninguem mete a colher “ deixou o publico lá fora e a violência dentro de portas (Doerner & Lab, 1995), para elas
os homens batem porque têm muito a ganhar com isso. A perspetiva feminista representa um dos modelos
explicativos dominantes (perspectivas sócio-culturais). Através de vários estudos que são promovidos neste
domínio, têm proporcionado um contributo expressivo para uma melhor compreensão da violência conjugal e
tem sido reconhecida como uma das abordagens com maior sucesso na recuperação das mulheres vítimas. Para
além disso, a sua concetualização da violência como uma desordem que emerge das desigualdades de género tem
tornado possível desenvolver práticas intervencionistas que promovem alternativas à violência, como por
exemplo, contestação de estereótipos culturais, criação de grupos de auto-ajuda ou construção de refúgios.
Realismo de Esquerda
O Realismo de Esquerda, por sua vez, surgido nos anos 80, refere a importância dos fatores sociais e
económicos em relação à vitimação, traduzido no construto de que menor poder económico confere maior
vulnerabilidade pelo menor acesso à justiça e à prevenção criminal, cuja noção vai de encontro à abordagem
social. Deste modo, defende que, estando num contexto mais igualitário de oportunidades, existe menos
propensão ao crime.
Vitimologia Atual
As principais linhas são: vitimologia alargada; vitimologia de apoio; vitimologia criminal; estudos
científicos em que o objectivo é conhecer o fenómeno criminal.
Conceito: Violência
Como violência entende-se o uso intencional da força, coação ou intimidação contra terceiros, ou toda a
ação que, de algum modo, lese a integridade biopsicossocial, os direitos e necessidades dessa pessoa.
Violência Doméstica/Violência Conjugal
Temos como exemplo de casos de violência, a violência doméstica, onde a intenção daquele que
maltrata é infringir deliberadamente dano, induzir medo, dominar o parceiro, fazê-lo sentir-se subordinado,
desvalorizado e incompetente. Na violência doméstica as vítimas podem ser adultos, crianças ou idosos, sendo
que podem ser vítimas de vitimação direta, vitimação indireta, revitimação ou de vitimação secundária.
Violência Conjugal: Formas
As formas de violência conjugal podem passar pelo causar dano psicológico (através de acções e
afirmações que afectam a auto-estima da mulher e o seu sentido de auto-valorização) ou físico (pontapés,
esbofetear, atirar coisas) sobre o parceiro, demonstrar controlo, poder ou domínio sobre o outro, o uso
intencional de força, coação ou ameaça (como por exemplo, ameaças à integridade física, de prejuízos
financeiros, entre outros) e o isolamento social (através, por exemplo, da restrição do contacto com a família e
amigos, proibir o acesso ao telefone, negar o acesso a cuidados de saúde). Pode verificar-se, ainda, o recurso ao
privilégio masculino (e.g., a recusa do maltratante em reconhecer a sua companheira como igual), o controlo
económico (e.g., negar acesso ao dinheiro ou recursos básicos, impedindo a sua participação no emprego e
educação) e violência sexual (e.g., submeter a mulher a práticas sexuais contra a sua vontade). Na maioria dos
casos não existe uma forma de violência, sendo que há, também, uma forte imprevisibilidade e continuidade
associadas a este fenómeno.
Queixas: Entraves
Após ter sido agredida ou roubada, a vítima tem de tomar uma decisão, nomeadamente, participar ou
não participar o delito. Alguns dos entraves para a vítima apresentar queixa passam pela vergonha, pelo medo,
pela ignorância sobre os seus direitos e pelo tipo de relação existente entre o ofensor e a vítima.

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Violência Conjugal: Modelos Teóricos
Por vários motivos envolvidos, como por exemplo, psicológicos, sociais e culturais, e porque os maus
tratos à mulher são um problema multicontextual, é importante explorar vários níveis de compreensão do
problema. Assim, podemos encontrar 3 modelos teóricos de abordagem à etiologia dos maus tratos conjugais:
Perspectivas Intra-individuais:
As teorias intra-individuais focalizam a sua atenção nas características individuais do maltratante e
ainda nas da vítima de violência conjugal. Neste modelo, por um lado, tenta-se alcançar uma compreensão das
acções do ofensor, centrando-se no que poderá levar alguns homens a bater nas suas esposas, e por outro,
procura-se identificar os traços psicológicos das mulheres que suportam os maus tratos. Ora, tanto no agressor
como na vítima podem existir alguns elementos de psicopatia, assim como traços de personalidade atípicos, que
levam a comportamentos “anormais”, assim, alguns defensores alegam que as mulheres que toleram este tipo de
abuso são, também elas, patológicas. Podem, ainda estar presentes outras causas como, o stress, baixa auto-
estima, dificuldade de empatia, comunicação e no auto-controlo, bem como pobres competência sociais. O
consumo de álcool e drogas não deve ser considerado a causa da violência, mas sim um comportamento
associado à violência conjugal, pelo que as substâncias mais associadas à violência são a cocaína, o crack, as
anfetaminas e a heroína, podendo haver aumento de violência quando o maltratante está sob o efeito destas. No
contexto das abordagens intra-individuais, outro argumento habitualmente defendido é o de que o conjugue
maltratante, quando agride a sua mulher, está a ventilar frustração e raiva sentidas para com outras pessoas ou
coisas com as quais ele não consegue lidar directamente, como por exemplo, incapacidade de gerir o stress
causado pelo patrão e, em vez de o confrontar, procura um substituto, tornando-se agressivo face a um membro
da família disponível e com poucos recursos. As teorias sobre a mulher agredida têm sido alvo de crítica, na
medida em que constituem uma forma de a culpar e justificar ou legitimar a violência. Ora, as mulheres, por
vezes, podem permanecer, apesar do abuso, porque ainda sentem e vêm aspectos positivos na relação, ou ainda,
por falta de opções. Muitas vezes, não têm família ou amigos que as ajude e lhes dê suporte na mudança. Esta
teoria também peca, por considerar psicopatologia obrigatória no agressor ou na vítima, pois na maioria dos
casos não se verifica presença de psicopatia.
Perspetivas Diádicas-familiares:
Estas perspetivas sustentam que a fonte da violência e a explicação para o comportamento daqueles que
são vitimados se localizam nas interacções, assim, os elementos sustentadores da violência residem nas
interacções. Esta dimensão explicativa engloba algumas teorias sócio-psicológicas, como a teoria da frustração-
agressão, a teoria da interacção simbólica, a teoria da troca e a teoria das atribuições, sendo que é dado maior
destaque à teoria intergeracional da violência, que postula que a experiência de vitimação na infância favorece a
sua perpetuação na idade adulta, ou seja, se uma criança que um dia sofreu de maus tratos, terá propensão para
um dia escolher um parceiro conjugal com perfil de agressor, ou até mesmo a própria criança na vida adulta se
torna agressor. Esta perspectiva tem implícita a noção de aprendizagem social, a qual postula que o
comportamento do indivíduo é determinado pelo ambiente social, sobretudo pelos membros da família, através
de mecanismos de reforço, modelagem ou coacção. Assim, a família é percebida como uma entidade que pode
ensinar, por modelagem/imitação, comportamentos violentos, cuja implementação é determinada por processos
de reforço ou punição. Aí, os indivíduos poderão aprender, não só estratégias maltratantes, mas valores morais
que viabilizam os comportamentos violentos. Alguns autores referem que a exposição à violência proporciona,
igualmente, um modelo de desempenho para a vitima, postulando que, quanto mais a mulher for maltratada pelos
seus pais, mais provavelmente aceitará um parceiro predisposto para o uso da violência, e, mais provavelmente,
estará inclinada para aceitar o uso da violência no cumprimento das expectativas do seu papel. Outras
investigações veiculam também que a exposição à violência parental na infância aumenta o risco de vitimação da
mulher quando for adulta, no sentido em que conduz a uma baixa auto-estima, além de que pode aprender que o
amor legitima a violência do seu companheiro. No entanto, esta teoria parece ser mais consistente no que diz
respeito aos homens, isto é, tornar-se com maior probabilidade maltratante, do que em relação às mulheres. Ora,
nós sabemos que nem sempre um backgrounds violento pré-determina um adulto violento, se existirem outros
fatores de mediação, como por exemplo, contacto com modelos masculinos não violentos. Assim, em todas estas
dinâmicas de reprodução comportamental existem múltiplos factores medidores, sobretudo ambientais.
Perspectivas Sócio-culturais:
Este conjunto de explicações analisa os factores históricos, sociais, culturais e políticos que contribuem
para os maus tratos à mulher. Por outras palavras, menciona que os factores sociais, políticos, culturais e
históricos favorecem a ocorrência de violência conjugal. Numa abordagem sócio-cultural, os maus tratos à
mulher são concebidos como resultado de tratamento histórico e da atual sociedade patriarcal. Alguns estudos
antropológicos de diferentes culturas confiram esta relação, demostrando que, quando os homens e mulheres são
tratados de modo mais igualitário, é menos provável que os homens maltratem as suas mulheres, assim, a
existência de modelos igualitários faria com que a violência se extinguisse. Na conjuntura patriarcal, a violência

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é justificada pela premissa de que os homens reconhecem o seu poder e autoridade sobre as mulheres, e o uso da
força é uma forma através da qual esse domínio masculino se mantém. Ou seja, a sociedade de certa forma
estipula de que forma a mulher deve viver determinados parâmetros e o mesmo acontece relativamente ao
homem. Os estereótipos de género, a socialização diferencial e o papel da mulher na família são vistos como
algo que pode acabar por prejudicar o papel da mulher na família e levar a que se propiciem os maus tratos à
mulher. Ora, as críticas feministas à família tradicional são recorrentes e abundantes. Estudos recentes postulam
que, se as famílias não são hoje estritamente patriarcas, elas são ainda, em muitos casos, transmissoras de
desigualdades sexuais. Tal enfatiza a necessidade de se reconceptualizar, quer o lugar da mulher na família, por
exemplo, promovendo práticas de complementaridade, quer o seu lugar na sociedade (igualdade de acesso aos
recursos, estatuto profissional). Para as feministas, os maus tratos conjugais continuam a ser, largamente,
ignorados pelo sistema de justiça criminal e social, em si mesmo dominado pelo sexo masculino, pelo que
concluem que o género masculino se apoia na violência para preservar o status quo e para exercer as suas
posições de poder ou controlo. Em suma, para as feministas, a perspectiva de que “entre marido e mulher
ninguem mete a colher “ deixou o publico lá fora e a violência dentro de portas (Doerner & Lab, 1995), para elas
os homens batem porque têm muito a ganhar com isso. Numa reflexão final, é importante acentuar que as
tentativas para se explicar os atos de violência conjugal através de justificações singulares, sejam psicológicas,
familiares ou feministas devem ser evitadas. A violência conjugal não é só um problema individual, mas também
social e politico, pelo que nas experiências violentas é importante reconhecer, para além de factores de ordem
mais individual ou relacional de relevância inegável, o peso dos estereótipos de género e da socialização
diferencial de homens e mulheres, bem como a relação destes com a distribuição de poder dentro da família.
Violência contra Idosos
Na maioria das situações, a violência contra idosos está contemplada no crime por violência doméstica
(se ocorrer dentro do seio familiar), no entanto, pode também incluir o crime contra a integridade do idoso,
nomeadamente, a violência nas instituições.
Violência contra Idosos: Formas
Podemos ter: o abuso psicológico, que inclui por exemplo, humilhações, insultos, que levam à
diminuição da auto-estima e auto-confiança da vítima ou ao sentimento de inutilidade (nenhum papel na
família); o abandono e/ou negligência, ora o abandono é muito comum, sendo que uma situação típica desta
forma de violência, seria por exemplo, no verão os idosos são levados ao hospital por familiares que depois não
os vão buscar, abandonado-os lá; relativamente à negligência, esta pode ser difícil de detetar quando os idosos
não são autónomos, pelo que os serviços de apoio domiciliário são muito importantes; o abuso financeiro, sendo
que este é muito frequente em Portugal. Por exemplo, em contexto familiar, os filhos podem tentar passar todos
os bens do idosos para eles. O idosos, podem ainda, sofrer burlas, faço disso exemplo, a pessoa tenta enganar o
idoso dizendo que o euro vai acabar; o abuso sexual, este não é o tipo de abuso mais frequente, mas já há alguns
casos, sendo os mais comuns, um agressor desconhecido que arromba a casa da idosa, abusando sexualmente da
mesma. No contexto institucional, isto também pode acontecer entre os próprios utentes. Por fim, a violência
física, esta inclui por exemplo, bofetadas, puxões de cabelo, prender o idoso na cama para ele não cair, em vez
de utilizar camas apropriadas.
Os Indicadores de Violência contra Idosos
No abuso sexual, a roupa interior pode ter vestígios; nas mulheres pode aparecer com sangue ou
rasgada, o aparecimento de doenças sexualmente transmissíveis, sendo que também devemos ter em atenção à
linguagem não verbal; no abuso físico, verificam-se marcas nos pulsos e calcanhares, peladas na zona capilar,
queimaduras, quedas mal explicadas, hematomas, feridas incompatíveis com a explicação; no abuso financeiro,
quando se verificam movimentos de conta não muito compatíveis com os gastos do idoso, ou seja, alterações
muito acentuadas na conta do idoso e passagem dos seus bens para outra pessoa sem motivo; no abuso
emocional, a violência pode ser evidenciada pelo discurso, isto é, o discurso pode levar-nos a perceber se o idoso
tem um papel activo na família ou se é um entrave e a perceber se está deprimido ou não; na negligência, para
detetar esta forma de violência devemos estar atentos se o idoso aparece bem alimentado, medicado, com a
higiene feita ou não. O contacto com os familiares é aqui, muito importante, sendo que devemos ter em atenção
o seu discurso e disponibilidade.
Ora, muitas vezes os auxiliares não são devidamente treinados, pelo que não são capazes de perceber e
detectar os indicadores de abuso, pelo que é essencial que os técnicos lhe dêem formação.
Maus tratos em contexto institucional: Elementos a considerar
Os maus tratos em contexto institucional derivam, em primeiro lugar, de dificuldades relacionadas com
os recursos humanos, sendo que estas são sentidas pela maioria dos centros de dia. Geralmente, os técnicos não
são devidamente formados, havendo uma falta de conhecimento, pelo que estes não têm um objetivo ou interesse
a cumprir. Assim, estes realizam atividades lúdicas com os idosos sem fundamentação teórica. O que acontece, é
que o abuso acaba por não ser detectado ou é detectado tardiamente. Em segundo lugar, factores ambientais
(meios e equipamentos), sendo que por vezes legitimam as relações de intimidade. Em terceiro lugar, regras
institucionais, se o idoso está lúcido, por vezes, os técnicos não têm acesso aos seus dados pessoais, algo que
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pode impedir a deteção do abuso. Outro ponto importante a referir, é que muitas vezes 2 idosos lúcidos e
autónomos iniciam uma relação, mas os técnicos não o permitem (isto é errado!). Em quarto lugar, a relação
estabelecida entre técnicos e utentes, esta relação pode não ajudar, nem facilitar a deteção do abuso, pois muitas
vezes, esta relação é muito fria e distante, pelo que a decoberta de abuso ocorre tardiamente. Por último, o tipo
de cuidados que é dado a cada idoso. Ora, os cuidados dados podem ajudar ou prejudicar a prevenção de abusos.
Prejudica quando o idoso cuida da sua higiene em casa, antes de ir para a instituição, pelo que é mais difícil, para
os técnicos, detetar os indicadores de abuso. Por sua vez, facilita, quando os técnicos têm total acesso e
acompanham a higiene do idoso.
Crimes Sexuais contra Adultos
Dentro dos Crimes contra a liberdade sexual contra adultos, temos 2 tipo que aparecem muito
frequentemente, nomeadamente, a coacção sexual, isto é, quando uma pessoa leva outra pessoa a ter uma relação
sexual que não deseja, sendo que a pessoa é coagida; e a violação, isto é, quando a pessoa não tem escapatória, a
relação sexual não é consentida e a pessoa não tem, portanto, como fugir. Ambos os crimes são semi-públicos.
Nos adultos é mais difícil detetar o abuso do que nos menores ou nos idosos. Ora, muitas vezes os crimes sexuais
não são denunciados, isto pode acontecer por vários motivos. Assim, os motivos que levam a vítima a não
denunciar são: em primeira lugar, a vergonha, este é um crime que leva à vergonha, pois como sabemos, há um
grande estigma social associado a este crime, “Talvez a vítima tenha levado ao que aconteceu”, isto é, por vezes,
a vítima pode ser “acusada” de ter um determinado comportamento que tenha levado ao crime. Na violação, por
exemplo, a queixa só pode ser feita pela vítima, sendo que o processo judicial só tem andamento se a vítima
quiser. Isto acontece porque a violação é um crime semi-público, entra na intimidade da pessoa, pelo que a
vítima terá de decidir se está disposta a partilhar a sua intimidade. Em segundo lugar, o medo, a vítima pode ter
medo que o violador a volte a violar se o denunciar, sendo isto mais comum, em situações em que a vítima
conhece o violador (familiar ou vizinho, por exemplo). Em terceiro lugar, a relação existente entre ofensor e a
vítima, este é um motivo muito importante, sendo que, quanto mais próxima for a relação entre eles menor será a
probabilidade da vítima apresentar queixa, por outro lado, quanto menos próxima for a relação entre eles, maior
será a probabilidade de apresentação de queixa. Isto está, claramente, relacionado com o medo que a vítima
sente. Em quarto lugar, as expectativas negativas sobre a utilidade da queixa e o processo judicial, ou seja, a
vítima cria expectativas negativas, no sentido em que se questiona, quanto ao seu bem-estar após apresentar a
queixa, “Será que se vai sentir melhor?”, “Será que vai lidar melhor com a situação?”. Por último, o receio de
vitimação secundária, isto é, a vítima pode ter receio de ser mal-tratada pelas entidades policiais ou no hospital,
bem como, medo de ser novamente violada.
Neste tipo de crimes podem estar presentes explicações intra-individuais para o comportamento do
ofensor, assim, pode estar presente uma psicopatologia (parafilias) e um controlo sexual diminuído.
Há abordagens sócio-culturais que explicam a existência de tantos ofensores, assim tal, pode ser
explicaldo por: em primeiro lugar, pelo poder diferenciado do agressor perante a vítima quer do ponto de vista
físico, isto é, o agressor é mais forte do que a vítima, tendo facilidade em dominá-la; quer do ponto de vista
social. Ora, assiste-se ainda hoje a uma excessiva tolerância e cumplicidade para com o homem que agride a sua
companheira. Esta dinâmica social, perpetuada ao longo de gerações, alimentou o silêncio, inibiu a denúncia das
situações violentas e a própria consciencialização da sua natureza criminal. Quando as vítimas pediam ajuda,
confrontavam-se, habitualmente, com a “falta de eco” para os seus apelos, tornando-as agentes sem voz e, em
última análise, convertendo o acto em causa num crime dúbio e envergonhado. Em segundo lugar, pela
inferiorização da vítima, sendo que pode facilitar o crime, por exemplo, se a vítima for prostituta ou se saiu de
livre vontade com o agressor. Por último, mitos e crenças associados à condição da vítima, associados ao
comportamento da vítima que pode atenuar o comportamento do agressor.
O impacto do crime sexual na vítima divide-se em 2 fases. A 1ª fase após o acontecimento,
potencialmente, traumático. Trata-se de uma fase de choque e desorganização, sendo que a vítima ainda não
consegue integrar o que lhe aconteceu. Tem dificuldade em contar o que lhe aconteceu, em assumir. Assim, esta
fase, é caracterizada por um medo generalizado, isto é, a vítima começa a ter medo de estar em vários contextos,
tem medo de estar sozinha, e frequentemente, tem medo de estar num local com muitos homens presentes;
ansiedade, sensação de que o seu caso é único, a vítima sente que aquilo que está a sentir, nunca ninguém
sentiu; negação; episódios depressivos; auto-culpabilização, ou seja, culpam-se de estarem no local onde ocorreu
o crime; labilidade emocional, isto é, desorganização emocional marcada por oscilações de humor. Por último,
vergonha e revolta, a vítima sente vergonha e revolta face ao acontecimento e face ao facto de lhe ter acontecido
a ela.
Nota: Se a vítima apresentar estes sintomas, o clínico deve começar a pensar num possível abuso sexual e deve
começar a explorar essa possibilidade.
A 2ª fase consiste na fase de reorganização, marcada por perturbações alimentares, que podem ser
várias, nomeadamente, restrição alimentar (anorexia ou bulimia) ou alimentação excessiva; perturbações de sono
que incluem pesadelos com o acontecimento e flashbacks durante o dia; alterações no quotidiano, sobretudo,
durante a fase do medo generalizado; a pessoa tenta fechar-se e isolar-se, deixar de passar tempo com os amigos

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e deixa de realizar actividades de lazer habitualmente agradáveis; isolamento social e/ou dificuldades relacionais,
sendo que está claramente relacionado com as alterações do quotidiano. A vítima fecha-se no seu mundo, pode
evitar o contacto com os amigos e familiares, não vive o seu dia a dia como antigamente, sendo que é comum ter
dificuldade em iniciar um novo relacionamento, ou nos casos em que já mantinham um, tendem a terminá-lo; e
por fim, dificuldades a nível sexual, isto é, a vítima não consegue ter relações sexuais com o parceiro, o que é
natural, pode sentir medo, insegurança, nojo, entre outros.
Vitimação: Menores
Em menores a violência ocorre sob forma de maus-tratos, físicos e/ou psicológicos, sendo o abuso
sexual um tipo de maus-tratos.
Maus tratos: Definição
Por maus tratos entende-se qualquer acto deliberado por omissão ou negligência, originada por pessoas,
instituições, ou sociedades, que prive a criança dos seus direitos e liberdades ou que interfira com o seu
desenvolvimento. Ora, os maus tratos não ocorrem apenas no contexto doméstico, sendo que podem ocorrer
também em contexto institucional, cometidos por educadores ou auxiliares, por exemplo. No geral, os maus
tratos tendem a ser mais fáceis de detectar nas crianças do que em adultos e idosos. No entanto, no caso do abuso
sexual, torna-se difícil detetar os indicadores, uma vez que as crianças tendem a não contar, a demorar muito
tempo até contar ou escondem determinados aspetos porque têm medo de serem retirados das suas próprias
famílias. Assim, nunca se deve dizer à criança que, se ela não contar pode ser retirada da família, devemos servir
de suporte à criança, de ajuda e não de ameaça. O mesmo acontece com a atitude perante os ofensores, enquanto
técnicos, devemos mostrar aos mesmos que somos elementos de suporte, de ajuda e não fiscais com o objetivo
de destruir a família.
Há vários factores de risco que podem ser encontrados nos adultos (cuidadores). Assim, só
podemos considerar que estão presentes, numa família, maus-tratos se vários dos seguintes factores de risco ou
todos se conjugarem e estiverem presentes, pois os mesmos isolados podem não fazer sentido. Ora, os factores
de risco que devem estar presentes nos cuidadores são: o stress ambiental, isto é, se está presente uma situação
contextual que não favorece o desenvolvimento normal da criança e que nos desperte interesse, como por
exemplo, situação de desemprego, pobreza ou contacto com outra família onde estão presentes os maus-tratos;
histórias de maus-tratos, ou seja, se o pai ou mãe da criança foram vítimas de maus-tratos, pois como sabemos as
pessoas que foram vítimas de maus-tratos no passado têm maior tendência para se tornarem ofensores no futuro;
parentalidade precoce, sendo que se os pais são muito jovens podem não ter desenvolvido as capacidades
parentais necessárias, pelo que em situações de maior stress ou conflito podem responder com maus-tratos, quer
seja fisicamente quer seja psicologicamente; perturbações mentais, pela mesma razão anterior, isto é, cuidadores
com perturbações mentais podem não reunir as capacidades necessárias para cuidar da criança, sendo que em
situação de maior stress ou conflito respodem com uma resposta agressiva; antecedentes criminais, sendo que
cuidadores que os tenham são mais propensos a utilizar uma resposta agressiva do que cuidadores sem estes
antecedentes; alterações na família ou trabalho, faço disso exemplo, o divócio e o desemprego. Este factor está,
claramente, muito relacionado com o primeiro factor, pois estas alterações levam a um maior stress ambiental,
pelo que há menor competência por parte dos cuidadores para lidar com a criança e atender às suas necessidades;
uso problemático de drogas licitas (álcool...) e/ou ilícitas (cocaína, heroína...), sendo que cuidadores que façam
uso destas drogas reúnem “menos” competências para cuidar da criança, levando a respostas inadequadas;
crenças educativas, este é um dos fatores mais comuns nas famílias e que favorece os maus-tratos. Assim, diz
respeito à ideia de que se batermos na criança ou a fecharmos num quarto, ela vai aprender não tendo mais o
comportamento indesejado.
Também devemos estar atentos aos factores de risco na criança: idade, isto é, devemos ter em atenção
a idade que a criança tem, pois se esta tiver idade inferior a 3 anos não fala ou ainda não tem as competências
linguísticas necessárias para conseguir fazer queixa. Assim, quando mais nova for a criança, menor capacidade
tem para se defender, não se queixa ou não tem ninguém a quem se queixar; parentalidade precoce, sendo que se
os pais são muito jovens podem não ter desenvolvido as capacidades parentais necessárias, pelo que em
situações de maior stress ou conflito podem responder com maus-tratos, quer seja fisicamente quer seja
psicologicamente; gravidez não desejada, sendo que isto leva, habitualmente a violência psicológica,
nomeadamente, à negligência; separação dos pais, este fator é muito comum, a mãe pode privar a criança de
estar com o pai, ou ainda, privar o contacto com a família alargada do pai (violência psicológica); gémeos, ora
quando são gémeos implica trabalho redobrados que levam a maior stress ambiental e consecutivamente a
respostas agressivas face a uma situação de maior stress ou conflito; crianças com problemas comportamentais,
como por exemplo, crianças com hiperactividade que têm maior tendência para se portarem mal do que crianças
ditas “normais”; por fim, crianças com dificuldades de aprendizagem ou com perturbações mentais, nos casos
em que a família tem vários filhos e apenas uma criança tem estas características, esta pode ser alvo de menor
atenção, sendo abandonada por não ser tão capaz ou desenvolvida como os outros, acabando por ser
negligenciada.

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Maus tratos: Formas
As formas de maus tratos em menores são: o abuso físico, que tal como nos maus tratos em idosos, pode
incluir bofetadas, puxões de cabelo, entre outros; negligência, que passa por não prestar os cuidados adequados à
criança, bem como não atender às suas necessidades, como por exemplo, deixá-la sozinha em casa; abuso sexual,
que pode passar pela relação sexual propriamente dita ou pela visualização de pornografia, fazer a criança
observar a masturbação do adulto, obrigá-la a despir-se à sua frente, entre outros; abandono, sendo esta uma
forma de negligência muito grave, por vezes pode ocorrer devido à dificuldade de condições dos pais; rejeição,
esta pode passar por uma rejeição total, em que os pais não mantêm qualquer relação com a criança nem com os
técnicos da instituição onde a criança está; síndrome de Munchausen, que passa por uma simulação de uma
doença na criança, normalmente por parte das mães. A mãe pode fazer com que a criança beba ou coma algo que
não devia para que a criança desenvolva sintomas de uma doença específica. Normalmente, a mãe faz isto, como
uma forma de chamar a atenção para si, pois sente que a família não lhe dá o devido valor e atenção tendo em
conta o trabalho que tem com a criança. À partida nunca promoverá a morte da criança, sendo que não tem o
objetivo de magoá-la, no fundo, ela quer instrumentalizar o filho. No entanto, por vezes, pode resultar na morte,
apesar de não ser essa a sua intenção. Assim, habitualmente, não resulta em dano, mas acaba por ter
consequências nefastas na criança, pois esta toma medicamentos que não são necessários. Esta situação é difícil
de detetar se não houver história anterior de doença na criança.
Sinais de Alarme (exemplos)
Os sinais de alarme mais comuns, para os maus tratos, aos quais devemos estar atentos são: as práticas e
hábitos de higiene e alimentação pouco eficazes da criança; demonstração de tristeza constante e, aparentemente,
sem razão, isto é, a criança está triste mas não tem problemas na escola nem se chateou com os colegas;
ferimentos sem explicação compatível; histórias ou justificações pouco consistentes; o insucesso escolar, isto é, a
criança está desatenta, não tem supervisão no estudo, os pais não aparecem nas reuniões da escola, etc;
alterações comportamentais, exemplo disso, uma criança que era muito extrovertida e de repente ficou
introvertida; por fim, perturbações de sono.
Abuso Sexual em Menores
Ora, quando falamos de crimes sexuais contra crianças, falamos de abuso sexual, do ponto de vista
jurídico. Assim, o abuso sexual enquadra-se nos maus tratos infantis. Na maioria dos casos, o abuso sexual tem
início entre os 4 e os 12 anos de idade. Isto acontece porque nestas idades há uma menor probabilidade da
criança pedir ajuda e menor probabilidade de engravidarem, no caso das raparigas. As crianças nesta idade não
sabem explicar o que está a acontecer, o que dificulta a denúncia. Os abuso sexual tende a prolongar-se no
tempo. Geralmente, o abuso termina por si só, sendo que o adulto deixa de procurar a criança. É mais comum, o
fim do abuso, no início da puberdade, devido à resistência e possibilidade de denúncia por parte da criança, há
um maior conhecimento, sendo que as crianças passam a ter mais noção do que se está a passar e já conseguem
explicar a situação a outros; devido ao medo da gravidez, pois nesta fase há um risco real da rapariga engravidar;
e devido a sintomatologia, pelo que quanto mais se prolongar o abuso, maior é a probabilidade de
desenvolvimento de sintomatologia típica de crianças abusadas, como por exemplo, roupas rasgadas e com
sange, bem como sintomatologia psicológica. Há uma maior incidência de abuso intra-familiar, pelo que, na
maioria dos casos, o abusador é alguém muito próximo da criança, como por exemplo, o pai, o tio ou avô, que
dificulta, desde logo, a queixa. O que acontece, muitas vezes, é que a mãe não acredita, ou seja, até que ponto é
que o discurso da criança é credível? será tudo fruto da sua imaginação?, ou por vezes a criança não se consegue
expressar correctamente, levando a uma má compreensão. Por fim, o ofensor tende a escolher vítimas tristes e
com algum isolamento social, sendo que quanto mais tristes e socialmente isoladas as crianças forem mais difícil
será realizar a denúncia. Geralmente, são crianças muito carentes, pelo que o ofensor tende a recompensá-las
materialmente e afectivamente, o que pode levar ao surgimento de sentimentos ambivalentes. Por exemplo, o
síndrome de Estocolmo retrata bem esta situação, a criança desenvolve sentimentos positivos pelo ofensor, pelo
que percebe que o que se está a passar é errado mas o sentimento positivo é maior.
Abuso sexual: Características familiares
Relativamente às características familiares, normalmente, o abuso sexual está presente em famílias com
modelos educativos autoritários, sendo que a criança se vê como posse dos seus pais. Tende a estar presente em
famílias em que há dificuldades de revelação, isto é, em famílias em que as crianças são muito pequenas e fazem
denúncias mal sucedidas, quer seja pelo se discurso inadequado que leva à incompreensão, ou pelo facto da sua
história não ser credível (fantasia), levando a que a criança desista de fazer queixa; ou ainda porque o ofensor
pode ameaçar a criança, através de chatagem emocional, isto é, ameaçar a criança de tirá-la da família, magoar a
sua mão ou irmãos, etc; e ainda em famílias onde há facilidade de sexualizar a criança, ora, têm de haver,
efectivamente, momentos em que a criança esteja sozinha, pelo que à partida são famílias que deixam as crianças
ao cuidado de outras pessoas, ou ainda famílias que não deixam que a infância predure no tempo, o que leva a
que estas crianças adotem responsabilidades e vestuários inadequados para a sua idade. É, importante ainda,
referir que em famílias mais abastadas economicamente, há uma grande promiscuidade, o que faz com que as

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crianças tenham conhecimento e se apercebem da realidade muito precocemente.
Abuso sexual: Características da mãe
Relativamente às características da mãe, incluem a precocidade parental, as perturbações mentais e
doenças biológicas, o uso de drogas licitas ou ilícitas, a incapacidade parental e a negligência, sendo que todas
estas características levam a que esta se aperceba mais tardiamente do que se passa.
Crítica: Ora, há muitas mulheres que são mãos de crianças abusadas e não reúnem estas características,
ou mães que reúnem estas características e não são mães de crianças abusadas, pelo que os estudos indicam
maior prevalência. É dada mais importância às características da mãe, ocorrendo uma desresponsabilização do
ofensor.
Dificuldades na Revelação
Ora, se nos maus tratos, em geral, já estão presentes as dificuldades na revelação, no abuso sexual torna-
se ainda mais difícil a revelação do abuso. Assim, independentemente do contexto é muito importante que os
técnicos e psicólogos estejam atentos a estas dificuldades. As dificuldades na revelação ocorrem devido a fatores
externos e internos. Relativamente aos factores externos, estes incluem a coacção, sendo que o ofensor tenta
coagir a criança com ameaças, por exemplo, ameaçar violar os irmãos se esta fizer queixa; o suborno, o ofensor
tende a subornar a vítima para que esta não conte, com coisas materiais por exemplo; e ainda tentativas de
revelação anteriores sem êxito, seja porque as pessoas a quem foi feita a queixa não compreenderam a criança
(linguagem inadequada) ou simplesmente porque não acreditam e pensam ser imaginação da criança.
Relativamente aos factores internos, estes são os mais importantes, que incluem a ruptura do self habitual do
abusador, que se traduz no tom de voz do abusador que se altera quando inicia o abuso, ou alteração do próprio
nome, por exemplo, passar de avô a João, o abusador pode mudar a forma de vestir, usando roupas diferentes e
menos comuns, o que pode confundir a criança; rituais de entrada e de saída, sendo que ocorrem em casos mais
bizarros, o abusador pode ter um quarto que é usado só para o abuso. Muito frequentemente, nestes casos, a
criança já sabe que vai ser abusada por causa do ritual.; sensação de irrealidade, sendo que quanto mais nova é a
criança, maior é esta sensação. A criança fica confusa e pode não perceber se o que está a acontecer é real ou
fantasia devido à ruptura do self do abusador e ais rituais de entrada e de saída, o que dificulta a queixa; e
acomodação psicológica do abuso que ocorre quando o abuso perdura no tempo, assim, o abuso é integrado na
vida da criança. É portanto, uma coisa errada mas que faz parte da sua vida, pelo que só mais tarde será,
provavelmente, feita a denúncia.
Abuso Sexual: Impacto
Por vezes, o abuso sexual é considerado uma desordem, um trauma para toda a vida, no entanto, isto
está errado. O abuso é uma experiência e não uma desordem, pelo que pode não ser um trauma para toda a vida e
não apresenta sintomas com níveis de resiliência. Assim, relativamente ao impato do abuso sexual na crianças,
são desenvolvidos elementos mais frequentes em crianças, nomeadamente elementos de internalização e
externalização. Estamos a falar, portanto, de sintomologia em crianças que já foram abusadas, ou seja,
sintomologia após a criança já ter sido abusada. Os elementos de internalização incluem ansiedade, vinculação
pouco selectiva, como por exemplo, os adolescentes com enorme número de parceiros, evitamento social, auto-
mutilação e tentativas de suicídio. Por sua vez, os elementos de externalização incluem a conduta agressiva,
mentira compulsiva, baixo rendimento escolar e mais tarde o uso de drogas. Na conduta sexual, pode ser
desenvolvido o comportamento sexual desadequado, masturbação compulsiva, elevado número de parceiros
sexuais e linguagem sexual precoce, sendo que, muitas vezes, é a partir deste último que é detectada a situação
de abuso. Todas estas consequências podem ter na origem a traição, isto é, muitas vezes as crianças sentem-se
traídas, pois os pais não as conseguiram proteger do abuso; a sexualização traumática, sendo que o início da
sexualidade não devia ter sido num abuso sexual; a estigmatização, ou seja, o estigma enorme que há em relação
às raparigas; e a impotência sentidas pela criança, isto é, a criança gostaria de ter acabado com o abuso mas não
conseguiu, e por isso, foi vítima durante muito tempo.

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Violência Familiar
A violência familiar é entendida como uma versão distorcida e desproporcionada de uma conduta
funcional, ou seja, é uma resposta distorcida pela intensidade relativamente à ameça do vínculo e pela
dependência do agressor. Para além disso, é compreendida como uma forma de manter/recuperar o vínculo. Por
exemplo, o caso de um jovem que é dependente de videojogos, Andolfi, vai procurar perceber o porquê desta
dependência, junto dos pares e não fazer com que o jovem deixe a dependência. Ou seja, o jovem é apenas o
sintoma (problema) da família, o problema nunca é singular, é sempre dos pares (grupo familiar).
Particularmente, a violência é uma resposta distorcida à perda do vínculo ameaçado, e é, também, uma forma
distorcida de uma conduta funcional de manter o vínculo, isto é, se não há forma de manter o vínculo adequado,
opta-se por uma forma distorcida. O trabalho sobre a violência requer a compreensão da: perda
(real/simbólica), por exemplo, um adolescente agressor, o 1º ponto que temos de analisar é a perda, que pode
ser real (morte, desaparecimento) ou simbólica (pai ausente e mãe excessivamente presente, não conseguindo ter
uma relação adequada com a mãe); repetição dos modelos apreendidos, na perspetiva de Andolfi, há uma
repetição do contexto familiar, ou seja, “se os meus pais são assim comigo, eu serei assim com os meus filhos”;
forma como se poderá reorientar a energia negativa do adolescente, exemplo, violência, Andolfi diz que
temos de redirecionar a energia para um comportamento mais adequado.
 A considerar: a adolescência corresponde a um tempo de medo e insegurança (é um período de
diferenciação e de construção da personalidade); violência/ataque como resposta ao medo (auto ou hetero);
provocação como grito de proteção/ reconhecimento (proteção por parte dos cuidadores e reconhecimento como
filhos); a violência do adolescente como sintoma da família; vazio de identidade/carência familiar e/ ou social (o
sujeito constrói a sua identidade, tendo em conta o seu sistema familiar e o contexto envolvente, em casos de
violência familiar, o sujeito (eg. criança/jovem) sente um vazio de identidade <-> quem sou eu?).
Violência – Tipologias
Podem surgir em simultâneo: pais; pares (e.g, Bullying); pilhos (e.g., violência contra irmãos ou outros
jovens que vivam no mesmo contexto).
Como entrar numa família violenta?
Alcançar a estrutura terapêutica ou a motivação conjunta, o psicólogo torna-se um elemento
“desta” família, arranjando uma forma de construir um diálogo com a mesma, sendo capaz de entrar e sair desse
sistema familiar. Isto é, o psicólogo deve, apenas, fazer o que lhe compete, “sem se envolver muito”, senão passa
a fazer parte daquele sistema familiar. Nem sempre é fácil alcançar a estrutura terapêutica ou a motivação
conjunta, uma vez que choca com os nossos princípios; indagar sobre os papéis, regras, lugares de cada um,
objetivos, entre outros, o psicólogo deve ter em conta todos os elementos do ambiente familiar, capazes de
alterarem o comportamento, contudo, quando existem crianças e/ou adolescentes no sistema familiar, o
psicólogo deve começar por indagar através das crianças ou adolescentes e não pela pessoa adulta, o que é mais
adequado, ou seja, quer a crianças quer o adolescente, ainda não falam da família de uma forma formal, é mais
genuíno, de encontro à realidade. Por exemplo, perguntar a uma mãe “dorme muitas vezes com o seu filho?” R.:
“Às vezes ele pede-me e eu fico a dormir com ele” ≠ perguntar à criança “dormes muitas vezes com a tua mãe?”
R.: “todos os dias”; o papel do terapeuta, neste caso, o terapeuta tem o dever de mostrar que é alguém que não
é um superior hierárquico, mas alguém que quer ajudar e não piorar a situação. Por exemplo, quando um
terapeuta da CPCJ “visita” uma família, os pais veem o terapeuta como alguém superior, capaz de lhes tirar os
filhos. Ainda assim, a intervenção do terapeuta é diferente de caso para caso, ou seja, é necessário que este tenha
um supervisor para evitar que se faça uma má intervenção; a sessão como pano de fundo da realidade
familiar, realça que o psicólogo não deve agir de acordo com um “modelo médico”, por exemplo, durante as
sessões, o psicólogo não deve utilizar bata ou realizar a sessão numa secretária, em que o psicólogo está de um
lado e o cliente do outro, tal como um médico, que de certo modo, mostra uma atitude de superioridade e um
distanciamento; como normalizar a violência do adolescente, quando o sujeito é agressivo na família é
encarado como o desafiador da família e se o psicólogo entrar neste jogo vamos continuar a ter o comportamento
desafiante em casa. Não parte do nosso lado dar enfase a esta problemática, mas sim temos de ter a capacidade
de virar o jogo; a limitação da “polémica” em torno do desafio do adolescente; humor/jogo versus
revisitação da história abusiva, Andolfi aproveita o jogo para a pessoa sair daquela realidade factual, pois o
autor afirma que o psicólogo não é um investigador para descobrir factos, mas sim para alterar os significados
dos factos; a violência é o sintoma a tratar? A transformação da energia em Andolfi.
Como se posiciona o terapeuta?
Supervisor interno; o fotógrafo da família;  entrar e sair do sistema familiar; a verdadeira relação com o
outro/s. Ou seja, estar dentro e fora da família; ser parceiro e não alguém superior; o psicólogo é alguém que
consegue fazer fotografia da realidade daquela família, mas ao mesmo tempo, um supervisor interno.

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Teste exemplar
2. Feminismo e Realismo de Esquerda
No século XX, os movimentos sociais das vagas do Feminismo e do Realismo de Esquerda
influenciaram o desenvolvimento do estudo e a intervenção à vitimação. Nesse momento, as vagas do
feminismo começaram a chamar à atenção do facto de as mulheres serem vítimas de crimes na esfera privada
e/ou doméstica e de crimes sexuais. Com isto, veio, sobretudo, chamar à atenção do papel da mulher, tanto como
vítima, tanto como ofensora, que não era, até então, estudado e largamente ignorado. Por conseguinte, verificou-
se a necessidade de mecanismos de apoio à vítima sobre essas situações. Além disso, tais manifestações
questionaram a forma conservadora das práticas jurídico-penais que não enquadravam a mulher nem enquanto
vítima, nem como agressora, aliás, nem tão pouco era encaixada na criminologia/vitimologia. Daí partiram
manifestações de sensibilização, com vista à melhoria do enquadramento legal e, consequentemente, deu inicio à
maior denúncia da ocorrência desses crimes. Deste modo, ressaltaram a importância e impulsionaram as políticas
acerca da igualdade de género, tornando possível desenvolver práticas de intervenção à violência, como por
exemplo, a contestação de estereótipos culturais e criação de linhas de apoio à vítima. O Realismo de
Esquerda, por sua vez, surgido nos anos 80, refere a importância dos fatores sociais e económicos em relação à
vitimação, traduzido no construto de que menor poder económico confere maior vulnerabilidade pelo menor
acesso à justiça e à prevenção criminal, cuja noção vai de encontro à abordagem social. Deste modo, defende
que, estando num contexto mais igualitário de oportunidades, existe menos propensão ao crime. Eventualmente,
a relação causa-efeito entre fatores socioeconómicos e o crime/vitimação pode ser real, porém, depende do tipo
de crime, pois, no caso da violência doméstica, o fenómeno é transversal. Contudo, reconhece-se que alguns
fatores contextuais ajudam a explicar alguns tipos de crime e a ocorrência de vitimação. Uma vez que o realismo
de esquerda reporta para os fatores socioeconómicos, o presente movimento sublinha também a relevância dos
inquéritos de vitimação, pois, a partir da sua aplicação, foram referidos vários aspetos que não eram referidos nas
estatísticas. Aspetos esses relacionados a alguns contextos, onde alguns fenómenos estão mais ou menos
presentes, à existência de mais ou menos linhas de apoio e de investigação. Exemplo disso é a região do interior,
onde existem menos linhas de apoio, e, por isso, a vítima estaria mais isolada, com tendência a que fenómeno se
perpetue mais nessa região. Assim sendo, nem toda a população tem acesso à justiça nem a apoios face à sua
vulnerabilidade.
4. Avaliação Psicológica de uma vítima de Violência Conjugal
Para proceder à avaliação psicológica de uma vítima de violência conjugal, tendo em conta o perfil do
agressor e a relação entre ambos, deve ser considerada a presença de fatores de risco, tais como: existência de
quadro psicopatológico, comportamentos aditivos, violência sexual, stress ambiental, história de maus tratos na
infância ou exposição à violência conjugal dos pais, as crenças sobre a relação conjugal, poder diferenciado,
dependência financeira, pouca competência em gerir a frustração, tornando-se agressivo numa situação de crise,
entre outros. Além destes fatores de risco, o isolamento social da vítima pode ser também um fator de risco,
porém, também pode ser considerado uma dinâmica da relação quando provocado pelo agressor. Deste modo, as
dinâmicas relacionais também devem ser consideradas na avaliação psicológica, pela possível presença de ciúme
obsessivo e insegurança do agressor, exercício de controlo (inclusive controlo económico), poder, que provoca o
autoritarismo de um e a submissão de outro, podendo levar à escalada de violência quanto à intensidade e
frequência e verificar-se uma dinâmica conjugal abusiva. Subjacentes a estes aspetos, pode constatar-se
modelos explicativos da violência conjugal, dos quais as perspetivas intra individuais, referente à presença de
psicopatologia e/ou características individuais que facilitam a presença de violência (por exemplo: em relação ao
agressor, este ser pouco tolerante à frustração, ser uma pessoa agressiva, insegura, com autoestima baixa; em
relação à vítima, esta ser submissa, mais permissiva, mais tolerante à violência psicológica, as próprias crenças
sobre a relação conjugal, etc.); as perspetivas diádicas-familiares, relativas à história de relação e comunicação
de violência familiar e a repetição de modelos de vitimação na infância na idade adulta; e as perspetivas
socioculturais, alusivas aos fatores sociais, políticos, culturais e históricos, que são promotores ou dificultam a
questão da violência, por exemplo, pelas crenças/estereótipos sobre os papeis de género, ou sobre o papel da
mulher na família.

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