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Curso: Formação de Agentes Qualificados/as que atuem no domínio da violência doméstica e/ou

prevenção da vitimização ou revitimização desta – Técnicos de Apoio à Vítima – TAV

Reflexão Crítica

“Nas sociedades ocidentais, e num sentido lato, podemos afirmar que a violência doméstica
implica a prática de um ou mais crimes no contexto de uma relação de parentesco, adoção,
afinidade ou simplesmente intimidade, de que são exemplo: pais/filhos; avós/netos, etc.
A violência doméstica não se restringe apenas a pessoas que vivem ou viveram em situação
conjugal, casadas ou não. Trata-se de um conceito cada vez mais unânime, distanciado já da
época em que referir violência doméstica era sinónimo de violência praticada por homens,
maridos ou companheiros, contra as mulheres, suas esposas ou companheiras. Atualmente, este
conceito é considerado limitado.”
Manual Alcipe - Para o Atendimento de Mulheres Vítimas
1. Tendo como ponto de partida o anterior excerto, apresente uma breve reflexão crítica que
incida, essencialmente, sobre os conteúdos abordados ao longo deste módulo e que reflita o
quão limitado seria o conceito de violência doméstica enquanto sinónimo de violência praticada
apenas contra as mulheres.
“Violência doméstica faz 32 mortes em 2020, menos do que no ano anterior. Há menos
queixas, mas mais detidos…”

No inicio deste mês e a poucos dias de ser apresentado o RASI (Relatório Anual de
Segurança Interna) referente a 2020, o jornal Observador dá-nos conta do número de
mortes, em contexto de violência doméstica, ocorridas no ano passado.
Apesar de ser um artigo em jeito de balanço relativo ao ano transato, é, infelizmente, comum
constatar-se, de quando em vez, notícias deste género em que são reportados casos de
violência doméstica cujo desfecho trágico culmina na morte de uma ou mais vítimas.
Sendo a violência doméstica um fenómeno bastante antigo, tem-se verificado nos últimos
tempos maior destaque e visibilidade por parte dos meios de Comunicação Social e também
por parte das Entidades Governativas que criaram Organismos próprios com o intuito de
combater e prevenir a violência doméstica assim como sensibilizar a sociedade para esse
flagelo.
No que diz respeito à sua antiguidade, pode-se acrescentar ainda que a violência doméstica
remonta aos primórdios da humanidade e que até hoje atingiu muitas pessoas
independentemente da sua idade, grau de escolaridade, género, classe social, cultura, raça,
etnia e ou religião.
Este fenómeno ocorre mormente no contexto de relações sociais e interpessoais, sendo a
família um lugar privilegiado para que a violência doméstica surja muito pelo grau de
proximidade e pelos diferentes papeis sociais que os elementos familiares representam
entre si, sendo assim comummente associado às mulheres enquanto vítimas dos homens,
dos seus maridos, ou companheiros.
Esta ideia, porém, foi-se alicerçando nos casos que foram sendo conhecidos por via de
queixas e denúncias que algumas mulheres vítimas de violência doméstica apresentaram às
Autoridades Competentes.
Na verdade hoje em dia, e quanto se sabe, a violência doméstica atinge também homens,
crianças, adolescentes, idosos e população LGBTI e nem sempre é praticada no seio
familiar ou dentro de casa e muitas vezes não é menos grave que o praticado contra as
mulheres.
No entanto existem ainda muitas crenças, receios, estereótipos e alguns factores de índole
psicológica das próprias vítimas que muitas vezes as inibem de apresentar queixa contra os
actos de violência contra si praticados.
Factores como a baixa auto estima, a vergonha, a dependência económica e emocional, a
pressão familiar e até mesmo o medo da solidão e do desconhecido, entre outras, têm
contribuído para a permanência de algumas vítimas nas relações violentas e abusivas, não
havendo então lugar à queixa ou denúncia da situação.
No conjunto de pessoas vítimas de violência doméstica encontramos algumas que pelas
suas características físicas e ou intelectuais/cognitivas, julgo que estarão mais vulneráveis
num contexto de violência. Refiro-me às crianças e às pessoas idosas que por vezes se
tornam vítimas indiretas e por outras são mesmo alvo de maus tratos, negligência e abusos
por parte dos seus agressores.
Em termos sociológicos fica a ideia que enquanto houver relações interpessoais poderá
haver sempre casos de violência, no entanto eu acredito quanto maior for a capacidade de
respeitar a vida e a liberdade do próximo, seja ele homem, mulher, criança, adolescente
idoso ou LGBTI, menos casos poderão existir.
Ainda assim cabe a cada um de nós, enquanto cidadãos e ou enquanto técnicos de apoio à
vítima denunciar casos de violência contra pessoas e também sensibilizar os diferentes
agentes da sociedade para este flagelo que tem destruído tantas vidas quer por via das
mortes infligidas quer pelas consequências físicas e psicológicas que as vítimas acabam por
sofrer.

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